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S/éo ¥93
Presented to the
UmiARYofthe
UNIVERSITY OF TORONTO
by
Professor
Ralph G. Stanton
Estancias d' Arte
e de Saudade
Do mesmo autor;
/O
FIALHO D'ALMEIDA
Estancias d^Arte
e de Saudade
2.0 MILHAR
LISBOA
LIVRARIA CLÁSSICA EDITORA
DE A. M. TEIXEIRA
17, PRAÇA DOS RESTAURADORES, 17
1921
Tip. Sequeira. Limitada
114, R. José FalcSo, 122
PORTO
PELA GALLIZA
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ESTANCIAS d' ARTE E DE SAUDADE
«. «
—
PELA GALLIZA
«. L
PELA GALLIZA
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PELA GALLIZA 11
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PELA GALLIZA 15
* *
PELA GALLIZA 19
* *
Os arquitetos.
Todas ou quazi todas as igrejas româ-
nicas d'entre Minho e Douro, numerosas
ainda, se bem que pela maior parte detur-
padas, são obra d' artistas gallegos, e leo •
I
46 ESTANCIAS D'aRTE E DE SAUDADE
í
i
5o ESTANCIAS D* ARTE E DE SAUDADE
<Não ha
Uma coiza assim!
Pinl PinI Pin! Pin!
Uma coiza assim
Pinl Pin! Piu! Pin!
Não ha,
Nào ha! •»
«Não ha
Uma coiza assim!
PinIPin!...»
*
* *
gente.
Seguindo este sensatíssimo impulso, bem digno
d'um arcebispo de Veneza, terra da inverosímil for-
mozura, e que parece incrível que outros santos pa-
dres mais cultos não tivessem de ha muito anteci-
pado, deviam os nossos grémios d'arte e instrução
popular fazer campanhas tezas contra a idolatria
grosseira que continua a lavrar no povo, mercê da
bonecage grotesca de que estão cheios os templos
do paiz. Graças á incultura e também á falta de li-
berdade moral dos parochos, que são em alguns
districtos, cercados de delatores, apenas uns instru-
mentos do despotismo absurdo dos prelados, sucede
continuarem nos altares, expostos ás oblatas publi-
cas, monos de madeira, pedra, barro, cartão, farelo
mesmo, uns confecionados em vulto por santeiros
sem a menor ideia do modelado, nem o mais pe-
queno faro da proporção, outros erectos sobre es-
pantalhos de ripa, só cora cabeça e mãos de ser pri-
mate, e quo umas aias cretinas trajam de trapos
EM BRAGA — O BOM JESUS 69
A remoques
gritaria, os . .
FAMALICÃO 87
FAMALICÃO 89
— E virou!
— E bota vinho!
— E tanto como um kilosito de pão,
senhora Estrudes!
A moça desnalga n'um corropio, da
cosinha pr'a boca dos quatro comezanas,
que como diria o Junqueiro, são quatro
S. Vicentes de Fora, de quanto as ucha-
rias de hotel lhes vásam dentro. Rustem
os mariolões, laracheando, de tegumentos
álacres, d'olho babado e gestos prehenso-
res. Guardanapos e chão fazem chiqueiro
da ossada e pelamos da carniçaria que as
dentuças malham, por entre o infatigável
ranger dos malares furiosos, d'algum tar-
galho mais córneo resistir.
Na profundeza das fauces, as gorjas
fazem como glú-glús de sifão, a geito
d'esses que por cima das cloacas avisam
as ratazanas, d^agua vae.
— Ai que o Oscar fraqueja
— Fraqueja o que? pavão! Salta mur-
raça!
— E que mais ha, que mais ha por ahi
divina Estrudes?
— Entra a passar feijão, salada, couve
flôr...
:
90 estanciad'arte e de saudades
— Corvina d'escabéche...
— Senhora mãe, que eu arrebento!
— E mãos de vaca.
— Quem te cortou as mãos, divina Es-
trudes, certo não viu que e peor do teu
corpo eram os chispes.
—Fora, estardalhaço!
—Pois vôa por tudo isso depressa, e
depois d'isso traz outro tanto^ e ess'outro
tanto passado obraremos os quatro...
— Para você.
— Segundo fôr.
— E toma tudo!
— E meia volta!
Aqui já a risota circula, conquistando
os convivas : os dos bigodes, sabidos dos
brejos, tendo perdido o medo aos gentle-
men do Porto, tudo é competir com eles
e... primores.de voracidade e ingurgita-
ção alcoólica, do que dão prova seus olhos
sanguinolentos, farésios de pálpebra, e a
FAMALICÃO 91
O
custo por cabeça, d'este pantagrue-
lico banquete, espantaria os hoteleiros de
Lisboa, acostumados a fazer com metade
dos pratos, aproximadamente o dobro dos
interesses.
Famalicão, com o não ser praia nem
sita de refastelo jovial de forasteiros,
guarda nas contas das suas locandas a
modéstia patriarchal dos burgos galegos,
onde cada qual por quatro tostões pdde
almoçar um boi e beber pelos chifres a
adega em fio do locandeiro, sem isso
acrescer d'um ceitil a paga habitual.
A vila é grande e chã de solo, com
96 ESTANCIAS D'aRTE E DE SAUDADE
villegiaturas profanantes —
e logo os bons
ruraes labrdsticos e feios, malhando mi-
lho nas eiras, cortando lenha nas matas,
virando bouças para o grangeio das pró-
ximas cearas, os nossos bons ruraes de
focinho padréca, cambaios da enxada
quasi todos, com gibas de carga, lividos,
ossosos, mal vestidos de burel, pés de
cloaca, e trescalando o fartum de murraças
prehistoricas.
Chega a tomar foros de flagelo a por-
caria heróica de tal plebe, por forma que
espigariam cearas de prodígio se em cada
ano um banho de pés geral vertesse o
caldo á adubação de todos esses campos
sementeiros. Aparte a gente culta ou
rica, que é captivante por indole, e d'uma
intuição senhoril no geito de interpretar
a convivência, pode dizer-se o camponez
minhoto uma espécie d'ouriço retrahido,
laborioso, tenaz, sempre d'esculca, com a
paixão da terra e da chicana, uma lorpice
d'astucia na frialdade clara das pupilas,
amuralhado em rotina, com o pavor da
noite, e a superstição dos elfos diabólicos,
e sobre o capitulo de crenças traficando
com Deus como um cigano, que outra
SÃO TORCATO 107
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P
126 ESTANCIAS D'aRTE E DE SAUDADE
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128 ESTANCIAS D'aRTE E DE SAUDADE
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150 ESTANCIAS D* ARTE E DE SAUDADE
butidas em
paredes de casas modernas,
claustros d^ogiva, graciosas torrellas, pa-
lácios renascença, fortalezas romanas, mu-
ralhas fernandinas, inscripções, arcos, pas-
sagens medievas, que ó um não acabar
de surprezas históricas, de presuposições
românticas, d'escapadas no sonho e d'ae-
rostações pelo irreal.
A cada paragem em algum alto picto-
resco, terraço de templo, recanto de claus-
tro ou de jardim, o que sobretudo perturba
é a cabida singular que paira na cidade,
um de terra que á força de ter
silencio
visto tudo, matou em
si o alvoroço, de
EM ÉVORA 179
— Um claustro gothico a me
cobrir os
potes da zurrápa. Has-de gostar.
E era verdade A
adega do meu amigo
I
EM ÉVORA 183
O
convento dos Lóios, casa de S. João
Evangelista, é também uma das mais no-
táveis estações de peregrinação do foras-
teiro em cata d'obras d'arte. É dependên-
cia do Paço Cadaval, ou palácio das cinco
quinas, e occupa o recinto do antigo cas-
tello eborense, acabado de destruir por
occasião das luctas de 34. D. Rodrigo de
Mello, velho fronteiro d' Africa, e primeiro
conde d'01ivença, lhe pôz a pedra base,
esperando n^elle acabar seus dias, o que
Deus lhe negou, pois o mosteiro só con-
cluído foi nove annos depois de D. Rodrigo
ter passado.
Entra-se na igreja por um pórtico ori-
ginal, dos últimos arrancos gothicos, mol-
duras ogivaes e planos assentando em co-
lumnas de granito, com fustes de már-
more branco e depois que se foi dentro,
:
protege, em
decúbito dorsal, trajando ao
tempo, e com sua inscripção circuitando a
lamina de redor. A
mais rica abriga os
restos de D. Branca de Vilhena, mulher
de Ruy de Souza, senhor de Lagos, de
Beringel, e conselheiro d'el-rei Affonso V.
A figura da dama ocupa o centro, em pos-
tura de prece, um lebreu aos pés, com
colleira de guizos; por traz d'ella, fundos
d'architectura, flamhoyando, monges em
attitudes implorantes, e pilastras gravadas
aos lados com os symbolos dos Evangelis-
tas formando os cantos. A campa de D. Ruy
é menos historiada d'arrebiques, mas vê-se
o cavalleiro chapeado das malhas e ruti-
lantes placas da couraça, e em torno a um
fundo ornamental bastante simples, a ins-
cripção gothica, n'uma fita, debitando no-
mes, titules, e a era do trespasse (1400 e
tantos). A igreja não se pôde dizer de
vastas proporções, mas como o Espinheiro,
é um pantheon de guerreiros e benemé-
ritos gentis homens. No solo do cruzeiro, na
capella-mòr e capellas lateraes perto d'a-
quelle, as sepulturas históricas amontoam-
se, com seus brazões, lettreiros e figuras
estendidas. Ahi está a campa de D. João
190 ESTANCIAS D' ARTE E DE SAUDADE
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210 ESTANCIAS D*ARTB E DE SAUDADE
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920 ESTANCIAS D'aRTR R DB SAUDADE
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234 ESTANCIAS D'ARTE E DE SAUDADE
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236 ESTANCIAS D*ARTK E DE SAUDADE
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240 ESTANCIAS d' ARTE E DE SAUDADE
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342 ESTANCIAS D'aRTB B DE SAUDADE
^. d as
das a travar com outros ladrilhos quadrados, e
e em vez de chanfros, tinham uma saliência.
icente Barrantcs, investigador hespanhol, cita
como muito raros dois tijollos romanos achados
Merida, semelhantes a estes, e diferindo só
A largura.»
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244 ESTANOfAS D'ARTE E DE SAUDADE
I i
246 ESTANCIAS DUARTE E DE SAUDADE
I
252 ESTANCIAS D*ARTE E DE SAUDADE
• *
A
respeito do arco roraano que o car-
deal D. Henrique derribou para melhor
se vêr a fachada da igreja de Santo
Antão, reconstruida por elle, posto se
saiba ter sido sumptuosissimo, não ficou
desenho ou pintura, de sua trama, nem
de livro ou escripto se apura se seria
porta da cidade, ou simples grande arco
triumphal postado n^alguma estrada d4m-
portancia.
Sabe-se apenas que algumas das gran-
des coluranas que o exornavam, foram
pelo cardeal aproveitadas na sua Univer-
sidade (o edifício onde actualmente se
acha a Casa Pia) e que o arco se ergue-
ria talvez a meio da actual praça de Ser-
tório, um pouco além do chafariz, ou,
dizem outros, no sitio mesmo do chafariz.
Santo Antão soffreu duas reconstrucções:
da primeira escapou o arco, sendo da ul-
tima que o nobre monumento pereceu.
Sobre o destino d'elle, o Sr. G. Pereira
inclina-se a julgar que fosse porta, de-
fendida talvez pela torre da Rua Nova.
264 ESTANCIAS DUARTE B DE SAUDADE
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—
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262 ESTANCIAS D'aRTE E DE SAUDADE
I
—
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268 ESTANCIAS D'ARTE E DE SAUDADE
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272 ESTANCIAS D 'arte E DE SAUDADE
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â74 ESTANCIAS D'ARTE B DE SAUDADE
« *
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278 ESTANCIAS d'aRTE B DE SAUDADE
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EM ALVITO — o 0A8TELLO 279
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284 ESTANCIAS D* ARTE E DE SAUDADE
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286 ESTANCIAS D'ARTE E DE SAUDADE
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EM ALVITO — O CASTELLO 309
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310 ESTANCIAS D'ARTE fi DE SAUDADE
* *
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330 ESTANCUS D'aRTE E DE SAODADE
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344 ESTANCIAS D* ARTE E DE SAUDADE
* *
do Alemtejo, etc.
360 ESTANCIAS D'ARTE E DE SAUDADE
EM ALVITO — O CA8TELL0
nossa mae...
Os versos armavam uma espécie de
dialogo de pastores, onde um fingia o al-
voroço por saber quem fosse esse príncipe
brilhante como o sol, que despontara na
Cuba, e o outro metaforicamente lhe ex-
plicava as origens fabulosas da viagem, e
sas excelceza fulgentes do heroe, entre
copia d'allasões mytologicas e minuscule-
rias arcadicas ingénuas, que a boa mulher
certo colhera do Rodrigues Lobo ou João
Xavier de Mattos, n'algum surrado tomo
de pastoraes e dyctirambos.
A chronica refere que Joaquim Fir-
mino e Manoel Bonifácio, d^atrapalhados
co'a presença do rei, não tiveram saliva
avonde para lubrificar a gorja e dar curso
á lingua poética materna, e isto por não
poderem mexer a própria no paladar ro-
se co da comoção que lhes embargara o
n<5 vital. Também D. Pedro V perdeu uma
De sorte que se
goças, e dos briches...
não poder ser o moinho, venha uma lei
que torne por exemplo a saragoça obri-
gatória...
—Vádescançado, diz o monarcha sorrin-
do, e saúde em meu nome os do seu povo.
— Vou mas é explicar áquelles alarves
que o rei não é ahi nenhum papão que
meta espanto, e todos os portuguezes ga-
nham em ver de perto os príncipes que
os mandam. E com isto não enfado, Se-
nhor D. Pedro V; visitas á senhora rai-
nha, e aos meninos —
que eu não sei se
V. Real Maestade tem borregage...
Faz o rei que não com a cabeça.
—
Pois é preciso arranjal-a. Não ha
matrimonio feliz sem mulherdta poupada
e calças d'açoites nos petizes. Lá em mi-
nha casa tenho dez que não dou vestidos
nem calçados; pois se algum dia me fal-
tassem, perderia o único entretimento ale-
gre da vida, que ó todos os dias zurzir
uns três ou quatro.
Esporeou a besta, que n'um repoupo
deu costas, deflagrando sob os fraldões
do lençol, não sei que estrépitos festivos.
E meio voltado na albarda:
EM ALVITO — O CASTELLO 371
— Para eu ouvir I
— A sério?
—A sério.
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*
*
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406 B8TAN0IAS D'aRTE E DE SAUDADE
\
índice
Pela Galliza 5 a 25
De Vigo a Cangas 27 a 54
Famalicão 85 a 99 ,
P*g8.
'••;/-j-'''-í'U>^'
V ^'^-•*-.