Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MERCADO DE TRABALHO
E
Foto: Divulgação
ssas são algumas das conclu- jornadas mais flexíveis, com carga
sões do estudo divulgado pelo horária reduzida. A proporção
IBGE “Estatísticas de gênero: das que trabalham em período
indicadores sociais das mulheres no parcial, de até 30 horas semanais,
Brasil”, que analisou as condições é de 28,2%, enquanto no caso dos
de vida das brasileiras a partir de um homens o percentual é de 14,1%.
conjunto de indicadores proposto Nas regiões Norte e Nordeste, a pro-
pelas Nações Unidas. porção de mulheres com jornada
Em 2016, 21,5% das mulheres flexível é de cerca de 37%.
de 25 a 44 anos de idade concluíram Considerando-se o rendimento
o ensino superior contra 15,6% dos médio por hora trabalhada, ainda
homens na mesma faixa etária, assim as mulheres recebem menos
mas o rendimento delas equivalia do que os homens (86,7%), o
a cerca de ¾ da renda masculina. que pode estar relacionado com
Enquanto a média de rendimento à segregação ocupacional a que
dos homens foi de R$ 2.306, a das as mulheres estão submetidas no
mulheres foi de R$ 1.764. Ou seja, mercado de trabalho.
em média, as mulheres recebem E quanto maior a escolaridade,
76,5% do montante recebido pelos maior a desigualdade. O diferen-
homens. Elas estudam, trabalham cial de rendimentos é maior na
fora, e ainda passam cerca de 73% categoria ensino superior completo
a mais do tempo cuidando da casa ou mais, na qual o rendimento das ALÉM da dupla jornada, a maioria das mulheres enfrenta os transportes públicos lotados
e dos filhos do que os homens. mulheres equivalia a 63,4% do que
Os dados do IBGE, baseados na os homens recebiam, em 2016. iniciativa privada, enquanto os
Pnad Contínua, mostram, ainda, As mulheres também levam homens ocupavam 62,2%. 40% dos lares são chefiados por mulheres
que, no Nordeste, a desigualdade a pior quando se compara o per- A participação das mulheres As estatísticas oficiais de ocupam essa posição cresceu
no tempo gasto pelas mulheres em centual de ocupação de cargos em cargos gerenciais era mais alta 2015 revelam que 40,9% das de 18,1% em 1991 para 24,9%
tarefas domésticas é 80% maior do públicos em 2016 levando-se entre as gerações mais jovens, va- mulheres brasileiras trabalha- em 2000, atingindo 40% no
que o dos homens, chegando a 19 em consideração a questão de riando de 43,4% entre as mulheres vam, sobretudo, fora de casa. ano de 2015, de acordo com
horas semanais. gênero. com 16 a 29 anos até 31,3% entre Os dados sobre mulheres chefes pesquisa realizada pelo Insti-
Para conciliar o trabalho Em 2016, elas ocupavam ape- as mulheres com 60 anos ou mais de família são surpreendentes. tuto Brasileiro de Geografia e
remunerado com afazeres do- nas 37,8% dos cargos gerenciais, de idade. O percentual de mulheres que Estatística (IBGE).
mésticos, as mulheres procuram tanto no poder público quanto na Fonte: Site da CUT
O
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Brasil é o último país da para bancar as campanhas eleitorais
América do Sul em presença são dois dos principais entraves para
feminina na Câmara dos aumentar a representatividade das
Deputados. Elas ocupam apenas 54 mulheres no Legislativo.
(10,5%) das 513 cadeiras da Casa. O O estudo do IBGE faz um raio-x
percentual relega o país à 152ª posi- que mostra o quanto o Brasil ainda
ção, entre 190 nações pesquisadas, no fecha portas para as mulheres, a
ranking mundial da participação das começar pela disparidade salarial
mulheres na política. Os dados foram e presença em cargos de comando.
divulgados na pesquisa “Estatísticas As mulheres ganham em média
de gênero – Indicadores sociais das três quartos do salário dos homens.
mulheres no Brasil”, divulgada pelo De acordo com a pesquisa, mesmo
Instituto Brasileiro de Geografia e com escolaridade superior à dos
Estatística (IBGE). homens, o rendimento médio
BANCADA feminina em 2015 tentou aprovar percentual de vagas para as mulheres no
A conclusão é baseada em com- mensal entre as mulheres é de R$
Legislativo. Foram 293 votos a favor da medida, mas o mínimo necessário era 308
pilação feita pela União Interpar- 1.764. Entre eles, essa média sobe
lamentar. No mundo, as mulheres ministérios em dezembro de 2017, a presença feminina. As mulheres Tocantins e Amapá têm três mulheres para R$ 2.306.
ocupam, em média, 23,6% dos apenas duas eram mulheres. Esse ocupam apenas 7 (10%) das 70 ca- (37,5%) entre seus oito representan- O índice de profissionais do
assentos nas câmaras baixas ou número diminuiu recentemente deiras ocupadas por parlamentares tes na Câmara. No Senado, o índice sexo feminino que ocupam cargos
parlamentos unicamerais. com a saída de Luislinda Valois de São Paulo. de presença feminina é um pouco gerenciais é de 37,8%. Sobrecarre-
O ranking é liderado por Ruanda da Secretaria Especial dos Direitos Em Minas Gerais, há 5 deputadas melhor, 16%. gadas pelos serviços domésticos, as
(61,3%) e traz países como Cuba Humanos. (9,4%) entre os 53 integrantes da Embora o país tenha cota de 30% mulheres que trabalham fora de casa
(48,9%), Suécia (43,6%) e Argentina Na Câmara, três estados não têm bancada. No Rio de Janeiro, são das candidaturas para mulheres, a dedicam a essas tarefas cerca de 73%
(38,1%) bem à frente do Brasil. O nenhuma deputada federal: Mato 6 (13%) entre os 46 fluminenses. concentração das máquinas partidá- a mais de horas do que os homens.
IBGE também destaca que, entre as Grosso, Paraíba e Sergipe. Entre Vêm do Norte as duas representações rias nas mãos de homens e a dificul- Fontes: Bancários do
28 autoridades que comandavam as três maiores bancadas, é tímida com maior proporção de deputadas: dade no acesso a recursos financeiros Distrito Federal/IBGE
JORNAL DO SINDICATO Coordenação de Comunicação Sindical: Kátia da Conceição (in memoriam), Luiz Otávio Silva, Marisa Araujo e Paulo César Marinho / Conselho Editorial: Coordenação
DOS TRABALHADORES Geral e Coordenação de Comunicação / Edição: L. C. Maranhão / Reportagem: Amag, Eac e Regina Rocha / Projeto Gráfico: Luís Fernando Couto / Diagramação:
EM EDUCAÇÃO DA UFRJ Luís Fernando Couto, J. Freitas e Edilson Soares / Fotografia: Renan Silva / Revisão: Roberto Azul / Tiragem: 9500 exemplares / As matérias não assinadas deste
Cidade Universitária - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro - RJ jornal são de responsabilidade da Coordenação de Comunicação Sindical / Correspondência: aos cuidados da Coordenação de Comunicação.
Cx Postal 68030 - Cep 21941-598 - CNPJ:42126300/0001-61 Tel.: (21) 3194-7100 Impressão: 3graf (21) 3860-0100.
Ano XXVI – Encarte Especial da Edição No 1236 – De 19 a 25 de março de 2018 – www.sintufrj.org.br – sintufrj@sintufrj.org.br – 3
MERCADO DE TRABALHO
Desigualdades e injustiças
persistem na sociedade machista
A realidade não muda para as mulheres economicamente ativas, no Brasil.
Mesmo elas tendo maior grau de escolaridade que os homens, já faz tempo
ENTREVISTA
A na Lucia Sabadell é pro- as coisas podem melhorar. Isso é em caso de violência doméstica. homem rompe o limite e passa limite e passa da
fessora titular de Teoria do um equívoco. Vivemos num país Segundo Sabadell, no caso da da violência psicológica para a violência psicológica
Direito da Faculdade Na- profundamente machista. O nosso violência doméstica, a resolução física, é um precedente que pode
autoriza que agressor e vítima desaguar em feminicídio”, diz
para a física, é um
cional de Direito da UFRJ (FND) e machismo é violento, sanguinário.
sua produção acadêmica é voltada Não se pode criar a ilusão de que fiquem frente a frente na tentativa ela, que questiona se em uma ou precedente que
para teorias feministas do Direito, com leis isso se resolve”, diz ela, de resolver o conflito sem a neces- duas sessões de mediação se pode pode desaguar em
Sociologia Jurídica e História do avaliando que se aposta muito em sidade de uma ação judicial, o que “arrancar” uma mentalidade feminicídio.”
Direito. Ela é autora do Manual lei e pouco em políticas públicas. preocupa especialistas. A própria machista de um homem.
L uciana Boiteux, professora social, com apoio, campanhas e redução de prioridade sobre Para mim, na condição de pro- políticas públicas
da Faculdade Nacional de conscientização”, diz ela. “Estão o tema da violência contra a fessora do Direito, na prática, não que afirmem
Direito (FND) e do Programa falhando em relação às mulheres mulher. O golpe traz também adiantam só leis; mas políticas que
mais pobres e, para mim, também uma retomada de uma visão afirmem e concretizem direitos”,
e concretizem
de Pós-Graduação em Direito da
UFRJ, pesquisadora do Laborató- nestes últimos anos, estão falhan- conservadora sobre a mulher: concluiu. direitos.”
6 – Ano XXVI - Encarte Especial da Edição Nº 1236 - De 19 a 25 de março – www.sintufrj.org.br – sintufrj@sintufrj.org.br
OPINIÃO
Quem não quer ser Sherazade, A realidade comprova que dos seus canais de comunicação e que contribua para a autodeter- são as questões de gênero, o que
a narradora, a figura central das em muitas áreas a paridade e a para o recebimento de manifesta- minação das estudantes. significam; o que são violências
Mil e Uma Noites, uma mulher igualdade são uma mera aspiração ções e de denúncias que indiquem É preciso oferecer às e aos de gênero; o que é crime sexual;
forte, inteligente, perspicaz, so- de nossas sociedades democráticas o desrespeito aos direitos das estudantes a oportunidade de o que é assédio moral.
lidária, que sabia ouvir e sabia e há, ainda, muitos obstáculos mulheres. Pois a intolerância é, refletirem criticamente sobre estas
falar, que sabia inspirar com a
sua empatia e amorosidade e se
a serem enfrentados e vencidos
para concretizar, na prática, a tão
ainda, muito comum!
A Universidade pública não está
questões, de modo a formarmos
pessoas mais bem preparadas para
Ações da
atreveu a mudar a sua realidade
e a das mulheres!
desejada e merecida igualdade.
Na atualidade, embora o percen-
isenta de ser mecanismo opressor,
frequentada por homens e mulhe-
as relações humanas, com um Ouvidoria
olhar e uma prática empática e éti-
Toda mulher tem uma histó- tual da população de mulheres res, mesmo que, indiretamente, ca, que atuem efetivamente para a A violência contra as mulheres
ria para contar, as narrativas são brasileiras seja de 51,1%, o Brasil possa dar espaço às violências: construção de uma sociedade mais é, sim, um problema da Univer-
libertadoras, a palavra salva, não está longe de atingir o patamar violências são passíveis de ocorre- sidade; é um problema de todas
justa, igualitária, comprometida
somente por ser palavra: importa de igualdade de gênero; por isso, rem fora dos limites geográficos da nós que a integramos. E, por
com a erradicação das violências.
como ela foi ouvida, importa como não podemos esquecer o que dizia Universidade e ainda assim podem isso, a Ouvidoria da UFRJ – um
ela foi sentida, importa como ela a sempre atual Simone de Beau- guardar ligação com ela, como é o organismo de defesa de direitos
será interpretada. voir: “Nunca se esqueça que basta caso das festas, dos trotes indignos “A desigualdade de e garantias – vem cumprindo
Sem dúvida, Clara Zetkin uma crise política, econômica ou e vexatórios. gênero não pode com a sua missão de preservar,
(1857-1933) foi uma das Shera- religiosa para que os direitos das
fazer das salas de promover e proteger o respeito
zade do século XX, se notabilizou mulheres sejam questionados. Es- “A Universidade aula universitárias aos direitos humanos, realizando
com a proposta de criação do Dia ses direitos não são permanentes.
Internacional da Mulher, apresen- Você terá que manter-se vigilante
precisa intensificar um espaço hostil às
ações com o objetivo de proteger e
a sua comunicação promover os direitos das mulhe-
tada em 1910 na 2ª Conferência durante toda a sua vida”. mulheres” res, ampliando a sua cidadania e
Internacional de Mulheres. Tal sobre as questões a dignidade humana, visando à
proposta foi aprovada por acla- de gênero e da A desigualdade de gênero construção de relações mais igua-
mação e tinha por objetivo im- “A intolerância mulher, de forma não pode fazer das salas de aula litárias, solidárias e respeitosas no
pulsionar o movimento de defesa
dos direitos laborais, políticos, é, ainda, muito permanente e
universitárias um espaço hostil
às mulheres. O que esperar das
ambiente universitário.
pedagógica”
sociais, econômicos e culturais
das mulheres. Depois de 108 anos comum” pessoas que ferem os direitos hu-
manos e seguem impunemente?
*Professora do Núcleo de
Estudos de Políticas Públicas
daquela convocação, ainda hoje O surgimento de várias verten- A Universidade deve dar visi- A instituição não pode manter os em Direitos Humanos da UFRJ,
existem desigualdades, discrimi- tes feministas, o “empoderamen- bilidade aos conflitos e confrontos agressores em formação isentos do curso de Gestão Pública
nações e condutas preconceituosas to” feminino como pauta de mo- que possam implicar diminuição de responsabilidade, e a desin- para o Desenvolvimento Eco-
e violentas contra as mulheres que vimentos sociais, a visibilidade dos de direitos das mulheres, diminui- formação sobre os direitos das nômico e Social e do Instituto
impedem o avanço do seu desen- casos de desigualdade de gênero, ção dos direitos humanos. Precisa mulheres não pode servir como de Pesquisa e Planejamento
volvimento e limitam o exercício raça e etnia, preconceitos sexuais intensificar sua comunicação desculpa. É necessário que o Urbano e Regional. Criou e im-
pleno de seus direitos. e dos casos de violência ganham sobre as questões de gênero e da conhecimento seja cada vez mais plementou a Ouvidoria-Geral
cada vez mais visibilidade nas mulher, de forma permanente e democratizado, mais difundido. da Universidade Federal do Rio
“Nunca se esqueça universidades, que precisam estar pedagógica. Deve promover in- Que todo o corpo social da Uni- de Janeiro, é ouvidora-geral
que basta uma crise atentas ao pleno funcionamento formação que gere conhecimento versidade tenha em mente o que da UFRJ.
política, econômica
ou religiosa para
que os direitos das
mulheres sejam
questionados.
Esses direitos não
são permanentes.
Você terá que
manter-se vigilante
durante toda a sua
vida.”
Simone de Beauvoir
Cristina Riche 27 DE MAIO/2016: Estudantes e trabalhadoras da UFRJ fazem manifestação na Cidade Universitária contra toda a
forma de violência à mulher e em apoio ao movimento "Me avisa quando chegar", da Universidade Rural do Rio de
Janeiro, onde ocorreram vários casos de estupro
Ano XXVI - Encarte Especial da Edição Nº 1236 - De 19 a 25 de março – www.sintufrj.org.br – sintufrj@sintufrj.org.br – 7
MEIO ACADÊMICO