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Douglas Diegues
© Guillermo Sequera e Douglas Diegues
© Tekohá Mbyá-Guarani em Caazapá, Itapúa, Kanindeju, Caaguazú,
no Paraguay; e em Isla Filomena Grande, Rio Negro, no Uruguay.
© Colaboradores
douglasdiegues@gmail.com
Sequera, Guillermo
Kosmofonia mbyá guarani [audiobook] / Guillermo
Sequera, Douglas Diegues. -- Campo Grande, MS :
Ed. dos Autores, 2021.
MP3 ; 50 min.
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-31830-2
21-83917 CDD-980.3
Índices para catálogo sistemático:
Avá-prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Kosmofonia Mbyá-Guarani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Gravações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Cantos e traduções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Notas e comentários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Sérgio Medeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Ludovic Pin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Manoel de Barros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Massimo Canevacci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Magali Sequera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Reynaldo Jiménez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Avá-posfácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
5
kosmofonia mbyá-guarani 6
avá-prefácio
Douglas Diegues
7
Las cordas son feitas de tripa animal, fibra vegetal, naylon,
arame, pouco importa. Lo que importa es la qualidade de
llamas do som, la qualidade de água do som, la qualidade
de flor do som. Diez años após las gravaciones realizadas
por Guillermo Sequera, Miño Benitez morre abandonado al
lado de seu ravê. Que hermoso es el canto-falado de uma
rana pré-histórica! Las ranas pré-históricas son las cantan-
tes mais antigas del mundo. Los cantos infantiles tem uma
inocência primigenia. Durante el Kotyu, uma espécie de
canto-danza-poema-juego-erótico, los meninos lanzam
cantos a las meninas, y las meninas, indecisas, respondem
lanzando seus cantos a los meninos; los meninos ouvem
e respondem lanzando nuebos cantos a elas, que devol-
vem nuebos cantos a eles. Los antiguos apyterê mbyá fa-
zem suas marakas falarem. Irrompe um concierto para vio-
lón, maraka y pré-violino. Son los antigos-novos sonidos
Mbyá-Guarani. El habla selvagem de Ñande Chy, la xamana
que vivía en Isla Filomena, es um poema que comprova
que los Mbyá-Guarani ainda non conocen, não conhecem,
a linguagem poética, porque los Mbyá-Guarani nunca co-
nocieron otro lenguaje que non fosse linguagem poética.
kosmofonia mbyá-guarani 8
PALAVRAS DE
KARAI MIRI E KARAI KUARAY
9
Não permitamos que destruam nosso supermercado
vegetal.
E, irremediavelmente, existem coisas que os brancos
têm e os nossos jovens necessitam para se desenvolver
melhor.
Especialmente essas coisas que não se podem plantar,
tais como: camas, mantas, utensílios de cozinha.
Compreendemos perfeitamente que os jovens já não
podem continuar dormindo no chão e sem cobertores.
Assim como também entendemos que a medicina oci-
dental terá que ser parte de nossos tratamentos, justa-
mente porque as enfermidades que não podemos curar
com nossas palavras e ervas não são nossas, vieram de
fora. Aceitamos que nossos filhos aprendam a ler e a es-
crever, a somar e a subtrair, para que os estranhos já não
os enganem.
O que não podemos permitir é que nossos jovens acre-
ditem que sua educação se reduz a uma sala de quatro
paredes com papéis coloridos, e que possuem a sabedo-
ria absoluta quando lhes entregam um papel chamado
diploma.
Isso não.
Na escola dos Apytere-Guarani, estamos preparados
quando chega o aguyje, a benção do grande creador.
A cada noite, não se esqueçam de lançar suas palavras
ao céu para que no dia seguinte nos infunda um frescor,
um alívio, em nossas angústias. Respeitemos as mulheres,
elas possuem o dom de limpar nossos caminhos, por isso
Ñamandu lhes entregou uma vassoura encantada para que
se encarreguem que nada de mal aconteça na terra em
que habitamos.
kosmofonia mbyá-guarani 10
Convidamos a todos a seguir em frente, como boas se-
mentes não nos cansemos de germinar, isto dizemos nós
os Apytere-Guarani, que igual a vocês são habitantes pri-
meiros da terra.
Também queremos dizer-lhes que nós sempre soube-
mos da existência de todos vocês, porque sempre soube-
mos que nossa grande mãe teve muitos filhos, os quais,
espalhou pela terra, e porque ela assim o quis, agora po-
demos nos encontrar.
Nós viemos de onde nasce o sol, nossas comunidades
se chamam Mirí Poty, que se significa coração imenso, e
Parakau Puku, que é o nome de um papagaio que fala e
que ajudou os primeiros homens a se comunicar. Quere-
mos que entendam que vocês são nossos joapykuera, ou
seja, os que estão ligados a nós pela mesma essência, por
favor entendam que vocês vivem em nossos corações.
Nós não temos telefone, não lemos, não escrevemos,
mas quando vocês despertarem todos os dias, e observa-
rem a imensa luz a que chamamos ko’e mbyja, saibam, e
nunca esqueçam, sempre, que nesse instante estamos lhes
enviando nossos sons, nossas palavras que são verdadei-
ras, nossos cantos rezados, para que Ñamandu os ilumine
e os guie em suas vidas.
Por último queremos contar que desde há muito tempo,
muitos anos, o povo Guarani acredita e busca sem parar a
Yvy Marae’y, a Terra Sem Mal. Em busca dela atravessamos
mares, desertos, e desta vez enfrentando a imensidão do
céu, para poder hoje dizer-lhes que ela existe em nossos
corações, e a defenderemos sempre.
(Tradução: Douglas Diegues em colaboração
com Kerechú Pará)
11
kosmofonia mbyá-guarani 12
KOSMOFONIA MBYÁ-GUARANI
Guillermo Sequera
A CULTURA
13
“ideologia da rejeição aos outros”. As histórias regionais
ou transfronteiriças desfiguraram a fisionomia cultural dos
Mbyá. A autodenominação gentílica define-se por Ka’aguy
gua (habitantes da floresta).
Embora algumas comunidades culturais chamem-se
Mbyá-Guarani, Mbyá-apytere (gente verdadeira), ou Je-
guakava tenonde porãngue’i (os adornados que nasceram
para ser felizes). Esta etnia baseia seu modo de subsistên-
cia na caça, coleta, pesca e agricultura, apesar da destrui-
ção brutal das selvas nos últimos anos em seus hábitats
tradicionais.
Não devemos subestimar que o impacto cultural expan-
sivo destes indígenas no Paraguay é muito maior do que o
de outros grupos étnicos, embora estes contabilizem um
maior índice populacional. Por isso, apesar dos embates
históricos (relação desigual com a sociedade nacional), os
Mbyá puderam demonstrar sua alta capacidade de inter-
-relacionar, com certa relatividade, tradição e “modernida-
de”. Os Ka’aguy gua tem sido vítimas do despojo de seus
territórios de origem, desde o séc. XVI. As comunidades,
hoje, estão disseminadas em quase todos os departamen-
tos (estados) da região oriental do Paraguai, com exceção
dos departamentos de Amambay e Central, compartilhan-
do territórios com outras etnias (Paï Tavyterã, Ava Katue-
te), salvo nos Departamentos de Itapua, Guairá, Caaguazú
e Misiones, onde os ka’aguy gua se vêem “sozinhos” para
enfrentar a pressão de um modelo de desenvolvimento
que se aventura em um sistema de exclusão da diversida-
de cultural.
kosmofonia mbyá-guarani 14
INDENTIDADE MUSICAL
INSTRUMENTOS MUSICAIS
15
O takua kama, ou kamañyti (bastões rítmicos femini-
nos) é também um instrumento de exclusiva propriedade
feminina. Os takua kama são bastões rítmicos de diver-
sas dimensões e grossura, fabricados a partir de bambus.
Como caixa de ressonância é utilizado o próprio chão, ou
também um pedaço de madeira, sobre cuja superfície as
mulheres batem, marcando a pulsação básica das danças
rituais (tangará).
O mimby puku, ou flauta vertical, fabricada a partir de
bambus (50 cm aproximadamente), em cuja extremidade
recorta-se uma embocadura talhada em forma de “u” so-
bre a parte superior — similar às denominadas kenas —, e
sobre o corpo se dispõe uma série de buracos (7), sobre
os quais os dedos pousam. O mimby puku é um instrumen-
to utilizado pelos Karai (líderes políticos), para anunciar
as boas novas, ou visitas de mensageiros, através da inter-
pretação de melodias.
Os chocalhos, instrumentos utilizados pelos xamãs (Ra-
moi guasu), ou xamãs iniciados (Yvyra ija), são denomina-
das mbaraká mirî. São feitos com porongos ressecados,
nos quais são introduzidos sementes ou pedrinhas, de
modo que sirva para acompanhar cantos e danças. Os xa-
mãs não só pulsam os chocalhos, também os tocam de di-
versas maneiras, obtendo assim uma variedade de timbres
ou efeitos rítmicos e sonoros.
Os Yvyra’ija levam entre as mãos os popygua’i (claves
de madeira), dois pauzinhos feitos de madeira dura de
yvyra pêpê chingy (Diatenopteriyx sorbifolia Radlk.), que
quando os entrechocam produzem uma vibração contínua
de frases para marcar o compasso do tangará-dança.
kosmofonia mbyá-guarani 16
O notável na conformação musical Mbyá são dois ins-
trumentos adaptados: o kuminjare ou kumbijare, e o rave.
A explicação originária menciona a oferenda simbólica do
Kechuíta, quem em tempos míticos outorga a sabedoria
musical de tais instrumentos aos Mbyá. A apropriação dos
Mbyá destes instrumentos confirma plenamente que esta
etnia participou ativamente na experiência das reduções
missioneiras nos séculos XVII, XVIII.
O kuminjare é uma viola do renascimento espanhol,
cuja fatura instrumental é realizada a partir de madeiras
nobres de kurupika’y (Sapium haematospermum Muell.
Arg.), e tem suas partes reunidas com cola vegetal, sobre
cujo corpo estendem-se cordas vegetais, ou de nylon, com
o auxílio de cinco tensores e seu cravelhal. O kuminjare é
afinado com o rave, e serve de instrumento rítmico para
o acompanhamento de peças para dança e repertórios li-
vres. Em variados temas, o kuminjare alterna ritmadamen-
te acordes maiores e menores. O rave, ou rabil, (do antigo
rabad árabe), é ancestral do violino. Construído com ma-
deiras de ygary ou kurupika’y, tem suas partes reunidas
com cola vegetal mangavi (Hancornia speciosa Gómez).
As cordas são de origem vegetal (ysypo); a partir da dé-
cada de 70, os Mbyá adotam cordas de nylon. O ravê é um
instrumento típico do medievo europeu. Na literatura de
crônicas, numerosos textos falam deste instrumento tra-
zido por espanhóis e jesuítas (“rabelillo”, “rabelico”, “ra-
bel”). Os jesuítas integraram o rabil às oficinas de música
das missões. Os Mbyá são os únicos a terem adotado o
ravê e o kuminjare ao seu patrimônio organológico, proje-
tando-os, por sua vez, como instrumentos sagrados e radi-
calmente vinculados à sua identidade cultural.
17
O repertório musical do ravê é muito variado, tanto
exercendo a linha melódica em interpretações lúdicas jae’o
quanto em formas musicais tangará-danças. As melodias
revelam um sincretismo sonoro, síntese de experiências
histórico-musicais Mbyá, onde intervalos da música popu-
lar européia se associam a construções árabico-andaluzes.
O ravê é tocado com a ajuda de um arco tenso com
crina de cavalo. Pequenos tambores angu’a pu, também
chamados mba’e pu ova va’e, fabricado com madeira de
kurupika’y, em cujas extremidades são tensionadas peles
ressecadas de animais, como o jaicha (Agouti paca), ou de
tañy kati (Tayassu pecari), com a ajuda de tensores de cou-
ro. Os Mbyá o utilizam para acompanhar ritmos de dança
e música em mimby puku (flauta vertical). Ouvir música
Mbyá é encostar os ouvidos naquilo que nos foi negado:
reconhecer sua grande capacidade criativa e, assim, ouvir
os vestígios sonoros de nossa memória cultural.
kosmofonia mbyá-guarani 18
Poema de Ñande Chy
e Cantos infantis
GRAVAÇÕES
Em sua fala, que é um poema e um relato ao mesmo
tempo, a xamã Ñande Chy (Ceferina Martínez) conta
o que lhe foi relevado em sonho por Ñande Rú Pa Pa
e a inspirou a viajar com os seus em busca da Yvy Miri
Marane’y — a pequena terra sem mal.
í c o n e s d e n av e g a ç ã o
2. MIMBY PU
SONS DE FLAUTAS 0:55
3. RAVE JAE’O
LAMENTO EM RAVÊ 2:13
4. ÑANEMBO VY’A
VAMOS NOS ALEGRAR 2:57
21
crianças e de adultos que cantam uma seqüência ritual
da cerimônia que celebra a reprodução do avati (milho
nativo). Percebe-se o movimento coreográfico e o canto
dos intérpretes.
5. ARAKU
MÚSICA DE RAVÊ (ARAMIDES YPECACHA) 2:38
6. VOCALIZAÇÃO DE ANUROS
(RÃS) 0:52
7. AVIA PU
SONS DO AVÍA 0:39
kosmofonia mbyá-guarani 22
O tema musical Avía pu é interpretado por um tocador de
ravê da comunidade. As cordas são de origem vegetal.
8. RAVE JAE’O
LAMENTO EM RAVÊ 3:22
9. PARAKAU NDAJE
DIZEM QUE O PARAKAU MORREU 0:14
23
11. KOTYU
DANÇA RITUAL 2:33
kosmofonia mbyá-guarani 24
15. ÑEMBISO
PILÃO E PISADOR 0:29
25
18. URUKU KORE
VOZES DE CORUJA 0:37
21. TANGARÁ
DANÇA RITUAL 4:01
kosmofonia mbyá-guarani 26
22. KUCHUI
SOLO DE RAVÊ 0:46
23. MIMBY PU
FLAUTAS 0:22
26. RAVE PU
MÚSICA DE RAVÊ 0:35
27
27. RAVE JAE’O
LAMENTO EM RAVÊ 2:35
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CANTOS e TRADUÇÕES
29
ÑAÑEMBOVY’A4
Pukaita...
kosmofonia mbyá-guarani 30
VAMOS NOS ALEGRAR 4
Vozes de meninos...
Risos...
31
03 Pindo oveju pa — Ka’a oveju pa — Nembojae’o
kosmofonia mbyá-guarani 32
03 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
12 Viemos aqui nos encantar
13 Viemos aqui nos maravilhar
14 Viemos aqui nos deliciar
04 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
15 Viemos aqui nos alegrar
16 Viemos aqui nos encantar
05 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você sofrer
17 Viemos aqui nos maravilhar
06 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
33
09 Pindo oveju pa — Ka’a oveju pa — Nembojae’o
kosmofonia mbyá-guarani 34
09 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
22 Viemos aqui nos deliciar
23 Viemos aqui nos alegrar
10 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
24 Viemos aqui nos encantar
25 Viemos aqui nos maravilhar
26 Viemos aqui nos deliciar
11 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você sofrer
27 Viemos aqui nos alegrar
12 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
28 Viemos aqui nos encantar
29 Viemos aqui nos maravilhar
13 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
30 Viemos aqui nos deliciar
14 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você sofrer
31 Vamos todos nos encantar
15 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
35
16 Pindo oveju pa — Ka’a oveju pa — Nembojae’o
kosmofonia mbyá-guarani 36
16 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
01 Mesmo quando estamos juntos — tua admiração é falsa
17 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você sofrer
01 Gostas de nos ter nas mãos como se fossemos bichos
de estimação — mas tua admiração é falsa
18 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
01 Gostas de nos admirar como se fossemos aves — mas
tua admiração é falsa
19 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
37
22 Pindo oveju pa — Ka’a oveju pa — Nembojae’o
kosmofonia mbyá-guarani 38
22 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
02 Gostas de nos admirar como se fossemos aves — mas
tua admiração é falsa
23 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você sofrer
02 Gostas muito de nós — mas tua admiração é falsa
24 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
25 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
26 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você sofrer
03 Mesmo quando estamos juntos — tua admiração é falsa
27 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
03 Gostas muito de nós — mas tua admiração é falsa
28 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você chorar
03 Gostas de nos admirar como se fossemos aves — mas
tua admiração é falsa
03 Gostas muito de nós — mas tua admiração é falsa
29 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente —
o menino cor de folhagem morena brilhante —
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30 Pindo oveju pa — Ka’a oveju pa — Nembojae’o
01 Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
02 Ko mã Ñamandu
03 Ore reko’i romombe’u
04 Nde remimbo yvytu
05 Nde che ru tupã ruvyete.
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vai fazer você sofrer
30 O menino cor de palmeira cor de sol resplandecente
— o menino cor de folhagem morena brilhante — vai
fazer você se decepcionar
04 Gostas muito de nós — mas tua admiração é falsa
05 Mesmo quando estamos juntos — tua admiração é falsa
05 Gostas de nos ter nas mãos como se fossemos bichos
de estimação — mas tua admiração é falsa
05 Gostas de nos admirar como se fossemos aves — mas
05 tua admiração é falsa
01 Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
02 Estás aqui Ñamandu
03 Nossa vida nós te contamos tudo
04 Tua brisa nos alivia
05 Porque és nosso pai verdadeiro
41
06 Aipoma ndaje, nde remimombe’u
07 Nde yvy’o eipojava e’i
08 Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
09 Nde jepapa rovapy
10 Öã–ã–ã–ã–ã–ã–ã–ã
11 Aipo nde yvaropy mbytere
12 Ñande reko’ire
13 Ñande jeupity rai’ie’y
14 Nde jee memê, nde remimopu’ã
kosmofonia mbyá-guarani 42
06 Escutamos tuas palavras que falam & dizem
07 Cuidem com muito cuidado da casa do ritual
08 Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
Ei – ei – ei – ei – ei – ei – ei - ei
09 O eco de tuas palavras chegam até aqui
10 Öã–ã–ã–ã–ã–ã–ã–ã
11 Desde o centro do teu universo
12 Cuidas nossas vidas
13 Por nossas fraquezas
14 Por nós que graças a tua energia ficamos
em pé todos os dias
01 É isso — é este o sentido do nosso mba’ea’ã
02 Para que possamos despertar e entender
03 E que depois
04 Essas pessoas de carne & osso
que não conseguem mais entender
05 Ouçam mais nossos pais todos e nossas mães todas
06 e assim sendo então os que já não
07 sabemos mais cuidar uns aos outros
08 (tomara que) essas coisas que distraem tanto nossas
palavras
09 não nos destruam tanto
10 É por isso então que cantamos e rezamos
11 Para que já não nos equivoquemos tanto.
43
YVY POTYRA17
01 Jaapamitamã ko yvygui
02 Jaa jajekapapami
03 Ikatuãguaicha ko yvypy potyicha
04 Yvy reko asy py
05 Mbyá’í opytava
06 Opyta porã’i haguaicha.
07 He’ivypy:
08 Ô’ropyta porã’i.
09 Ô’roñevanga porã’i.
10 Yvy potyra.
11 Ô’roguerojekuaa haguã
12 Ore famija kuera mimime
13 Hembiupi rã’i
14 Oipota
15 Ô’roguero ñevanga ko yvype
16 Ô’ropytamiva
17 Ore remiariro’i kuery
18 Ñembopyta’i kuery pe
19 Oipota
20 Yvy potyra roguerojekuaa
kosmofonia mbyá-guarani 44
A TERRA QUE SE ABRE COMO FLOR17
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JEOVASA RAÑE’IE’Y (ORE ÑE’E RUETE)21
01 A–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a
02 Aiporami arojae’ô – ô – ô – ô – ô
03 Nde yvarapy – y – y – y – y – y – y – y – y – y – y – y – y
04 Nde remimbo jeguakava
07 Arojae’o – o – o – o – o – o – o – o – o – o – o – o – o – o
08 Ñamandu arojae’o
09 Opa marãngua ete
10 Nê mba’e ra’ã rovapy
11 Aipo rity’i – i – i – i – i – i – i – i – i – i – i – i – i
kosmofonia mbyá-guarani 46
TANGARÁ (DANÇA RITUAL)21
01 A–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a–a
02 Então eu canto um canto desencantado ô – ô – ô – ô – ô
03 Por teu mundo – e – e – e – e – e – e – e – e
04 Por teus filhos jeguakava - ô - ô - ô - ô - ô - ô - ô - ô
-ô-ô-ô
05 Por esse mundo do qual também faço parte
06 É isso, Ñamandu, por teu mundo - ô - ô - ô - ô - ô
-ô-ô-ô
07 Eu canto um canto desencantado - ô - ô - ô - ô - ô - ô - ô
08 Ô Ñamandu!
09 Para que passem os males que nos sufocam
10 Para que seja legal a travessia da qual fazemos parte
11 Para que as palavras do nosso esforçado
canto (mba’ ea’ ã)
12 Também tenham o mesmo sentido, a mesma graça,
a mesma grandeza, a mesma luz, a mesma força
(interior) das palavras do teu canto esforçado (mba’
ea’ ã).
47
ÑEMBO’E MBORAHEI28
kosmofonia mbyá-guarani 48
CANTO-REZA28
49
kosmofonia mbyá-guarani 50
notas e comentárioS
Jahá: Vamos.
Ñañô mbovy’á: Vamos nos divertir juntos.
Pindô: Palmeira (Cocos Romanzoffianum).
Ove: Folhas.
Ju: Dourado, áureo.
Pindo oveju: Palmeira de folhas amarelas, palmeira áurea.
Os avá-guarani denominam desse modo os meninos de
pele clara.
Ka’a oveju: Erva de folhas brilhantes. Para os avá-guarani
é uma forma carinhosa e simpática de llamar os meninos
de pele morena brilhosa.
Ka’a: Erva.
Ove: Folhas.
Ju: Dourado, brilhante, cor de sol.
Ka’a: Mato, erva, planta, vegetal.
Nêmbo jae’o: O que te faz lamentar, o que te faz sofrer ou
chorar.
Remô morâmba rei: Te admira muito e falsamente.
Hipocrisia.
51
sagradas e emblemáticas da divindade; sendo indestrutí-
veis, eternas, como o são o sol e o céu. São empregadas
para traduzir estes conceitos”. — Douglas Diegues
kosmofonia mbyá-guarani 52
transmitir las tradiciones espirituales a los de su tribu, que
si viviéramos de acuerdo a los preceptos morales del Teko
Porã, siguiendo un régimen alimenticio estrictamente ve-
getariano, nos purificaríamos, librando nuestro ser del
lastre que representa Teko Achy (asy) — la parte grosera,
animal de nuestra naturaleza. Nuestro cuerpo, purificán-
dose, perdería paulatinamente su peso, volviéndose suti-
lísimo; utilizando la expresión Mbyá-Guaraní: oñembohete
mandiju — el cuerpo se torna (imponderable) como el al-
godón —. Angue, la porción puramente humana del alma,
la sombra de las pasiones, los apetitos, de teko achy, se
ve obligada a abandonar este vehículo en que ya no tie-
nen cabida las impurezas e imperfecciones. Y, en cuanto el
cuerpo purificado solo alberga a Ñe´eng, la palabra-alma
enviada por los dioses, alcanzaríamos nosotros también, a
semejanza de los habitantes de Yvy Tenonde, el estado de
perfección (aguyje), y nos incorporaríamos a las huestes
de los habitantes de Yvy Marã´e´y, sin sufrir la prueba de
la muerte”. — Douglas Diegues
53
No relato referente à terra primeira este papagaio ajuda o
Pai Primeiro a atravessar o Rio Paraná, quando segue para
a terra dos Urutue (Brasil), rumo a sua paragem de céu.
Também é com as plumas do Parakau que nosso Pai Pri-
meiro indica os atalhos enganosos que seus filhos deverão
ter cuidado de seguir quando forem junto a ele e nesse
mesmo relato também se refere à qualidade premonitó-
ria do Parakau, quando avisa a Ñamandu que os frutos de
sua caça era para alimentar os devoradores de sua mãe.
— Kerechú Pará
kosmofonia mbyá-guarani 54
de ser, os que vivem às escuras... Também dizem no canto
desse dia que, Ñamandu lhes pede para que cuidem bem
do Opy, porque virá um vento muito forte. Pode-se notar
o mborai joyvy, canto masculino acompanhado do canto
feminino, o canto da mulher elevando as belas palavras do
Ñanderu, uma bela maneira de evidenciar a importância da
interdependência do homem e da mulher na cultura Mbyá.
— Kerechú Pará
55
Py: Dentro, Contido. Ao dizer assim. O conteúdo de suas
expressões.
Ñevanga: Divertir-se, jogar, entreter-se, viver
sossegadamente.
Ñevanga porã: Divertir-se saudavelmente, viver
alegremente.
Yvy potyra
Yvy: Terra.
Poty: Coração, fonte de vida, flor.
Potyra: Que germinará, florescerá. Terra que se floresce,
terra fértil.
Roguerojekuaa: Fazemos conhecer. O apresentamos.
Hembiupirã’i
Hembiupi: O que se eleva, o que se leva à boca.
Râ: Para. Algo para llevar a la boca. Comida.
Ore remiarirô’i kuery: Neto/neta (feminino). Todos nossos
nietos.
Ñembo pyta’i kuery: Os que ficam. Os abandonados.
kosmofonia mbyá-guarani 56
Jeovasa rañe’ie’y (ore ñe’e ruete)
Tangará (dança ritual)
57
Ñembo’e mborahei / Canto-reza
kosmofonia mbyá-guarani 58
OUVIDOS CIVILIZADOS
VERSUS
MÚSICA SELVAGEM
A VELHA-NOVA MÚSICA
MBYÁ-GUARANI OU
OS SONS-RUÍDOS DAS
CANÇÕES INDÍGENAS
SÉRGIO MEDEIROS
61
Essa impressão foi motivada, sobretudo, pela inclusão,
entre uma faixa e outra, de pequena amostra do som natu-
ral que circunda as aldeias indígenas do Paraguai, sobres-
saindo a cantoria de rãs míticas e verdadeiras. (Trata-se,
evidentemente, de um arranjo que devemos menos aos
próprios guaranis do que à sensibilidade de Guillermo Se-
quera, que escolheu, gravou e organizou as canções, en-
tremeando-as de ruídos ou preservando os sons naturais e
cotidianos que são inseparáveis dessas canções.) Sei que
esse som privilegia o ruído volumoso do banhado, esse
interminável ruído emitido pelo mundo úmido à noite, em
especial. Pois as canções passeiam por veredas circunda-
das de ruídos da mata e do banhado, indo e vindo nôma-
des (e a família guarani é nômade, a cultura é trazida ou
levada pelos seus expoentes musicais, que se dirigem à
terra sem mal) neste cd que retrata uma cultura e seu en-
torno. Exceto que, aqui, a circunvizinhança das canções é
parte delas próprias. Não apenas os ruídos circundam as
canções, como acabam por penetrar nelas, inseminando-
-as de impurezas de toda sorte, de modo que o banhado e
a mata estão também dentro das faixas, assim como falas
e sorrisos e outros ruídos humanos. É impossível, acredito,
separar a arte guarani da natureza que a circunda, e essa
é uma das mensagens políticas deste cd. E talvez não seja
impertinente citar agora uma observação que Luigi Russo-
lo, o teórico futurista, registrou em seu famoso manifesto
“A Arte dos Ruídos”, de 1913: a música ocidental, distinta e
independente da vida, havia trabalhado apenas com sons,
renegando o ruído, imbuída que estava na busca da pure-
za, da limpidez e da doçura, acariciando “os ouvidos com
suaves harmonias”. Guillermo Sequera, como Russolo, pa-
kosmofonia mbyá-guarani 62
rece acreditar que é preciso romper o círculo estreito dos
sons puros e conquistar a variedade infinita dos “sons-ru-
ídos”, para retratar verdadeiramente a arte musical indí-
gena.
63
OUVINDO LA MÚSICA MBYÁ
POR PRIMEIRA VEZ
Ludovic Pin
kosmofonia mbyá-guarani 64
elementos. En este caso, por qué haber elegido la música
en vez de la agricultura o arqueologia? Simplemente por-
que, músico yo mismo, la música me lleva a acercarme a la
gente, es esta que me libera de una gran timidez y que me
permite abrirme sobre el intercambio.
Si ocurría de tal manera para mi, estoy seguro de que
también podía ser el caso de la población y que la explo-
ración y presentación de « las músicas del otro » era una
herramienta primordial para sensibilizar a ciertas tradicio-
nes culturales.
La idea es, aqui, usar el potencial sensible de la música
para abrir brechas y permitir a ciertas sociedades en difi-
cultad incluirse dentro de nuevos lazos desligados de la
idea de inferioridad y exotismo.
Valorizar a una sociedad marginalizada significa ayu-
darla a ganar o volver a ganar su lugar dentro de los pro-
cesos de intercambios.
Aqui tienen en pocas líneas las razones de mi interés et-
nomusicológico y, en este sentido, las conversaciones que
tuve con muchos paraguayos de origenes variados me han
convencido de que Paraguay es un territorio donde hay
por hacer y establecer.
Ojala, así como lo fue para mi, este disco les permita
apreciar e interrogarse, pero sobre todo participar a las
primeras fundaciones que Mito Sequera ya ha inaugurado
bastante. Es un edificio dificil de construir en el cual, me
parece, la noción de patrimonio es primordial.
Dicha noción de patrimonio es esencial porque también
se encuentra en los Mbyá y porque permite mostrar que,
mucho mas que un patrimonio propio de su sociedad, los
Mbyá detienen un patrimonio universal.
65
Esto es suficiente para demostrar los numerosos inter-
cambios que han conocido a lo largo de su historia. Desde
el punto de vista organológico, se trata obviamente de los
dos instrumentos que les llega de la experiencia misionera
jesuitica: el ravel y el kumijare.
Ancestro del violoncello, el ravel hoy en dia ha desapa-
recido totalmente del instrumentarium occidental, de ma-
nera que se puede considerar a los Mbyá como los ùltimos
detentores de esta cadena de la evolución organológica
occidental. Tocante al kuminjare sigue siendo, para mi, un
misterio.
Efectivamente, cuando escucho estos dos instrumen-
tos, muchas cosas me vienen a la mente, y en ello preci-
samente esta música me habla y me conmueve. Melodías
arabo-andaluzas, ostinato, heterofonia que recuerdan las
de Africa Central, acompañamiento rítmico que puede asi-
milarse a los del country o del blues, y tantos más. Todo,
para decir cuantos verdaderos misterios sonoros pone la
música Mbyá en perspectiva.
Así es como al escucharlo, retomando la idea de Freud,
son numerosos los temas musicales que parecen “extraña-
mente familiares”. Con sus numerosos intercambios cultu-
rales, los Mbyá parecen haber explorado continuamente
nuevas formas para llegar a un repertorio vivaz y en mo-
vimiento.
Las diferencias sonoras entre las diversas comunidades
Mbyá son prueba de ello. A pesar de que se conserven
algunos rasgos genéricos tales como los instrumentos, el
nombre de los bailes, etc.... existen ciertos aspectos dis-
tintivos como el de la técnica vocal que parece ser muy
característico segùn las comunidades.
kosmofonia mbyá-guarani 66
Con un conjunto de fuertes y coherentes experiencias
culturales, las diversas comunidades Mbyá expresan una
representación sonora del mundo muy particular que Mito
Sequera llama cosmofonía. Aquí se encuentra la muy im-
portante idea de una organización y de una representa-
ción sonora del mundo. Son, pues, esenciales la conversa-
ción y la integración en cuanto instrumentos sagrados de
ciertos instrumentos Mbyá en su repertorio.
Todas estas pequeñas ideas para decir que músicas
tradicionales no equivalen a música del pasado o música
fenecida. Efectivamente, si los Mbyá conservaron instru-
mentos y eventualmente algunas estructuras sonoras de
experiencia jesuita, no por ello haya que pensar que in-
terpretan hoy en día el repertorio musical enseñado por
los jesuitas. De esta experiencia, los Mbyá conservaron los
elementos que han adoptado pero creando formas pro-
pias y originales.
Así, las construcciones sonoras de los Mbyá iluminan y
valorizan los intercambios culturales y es evidente que es
esta compleja idea del intercambio sobre la cual hay que
investigar hoy.
67
kosmofonia mbyá-guarani 68
KOSMOFONIA MBYÁ GUARANY
Manoel de Barros
69
OS ESTILOS SÔNICOS
DOS GUARANI
Massimo Canevacci
kosmofonia mbyá-guarani 70
de na história, na história do Brasil e na sua própria histó-
ria, que não coincide com aquela. A historia guaranì tem a
sua relativa autonomia que è um bem muito precioso. Do
um outro punto de vista, este tipo di musica se caracte-
riza pelo suo sincretismo. Pra me significa não mais uma
relação com o velho sincretismo religioso, mas com uma
coisa bem mais creativa e diferente: os sincretismos cultu-
rais tem uma enorme capacidade di misturar culturas, es-
tilos, biografias, e tamben panoramas sônicos. Um pano-
rama sônico mestiço è felicidade. Pra me os sincretismos
musicais são fundamentais pra entendere se uma pessoa
ou uma cultura desenvolve a sua própria história, os suos
contos, os suos itinerários: as suas diferencias. Magnífico o
canto bem ritual (28) que, no ritmo dos bastões rítmicos,
tambèn os códigos dançam. Esta dança dos códigos e dos
corpos è uma clara testimoniancia da vivacidade duma
cultura que no mutamento desenvolve a sua creatividade
no presente-futuro e não na fixidade no passado. È um
prazer tamben pra me, aqui em Roma, escutar e dançar na
mea casa aos ritmos Mbyá.
71
El Conocimiento a Traves
de los Cinco Sentidos
Magali Sequera
kosmofonia mbyá-guarani 72
eso también, ambos sentidos son esenciales. Las fotogra-
fías que ilustran el disco no son meramente explicativas,
como pueden ser las de otro etnólogo como Lévi-Strauss.
Por su estética y valía, es necesario ver de qué manera
vista y oído se complementan en este disco; de tal mane-
ra que uno y otro son indisociables para poder percibir
y asimilar íntegramente la cosmofonía Mbyá-Guaraní. Una
característica abarca la mayoría de los temas. Advertimos
una misma búsqueda del sonido puro: El son depurado del
ravel, el de la flauta o el de la voz infantil.
Encontramos esa misma búsqueda de la línea en la serie
de fotografías que ilustran el disco de Guillermo Sequera.
Entrecruces de líneas que otorgan un matiz casi mini-
mal a las fotografías: el mortero de la mujer machacando
es perfectamente paralelo con los palos de madera en pri-
mer plano de la fotografía. Más asombroso es el caer de
las semillas que se junta en un mismo punto de fuga con
los palos en primer plano.
La toma ladeada del hombre sosteniendo el ravel, acen-
túa el paralelismo entre la posición del instrumento y los
paneles de madera de la pared, en segundo plano.
Es interesante contraponer el trabajo fotográfico de
Guillermo Sequera, que se distingue del trabajo de Martin
Chambi. Chambi (1891-1973), fotógrafo peruano, ha enfo-
cado parte de su trabajo sobre comunidades indígenas del
Cuzco. Pero, así como los demás protagonistas de su tra-
bajo, M. Chambi siempre ha optado por el grupo, descar-
tando el retrato individual.
Guillermo Sequera, él, privilegia el retrato unipersonal;
enfocando los rostros, las manos, los instrumentos.
Con ello, logra entregar a cada uno la trascendencia de
73
su desempeño dentro de la comunidad, el aporte musical
de cada uno. Pero también y sobre todo, el ojo cámara de
G. Sequera logra captar la palabra de los ojos. Estos mis-
mos ojos que nos interpelan, a través de esa mirada nos
convidan a escucharlos, a entrar en su mundo. Porque se
trata de una conversación entre ellos y nosotros.
En la mayoría de las fotografías, los protagonistas nos
interpelan con su mirada: el niño que mira fijamente la cá-
mara detrás de las columnas de su casa o las dos mucha-
chas abrazadas, el niño con la cabeza inclinada que perece
casi hacernos una pregunta solo con los ojos. Son retratos
que nos recuerdan el trabajo de unos de los mayores fotó-
grafos del siglo XX, Augusto Sander (1876-1964).
Con su famosa serie de retratos Menschen des 20. Jahr-
hunderts — Hombres del siglo XX — el fotógrafo alemán
se proponía a hacer un panel de los hombres de su época.
Si Sander halló en el campesinado allá de los 20-30, la
base de su proyecto de retratista, G. Sequera, por su par-
te, quiere dar a conocer mejor a comunidades olvidadas,
y restituirles, a través de su trabajo de investigación y del
retrato fotográfico, el protagonismo que se merecen. En el
retrato, lo que más llama la atención es principalmente la
mirada. Aquí, aparece un rasgo común a todas, es la sere-
nidad que emana de cada una.
Oscar Wilde decía que los ojos son el reflejo del
alma. Un aforismo que se podría aplicar, aquí, a la músi-
ca: porque esa misma serenidad la percibimos también
al escuchar los lamentos de flautas, o la grabación #4,
Ñaguahe ñande ñanembovya — Venimos para alegrarnos
— de los niños.
kosmofonia mbyá-guarani 74
El enfoque de lleno del fotógrafo sobre el rostro de la
madre Chamán sosteniendo su pipa, enfatiza la serenidad
y la sabiduría que suponen en su función en la comunidad.
La madre-chamán no puede aparecer sin su pipa, ya
que — Según Héléne Clastres — el humo del tabaco es para
los humanos lo que la bruma para los inmortales: Fuente
de vida y de saber, el tabaco es el medio de comunica-
ción privilegiado entre los hombres y los dioses. Tantos
elementos que, no solo explican la toma fotográfica, sino
también el hecho de que sea la única persona que tenga
una grabación señera en el disco.
Un segundo elemento peculiar podemos distinguir den-
tro del conjunto de las fotografías, que se reitera en cada
una. No es actor principal sino de segundo plano, pero ele-
mento primordial: la mano.
Las manos son un reflejo y revelan indeniablemente la
vida de uno, son de alguna manera la marca de nuestra
existencia. Las manos del músico pueden, ellas solas, con-
tarnos la vida del hombre.
En las dos fotografías del hombre con el ravel, las ra-
nuras de sus manos parecen (con) fundirse con/en el ins-
trumento. Los mismos sillones que marcan el paso del
tiempo/uso, forman ya uno solo: el instrumento se vuelve
prolongación de la propia mano. Para el músico, la mano
es él, porque se comunica a través de ella y existe gracias
a ella. A través de las fotografías, tenemos la sensación de
poder alcanzar ese ravel y sentir cada cuerda del instru-
mento. La vista puede suscitar in mente tacto y oído.
En las fotografías de G. Sequera, otro de los cinco sen-
tidos está presente, es el gusto.
Son las manos de las mujeres que machacan las semi-
75
llas. Oido y gustátil están estrechamente vinculados: la
música es omnipresente en el cotidiano de los Mbyá-Gua-
raní; es el andu — percibir la biodiversidad — del cual nos
habla el etnomusicólogo. Al fin y al cabo, el protagonismo
de la mano en la serie fotográfica no tiene que sorprender.
En psicología, la mano está estrechamente vinculada
con la vista: así como el ojo, la mano ve también. Es más,
las manos del hombre van con el conocimiento, por que
tienen como fin el idioma. Por eso mismo tal importancia
en las fotografías; son el símbolo de comunicación, de un
intercambio entre la cultura Mbyá y la nuestra, occidental.
La mano es una suerte de síntesis: es pasiva en lo que
contiene, y activa en lo que lleva.
Síntesis también en Guaraní — po — un misma palabra
para indicar la mano, la cifra n°5, pero también significa la
porción de hilo que se enhebra. Retengamos entonces la
palabra Guaraní por la pluricidad del significado. Es como
si la mano pudiese contener — simbólicamente — a la vez
el hilo del ravel, y los cinco sentidos.
Entendemos mejor ahora, por qué la mano es emble-
ma real. Símbolo de destreza, la mano es también vinculo
nexo social. Es el emblema por excelencia de comunica-
ción; y a través de ella los Mbyá-Guaraní nos obsequian
toda su erudición en música, un bagaje cultural musical
que tenemos en común; el rescate de algunas técnicas y
temas de reducciones jesuíticas.
Son de alguna manera nuestros historiadores.
El presente disco da lugar a un verdadero intercambio
cultural, una comunicación entre ellos y nosotros, y nues-
tras manos ahora estrechadas son el símbolo de este nexo.
kosmofonia mbyá-guarani 76
El canto, las ranas
y los humanos
REYNALDO JIMÉNEZ
77
oración. En todo caso, poesia y musica y danza serán estas
técnicas atemporales para seguir despertando a la cele-
bración de lo que es. Simplicidad complejísima. Un entre
cruzamientos de todos los caminos en la ausencia de ca-
mino. La selva anterior a qualquer camino. Madreselva. Su
llamado es golpeteo sobre la piel del rio. La experiencia
fundamental de toda poesia y de toda música, más acá de
su estilización, de su cristalización en “Arte”, ligan con el
múltiple arte de vivir. No es cuestión de dominios, ni de
saberes “rescatados”, sino de un gesto vital. Cantos para
convocar todas las cosas y seres, hechos y ocasiones de
la vida. Al cantar, la voz se nos vuelve rana y se despega.
Vive en su propia dimensión. Recordatório votivo es esta
Kosmofonia Mbyá-Guaraní. Y un llamamiento.
kosmofonia mbyá-guarani 78
VIAGEM AO ORVALHO
EM CHAMAS
Introdução, seleção,
tradução e montagem
Douglas Diegues
VIAGEM AO ORVALHO
EM CHAMAS
DOUGLAS DIEGES
81
El teko porã, el bom modo de ser, el bom estado de vida,
el viver bem Mbyá-Guaraní, pode ser considerado una es-
pécie de antropoiésis, como dice Guillermo Sequera, uma
de arte de viver em harmonia con la selva, los bosques,
las florestas y los outros seres vivos, quando non faltam
alimentos, nem salud, nem paz en los korazones; quando
las abundantes cosechas favorecem uma economia da re-
ciprocidade, el jopói, las manos abiertas de unos para los
outros.
Non existe concepto de propriedade privada entre los
Mbyá-Guaraní. Pero sin Tekoha non hay Teko — y sin Teko
non pode haver Teko Porã.
Atualmente los Mbyá-Guaraní son los más extranjeros
em seus próprios tekoha rodeados de sojales y agrotóxico.
Ñande Ru Papa Tenonde, Nostro Pai Último-Último Pri-
meiro, depués de crear el próprio cuerpo de um pequeno
pedaço de seu ser de céu, depois de criar las chamas y la
tenue neblina elétrica, el Jasuká mencionado por los Paí
Tavyterã del Jasuká Vendá, elemento com lo qual depois
faria el mundo, y todas las coisas que nele existem, fez que
se abrisse para si mesmo la palavra futura, e que com ele
se tornasse coisa de céu, palavra original, palavra que se
abre como flor.
Para los Mbyá-Guaraní, la palavra se confunde com las
origens del cosmos. Cada Mbyá é um obscuro e anônimo
artista da palavra, um poeta, um profeta, um instrumento
musical, um artista de vanguarda primitiva. Sua palavra se
confunde com o seu próprio ser, seu espírito, sua essên-
cia. Em Mbyá-Guaraní, palavra é sinônimo de alma. Essa foi
uma das grandes descobertas del antropólogo paraguayo
León Cadogan.
kosmofonia mbyá-guarani 82
Perder la palavra es como perder la própria alma. Quan-
do o corpo desfalece, la palavra lo abandona y vuela a los
orígenes regressando al futuro.
La lengua Guaraní es uma de las mais antigas da región
onde escrevo, en la fronteira do Brasil com o Paraguai, a
uns 70 quilômetros do Jasuka Vendá, el “omphalos” de los
Paï Tavyterã, etnia da imensa família lingüística Tupigua-
raní, auto-denominados Kayowá en el lado brasileiro de la
fronteira.
La lengua Guaraní, portadora de antigas sabedorias
selvagens, vegetal, cósmica, mineral, ancestral, mítica, há
mais de 500 anos fascina y confunde a los que atravessam
las selvas guaraníticas.
El poeta paraguayo Luis León Bareiro fue quien me ha-
bló por primera vez del Ayvu Rapyta, de León Cadogan, y
me presentó al Pa´í Melià. El Ayvu Rapyta todavia no esta-
ba publicado en Paraguay.
Entonces fui a la Biblioteca de la Universidad Católica,
en Asunción, para fotocopiar la edición de da Universidad
de São Paulo, de 1959, y vi por fim las chamas del rocio de
la palavra Mbyá-Guaraní en los textos, notas y traduccio-
nes de León Cadogan. Foi uma descoberta. Meu cérebro
ficou maravilhado para siempre com tanta potência, bele-
za, vigor.
Em 2005, passei dois dias hermosos ouvindo Karaí Mirí
ejecutar piezas del repertório Mbyá-Guaraní num violín
kuê que ele encontrou abandonado nel patio de la casa
de Kerechú Pará. Le puso três cuerdas nomás al violin kuê.
Tocou temas como Maracanã, Parakao y Xondaro, entre
otros. Fue um acontecimiento maravilloso único que nun-
ca mais se va a repetir.
83
Fiz algumas viagens a las chamas del rocío de la palavra
Guaraní que se abre como flor, deste y del outro lado da
fronteira.
Pude también coligir fragmentos de textos de vários es-
tudiosos da palavra Mbyá-Guaraní y montar esta colagem
de falas, que traduzi para entender mejor los significados
y la importância de la palabra nel âmbito de la cultura Mb-
yá-Guaraní.
BARTOMEU MELIÀ
Para o Guarani a palavra é tudo. E tudo para ele é pa-
lavra. Estas afirmações que nosso etnocentrismo precipi-
tadamente atribui a algum tipo de influência ‘ocidental’,
de sub-reptícias origens platônicas, são, entretanto, a ex-
pressão mais constante do quê o Guarani nos diz através
de seus mitos, de seus cantos e de seus ritos. (El Guaraní
— Experiencia Religiosa)
ADOLFO COLOMBRES
Para os guarani, tudo é palavra. A identificação é tão
plena que se fala de palavra-alma (Ñe’eng). Ñe’e, em gua-
rani comum, significa linguagem humana, apesar do termo
ser aplicado também ao canto das aves, ao zumbido de
alguns insetos. A função fundamental da alma é a de trans-
ferir ao homem o dom da linguagem. A palavra é a mani-
festação da alma que não morre, da alma original ou alma
humana de natureza divina, que se diferencia da alma ani-
mal, ligada à carne e ao sangue, à vida sensual. Os animais
e as árvores também tem alma de origem divina, ñe’eng,
mas somente o homem possui o angué, a verticalidade. O
angué, como anota Cadogan, vem a ser a parte telurica da
kosmofonia mbyá-guarani 84
alma. Muitas poucas línguas no mundo legaram à biolo-
gia mais nomes de plantas e animais que a guarani, até o
ponto de que afirma-se que seria a terceira neste sentido,
depois do grego e do latim. Isso viria a corroborar, se ne-
cessário, a grande ênfase que esta cultura pôs na palavra
e em sua função de nomear, e também seu grande amor à
natureza. (Celebración del lenguaje)
CARLOS MORDO
A relação constante que mantém com sua experiência
religiosa permitelhe ao guarani reafirmar sua identidade,
revalidando permanentemente os fundamentos de sua
própria cultura na vivência do tempo sagrado, nas ce-
rimônias, na recriação dos mitos, no canto e nas danças.
O mito atualiza a atividade criadora dos deuses, desve-
lando a sacralidade presente em cada uma de suas obras,
que se transforma por sua vez em imagens exemplares das
atividades humanas significativas, incluindo a arte. Se o
mundo existe, se o homem existe, é — como propõe Eliade
— porque os seres sobrenaturais iniciaram uma atividade
criadora nas origens. (El Cesto y el Arco, Metáforas de la
estética Mbyá-Guaraní)
ADOLFO COLOMBRES
Na noite originária, antes de existir a terra, Ñamandu
Ru Ete, o pai verdadeiro, em sua solidão fez que se abrisse
como flor o fundamento da palavra futura. Na cosmogo-
nia Paï Tavyterä diz-se que no começo existia apenas uma
substância impalpável chamada Jasuka, algo como uma
neblina carregada de eletricidade. Dessa matéria primitiva
surgiu uma voz que cantava, e que foi florescendo lenta-
85
mente até se transformar em um corpo, que tomou final-
mente a forma de um homem. Este foi aperfeiçoando-se
mediante sua própria voz, iluminando tal substância nebli-
nosa. Deste relato pode-se entender que o homem cria-se
a si mesmo mediante a palavra, e ao iluminar o entorno faz
que apareça a terra sob seus pés. A palavra, então, nas-
ce já como um canto puro, não emitido por ninguém, que
gera a vida. A palavra fica assim definida ab initio como
a essência do humano, algo que circula pelo esqueleto
e o mantém ereto. Resulta inseparável da verticalidade
própria de todo ser animado por ela, até o ponto de que
o xamã que tenta salvar a vida de um morimbundo invoca
os eepya, espíritos que restituem o dizer, conforme afirma
Heléne Clastres. Para cumprir com seu desígnio, Ñamandu
cria outras divindades, como Karaí Ru Ete (Leste), Jakáira
Ru Ete (o Zênite) e Tupã Ru Ete (Oeste), cuja tarefa será
enviar aos futuros homens as palavras-almas para que en-
carnem no corpo das pessoas recém-nascidas.
(Celebración del lenguaje)
BARTOMEU MELIÀ
Interrogados sobre o sentido do conceito chave de ay-
vu-rapyta (fundamento da palavra ou palavra fundamen-
tal), dois Mbyá, líderes de grupo, fizeram sua exegese: “o
fundamento da palavra fez que se abrisse e que tomara
seu ser (divinamente) celeste Nosso Primeiro Pai, para que
fosse o centro e a medula da palavra-alma”; “o fundamen-
to da palavra é a palabra originária, a que Nossos Pais, ao
enviar seus numerosos filhos à morada terrenal para que
ali florescessem, lhes repartiriam.
kosmofonia mbyá-guarani 86
O dom da palavra por parte dos Pais “divinos” e a parti-
cipação da palavra por parte dos mortais, define o que é e
o que pode chegar a ser um Guarani. O certo é que a vida
do Guarani em todas suas instâncias críticas — concepção,
nascimento, recepção de nome, iniciação, paternidade
e maternidade, doença, vocação xamanistica, morte e
“post-mortem”— define-se a si mesma em função de uma
palavra única e singular que faz o que diz, que de certa
forma consubstancia a pessoa. Tudo isso, que poderia pa-
recer uma gratuita transposição de platonismo ocidental
ao universo guarani, tem suas provas documentais regis-
tradas por diversas fontes etnográficas; em outros termos,
trata-se de verdadeiras experiências indígenas.
“Está por tomar assento um ser que será a alegria dos
bem amados” (León Cadogan, Ayvu Rapyta). Nesta metá-
fora está contida a idéia guarani de como é concebido um
novo ser humano. O homem, ao nascer, será uma palavra
que se põe em pé e que se verticaliza até sua estatura ple-
namente humana.
87
cepção do novo ser humano. Reconhece-se, de fato, a ne-
cessidade das relações sexuais para a concepção. Mas são
necessárias porque esta é a vontade dos Pais Primeiros.
A palavra-alma é enviada pelos de Cima. “O pai a recebe
em sonho, conta o sonho para a mãe, e está fica grávi-
da”. (Egon Schaden, Aspectos Fundamentais da Cultura
Guarani). A palavra “toma assento” no coração da mãe, —
oñembo apyka — tal como a palavra que descende sobre
o xamã, ele mesmo sentado sobre um pequeno banco em
forma de “tigre”. Concecpção de um ser humano e con-
cepção do canto xamãnico se identificam. Para o Guarani,
não é exagero dizer, a procriação, antes que nada, é um
ato poético-religioso, mais que um ato erótico-sexual. Por
outro lado, o erotismo guarani tem suas expressões mais
significativas durante as festas rituais, nas que se canta, se
reza, se dança, se participa na bebida de chicha e na comi-
da de tortas de milho. (El Guarani — Experiencia Religiosa)
ADOLFO COLOMBRES
A cerimônia de imposição do nome realiza-se quando
a criança pode manter-se em pé. O xamã deve descobrir
qual deus enviou a palavra-alma antes de escolher um
nome apropriado para ele, pois todo nome pertence a es-
fera exclusiva de uma determinada deidade. Se nenhuma
palavra-alma encarna no recém nascido, este não tardará
em morrer, pois os deuses negam-lhe desse modo o direi-
to à vida, por razões que nem sempre são inescrutáveis, já
que podem estar subordinados a uma base ética, como o
caso de filhos adulterinos, observado por Cadogan. Con-
forme Bartolomé, o nome é a pessoa, posto que designa
sua essência (espírito, alma), e os atributos desta são seus
kosmofonia mbyá-guarani 88
atributos pessoais, que conservará até a morte. O nome só
é modificável em caso de crises extremas. Como último re-
curso para salvar um doente grave e “despistar” a morte,
o xamã pode modificálo. A morte é a perda e ausência da
palavra, ou é produzida por esta perda. Porque na palavra
há forças capazes de abolir a morte. Se ela flui abundante
e cheia de sabedoria, pode levar o indivíduo ao estado de
perfeição (aguyje) necessário para alcançar a Terra Sem
Mal, ou seja, o estado de indestrutibilidade, a imortalidade
do corpo. Sabe-se que muitos o conseguiram, passando à
condição de heróis divinizados, como Kuarachy Ju, Kua-
rachy Eté, Takua Verá Ghy Eté, Karaí Katu y Kapitá Chikú.
Por sua mesma natureza sagrada, os guaranis conside-
ram inconveniente que seu nome verdadeiro esteja na boca
de todos, e em especial dos que podem lhes causar danos.
Daí que geralmente aceitam os nomes que lhes impõem os
missionários e agentes do registro civil, já que este nome
falso servirá para mascarar seu verdadeiro nome, subtra-
indo-o do desgaste cotidiano. (Celebración del lenguaje)
EGON SCHADEN
A noção de alma humana, tal como a concebe o Guara-
ni — isto é, sua primitiva psicologia — constitui, sem dúvi-
da alguma, a chave indispensável para a compreensão de
todo o sistema religioso... (Aspectos fundamentales de la
cultura Guaraní)
BARTOUMEU MELIÀ
O mais importante, no entanto, de toda essa psicologia
teológica está na convicção de que a alma não está intei-
ramente acabada, senão que se faz com a vida do homem
89
e o modo de seu fazer-se é o seu dizer-se. A história da
alma guarani é a história de sua palavra, a série de pala-
vras que formam o hino de sua vida. (El Guaraní — Expe-
riencia Religiosa)
CURT NIMUENDAJÚ
O xamã necessita submeter-se a um esforço sobre-hu-
mano para chegar a estabelecer contato com os seres ce-
lestiais, coisa que acontece somente durante o êxtase. Para
isso, apenas cai a noite ocupa seu lugar, canta, começa a
agitar a maraca... Assim prossegue o canto durante horas.
Enquanto isso o xamã recebe dos poderes aos que dirige
seu canto faculdades sobrenaturais que transmite ao me-
nino. Entre os guarani modernos há partes que monstram
semelhanças com o ritual do batismo cristão. Mas o sin-
gular e importante é que o nome encontrado mediante a
cerimônia xamânica tem para o guarani um significado de
todo especial. O nome é de certo modo, aos seus olhos,
um pedaço da alma do seu portador ou é quase idêntica a
esta, inseparável da pessoa. O guarani não “se chama” de
tal ou qual maneira, senão que “é” tal ou qual. Quando, por
exemplo, se emprega mal um nome, pode-se prejudicar o
seu dono. (As lendas da criação e destruição do mundo
como fundamentos da religião dos Apapokúva-Guarani)
BARTOMEU MELIÀ
Os guarani acham ridículo que um sacerdote católico
tenha que perguntar aos pais da criança como vai se cha-
mar seu filho.
Entre os Mbyá o processo de recepção do nome se atém
fundamentalmente às mesmas normas quando o menino
kosmofonia mbyá-guarani 90
todavia não tem nome, é suscetível de cólera (raiva), raíz e
origem de todo mal. “Somente quando se chamem pelos
nomes que nós os Pais da palavra lhes damos, deixaram
de se encolerizarem.” O mitã renói a, “o que chama ou
dá nome à criança”, prepara-se para receber a revelação.
Acende o cachimbo, solta fumaça sobre a cabeça do me-
nino e por fim comunica à mãe o nome pesquisado. Este
nome é parte da pessoa e é designado com a expressão ery
mo’ã a, “aquilo que mantém em pé o fluxo do dizer”(León
Cadogan, Ayvu Rapyta). Recebido o nome, a pessoa co-
meça a manter-se em pé assim como em pé também está
sua palavra, a que lhe confere grandeza de coração e força
interior, as duas grandes virtudes a que aspira um bom
Guarani. A educação do Guarani é uma educação da pa-
lavra, pela palavra, mas não é educado para a aprender e
muito menos memorizar textos, senão que para escutar as
palavras que receberá do alto, geralmente através do son-
ho, e poder dizê-las. O guarani busca a perfeiçao do seu
ser na perfeição de seu dizer; sua valorização e seu prestí-
gio entre os membros de sua comunidade e mesmo entre
comunidades vizinhas vem medida pelo grau de perfeição
e inclusive da quantidade de cantos e modos de dizer do
qual é dono. (El Guarani — Experiencia Religiosa)
CURT NIMUENDAJÚ
Quando em um grupo guarani alguém consegue seu
primeiro canto (xamânico), isto constitui sempre um acon-
tecimento de interesse geral. Somente nas velhas histórias
maravilhosas ouvi que crianças receberam tal inspiração.
Nas categorias de idades superiores a inspiração é cada
vez mais freqüente e entre aqueles que já passaram dos
91
quarenta anos é excepcional o que não possua um canto.
(As lendas da criação e destruição do mundo como funda-
mentos da religião dos Apapokúva-Guarani)
CARLOS MORDO
A cada amanhecer, quando a imagem de Kuarahy (Sol)
se eleva sobre o horizonte, os sacerdotes cantam as pala-
vras inspiradas, as belas palavras carregadas de metáfo-
ras, ñe’e porã, que celebram o tempo sagrado para aque-
les que habitam a terra dos homens, imagem imperfeita da
Yvy Marã e’y (Terra Sem Mal).
Pela tarde, as meninas começam a dançar danças e can-
tar cantos de preparação. Existem distintas melodias de
vida e celebração, conforme a ocasião, como o canto do
Mburivichá, outros para os Ñande Ru, para os frutos ou
para os pássaros, acompanhados pela percussão rítmica
dos takuapu (bastão de taquara) que usam as mulheres,
reproduzindo no canto sagrado a perenidade do tempo
originário e os dons dos deuses: “o canto sagrado — cos-
tumava dizer o Pa’i Antonio Martinez, prestigioso líder reli-
gioso — é a verdadeira inspiração da essência do guarani”.
Quando está por se pôr Kuarahy, chega o tempo de
adentrar o Opy (Casa de cerimônias). Antes de entrar, se
dão três voltas ao redor do recinto, no sentido das agul-
has do relógio, primeiro os homens, depois as mulheres,
sempre em ordem hierárquica, já que os mais antigos pre-
cedem os mais jovens. Enquanto isso, os jovens iniciam o
canto para adentrar o Opy, o Ñaneseno Jajeroike Anguã.
Cada um saúda o Opygua com o Agwyjevéte de praxe an-
tes de entrar.
O interior do Opy está iluminado apenas por umas ve-
kosmofonia mbyá-guarani 92
las; o recinto tem forma retangular, e suas paredes de ta-
quaras entrelaçadas estão cobertas com barro. A porta,
orientada ao poente e situada próxima da parede Norte, é
a única abertura, e em todo o perímetro salvo no fundo há
largos bancos de madeiras ou troncos de base aplainada.
No canto oposto à porta há um assento um pouco mais
alto, onde ficam os músicos e o Opygua. Ao seu lado, e à
frente, sentam-se os homens mais velhos, e algumas mul-
heres; na outra parede se encontra o resto do participan-
tes, as anciãs, os jovens e as crianças.
No fundo do Opy encontra-se o Amba Ñanderojy, um
tronco de madeira situado contra a parede do recinto, onde
costumam pendurar maços de erva, os frutos do Gwembé
e as tortas de milho no Tembi’u Agwyje, a celebração dos
frutos maduros. Este espaço sagrado é [enfrentado] pelos
ajudantes mais jovens, que oram em voz baixa continua-
mente, fumando seus cachimbos e dando grandes bafo-
radas de fumaça. Alguns fazem soar sua maraka de rit-
micamente. Os Opygua (oficiantes) também mantêm seus
cachimbos acesos, produzindo densa fumaça, espalhando
sobre os participantes o símbolo da neblina mítica, em um
ritual de limpeza que convoca o tempo dos deuses.
Os personagens que conduzem o ritual se cercam, no
interior do recinto, de certos objetos simbólicos como o
apyka, as yvyra’í ou o petyngua, que serão usados como
receptores da energia mística e como meio para estabele-
cer o vínculo entre ambos mundos.
O Apyka, um pequeno banco, em algumas ocasiões zoo-
morfo, lavrado em madeira de ygary, rememora a imagem
terrenal do apyka apu’a i, o assento originário onde esteve
sentado Ñamandu Ru Ete no princípio dos tempos. Rela-
93
cionado com a significação ritual do cedro, Yvyra Ñaman-
du, a árvore de Ñamandu, o apyka representa ao mesmo
tempo o lugar onde se assenta a palavra-alma do guarani.
Em seu universo feito de metáforas, ao referir-se ao feito
de ser engendrado um ser humano, dizem os Mbyá: oñem-
bo apyka, “se lhe dá assento, se lhe provê de assento”.Por
meio de uma parábola conceitual, o ser humano assume
ao ser concebido a mesma característica que Ñande Ru
nos relatos da criação, para poder receber a palavra ilumi-
nada que contém, em si mesma, a alma humana. (El Cesto
y el Arco, Metáforas de la estética Mbyá-Guarani)
BARTOMEU MELIÀ
São comoventes as experiências através das quais um
índio guarani recebe o dom do canto místico e de uma
grande beleza poética e profundidade mística seus textos.
Eis aqui um que valha por muitos, já que a infinita maioria
deles nunca foi registrada:
kosmofonia mbyá-guarani 94
Se permitimos que nosso coração se bifurque
Nunca vamos alcançar grandeza de coração
nem força interior
(León Cadogan, Ayvu Rapyta)
ADOLFO COLOMBRES
No Opy ou casa das orações dos Mbyá-Guarani (um ca-
sarão amplo e retangular, com orientação leste-oeste), se
entoam, de frente pro sol nascente, as ñe’e porã ou belas
palavras, linguagem comum aos homens e deuses. O ayvu
porã, a bela linguagem, é uma expressão que serve para
designar o conjunto de suas tradições sagradas, mas tam-
bém a língua falada pelos deuses, e a única que gostam
de ouvir de seus filhos, os homens. Hélène Clastres aponta
que há uma série de termos que traduzem noções abstra-
tas que pertencem em forma exclusiva ao ayvu porã, mo-
95
tivo pelo qual não se utilizam jamais na linguagem comum
e nem sequer têm equivalente neste: seu uso e seu sentido
são apenas religiosos. Além disso, para designar uma série
de objetos a bela linguagem serve-se sempre de metáfo-
ras e não dos termos com os quais se os nomeia na vida
cotidiana, onde rege um laconismo expressivo, próprio da
estética sóbria e despojada deste grupo. Assim a flecha
passa a ser “a pequena flor do arco”; o cachimbo: “o Es-
queleto da bruma”. Se na vida cotidiana se designam as
coisas, na bela linguagem estas são nomeadas com metá-
foras. (Celebración del lenguaje)
EGON SCHADEN
O recurso sempre à mão de que dispõe o guarani para
provocar e ao mesmo tempo dar vazão a suas vivências
misticas é o porahei (canto) ou oração... O que tem de
mais valioso um indivíduo são seus porahéi, aos quais se
refere com orgulho e até com certa reverência... (Aspectos
fundamentales de la cultura Guarani)
BARTOMEU MELIÀ
Individuais, porque são um dom dos espíritos a deter-
minadas pessoas, as orações e os cantos são também uma
força para a comunidade, que ao escutá-los e dança-los
se identifica com eles e se sente reconfortada. É graças
às orações e cantos que os guaranis sentem que o mundo
pode atrasar sua futura e inevitável destruição. (El Guara-
ní— Experiencia Religiosa)
kosmofonia mbyá-guarani 96
ADOLFO COLOMBRES
Cabe destacar que para os guaranis o belo (porã) refe-
re-se ao adornado, não à beleza natural. Se o belo, então,
é um acontecimento cultural, pode-se falar de palavras
embelezadas pelos que as cultivam, cuja função é elevar
(e não apenas manter) seu esplendor. Embelezamento
que não busca designar e nem sequer comunicar, como
observa Hélène Clastres, pois as belas palavras, voltadas
para si mesmas, não servem mais que para celebrar (ou
comprazer-se em) sua própria divindade, como uma lin-
guagem consagrada ao canto, não ao conhecimento do
mundo. (Celebración del lenguaje)
BARTOMEU MELIÀ
É sempre em função da palavra inspirada que o Guarani
cresce em sua personalidade, em seu prestígio e até em
seu poder, seja este, poder político, poder mágico ou am-
bos juntos, o que geralmente é mais comum. (El Guaraní
— Experiencia Religiosa)
EGON SCHADEN
O mais valioso que um indivíduo possui é seu purahéi,
ao qual se refere com orgulho e até com certa reverên-
cia. O receio de ironizarem ou fazerem uso inadequado de
seus cantos é um dos motivos da resistência que o pesqui-
sador encontra quando pede que o Guarani lhe ensine o
que possui ou sabe. Em Araribá apareceu um dia um admi-
rador da chamada música folclórica; aproveitou os cantos
guaranis em algumas composições “típicas” que, confor-
me parece, foram tocadas numa rádio.
97
Ao saberem do acontecido, os índios perceberam nisso
uma profanação e um deles depois se negou terminante-
mente a me ensinar seus cantos: “eu não quero que você
os ponha na rádio”. (Aspectos fundamentales de la cultura
Guaraní)
ADOLFO COLOMBRES
O fogo e a neblina vivificante envolvem a palavra-alma,
como se definindo o espaço em que se manifestam. A pa-
lavra é poder criativo, gerador, normativo: por isso é rela-
cionada com a vara-insígnia, atributo principal do poder
masculino. Pode-se dizer que o conceito de palavraalma
é uma ponta estendida à alma das palavras, um modo de
recordar o caráter sagrado da linguagem e exigir um uso
respeitoso da mesma. No fundo de seu coração o guara-
ni desdenha o “estrangeiro” (ou seja, os brancos e mes-
tiços), porque sabe que este corrompeu sua linguagem
mediante um uso irresponsável da mesma. Por um lado a
bastardeiam com o uso excessivo de palavras que pouco
ou nada significam, como se houvessem renunciado já à
função de nomear o ser das coisas, e por outro lado fal-
sificam com ela a verdade; ou seja, consumam o crime da
mentira, que povoa o mundo de seres não verdadeiros. Os
guaranis podem chegar a falar de seus mitos a um bran-
co, mas se recusam firmemente a deixá-los escutar o mais
breve fragmento do ayvu porã, salvo raras exceções, como
as de Curt Nimuendaju, León Cadogan, Miguel Alberto
Bartolomé, Carlos Martinez Gamba e algum outro iniciado
em sua religião. É que a palavra põe a vida em movimento,
e para os “estrangeiros” o que põe a vida em movimento
é uma determinada marca de automóvel, conforme um re-
kosmofonia mbyá-guarani 98
corrente lema de uma multinacional, o que vem reafirmar,
se é necessário, que o Ocidente cedeu às coisas o domínio
da força, sujeitandose a elas. (Celebración del lenguaje)
BARTOMEU MELIÀ
O Mbyá se manifesta como alguém em tensão em um
mundo cheio de coisas nefastas e imperfeitas que somen-
te a palavra redimida e boa poderá superar. O valor e a
força interior vêm com as palavras inspiradas. “Aos bons,
aos teus filhos, darás palavras verdadeiramente verda-
deiras; darás palavras verdadeiramente verdadeiras aos
teus filhos de coração grande, para que falem em meio
a tudo o que se levanta sobre a terra”. (León Cadogan,
Ayvu Rapyta)
“Nossos Pais Primeiros me farão dizer repetidamente
palavras verdadeiramente verdadeiras para ser forte. Por-
que mesmo que nos amemos com sinceridade quando
deixamos que nosso amor se bifurque, nunca podemos
alcançar nem grandeza de coração nem força interior”.
(León Cadogan, Ayvu Rapyta)
A palavra é efetivamente para o Mbyá o objeto e o su-
jeito de sua arte, seu conteúdo e sua forma. O definitivo
de sua essência, de seu modo de ser, é a palavra, e toda
sua vida se estrutura para ser fundamento e suporte de
palavras verdadeiras.
Desde a criação do mundo e do homem, que é vista
como criação da palavra, até a morte de cada pessoa, que
é valorizada como grau maior ou menor de palavra rea-
lizada, o Mbyá só se entende a si mesmo em função da
palavra.
99
Nosso Pai último-último Primeiro,
entre as trevas primitivas,
fez que seu próprio corpo futuro se abrisse como flor.
As divinas plantas dos pés,
O pequeno apyka redondo,
Em meio às trevas primitivas,
Fez que se abrissem como flor.
(...)
Tendo florido (em forma humana)
Da sabedoria que havia em seu ser de céu
De seu saber que se abre em flor,
Soube para si em si mesmo
a essência da essência da essência das belas palavras
primeiras.
(León Cadogan, Ayvu Rapyta)
101
avásprechgesang, e depois de anos de estudos e viagens
a esses territórios hasta hoy muy pouco conocidos, reuniu
um belo acervo, milhares de fotos e mais de mil e duzentas
horas de gravações da arte verbal dos antigos habitantes
da região do Paraguai e suas fronteiras.
Hasta el momento, apenas uma ínfima parte del material
coletado por Sequera foi publicada em Assunção, como o
CD Paraguay: Música Mbyá-Guarani, que se encontra esgo-
tado, e que agora publicamos encartado neste livro, acom-
panhado de fotos e textos de Guillermo Sequera e textos
de outros colaboradores que ouviram os sons coletados
pelo antropólogo paraguaio e depois enviaram suas im-
pressões acerca da originalidade selvagem própria da arte
desses mbyás. As palavras, o fogo, a água, a beleza Mbyá,
têm qualidade de rocio em chamas e podem iluminar o fu-
turo do mundo. Se Guillermo Sequera se acomodasse em
seu gabinete, este livro não teria nascido. Vai ser legal ver
la originalidade de la belleza de la cultura Mbyá-Guarani
ajudando a iluminar este mundo cada vez mais comercial
y sem sentido.
103
León Cadogan — Extranjero, Campesino y Científico. Fundación
León Cadogan/CEADUC/CEPAG. 1998. Asunción, PY.
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SOBRE OS AUTORES