Virginia Woolf, o grupo de Bloomsbury e a ‘maior pegadinha da

História’
31/03/2014 às 18h04 - Por Joao

Foi um acontecimento que fez os ingleses caírem das nuvens, de tão inesperado.

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De qualquer modo, como sabem meus três leitores, melhor cair das nuvens do que de um décimo andar…

Virginia foi, na unanimidade da crítica, a maior gura da literatura inglesa no século passado, juntamente com o grandioso James
Joyce, irlandês.

Já o grupo de Bloomsbury, um delicioso bairro londrino, de construções vitorianas, onde tive a felicidade de viver e de amar,
quando jovem, é menos fácil de de nir.

Um biógrafo escreveu que o grupo “apenas” (aspas minhas) era mais liberado do que seus Virginia Wool, como
antecessores; expressava-se com mais franqueza; tratava as mulheres como iguais aos homens; e tinha um respeito pela excelência
intelectual. E, claro, adendo meu, como grupo inteligente, desprezava a religião e a autoridade.

A pegadinha (hoax) do “Dreadnought” aconteceu em 1910; antes, portanto, da primeira Grande Guerra. O sucesso do grupo em
desmoralizar a Marinha Real inglesa chocou e divertiu o país. Mas poucos perceberam que foi também um ato político e paci sta.

The Bloomsbury group decidiu um dia expor a Royal Navy ao ridículo, programando uma visita do “Imperador da Abissinia (atual
Etiopia)” ao mais novo e poderoso navio de guerra inglês da época, o Dreadnought, ancorado em Weymouth.

Virginia [ainda Sthepen] e seus amigos mandaram um telegrama para o almirantado, como se fosse do Ministério do Exterior [ Foreign
O ce]; com instruções para que o imperador da Abissínia e sua corte fossem recebidos com honras de estado.

Um gurinista foi contratado; vestiu adequadamente o grupo de seis. Dois foram de fraque e cartola, como intérprete e representante
do Foreing O ce. Os outros, incluindo Virginia e o futuro Lord Keynes; sim, o próprio, tiveram o rosto coberto de preto; e usaram
disfarces pesados, como turbantes e mantas. No trem, de Londres para Weymouth, criaram uma lingua ctícia, como se fosse
aborígene.

Bem.

Os Bloomsburyans foram recebidos com tapete vermelho no cais. E, em seguida, levados para uma visita de inspeção ao mais
moderno e protegido navio inglês. Depois, recusaram drinques, alegando proibição religiosa; mas, na verdade, com medo de que a
maquiagem começasse a se desfazer. E, na saída, disseram ser dispensável uma salva de vinte e um tiros.

No dia seguinte, deliciados com o sucesso da pegadinha, Virginia e amigos vazaram a história para os jornais. Dias, semanas se
passaram, e o assunto continuou na primeira página dos jornais; do então sizudo Times [hoje é do Murdoch] aos tablóides.

Como resultado, debates foram travados no Parlamento; comissões de inquérito instaladas; novas regras de segurança determinadas
pelo Foreign O ce e pela Royal Navy.

Mas nada, nada, foi capaz de apagar o registro do dia em que a Marinha mais poderosa do mundo foi posta de quatro por seis jovens
criativos. Ponto.
Bela história; para ser escrita, e lida, em mais um aniversário do golpe militar brasileiro. Que, igualmente, deixará as forças armadas
brasileiras para sempre de quatro. Ganharam na estupidez; perderam na paz.

* Colaborador voluntário do SRZD – Jornalista, repórter e editor nos maiores veículos de comunicação do País. E na BBC de Londres.
É autor do livro “Retratos, entrevistas de Playboy” (LPM editores).

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