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CAPITyy, 96 AS FONTES Do °NHECI MENTS Neste capitulo, examinaremos as fontes do remos especificamente do tema: de onde vem o diversificada rede de dependéncias sociais e suscita assim uma pergun- {2 por acaso o cardter social das atividades intelectuais contribui para conhecimento? Em caso afirmativo, de que modo o faz? O RACIONALISMO, O EMPIRISMO E O INATISMO No decorrer da histéria, os fildsofos adotaram sempre uma combi Nacdo de duas correntes de pensamento: 0 racionalismo e 0 ee Mo. Essas Correntes resistem a uma caracterizagao simples, im 895 extremos @ mais opostos podem ser ExpFEssos, FOS " foute de todo €: Segundo o racionalismo, a razio nao emp : me de todo co- ecimento, ao Passo que, segundo o empirismo, a fo ¥ i as or examinar le 2 eg ; comeg¢ar P' “lmento é experiéncia sensorial. Vamos "'S8es basicas de cada um dos lados. 112 | A TEORIA DO CONHECIMENTO oO empirismo bdsico assevera que nao é possivel adquirir mento da realidade através do uso nao empirico da Tazo, Afi exemplo, que nao podemos ter conhecimento algum acerca da de ou irrealidade dos unicérnios pelo puro e simples exame dplide to ou idéia de unicérnio. O mesmo vale, digamos, para a quae realidade dos elefantes: nao podemos saber se eles sio Teais ou a da mero uso nao empfrico da razao. O racionalismo bdsico, Por outro Pelo afirma que temos acesso a alguns conhecimentos Por essa via, Nag . demos determinar se os elefantes existem pelo uso nao emptrico da 240, mas, segundo o racionalismo bésico, podemos determinar, = = plo, que todo acontecimento tem uma causa. Alguns racionalista (mas nem todos) diriam também que podemos provar a existéncia de Deus pelo uso nao empirico da raz4o. Se, de acordo com 0 empirismo bdsico, nds nao podemos adquirir conhecimento da realidade através do uso nao empirico da raz4o, a realidade no se nos torna conhecida por meio da intuigdo racional ou pela luz de princfpios universais ina- tos (que nao sao aprendidos, mas j4 nascem com a pessoa). Segundo esse mesmo empirismo, o conhecimento da realidade deriva da expe riéncia sensorial e do uso empirico da raz4o — e de mais nada. De acor- do com essa corrente, podemos ter acesso a um conhecimento verdadei- ro; caracteristicamente, ela sustenta que podemos ter conhecimento também da realidade objetiva e independente da mente. Muitos empiristas s40 empiristas conceituais e sustentam que todos os conceitos s4o direta ou indiretamente adquiridos através da expe riéncia sensorial. E evidente que todos os conceitos simples, e até mes- mo alguns conceitos complexos, séo adquiridos desse modo. Inclut- mos af os conceitos de azul, amargo, c4o e papel, por exemplo. on do o empirismo conceitual, conceitos complexos como, por Ear os de planeta, automével, computador e fazendeiro, muito embor ™4 sejam adquiridos diretamente através da experiéncia, sao ont A inteiramente de partes assim adquiridas. O empirismo concel 7s postula condigées especiais para a aquisicao do conhecimen uate da experiéncia sensorial. Oferece antes uma alternativa 8° ‘aa mo conceitual, a idéia de que nés detemos a posse inata de 2 0 ceitos, independentemente dos sentidos. O empirismo om el empirismo bdsico s4o posigdes logicamente independent® mou em que nenhuma das duas acarreta ou implica logicamen’ her}. rma, ‘Por AS FONT: TES DO CONHECIayg wENTO| 1 13 segundo o racionalismo, certas - way roposics gemologico privilegiado pela sua a Posicdes detém pria Naturezg Pen UM statys epis- » Fens as proposigOes seguintes: nas duas PLOP' guintes: * Por exemplo 1, Todo acontecimento tem uma caus ; a, is objetos na ‘ 2, Dois objetos nao podem ocupar exatament, espago a0 mesmo tempo, ‘© O mesmo lugar no Segundo os racionalistas, essas ptoposigdes sio epi : te especiais pelo fato de ser ambas cognosctveis Pistemologicamen- cas, ou Seja, sintéticas. Pode-se dizer que so oma € nao analiti- que nao sdo nem adquiridas nem justificadas com base ng < pre Por- como seriam as generalizag6es empiricas, Pode-se dizer que a. Iiticas porque tém um contetido descritivo estranho as pro on analiticas (definig6es). (Tratamos das proposigées analiticas _ ns tulo 1.) Nao precisamos, por enquanto, partir do pressuposto de ‘ue as proposiges 1 e 2 sao de fato simultaneamente sintéticas e cognosci- veis a priori. Nao obstante, temos de pensar em como é posstvel haver um conhecimento sintético € aprioristico. A questao a ser respondida é: serd possivel conhecer proposicées sintéticas independentemente da experiéncia sensorial? Os racionalistas e os empiristas deram explicagdes opostas para as proposigGes em questao. Os racionalistas dao énfase ao papel da raz4o e os empiristas sublinham o papel da experiéncia sensorial. Alids, os empiristas costumam negar a propria existéncia de conhecimentos sin- téticos @ priori, como 0 conhecimento da proposicao “Todo aconteci- le tudo para nao ter de explicar por de um lado, e parece ser aptio- frico da razao como uma mento tem uma causa”; e fazem d que essa proposigao parece ser sintética, tistica, de outro. Vamos caracterizar 0 uso emp y de duas coisas: ou (a) os processos de pensamento que tém por objeto 4 experiéncia sensorial ou (b) os processos de raciocinio dedutivo ou indutivo que partem de premissas derivadas dos ditos processos de pen- Samento, Em contraposigao, vamos caracterizar 0 450 nd0 empin? to "zo como todos os demais processos de pensamento com excegao ‘ so empirico da razao. Uma inferéncia indutiva baseada em relatos le dbservacio € um exemplo de uso empirico da razao, mas 114 | A TEORIA DO CONHECIMENT9 jéncia da relagdo entre certas idéias inatas (se é Que tis idg ase: ‘onsc! e . “ jo empirico da razio, rem) Segundo um éum caso de uso n: dos principais argumentos dos tacionalistag 5 hecimento de P, mas, em virtude de motive Ps Vos arece ter con a ter{sticas particul. rac Pi ares do caso a Pee, ficos relacionados as ca rer adquirido (ou pelo menos nao adquitiu defy Do Co, nao poderia i oe 7 ‘1éncia sen: és da experiéncia sensorial. Vemos UM cag nhecimento P atrav estratégia de argumento no Ménon de Plato, num €pisddio eny ~ do um menino escravo. Sécrates pede ao escravo que respond, Olven, série de perguntas acerca das proporgGes de um quadrado, 0 z u faz uso de uma figura quadrada desenhada por Sécrates, mat a escravos da antiga Atenas nao recebiam a mesma educacao ass mens livres, nao poderia ter adquirido esse conhecimento mediany 0- processo empirico da instrugao formal. Uma vez que o escravo = = de corretamente as perguntas acerca do quadrado, Sécrates ¢ seus in terlocutores concluem que seu conhecimento é inato, e nao adquitido de modo empirico. Descartes apresentou um argumento semelhante a Tespeito do nos. so conhecimento do quilidgono, um poligono regular de mil lados, S¢. gundo Descartes, varias relagdes mateméaticas poderiam ser deduzidas do conhecimento da natureza do quilidgono, mas essa deducio nio poderia proceder com base nem nos sentidos internos (introspectivos) nem nos externos. Se tal figura nos fosse apresentada visualmente, o angulo de cada vértice seria tao préximo de 180 graus que seria muito dificil distinguir 0 quili4gono de um cfrculo. Quando procuramos co- nhecer essa figura pela introspec¢ao, diz Descartes, deparamo-nos com o mesmo problema. Portanto, nosso conhecimento das caracteristica do quiliégono deve ser inato, e nao adquirido nem pelos sentidos in- ternos nem pelos externos. O argumento racionalista a favor do conhecimento inato tem um encarnagao moderna, chamada as vezes de argumento da pobreza do estimulo. Segundo esse argumento, a existéncia do conhecimento a to €inferida a partir de um dominio especifico, por ser a melhor ex cacao para o fato de adquirirmos alguma competéncia ou capi Eas argumento € usado sobretudo na lingiifstica moderna, ¢™ sale Principalmente da obra de Noam Chomsky. As primeiras palavras oe AS FONT ES DO SONHECI MEN lis ie pela crianga quase nunca sao, aie i 2 a erie ltd ca jt faa coy: Ningué™ explicou & crianga a fungao sintét ica ePeion ne "© be assiva © das oragdes subordinadas ma oda pas i com consideravel habilidade, Quando Me Pn mundo exterior, essas informagoes S40 As vezes de acordo com as pessoas que as dao, Isso podedg adit confusio na crianga nova, nao fosse pela abundan Causar formagoes lingiifsticas que ela j4 possui — ony in quan} créem 0S racionalistas. Meno: Outro argumento em favor do inatismo fo (1975): conclui ele que a maioria dos noss jo todos eles. O argumento parte da afirmacio de ue o tini delo de aprendizado de que dispomos envolve a formule ° ‘nico mo- ses a respeito do mundo, hipéteses essas que sao depois co reae ou refutadas. Para formular hipsteses, porém, Precisamos conics emalguma espécie de vocabulério. As criancas pré-verbais conse as aprender algo acerca do mundo, como conseguem também os hon ros e os chimpanzés. Como a todos estes falta uma linguagem natural, ovocabulério em que sao interiormente formuladas as hipdteses nao € uma tal linguagem. Tem de ser uma outra espécie de linguagem: uma linguagem do pensamento. Essa linguagem do pensamento nao pode ter sido aprendida, pois é uma pré-condigao para o aprendizado; logo, pelo menos alguns de nossos conceitos sao inatos. Essa vers4o do ina- tismo trata especificamente dos conceitos, mas esse inatismo concei- | pode dar forca a concepgGes acerca da existéncia de conhecimen- s «priori e da plausibilidade do racionalismo. Uma discussaéo completa do inatismo lingiiistico ultrapassaria em muito o ambito deste livro. Para captar bem a complexidade do assun- ‘©, porém, pense nos argumentos que se poderiam apresentar contra 0 'natismo, Dentre os dados que se op6em a essa concep¢io, podemos “tar os exemplos de criangas que cresceram em relativo isolamento, Suvindo pouco a linguagem falada, e que nao eram capazes de falar ne- hum Ingua natural. Sao poucos os casos registrados, mas nenhum les era capaz de falar com a fluéncia normal. ntemente, as pessoas que aprendem a falar to : Petceptivo da linguagem falada; isso porque quand ensi: nay &xplicit, ‘8S © Vatiam uma terrive] tidade de in. s, € ni E nisso que i dado por Jetty Fodor ‘OS Conceitos ¢ inata, se- dependem do efei- lo essas pessoas Tle PA reas Wo CONTHCCIMIEN TO nad ox efeitos perecpllyos CONMINS da fala, NO so a Pitzey de adquinie Ua mM » QUE 6 gy (neste eases a tila audivel ev isivel) nao é pobre em relacto is nt Lades daquele que aprenae, Ao mesmo LeMpo, esses eg ydaracesse a tose (tludneia normal, F evidente, porény ) ‘ 1808 fig mamente diticeis de interpreta Parece que muitas CApacidades te. ionadas ao uso da Tinuagen no desenvolvimento [normal doseth la. gion. j no] dependem também do contato humano ede um desenyoly; - ime social normal. Seo desenvolvimento emocional ¢ cognitivo tem al relagao come desenvolvimento da linguagem ¢ for tolhido Pela ausa : ontato humano, poderemos prever com um bom grau de plaus, sibil. dee 0 vcorrespondente defic iencia de linguagem, dade uma As mais recentes enearnagoes do argumento inatista tiveram alvo principal os filsofos ¢ psicdlogos behavioristas, Para tanto, bag \a uma nogao tosca ¢ relativamente rudimentar do inatismo, Anal jeitam todas as explicagées Psicoldgicas que fazem apelo tao-somente a fendmenos mentais nao observayeis como 5 contas, os behavioristas crengas ¢ desejos, Os argumentos favordveis e contrdrios ao inatismo sio complicados e nao podem ser devidamente avaliados por um yul gar apelo ao “senso comum”, Com efeito, poucos participantes da dis puta chegaram a formular claramente sua nogao predileta de inatismo, O que é exatamente um conceito inato? O que é uma regra inata? Sess as regras sio inatas, pode haver um conhecimento inato? Serd posstel que a mente seja compartimentada de tal modo que certas capacidades sejam inatas e outras, intimamente ligadas a elas, nao o sejam? Essis questdes e outras que hes tocam de perto ainda geram controvérsias nas obras filos6ficas e psicolégicas sobre as fontes do conhecimento. O EMPIRISMO, O POSITIVISMO E A SUBDETERMINAGAO Na histéria da epistemologia, o empirismo foi representado i personagens influentes, como John Locke, George Berkeley € oe Hume (1711-1776), A corrente dominante do empirisme de Hume, que afirmou que todos os nossos conhecimentos fo tau’ i a . .. e foi légicos nascem da experiéncia sensorial. O empirismo de Hum AS FONTE ES DO CONHECIME NTo | 7 gvado Por consideragdes semanticas. ou - mee | wa i iccomeca Ja consideracses by ‘cos nao fossem basead nose en = : mi is fitecnah os Conceitos nao [6 fraseologia semantica, os termos que e mete = sone ‘els; n Pp) ‘SsaM esses conceitos na me a0 te- . riam sentido nenhum. vestigagal . ‘A Investigagao sobre 0 entendimento humano (i 748)), di » de Hume, promove 0 seguinte verificacionismo anti antimetafisi 1S1CO; Tomemos em nossas maos qualquer volu j ert mi 5 = nen por exemplo, e perguntemo-nos “de teologia ou metaff- cinio abstrato a respei i nos: Contém oo spel : da quantidade ou do ntimero? Ni ele algum racio- erim ; »? Nao. Contés I ? Neh a respeito da matéria e da existéncii on algun mo-lo, portanto, as cl * pois ni incia? Ni iP amas; pois nao pode conter nada ex: . 7 ance- ‘Ceto sofismas ¢ jlus6es. (Seg. VIL, Pr. II) Nao admira, pois, que os po: itivi j constitufram 0 Circulo a Viena ei ae ee seus principais predecessores filosdficos: patihavam da ani tn de Hume pela metafisica. Em especifico, usavam a I6gica nade * Gottlob Frege ( 1848-1925) e Russell — e varias técnicas analtcas fe restringir a atividade filosdfica ao progresso do conhecimento “cient fico”, banindo assim da filosofia toda e qualquer preocupagao com a metafisica. O empirismo extremo de Hume questionava o sentido de conceitos que nao tivessem base na experiéncia. O Circulo de Viena, duvidava da significagao cognitiva das nogoes e teses as provas em- a experiéncia e sao imunes a influéncia do mesmo modo, l6gicos exerceram um metafisicas que transcendem piticas. As doutrinas dos positivistas duradoura sobre a epistemologia empirista. No comego da década de 1930, varios positivistas Iégicos passa- ficado. Reconhe- ram a defender um principio de verificac4o do signi steiniana, Friedrich Weismann, membro do cendo a influéncia wittgen: : los principais intérpretes de Witrgenstein, Pu- como se ter certeza de que Circulo de Viena e um d blicou uma das primeiras defesas: “Se nao ha uma proposi¢4o é verdadeira, 2 proposi¢a0 nao tem sentido ramet pois o sentido de uma proposi¢ao éo seu mérodo de verificago ( , p. 5). Podemos definir sucintamente © incipio de ee " ma proposica0 &o seu metodo de verificas30- maneira: o sentido de u 118] A TEORIA DO CONHECIMENTO, J le compreender uma af macs de demonstrar a «1 {880 py, veracidade _ i TM, Ay » Valo, Pode te Em ourras palavras, voce sé pod dida em que conhecer 0 que po dade dela. si bred : > jacoes metafisicas sobre deuses Se ds afirmagoes metals! , almas, essénciag etc, falta um método de verificagao, o princfpio de Verificacgg usado para descartar todas essas afirmagdes, consideradas sem ¢ cado. De fato, foi assim que © Circulo de Viena as considerouy : tomou somente como incognosciveis, mas negou-lhes totalmente, tido. O necessfrio método de verificagao era concebido como i O sen, todo de justificagao ou confirmagio a partir de acontecimentoy me tuacdes observdveis. Os positivistas légicos, assim, afirmayam _ sie proposigao dotada de significado pode ser expressa em funcgo on posigoes derivadas da observagao — ou seja, proposigdes Passive confirmacao ou refutagao com base na observac4o. Moritz Schlick (1936) especificou que 0 sentido de uma proposigio nao depende sua verificagao de fato, mas somente da possibilidade de ela ser Vetificg. daa partir da experiéncia sensfvel. Os membros do Circulo de Viena se dividiram quanto & naturen das afirmacées fundamentais, derivadas da observacio, que podetian estabelecer os critérios da confirmagao e da significagao. Uma das ques tées mais importantes era a de saber se essas afirmagGes derivadas da observacdo dizem respeito somente aos dados obtidos através das ex periéncias subjetivas particulares ou também a estados fisicos compw- vaveis intersubjetivamente. Porém, os principais problemas que con- frontam o positivismo légico dizem respeito ao proprio status do prit cfpio de verificagao. Um dos problemas mais dignos de nota é que certas afirmagoes dotadas de significado parecem nao admitir um “método de verifice cao”. Se essas afirmagées “nao verificdveis” pudessem ter signif 0, seriam também candidatas em potencial a categoria de conheciment Pense, por exemplo, na afirmagao de que existe um ser onipotente ser suficientemente poderoso para fazer qualquer coisa qué pudesse . descrita com coeréncia. E. de supor que vocé compreenda ssa A magdo, mas nao dispoe de nenhum método pelo qual pos* ee vé-la ou refutd-la. Aparentemente, vocé compreende © sei oa do que seria a veracidade ou a falsidade dessa afirmagéo - P° 4 AS FONT! ES DO CONHECIMENTO | 119 nossas nosoes convencionais de significad rem. Faltam-lhe, porém, os meios — inclusi lo € compreensio 0 permi- _ para confirmar ou refutar a afirmagio, Co os baseados na observagio nenhum meio pelo qual vocé possa fazer — sei nido parece haver método de verificacdo, mas a afirmacio em es Not nao dispée de um tido — pelo menos segundo os nossos tition habie inda parece ter sen- as condigoes necessdrias para a verificacao, a fim de ee Se relaxarmos jmpediremos 0 principio de verificagao de determir ve “m método, do de todas as afirmagGes metafisicas. ar aifalta:desentt- E quanto ao préprio principio de verificagio? Ser4 que ele é passi. vel de verificagao por um método baseado nos dados provenien ek observagao? Isso é pouco provavel. Os dados da observagao. Werivados da experiéncia sensorial, nado sao capazes de fornecer um método dire- to de verificaga4o do préprio principio de verificagao. A psicologia, por exemplo, nao nos apresenta provas de que nao somos capazes de a demos um método preender uma afirmagdo quando nao compreen: claro de verificagao dessa afirmagao. Pode ser, portanto, que 0 proprio principio de verificag4o nao tenha sentido pelos seus préprios critérios de significagao. Pode ser que nao possa ser verificado pela experiéncia. Sejam quais forem os problemas internos que afligem o principio de verificagao, os objetivos dos positivistas Iégicos eram suficiente- mente claros: tomar a evidéncia sensfvel como tinico fundamento se- guro do conhecimento e até mesmo do significado, tornando ilicitas € até sem sentido as referencias (feitas pela metafisica) a uma realidade in- dependente da mente. Porém, tanto as nossas crengas tedricas ~ cren- cas em fendmenos nao observaveis — quanto as nossas crengas deriva- das da observa¢a0 S40 subdeterminadas pela evidéncia sensorial. Ou seja, nossas crengas ultrapassam e superam a evidéncia sensorial de tal modo que essa evidéncia pode ser interpretada coerentemente de va- rias maneiras diferentes. Na estrada, por exemplo, vocé pode ter a cren- ¢a—derivada da observagao — de que a pista a frente est molhada. Os dados da observa¢4o, considerados em s! admitem que vocé suponha, para tal fendmeno, varias origens diferentes: em vez de pen- sar que é 4gua, pode considerar o fenémeno resultante da ilusao pro- vocada pelo calor que sobe do gsfalto. J quanto as crengas tedricas, nao resta a menor duivida de que sao subdeterminadas pela evidéncia | mesmos, 120 | TPORIA DO CONHECIMENTO aquece um recipiente fechado e cheio de do recipiente se expandem; de infcio, h& varias historias Co ~ yoo pode contar para explicar a sua experiéncia sensor serimentos podem: colaborar para que vocé separe as hi i . eis das menos plausiveis, mas, no comego, existery te coerentes: e pode ser que até mesmo depois de Vtiog ey ty arog vores nao seja capaz de eliminar todas com excegio de um, is Encontramos numa tradigao de experimentagio cientificg = mas valida, um exemplo dessa preocupacao coma subdeterm gio, William Beaumont estudou os efeitos dos “sucos digestivo” os alimentos. Usou como cobaia um soldado que tinha um Rainy te aberto no abdémen e introduziu no ferimento vdrios alimentos, ae os quais repolho, carne de vaca, pao e carne de Porco seca e sa tre Cada um desses alimentos, presos a um fio de seda, era retirado doa, démen do soldado depois de perfodos determinados, permitindy que Beaumont observasse os efeitos do processo digestivo em cada um in Jes. Em seu didrio, Beaumont relata que o repolho e 0 pao desaparee. ram mais répido, ao passo que a carne conservou sua forma original por _ Quando s snsorial < plausiv k } | muitas horas. Em vez de concluir de imediato que os sucos digestivos agem com mais eficdcia sobre o repolho do que sobre a carne, Beaument disse: O experimento nao pode ser considerado uma prova imparcial dos poderes do suco gastrico. O repolho, um dos alimentos que, nesse a0, dissolveu-se mais rapidamente, estava cortado em pedagos pequenos, f- brosos e finos, tornando-se necessariamente exposto em todas as suas sl- perticies 4 ago do suco géstrico. O pao duro estava poroso e, como ¢ dbvio, deixou que o suco entrasse em todos os seus intersticios; provavelment soltou-se do fio assim que ficou macio e muito antes de se ter dissolvido i Ane : subs completamente. Essas circunstancias podem explicar por que es# - estava em pe tancias desapareceram mais rdpido do que a carne, que estav 8) inteiros e sdlidos quando colocada dentro do estdmago do paciente (( “Experiment 1 in the First Series”, p. 126) nomenos 4 Beaumont estava tentando determinar a causa dos E 0. . . ‘ Oa observou ~ entre outros, o répido desaparecimento do rep aA lice p u > ow is deu tla que o desaparecimento poderia ter, de infcio, mais eo AS FONTES DO CONHECI MENTO | 121 go pl ausivel. A luz do desenvolvimento de sua teori tat 08 experimentos de tal modo que budens eoria, ele passou a pro- pipareses UE postulavam uma causa (a qual, tipiame entre as diversas ie rvaga0)+ Ao mesmo tempo, Beaumont estava oak €scapa & ob- gelarivamente grosseiros — © FEMPO que o suco géstric ‘i le fenémenos rir as diversas espécies de alimento. ‘0 leva para dige- ‘A existéncia de explicagdes alternativas ¢ igualm deixa bem claro que é impossfvel eliminar por demons coerentes gio com a subdeterminagao. Nao obstante, n3o retisames roe ee cupar em elimind-la a menos que 0 nosso objetivo seja o de dar uma resposta 08 cence Be = do malfadado ataque & metafisica movi- do pelo principio de verificagao, nao houve propostas sdlidas para distinguir entre as afirmagoes dotadas e desprovidas de sentido do pon- to de vista empirico. O que surgiu, em vez disso, foi um consenso em torno da idéia de que, ao contrario do que dizem muitos defensores do principio de verificacdo, as afirmagoes tém de ser verificadas em gru- pos. Esse tipo de holismo epistémico modesto nao fornece nenhum critério especifico para a identificagao de conceitos empiricos inteligi- yeis. Nao trata do sentido, mas da confirmagao das afirmagoes. Mesmo assim, uma coisa fica clara: nem todos os conceitos empiricos devem sua inteligibilidade ao fato de serem diretamente correlacionados com contetidos sensoriais. INTUICOES E RELATOS EM PRIMEIRA PESSOA Os argumentos epistemoldgicos normalmente comegam com 0 que os fildsofos chamam de “intuigdes” acerca da natureza do conhe- cimento, Na secdo anterior, também estavamos usando intuigdes — Intuicdes sobre o significado, por exemplo. Sob esse aspecto, as intui- Goes podem ser concebidas como palpites tedricos, ou seja, crengas re- latiy, . atvamente espontaneas, nao refinadas, na yerdade (ou na falsidade) de : ia. - algo, O uso de intuigdes & as vezes identificado com 0 senso co m senso co wi uma coletinea primitiva de crengas cuja verdade teria sido de: os : . _ endida da observagao casual. Ao contrério do que dizem alguns fi é sabidamente dependente 6s0fos, a intuics » 2 intuigéo, como o senso comum, 122 |A TEORIA DO CONHECIMENTS jas; as intuigOes que uma pessoa consid, das teorias; as intuigoes q P era, Usfye istas a partir das teorias que ela 18 ng, no geral, ser prevists Ps q €sPosa, Mui p den, dores ptolomaicos, opondo-se aos astré6nomos Copernj . 108 be me . 5 a teoria heliocéntrica intuitivamente implausfvel, Pois aTer 5 achaiay . Nag 4 ece” estar em movimento e nés sentirfamos uma brisa a Ta. iS teoria heliocéntrica fosse verdadeira. Outros Cientistas resisting ea sificagao do merctirio como um metal, afirmando que Adley tancia que age como o merctirio deve, pela intuicgo, ser um Ij et Quando fazemos afirmagées intuitivas sem elabord-las can 5 A 5 ser tratadas como relatos Pessoais ou pecas interessantes de uma em biografia. As pessoas que se limitam a afirmar Suas intuicdes = a outra coisa senao afirmar que consideram uma dada opinig ph mh ou implausfvel. Os relatos de primeira Pessoa sao importantes Ad de conhecimento quando 0 objeto de conhecimento é 4 prépria = que os faz. Quando, porém, o objeto é impessoal (como, rea on a natureza das estrelas ou os hdbitos alimentares do Musaranho de hp curto), o relato de uma intuigio nao corresponde a nenhum Critétio sig nificativo de prova. A intuigéo, como a linguagem comum, pode ser um bom ponto de partida para a investigacao filoséfica, mas Nao ¢o campo adequado para a decisio de questdes tedricas importantes, Por isso, nenhuma opiniao teérica complexa pode ser criticada por ser “contra-intuitiva”. A intuigao, tomada desta vez em outro sentido, é uma faculdade especial de percep¢ao. Certos epistemédlogos afirmam ter obtido 0 «- nhecimento das propriedades morais pelo exercicio da faculdade intui- tiva, que é exatamente isso: uma faculdade adequada & detecgéo de Propriedades morais, Como resposta plausfvel a essa afirmagio, podem se levantar duividas acerca da operaco idiossincrdtica dessa faculdade Se hd muitas pessoas que nao tém essa faculdade, por exemplo, por isso acontece? E cabivel que facamos essa pergunta quando ee ' ferentes relatam experiéncias diferentes percebidas pela mesma ‘i dade i ; Ancias idanti do mesmo mom Petceptiva em circunstancias idénticas, E natural, per que queiramos uma explicagao das divergéncias entre os relatos em ve °*ps0es obtidas pela faculdade intuitiva. Pode ser que logo os col nha a dar uma tal explicacZo, mas no hé nenhuma que 80% senso na €pistemologia contemporanea. AS FONT *$ PO CONHECIMEN To | 123 A MEMORIA Quando alguém contesta a nossa afirmacao d. | : S30 de umaet minado fenémeno, costumamos fazer apel Ne eco . . As ° : muitas vezes a MemGria € 0 unico fundamento deauehe on € que dispom a. i in As memérias de infancia, efeitos ra afirmar que conhecemos alguma cois ot exemplo, sao dificeis de confirmar na auséncia di jrmaos OU dos pais. Suponha que vocé se lembre de Co mseeunho dot a pescou um peixe-porco na Bata de Barnegat, em oa ctian- peixes-Pporee sao encontrados tipicamente em Aguas tropicais na 7 menos em Aguas mais quentes do que as do litoral de Nova Jerse a lo outro lado, a usina nuclear ali localizada explica o porqué de as dguas da Baia de Barnegat serem anormalmente quentes, sendo portanto ca- pazes de sustentar a vida de peixes de origem tropical. Suponha tam- bém que alguém ponha em duvida a sua afirmagao de que pescou um peixe-Porco- O que vocé responderia? Poderia consultar um irmao, mas pode ser que ele sé confirmasse que vocé pescou um peixe estranho na bafa. E a meméria que esta por trds de boa parte dos conhecimentos que supomos ter, conhecimentos que de outro modo nfo teriam fun- damento algum. A perda de meméria pode levar a uma perda de conhecimento. No Capitulo 3, por exemplo, contamos a histéria da Sra. T, que perdeu progressivamente a crenga, € logo o conhecimento, de que McKinley foi assassinado. Pelo lado positivo, vocé se lembra (0 verbo “lembrar” é usado aqui no sentido préprio, ou seja, vocé consegue de fato se lem- brar de algo) de qual éa capital do estado do Missouri, e por isso mes- mo aconhece, sem ter retido porém nenhuma prova dessa afirmagao de conhecimento (s6 para saber, a capital € Jefferson City). Nessa mes- ma linha de pensamento, certos filésofos afirmaram que as memérias veridicas, como as percepgées veridicas, s6 ocorrem quando a meméria guarda uma relaco causal correta com 0 fato que supostamente a pro- duziu, A tarefa de especificar a “relagao causal correta”, porém, é com- Plicada e nao precisamos tratar dela aqui. Ameméria parece ser um privilégio da primeira pessoa. Muito em- Lifes memérias relativas & nossa propria pessoa contenham mui- hades propositivas erréneas (ou seja, informagées erroneas 124|A TEORIA DO CONHECIMENTO acerca do objeto de lembranga), quase nunca acontece d, das quanto ao fato de aquilo ter acontecido conosco, om te zes, 0 que pensamos ter acontecido conosco acontecey, ae 85 ye, um amigo ou um irmao. Os casos desse tipo nao Se presta a Com, plicagao simples e uniforme. Do mesmo modo, é comusat Uma ey, soas reparem na dificuldade que envolve o fendmeno da m iit sonalidade quando ouvem quer um relato clinico de as le beg tem trés personalidades”, quer um relato em primeira oe Paciente “eu tenho trés personalidades”. A que se referem, nesses om Que mos “o paciente” e “eu”? Essa questo suscita uma preocupacy 05 ter. afim do problema metafisico da identidade pessoal do ae a Mais ma epistemoldgico do papel da meméria no conhecimento, ~— assim, vale a pena mencionar os dois problemas em conjunto, se das as lembrangas tém um sujeito e um objeto. Existem, Portanto * menos duas modalidades de erro possivel na meméria: uma idenifeg ¢40 incorreta do sujeito e uma identificag3o incorreta do objeto, ‘ Embora a meméria seja evidentemente falivel, Costumamos sy. por que o ato da lembranga é como a exibigio de uma fita de video; mas 0 peso das evidéncias experimentais d4 a entender que essa supo- sigao é falsa. Pense, por exemplo, no experimento do qual falaremosa seguir (ver Loftus e Ketcham, 1994). Primeiro, os voluntérios assistem aum determinado acontecimento. Depois, recebem informagoes ver- bais a respeito do acontecimento (uma informagao que pode ou néo conter detalhes cruciais inseridos ali para causar confusdo). Por fim, sio submetidos a um teste de meméria com perguntas sobre esses de talhes cruciais. Num determinado estudo, os voluntérios assistiram 7 uma série de slides que retratavam um acidente de automével. Mais tarde, alguns voluntdrios receberam uma sugestao errénea a sespen do tipo de sinal de transito que marcava uma determinada inverse viram um sinal de “Pare” na intersecgdo, mas foram levados a cter 4 . . . : metidos era um sinal de “Siga”. Depois, todos os voluntarios foram subi TMog diy a um teste de escolha, com duas alternativas. Foram instruidos ae tificar qual de dois slides haviam visto na exibic4o original i ae das questdes do teste consistia em detalhes do acontecimen™ era tados a novos elementos de distrac4o, mas a questio oe ri detalhe do acontecimento comparado ao detalhe ert6ne° AS FONTES . pec ° SONHECIMENTO | : 125 mente sugerido (sinal de “Pare” ¢ sinal de to dessa sugestao errénea? Nas quests le ceberam Informagées Erréneas Ponan c pent Information — MPI) respon, deran, ue os que nao as receberam. O efeito da informagao errénea sob; é mera criagao das pesquisas de laboratéei 4 memG6ria é poderoso; nao controvérsia em torno desse efeito é uma eee meméria. A tinica Jogos quanto a ele ser causado pela obliteragze fncia entre os psics- jnformacao correta originalmente provessade oar ach Puree da mado errénea prejudicar a capacidade de recu Pm 0 fato de a infor- original. O ponto mais importante, agora, é ques tie da meméria tica da contribuicao da meméria para o conhecimente ran seme em conta essas questoes tedricas complexas quanto a mnarureza di levar méria: em particular, a confiabilidade da meméria, sua vulner. hile de As sugestdes € OS danos que podem resultar das informagées ett. Siga” a i eee Eoefei- » OS voluntdri a ntatios que re- me ento (Misleading Poste. 7 _ WIto menos precisio do neas pds-acontecimento. A UNIFICAGAO TEORICA Outra fonte de conhecimento se nos faz disponivel através da uni- rentemente desconexos. O fato de o conhe- rna possivel uma determinada estratégia ssuposto de que qualquer objeto real r exemplo, dé sombra, fornece oxi- ecimento a respeito de um ob- ficagdo de fendmenos apa cimento ter fontes distintas to: de justificagao. Partindo do pre: tem diversos efeitos (uma drvore, po! genio, consome agua, etc.), nosso conh jeto pode provir de diversas rotas de informagao. Quando a existéncia ou a natureza de algo é matéria de controvérsia ou desentendimento, tese especifica sobre algo, uma hipétese tal que pos- de de informagoes empfricas e tedricas. A teo- somente Os diversos sistemas orbitais, mas s corpos especificos dentro desses siste- plica a relagao causal entre fendme- jo ter relacao entre si, como 0 Mo- 4o de raios beta, entre outros. isso exige uma hipd sa unificar uma varieda tia da gravidade nao explica também o comportamento do: mas. A teoria atémica da matéria ex Ros que de outro modo pareceriam né vimento browniano, a eletrdlise ¢ a emiss: 126 | A TEORIA DO CONHECIMENTo, J A tégia da unificacao tedrica se manifesta nog Ptiméra: : esa : mientais modernas, bem como em Outros Oh dy ciéncias ei, principio orientador da unificagao &xplicatiy Texto, Um xem i entos fisicomecanicos concernentes 4 elast;, 9 Scone 08 None ee Robert Boyle ([1660]). Considere oh area seus fies ue Boyle demonstra 0 funcionamento ag hate deg, pretensioso ide ope os “pequenos animais” tém de tespiray tte ar ¢ a neces depois de colocar uma “mosca da carne” ngteetts primeiro que, epors depois de algumas bombadas : *cipiene ligado a bomba, “a mosca, lepois gi ae adas de ar, caiy paredes laterais do vidro, onde estava and indo”. Num “xPetimenr, anterior, ele havia usado uma abelha; depois dea bomba ter funciong do por algum tempo, a abelha caiu das flores que haviam sido Pendy, radas na parte de cima do recipiente. Porém, esses resultados experi mentais n4o permitiam que Boyle distinguisse entre duas hipsteses plausiveis que podiam explicar 0 comportamento da mosca © da abe. Iha; e Boyle sabia disso, pois afirmou que um outro €xperimento setig necessdrio para determinar “se a queda da abelha, bem como a do oy. tro inseto, foi devida ao fato de o meio aéreo ser demasiado rarefeit ou simplesmente da fraqueza, e como que do desmaio, dos PrSprios animais” ([1660], p. 97). Seja qual for a hipétese pela qual se opte (a falta de apoio do meio aéreo ou 0 desmaio), a hipétese nao seleciona. da era uma hipétese plaustvel. Por isso, fizeram-se Novos experimentos, cujos participantes involuntérios foram uma cotovia, uma fémea de pardal e um camundongo. Nesses trés casos, Os animais cafram na in- consciéncia ao cabo de cerca de dez minutos. Boyle partia do Pressuposto de que uma hipétese tedrica pode ser comprovada ou refutada Por um novo experimento; supunha ainda que o que distingue a boa hipdtese da md nao é sé o seu valor de ver dade, mas também a sua capacidade unificativa. Uma hipétese tedrict apaz de unificar “a queda da abelha” e os outros fendmenos correlatt — mune apelo auma ou mais causas nao eT : teristicas da a en Bathice Ibe Uma das me ide dos de tal Mode due na é que os experimentos devem set ee wl Provéves rive Ate a Possa ser comparada oe qe unifiquem dada ie inada preferéncia tedrica por expli favorite © Outro modo estariam desconexos € AS FONTE: SDO CONHECIMEN | 0 | 127 -» chama de noga ws qe ge chan 10¢80 explicacionista da ier eed yoltaremos a este ponto, manj justificagzo, (yy los -plicacioni . anifestan, » (Nos spordage™ explicactontsta da justificacio e , pritica temos bons motivos para aceita uestao porque é ela que oferece a sam ser explicados. Capitu- 0 auma Mologia.) unifica os Para os da- do 0 no: 850 apoi da . apor F ra pepe €piste gadose™ q melhor and que i explicaca 5 que prect a0 dos at. O explicac ionism aplicado A justificagio nao & demas jp nem complicado. Aplica-se no s6 as ciéncias, m: masiado técni- e ao lazer, bem como a diversos outros dom ' as também ao di- wit plo, voc’ ouve certos rufdos no forro no tide d Quando, por . quer rufdos ~ nao uma fuga de Bach, mas o stl none (e nao don madeira), é natural que creia que hé Sms hgpeias ies lm de ouvir os rufdos, vocé comega a ver as fezes dos bichos, « Se, convicgio da hipdtese dos camundongos vai aumentar. E por ne? : yma resposta plaustvel: seria uma coincidéncia improvavel que os “lok jcontecimentos tivessem causas independentes — néo algo inconcebi- yel, evidenremente, mas improvavel. Assim, a hipétese dos camundon- mais que Ihe tire 0 sono, é capaz de unificar observagdes apa- te desconexas. Muito embora vocé ainda nao tenha visto o pode concluir que a casa est4 com um problema de ca- é uma conclusao irresponsdvel. Alids, talvez seja de- ‘0 cética aos possiveis ertos. tar os dois dados da observacao, mas vai fechar os olhos e alimentar eito goss por rentemen camundongos mundongos. Nao jrivamente preferivel a aversa O cético coerente hd de no nao vai tirar deles nenhuma concluséo; se houver um rato na casa, ele nao esteja comendo aesperanca de ques ais que est4o no armério. Mas, em vista da possibilidade de ter ico exigente age como todos nés (como to- 's num recipiente fin os cere sua despensa esvaziada, 0 cét dos nés deviamos agit, pelo menos) & guarda os cereal a prova de camundongos. E assim que oS céticos enfrentam o seu mais severo desafio pratico: quando seus alimentos estao em perigo. No contexto jurfdico, a convergéncia de provas é um elemento de Peso. Quando se procura provar que © réu estava presente n@ cena do ctime, os jurados constatam que um testemunho ocular e uma prova Asia (fios de cabelo ou sangue, por exemplo) $40 mais convincentes tos do que cada qual isoladamente. Esse fato nao diz respeito s6 a0 juridico e As pessoas dos jurados. Os padroes de justificaga LI8| A PEORIA DO ¢ ONHECIMENTS essiOnany OS jurados sio Os mesmos que impregy dos nos. Atinal de contis, todos pertencemos a mesma Poh os pamowores espertos prepara a acusagio de acordg comet. Assim, as varias fontes de conhecimento que dise coy" perce ravao ea meméria podem operar juntas, ¢ wat : ourras fontes, part aumentar a justificativa de uma crengal tn fonre importante de conhecimento é 0 testemunho dos oan in s — ou conhecedores — que nos rodeiam, * en que ipl crmento. AO aT epistemice: O TESTEMUNHO EA DEPENDENCIA SOCIAL Como dissemos no Capitulo 1, a busca da justificagio freq mente nos leva para fora de nés mesmos, para os aspectos fling Me. ciais do mundo. As vezes, para resguardar nossa responsabildade. . sémica, precisamos confiar nos outros. A confiabilidade da depends : social nasce da posigio especial ocupada pela pessoa em quem oni Essa posigi0 especial pode assumir varias formas: uma expeilag técnica baseada em informag6es teéricas arcanas (um profundo conhe. cimento de fisica, por exemplo), uma especializagao pratica (nas ans de encanador ou fazendeiro, por exemplo) e uma capacidade Percent normal. A justificativa de uma bidloga celular para sua crenga de ques instrumentos sao confidveis, por exemplo, depende de um conjunto& conhecimentos de instrumentagao técnica que nao faz parte da espe cialidade da propria bidloga. A dependéncia social epistémica é evidente em outros contests mais familiares. Segundo uma conhecida teoria da justificacao, um cep pode ter motivos firmes para crer que hé uma valeta no seu caminho, mesmo que sua tinica fonte de informacdo seja o testemunho de un! pessoa dotada de visio. Essa fonte nao precisa sequer ser humanap¥# poder lhe indicar com confianga a presenca da valeta, Um cio tt do para ser usado por cegos, por exemplo, pode lhe proporcionat cessiria justificagao. Na opiniao de certos fildsofos, esses ©3805 . i. indiagio confidvel é um fator essencial da jus wl doqueus Pes « ser confidvel em sua drea, mas nao serd ma! got to em outra drea, (Conhecemos fildsofos qu AS FONT ES DO CONHECIMEN TO | 129 enor jdéia de como fazer Para troca, briga a manter em siléncig su © dleo do — a deferéncia devida aos supostos espe nial deficiéncias Fae recerem uma confianca especifi sien depende de, que do dominio de formacao de crencag On telacionada a ae equea experiéncia ou a confiabilidade crise nhesimento da a decerminado dominio chamou de novo a ate sempre telatva ts sociais €culturais que incidem sobre a justia a8 influén. Um dos meios mais notayeis de justificagao ane chamada rriangulagao (ver Trout, 1998). Segundo ee ba js quais se chega por um ntimero maior de métodos indey = crengas em geral, mais confidveis (ou seja, tém maior probabilideele tenes sao, dadeiras) do que as crengas as quais se chega por um nko, ‘ ver- ssa nogao de triangulag4o se encontra na ciéncia e no senso - todo, Ela nos diz que, quando métodos diversos nos levam 4 mesma = sd0,3 probabilidade de essa convergéncia ser mera coincidéncia oe IM logamente menor € tal a <0 nos 0 q eles M° rermina Ivez até mesmo racionalmente desprezivel. Quando se trata do testemunho, a triangulacao ocorre numa gran- e variedade de disciplinas e contextos. Relatérios especializados sio ndividuos. Esse equilibrio social pode man- role. Essa espécie de racionalidade social é ste caso, pois a racionalidade costuma ser caracterizada como algo que pertence a um tinico individuo. Quando apessoa consegue ater-se as regras da deducao e da indugao é chamada racional, Segundo essa concep¢ao, © modelo da racionalidade é a capa- cidade individual de resolver problemas. A racionalidade dos grupos, porém, nao nasce de forma simples dos processos decisérios racionais dos individuos. Aracionalidade de uma comt plo. Suponhamos que essa comun de criar uma vacina. Para atingir ess catem de atribuir tarefas distintas a d ‘specialistas escolhidos podem ter obje simples, a acumulagao de pesquisas pata = financiamento para suas pesquisas). especialistas pode nem se importar com d encomendados a diversos i ter a parcialidade sob cont especialmente instrutiva ne unidade cientifica nos oferece um exem- idade tenha, entre outros, 0 objetivo a comunidade cientifi- e objetivo, roprios jiversos especialistas. Os p' tivos diversos: a fama pura ¢ obter uma bolsa (e, com ela, ‘A verdade é que boa parte os objetivos gerais do pro- 130 | A TEORIA DO CONHECIMEN TO ] grama de pesquisas. O objetivo de boa parte das a reurizagio, por exemplo, era o de promover a producio a. mas é possivel que varios cientistas tenham tido como 7 der os processos quimicos e celulares da fermentacao, e Existem diversos meios pelos quais os intelectuaig P profissionais, procuram atingir suas metas grupais, Un 7 Bp, utilizado nas ciéncias exatas e humanas, é a apreciacgo dos cole, determinado nuimero de especialistas julga a competéncig Cole, x um trabalho apresentado para publicagao. Os revisores eis "aor formagées diversas, 0 que pode proporcionar a diversidade " que caracteriza a triangulacgao. A apreciagio dos colegas, aa Pry damente regulamentada, pode ser concebida como um as Indo i de correcio de desvios e deteccao de erros. Caso se atribua vai 4 mico as diversas perspectivas representadas pela apreciacao des, o a énfase da epistemologia feminista na diversidade de pers t) pode ser compreendida como uma idéntica insisténcia na tig = social. A epistemologia feminista é em si mesma um movies, lectual especffico, mas um de seus temas recorrentes é 0 embisan, da justificagao em aspectos psicoldgicos e sociais importantes dag, as hn, ns nk - ma tura humana. A epistemologia feminista, 2 semelhanga da maioria dos movine. tos intelectuais, propde projetos negativos (ou criticos) e projetos pat tivos. Busca localizar os problemas das correntes de pensamento a temporaneas e formular melhoras e alternativas. No contexto dese projeto critico, certas fildsofas feministas identificam e descrevem an tureza de instituigdes supostamente patriarcais (como as cigncias es universidades) que moldaram nossa busca de um conhecimento pibl- co e objetivo. Identificaram, na histéria da ciéncia, a tendéncia deot jetificagao da natureza e de apresentar os conhecedores como ind duos isolados do meio natural e de qualquer comunidade. Além ds tureza pa afirmaram convictamente que essa tendéncia é de na ‘io ou categoricamente “masculina”, pois d4 mais énfase a0 sail um controle sobre o mundo do que 4 cooperagao com ele; ove natureza se dobre perante a vontade independente do invest pat Certas epistemdlogas feministas trataram sobretud fc subjetivos do conhecimento, aspectos que podem set espe AS FONTES ci TES DO coy {ECIN ENT 3 TO | 1 31 a outro sexo. A capacidade de saber como é t exemplo, resulta do cariter bioldgico a £0 processo de dar dl empo que a epistemologia se preocy Corpo feminino, H luz, 10 re sas subjetivas. Os fild PA em elucida perienicias tlosofos, Nesse contey . 1a pesso4 pode ter 0 conceito de uma expetidnai Querem saber se co, ou seja, Nao por tera propria expetitoca Cs Meio de uma or exemplo» pode conhecer a cor vermelha simples - normalmente acontece, do ponto de vista iso} ale por saber o fhumand que yéo vermelho? Oo cardter epistemicamene dine um ser experiencias fundaunt na biologia merece dos epstemelogos ume, das dados2 arengad- . na cul- Algumas feministas concentraram-se na centralidade social ¢ cul preens4o que uma pessoa tem de si mesma e do mmund ' ima camponesa do século XI ou de uma escrava nore americana do século XVIII nao pode ser plenamente compreendid - Ja mera reflexdo filosdfica de um homem branco dos dias atuais. mes. mo depois de muito estudo de histéria e esforgo contemplativo, Diso njo decorre que tenhamos de deixar de lado todo esforgo para com- preender os outros. O ponto central do argumento, antes, é 0 que nao devemos pensar ingenuamente que as relagées efetivas que temos com mundo (e, logo, com os outros conhecedores) sao irrelevantes para a formulacdo de conceitos e principios epistémicos. As relacdes sociais gem certos processos epistémicos sao sutis complexas. As epis- ou mui- @natureza das desct que um cego, ural da. com ‘A siruagao de u que re temdlogas halho com comunidades epistémicas. Os contextos sociais nos quais surge 0 conheciment para além da epistemologia feminista: conduzem-nos a um movimen- to mais geral dos estudos sociais do conhecimento. As pesquisas sobre associadas a uma disciplina que 4s vezes se cha- descrigdes altamente elaboradas los cientificos. Nessas pes- feministas procuraram caracterizar essas relagdes no seu tra- to nos levam as praticas da ciéncia, ma de “estudos cientfficos”, propoem das caracteristicas epistemoldgicas dos circu quisas, abundam as taxonomias e disting6es sociais € psicoldgicas, que Sio todos construtos humanos. Nao nos devemos esqueceh porém, de Que a epistemologia também trata do modo pelo qual essas pr dticas se eulam com 0 mundo, Nao hé duivida de que boa parte dos nos s conhecimentos ¢ mediada pelo nosso envolyimento com institui- 132 | A TEORIA DO CONHECIMENTO Ses — instituigées humanas, culturalmente especificas, Condicionag. por um tempo e um lugar. . O mais interessante é procurar saber se — € como ~ as instituigée, colaboram para a aquisigao de crengas aproximadamente verdadeiras E evidente que as instituicdes S40 organizagoes sociais que consolida, todos os desvios ideoldgicos que s40 4 heranga comum da carne cog. noscente. Por isso, a histéria do conhecimento cientifico suscita myj. tas questoes de dificil resposta. Se concordarmos em que boa parte das instituig6es cientificas da Europa exerceram uma discriminacio siste. méatica contra as mulheres — tipicamente, as diversas academias eram clubes exclusivos para cavalheiros brancos e bem instruidos —, teremos de aceitar o fato de que a instituigao da ciéncia ocidental, t40 bem-su- cedida e tio propicia a descoberta da verdade, foi sempre sexista ¢ ra- cista. A aceitacao desse fato pode pér em xeque 0 sentimento ilumi- nista de que a verdade sempre traz em seu rastro uma emancipacio, Essa tensao ameagadora pode ser resolvida se concebermos as institui- goes cientificas como organismos funcionalmente complexos e admi- tirmos que as estruturas naturais causais investigadas pela ciéncia séo igualmente complexas. Isso significa, entre outras coisas, que uma ins- ituigéo cientifica pode atender melhor a certos objetivos do que a ou- s nos diversos momentos do tempo. O fato de que boa parte de nossos conhecimentos é dependente "de uma estrutura social tem conseqiiéncias marcantes. Os fildsofos sempre cantaram as virtudes da auto-suficiéncia intelectual. Mas; seo conhecimento tem aspectos sociais e culturais dos quais nao se pode prescindir, temos de formar uma nova concepgao do que seria essa aUto- suficiéncia, Podemos ser intelectualmente auténomos na medida em que podemos identificar as pessoas dotadas do conhecimento necessé- tlo para nos auxiliar; mas essa autonomia nao chega até a capacidade . tea i réenicas importantes que estao fora da ee - tem de estar sempre atente a0 ae _ aL episremelogis sa ae que vém de diversos setor da soe, i oMichates scenea i sociedade. . neck mento comparada & vomibligde da cas fontes are ‘ il tham-se de certo modo & cones € da autonomia episceémica ass ie ‘ovérsia entre o empirismo ¢ © racio AS FONTE: S$ DO CONHECIMEy, © NTO | 13, 3 Os epistembdlogos querem saber d, nO adquirimos. Todos queremos eas ve seciten© é derivado em tltima andlise im : caa essa pergunta vai influenciar py Feariencia Sensorial, poi sétodos de justificagao. Também be ndamente a nossa i Pa cimento se transmite na sociedade, “emes saber de que mods * ppicia © surgimento de grandes corpos de conhe, €ssa transmissio rem apa enremente uma vida prépria, independemene ” que adqui- conhecedor individual. Num certo sentido, por eal de qualquer do Congreso norte-americano contém uma duensiict a. biblioteca mento” muito maior do que qualquer ser humano jamai le Conheci- de cumular. ete ae Em suma, pois, nosso estudo das fontes de conhecimento nos trou que exisrem forgas que nos impulsionam em diredes 0 vee ranto na diregdo da auto-suficiéncia epistémica quanto na diregdo con. préria. Por um lado, damos énfase a essa auto-suficiéncia, pois perce. ultima andlise, é 0 individuo que tem a maxima res- lo conhecimento que adquire. Em outras palavras, m agente epistémico que tem de determinar no que ism? emo ce ‘onhec; cimento ¢ Pore; *emplo, se todg Sco i respos nade" g combe! bemios que, em ponsabilidade pe! cada um de nds é w vai crer a partir das fontes pessoais de conhecimento a que tem acesso, io e a meméria. Por outro lado, percebemos 0 poder cada vez maior da busca social do conhecimento, que vai muito além do que qualquer ser humano isolado seria capaz de realizar. Per- cebemos também o quanto dependemos uns dos outros para adquirir rca do mundo em que vivemos. so estudo das fontes de conhe- e evitar o erro. A dependén- a adquirir as verdades sig- (pelo menos segundo a de muitas crengas fal- como a percep¢ao, a raz até os mais simples conhecimentos ace Dois objetivos unificam todo o nos cimento: conhecer as verdades importantes cia social do conhecimento nos ajuda muito nificativas, e métodos como o da triangulagao opiniao de muitos epistemélogos) nos protegem sas. A busca de verdades significativas € 0 esforco de evitar as crengas ° falsas exigem que as crengas sejam formadas de maneira racional. Ou Sja, a racionalidade é um elemento necessdrio para 4 consecugao de ossos dois objetivos epistémicos, e é para esse importantissimo assun- ue agora nos voltamos.

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