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CARLINHOS BROWN 1

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Carlinhos Brown: [00:00:00] vou falar de um conciso, que vai embora.

Carlinhos Brown: [00:00:04] a [00:00:10] A lembrança que eu tenho de Escolástica é a


melhor possível. É uma lembrança a qual também me traz saudade [00:00:20] em
que o matriarcado não precisava ser considerado como empoderamento. A mulher
era respeitada e pronto! O que [00:00:30] ela dizia é lei, e é lei até hoje.

Carlinhos Brown: [00:00:34] Pois é. Foi sobre as doutrinas do Gantois que [00:00:40]
eu comecei a me inserir por exemplo nas congas, através de aulas que eu
tomava com Monica Millet, a sua neta e candidata a sentar naquela cadeira.
[00:00:50] mas menininha me trazia outras surpresas. Ela juntava do tropicalismo
a bossa nova ou a total [00:01:00] poesia do nosso encantado Vinícius de Morais,
parceiro de Pixinguinha, de Toquinho, [00:01:10] Caymmi. Gal, Caetano ... Todo
mundo estava ali e toda a Bahia estava sob a tutela dessa papisa. E porque
[00:01:20] não dizer uma liderança que até hoje ascende aquele tem respeito a
todas as doutrinas [00:01:30] e leis espirituais, não apenas ao segmento do
candomblé, mas que tem uma compreensão real o que significa deus. Que deus
não é uma [00:01:40] casa e não deus não está na doutrina de um pastor, de um
padre, de um babalorixá [00:01:50]. Ele está na coesão e aceitação do homem em
relação ao respeito dele ao outro e a natureza [00:02:00]. E mãe menininha,
escolástica nos ensinou isso.

Carlinhos Brown: [00:02:12] Sim ,todo mundo fala que o samba é clássico.
[00:02:10] Ora, tem 100 anos o samba, 101.

Carlinhos Brown: [00:02:17] O candomblé nasce com o homem, nasce com Omolu.
[00:02:20] Isso sim é clássico. São clássicos difíceis de cantar porque eles estão
guardado em linguagens e línguas. Então [00:02:30] mahy, ijexá...
Posso dizer o que o Gantois cantava. Uma coisa bonita do Gantois, que o
Gantois... [00:02:40] Vadinho Ferramenta... cantando para ela mesmo, pra Oxum.
Um canto bonito que ele fazia pra mãe menininha ... Que é ...

[00:02:49] [00:02:49]Carlinhos Brown batuca na mão


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[00:02:49] [00:02:49]Carlinhos Brown canta para Oxum


música conhecida

[00:02:49] Ora yeye mãe oxum. Uma forma de saudar aquela que não se esquece de nós
[00:03:20] porque Oxum não se esquece de nós nos dando água doce.
Agora a Bahia tá esquecida. Não [00:03:30] vai por presente no dique. São poucas
pessoas que vão ver isso. Eu não acho que mãe menininha está contente com isso
porque [00:03:40] tem seguimento mas também parece que a fé é uma instituição
dos homens e quando é necessário você [00:03:50] tem o seu quantitativo de fé
pra saber determinar e louvar certo aquilo que lhe dá esteio, que lhe dá laço,
[00:04:00] que ele dá lastro. Foi bom falar de menininha e falar que o presente de
dona Oxum no dique do Tororó que é o primeiro presente de Yemanjá já
[00:04:10] precisa de olhares. Eu quero dizer mais assim se unicamente a
prefeitura mandar um carro de trânsito e evitar [00:04:20] atropelar uma iyalorixá
daquela com 70 80 anos já ajuda então esse é um toque de menininha, da sua
escola pedindo para você prestar atenção. [00:04:30] Então o que nós queremos
dizer com tudo isso com candomblé e com o samba?

[00:04:36] O candomblé o clássico. O samba é um filho do terreiro.

Carlinhos Brown: O samba nasce no Brasil e se mistura divinamente.


Ele vem também como um clamor social. "O chefe da polícia pelo telefone
mandou me avisar". Falam [00:04:50] que esse é o primeiro samba mas acredito...

[00:04:55] [00:04:55] Carlinhos Brown toca cabula

[00:04:55] Cabula é samba. Que dá [00:05:00] origem ao samba de roda.


Já falei da cultura Angola olha que eu saí do Mahy, do Jeje, para Angola. E
[00:05:10] os terreiros têm sido devotos e verdadeiros manutenedores de cultura.
O samba [00:05:20] não existiria sem o terreiro... Ele não miscigenava sem o
terreiro. Poucas pessoas imaginam que o samba é um resultado da cultura judaica
com a [00:05:30] cultura de terreiro. Foram essas pessoas que se juntaram ali para
fazer. Então Palestina e Israel aqui já deu certo [00:05:40]! No samba. A gente já
se uniu através do samba. E quando o samba começa a dar voz sobretudo a uma
alegria ... Porque nós poderíamos ser um país [00:05:50] muito violento! Um país
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que foi escravizado. Em todos os sentidos. Nós poderíamos ser um país até ... É
violento, mas poderia ser muito mais violento do que é. A [00:06:00] ponto de
ninguém poder ter convivência. Não.

Carlinhos Brown: [00:06:03] Mas nós somos a graça das misturas. Nós somos
conduzido pela mistura. O samba foi esse responsável em cem anos.

[00:06:10] O Brasil tem 500 anos, o samba tem 100. Então nós fizemos uma revolução nos
ouvidos mundiais ... Porque [00:06:20] foi uma das últimas mistura de
acontecimento. O samba tá ... aos 70 anos nós demos o samba-reggae, nós demos
a timbalada. A Bahia por sua vez [00:06:30] começou a falar se o samba nasceu
na Bahia, o samba nasceu no Rio.

[00:06:34] O samba nasceu no mar! E quem trouxe o samba de lá foi a tribo


da maré. E essa [00:06:40] tribo ela pensou em alegria, ela pensou que as dores e
as mazelas oferecido pelo homem no sentido da escravidão poderia ser vencido
pelo canto, [00:06:50] pela beleza de trafegar um oceano.

Carlinhos Brown:: [00:06:53] Isso nos fez mais leve. Não mais comedidos no
sentido de que a escravidão nunca mais [00:07:00]! Mas quando o samba ganha a
cadência e se espalha pela América Latina, é cantado por Célia Cruz, mulher das
rainhas rumba. [00:07:10] Por sua vez é espanhola e é reafricanizada em Cuba.
Isso nos dá uma [00:07:20] visão muito positiva, de que a Bahia deu certo e que o
Brasil deu certo e as engrenagens que precisamos são poucas, ligadas à educação
[00:07:30] que perceba que o terreiro, que é o samba e que todas as outras
linguagens pertence a deus. E para o homem buscar essa paz ele tem [00:07:40]
que entender do samba sim. Ele tem que entender do terreiro, ele tem entendido o
catolicismo, do evangélico, do espiritismo, porque isso é um lugar que deus
[00:07:50] escolheu para suas misturas darem certo. No dia que deus fez o mundo
era mandou uma tinta pra lá, uma tinta pra cá, ele fez a [00:08:00] raça ariana, fez
a raça negra .. Raça não, etnia. Desculpe, quem tem raça é cachorro. Fez a etnia
ariana, fez a etnia negra, fez [00:08:10] os índios incas etc e depois escolheu o
Brasil pra misturar a todos.

Carlinhos Brown: [00:08:15] Gente, não vamos esquecer isso. Por quê. Porque
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quando a gente chega na [00:08:20] avenida, essa mistura se dá, por lúcida. Se dá
a cabo. Isso está acontecendo na Vai-Vai que eles estão tendo [00:08:30] essa
compreensão e faz uma leitura do Brasil através da Bahia. E a Bahia pode ler o
mundo. A Bahia pode ler através das [00:08:40] suas linguagens ... Toda cultura
grega, pode ler Anfião e Jubal, tudo de Zeus. Todo [00:08:50] o movimento pagão
e não-pagão. Nós temos essa capacidade. E outra. Quando eu chego às pessoas
gente e digo 'eu sou semianalfabeto' não [00:09:00] é para diminuir nem diminuir
a escola que eu fui. É pra dizer que a oralidade se faz forte. Por isso a Vai-Vai vai
apresentar para o Brasil [00:09:10] a força da oralidade. Porque você não encontra
nos livros. Você vai na internet, você não acha nada sobre ijexá. Mas pergunte a
um senhor de idade que ele vai [00:09:20] dizer. O que é duro de tudo isso é o
país não se dar conta que quando existe preconceitos e intolerâncias [00:09:30]..
Podem ter intolerância religiosa. Mentira!

[00:09:34] Não existe intolerância religiosa. Existe burrice em relação a conhecer o outro.
Quando [00:09:40] falo burrice no sentido não do burro ... Vou falar para
ninguém se ofender. Ignorância em relação ao outro. E a ignorância ela
transforma as pessoas [00:09:50] em mal educadas e a pessoa fica arrogante sim
acreditando em uma só verdade. Então vai ser muito difícil quando Deus bater na
porta, que você tiver diante dele ... Venha cá, eu lhe [00:10:00] mandei para terra.
Você aprendeu tudo? Porque Deus ensina uma coisa aos intolerantes, porque o
intolerante planta discórdia [00:10:10].

[00:10:11] Aquele que planta a discórdia. Esse sim é o diabo. Esse sim é que
Não pertence a deus. Porque ele não está querendo fazer que [00:10:20] o mundo
seja claro diante de um ser só. E quem é Deus pra nós do do terreiro do
candomblé? Esse mesmo. O que não quer o [00:10:30] menor abandonado e
sendo abusado sexualmente, não quer a mulher sendo maltratada, não quer guerra,
não quer a violência doméstica, [00:10:40] na rua, não quer nada que ofenda um
homem e que apenas o transforme em alma límpida e pura para que ele [00:10:50]
saiba compreender. E de uma vez por todas encontrar a eternidade, a paz que todo
mundo fica falando. Então [00:11:00] nós precisamos encontrar a eternidade e
estamos próximos porque deus deu o livre arbítrio para nós conhecermos. Mas
quando nós pecamos nos perdemos [00:11:10] em apenas ficar demonstrando o
defeito no outro...
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Não pense que Deus está perto de você, não.


Porque muitos chamam e não serão [00:11:20] atendidos porque Deus está nos
humildes. Naquele que ouve, aquele que presta, naquele que quer ajudar. Não
naquele que fica gerando o conflito [00:11:30] o tempo inteiro.

[00:11:31] Ora, sejam vai-vai. Sejam carnaval! E digam comigo:


[00:11:40] Viva Mãe Menininha do Gantois, do canto b, do canto c, do canto d ...

[00:11:46] [00:11:46] Carlinhos Brown levanta e sai de quadro

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