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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

LUIZA MOLLULO RODRIGUES

Looping como recurso composicional criativo

VITÓRIA - ES
2023
1
SUMÁRIO

1. Introdução 3

2. Looping: origens e caracterização 4


2.1 Descrição dos métodos de uso do looping 5
2.1.1 MIDI: 7
2.1.2 Gravação do áudio para compor loops 9
2.1.3 Formato composto 10

3. Minimalismo e Repetição 11
3.1 Troca de fase (ou defasagem) 13
3.2 Processo aditivo linear 14
3.3 Processo aditivo por grupo (bloco) 15
3.5 Superposição de padrões 15

4. Feições Estilísticas das Obras Minimalistas 16

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Resumo: Estudo sobre técnicas composicionais do minimalismo aplicadas com o
recurso de looping, se baseando em uma performance da pianista e compositora
polonesa Hania Rani.
Palavras chaves: Minimalismo, repetição, looping, composição musical, Hania
Rani, técnicas composicionais,

Abstract: Study on compositional techniques of minimalism applied with the looping


feature, based on a performance by the Polish pianist and composer Hania Rani

Keywords: Minimalism, repetition, looping, composition, Hania Rani compositional


techniques.

1. Introdução

A pesquisa aqui relatada buscou analisar a performance “Hania Rani - Live


From Studio S2” da pianista e compositora polonesa Hania Rani, que contêm em
suas obras um caráter minimalista e com técnicas de looping. Para isso foi
necessário abordar a origem e algumas descrições dos métodos de uso do looping
e como pode ser aplicado em uma performance musical. Esses métodos são
possíveis através de pedaleiras, DAW’s programadas através do MIDI por
controladoras, gravações de áudio em camadas ou formato composto.
O entendimento do contexto histórico do minimalismo na música e das
características de uma composição minimalista também se fez necessário. Foi
analisada as técnicas composicionais dos principais compositores do minimalismo
que dialogam/influenciam o trabalho da Hania Rani, como Phillip Glass, Terry Riley e
Steve Reich. Citando técnicas de cada compositor e as principais no minimalismo
de forma geral.

sub item: loop como recurso de imitação e repetição.


1. Minimalismo na música
uma síntese sobre imitação e repetição

3
2. Looping: origens e caracterização

O Loop musical, como um recurso de composição, pode ser realizado por


meio de sucessão e repetição de notas, acordes, ritmo, etc., que podem servir como
intervenção ou estrutura composicional. Bastante usual nos diversos gêneros de
música eletrônica e ainda presente na produção contemporânea, essa técnica de
composição baseada na repetição tem sua origem em outros movimentos1 e
recursos, como é o caso, por exemplo, do minimalismo.
O minimalismo, como um movimento considerado aqui como exemplar do
uso da repetição como fonte estrutural para a composição musical, por apresentar,
entre outras coisas, a ideia de reiteração de notas, será utilizado aqui como
referência. Suas primeiras ideias começaram a surgir no início da década de 60 e
seus principais referenciais são Steve Reich, Phillip Glass e Terry Riley. Esses três
compositores, por sua vez, têm como principal característica a aplicação de
texturas através de vários instrumentos, repetindo quase sempre a mesma
nota durante toda a música.(apagar?)
O Minimalismo musical, surgido nos Estados Unidos na década de 60 através da
música dos seus quatro “pais fundadores”, La Monte Young (1935-), Terry Riley
(1935-), Steve Reich (1936) e Philip Glass (1937-), é um dos movimentos estéticos
mais significativos dos últimos quarenta anos, tendo consagrado internacionalmente
nomes como os próprios Steve Reich e Philip Glass, influenciado outros
compositores de grande visibilidade, tais como Arvo Pärt (1936-), Louis Andriessen
(1939), Michael Nyman (1944), John Adams (1947) e Michael Torke (1961),
estimulado jovens compositores em todo o mundo, além de se refletir em uma série
de manifestações musicais do mundo pop (new age, world music, etc.).

[...] o Minimalismo procura afirmar incessantemente um centro tonal. Enquanto o


serialismo trabalha com o princípio de não repetição, o Minimalismo pretende repetir
à exaustão. Enquanto o serialismo era considerado um desenvolvimento necessário
e irreversível da evolução da música ocidental, o Minimalismo introduzia conceitos
filosóficos e estéticos do Oriente os quais diferiam frontalmente da visão de mundo
ocidental” (CERVO, 1900, p. 47)

O loop, como um recurso de ordem técnico-artística, pode ser explorado de


várias formas, seja por meio da escrita musical, reiterando sempre seja uma nota ou

1
Como menciona Silvio Ferraz: "Na música de concerto da segunda metade do século XX, a música
minimalista norte- americana surge como a tendência mais facilmente associável ao uso sistemático
da repetição. Esta fácil associação vem acompanhada, no entanto, de algumas questões,
destacando-se, antes de mais nada, o que se entende, de fato, por repetição musical. Se num
primeiro instante podemos pensar na repetição como sendo a reiteração estrita de um elemento
rítmico, melódico ou harmônico, a idéia de repetição ultrapassa, todavia, este terreno bastante
restrito e evidente. " (FERRAZ, Silvio, 1998, p. 1)

4
motivo musical, ou utilizando de recursos tecnológicos atuais, como pedais e
softwares específicos. O surgimento de novas tecnologias, como seria esperado,
influenciou as artes de forma geral e na música, por exemplo, a chegada de novas
ferramentas mudou sensivelmente as formas de se fazer e consumir música, em
uma relação interdependente. Assim como descreve Iazzetta:

“Em sua origem, arte e tecnologia estão associadas a um mesmo princípio, a tekhnè,
em que uma habilidade é colocada em função de uma necessidade para produzir um
objeto ou alcançar um objetivo. Essa habilidade consiste justamente nos meios que
viabilizam a realização artística. Assim, técnica e arte estariam ambas ligadas a uma
intencionalidade e sujeitas a processos semelhantes de atualização das habilidades
humanas na forma de produtos culturais.” (IAZZETTA, 2010, p. 01)

. Com a possibilidade de gravar e reproduzir sons tornando-se cada vez mais


acessível e fácil de se utilizar, a chegada do áudio digital e de outras possibilidades
atuais, tornou-se mais recorrente o uso do loop não apenas na possibilidade
centrada na escrita , mas também mediada por aparatos eletrônicos, seja com o uso
de DAW’S (Digital Audio Workstations) ou pedaleiras de loop2.

2.1 Descrição dos métodos de uso do looping

O loop como um recurso artístico específico, pode ser executado a partir de


métodos diferentes. Entre as possibilidades de se fazê-lo ao vivo e em gravações,
destacamos, basicamente, duas opções: aquela centrada em dispositivos dedicados
em formato de pedal (pedaleiras de loop) e aquela centrada em softwares em
aplicações computadorizadas (DAWs).

No caso dos dispositivos dedicados (ou seja, que prescindem do


computador), há diversos modelos disponíveis, variados por sua quantidade de
recursos e possibilidades.

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Pedaleiras de loop, como veremos a seguir, são, basicamente, hardwares capazes de armazenar
sons e executá-los em repetição, permitindo ao(à) musicista tocar sobre os trechos gravados e criar
camadas para a performance.
5
Figura 1: exemplos de dispositivos autônomos (pedaleiras)

De forma geral, quando ativamos o seu dispositivo de gravação, a pedaleira


grava o que foi tocado e reproduz essa gravação em repetição, proporcionando a
possibilidade de se utilizar desse material como base para gravar outras camadas
sonoras e compor um conjunto ao vivo. [informações que creio que sejam
importantes de acrescentar: o controle das entradas e saídas das camadas, o
controle de volume e mixagem das camadas e a memória de informações]

Um dos formatos mais conhecidos e utilizados neste tipo de pedal pode ser
usado com até dois instrumentos, por meio de entradas e saídas P10 (TS) (comuns
para equipamentos voltados para compor conjuntos de pedais para guitarra),
entradas USB e auxiliar P2 (TRS). Basicamente, no painel superior existem funções
de volume, metrônomo, gravação e controle da memória. A operação mais comum
se dá pela ativação do botão de gravação, seguida da escolha do banco de
memória, o início da gravação e o término, ambos acionados pelo pedal.

A primeira das gravações é normalmente chamada de base, sendo as demais


normalmente chamadas de overdubs3.

Por outro lado, os dispositivos baseados em softwares para computador (como é o


caso, por exemplo, da interface Ableton Live, uma das mais utilizadas e difundidas
3
Overdubs. Esse termo surgiu nos estúdios de gravação musical, e seria nada mais do que uma
técnica de gravação em que o músico grava uma base e logo em seguida grava outras camadas
musicais por cima.
6
para a criação com loops), possibilita métodos diversos para a criação com loops.
Dentre esses, destacarei três comuns de estruturação: por meio da MIDI, do áudio e
do formato composto.

2.1.1 MIDI:

MIDI é uma linguagem por meio da qual instrumentos (ou controladores


específicos) e computadores se comunicam. Trata-se de uma linguagem de
informações musicais no âmbito informatizado, que trabalha informações musicais
no computador que, por sua vez, serão utilizadas para reprodução através de
instrumentos virtuais.

Figura 2: exemplo da reprodução de notas musicais MIDI na DAW

Na imagem acima podemos observar a criação de um looping percussivo


feito com base em uma estrutura MIDI, em que cada compasso é preenchido com
os sons que comporão a estrutura da composição. [explicar: que a midi carrega
compasso e andamento e é flexível à mudanças, visto que o material se adequa
pela informação e não pelo som; diferença entre MIDI e sampler]

Figura 3: exemplo da movimentação de dinâmica das notas MIDI

Entre os recursos mais interessantes da MIDI, enquanto linguagem de


comunicação musical, destaca-se a flexibilidade de construção e mudança de altura,
andamento, rítmica etc, todas podendo alimentar os bancos de sons sem
necessariamente prejudicar seu desempenho, o timbre e outros parâmetros. Além

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disso, a figura 3 mostra, por exemplo, que é possível controlar as intensidades,
estabelecendo e manipulando a curva da dinâmica, entre outras várias alterações
de expressão possíveis. Isso não é possível da mesma forma quando, por exemplo,
lidamos com o áudio gravado, cujos limites de alteração, ainda que contando-se
com as ferramentas mais atuais, é bem mais restrito. Esse é o caso, por exemplo,
de quando precisamos alterar alturas, andamentos ou a dinâmica musical.
Além disso, a MIDI, por se tratar de uma linguagem de informação
(comunicação), possibilita, por meio de controladoras específicas, o acesso e
programação integrada às DAWs, como personalização de botões determinados
para ações específicas, que podem contribuir para a fluidez da performance
musical.

Figura 4: controladores MIDI (Teclado, Pad, Pedaleira)

Figura 5: exemplo da programação de controladores MIDI

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Na figura 5, a captura de tela mostra a interface da DAW pronta para
programar os controladores MIDI, por meio do recurso MIDI Mapings (que serve
para mapear cada tecla da controladora e assim ativar alguma ação dentro da
DAW). Este pode ser o caso, por exemplo, de substituição das pedaleiras de loop
dedicadas por controladoras, a fim de se obter um ajuste de performance mais fino.

2.1.2 Gravação do áudio para compor loops

Outro método, de teor manual, dentro de uma DAW e para se gravar o áudio
em loop, está baseado na ativação da ferramenta de loop e demarcação da
quantidade de compassos que comporão a repetição.
O loop pode ser realizado, neste caso, da seguinte forma: após determinar a
quantidade de instrumentos, é necessário programar, com uso de uma controladora
ou botão do teclado do computador, uma tecla de identificação para cada canal, a
fim de que seja articulado no momento da gravação.

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Na imagem acima decidimos quantos compassos queremos por meio do
demarcador (em cinza). É possível repetir esse procedimento em vários canais, a
fim de se criar texturas diversas. O uso desse recurso para a composição pode
proporcionar as seguintes vantagens: uma certa independência musical da
performance em relação ao som gravado, uso de diversos timbres/texturas e
sobreposição de partes gravadas com interação direta na performance.

2.1.3 Formato composto

O formato composto é o uso da MIDI e/ou Gravação do áudio. O Ableton possui um


formato vertical na “session view” e na imagem abaixo identificamos os canais
(canal 1 na cor verde, canal 2 na cor azul). Dentro desses canais cada linha é
chamado de “cena”

As cenas podem funcionar como loopings e a cada vez que são disparadas,
repetem de acordo com o que for programado. O mais interessante dessa
ferramenta é poder criar vários loop’s, organizá-los dentro de cada cena e soltá-los
de acordo com a performance ao vivo

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Sobreposição de melodias
Esse recurso pode ser considerado um dos mais interessantes, pois envolve um
cuidado rítmico e harmônico para que possa ser aplicado, a compositora Hania Rani
trabalha muito bem esses dois conceitos no piano, synth…

FAZER PONTE ENTRE OS ASSUNTOS

3. Minimalismo e Repetição

Em uma composição musical feita por meio de loops (repetições) um tipo de


pensamento de estruturação musical em blocos torna-se importante. Considerada a
criação, uma das necessidades mais óbvias surge do gerenciamento da repetição
em relação ao desenvolvimento e à monotonia. Ao se pensar na repetição de cada
camada, considerando a repetição como forma de reiteração, é interessante pensar
que cada uma delas pode ser vista como uma ampliação daquilo que já foi criado.
O enriquecimento da música, neste caso, pode acontecer de diversas formas
como, por exemplo, a partir do uso de vários instrumentos que, repetindo ou não o
padrão melódico já criado, trazem, possivelmente, uma sensação mais bem definida
de desenvolvimento, adicionadas as texturas ao longo da música. Esse processo,
bastante conhecido, é normalmente identificado como um dos métodos
característicos do minimalismo.
Com influências do modernismo, o minimalismo é contemporâneo do
serialismo e ganhou destaque principalmente na década de 60. Há muitas
diferenças estéticas dentre esses dois movimentos obviamente, como o uso de
centros tonais pelo minimalismo. Entretanto, cabe observar que ambos se utilizam
da repetição de forma diferente em sua estruturação. Enquanto o minimalismo se
utiliza da tonalidade para definir suas repetições de padrões melódicos, o serialismo
tem como característica principal a composição em série com uma escala de doze
sons, utilizando-se da repetição de forma distinta. Assim como descreve Sílvio
Ferraz:

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No que diz respeito à repetição, o serialismo e o minimalismo distinguem-se
pelo grau de necessidade da representação de objetos do passado na
memória. [...] Distinguem-se assim dois tipos de repetição na música serial:
aquela que diz respeito às regras — que é uma repetição imediata dos
conceitos — e aquela material, que se manifesta como uma repetição à
distância. Na música serial é pela memória que um elemento se liga ao
outro, é ela que permite relacionar eventos à distância uns dos outros.
(FERRAZ, 1998, p.32-33)

A música minimal permite e dá tempo ao ouvinte de penetrar o objeto a fim


de descobrir suas nuances internas. Já a instabilidade, a não permanência
dos objetos nunca reiterados do serialismo, não permite tal experiência. É
com isto que, no minimalismo, vemos que a diferença deixa de ser um “mal”
domável, e passa a ser um “bem”; aliás, sem a percepção da diferença o
minimalismo sucumbe numa stasis mais insuportável do que aquela que
Young apontava no serialismo. (FERRAZ, 1998, p.35)

Quando Silvio Ferraz afirma que a música minimalista “dá tempo ao ouvinte
de penetrar o objeto a fim de descobrir suas nuances internas”, faz transparecer que
o minimalismo tem como principal característica a reiteração de notas e de
processos, que, muitas vezes, requerem tempo do desenvolvimento para sua
apreensão. Essas notas não são repetidas aleatoriamente, existe uma construção
técnica a ser analisada dentro de cada composição, que inclusive, foram muito bem
exploradas pelos principais compositores desse movimento (Terry Riley, Steve
Reich e Phillip Glass).
Tal como aponta Warburton, existem técnicas específicas nas composições
minimalistas (WARBURTON, 1988, p.144-152) que são especialmente interessantes
para a compreensão deste trabalho. Vamos utilizar aqui a tradução desta
nomenclatura realizada por Dimitri Cervo, a seguir: 1) troca de fase (ou defasagem),
2) processo aditivo linear, 3) processo aditivo por grupo (bloco), 4) processo aditivo
textural e 5) superposição de padrões (CERVO, 2005, p.48).

3.1 Troca de fase (ou defasagem)

Quando um padrão melódico é tocado e duplicado pelo mesmo (ou outro)


instrumento, por meio de uma distância mínima de tempo ao longo das repetições,
ocorre uma defasagem. Isso proporciona inúmeras possibilidades dentro de uma
composição, principalmente quando acrescenta-se outra defasagem com outro
padrão melódico.

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Essa é a técnica central utilizada nas obras de Steve Reich compostas entre
os anos de 1965 (It’s Gonna Rain) e 1972 (Clapping Music). A primeira
utilização dessa técnica por Reich deu-se nas suas obras para fita magnética
It’s Gonna Rain (1965) e Come Out (1966). [...] Uma vez que o processo é
posto em movimento, os dois trechos defasam gradualmente até voltarem ao
uníssono novamente no final da obra. No decorrer da peça, essa relação de
duas vozes é ampliada para quatro e oito vozes. (CERVO, 2005, p.49)

Como cita o Dimitri, a primeira utilização dessa técnica foi realizada por
Reich, que inclusive a explorou bastante em várias de suas composições. Uma
dessas é Piano Phase (1967), uma composição de 20min, em que dois pianos
sofrem uma grande defasagem com vários padrões melódicos.

Dessa forma, embora a peça (em sua primeira parte) repita incessantemente
um mesmo grupo de doze notas, o ouvinte é presenteado com uma rica
gama de possibilidades pelas quais pode construir a experiência da peça.
Dois tipos de eventos surgem nessa peça: aqueles estáveis, que ocorrem
nas reconfigurações do alinhamento dos dois padrões; e aqueles instáveis,
que ocorrem durante o período de tempo da defasagem. (CERVO, 2005,
p.51)

3.2 Processo aditivo linear

O processo aditivo linear é a junção de vários padrões melódicos ao decorrer


da composição, que se sucedem após um determinado número de repetições, de
um padrão que é adicionado a outro. Vejamos no exemplo a seguir:

Figura X: Padrão melódico 1

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Figura X: Padrão melódico 2

Figura X: Junção do padrão melódico 1 e 2

O termo técnico usado para nomear a junção desses padrões ao longo da composição é
então o processo aditivo linear. Ao longo de uma composição podemos ter vários padrões e inclusive
misturá-los.
Por exemplo, se temos um padrão 1-2, após um certo número de repetições
adiciona-se mais um elemento 1-2-3, gerando assim um processo gradativo
de adição linear. Esse processo pode ser regular com a adição de um
número regular de unidades durante o processo de repetição (ex. 1, 1-2,
1-2-3), ou ainda irregular com a adição de um número irregular de unidades
(ex. 1, 1-2-3, 1-2-3-4, 1-2-3-4-5-6) durante o processo de repetição.
(CERVO, 2005, p.52)

3.3 Processo aditivo por grupo (bloco)

Nesta técnica a adição acontece por meio de notas, diferente do processo


aditivo linear, que acontece adição de compassos de padrões melódicos. Após certo
número de repetições de uma nota musical, acrescenta-se outra no próximo
compasso. Vejamos no exemplo a seguir

COMPASSO 1 COMPASSO 2 COMPASSO 3 COMPASSO 4

A cada compasso uma nota foi acrescentada, então assim podemos


denominar como um processo aditivo por grupo.

3.4 Processo aditivo textural

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Esse processo é a técnica de acrescentar instrumentos de diversos timbres
ao longo da música, sem que os outros alterem o padrão melódico após um número
mínimo de repetições já tocadas.

mas a maneira pontual como os compositores minimalistas a utilizaram,


subjugando a técnica a um processo gradual, e sempre em combinação com
outras técnicas de variação gradual, criou efeitos tímbricos de grande
variedade, riqueza e sofisticação, como, por exemplo, na obra Music for
Eighteen Musicians (1974-6) de Reich. Assim, o timbre ganha uma
importância estrutural de relevância na música minimalista, já que ele é um
elemento que pode variar de forma bastante rica e complexa, enquanto os
outros elementos de um processo de repetição permanecem estáticos.
(CERVO, 2005, p.56)

3.5 Superposição de padrões

Criação de vários padrões melódicos que podem ser acrescentados ao


decorrer da composição de forma aleatória ou não.

Técnica de repetição central das obras de Terry Riley nas décadas de 60 e


70, utilizada em obras como In C, A Rainbow in Curved Air, Dorian Reeds,
para citar algumas. Essa técnica consiste em superpor diferentes padrões
rítmicos e melódicos, geralmente com durações diferentes, sobre um pulso
que se mantém uniforme para todos os executantes. (CERVO, 2005, p.56)

4. Feições Estilísticas das Obras Minimalistas

As técnicas musicais citadas acima são específicas dos principais


compositores desse movimento, mas além delas existem técnicas estilísticas
geralmente encontradas em toda peça minimalista: Estrutura formal contínua,
textura rítmica homogênea com uma cor brilhante, paleta harmônica simples,
ausência de linhas melódicas e repetição de padrões rítmicos (CERVO, 2005, p.57)

4.1 Estrutura formal contínua

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A construção de uma peça minimalista é feita de forma gradual, adicionando
elementos a cada compasso, conforme os outros elementos se repetem ou não. Um
exemplo de estrutura formal contínua é Day One, uma obra do Hans Zimmer
produzida para a trilha sonora de Interstellar. A música começa com poucos
elementos e ao decorrer da peça várias texturas são adicionadas até chegar ao
ápice da música e encerrar de forma repentina.

4.2 Textura rítmica homogênea com uma cor brilhante

Uma característica comum nas obras minimalistas é o uso de notas


médio/agudas que podemos denominar como cores brilhantes. Essas notas tendem
ser trabalhadas ritmicamente com arpejos ou não e ao longo da peça incluir outros
elementos, como o processo aditivo/subtrativo textural) (CERVO, 2005, p.58)

4.3 Paleta harmônica simples

A técnica de paleta harmônica simples é o uso de poucas notas, geralmente


aparecem soltas, em formação de acorde quebrado, como a técnica de composição
de acompanhamento “Baixo Alberti”. Em “Metamorphosis: Two” de Philip Glass, é
presente essa técnica estilística.

Figura x: Exemplo de paleta harmônica simples de um trecho da obra musical “Metamorphosis: Two” de Philip
Glass

As harmonias utilizadas pelas obras minimalistas privilegiam


estruturas harmônicas simples, geralmente baseadas em harmonia triádica,

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com caráter fortemente modal. O ritmo harmônico das obras (quando
existente) tende a ser muito lento se comparado a qualquer outra obra da
música ocidental. (CERVO, 2005, p.58)

4.4 Ausência de linhas melódicas


Uma linha melódica é composta por altura e ritmos que protagonizam a
música através de um ou mais motivos. Porém na música minimalista a linha
melódica é algo bem sutil ou inexistente. Em alguns casos essa melodia pode estar
presente dentro de acordes quebrados, sendo ela a nota mais aguda. Um exemplo
disso é a música “Day One”, enquanto a nota “Mi” é tocada o tempo inteiro, outras
notas são tocadas de forma intercalada, proporcionando uma sensação de unidade.
Devido ao foco no processo rítmico e formal contínuo, linhas melódicas expressivas, que
sugerem início e fim de frases, não têm lugar na música minimalista (CERVO, 2005, p.58)

Figura x: Trecho de “Day One” do Hans Zimmer

4.5 Repetição de padrões rítmicos


Nos últimos exemplos de trechos musicais citados é perceptível o uso
contínuo de um padrão rítmico,
As obras minimalistas apresentam um fluxo intermitente de figurações
rítmicas que fluem do início ao fim da obra. Esses padrões geralmente são
sustentados por longos períodos de tempo, sendo eventualmente
superpostos, defasados, ou ainda gradualmente modificados. (CERVO,
2005, p.58)

5. Repetição na composição

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A repetição dentro da música pode acontecer de diversas maneiras, é o ato de
repetir trechos, notas, ritmos ou melodia. Mas afinal o que se repete em uma música
de repetição? É interessante pensar em um consenso do que é uma repetição ou
uma variação do que já foi criado (o que não deixa de ser considerado uma
repetição). A composição pode acontecer em fases, começando com um pequeno
motivo e no decorrer da composição criar variações em cima do motivo principal.
Quando a variação do que já foi criado acontece a consideramos como repetição
interna.

Schönberg concebeu esta obra começando pela repetição das formas mais
pequenas até às composições maiores, argumentando desde o início que
“um motivo aparece constantemente durante a obra: é repetido”, mas
concedendo que a “repetição pode ser exacta, modificada ou
desenvolvida”¹58. As repetições exactas são aquelas que preservam todas
as características das relações entre notas, enquanto as repetições
modificadas são resultado da variação ¹59. (ANA RITA RIBEIRO MATEUS,
p.47)

A variação é caracterizada através de notas ou ritmo, para exemplificar essa


variação, vamos imaginar uma composição que começa com um pequeno motivo
utilizando somente as notas Dó e Sol, a variação no caso poderia acontecer com
acréscimo da nota Mi (ou qualquer outra nota) ou por meio de uma mudança
rítmica

5.1.Tipos de repetição

- repetição de notas
- repetição rítmica
- repetição em loop

6. Análise de Glass da compositora Hania Rani

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Hania Rani é uma compositora, pianista e cantora polaca que faz uso de técnicas
minimalistas em suas obras e tem como principal característica a repetição e o uso
de loops. Para exemplificar as técnicas citadas nos tópicos sobre Minimalismo e
Repetição será analisada a obra Glass da compositora Hania Rani, onde essas
técnicas estão em grande evidência.

6.1 Repetição de notas


Em séries da música a repetição de uma determinada nota é super comum,
geralmente ela pode ser a mais aguda marcando discretamente a melodia da
composição

Em outros momentos a repetição de notas pode ser identificada como a base da


melodia, em que as notas do acorde são distribuídas em arpejos que se repetem
ritmicamente em vários compassos

6.2 Repetição rítmica


A música inteira é praticamente marcada por colcheias e semicolcheias que são
acordes em forma de arpejo.
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6.3 Séries
A composição é dividida em partes (A, B, C…) e essas partes geralmente são
marcadas por séries formadas por repetição rítmica e repetição de notas. A linha
melódica dessas séries geralmente é tocada pelas notas mais agudas. A mudança
de uma série para outra varia por uma nota ou acorde. Vejamos a análise a seguir:

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6.4 Loop

O loop está presente na performance da Hania Rani em Glass no “Live from Studio
S2” foi feito de forma ao vivo por meio de um software de aplicação
computadorizada (DAWs). Pode-se destacar a aplicação de novas texturas, na
performance ela deixa o piano acústico em overdubbing, de forma ao vivo, inclui um
sinthy em overdubbing e por fim ganha liberdade para “improvisar” no piano.

Música:
https://docs.google.com/document/d/1du15dor0Wvp3l95uTXJMP2Ed4EItknv-xg9k7
NQSjSo/edit?usp=sharing

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