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ARTIGO

O COMPUTADOR COMO INSTRUMENTO DE APOIO NA ASSISTÊNCIA


E ADMINISTRAÇÃO DE ENFERMAGEM*
The computer as a support tool in the ·assistance and administration of nursing

Yolanda Oora Martinez évora 1


Carmem Gracinda Silvan Scochi'
Beatriz Regina Lara dos Santos2

RESUMO ABSTRACT

A introdução de ferramentas informacionais diri- The introduction of informatic tools directed to the
gidas ao apoio da Assistência e Administração pode- Assistence and Administration's support will be able
rão trazer importantes benefícios para a Enfermagem to bring important benefits to Brazilian Nursing. Ba-
brasileira. Baseando-se na literatura americana, os au- sed on American literatura the authors expose some
tores expõem algumas das aplicações específicas do specific applications of the computer in the assisten-
computador nas atividades assistenciais e administra- ce and administration's actives of nursing, demostra-
tivas de enfermagem, demostrando as várias manei- ting the various ways to these actives, in oder otimi-
ras de utilizá-lo para otimizar a assistência prestada ze the assistence rended to t he patient.
ao paciente.

UNITERMOS: informática, Enfermagem. KEY WORDS: informatic, Nursing.

1 INTRODUÇÃO tuições do Brasil. Seu objetivo é manter a arte da en-


fermagem. O processo é descrito por vários círculos
A adoção da tecnologia computacional no cam- envoltos uns nos outros. No centro, o círculo ponti-
po da enfermagem vem sendo julgada por muitos co- lhado representa o enfermeiro, que está cercado por
mo irrealista e demasiado inovadora. Entretanto, outro círculo representando atitude e percepção. O en-
considerando-se a realidade presente, esta tecnologia fermeiro e a atitude e percepção estão no centro de-
é perfeitamente compatível com uma ótica de melho- vido à necessidade eminente de alterar as atitudes
ramento da qualidade dos cuidados aos pacientes. complacentes atuais ou as percepções que a maioria
Observa-se que os avanços dessa tecnologia têm- dos enfermeiros têm com relação à tecnologia com-
se verificado tanto em termos de hardware como no putacional e seu efeito no cuidado ao paciente e no
tocante ao software (Cietto, 1986). Ao enfermeiro não futuro da enfermagem. A falta de envolvimento do en-
cabe discutir a tecnologia de produtos e nem a tecno- fermeiro no desenvolvimento tecnológico ocorre por-
logia de produção; cabe, sim, deter-se na tecnologia que não se tem uma conscientização sobre como a
de serviços, que traz a adequação do seu uso. O im- tecnologia afeta o cuidado prestado ao paciente. À me-
portante é fazer do computador um instrumento de dida que os enfermeiros se tornarem cientes deste fa-
trabalho. to, eles envolver-se-ão e interessar-se-ão pelo desen-
Adams (1986). interessado nos fatores necessá- volvimento da tecnologia computacional.
rios para assegurar que a tecnologia seria usada so- Todos os enfermeiros, sejam educadores, admi-
mente como um auxiliar da enfermagem, desenvolveu nistradores, assistenciais ou pesquisadores, devem tra-
um esquema (Fig. 1) que pode ser utilizado nas insti- balhar para assegurar que esta conscientização acor-
ra. O círculo no esquema representa a necessidade dos
enfermeiros obterem conhecimento sobre a tecnolo-
Trabalho apresentado no curso "A INFORMÁTICA NA ENFERMA- gia computacional por meio de cursos formais. O cir-
GEM" no XXXIX Congresso Brasileiro de Enfermagem, Salvador, culo seguinte representa a necessidade dos profissio-
Bahia, Novembro de 1987. nais de enfermagem estarem envolvidos na seleção
1
Professoras assistentes da Escola de Enfermagem de Ribeirão Pre-
to da Universidade de São Paulo.
e planejamento da tecnologia. O envolvimento no pla-
2 Professora·assistente da Escola de Enfermagem da Universidade
nejamento ou implantação da nova tecnologia favo -
Federal do Rio Grande do Sul. rece a compreensão, a aceitação e o domínio. Desta

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O computador... Evora, Y. O. M. et ai.

forma o profissional, como está representado no cír- A introdução do computador na área assistencial
culo seguinte do esquema, deve revisar e analisar to- de enfermagem já data de algumas décadas. Mesmo
da a tecnologia que por ventura venha a ser introduzi- aqui no Brasil, vem-se utilizando já há muito tempo
da no sistema. A enfermagem deve, por tanto, avaliar equipamentos computadorizados na assistência ao pa-
e questionar o impacto de qualquer tecnologia nova ciente.
no seu campo de atuação. Nos Estados Unidos, desde os anos 60, os admi-
O último círculo externo do esquema sugere que, nistradores hospitalares têm mostrado a possibilida-
dentro de qualquer instituição, deverá haver uma co- de de automatizar as atividades de cuidados de saú-
missão para supervisionar a compra ou o desenvolvi- de; além disso, os equipamentos tornaram-se mais so-
mento da tecnologia computacional. Esta comissão fisticados, e os fabricantes têm reconhecido o poten-
deverá ser composta por membros representativos dos cial de venda no mercado de cuidados de saúde (Han·
departamentos dentro da organização. nah, 1976).
O objetivo deste trabalho é mostrar, por meio de O maior enfoque nesta década estava no uso de
revisão da leitura, os recursos informacionais existen- computadores para a pesquisa em cuidados de saú-
tes para a otimizacão da assistência e administracão de. Alguns projetos foram realizados para justificar o
em enfermagem. · · custo inicial da automação e para demonstrar as vá-
rias possibilidades de uso do computador para facili-
tar e melhorar o cuidado ao paciente.
Ao mesmo tempo, um número maior de enfermai-
ras americanas começaram a reconhecer o potencial
dos computadores para melhorar a prática da enfer-
magem e a qualidade do cuidado prestado ao pacien-
te, .especiÇtlmente para facilitar os registros ou anota-
ções, o plano de cuidado, a monitoração do paciente,
o inventário e as comunicações (Andrioli, 1985, Han-

I
/ --- ' \
nah, 1976, Knight, 1970, Labranche, 1987, Rees,
1978, Schank, 1987, Walters, 1986).
I
I Baseando-se em autores americanos, serão abor-
\ dados a seguir algumas das aplicações específicas do
' --- /
computador na prática da enfermagem.

Registro automatizado

As anotações de enfermagem são geralmente lon-


gas, narrativas, manuscritas, apresentando observa-
ções imparciais. Muitas vezes são inexatas, inconsis-
tentes, incompletas, contendo somente o trivial "bem;
sem queixas".
Segundo Hannah (1976), Happ (1983), Knight
Fig. 1 Esquema ilustrando o processo para manter a (1970), Rosembag (1986), e Walters (1986),
arte de enfermagem na idade computacional (Adams, encontram-se desenvolvidos alguns modelos para re-
1986) gistro automatizado das observações de enfermagem,
dentre os quais o denominado "Computer-readable
form", usado freqüentemente como relatório sobre as
1. Enfermeiro condições do paciente ou o seu comportamento, que
2. Atitude e percepção são ordenadas sob um título geral - por exemplo, em
3. Conhecimento do computador um estudo usando a anotação de enfermagem auto-
4. Envolvimento profissional de enfermagem, seleção matizada com os seguintes títulos: "hábit o de sono
e planejamento da tecnologia e alimentação", disposição de ânimo", "aparência" ,
5. Revisão da enfermagem e análise das disciplinas etc. O grupo de frases sobre sono e alimentação po-
médicas e outras - introdução de tecnologia deriam incluir as seguintes opções; "dorme durante
6. Tecnologia institucional - Comissão de Direção o dia"; "queixa-se de ser incapaz de comer"; não fez
Médico - Enfermeiro - Administrador - Paciente a refeição"; "não tomou o café da manhã"; "dormiu
bem"; "comeu bem"; "dorme inquieto durante a noi-
2 O COMPUTADOR NA ASSISTÊNCIA te"; "acorda cedo". O enfermeiro assinala as alterna-
DE ENFERMAGEM tivas que melhor retratam as condições do paciente,
sendo estas informações processadas pelo computa-
Para os enfermeiros proverem a qualidade do cui- dor; o resultado, impresso em relatório, é anexado ao
dado de enfermagem agora e no futuro, eles devem prontuário do paciente.
ser capazes de ver o computador como uma ferramen - Outro modelo já desenvolvido por Hannah (1976),
ta de trabalho (Andrioli, 1985). Happ (1983), Knight (1970), Rosemberg (1986) e Wal-

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ters (1986) consta de um formulário ramificado. Esta Estas vantagens, transferidas para a prática de en-
forma utiliza um terminal que é ativado por um tecla- fermagem, são fundamentais para um melhor plane-
do, exibindo uma lista de múltipla escolha. Por exem- jamento e avaliação mais precisa dos cuidados pres-
plo: quanto às condições da pele de um paciente (Fig. tados ao paciente.
2 ), o enfermeiro seleciona sua resposta e a indica pres-
sionando SIM ou NÃO, no teclado; se a pele estiver Plano de cuidado computadorizado
intacta, nenhuma outra questão complementar sobre
a sua integridade aparece no visor, e o enfermeiro po- O plano de cuidado computadorizado ajuda os en-
de começar a registrar as observações de outros as- fermeiros a avaliar a qualidade dos cuidados ao pa-
pectos acerca do paciente. Procedimento diferente é ciente.
realizado se a pele não estiver intacta, ou seja, o ter- Na maioria das instituições de saúde, o plano de
minal exibe uma lista de novas opções - por exem - cuidado de enfermagem está colocado no Kardex, ou
plo, o computador apresenta opções de escolha entre em alguma ferramenta similar, sistemas que apresen-
úlcera e ferida. Novamente o profissional seleciona sua tam algumas desvantagens, pois as anotações nele
resposta e continua o procedimento para o registro de contidas podem estar desatualizadas, ilegíveis, ou ser
informações complementares até ter dados suficien- inconsistente ou incompletas. Acresça-se que, na
tes sobre o problema do paciente maioria das vezes, esta atividade realizada pelo enfer-
meiro não fica registrada nos prontuários dos pacien-
tes, não retratando a evolução do plano de cuidado.
I 1 11 rc 1 o De acordo com Hannah (1976) e Walters (1986),
t existem dois tipos gerais para a automação do plano
I CONDIÇÕES DA PELE de cuidados de enfermagem. No primeiro modelo, exis-
te um arquivo de dados no c·omputador com os cui-
t
I IIHACTA
dados de enfermagem que podem ser prescritos para
um paciente. O enfermeiro, diante desta listagem, as-
t t sinala, as ações de enfermagem a serem realizadas pa-
ra determinado paciente. Estas informações são, en-
GJGJ tão, processadas pelo computador, e a impressão do

~ r-~-!-1
plano de cuidados é efetivada. A outra alternativa é
- S-:A:-01 1
P_O_D_E_LE
estruturar um plano de cuidados único que reúna as
necessidades dos pacientes, guardá-lo no banco de

t + t
,....(J_L_CE_R...:.A'II F ER I DA I ....
, E-SC_O_R_IA_Ç_Ao,l
memória do computador e, então, adaptá-lo individual-
mente para cada paciente. Walters (1986), juntamen-
te com uma comissão composta por quatro enfermei-
ros, desenvolveu vários planos de cuidados específi-
+ t t t t t cos para cada patologia. Assim, ao se internar um pa-
0 00 G0 0 ciente diabético, por exemplo, os enfermeiros já têm
t um plano-de-cuidado-padrão que será então .adapta-
do às necessidades do paciente recém-admitido,
LO CAL I
fazendo-se desta forma, as modificações necessárias.
Em ambos os modelos, o enfermeiro é quem pla-
Fig 2 Questionário ramificado.
neja e avalia o plano de cuidados, que deverá ser exe-
cutado por toda a equipe de enfermagem.
Pode-se também automatizar outros tipos de re- É importante acrescentar que, segundo Hannah
gistros de enfermagem, como o histórico ou anamne- (1976), quando o plano de cuidados é computadori-
se para levantamento de problemas e de inf ormação zado, os enfermeiros ficam liberados para dispender
sobre o paciente, tais como: condições de habitação, mais tempo junto aos pacientes, além de poderem in-
situação familiar, higiene, hábitos, alimentação e ou - cluir dados complementares em suas prórias inven-
tros, onde as questões já estão estruturadas com res- ções, bem como revisar e imprimir o plano de cuida -
postas de múltiplas escolha. dos a qualquer hora.
Estas formas de registros apresentam algumas
vantagens, como o aumento do número de observa- Sistema de monitoração computadorizada
ções à beira do leito; a maior precisão e confiabilida-
de das observações; a maior leg ibilidade (uma vez que O monitor de variáveis fisiológicas é o mais anti ·
as anotações tomam menos tempos para serem lidas, go computador com aplicação na medicina que os en·
são interpretadas com maior precisão e melhor utili- fermeiros tiveram maior interação. Na maioria dos ca-
zadas); a rapidez na escrita das anotações; o foneci- sos, os sistemas de monitoração de pacientes são aná-
mento imediato de análise estatística, podendo ainda logos aos sistemas do computador que automatica-
ser utilizada como ferramenta de ensino por fornecer mente mede e registra numerosos sinais vitais atra-
um guia para observações (Knight, 1970, Rosenberg, vés do uso de instrumento e dispositivos unidos dire-
1986). tamente ao paciente (Andrioli, 1985).

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Alguns sistemas de monitoração com computa- da computação. Na verdade, a literatura de enferma-


dor digital permitem ao enfermeiro usar o equipamento gem está ainda pedindo que estes profissionais se en-
como monitor, bem como realizar cálculos necessá- volvam no planejamento e implementação da tecno-
rios para determinar a resposta apropriada, como por logia computacional no campo dos cuidados da saúde.
exemplo, a velocidade de infusão, os dados da função A linguagem da enfermagem necessita somente
cardiovascular, as dosagens de antibiótico e a moni- unir-se à linguagem da tecnologia a fim de que tenha
toração dos sinais vitais do paciente. um sistema planejado para si.
Os monitores computadorizados modernos po-
dem também ser programados para reconhecer des- 3 O COMPUTADOR NA ADMINISTRAÇÃO DA
vios ou erros do padrão admitido e para alterar o pes- ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
soal presente do erro encontrado, por meio de um alar-
me ou luz. Desta forma, o equipamento, "livra" o en- A introdução de ferramentas informacionais, di-
fermeiro do papel de um técnico que vigia e permite- rigidas ao apoio da administração poderão trazer im-
lhe focalizar a atenção no paciente. Poupa também a portantes benefícios para o gerenciamento de uma
equipe de tarefas repetitivas e torna mais precisos os Unidade de Internação. Espera-se que um sistema au-
diagnósticos e tratamentos. tomatizado de informação resulte em uma evidente
Happ (1983), em um artigo publicado na revista melhoria da racionalidade organizacional, dos serviços
"Nursing Management", discutiu as vantagens e des- e dos mecanismos de controle gerencial, bem como
vantagens dos computadores nos cuidados de enfer- em beneffcio para o paciente.
magem aos pacientes. Como vantagens, esse autor De maneira geral, os centros que se voltam para
comenta que os computadores são precisos e econo- a informática o fazem por três motivos principais, a
mizam tempo, dinheiro e energia. Através da automa- saber: diminuição dos custos, aumento da qualidade
ção, pode-se minimizar o desenvolvimento do enfer- dos cuidados e avanço na educação e pesquisa, sen-
meiro em atividades indiretas. Por exemplo, a docu- do que a maioria dos estabelecimentos vinham de iní-
mentação de gráficos é facilitada quando este profis- cio ao encontro da computação com vistas ao primeiro
sional registra os dados no computador simultanea- objetivo.
mente ao procedimento que está sendo realizado. Tem- É verdade que um sistema computadorizado po-
po e enrgia são assim economizados por parte da equi- de racionalizar a gerência de um estabelecimento, uma
pe de enfermagem, que não precisa se desgastar pro- vez que assegura um melhor planejamento dos recur-
cura anotações perdidas ou atualizando registros. sos humanos, materiais e financeiros. Se é verdade
Para este autor, uma vantagem do uso dos com- que o computador pode reduzir o número de pessoas
putadores é o aperfeiçoamento do cuidado ao pacien- necessárias em certos setores, ele pode, por outro la-
te. Reconhece-se hoje que a incorporação da tecno- do, necessitar de intervenção de uma nova classe de
logia computacional no tratamento de pacientes em trabalhadores especializados.
estado crftico tem resultado no decréscimo da taxa de Um dos papéis importantes da informatização é
mortalidade e diminufdo o risco de complicações. O a libertação do enfermeiro das tarefas rotineiras e a
uso desta tecnologia tem desempenhado um papel vi- ampliação de sua capacidade de reflexão e criati-
tal na enfermagem como um meio de avaliar as mu- vidade.
danças e alterações nas condições do paciente.
As desvantagens discutidas por Happ (1983) são Sistemas de informações gerenciais
provavelmente aquelas discutidas por muitos daque-
les que vêem as ramificações negativas da tecnolo- Para Romano (1986), a utilização do computador
gia. Assim, esse autor questiona se os computadores no serviço de enfermagem vem aliviar o enfermeiro da
não desumanizaram os cuidados aos pacientes. Co- tarefa de transcrever ordens, fazer requisições, dividir
mo Happ (1983), muitos profissionais citam a desu- ordens no Kardex, preparar fichas médicas e contro-
manização da assistência como a principal razão para lar todas essas tarefas manuais para corrigir possíveis
desencorajar a introdução contfnua da tecnologia com- erros de transcrição ou processamento.
putacional no cuidado de saúde. Este sistema provê várias informações para a to-
Entretanto, é importante reforçar que o computa- mada de decisão pelo administrador de enfermagem,
dor, diferentemente dos enfermeiros, é capaz de co- entre elas: o controle de qualidade, a classificação de
letar, armazenar e escolher grande quantidade de da- pacientes, as escalas de pessoal e a distribuição de
dos que ajudam no tratamento do paciente. Longe de serviços, bem como registros e relatórios.
desumanizar, o computador libera o enfermeiro das CONTROLE DE QUALIDADE: de acordo com Ciet-
"papeladas" adm inistrativas e oferece-lhe a disponi- to (1986), é o processo pelo qual se- estabelece e se
bilidade necessária para planejar os cuidados perso- mantém a qualidade da assistência de enfermagem
nalizados e estar mais presente junto ao paciente. prestada.
Uma outra ~desvantagem citada pelo autor é que A capacidade do computador de recuperar, suma-
os profissionais são muitas vezes confundidos pelos rizar e comparar grandes volumes de informações ra-
computadores como resultado da falta de exposição pidamente, torna-o um extraordinário instrumento para
e conhecimento dos mesmos. os administradores de enfermagem, responsáveis pe-
É verdade que os enfermeiros não são cientistas lo controle de qualidade.

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Sabe-se que diversos hospitais, tanto nos Esta- Além disso, o computador também pode ser uti-
dos Unidos como no Canadá, já estão implementan- lizado no Centro Cirúrgico (no controle diário das sa-
do sistemas de auditoria computadorizados (Cietto, las de operações), no controle de infecções hospita-
1986). lares, na educação em serviço e treinamento de pes-
soal, bem como na educação do paciente.
Classificação de pacientes, escalas e distribuição
de serviços
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estas atividades geralmente tomam grande parte
do tempo dos enfermeiros e supervisores que o fazem Diante de todo este contexto, o enfermeiro
manualmente. encontra-se face a um desafio decisivo: conquistar sua
Há vários sistemas de classificação de pacientes independência através da sistematização de seus co-
e de escalas de pessoal que levam em consideração nhecimentos embasados no conhecimento técnico-
a gravidade ou grau de dependência do paciente, a científico e nas atuais mudanças tecnológicas.
quantidade de trabalho na Unidade e pessoal neces- As atividades de enfermagem estão sujeitas a um
sário, de acordo com o seu nível de qualificação e es- constante processo de renovação e de adaptação, im-
pecialização profissional. O mais antigo e o mais usa- pulsionado por novas descobertas; por isso, seus pro-
do sistema de classificação de pacientes distribuiu os fissionais devem ser sempre orientados para um aper-
recursos de enfermagem para grupos de pacientes. Es- feiçoamento de métodos e técnicas, de normas e ro-
sencialmente, um sistema de classificação de pacien- tinas de modo a atingir seu objetivo primordial: pres-
tes agrupa os pacientes para um número de catego- tar assistência de alta qualidade.
rias de cuidados comumente expressas como inten- Espera-se que a introdução de um sistema auto-
siva, intermediária e mínima, de acordo com os requi- matizado de informação e comunicação resulte em
sitos de cada grupo. Desde 1960, os sistemas de clas- uma evidente melhoria da racionalidade organizacio-
sificação de pacientes vem sendo adaptados, modifi- nal, dos serviços e dos mecanismos de controle ge-
cados e ampliados (Schank, 1987). rencial em benefício do paciente.
A escala de pessoal automatizada, para Cietto Para Brisiebois (1986), a i~formática deverá ser
(1986), apresenta muitas vantagens, tais como: faci- percebida como um instrumento confiável, capaz de
lidade no recrutamento e maior satisfação no traba- assessorar o enfermeiro no acompanhamento de suas
lho; economia de tempo; imparcialidade na atribuição atividades clínicas, educativas, administrativas e de
das folgas e mudanças de plantões; possibilidade de pesquisa. Tal tecnologia representará, seguramente,
documentar as relações entre quantidade de pessoal, um papel determinate na atualização da enfermagem
grau de dependência dos pacientes e qualidade da como profissão.
assistência prestada.
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cisão'', pode-se incluir o amplo uso da informática na
Endereço do autor: Yolanda Dora Martinez Êvora
administração de materiais, requisições e controle de Author's address: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
medicamentos, bem como no controle da manuten- Campus Universitário
ção de equipamentos. CEP 14049 - Ribeirão Preto - SP

Rev. Gaúcha de Enfer.. Porto Alegre, 12(1): 41-45, jan. 1991 45

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