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PARANOÁ - Cadernos de Arquitetura e Urbanismo

PROJETO DE ILUMINAÇÃO NATURAL: FERRAMENTAS


PARA CÁLCULO E AVALIAÇÃO

LIMA, Thais Borges Sanches; CHRISTAKOU, Evangelos Dimitrios.

RESUMO emphasis upon computer simulation tools. As a


result, in order to obtain quantitative results,
As decisões tomadas pelo arquiteto nos
conventional tools such as mathematical models
estágios iniciais do projeto têm impacto
and graphs, are the most used. Physical models,
decisivo no desempenho luminoso do
used by architects to visualize their design, are
edifício. Diversas são as ferramentas de
not commonly used as a tool for the evaluation
apoio à concepção do projeto que podem
of the internal and external daylight incidence
ser aplicadas para o cálculo e avaliação
upon the scaled model. Computer simulations
da iluminação natural. Este artigo visa
allow both qualitative and quantitative studies
descrever a importância do uso dessas
and have been applied towards the analysis of
ferramentas para o cálculo e avaliação de
the environmental performance of buildings,
projetos de iluminação natural. Para isso,
although little is used in the architectural
foram descritas as vantagens e limitações
practice.
encontradas na aplicação das ferramentas,
dando um enfoque maior ao uso da simulação Key words: Architectural Design, Lighting
computacional. Assim, para o estudo dos Design, Computer Simulation of Lighting
aspectos quantitativos, as ferramentas
convencionais (métodos matemáticos e
gráÞcos) são as mais aplicadas. Os modelos 1. INTRODUÇÃO
em escala, utilizados por projetistas para O estudo da iluminação nos projetos
a avaliação dos projetos, nem sempre são de arquitetura deve ser desenvolvido
aproveitados para a análise da iluminação, ainda na fase de concepção da proposta
apesar de permitir também a visualização projetual, visto que, grande parte das
do ambiente iluminado. As ferramentas variáveis relacionadas ao aproveitamento
computacionais permitem estudos tanto da luz natural nos ambientes, tais como,
quantitativos como qualitativos e têm orientação do edifício, posicionamento,
sido aplicadas para análise da qualidade tamanho e orientação das aberturas, é
ambiental de ediÞcações, porém ainda são deÞnida ainda nessa fase.
pouco utilizadas na prática proÞssional.
O projeto de iluminação é composto de três
Palavras-chave: Projetação arquitetônica, etapas principais, denominadas deÞnição,
Projeto de iluminação, Simulação cálculo e avaliação, desenvolvidas a partir
computacional da iluminação. de uma alternativa de solução, para atender
às questões quantitativas, relacionadas
ABSTRACT ao nível de iluminação necessário para a
execução das atividades a que o espaço
Decisions made by the architect during the
se propõe; e às questões qualitativas para
initial stages of design have a huge impact
uma melhor apreensão do espaço do ponto
upon the building’s luminous performance.
de vista do conforto visual, devendo ser
There are several existing tools to aid the
entendido como a integração da iluminação
architect during design, which are capable
natural e artiÞcial (LIMA, 2003).
of performing calculations and evaluating
natural illumination. This paper illustrates the A etapa de deÞnição da proposta consiste
importance of applying such design tools for na determinação das características do
calculating and evaluating natural illumination problema e as possíveis soluções. Na etapa
design. The advantages and limitations de cálculo são deÞnidos os parâmetros
encountered during the application of such tools quantitativos através de um modelo
have been described in this article, with a greater matemático da iluminação dos ambientes.

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Projeto de iluminação natural: ferramentas para cálculo e avaliação Thais Lima e Evangelos Christakou

A avaliação é a etapa onde se veriÞca se iluminação. São baseadas em métodos


a solução proposta atende aos requisitos analíticos de avaliação dos níveis de
estabelecidos para o problema. iluminação do ambiente, mas não
possibilitam, principalmente as ferramentas
Os instrumentos para projeto de
simpliÞcadas, a análise com relação aos
iluminação são utilizados nas etapas
aspectos qualitativos da iluminação.
de cálculo e avaliação e são divididos,
segundo Baker e Steemers (1998), em 3
categorias: modelos em escala, ferramentas 2.1 Modelos físicos em escala reduzida
de projeto simpliÞcadas e ferramentas
computacionais. Os modelos físicos em escala reduzida têm
uma série de vantagens com relação ao
As duas primeiras categorias podem ser estudo da iluminação natural, mas também
deÞnidas como ferramentas convencionais, possuem algumas limitações, dentre as
embora os modelos em escala, muito quais podemos destacar: a necessidade
usados para apresentar as propostas de precisão na geometria das obstruções e
projetuais, sem sempre são aplicados para exposição ao céu e a interferência causada
o estudo e análise do projeto de iluminação pelo observador ou câmera no nível
natural (BRYAN et al, 1981, apud PEREIRA, luminoso resultante (MOORE, 1985).
1995). As ferramentas computacionais têm
ganhado espaço com o uso de programas Pereira (1995) destaca ainda a limitação
de simulação, simples ou complexos, que com relação a estudos paramétricos,
visam analisar os aspectos quantitativos e a necessidade de boa instrumentação
qualitativos da utilização da luz natural. fotométrica, além de demandar bastante
tempo para a construção do modelo.
Os procedimentos de cálculo convencionais
podem ser encontrados em publicações Existem duas formas de simular a
especíÞcas e na norma NBR 15215 (ABNT, iluminação natural nos modelos em escala:
2005), que descreve os métodos para cálculo o uso do céu real, que é mais barato e fácil,
da iluminação natural e para veriÞcação porém implica em condições de estudo
experimental das condições de iluminância muito variáveis e de pouco controle; e o
e luminância em ambientes internos. uso de céu artiÞcial, onde as condições
são estáveis, porém tendo a limitação de
As técnicas de simulação computacional ser usado somente para estudos sob céu
estão sendo utilizadas, principalmente nublado e de tamanho Þnito (MOORE,
nos ambientes acadêmicos, onde 1985) (Figura 1).
estudos têm avaliado sua aplicabilidade
no desenvolvimento de projetos de
iluminação.
Este artigo visa descrever as ferramentas
de projeto de iluminação naturala,
destacando suas potencialidades e
limitações, dando ênfase às ferramentas de
simulação computacional, visto que estas
têm possibilitado análises mais complexas,
principalmente em relação aos aspectos
qualitativos do conforto visual. Figura 1 – Estudo de iluminação com modelo
em escala reduzidab
2. F E R R A M E N T A S Com relação às vantagens de sua aplicação,
CONVENCIONAIS a maior delas se relaciona à dimensão do
As chamadas ferramentas convencionais modelo, que considerando a incidência
a muito tem sido utilizadas no da luz natural e sua análise, não vai
desenvolvimento de projetos de inßuenciar nos resultados, visto que o

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comportamento é o mesmo, independente os transferidores, o diagrama de pontos,


da escala utilizada. Esta só irá inßuenciar os diagramas Waldram, dentre outros
em análises com o uso de fotocélulas (Figura 2). Destacam-se pela facilidade de
e câmeras fotográÞcas, que requerem aplicação e exibição do efeito relativo de
dimensões apropriadas para sua aplicação diversas variáveis de projeto (MOORE,
no interior do modelo. 1985), porém tem como desvantagem o
fato de analisar um único ponto de cada
Apesar disso, os modelos físicos em
vez, sendo limitado com relação a estudos
escala oferecem precisão nos resultados
paramétricos (PEREIRA, 1995).
quantitativos e facilidade de comparação
para mudanças de um único componente de
projeto; fornece uma percepção do espaço
iluminado e, portanto a possibilidade
de estudos qualitativos; permite simular
formas mais complexas; e visualizar as
mudanças ocorridas com a variabilidade
da luz natural durante o dia; além de que,
a maioria dos projetistas tem familiaridade
no uso desses modelos (MOORE, 1985;
BAKER e STEEMERS, 1998).

2.2 Ferramentas de projeto simpliÞcadas


As ferramentas de projeto simpliÞcadas
ainda são as mais utilizadas por projetistas
Figura 2 – Exemplos de métodos gráÞcos
que desenvolvem projetos de iluminação,
(carta solar, transferidor auxiliar, goniômetro
tanto natural quanto artiÞcial.
BRS e diagrama Waldran, respectivamente)
Segundo Baker e Steemers (1998), as
ferramentas de projeto simpliÞcadas
podem ser subdivididas em: métodos 3. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL
matemáticos; método tabular; e métodos DE ILUMINAÇÃO
gráÞcos. Na década de 50 desenvolveu-se o
Os métodos matemáticos são procedimentos conceito que a simulação matemática
de cálculo desenvolvidos através de poderia ser aplicada a qualquer processo.
equações baseadas nas hipóteses físicas, Nesse período somente equipamentos de
parâmetros geométricos e procedimentos grande porte estavam disponíveis e seu
analíticos. Podem ser úteis e relativamente uso estava restrito a poucas instituições de
simples para um único ponto, porém pesquisadores (AMORIM, 1998).
lentos e trabalhosos para vários pontos Atualmente, a simulação computacional
de análise. Como exemplo, podemos citar tem provado - especialmente nas duas
o cálculo das iluminâncias através do ultimas décadas - ser uma ferramenta
método dos lumens ou do método do fator eÞciente para estudar o desempenho
de luz natural. ambiental (térmico, luminoso, acústico e
O método tabular é baseado na avaliação energético, dentre outros) dos edifícios. A
do fator de luz natural ou a componente interação entre os aspectos de projeto, clima,
do céu através de uma série de parâmetros sistemas eletromecânicos e os ocupantes em
geométricos. um edifício é uma tarefa muito complexa
e os recursos da simulação possibilitam
Os métodos gráÞcos, bastante utilizados uma melhor compreensão desses fatores.
nas fases iniciais de concepção da As ferramentas de simulação permitem
proposta projetual, são baseados no uso apoiar a prática de projeto da arquitetura,
de gráÞcos, tais como os nomogramas, possibilitando a realimentação entre a

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Projeto de iluminação natural: ferramentas para cálculo e avaliação Thais Lima e Evangelos Christakou

tomada de decisões e logo em seguida permitindo que proÞssionais e estudantes


a avaliação de seu impacto ambiental possam utilizá-los para estudos e
(CALDAS e NORFORD, 2002). projetos, sendo que o tempo despendido
é dependente da complexidade do
Segundo Bryan (2002), a simulação
modelo, da implementação do algoritmo
computacional da iluminação natural
de iluminação e da capacidade de
começou na década de 70, com a introdução
processamento do equipamento utilizado.
do LUMEN II (mais tarde LUMEN MICRO)
e na metade da década de 80 surgiu o
SUPERLITE que podia calcular espaços de 3.1 Considerações sobre a aplicação das
formas um pouco mais complexas. ferramentas computacionais
Ubbelohde e Humann (1998) Para avaliar um determinado espaço
demonstraram que estes programas de arquitetônico deve-se, como primeiro
simulação computacional encontravam passo, elaborar um modelo geométrico
sérios obstáculos – devido à insuÞciência tridimensional (objeto-modelo) que
de memória e poder computacional baixo represente o espaço a ser estudado (objeto-
– para calcular a luz natural. As tarefas de concreto). Este objeto-modelo deve possuir
deÞnir as características de um ambiente, informações geométricas que deÞnam a
um sistema de aberturas e associar estes representação da realidade em forma de
dados à distribuição de luminâncias do coordenadas cartesianas, x, y e z; além de
céu, sobrecarregavam até mesmo os mais conter informações sobre as propriedades
avançados computadores da época. óticas do material de cada superfície e
A possibilidade de modelagem das sobre as fontes de iluminação da cena.
fontes de luz alterou profundamente esse O princípio básico é a completa descrição
panorama. Inicialmente apenas as fontes de uma cena 3D, onde se especiÞca o
de luz diretas eram consideradas, e mesmo tamanho e a posição dos objetos e as
assim, apenas uma de cada vez. Pouco a propriedades dos materiais de todas as
pouco, foram introduzidas fontes mais superfícies da cena e, fundamentalmente,
complexas. Neste contexto as sombras eram a posição e as características radiométricas
“duras”, pois os algoritmos preocupavam- – que se diferencia das fotométricas porque
se exclusivamente com a visibilidade dos não consideram a percepção humana - das
objetos e a obstrução decorrente das fontes
fontes de luz.
de luz (BEKAERT, 2003).
A partir destes dados, uma imagem é
Atualmente, existem diversas ferramentas
produzida como se fosse vista por uma
para simulação da iluminação natural que
câmera virtual (ou sintética). Ressalte-se que
podem ser aplicadas em todas as fases do
existe uma relação direta entre a qualidade
projeto de arquitetura. A simulação de
da saída da simulação e a qualidade da
iluminação tem como principal vantagem
elaboração do modelo geométrico.
a viabilização de estudos quantitativos
e qualitativo, permitindo visualizar a Assim, o simulador, empregando modelos
aparência do ambiente e a produção de um de iluminação (teorias ou “mecanismos”)
modelo fotométrico para uma estimativa implementados em algoritmos adequados
de suas propriedades luminosas. deve calcular como a luminosidade está
distribuída, como cada objeto é iluminado
Embora cada vez mais complexas, eÞcientes
diretamente e indiretamente, segundo o
e soÞsticadas, algumas diÞculdades são
comportamento físico da luz. Exibindo
encontradas no uso dessas ferramentas,
esses resultados das mais variadas
principalmente no que se refere ao tempo
formas, inclusive sob a forma de imagens
gasto no preparo e edição dos dados
fotorealisticas.
relativos à geometria e às propriedades
físicas da luz e dos materiais. Entretanto, Para a aplicação da simulação
o processo de simulação, como um todo, computacional os seguintes fatores devem
tem se tornado mais fácil e interativo ser considerados: (Figura 3)

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simplesmente “scene-based” como o


RADIOSITYd. E os métodos baseados na
imagem e que são dependentes do ponto
de vista do observador – “image-based”
como o RAY TRACINGe. Ambos são
capazes de produzir resultados numéricos
além de imagens de alta qualidade, ou seja,
avaliações quantitativas e qualitativas da
luz natural no espaço arquitetônico.
A simulação da luz natural deve utilizar
Figura 3 - Fluxograma de fatores envolvidos algoritmos devidamente validados. A
na simulação computacional da iluminaçãoc validação é um processo essencial, pois visa
averiguar se os resultados obtidos através
Cabe destacar ainda que há uma da simulação são compatíveis, a partir de
diferenciação entre os programas de uma relação entre os quantitativos físicos
rendering e as ferramentas de simulação. disponíveis e os parâmetros de simulação
da luz natural.
Os software de rendering objetivam a
obtenção de imagens realísticas do Segundo Baker et al. (1993), basicamente
objeto simulado, ignorando a precisão existem dois níveis de validação na
numérica dos resultados. De forma geral, simulação da luz natural:
esses programas de rendering têm ênfase Avaliar se as iluminâncias são as mesmas
na saída gráÞca, ou seja, na imagem que no edifício real, onde tudo deve ser
produzida, visando impactos visuais, não similar ao que foi simulado. Devido a
se importando com as técnicas empregadas limitações das ferramentas, esse edifício
na sua geração. deve ser uma célula de teste sob um céu
Por outro lado, os programas para artiÞcial; e
simulação são propostos para reproduzir o Previsão da performance da iluminação
comportamento da luz e sua interação com natural de um edifício real para condições
os materiais através de cálculos complexos, climáticas reais. Isto requer ajustes dos
fundamentados no fenômeno físico da resultados da simulação e uma deÞnição
luz na cena. A sua principal tarefa não é estatística do desempenho.
mostrar uma visão realística do projeto
arquitetônico ao leigo, mas permitir a
avaliação da qualidade e adequação da 3.2 Projetação arquitetônica e simulação
solução proposta através de imagens da iluminação
sintéticas e informações numéricas
(INANICI, 2001). A simulação deve estar inserida
paralelamente às etapas do processo de
Para isso, essas ferramentas utilizam projeto nas quais se deÞnem o “partido”
algoritmos chamados de “iluminação ou o “risco” inicial. Alguns ajustes podem
global”, que segundo Ehrlich (2002), ser adotados com novas entradas de dados
simulam as propriedades físicas e e então processados novamente, até que a
comportamentais da luz, em escalas macro solução satisfaça os objetivos pretendidos.
(propagação da luz da fonte ao observador) Então, volta-se ao processo de elaboração
e em escala micro (interações da luz com as do projeto já em fase do anteprojeto e,
características das superfícies). portanto, elaborado com um grau de
As principais aproximações algorítmicas certeza suÞciente para seguir para a fase
de predição da luz natural baseiam-se nos seguinte (Þgura 4).
modelos de iluminação global que existem
basicamente em duas vertentes. Os métodos
baseados na cena e que são independentes
do ponto de vista do observador – ou

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Projeto de iluminação natural: ferramentas para cálculo e avaliação Thais Lima e Evangelos Christakou

Em segundo lugar, existe uma falta


de conÞança na aplicabilidade destes
programas de simulação na realidade
brasileira, em termos de clima e tipologia
das ediÞcações locais (MENDES et al.,
2001).
Vale ressaltar que o conceito de integração
da simulação na projetação do edifício,
não é suÞciente per si. Esta barreira pode
ser superada através da elaboração de
ferramentas adequadas ao ßuxo de trabalho
Figura 4 – Fluxograma de Projeto do arquiteto, assim como a inclusão de
Arquitetônico apoiado por simulação temas de simulação computacional na
computacionalf formação dos futuros arquitetos.
O projeto de arquitetura pode-se
beneÞciar com a técnica de simulação da
3.3 Estudos comparativos de ferramentas
luz natural, com a qual é possível gerar
para simulação computacional
imagens preditivas de espaços que ainda
não foram construídos. Podem-se avaliar Muitos estudos têm sido desenvolvidos
previamente as condições de conforto a cerca do uso das ferramentas
visual, computando os diversos níveis computacionais para a simulação da
de iluminação em diferentes pontos do iluminação natural, tanto em âmbito
ambiente, possibilitando que se façam os internacional, onde a maioria dos
ajustes necessários. Além disso, pode-se programas voltados para esse enfoque é
simular o projeto de iluminação artiÞcial produzido, quanto em âmbito nacional,
conjugado ao da luz natural, possibilitando existindo vários estudos que têm descrito
melhora signiÞcativa na eÞciência a aplicação desses programas e discutido a
energética do edifício. validação dos mesmos, que é uma condição
preliminar para a garantia da precisão dos
Apesar dessas facilidades, não há uma
resultados.
avaliação precisa de quantos proÞssionais
consideram os métodos de cálculo da luz Tais pesquisas fazem uma análise
natural como parte das tarefas a serem da usabilidade, características e,
elaboradas no projeto arquitetônico. principalmente, os recursos disponíveis
Até 1992, na Europa, somente 15 % dos para a simulação quantitativa e qualitativa
arquitetos se ocupavam dos assuntos da da luz, que podem auxiliar o projetista na
luz natural em seus projetos (IEA, 2000). aplicação desses recursos no ato de projetar
em arquitetura.
Dez anos depois, outra pesquisa mostrou
que 91 % responderam que incluem aspectos Nesse sentido, destacam-se as pesquisas
da luz natural nos projetos de edifícios, realizadas no IEA – International Energy
sendo que, entre estes, 79 % utilizam a Agency – da LBL – Lawrence Berkeley National
simulação computacional, demonstrando Laboratory - que desenvolve trabalhos
forte tendência de crescimento da sua na área de conforto ambiental, dentre os
aplicação como apoio qualitativo ao quais a iluminação, publicando estudos
processo de projeto (MAHDAVI, 2003). sobre algoritmos, métodos e ferramentas,
além de terem desenvolvido alguns
Quanto à realidade brasileira, em estudos
dos programas de simulação utilizados
sobre a simulação computacional,
pela comunidade cientíÞca, tais como o
veriÞcou-se uma baixa aceitação do uso
ADELINE e o RADIANCE.
das ferramentas de simulação. Isto se deve,
em primeiro lugar, à falta de legislação Lima (2003) destaca que muitos trabalhos
especíÞca para a aplicação dos conceitos publicados visam também comparar as
de eÞciência energética em novos edifícios. diversas ferramentas de simulação de

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iluminação quando utilizadas no processo nas fases iniciais tendem a perdurar e a


de projeto de arquitetura, tais como, Roy inßuenciar nas decisões posteriores e assim
(2000) e Ashmore e Richens (2001) que por diante.
analisaram os programas ADELINE 2.0
Dentre os diversos instrumentos existentes
NT, LIGHTSCAPE 3.1.1, MICROSTATION
para o cálculo e avaliação da iluminação
7.1 e RADIORAY 2.0 quanto a precisão e
natural, destaca-se a possibilidade do uso
facilidade de uso; e Khodulev & Kopylov
de modelos físicos em escala reduzida, que
(2002) e Ubbelohde e Humann (1998),
por serem de maior utilização por parte
que fazem um estudo comparativo entre
dos projetistas, pode auxiliar nos estudos
programas analisando as interfaces, a
de iluminação e na determinação das
exatidão da descrição física das fontes
melhores soluções de projeto. No entanto,
luminosas e dos materiais, o modelo de
como discutido anteriormente, requerem
iluminação global utilizado, a acurácia
tempo para execução e detalhamento,
da simulação e a capacidade do usuário
principalmente com relação a ambientes
de monitorar e controlar a precisão da
complexos.
simulação.
Das ferramentas consideradas
No Brasil, alguns trabalhos têm procurado
simpliÞcadas, as mais utilizadas são as de
avaliar e comparar diversos programas
aplicação gráÞca, tais como a carta solar,
de iluminação natural, inclusive do
a máscara de sombra e os transferidores,
ponto de vista do uso dos arquitetos e
que permitem determinar com facilidade a
projetistas em geral. Christakou (2004)
incidência da radiação solar nos ambientes
em seu trabalho, compara 4 ferramentas
e os elementos de controle da insolação; e
para a simulação da iluminação natural
os métodos matemáticos, que permitem
- DESKTOP RADIANCE, LIGHTSCAPE,
calcular a quantidade de iluminação.
RAYFRONT e RELUX VISION – escolhidos
Embora bastante utilizados, são limitados
devido à sua maior ßexibilidade, precisão
em relação aos estudos qualitativos da
(validação) e atualidade dos mesmos; e
iluminação, pois não permitem uma
Lima (2003) faz uma análise dos programas
percepção visual do espaço avaliado.
LIGHTSCAPE, LUMEN MICRO E
DESKTOP RADIANCE, avaliando sua A simulação computacional, no entanto,
aplicação no desenvolvimento de projetos permite esse tipo de análise, favorecendo a
de iluminação natural e artiÞcial (Figura realização de estudos mais aprofundados
5). do uso da luz natural, mas depende
basicamente da disponibilidade de
tempo, do poder de processamento e
da conÞabilidade das ferramentas que
o arquiteto dispõe para realizar a tarefa
da integração da luz natural ao seu
projeto arquitetônico. A interatividade na
Figura 5 – Simulação de iluminação: experimentação de alternativas de projeto é
imagem texturizada e em escala de cinza, um dos principais objetivos a ser alcançado
respectivamenteg para lidar com este complexo conjunto de
aspectos da luz natural.
Em geral, é possível concluir que os
4. CONCLUSÃO
programas devem ser usados com muita
As decisões tomadas pelo arquiteto nos cautela, pois os cálculos de iluminação
estágios iniciais do projeto têm impacto são muito sensíveis à qualidade dos
decisivo no desempenho luminoso da dados de entrada: descrição das fontes de
ediÞcação. Considerando que a projetação luz, fotometria dos materiais, geometria
arquitetônica é um processo seqüencial da ediÞcação (objeto-modelo) e dos
de tomadas de decisões, a deÞnição das parâmetros de simulação.
propriedades e comportamentos impostos
Outro ponto a ser destacado é a

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Projeto de iluminação natural: ferramentas para cálculo e avaliação Thais Lima e Evangelos Christakou

necessidade cada vez maior da ampliação BEKAERT, Philippe et al. Advanced global
desses conhecimentos na prática projetual. illumination. Bélgica: Ed. AK Peters,
A simulação da iluminação ganha força 2003.
e sinergia quando existe um processo de
BRYAN, Harvey; AUTIF, Sayed M.
concepção arquitetônica em ambiente
Lighting/daylighting analysis: a
computacional fundamentado na
comparasion. Proceedings of the 27th
modelagem geométrica tridimensional,
National Passive Solar Conference,
visto que uma das etapas mais trabalhosas
American Solar Energy Society, USA: R.
da simulação é exatamente a construção
Campbell-Howe editor, 2002.
do modelo geométrico. Assim, a
simulação pode inßuenciar nas decisões CALDAS, Luiza G., NORFORD, Leslie
arquitetônicas e sucessivamente voltar a K. A design optimization tool based on
alimentar e inßuenciar na simulação. Isso a genetic algorithm. Em “Automation in
pode ser conseguido através da ampliação Construction”, 2002 págs 173–184.
do uso dessas ferramentas no ensino CHRISTAKOU, E., D. Simulação da
das disciplinas de conforto integradas luz natural aplicada ao projeto de
às de projeto, de forma a disseminar as arquitetura. 2004. Dissertação (Mestrado
informações no ambiente acadêmico, em Arquitetura e Urbanismo) - Programa
e também na prática proÞssional. Para de Pós-Graduação em Arquitetura e
isso, diversos grupos de pesquisa nas Urbanismo, Universidade de Brasília,
universidadesh têm trabalhado com o 2004.
intuito de avaliar a qualidade ambiental do
projeto de arquitetura, estudando as novas ERLICH, Charles K. Computer aided
tecnologias disponíveis e sua aplicação no perception: a method to evaluate the
desenvolvimento de projetos. representation of glare in computer
graphics imagery. ,2002. Dissertação
(Mestrado) University of California, 2002.
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James Editors, 1998. de iluminação interna. 2003. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo).
BAKER, N.; FANCHIOTTI, A.; STEEMERS,
Programa de Pós-Graduação em
Koen. Daylighting in architecture: A
Arquitetura e Urbanismo, Universidade
European Reference Book. Londres: James
Federal da Bahia, 2003.
and James Editors, 1993.

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MAHDAVI, A et al. An inquiry into the


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PEREIRA, Fernando O. R. Iluminação
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American Council for an Energy-EfÞcient
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NOTAS
a Embora estas ferramentas possam também
ser aplicadas para o projeto de iluminação artiÞcial,
aqui será tratada apenas a iluminação natural, foco
deste artigo.
b Foto: Paulo Marcos Paiva de Oliveira
c Fonte: Cristakou, 2004
d O método de Radiosity se baseia na
discretização das superfícies em retalhos (células)
de tamanho uniforme e a energia trocada entre estes
retalhos é computada de uma maneira totalmente
independente do ponto de vista do observador.
e Refere-se ao Ray Tracing na sua concepção
atual que adota uma estratégia Monte Carlo no
traçado dos raios por amostragens e que se baseia
em calcular a interação no trajeto dos raios de luz
com a geometria.
f Christakou, 2004
g Lima, 2003
h Dentre os grupos de pesquisa existentes, o
grupo “Qualidade Ambiental e Iluminação Natural
no Espaço Construído”, da Universidade de
Brasília, tem uma linha de pesquisa em “Simulação
Computacional no Espaço Construído”. http://
www.unb.br/fau/qualilumi/

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