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Colóides

I – Introdução

Distinguir uma mistura homogênea de uma heterogênea, nem sempre é simples. Não é uma
distinção absoluta, pois existem sistemas que não são claramente homogêneos ou heterogêneos. Tais
sistemas são classificados como intermediários e conhecidos como Dispersão Coloidal ou,
simplesmente Colóide.
Um sistema coloidal é aquele em que pelo menos um dos componentes tem pelo menos uma
dimensão entre 1 a 100 nm (1 nm =10–9 m). Nesse intervalo incluem-se os agregados de íons ou
moléculas (micelas) e as macromoléculas (proteínas e polímeros). As dispersões coloidais situam-se
intermediariamente entre as SOLUÇÕES (mistura homogênea) e as SUSPENSÕES (mistura
heterogênea). O quadro abaixo compara algumas propriedades dos três tipos de sistemas dispersos:

PROPRIEDADE DISPERSÕES DISPERSÕES SOLUÇÕES


GROSSEIRAS COLOIDAIS VERDADEIRAS
Tamanho da Partícula Maiores do que 100 nm Entre 1 e 100 nm Menores do que 1 nm
Visibilidade Partículas visíveis ao Partículas invisíveis ao Partículas invisíveis ao
microscópio comum microscópio comum, são microscópio eletrônico
identificáveis em micros-
cópio eletrônico
Filtração Partículas retidas nos Partículas passam atra- Partículas passam mes-
papéis de filtro comuns vés dos poros de filtros mo em ultrafiltros
comuns, mas são retidas
em ultrafiltros – membra-
nas semipermeáveis
Difusão As partículas não difundem Aas partículas difundem As partículas difundem
lentamente rapidamente

As partículas numa dispersão coloidais são suficientemente grandes para que exista uma
superfície de separação definida entre elas e o meio onde estão dispersas. Logo, dispersões coloidais
simples são sistemas de duas fases. As fases recebem os nomes de: fase dispersa ou simplesmente
disperso (é o agregado de partículas ou macromolécula de dimensões coloidais) e o meio dispersante
ou simplesmente dispersante (é o meio, constituído de partículas menores (íons ou moléculas), onde se
encontram as partículas coloidais).
Os sistemas coloidais existem nas células vivas, proteínas, ácidos nucleicos, polissacarídeos,
sangue e seiva vegetal. Existem ainda nas areias, argilas, ácidos húmicos constituintes do solo e nos
materiais sintéticos como plásticos, borrachas, detergentes, corantes e lubrificantes. A gama de
sistemas coloidais de importância prática é vasta. Assim como a gama de processos que se apoiam
fortemente na aplicação de fenômenos coloidais (fenômenos de superfície) também é vasta. Alguns
exemplos são: Detergência, Tratamento de Esgoto, Troca iônica, Condicionamento de solos.

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Pelas aplicações de sistemas coloidais podemos observar que a existência de matéria no estado
coloidal pode ser desejada ou indesejada. Sendo assim é importante conhecer como se prepara e como
se destrói um sistema coloidal.

II – Classificação de Sistemas Coloidais


II.1) Quanto ao estado físico do disperso e do dispersante:

Fase Meio Nome Exemplo


Dispersa Dispersante

Líquido Gás Aerossol Líquido Nevoeiro; Spray Líquido

Sólido Gás Aerossol sólido Fumaça; Poeira

Gás Líquido Espuma Espuma em solução de sabão;


Extintor de espuma

Líquido Líquido Emulsão Leite; maionese

Sólido Líquido Sol; gel Sol de Au; Sol de AgI, Sol de amido,
tintas e gelatina.
Gás Sólido Espuma sólida Poliestireno expandido, Pedra Pomes

Líquido Sólido Emulsão sólida Opala; pérola; manteiga

Sólido Sólido Sol sólido Plástico pigmentado, vidros, plástico

Caracteriza-se sol como o sistema coloidal onde o disperso é sólido e o dispersante é líquido,
sem forma definida, predominando o estado líquido. Ex.: tintas, gomas
Gel é um sistema coloidal de um disperso sólido em um dispersante líquido, de forma definida,
predominando o estado sólido. Um gel é um tipo incomum de colóide no qual o líquido contém um
sólido disposto em um fino retículo que se estende através do sistema. Exemplo: gelatina, sílica gel,
precipitado de Al(OH)3.
A transformação de sol em gel pode ocorrer por evaporação do dispersante.

II.2) Quanto à afinidade disperso-dispersante:


– Colóides liófilos: são colóides cujas partículas dispersas apresentam grande afinidade pelo
dispersante. Quando o dispersante é a água, o colóide chama-se hidrófilo.
Ex.: amido em água, proteína em água, gomas.
– Colóides liófobos: são colóides cujas partículas dispersas apresentam pequena afinidade pelo
dispersante. Se o meio de dispersão for a água , usa-se o termo hidrófobo.
Exemplo: enxofre em água, cloreto de prata, etc.
Os sóis liófilos são mais estáveis que os sóis liófobos.

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II.3) Quanto à natureza das partículas dispersas:

– Colóides micelares: quando as partículas coloidais são agregados de moléculas, íons ou


átomos.
Exemplo: hidróxido férrico, enxofre em água.
– Colóides moleculares: quando as partículas coloidais são macromoléculas.
Exemplo: amido em água, borracha em benzeno, etc.

III – Formação de Partículas Coloidais


A formação de partículas coloidais pode se dar por: 1. Métodos de Dispersão ou 2. Métodos de
Condensação.

III.1) Métodos de Dispersão – a substância se desagrega em partículas cada vez menores até
que atinja o tamanho coloidal. Pedaços grandes de matéria podem com frequência ter seu tamanho
reduzido por meio de: ) moinhos coloidais (usado na pulverização de pigmentos para tintas ou para
maquiagem), )
 batida e agitação mecânica (usado na preparação de emulsões e espumas como
maionese e nata batida).
Em alguns casos as partículas maiores podem desintegrar-se mediante reagentes químicos –
este processo denomina-se Peptização e o reagente que provoca o processo é chamado agente
peptizante. Por exemplo, o hidróxido de sódio faz com que a argila se desagregue e forme uma
dispersão coloidal em água.

III.2) Métodos de Condensação – a formação de neblina pelo agrupamento de moléculas de


água é um exemplo.
A formação de substâncias insolúveis a partir de soluções é outro exemplo.
NaCl (aq) + AgNO3 (aq) → AgCl (s) + NaNO3 (aq)
Na2S2O3 (aq) + H2SO4 (aq) → S (s) + SO2 (g) + Na2SO4 (aq) + H2O (  )

IV – Estabilidade das Dispersões Coloidais

Quando se agita vigorosamente uma mistura de água e azeite pode obter-se uma dispersão
coloidal de azeite em água ou água em azeite. As gotículas coalescem rapidamente em gotas maiores
que se separam formando uma camada superior de azeite que flutua sobre a água. Neste caso, para
obter-se uma dispersão coloidal estável deve evitar-se a agregação das pequenas partículas para
formar uma partícula maior. Isto se consegue por dois métodos: autoestabilização ou estabilização por
um componente adicional.

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IV.1) Autoestabilização – alguns dos sistemas coloidais mais importantes se formam
espontaneamente e são estáveis. A gelatina, o amido, a cola e o sabão formam com facilidade
dispersões coloidais estáveis em água. Quando essas substâncias são colocadas em água seus grupos
polares, presentes em cadeias apolares de átomos de carbono, tendem a formar interações fortes com
a água, isto é favorecem a formação de uma solução. Já a parte orgânica da molécula, que é repelida
pela água, desfavorece a formação da solução. Essas forças opostas, a favor e contra a solução,
tendem a organizar as moléculas em partículas, de tal forma que as forças semelhantes entre os
diferentes tipos de grupos dentro da molécula sejam favorecidas.
Nessas partículas autoestabilizadas existe um delicado equilíbrio em que intervêm as forças
atrativas de moléculas diferentes (por exemplo sabão-água) e as forças atrativas entre moléculas
semelhantes (por exemplo sabão-sabão e água-água). Quando as forças atrativas de moléculas
diferentes se sobrepõem às forças atrativas entre moléculas semelhantes, forma-se uma solução
verdadeira. Já quando o contrário acontece (forças atrativas entre moléculas semelhantes se
sobrepõem às forças atrativas de moléculas diferentes) há uma natural aglomeração de moléculas
semelhantes, se forma espontaneamente uma dispersão coloidal.
Os colóides que são autoestabilizados em água se chamam colóides hidrófilos. Observe que
uma substância coloidal que é liófila com respeito a um líquido pode ser liófoba com respeito a outro.
Por exemplo, o amido é liófilo com respeito à água e liófobo se o dispersante é gasolina

IV.2) Estabilização por adição de um componente – em uma dispersão coloidal, como azeite-
água em que as forças atrativas de um mesmo tipo de moléculas (água-água e azeite-azeite) são mais
fortes que as forças atrativas das moléculas de água pelas das moléculas de azeite, obtém-se um
colóide hidrófobo, a dispersão coloidal é instável e para torná-la estável adiciona-se um outro
componente.
O componente necessário para a estabilização do colóide hidrófobo pode ser: ) um colóide
protetor, )
 íons adsorvidos ou )
 pó finamente dividido.
) Estabilização por um colóide protetor: o sabão atua como colóide protetor quando é utilizado
para lavar objetos engordurados. A gelatina o colóide protetor na fabricação de dispersão de brometo
de prata para películas e papéis fotográficos. Também é utilizada na preparação de sorvetes para evitar
a formação de partículas grandes de açúcar ou gelo.
Os colóides protetores também são importantes na estabilização de emulsões (dispersão coloidal de
dois líquidos imiscíveis). Nestes sistemas recebem o nome de agentes emulsificantes.
)
 Estabilização mediante adsorção de íons: A adsorção é um fenômeno no qual as moléculas,
átomos e íons se aderem à superfície de sólidos ou líquidos. As substâncias adsorvidas são retidas
sobre a superfície por forças de Van der Waals ou mediante ligações de valência em camada que
normalmente tem a espessura não maior do que uma molécula (ou íon) – uma unicamada. Vejamos a
adsorção de íons: ouro coloidal pode ser preparado por um processo de condensação submetendo uma
solução quosa de ácido cloroáurico à ação de um agente redutor, como o cloreto de ferro (II).

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HAuCl4 + 3 FeCl2 → Au + 3 FeCl3 + HCl

Quando se formam, os átomos de ouro se agrupam formando cristais de ouro de tamanho coloidal. Os
átomos de ouro na superfície destes pequenos cristais de forma irregular exercem forças atrativas
intensas sobre os íons negativos, de modo que cada partícula de ouro resulta carregada negativamente.
Devido à adsorção dos íons negativos as partículas coloidais de ouro se repelem mutuamente. Essa
repulsão impede que cheguem a entrar em contato, evitando assim a posterior coagulação que faria a
precipitação do colóide. Observem que a superfície da partícula coloidal está, na realidade, coberta por
uma camada dupla de íons. A primeira é uma monocamada de íons negativos mantida na superfície da
partícula por forças relativamente intensas. A segunda é mais difusa e não é bem definida, se compõe
principalmente de íons de carga oposta – o contraíon – aos da primeira camada. A camada de
contraíons é retida com menos intensidade pela partícula, o contraíon está provavelmente solvatado e
tem liberdade para movimentar-se com certa independência da partícula coloidal. Os íons da primeira
camada é que determinam a carga da partícula coloidal.
)
 Estabilização por pó finamente dividido: Existem muitos casos em que as emulsões se
estabilizam mediante a adição de pós finos. Por exemplo, as emulsões de óleo em água se estabilizam
por argila, cal, carbonato de cálcio, vidro moído e piritas. Já as emulsões de água e óleo se estabilizam
por carbono.

V – Propriedades dos Colóides

V.1) Movimento Browniano – é o movimento lento e desordenado das partículas coloidais devido
ao constante choque com as moléculas do dispersante. Este movimento é responsável, em parte, pela
estabilidade do colóide.

V.2) Efeito Tyndall – é a reflexão da luz pelas partículas coloidais.

V.3) Adsorção – é a retenção superficial de substâncias presentes no meio pelas partículas


coloidais.
As partículas coloidais apresentam cargas positivas ou negativas devido a adsorção de íons em
sua superfície. Os íons mais fortemente adsorvidos são aqueles que são comuns ao próprio colóide.
Por exemplo: as partículas coloidais de cloreto de prata apresentam carga negativa ou positiva, o sinal
da carga depende do íon adsorvido. Quando o cloreto de prata é precipitado em presença de excesso
de íons cloreto, as partículas apresentam carga negativa. A carga das partículas será positiva se o
cloreto de prata se forma em presença de excesso de íons prata. As cargas negativas e positivas são
causadas pela adsorção de íons cloreto e prata, respectivamente.

Essas partículas carregadas tendem a envolver-se com íons de carga oposta a delas. Pode-se
admitir, então, que existam duas camadas elétricas ao redor da partícula coloidal:
- primeira camada é causada pela adsorção e confere carga ao colóide;

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- segunda camada é difusa e equilibra eletrostaticamente a camada anterior, sendo constituída
de íons da solução. Como foi visto na seção IV.2..


Em coloídes moleculares a carga elétrica é devida à ionização de certos grupos, ácidos ou


básicos, presentes nas macromoléculas. Exemplo: proteínas.

V.4) Eletroforese: é o movimento das partículas coloidais em direção ao polo positivo ou


negativo quando submetidas à passagem da corrente elétrica. Conforme o sentido da migração para um
ou outro eletrodo, identifica-se a carga como negativa ou positiva da partícula coloidal.

VI – Diálise
A diálise baseia-se na propriedade que tem as membranas semipermeáveis de se deixarem
atravessar pelos íons e moléculas e não deixarem atravessar as partículas coloidais.
Quando uma dispersão coloidal contendo eletrólitos é separada do solvente puro por meio de
uma membrana semipermeável, somente os eletrólitos passam para o solvente.

VII – Floculação ou Coagulação


Floculação ou coagulação é a agregação das partículas coloidais por efeito da adição de
substâncias ou de outros fatores externos (por exemplo: agitação, aquecimento ou resfriamento).
O colóide flocula quando a expulsão das duplas camadas de cada partícula se reduzir o
suficiente para predominar as forças atrativas de Van der Waals. Exemplo: floculação do colóide de
Fe(OH)3
As partículas coloidais de Fe(OH)3 floculam por adição
de eletrólitos que neutralizem as cargas positivas, uma vez que
o colóide de Fe(OH)3 adquire carga positiva devido à adsorção
do íon comum Fe+3. Este processo é esquematizado na Figura
ao lado.
A facilidade com que um coloíde flocula pode ser
prevista pela regra de Schulze-Hardy: “a concentração do
eletrólito capaz de causar floculação depende
consideravelmente da carga elétrica do íon de carga oposta a
do colóide”.
O colóide de Fe(OH)3, sendo positivo, flocula mais facilmente em função da carga negativa dos
íons adicionados, conforme a tabela abaixo:

Eletrólito Carga do íon Concentração


KCl −1 0,1 mol.L-1
K2SO4 −2 0,003 mol.L-1
K3Fe(CN)6 −3 0,0001 mol.L-1

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A tabela mostra que o efeito floculante do íon −3 é mil vezes maior do que o efeito floculante do
íon −1.
A coagulação dos colóides liófilos ocorre com muita dificuldade e a adição destes aos colóides
liófobos, aumenta a estabilidade dos últimos. O colóide liófilo é chamado então de colóide protetor.
Exemplo: a gelatina (colóide liófilo) adicionada a um sol de prata (colóide liófobo), aumenta a
estabilidade deste último.

VIII – Emulsão

É a dispersão de um líquido em outro, sendo os dois imiscíveis. Emulsão contém gotículas de


diâmetro que variam entre 0,001 a 0,050 mm, são sistemas dispersos com gotículas “grandes”. Mas
com o uso de máquinas especiais para emulsificação e homogeneizadores é possível preparar
emulsões com gotículas “pequenas” que possuem diâmetro em torno de 0,0001 mm. As emulsões são
muito importantes do ponto de vista industrial. Às vezes o objetivo é a obtenção e estabilização de uma
emulsão, enquanto em outros casos deseja-se a sua quebra, ou seja a sua destruição.
Dois tipos de emulsão podem ser distinguidos:

- tipo óleo em água (O/A), que conduz a corrente elétrica, já que a fase contínua é a água. Pode
ser diluída com água e colorida por corantes solúveis em água.
- tipo água em óleo (A/O), que não conduz a corrente elétrica, já que a fase contínua é o óleo.
Só pode ser diluída por óleo ou líquidos lipofílicos e podem ser coloridas por corantes solúveis em óleo.

Exemplos práticos de emulsões:- Leite in natura, - maionese, - emulsão de asfalto, - petróleo


natural.

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