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“ Várias são as
teorias que buscam
seja o critério adotado (homogenei-
dade, contiguidade, etc.), ele impli-
ca em um corte arbitrário, uma vez
humanos e, consequentemente, em
recomendações imprecisas de polí-
ticas econômicas. A noção de espa-
explicar a dinâmica que no sistema capitalista o espaço ço introduzida por este teórico des-
econômico é tendencialmente inte- carta o conceito de espaço euclidiano
regional, ou seja, o grado e articulado. e utiliza o conceito matemático de
processo de Realizadas estas considerações, espaço abstrato, mais adequado para
define-se que uma região, como uni- analisar as inter-relações econômi-
determinação da dade de análise, é representada por cas. Desta forma existiriam tantos
renda urbana um conjunto de pontos do espaço espaços econômicos quantos fossem
que tenham maior integração entre os fenômenos econômicos estuda-
que é a expressão si do que em relação ao resto do dos.
e a causa do mundo. Contextualizando esta defi-
nição com o conceito de urbano –
Neste sentido, a empresa, como
unidade de produção, ocupa um es-
movimento do capital locus da produção diversificada e in- paço vulgar, onde se situam seus
no espaço... tegrada do capitalismo –, pode-se meios materiais e pessoais e três es-
”
de melhor na experiência internaci-
A dinâmica do desenvolvimento
é ainda mais complexa nos países
subdesenvolvidos, pois seus obstá-
(círculo vicioso). Assim, basear o
desenvolvimento apenas em setores
modernos é mais difícil e custoso nos
onal. As técnicas utilizadas nos paí- culos são bem mais estruturais do países subdesenvolvidos, pois estas
ses desenvolvidos devem ser anali- que cíclicos. Nestes países, poupan- iniciativas são escassas nos mesmos.
sadas de forma crítica e aplicadas à ça e investimento são relativamente Por este motivo Hirschman realiza
realidade dos países subdesenvolvi- interdependentes, e, por esse moti- a seguinte indagação (1958, p. 41): “is
dos, ao mesmo tempo em que são vo, o desenvolvimento é menos es- there not some way in which the
indispensáveis investimentos em pontâneo e depende em maior grau energies of the rest of the economy
pesquisa e extensão. Assim, Myrdal de medidas deliberativas. Além dis- can be utilized so as to produce
expõe de forma simples os elemen- so, há duas imagens que inviabili- growth in addition to the trickle that,
tos essenciais de qualquer plano na- zam o processo de desenvolvimento in the first stages of development,
cional necessário para o desenvolvi- nestes países: the group-focused e the results from the ability to invest?”
mento de um país e suas regiões, ego-focused image of change. No pri- Ou seja, para o autor, dada a insufi-
enfatizando a necessidade de com- meiro caso os indivíduos pensam na ciência de cooperação e empreen-
preender quais medidas são mudança econômica como algo que dedorismo nestes países, é preciso
factíveis. deve afetar igualmente todos os estimular atividades rotineiras (easy-
membros do grupo a que pertencem, to-exploit), cujo sucesso depende
2.3 Desenvolvimento Desigual e o que leva a dispersão dos fundos muito menos de fatores incertos do
Transmissão Inter-regional governamentais em diversas locali- que a inovação, tornando os investi-
do Crescimento sob a ótica de dades, impedindo padrões mais di- mentos uma força capaz de compen-
Albert O. Hirschman nâmicos de mudança. No segundo sar estas dificuldades, por meio de
O objetivo do estudo elaborado caso, o progresso econômico é alcan- seus efeitos de complementaridade,
por Hirschman (1958) é analisar o çado a partir da mudança concebida inclusive intertemporais.
processo de desenvolvimento econô- pelo indivíduo não visualizado den- A idéia de que o desenvolvimen-
mico e como o mesmo pode ser tro do grupo, o que diminui a coo- to deve ocorrer simultaneamente em
transmitido de uma região (ou país) peração e a capacidade empreende- muitas atividades é criticada por
para outra. Para o autor, as teorias dora. Hirschman, pois isto gera expectati-
sobre o crescimento econômico ela- Nestes países a desvantagem vas irreais e enclaves na economia.
boradas até então (por exemplo, the oriunda da escassez de recursos re- Na realidade, o desenvolvimento
balanced growth theory), apesar de se- duz-se a escassez de decisões de in- ocorre como uma cadeia de desequi-
rem extremamente úteis na análise vestimento e a inadequação das me- líbrios durante longo período de
de problemas específicos, não foram didas adotadas. Para Hirschman tempo (unbalanced growth), cuja si-
capazes de explicar as várias inter- (1958, p. 25): the fundamental problem multaneidade é apenas parcial. O
relações deste processo, cuja dinâmi- of development consists in generating crescimento inicia-se nos setores lí-
ca pode ser retratada por ciclos vici- and energizing human action in a deres e transfere-se para os seguin-
osos de extrema complexidade. Nes- certain direction. Dada esta necessi- tes (satélites) de forma irregular/
te sentido, Hirschman desenvolve dade, o autor justifica a utilização desequilibrada. Os desequilíbrios
uma teoria focada na dinâmica es- de mecanismos de intervenção, cujo são fundamentais para a dinâmica
sencial do processo de desenvolvi- principal objetivo deve ser a do crescimento, pois cada movimen-
mento econômico, considerando que efetivação das oportunidades de to da sequência é induzido por um
este não ocorre simultaneamente em investimento locais. Logo, é preci- desequilíbrio anterior e em conse-
“ A intervenção
era justificada pela
pela Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe (CEPAL),
a industrialização era vista como a
tado como regulador das relações
entre as classes operária e patronal e
dos conflitos intra-capitalistas (para
necessidade de única forma de superar a pobreza e permitir o bom andamento do pro-
o subdesenvolvimento e, como as cesso de industrialização); iii) o Es-
prover os forças do livre mercado não traba- tado como produtor: grande parte
pré-requisitos lhavam em prol da mesma, era pre- dos serviços públicos, relativos in-
ciso que o Estado assumisse o papel clusive às atividades de infraestru-
necessários para de planejador, tanto em áreas produ- tura, foi estatizada ou já nasceu sob
viabilizar o tivas como em áreas complementa- a forma estatal, bem como ativida-
res (saúde, educação, moradia, etc.), des voltadas para a produção de
investimento em bem como na captação e orientação bens intermediários (petróleo, side-
áreas deprimidas, do uso dos recursos financeiros e na
realização de investimentos diretos
rurgia, mineração, química, etc.); e
iv) o Estado como financiador do
ou seja, a intervenção em setores nos quais a iniciativa pri- desenvolvimento: ampliação do pa-
auxiliaria a romper o vada fosse insuficiente (infraestru-
tura, matérias-primas, etc.) – a ela-
pel de captador de recursos e de seu
direcionamento para os setores de
ciclo vicioso das boração de planos e estratégias de interesse, de tal forma que o sistema
desenvolvimento seria essencial no público de crédito conduzia a evo-
economias...
que as políticas de desenvolvimento
elaboradas a partir de então se base-
” processo de indução do desenvolvi-
mento econômico, consolidando, in-
clusive, a forma de intervenção esta-
tal e seu desenho institucional. A raiz
lução da industrialização brasileira.
Assim, percebe-se que no caso
brasileiro o Estado assumiu a res-
ponsabilidade pela provisão e pro-
aram no conceito de polo de cresci- das políticas econômicas adotadas dução de determinados bens e ser-
mento e na dinâmica de atração de nestes países é encontrada nas teori- viços, fato que estava ligado, entre
investimentos supostamente dota- as desenvolvidas ao longo dos anos outros fatores4, às questões ideoló-
dos de grande poder de irradiação. 50 cujas principais características fo- gicas pró-estatização estando estas
Em várias partes do mundo fo- ram descritas na seção 2 deste traba- intimamente relacionadas ao
ram elaboradas políticas baseadas na lho. O Brasil não foi exceção. mainstream econômico sobre a ques-
aplicação da teoria dos polos de cres- tão regional. Como já ressaltado, é
cimento para solucionar os proble- 3.1 O Caso do Brasil justamente neste período de expan-
mas relacionados às disparidades A ação do Estado foi fundamen- são da economia brasileira que es-
intra e inter-regionais, dada sua re- tal no processo de desenvolvimento tão em evidência as teorias desenvol-
percussão no espaço geográfico e sua econômico brasileiro. Grande parte vidas por Perroux, Boudeville,
idéia abrangente de desenvolvimen- das atividades desenvolvidas entre Myrdal, Hirschman e North, o que
to. As propostas elaboradas conta- 1950 e 1980 teve forte intervenção tem grandes impactos sobre o pla-
vam com o apoio estatal e reforça- estatal. O objetivo de tal intervenção nejamento regional e as políticas eco-
vam estruturas públicas de planeja- era conceder à economia brasileira nômicas adotadas no país.
mento, dando origem a um modelo mecanismos mais eficazes de defesa Os principais planos de dinami-
particular de atuação do Estado – frente aos problemas econômicos zação da economia nacional elabo-
desenvolvimentista –, cujo objetivo internacionais, particularmente sen- rados no período em análise, o Pla-
principal era a superação do subde- tidos em uma economia dependente no de Metas (1956-60), o Plano de
senvolvimento através da industria- da exportação de produtos primári- Ação Econômica do Governo –
lização. Este modelo tornou-se os. Neste sentido podem-se destacar PAEG – (1964) e o II Plano Nacional
hegemônico nos países periféricos, quatro formas de atuação do Estado de Desenvolvimento – II PND –
inclusive no Brasil. A intervenção era nacional: (1974-79), possuem claros indícios da
justificada pela necessidade de pro- i) o Estado como principal con- influência destas teorias sobre o pla-
ver os pré-requisitos necessários dutor do crescimento (as metas do nejamento regional. Neste período
para viabilizar o investimento em programa de industrialização torna- observa-se uma escolha clara pelo
áreas deprimidas, ou seja, a interven- ram-se o principal objetivo das polí- desenvolvimento nacional, ainda
ção auxiliaria a romper o ciclo vicio-
so das economias periféricas ao esti-
mular economias externas em diver- 4
Este trabalho não tem por objetivo analisar os fatores que levaram o Estado
sos espaços nacionais e subnacio- brasileiro a assumir tal papel no processo de desenvolvimento econômico.
nais. Neste modelo de ação estatal, Maiores detalhes podem ser encontrados em Carneiro (2002).