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A PROPRIEDADE PRIVADA FUNDIÁRIA E O DIREITO À HERANÇA COMO

PODER MONOPOLISTA NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Marília Faria Chaves1


(UESB) - marilia_fch@yahoo.com.br
Suzane Tosta Souza2
(UESB) - suzanetosta@gmail.com

GT2: ESTADO, TERRITÓRIO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

RESUMO
O presente artigo faz parte da pesquisa teórica para a escrita da dissertação intitulada “ A renda da
terra urbana na produção do espaço urbano de Vitória da Conquista-BA”. A discussão sobre a terra é
indispensável para compreensão da produção do espaço e a reprodução das desigualdades sociais e
contradições presentes no modo de produção capitalista. No entanto, nem sempre a terra foi vista e
entendida como mercadoria, mas é a partir do momento em que ela passa a ter valor de troca que as
contradições e a luta de classe se apresentam de forma mais evidente. Para entender esse processo foi
utilizado neste artigo o debate sobre a origem da propriedade privada o direito à herança. Autores
como Friedrich Engels (1985), Fustel de Coulanges (2011) e Karl Marx (1869) contribuíram para a
análise da renda da terra e da propriedade privada no espaço urbano e conduzem aos desdobramentos
dos questionamentos sobre a renda da terra urbana que estão em andamento na dissertação.

PALAVRAS-CHAVES: Propriedade privada fundiária. Renda da terra. Produção do espaço


urbano. Direito à herança.

INTRODUÇÃO
O crescimento acelerado das cidades, nos últimos tempos, principalmente neste
início de século XXI, tem gerado desafios à sociedade e aos pesquisadores. A expansão
espacial das cidades conta com a transformação jurídica da terra rural em terra urbana. O que

1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia -UESB-Brasil.Bolsista da Fundação
CAPES. Membro do grupo de pesquisa Estado, Capital, Trabalho e as políticas de Reordenamentos
Territoriais (GPECT).
2
Docente/Departamento de Geografia – UESB-Brasil. Pesquisadora do Grupo Estado, Capital,
Trabalho e as Políticas de Reordenamentos Territoriais (GPECT)
também, acaba por endossar a discussão sobre a questão „cidade-campo‟3 que deve ser vista
para além das discussões de oposição e diferenciação.
A terra sempre teve um grande significado para as sociedades. Desde a Grécia antiga
a relação entre o solo, a família e a religião se tornava inseparável. Segundo Coulanges (2011)
a cidade grega surgiu com a união de tribos que formavam uma confederação, que respeitava
a consciência religiosa de cada tribo. Religião e sociedade se confundiam no surgimento da
cidade, por isso não se pode dizer que o progresso religioso provocou o progresso social.
Evidencia-se que ambos se desenvolveram ao mesmo tempo e em harmonia. A antiga crença
ordenava que o homem honrasse seus antepassados, daí surge o primeiro dever moral, bem
como a instituição da propriedade, a ordem da sucessão e todo o direito privado.
A importância da terra se modificou ao longo dos anos, no processo de consolidação
e expansão da sociedade capitalista, cuja produção e consumo das mercadorias se estabelece,
sobretudo, nas cidades. O processo de expansão urbana, muitas vezes subjuga espaços rurais e
os incorporam às cidades, intensificando a contradição campo-cidade, submetendo ambos a
produção do valor e a extração da renda da terra. A transformação de terras rurais em urbanas
também desenvolvem as contradições da produção do espaço urbano. As periferias são
ampliadas, o perímetro urbano é expandido, no entanto, por um lado, alguns bairros criados
permanecem com as mesmas características rurais, resistentes, distantes dos centros, o que
não significa que são subjugados. Por outro lado, bairros das chamadas „periferias ricas‟
passam pelo processo de valorização outorgado pelos Planos Diretores Urbanos e que fazem
dessas terras oportunidades de se auferir mais renda.
A propriedade privada garante a circulação do capital através da renda da terra, ainda
que a terra não seja uma mercadoria comum, e a cidade torna-se fundamento de poder, por
isso a revolução social deverá ser, conforme Lefebvre, uma Revolução Urbana.

1. A PROPRIEDADE PRIVADA FUNDIÁRIA


A apropriação privada da terra urbana é um dos principais meios para a reprodução
do capital na produção do espaço urbano, assim como das contradições e desigualdades

3
Utiliza-se a expressão cidade/campo baseada no conceito de Sposito, M. (2010) com a intenção de denotar
indefinição dos limites entre o rural e o urbano. No entanto, não se trata do desaparecimento de uma ou outra
morfologia espacial, utiliza-se somente no contexto da expansão espacial urbana.
geradas por ela. O poder monopolista da propriedade privada é, portanto, tanto o ponto de
partida como o ponto de chegada de toda atividade capitalista (HARVEY, 2011, p.225).
O direito à propriedade privada foi fundamentado de forma diferente nas diversas
gerações e povos. Há povos que nunca instituíram o direito à propriedade privada, a exemplo
os antigos germanos, aos quais pertenciam a colheita, mas não a terra. De forma contrária as
populações da Grécia e da Itália desde a mais remota antiguidade, sempre se utilizaram da
propriedade privada. A religião e a propriedade privada estavam intrinsecamente ligadas. Em
princípio, não foram as leis que instituíram e garantiram o direito à propriedade privada, mas
a religião.
Para as sociedades gregas e itálicas cada família tinha o seu fogo sagrado e o deus
deveria ter uma morada fixa que perdurasse para sempre. Dessa forma, a relação entre o solo,
a família e a religião se tornava inseparável, assim o deus se instalava no solo, a família
tomava posse do solo e por dever e religião fixava-se na terra. A propriedade, portanto, era
inalienável.

O homem só poderia mudar-se se levasse consigo a terra e os antepassados.


Era necessário cumprir esse ritual, para então mostrar o novo lugar que se
havia adotado, pudesse dizer: essa ainda é a terra dos meus pais, terra
patrum, patria; Esta é a minha pátria, porque aqui estão os manes de minha
família. (COULANGES, 2011, p.173- grifos do autor)

A propriedade surge de tal modo inerente à religião doméstica que uma família não
podia renunciar nem uma nem a outra. A casa e o campo eram como que vinculados à família,
não podendo esta nem perdê-los nem abandonar-lhe a legítima posse (COULANGES, 2011,
p.89). A terra estava vinculada ao trabalho, a apropriação se dava relacionada à religião, mas
também ao trabalho que a família realizava na terra.
O deus doméstico estabeleceu o direito sobre a terra. Sob o fundamento da religião as
populações da Grécia e da Itália antiga não possuíam consciência para desapossar-se da
propriedade, o vínculo com a terra estava para além da simples vontade humana, e para além
da própria vida, uma vez que após a morte o homem sepultado no solo tornava-se um só com
a terra e a terra era propriedade de toda família formando um só sem dela poder separar-se.
Segundo Engels (1985), a origem da propriedade privada se dá com o surgimento da
organização familiar monogâmica, e esta com a necessidade da acumulação de bens. No
estágio superior à barbárie a acumulação de bens e terra, antes distribuída de forma
comunitária, é corroborada através da sucessão filial legítima, a herança paterna
desenvolve/perpetua a propriedade privada, estabelecendo uma nova forma de sociedade.
A ideia desenvolvida por Engels aponta, de forma clara, que a sociedade e sua
organização se fundamentaram na posse de terras e não nas relações afetuosas entre homem e
mulher. Ao lado da riqueza em mercadorias aparece a riqueza em terras. A terra agora podia
tornar-se mercadoria, podia ser vendida ou penhorada. Propriedade privada e herança estão
totalmente imbricadas e legitimadas pelo Estado burguês a fim de mediar os choques sociais e
perpetuar a organização econômica capitalista,

Tal como qualquer outra legislação burguesa, as leis sobre


herança constituem não a causa, mas sim o efeito, a consequência jurídica
da organização econômica existente que se funda na propriedade privada
dos meios de produção, i.e. a terra, a matéria-prima, as máquinas
etc.(MARX, K. 1869- grifos do autor).

Na produção do espaço urbano, a comercialização das terras é parte do cerne do


controle sobre a monopolização no processo de construção da cidade e a legislação urbana é
criada e alterada para atender às condições do mercado capitalista, dos proprietários
fundiários, das construtoras e dos especuladores. A valorização da „coisa‟ em detrimento da
valorização „humana‟. O zoneamento urbano, por exemplo, que, em poucas palavras,
determina as diretrizes das edificações, exerce influência no preço do solo urbano, por
conseguinte, no preço do imóvel e na organização das cidades.
As intenções da produção da urbe vão muito além das possibilidades de apropriação
coletiva e igualitária desse espaço, estão voltadas aos interesses da classe dominante, o que
acarreta a fragmentação e desigualdade, pois se trata de espaços produzidos para o consumo
dessa classe. É o que Lefebvre (2011) aponta como “destruição da urbanidade”, essa restrição
de espaços de encontro e convívio em que as diferenças sociais se confrontam.
A questão da propriedade privada vai muito além da apropriação privada da terra. O
sistema de alienação priva a humanidade de usufruir, apropriar-se das riquezas socialmente
produzidas, a apropriação do trabalho alheio, a mais-valia (MARX,2006). Marx aponta que
quanto mais riqueza o trabalhador produz mais se aproxima da pobreza, mais se afasta do
objeto produzido que passa a ser exterior a si. “A propriedade privada, decorre-se então, da
análise do conceito de trabalho alienado [...] ela é produto do trabalho alienado, por um lado e
por outro lado ela é o meio pelo qual o trabalho se aliena a realização da alienação”.
(MARX, 2006, p.120 - grifos do autor).
A relação do trabalhador com o objeto produzido, dentro do processo de produção
capitalista, é de exterioridade, ele sente-se infeliz no trabalho, fora de si, só consegue realizar-
se enquanto homem fora do trabalho. Dessa forma, suas qualidades propriamente humanas
servem apenas como meios vendidos a alguém, para satisfazer indiretamente suas
necessidades animais, como comer, vestir, etc.“A valorização do mundo das coisas, aumenta
em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. ” (Ibidem: 111). Para Marx4 a
renda da terra exprime diferente parte da mais-valia, ou seja, parte de uma mercadoria ou
trabalho não remunerado que nela se materializa e que o monopólio permite embolsar parte
dessa mais-valia.
A terra que, neste caso, não pode ser produzida através do trabalho, torna-se,
portanto, uma mercadoria „sui generis‟ então, não possui valor, uma vez que só o trabalho
atribui valor a terra, porém, possui preço, este definido pelo estatuto jurídico da propriedade
da terra, o direito sobre a terra é o direito de quem tem como pagar o valor dela. Seu processo
de valorização é definido pelas formas de como se dão a sua apropriação e uso. A terra é
transformada em mercadoria, um equivalente à mercadoria, um falso capital que se valoriza
sem trabalho. A valorização deve (deveria) se dar através do trabalho que se faz na terra, para
se produzir o fruto da terra, como acontece no campo, em sua maioria, e não a terra
propriamente dita, como na cidade.
A propriedade privada, as formas de monopólio exercidas pelos proprietários
fundiários que retém a terra fazem o processo de escassez artificial da terra, tornam-na
indisponível para o uso criando vazios urbanos à espera da valorização desejada. Essa
valorização virá com o acesso à infraestrutura, com as amenidades sociais (localização
privilegiada, próximo a shoppings centers, áreas de lazer, equipamentos urbanos (centros
comerciais etc.), amenidades naturais, o fetiche da natureza (próximo às áreas verdes, às
lagoas, vistas para o mar entre outros.). Assim, o preço da terra será determinado pelo valor
que a demanda estará disposta a pagar.
No „mundo da mercadoria‟ a magia do dinheiro faz com que tudo se torne vendável,
tudo pode gerar lucro, e na cidade as exigências artificiais do capital passam por naturais. No
4
“O monopólio do solo permite ao proprietário da terra embolsar uma parte dessa mais-valia, sob a
denominação de renda territorial, quer o solo seja utilizado na agricultura ou se destine a construir edifícios,
ferrovias, ou a outro qualquer fim produtivo. Por outro lado, o fato de ser a posse dos meios de trabalho o que
possibilita ao empregador capitalista produzir mais-valia, ou, o que é o mesmo, apropriar- se de uma
determinada quantidade de trabalho não remunerado, é precisamente o que permite ao proprietário dos meios
de trabalho, que os empresta total ou parcialmente ao empregador capitalista, numa palavra, ao capitalista que
empresta o dinheiro, reivindicar para si mesmo outra parte dessa mais-valia sob o nome de juro, de modo que ao
capitalista empregador, como tal, só lhe sobra o chamado lucro industrial ou comercial”- Marx, Karl. O Capital,
Crítica da economia política. livro I, tomo I. Nova Cultural, São Paulo,1996. p.104.
mundo do capitalismo as necessidades são criadas, o papel de consumo da sociedade
capitalista produz não somente o objeto como a necessidade de consumi-lo. Assim, a
mercantilização da natureza na cidade promove a substituição do processo de incorporação da
natureza à vida social pela idealização de uma primeira natureza, como aponta Henrique
(2009).

2. SOBRE O DIREITO À HERANÇA


O direito à herança é, pois, o poder de usufruir dos frutos do trabalho alheio através
de títulos de valores após a morte do proprietário. A herança concede o direito de
transferência de poder sobre os frutos do trabalho alheio, mesmo sem o „beneficiário‟ ter
trabalhado. A propriedade privada burguesa moderna, tal como a legislação que a legitima é a
mais perfeita expressão da apropriação de produtos que assentam sobre o antagonismo de
classes, sobre a exploração do homem sobre o homem.
Entre os povos antigos na Grécia e em Roma o direito à propriedade, continuando a
religião doméstica, não desaparecia com a morte do indivíduo. O direito de sucessão de pai
para filho, de homem para homem5 provinha da crença, o filho enquanto continuador do culto,
como foi exposto anteriormente. O filho herda em pleno direito para que a ligação entre o solo
e a família permaneça e para que o deus permaneça. A organização social e familiar pautada
na religião obrigava o filho a aceitar a herança, pois este recebia através da sucessão aquilo
que já pertencia ao bojo familiar, ou seja, herdava de „si mesmo‟. Deste entendimento deriva a
expressão heredis sui: entre pai e filho não existe doação, mas sim a simples continuidade.
A origem da propriedade privada em Engels (1985) está associada à necessidade de
legitimar a filiação sanguínea para perpetuar o poder sobre os frutos do trabalho paterno. Para
o autor, com a mudança da organização social das tribos em gens para a organização familiar
individual muda-se o enfoque e o que antes era social e religioso passa a ser uma divisão
econômica e individualista.

E, quando a propriedade privada se sobrepôs à propriedade coletiva, quando


os interesses da transmissão por herança fizeram nascer a preponderância do
direito paterno e da monogamia, o matrimônio começou a depender
inteiramente de considerações econômicas (ENGEL, 1985,p.86).

5
“A filha não se considera apta para dar sequência à religião paterna, pois ela se casa, e casando-se, renuncia ao
culto de seu pai para adotar o do esposo: não tem, pois, nenhum direito à herança. Se por acaso um pai deixasse
seus bens à filha, a propriedade ficaria divorciada do culto, o que não é admissível. ” Coulanges. Fustel. Estudos
sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma. In: A cidade antiga. TraduçãoJ.Cretella Jr. e
Agnes Cretella.2ª edição. Revista dos Tribunais: São Paulo,2011.
Assim como apresentado por Engels (op.cit.) a propriedade privada na antiga
organização gentílica se consolida com a decadência do direito à herança como forma
religiosa. O direito paterno de atribuir seus bens aos filhos, facilitando a acumulação de
riquezas na família, torna esta um poder contrário às gens. A valorização da riqueza como um
bem supremo, acima de tudo, corrompe as gens para justificar a escravidão, a nobreza
hereditária, as riquezas individuais contra as tradições comunistas. A acumulação das riquezas
só necessitava de uma instituição que legitimasse e perpetuasse a divisão de uma sociedade de
classes em que há a exploração do homem sobre o homem. E essa instituição se constitui para
regularizar a organização social: O Estado.
Como forma de legitimar a propriedade privada, paulatinamente e incontroversa, a
proteção ao direito foi incorporado no seio das mais diversas legislações do mundo até chegar
à Constituição nas cartas magnas de vários países. Em Roma, por exemplo, a propriedade era
considerada, no ordenamento jurídico, um direito perpétuo e exclusivo de seu titular. No
Estado feudal, o poder concentrava-se na mão do monarca que junto com a Igreja impunham
a separação entre vassalo e suserano, o vassalo se utilizava da terra para moradia e
subsistência, mas subordinava-se ao senhor detentor das terras para cultivá-las, não podendo
vendê-las ou transmiti-las aos descendentes.
No Brasil, o direito à herança é considerado fundamental, sendo garantido por meio
do artigo 5º, inciso XXX, da Constituição Federal. Bem como é assegurado o direito à
propriedade artigo 5º, inciso XXII o que perpetua e corrobora com a acumulação de riquezas
individuais e a monopolização das mesmas.
Incumbe-nos a análise de como o processo de produção do espaço urbano, pautado
na apropriação privada do solo e na monopolização dessas terras, interfere na relação do
sujeito que produz o espaço, mas não se apropria dele, fazendo parte dessa relação conflituosa
e contraditória das forças produtivas com as relações de trabalho. O solo urbano enquanto
mercadoria torna-se restrito àqueles que têm o poder aquisitivo para se apropriar dele e o
Estado capitalista, enquanto agente do processo de construção e „ordenamento‟ da cidade atua
como mediador dos conflitos cabe-nos, portanto analisar esse papel do Estado, como ele cria
as possibilidades de regulamentação para monopolização das terras urbanas, e suas formas de
controle e opressão que intensifica as desigualdades na cidade.
A manutenção das contradições no sistema capitalista se desenvolve a partir da
ideologia administrativa do Estado e de sua legislação. A apropriação do espaço e a
transformação da terra em mercadoria possibilita a acumulação capitalista através da renda.
3.CONCLUSÃO
As primeiras considerações a serem feitas sobre a temática abordada é a
presença das atividades especulativas sobre a terra nas cidades e como o chamado „mercado
de terras‟ que surge com a propriedade privada e se instala com a legitimação do direito à
herança da terra, corrobora com a acentuação das contradições sociais. O Estado legitima a
propriedade privada e não a discute, cria conjeturas de perpetuação da propriedade privada
através da legislação e também através dela se cria as possibilidades de se auferir renda da
terra.
Uma espécie de „acordo‟ entre o Estado e os sujeitos que constroem a cidade, os
proprietários fundiários, os especuladores, a indústria civil, as construtoras fazem da cidade,
através da terra um „grande negócio‟ em detrimento da população trabalhadora que pagam a
acumulação de riqueza que é feito a partir do controle da terra. A ideologia administrativa do
Estado de conter o antagonismo de classes se reafirma com a legitimidade da propriedade
privada, a legislação como ideologia da administração do Estado promove, como aponta
Mészaros (2007) o consenso de uma sociedade que não pode ser superada com a divisão de
classes.
O domínio do capital subjuga a cidade ao seu poder. Mais do que a apropriação da
terra, a legitimação da propriedade privada também priva a humanidade de usufruir,
apropriar-se das riquezas socialmente produzidas, a apropriação do trabalho alheio, a mais-
valia (MARX, 2006), como discutido anteriormente.

REFERÊNCIAS
BRASIL.Constituição1988.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.h
tm acesso em 08/12.
COULANGES.Fustel. A cidade antiga, Estudos sobre o culto, o direito e as instituições da
Grécia e de Roma.TraduçãoJ. Cretella Jr. e Agnes Cretella.2ª edição. Revista dos Tribunais:
São Paulo,2011.
ENGELS, Frederich.A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
Civilização Brasileira:Rio de Janeiro, 1985
HARVEY,David. A produção Capitalista do Espaço. Annablume: São Paulo,2001.
HENRIQUE, Wendel. O Direito à natureza na cidade. Edições UFBA: Salvador,2009.
LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira; Sérgio Martins.
(do original La production de l´espace. 4ª Ed. Paris ÉditionsAnthropos, 2000). Primeira
versão – fevereiro de 2006.
MARX, Karl. Sobre o Direito de Herança, em Face dos Contratos e da Propriedade
Privada. In: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim: Dietz, 1961, Vol.
16, pp. 367 e s. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1869/08/03.htm
__________. O Capital, Crítica da economia política. livro I, tomo I. Nova Cultural, São
Paulo,1996. p.104.
____________. Renda da Terra. In: Manuscritos Econômicos Filosóficos. Martin Claret:
São Paulo, 2006.
MÉSZÁROS, Istvan. O Poder da Ideologia. São Paulo: Boitempo, 2007.
SPOSITO, M. E.B. A questão cidade-campo: perspectivas a partir da cidade. In: Cidade e
Campo relações e contradições entre o rural e o urbano.2 ed. Expressão Popular: São
Paulo, 2010.

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