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GRANDE LOJA SO ESTADO DO MARANHÃO

A.’. R.’. L.’. S.’. CAVALEIROS DA FRATERNIDADE Nº 64

O PAINEL DO COMPANHEIRO MAÇOM

Resumo

Este estudo se dedica à análise do painel do grau de Companheiro Maçom, examinando


seus componentes e simbolismo. Uma investigação diacrônica será conduzida, rastreando
sua evolução desde os estágios iniciais até sua estabilização. Além disso, serão exploradas
as mudanças no painel que refletem as transformações nos rituais maçônicos,
acompanhando o desenvolvimento e a consolidação da Maçonaria Especulativa.

Palavra-chave: maçonaria, painel do grau, companheiro maçom

Ir.’. Cássio de Almeida Soares C.’. M.’.


ID: 5709
São Luís – MA, 18 de março de 2024
GRANDE LOJA SO ESTADO DO MARANHÃO
A.’. R.’. L.’. S.’. CAVALEIROS DA FRATERNIDADE Nº 64

A análise material pode ser compreendida como uma investigação dos elementos
físicos, priorizando os significados visuais e deixando, inicialmente, de lado as
interpretações simbólicas. Ao examinar os símbolos, essa abordagem concentra-se
primeiramente na aparência física dos elementos, fornecendo assim uma base para a
análise de seu simbolismo. Dessa forma, ao explorar a história da Maçonaria, a análise
material focaliza-se na disposição da Loja, seus painéis e paramentos. Esta perspectiva é
considerada fundamental para compreender as mudanças rituais que ocorreram na
Maçonaria nos séculos XVIII e XIX, contribuindo para a consolidação e perpetuação do
caráter especulativo da Ordem. No entanto, isoladamente, essa abordagem não seria
suficiente. É apenas uma ferramenta que pretendemos utilizar como base para a
compreensão da simbologia maçônica. As transformações iconográficas estão
diretamente ligadas às revisões dos rituais e à reformulação do entendimento do
simbolismo dos graus. Nesse sentido, a disposição do templo e seus elementos simbólicos
e usuais evoluem ao longo da história da Maçonaria, até a consolidação de seu caráter
especulativo, que persiste até os dias atuais. Essas mudanças não ocorrem de forma
isolada, mas estão associadas a transformações que atendem tanto às necessidades
internas quanto externas da Ordem. O uso do painel dos graus acompanha naturalmente
essas transformações.

Figura 1: Imagem do Painel de Companheiro do Rito


Adonhiramita nos dias Atuais.
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BREVE HISTÓRICO:
A decoração dos templos com painéis começou a se popularizar no século XVIII,
por volta de 1745, quando esses painéis eram originalmente conhecidos como planos de
loja1. Naquela época, o termo "plano de loja" era utilizado para descrever a disposição
para a recepção de Aprendizes-Companheiros ou Mestres. Durante esse período, os graus
de Aprendiz e Companheiro Maçom eram bastante próximos. Antes de 1780, as lojas
frequentemente admitiam Aprendizes e Companheiros na mesma sessão, e a elevação
para o grau de Companheiro ocorria pouco tempo após a iniciação. De acordo com os
Rituais do Marquês de Gages (1763), a elevação para o segundo grau poderia ocorrer no
mesmo dia da iniciação, levando o recém-iniciado a realizar mais duas viagens ao redor
da Loja e reintegrando-o. Durante esse procedimento, eram ensinados os passos
característicos do Companheiro: um passo lateral em direção ao Meio-Dia, outro em
direção ao Setentrião e o último em direção ao Oriente, simbolizando sua jornada pelos
quatro pontos cardeais. Nesse contexto, o "plano de recepção" (ou painel) também
começou a ser referido como "quadro".
O ritual do grau de Companheiro Maçom começa a se consolidar nas últimas
décadas do século XVIII, especialmente com o desenvolvimento do Rito Escocês e do
Rito Francês. Nos Rituais do Duque de Chartres (1784) e no Regulateur du Maçon (1786),
a cerimônia de recepção no segundo grau consiste em cinco jornadas simbólicas, ao final
das quais o iniciado é convidado a subir os cinco degraus no tapete da loja, representando
sua entrada simbólica no templo para contemplar a Estrela Flamejante. Este processo todo
é impregnado de simbolismo relacionado ao número 5: o número de degraus, de jornadas
e de pontas da estrela. A simbologia representa o ser humano em sua jornada de
aprendizado, com seus erros e acertos, buscando o aprimoramento moral e intelectual.

Figura 2: Painel Aprendiz-


Companheiro, 1745.

1
Cabe ressaltar que, na origem, os painéis de grau eram espécies de tapetes pequenos colocados
no chão ou, em alguns casos, desenhos.
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A consolidação do ritual do Companheiro Maçom eventualmente resulta em uma


separação natural entre os graus de Aprendiz e Companheiro, criando uma distinção entre
os painéis associados a esses graus. Em "La Maçonnerie des Hommes" (1785), já são
apresentados dois painéis distintos, sendo que no painel do Companheiro, a Estrela
Flamejante é incluída, posicionada centralmente no oriente, entre o sol e a lua. É nesse
período que surge a necessidade inicial de padronização dos painéis utilizados nas Lojas.
No entanto, em "Tullieur de Vuillaume" (1820), ainda há pouca diferenciação entre os
painéis do Aprendiz e do Companheiro.
A introdução dos Graus Simbólicos do REAA ocorre em 1804, marcando o
surgimento das primeiras representações gráficas normativas dos modelos de painéis
utilizados nas Lojas. Na França, o Companheiro ascende no templo através de cinco
degraus e contempla a Estrela Flamejante; enquanto na Inglaterra, ele executa
inicialmente seu último trabalho como Aprendiz Maçom com a Pedra Bruta, antes de
subir os degraus e vislumbrar a estrela. Portanto, na França, as cerimônias de elevação e
as reuniões das Lojas de Companheiro Maçom eram realizadas à entrada do templo,
enquanto na Inglaterra, ocorriam em seu interior, o que significava que o Companheiro
não precisava entrar novamente no templo, pois já estava dentro. Essa distinção justifica
a inversão das colunas J e B no painel: durante a cerimônia de elevação, na França, ao ser
convidado a contemplar a entrada do templo, o Companheiro olharia de fora e veria a
coluna J à sua esquerda e a coluna B à sua direita; enquanto na Inglaterra, olhando de
dentro do templo, veria a mesma ordem, pois as colunas estariam invertidas.

ELEMENTOS DO PAINEL E SUA SIMBOLOGIA:

A geometria dos quadros assume uma forma consolidada com um retângulo


pitagórico, cujos lados estão relacionados na proporção de 3 por 4. Devido ao avanço do
pensamento científico, os pontos cardeais iniciáticos (Oriente, Ocidente, Setentrião e
Meio-Dia) foram substituídos pelos pontos cardeais profanos (Norte, Sul, Leste e Oeste).
Nos primeiros painéis do Companheiro Maçom nas lojas do Rito Escocês, o número de
degraus ainda variava entre cinco e sete. Gradualmente, essa variação foi definida em
cinco para o Companheiro e três para o Aprendiz. Além disso, a representação da porta
do Templo de Salomão também varia, com algumas mostrando-a aberta e outras fechadas.

1- A ESCADA DE JACÓ: de origem bíblica, está presente em poucas lojas, muito


embora exista em algumas lojas, esculpida em frente ao altar, no Oriente. No topo da
escada há uma estrela de sete pontas, que simboliza da ascensão em direção ao mundo
espiritual. Ela representa a fé, a segurança e a esperança. Ela não está presente em
todos os painéis do grau de Companheiro.
2- AS COLUNAS J E B: como já mencionado, estão invertidas e tinham inicialmente
três romãs, como no painel de Aprendiz, mas são posteriormente substituídas pelas
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esferas terrestres (coluna B) e celeste (coluna J) e há um Delta radiante na entrada do


templo, em cima do portão. Essa substituição surge também no Tuilleur de
Vuillaume. As esferas referem-se à dualidade espírito-matéria.

3- AS TRÊS JANELAS: têm as grelhas mais abertas do que no painel do Aprendiz.


Isso porque o Companheiro tem suporte para receber mais luz.

4- ESQUADRO E O COMPASSO: estão entrelaçados, simbolizando que o


Companheiro está dando um passo para dentro da Ordem, mas o completará quando
da sua exaltação.

5- AS JÓIAS MÓVEIS: esquadro, nível, prumo, malhete, cinzel, régua e alavanca;

6- JÓIAS FIXAS: pedra bruta, pedra polida e prancha de traçar.

O nível e o prumo estão um ao lado do outro, centralizados no painel e abaixo do


esquadro. O nível simboliza a igualdade de condições dos seres humanos. O prumo
revela a desigualdade, no sentido das hierarquias e lideranças, pois ocupa a dimensão
vertical. O esquadro está sobre o nível e dividido em duas exatas metades pelo prumo.
O conjunto desses três elementos simboliza a divisão dos poderes e o equilíbrio na
edificação interna, onde todos são iguais e assumem postos de poder rotativos, que sempre
devem se moderar entre si. A prancha de traçar é um instrumento do Mestre Maçom.
Simboliza a memória. As paralelas cruzadas representam o quadrado delimitador e os
ângulos opostos, a transcendência. O malhete e o cinzel ficam ao lado da coluna B,
cruzados. É um conjunto já presente no painel de Aprendiz Maçom como instrumentos
para desbastar a pedra bruta. O malhete imprime a força e o cinzel, a modelagem, ou seja,
representa a combinação entre a força e a educação, o polimento. A régua e a alavanca
são alusão à terceira viagem do Companheiro Maçom. A régua tem 24 polegadas,
representando as horas do dia, ou seja, a disciplina de trabalho do maçom e a alavanca, a
retidão moral e o desejo de um homem livre para construir um mundo justo e perfeito. O
conjunto delas representa então o trabalho justo e disciplinado sempre em prol da
liberdade, igualdade e fraternidade.

A PEDRA BRUTA E A PEDRA POLIDA são símbolos fundamentais nos dois graus.
Trata-se do caminho de aprimoramento que o Aprendiz Maçom trilha para chegar a
Companheiro e se aprimorar até a exaltação.
O SOL E A LUA aparecem na parte superior, o sol à direita e a lua à esquerda. Entre eles
está a Estrela Flamejante. O sol é a luz ativa, irradiante e a lua, a luz passiva, reflexa. O
companheiro maçom está entre elas. A ESTRELA FLAMEJANTE é a característica do
grau, representante da transição, característica do Companheiro Maçom.

A CORDA DE SETE NÓS circunda o painel e se abre no Ocidente, simbolizando que a


Maçonaria está aberta a novos integrantes e à sociedade. A corda simboliza a cadeia de
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união. Sete é o número da conclusão. Numero da perfeição, anso que Salomão passou
para construir e consagrar o templo e as SETE Artes.

O PAVIMENTO MOSAICO é característico do Templo de Salomão. Na sua medida


ideal o comprimento é o dobro da largura. Uma das leituras do seu quadriculado xadrez
é a harmonia dos opostos, ou seja, a pluralidade de entendimentos é necessária para que
se componha um todo diverso, mas unido.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES:
Em 1829, uma nova edição do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) foi lançada pelo
Supremo Conselho da França, intitulada "Anciens Cahiers 5829", que estabelecia a
simbologia das jornadas do Companheiro. Essas jornadas deveriam fazer referência aos
Cinco Sentidos, às Cinco Ordens da Arquitetura (dórica, jônica, coríntia, toscana e
compósita), às Sete Artes Liberais (Trivium: gramática, lógica e retórica; e Quadrivium:
aritmética, música, geometria e astronomia) e às Duas Esferas (terrestre e celeste), sendo
esta última de natureza deísta. A dualidade presente nas Artes Liberais e nas Duas Esferas
representava a harmonia entre matéria e espírito, com as artes do espírito contidas no
Trivium e as da matéria no Quadrivium. Da mesma forma, a Esfera Celeste representava
o divino, enquanto a Terrestre representava o humano.
Desde 1829 até os dias atuais, o painel do grau de Companheiro permaneceu praticamente
inalterado. No final do século XIX, com o surgimento dos ideais positivistas, o rito passou
por algumas alterações que visavam eliminar seu caráter simbólico, as quais foram
posteriormente revertidas. As principais mudanças ocorreram na quarta jornada, que por
um tempo simbolizou os filósofos Solon, Sócrates, Licurgo e Pitágoras, e na quinta
jornada, que passou a ser uma exaltação à liberdade e glorificação do trabalho. Essas
modificações foram de curta duração, talvez tão breve quanto a própria influência do
pensamento positivista.
Na década de 1950, a Grande Loja da França incorporou algumas características anglo-
saxônicas em seus rituais com o objetivo de obter reconhecimento pela Grande Loja
Unida da Inglaterra. Uma das padronizações foi adotar a posição invertida das colunas no
painel dos graus de Aprendiz e Companheiro (coluna J à direita e B à esquerda).

CONCLUSÕES:

Ao longo dos anos, o grau de Companheiro Maçom evoluiu, adquirindo uma


característica distintiva: a transição. Na Maçonaria, o processo de aprimoramento é
contínuo. No entanto, o Companheiro Maçom alcança um estágio de desenvolvimento
que o prepara para avançar para o grau de Mestre Maçom, marcando o término da
primeira fase de sua jornada nos graus simbólicos. Em seguida, ele pode optar por
explorar os graus filosóficos, se desejar. O painel do grau de Companheiro Maçom é
verdadeiramente uma alegoria: possui um aspecto retórico, no sentido de que através da
interpretação simbólica de seus elementos, ele esclarece o caminho a ser percorrido pelo
Companheiro Maçom. Os símbolos de retidão, divisão de poderes, aprimoramento moral
e intelectual representados no painel convergem mais uma vez para os ideais maçônicos
que me fascinam e me motivaram a redigir este trabalho: cultivar o conhecimento,
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promover o aprimoramento intelectual, combater a ignorância, resistir à tirania e lutar


pela liberdade, igualdade e fraternidade de maneira abrangente. Sem esses princípios,
nossa reunião não teria sentido algum.

REFERENCIAS:

GUIGUE, Christian. 2010. La Formation Maçonnique. Paris : Guigue, 2010.


LEADBEATER, C. W. Pequena História da Maçonaria. São Paulo : Pensamento.
LIRA, Jorge B. 1964. As Vigas Mestras da Maçonaria. Rio de Janeiro : Aurora, 1964.
NAUDON, Paul. 1994. La Franc-Maçonnerie. Paris : Presses Universitaires de France,
1994.
SANTOS, Joaquim G. O Quadro na Loja de Companhiero no REAA: História e
Simbólica. academia.edu.

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