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Toledo, 20/11/2017

Grande Loja do Paraná, Estrela do Oeste I, n0 24


C.’.M.’. Everson Zotti

A PRANCHETA DA LOJA

Numa Loja Maçônica encontramos vários símbolos que decoram seu interior.
Algumas dessas peças, denominadas “joias”, representam física e espiritualmente os
fundamentos maçônicos. Assim são as joias móveis, representadas pelo Esquadro, o
Prumo e o Nível, as quais ficam a guarda do Venerável Mestre, do Primeiro Vigilante e
do Segundo Vigilante, respectivamente. São chamadas “móveis” por serem passadas a
essas autoridades a cada mudança de posição em Loja.
As joias fixas são outros três ornamentos, sempre presentes e inerentes, que
simbolicamente fundamentam a loja como o fazem os alicerces de um edifício, sendo
por isso fixas. Essas joias são representadas pela Pedra Bruta, a Pedra Polida (cúbica)
e pela Prancheta.
Na visão simbólica, a Prancheta é interpretada como sendo a Sabedoria, onde
o Mestre projeta, ilustra e ensina o oficio da Arte Real. A Prancheta é, portanto, o
instrumento de aprendizagem do neófito, como o quadro negro é para os alunos o objeto
que transpõe para a visão concreta, a abstração do conhecimento do mestre.
Segundo o Ritual do Grau de Companheiro Maçom do Rito Escocês Antigo e
Aceito, a prancheta “relaciona-se com os Mestres, cuja autoridade se baseia no talento,
de que dão provas, e no exemplo, que devem dar”.
As outras duas joias fixas relacionam-se ao Aprendiz – Pedra Bruta - e com o
Companheiro – Pedra Polida.
A Prancheta da Loja é um símbolo que aparece nos painéis dos ritos Escocês
Antigo e Aceito, Rito Brasileiro e Rito Adonhiramita, em seus rituais do primeiro e
segundo graus.
No Rito Adonhiramita, no ritual do segundo grau, nas instruções aparece com o
nome de Pedra de Riscar. No Rito Moderno ou Francês, no ritual do terceiro grau, em
suas instruções é citada como Pedra de Traçar.
O Rito de Schröder possui em seu Tapete ou seu painel simbólico, o qual é único
para os três graus, a 47ª Proposição de Euclides que é considerada simbolicamente no
Rito como a Prancheta. Segundo instruções desse Rito, o Venerável Mestre de uma
Loja Operativa preparava os planos através da Prancheta. Referências sobre a
Prancheta existem nos rituais dos graus um e três desse Rito. No ritual do terceiro grau,
o Venerável pergunta: Onde trabalham os Mestres? E a resposta é: na Prancheta para
com a Régua da Verdade, o Esquadro do Direito e o Compasso da Obrigação,
executarem seus projetos. No Rito de Schröder, a Prancheta não traz como no REAA,
a chave do alfabeto maçônico.
Simbolicamente na Prancheta, ou prancha a traçar, os mestres gravavam ou
traçavam os planos estabelecidos, bem como as lições para os aprendizes e
companheiros.
Importante é não confundir Prancheta (Joia Fixa) com Painel do Grau (da Loja),
ou com a Carta Constitutiva (da Obediência da Loja). O Painel da Loja condensa por
Grau toda a senda iniciática e é exposto somente após a abertura dos trabalhos da Loja.
Já a Prancheta sempre se apresenta fixa ou imóvel, o que lhe dá à conotação de um
código de moral e ética, exposta diuturnamente no canteiro para a compreensão de
todos.
Os manuais da Grande Loja do Paraná não citam a localização ou descrevem
algo sobre a Prancheta. Essa, nas Grandes Lojas, é simbolicamente representada pelo
Altar do Venerável Mestre.
Na literatura encontramos várias citações definindo a localização e formas para
a Prancheta. Abaixo alguns relatos encontrados conforme alguns ritos:
- “Em Loja, a Prancheta deve estar no Oriente, ser feita de madeira ou outro
material, estar posicionada em cima de um cavalete ou adaptada em um local próximo
ao Altar ocupado pelo Venerável Mestre, cuja face gravada fica voltada para o Ocidente.
Possui formato retangular (literalmente como uma prancheta mesmo) com medidas
aproximadas de 50 cm de altura por 35 cm de largura, deve estar encostada à frente e
ao lado esquerdo do Altar ocupado pelo Venerável (de quem do Ocidente olha para o
Oriente). A Carta Constitutiva da Loja também pode ser exposta encostada na frente do
Altar, porém à direita de quem do Ocidente olha para o Oriente”.
- “A Prancheta é um “retângulo” sobre o qual são indicados os esquemas que
constituem a chave do alfabeto maçônico – a chave das letras, mecanismo que aparece,
originalmente na misteriosa face esquerda da secular Pedra Cúbica Piramidal,
considerada a base essencial da Maçonaria e figura de todos os conhecimentos
humanos. O esquema alfabético maçônico moderno (alemão e inglês) e medieval, que
figuram na Prancha de Traçar, lembram ao maçom que ele sempre deve traduzir seu
pensamento de uma forma maçônica, trabalhando com retidão”.
- “Símbolo da memória, alegoricamente demostra o lugar onde o Mestre traça os
planos da obra. Nela são gravados os emblemas das paralelas cruzadas (o que subsiste
e é limitado) e a Cruz de Santo André em formato de um “xis” (o ilimitado e o infinito).
Os dois ideogramas figurativos também são a chave para o alfabeto maçônico. ”
- “Na prancheta podem estar inseridos dois sinais: a) uma cruz quádrupla (quatro
cruzes latinas cristãs) constituída por duas paralelas cruzadas, símbolo do limitado e
também daquilo que homem pode realizar; b) uma cruz de ângulos opostos pelos
vértices, símbolo das díadas e também do infinito. Esta cruz é em forma de X (xis) e
conhecida como cruz de Santo André. Esta cruz, para os maçons esotéricos, simboliza
a união do mundo superior com o mundo inferior. A cruz, representada por duas
paralelas cruzadas, dá as posições das primeiras dezoito letras. A cruz em X (xis), dá
a posição das quatro últimas letras. Este símbolo também contém a chave do alfabeto
maçônico, o qual todos os maçons deveriam conhecê-lo e usá-lo.”
No Painel Alegórico do Aprendiz Maçom, a Prancheta da Loja aparece como

Prancha de traçar (N0 11).


Pairam dúvidas também sobre a tradução correta da palavra “Prancheta”.
Hercule Spoladore e Pedro Juk comentam que Castellani considera a Prancheta como
Tábua de Delinear (tracing board) e seria para ele no REAA todo o painel do grau, igual
ao Trabalho de Emulação. Ainda citam outros autores que acreditam que somente o
símbolo Prancheta constante do painel simbólico e a sua representação física no oriente
seria a Prancheta em si e não Tábua de Delinear. A tradução de prancheta do português
para o inglês, segundo Anatoli Oliynik, citada pelos mesmo autores, seria clip board e
não tracing board.
Na sequência, publicações inglesas, americanas e australianas sobre a
prancheta ou cliping Board / tracing boards. Essas citações a seguir se confundem com
as explicações sobre os “Painéis da Loja”.
A Prancheta levou várias décadas para chegar no padrão atual. Inicialmente, um
desenho de giz era feito pelo Mestre ou o Venerável Mestre na mesa ou no chão no
centro das “tabernas” ou Lojas Maçônicas. No final do trabalho, o novo membro
costumava ser obrigado a apagar o desenho com um esfregão, como demonstração de
sua obrigação de segredo.
Embora as várias Grandes Lojas fossem geralmente hostis à criação de
quaisquer representações físicas do Ritual e dos símbolos do Ofício, o negócio
demorado de redesenhar os símbolos em cada reunião foi gradualmente substituído por
manter um "pano de chão" removível para exibição dos símbolos ou porções que
poderiam serem expostas de acordo com a agenda.
Na segunda metade do século XVIII, os símbolos maçônicos estavam sendo
pintados em uma grande variedade de materiais removíveis que vão desde pequenas
lajes de mármore até as telas, servindo para dar uma exibição simbólica mais decorativa
e elaborada. Em meados do século XIX, as Tracing Boards tornaram-se bastante
comuns, e uma variedade de formas e desenhos diferentes foram exibidos no chão ou
outros verticalmente.
O trabalho de Kerkin, G. sobre História da primeira Prancheta da Loja (The History
Of The 1st Tracing Board) descreve que ela foi usada pelos operários para
estabelecer o plano e o projeto para o prédio que ia ser construído. Ele acredita que
estavam em uso nos antigos países do Oriente Médio muito antes do Templo do Rei
Salomão ser planejado e construído. É frequente encontrar relatos que as atuais
Pranchetas foram evolução dos panos ou tapetes das Lojas. Esse mesmo autor
escreve que não é estritamente verdade dizer que as placas tomaram o lugar do
“Pano de Assoalho”, pois as placas também foram colocadas no chão e cada uma
pode ser usada para diferentes fins rituais. Gardner Kerkin sugere que a história dos
Panos e Placas é paralela e evolutiva.
À medida que a prática se tornou melhor organizada, em vez de ter que marcar
e depois limpar as marcações e os símbolos, a informação foi colocada em um pano
que poderia simplesmente ser desenrolado antes da reunião e enrolado na conclusão
dos trabalhos. Gardner escreve: “A medida que o conceito se tornou mais popular, os
símbolos maçônicos foram adicionados aos desenhos, seguidos por panos individuais
conforme os diferentes graus de trabalho. Os artistas se tornaram mais ambiciosos e,
ao invés de ter meros contornos básicos, eles transformaram os panos em obras de
arte por direito próprio. Isso levou a uma situação em que alguns Panos de Piso eram
tão trabalhados e caros que ninguém queria caminhar sobre eles. Por causa disso,
eles foram pendurados em exibições como pinturas convencionais.
Alguns tapetes ou panos eram grandes, as vezes pesados, precisavam
cavaletes ou tabuas para sustentação e isso tudo gerava problemas para o transporte
e armazenagem. Esse problema foi resolvido com a criação de painéis menores e mais
fáceis de serem transportados. Esse modelo de “tracing board” é usado até os dias
atuais.
Nunca houve uma padronização das Pranchetas e várias modelos foram
produzidos e estão em uso nas Lojas.
Abaixo e na sequência imagens e modelos de Pranchetas (Tracing Boards):
1- The Master's Tracing Board. Dominion Regalia Catalogue.
2- Floor Cloth. Dated 1764 of the Lurgan Lodge (Grand Lodge of Ireland)...
3- Floor diagram reproduced from The Three Distinct Knocks. London: 1760.
4- Prancheta do Mestre
5- First Degree Tracing Board. Hand-painted on wood. 1819
6- Second Degree Tracing Board. Hand-painted on wood. 1819
7- Third Degree tracing board dating from c.1876
8- A Masonic initiation. Paris, 1745
A Prancheta da Loja retrata o templo interno da nossa loja, seus símbolos e seus
significados operativos na pura arte de edificar ou de construir. Cabe a nós Maçons,
interpretarmos e transportarmos tais símbolos para nossa vida cotidiana com vistas a
construção do nosso “Templo Interior”, trabalhando as nossas virtudes, desbastando as
nossas arestas mundanas com vistas a galgar os degraus da perfeição.
Fontes consultadas:
1-Grande Loja do Paraná, Ritual do Grau de Companheiro Maçom, Supergraf -Gráfica
e Editora, Curitiba, PR. Fev 2017, pg 47.
2-http://iblanchier3.blogspot.com.br/2016/02/a-prancheta.html Acesso dia 13/11/17
3-http://iblanchier3.blogspot.com.br/2015/03/prancheta-da-loja.html Acesso em
14/11/17
4-http://www.revistauniversomaconico.com.br/tempo-de-estudos/prancheta-da-loja/
Acesso 16/11/17
5-https://focoartereal.blogspot.com.br/search?q=prancheta+da+loja, Acesso em
17/11/17
6- http://www.freemasons-freemasonry.com/claudy2.html, Acesso em 18/11/17
7- https://en.wikipedia.org/wiki/Tracing_board, acesso em 18/11/17
8_http://themasonictrowel.com/Articles/degrees/Tracing_Boards/some_tho
ughts_on_the_history_of_.htm . Acesso em 19/11/17
9-http://www.masoniclibrary.org.au/research/list -lectures/52-the-history-
of-the-1st-tracing-board.html. Acesso em 20/11/17
10- https://www.youtube.com/watch?v=m -dc96wCxW s. Acesso em 20/11/17
11-http://trabalhosdamaconaria.blogspot.com.br/2013/02/a -tabua-de-
delinear.html. Acesso em 19/11/17

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