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Programa de Formação de Profissionais de Nível

Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Curso Técnico de Nível Médio


em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área III


Participando da Gestão em Saúde
Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Curso Técnico de Nível Médio


em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área III


Participando da Gestão em Saúde

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Governador do Estado José Serra
Secretário da Saúde Luiz Roberto Barradas Barata
Secretário Adjunto da Saúde Nilson Ferraz Paschoa
Chefe de Gabinete da Saúde Reinaldo Noboru Sato
Coordenador da Coordenadoria de
Recursos Humanos da Saúde Paulo Henrique D´Angelo Seixas
Secretário da Gestão Pública Sidney Beraldo
Secretário de Desenvolvimento Geraldo Alckmin
Diretora Superintendente do Centro
Paula Souza Laura Laganá
Secretário da Educação Paulo Renato Costa Souza


Diretor Executivo Geraldo Biasoto Junior
Diretora Técnica de Políticas Sociais Leda Zorayde de Oliveira
Coordenador Sergio da Hora Rodrigues

Equipe Técnica Andrea Terumi Okida Shimura


Cecília Maria Castex Aly Heinemann
Cibele Cristina Moreira Sancha
Cintia Hiromi Mizuno
Claudia Martinez
Emilia Emi Kawamoto
Guadalupe Maria Jungers Abid de Almeida
Julia Ikeda Fortes
Luci Emi Guibu
Marcela Ribeiro Rodella Soares
Mari Shirabayashi
Paula Regina Di Francesco Picciafuoco
Vânia de Carvalho Ferreira
Valeria Morgana Penzin Goulart

Coordenação Técnica-Pedagógica Julia Ikeda Fortes


Solange de Carvalho Oliveira
Vânia de Carvalho Ferreira

Colaboradores Lucia Tobase


Luciana Vannucci
Magda Bandouk

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Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área da Saúde no Estado de São Paulo

Curso Técnico de Nível Médio


em Enfermagem
Módulo de Habilitação

Guia Curricular – Área III


Participando da Gestão em Saúde

São Paulo, agosto de 2009

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É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e
que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

1ª Edição – Ano 2009

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Centro de Documentação da FUNDAP, SP, Brasil)

Curso técnico de nível médio em enfermagem - módulo de habilitação: guia


curricular – área III participando da gestão em saúde / coordenação
técnica pedagógica Julia Ikeda Fortes, Solange de Carvalho Oliveira, Vânia
de Carvalho Ferreira. São Paulo : FUNDAP, 2009.
120p. (Programa de Formação de Profissionais de Nível Técnico para a
Área da Saúde no Estado de São Paulo)

ISBN 978-85-7285-114-5

1. Enfermagem - Estudo. 2. Reciclagem profissional – Saúde. 3.


Trabalhadores em saúde. I. Fortes, Julia Ikeda (coord.). II. Oliveira, Solange
de Carvalho (coord.). III. Ferreira, Vânia de Carvalho (coord.). IV. Fundação do
Desenvolvimento Administrativo – FUNDAP.
CDD – 610.7307
331.76161073
331.761614

Fundação do Desenvolvimento Administrativo – FUNDAP


Rua Cristiano Viana, 428 – 05411-902 – São Paulo SP – Tel. (11) 3066-5500
Apresentação

A formação de recursos humanos para a saúde tem representado um desafio


permanente para os governantes comprometidos com a melhoria da qualidade do
cuidado, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
As mudanças no perfil da população brasileira, a cada dia mais envelheci-
da, o singular quadro sanitário do país, que apresenta tanto doenças típicas dos
países desenvolvidos como doenças decorrentes da pobreza, o aumento da oferta
de serviços e a necessidade de organização das Redes de Atenção à Saúde vêm
demandando transformações no processo de trabalho a fim de assegurar, com
rapidez, respostas eficazes às necessidades de saúde.
Neste cenário de transformações destacam-se, principalmente, duas situa-
ções pertinentes ao mundo do trabalho que envolve a formação profissional. Uma
refere-se à criação de número expressivo de novos postos de trabalho na área da
saúde, considerando os investimentos realizados e a capilaridade do modelo de
atenção à saúde adotado no país. Outra revela o grande número de trabalhadores
que necessitam, tendo em vista a mudança do perfil de saúde da população e os
avanços tecnológicos agregados pelos serviços, de aprimoramento na sua forma-
ção profissional. Essa situação é evidenciada, sobretudo na área de enfermagem,
que representa cerca de metade dos postos de trabalho na área da saúde, que se
soma a outras como a de higiene dental, vigilância ambiental, epidemiológica e
sanitária, análises clínicas, radiologia, manutenção de equipamentos, farmácia.
Apesar do investimento em formação dos trabalhadores realizado pelo
PROFAE, Programa de Profissionalização dos Trabalhadores de Enfermagem, que
qualificou cerca de 323.000 trabalhadores em nível federal, não se fez acompa-
nhar de uma política permanente de formação desses trabalhadores, necessidade
sentida de forma mais aguda pelos pequenos municípios, afastados das escolas de
educação profissional.
Nesse quadro, buscando enfrentar o grande desafio de qualificar trabalhado-
res técnicos do setor, o Governo do Estado de São Paulo criou através do Decreto Es-
tadual nº 53.848 de 19/12/2008, o Programa de Formação de Profissionais de Nível
Técnico para a Área de Saúde no Estado de São Paulo, com os seguintes objetivos:
• ampliar a escolaridade da população por meio da formação de profis-
sionais de nível técnico com habilitações para o ingresso no mercado de
trabalho, e
• melhorar a qualidade dos serviços de saúde prestados à população, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado.

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Considerando as inúmeras áreas que ainda necessitam de qualificação e
aprimoramento profissional, o TECSAUDE elege a enfermagem para iniciar o de-
senvolvimento dos cursos por constituir o maior contingente de pessoal na área
da saúde e com sua qualificação representar impacto significativo na melhoria da
qualidade de assistência prestada à população.
Dessa forma, o Curso Técnico de Nível Médio em Enfermagem – Módulo
de Habilitação, constitui a primeira etapa do programa a ser desenvolvido em co-
operação com a rede de escolas do Centro Paula Souza, Escolas Técnicas do SUS
e escolas privadas credenciadas, destinado aos que já possuem qualificação de
auxiliar de enfermagem.
O curso, estruturado em três grandes áreas de conhecimento, tem como re-
curso livros didáticos especialmente elaborados para atender ao aluno-trabalhador
do setor saúde na sua trajetória formativa, constituindo-se como essencial apoio
para o desenvolvimento das competências do técnico de enfermagem.
A Área I - Promovendo a saúde constitui o primeiro livro do curso e aborda
questões fundamentais para o entendimento do sistema de saúde vigente no nosso
país, os fatores envolvidos no processo de saúde e adoecimento, bem como a atua-
ção do profissional de enfermagem na promoção da saúde e prevenção de agravos.
A Área II - Cuidando do cliente em estado crítico traz conteúdos que visam
o desenvolvimento de competências para o atendimento de clientes em situações
de urgência e emergência e assistência de enfermagem àqueles em estado crítico.
A Área III - Participando da gestão em saúde desenvolve conteúdos com
vistas à eficiência e eficácia do processo de trabalho da enfermagem, nas dife-
rentes unidades de produção de serviços de saúde e a inserção do técnico de
enfermagem no papel de colaborador, agregando, na sua área de atuação, com-
petências de gestão.
O presente conjunto didático tem o propósito de contribuir para a formação
dos profissionais de enfermagem, com uma proposta pedagógica que privilegia
a construção coletiva do conhecimento, articulando saberes, práticas e atitudes
a partir da experiência do aluno e do contexto em que trabalha e vive. Trata-se
de instrumento essencial para o aluno e professor que buscam uma formação
profissional transformadora e significativa, capaz de provocar mudanças no seu
processo de trabalho.
Geraldo Biasoto Junior

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Currículo

ÁREA I ÁREA II ÁREA III

PROMOVENDO A SAÚDE CUIDANDO DO CLIENTE EM PARTICIPANDO DA GESTÃO


ESTADO CRÍTICO EM SAÚDE

Teórico- Estágio Teórico- Estágio Teórico- Estágio


prático Supervisionado prático Supervisionado prático Supervisionado

160 40 340 220 100 40

200 560 140

Curso Técnico de Nível Médio em Enfermagem

ÁREA III – Participando da Gestão em Saúde

Competência

• Participar de ações de gestão do trabalho de enfermagem nas diferentes


unidades de produção de serviços de saúde com vistas à eficiência e
eficácia do processo, tendo por princípios a qualidade e a ética na aten-
ção à saúde e nas relações interpessoais.

Habilidades

• Aplicar medidas de prevenção e controle de riscos para a saúde do tra-


balhador, na sua área de atuação.
• Participar de atividades administrativas de enfermagem em diversas uni-
dades de saúde.

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• Empregar princípios da qualidade na prestação de serviços de enferma-
gem.
• Participar, junto ao enfermeiro, do planejamento e organização da as-
sistência de enfermagem.
• Auxiliar o enfermeiro na administração do trabalho da equipe de enfer-
magem.
• Auxiliar o enfermeiro na supervisão e orientação de auxiliares de enfer-
magem na realização de procedimentos, colaborando no processo de
avaliação do trabalho.
• Organizar, controlar e verificar as ações de forma a atender às deman-
das e às necessidades do cliente, de acordo com as prioridades defini-
das no Plano de Cuidados de Enfermagem.
• Participar com o enfermeiro, ou por sua delegação, da gestão de supri-
mentos (materiais, equipamentos e medicação), incluindo a testagem
para avaliação de artigos e equipamentos hospitalares.
• Participar com o enfermeiro, ou por sua delegação, na elaboração de
escala mensal e diária de trabalho.
• Elaborar relatório diário da unidade.
• Manter o ambiente, os equipamentos e os instrumentos de trabalho em
condições de uso para o cliente e para os profissionais de saúde.

Base Tecnológica

• Meio ambiente, qualidade de vida e saúde.


• Política de saúde do trabalhador: vigilância de ambientes, processos e
agravos relacionados ao trabalho.
• Gestão do trabalho em saúde.
• Formas de trabalho: emprego formal, cooperativas, home care, trabalho
temporário, trabalho autônomo, jornadas de trabalho.
• Processo de trabalho em saúde/enfermagem.
• Supervisão.

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• Processo de trabalho: planejamento, organização da assistência de en-
fermagem e responsabilidades dos integrantes da equipe.
• Estrutura, organização e funcionamento do serviço de enfermagem nas
instituições de saúde.
• Dimensionamento do pessoal de enfermagem: escala mensal e diária
de trabalho.
• Direitos, deveres e responsabilidade profissional.
• Qualidade, acreditação e certificação em saúde.
• Indicadores institucionais e de enfermagem no planejamento do trabalho.
• Planejamento em saúde.
• Relações humanas do trabalho.
• Ética profissional.

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SIMBOLOGIA UTILIZADA

Informação complementar Questão

Exercício, atividade Pesquisa

Esclarecimento Análise, reflexão

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Sumário

Meio Ambiente, Qualidade de Vida e Saúde


UNIDADE I – MODELO DE DESENVOLVIMENTO, RISCOS
AMBIENTAIS E SAÚDE
TEXTO 1 – Meio ambiente, desenvolvimento e saúde......................... 17

O Trabalho em Saúde
UNIDADE I - TRABALHO ENQUANTO PRODUÇÃO DA VIDA
MATERIAL E SOCIAL
TEXTO 2 – A evolução da organização do trabalho........................... 26

UNIDADE II – O MUNDO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO:


PERSPECTIVAS PARA O TRABALHO EM SAÚDE
TEXTO 3 – Gestão do trabalho no SUS .............................................. 32

UNIDADE III – O PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE

Gestão do Trabalho em Saúde


UNIDADE I – GESTÃO EM SAÚDE
TEXTO 4 – Gestão em saúde.............................................................. 42

UNIDADE II – PLANEJAMENTO EM SAÚDE


TEXTO 5 – Planejamento em saúde.................................................... 48

UNIDADE III – QUALIDADE EM SAÚDE


TEXTO 6 – Qualidade em saúde......................................................... 58

O Trabalho em Enfermagem
UNIDADE I – GESTÃO DO TRABALHO EM ENFERMAGEM
TEXTO 7 – A Gestão do trabalho de enfermagem.............................. 75

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Relações Humanas no Trabalho em Saúde
UNIDADE I – RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO EM SAÚDE E
EM ENFERMAGEM
TEXTO 8 – O trabalho em saúde e as relações interpessoais .............. 88

Política de Saúde do Trabalhador


UNIDADE I – SAÚDE DO TRABALHADOR
TEXTO 9 – A saúde do trabalhador..................................................... 108

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Meio Ambiente, Qualidade de Vida e Saúde

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Modelo de Desenvolvimento, Riscos Ambientais e Saúde unidade I
Objetivo
Reconhecer o modelo de desenvolvimento do País/Estado e sua relação com
riscos ambientais que afetam a saúde da população.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Analisar as transformações provoca- 1- Ecologia, equilíbrio e desequilíbrio eco- 1- Pesquisa em grupos sobre ecologia, equilíbrio e dese-
das pelo trabalho humano no ambiente lógico quilíbrio ecológico.
natural e suas consequências. 2- Ambiente natural e ambiente modificado 2- Pesquisa em grupos sobre as transformações provoca-
3- Ações antropogênicas das pela ação humana no ambiente natural e os tipos
• Indústria de atividades que modificam o ambiente, destacando
• Mineração o trabalho humano.
• Urbanização 3- Apresentação dos trabalhos com sistematização das
• Agrária/pecuária ações antropogênicas.
4- Ecologia, qualidade de vida e saúde 4- Debate sobre a relação entre ecologia, qualidade.

UNIDADE I – Modelo de Desenvolvimento, Riscos Ambientais e Saúde 15

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Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.2- Relacionar a organização produtiva 1- Modelo de desenvolvimento industrial 1- Debate sobre as características do modelo de desen-
e mudanças ambientais que oferecem • Concentração de atividades de pro- volvimento das sociedades urbano-industriais e sua
risco à saúde da população. dução e consumo relação com o pensamento político-econômico cen-
• Aumento populacional trado no consumo.
• Aumento da urbanização 2- Levantamento das consequências ambientais decor-
• Exclusão social rentes da intensa intervenção humana sobre a nature-
• Falta de infraestrutura básica za, em especial nos aglomerados urbano-industriais.
2- Alterações ambientais 3- Discussão sobre a relação entre desequilíbrio dos
• Poluição química ecossistemas, consequências para a qualidade de
• Contaminação de água, solo e ali- vida e mudanças no perfil epidemiológico.
mentos
4- Organização e participação em seminário sobre ris-
• Destruição de florestas
cos ecológicos globais e política ambiental interna-
• Extinção de espécies
cional e nacional baseada em propostas de desenvol-
• Redução da biodiversidade
vimento sustentável.
3- Conceito de risco em saúde
5- Leitura e discussão do texto: Meio Ambiente, Desen-
4- Alterações ambientais volvimento e Saúde.
• Efeito estufa
• Destruição da camada de ozônio
• Contaminação nuclear

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e de produto parcial da Unidade I


Integração Curricular:
ÁREA I Determinantes do processo saúde-doença
ÁREA I Política Nacional de Saúde, Vigilância em Saúde Ambiental
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Pesquisa sobre a política ambiental de seu Estado/Município e sobre as possibilidades de atuação do técnico de enfermagem em ações ambientais.

16 16 Meio Ambiente, Qualidade de Vida e Saúde

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Texto 1 Meio Ambiente, Desenvolvimento e Saúde

A preocupação com as consequências ecológi- As atividades humanas trazem im-


pactos ambientais que se refletem no
cas do modelo de desenvolvimento econômico remon- meio físico, biológico e socioeconô-
mico. Dentre as alterações ambien-
ta aos anos 1960, quando a questão ambiental come- tais, o aquecimento do planeta pelo
efeito estufa, a redução da camada
çou a ser posta em evidência no cenário mundial. de ozônio e a contaminação nuclear
estão em evidência na mídia. Pesqui-
se mais sobre o tema e debata com
No decorrer das últimas décadas do século XX seu grupo sobre as consequências
do desequilíbrio dos ecossistemas
a exploração predatória dos recursos naturais, a po- para o meio ambiente e para a vida
das futuras gerações.
luição, os conflitos bárbaros entre povos e culturas,
a extinção de espécies e alterações climáticas graves
passaram a demandar uma tomada de posição em
busca de uma nova consciência sobre os graves ris-
cos do planeta.

Segundo a Organização Pan-Americana da


Saúde, no Caribe e na América Latina, cuja extensão territorial é representada
em sua maior parte pelo Brasil, a situação das condições do meio ambiente é
preocupante, com efeitos severos sobre a saúde humana e para o desenvolvi-
mento dos países.

Em nosso contexto sociopolítico e econômico encontramos disparidade Segundo os dados da CEPAL, 39%
dos domicílios da América Latina e
em todo o território nacional. Ao mesmo tempo que encontramos regiões, mu- do Caribe vivem em condições de
pobreza, 18% em condições de indi-
nicípios ou bairros com qualidade de vida comparável à de países de Primeiro gência e 37% das moradias são ina-
dequadas para ser habitadas. Destas,
Mundo, convivemos com situações de extrema pobreza, com grande parte da somente 21% podem ser melhora-
das para se tornar habitáveis. Essa
população sem acesso a bens e serviços básicos que lhe garantam condições situação implica problemas de saú-
dignas de vida. Problemas como deficiências no saneamento básico, exposição de pública, tais como a doença de
Chagas, as infecções respiratórias
das pessoas a perigos como contaminação do ambiente proveniente de resíduos agudas (IRA), alergias e, inclusive, a
violência. (OPAS/BRA/HEP/001/99).
derivados da atividade humana, contato diário com substâncias tóxicas, são al-
guns exemplos do nosso cotidiano que refletem essas especificidades.

Do exposto, verifica-se que as questões relacionadas à deterioração am-


biental para o setor saúde representam um desafio muito grande, colocando-o

UNIDADE I – Modelo de Desenvolvimento, Riscos Ambientais e Saúde 17

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Relembre discussões da Área I deste na situação de rever e buscar estratégias para abrandar sua repercussão sobre a
curso sobre os modelos de saúde e
suas características. Debata com seu qualidade de vida da comunidade. Neste sentido, uma retrospectiva histórica
grupo sobre qual modelo estabelece
a relação entre ambiente e saúde. poderá nos trazer evidências do que se tem feito e quais os avanços possíveis na
busca de soluções integradoras, multissetoriais e com ampla incorporação da
cidadania e das autoridades locais. (OPAS, 1999).

Ecossistema: É conjunto inseparável Uma das primeiras iniciativas, com foco no campo da saúde quanto à
de seres vivos e do meio ambiente
físico, incluindo as relações entre si. relação entre ecossistemas, ambientes saudáveis e saúde surgiu de estudos re-
Um ecossistema pode ter tamanhos
diferentes – um pântano, uma gru- alizados em 1974 no Canadá. O resultado deste trabalho – conhecido como
ta, um rio ou uma ilha podem ser
chamados de ecossistemas. Já os
relatório Lalonde – apontou a importância de uma abordagem ecológica no trato
espaços maiores – como florestas das ações de saúde.
tropicais, o cerrado ou a geleira ár-
tica – chamamos de biomas, pois
abrigam um conjunto diversificado
de ecossistemas. (Ministério da Saú-
A Declaração de Alma-Ata para os Cuidados Primários em Saúde, divulgada
de, Proformar, 2004). pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1978, marcou a abordagem do
processo saúde-doença considerando suas dimensões sociais, políticas, culturais,
ambientais e econômicas. A OMS sugeriu novas propostas que englobavam:

• as ações de saúde como práticas viáveis e aceitas pela sociedade;


• a saúde ao alcance de todos, pessoas e famílias, em locais acessíveis à
comunidade;
• a participação da comunidade na implantação e na atuação do sistema
de saúde;
• a custo dos serviços compatíveis com a situação econômica da região
e do País.

Empoderamento: É a condição de A I Conferência de Promoção à Saúde de Otawa, realizada pela OMS em


uma pessoa, um grupo social ou de
uma comunidade ampliar sistemati- 1986, alinhou as bases para a reorientação das políticas de saúde, pautadas em
camente sua capacidade de realiza-
ção – empreender ações, negociar qualidade de vida, cidades saudáveis e empoderamento da comunidade.
e pactuar com outros atores sociais
a favor do bem comum. (Ministério
da Saúde, Proformar, 2004). O conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado em 1987
pela Comissão Bruntland da Organização das Nações Unidas (ONU), em uma
perspectiva de desenvolvimento econômico que atenda às necessidades do

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presente sem comprometer as futuras gerações e tornou-se referência para uma
série de outros eventos e documentos norteadores de políticas públicas. (Mi-
nistério da Saúde, CBVA, 2002).

A 2ª Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvol- A Agenda 21 é uma carta de com-
promisso entre países ricos e po-
vimento (CNUMAD ou RIO-92), realizada no Rio de Janeiro em 1992 foi con- bres, contendo sete capítulos que
propõem a construção de um am-
siderada como um marco, tanto pela expressiva participação de líderes políti- biente saudável, com políticas de
prevenção e promoção da saúde.
cos mundiais como pelo consenso em torno de uma agenda ambiental, com a (FIOCRUZ, PROFORMAR, 2004).
pactuação de acordos internacionais e definição de políticas, ainda em vigor:
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Convenção sobre
Mudanças Climáticas; Declaração de Princípios sobre Florestas; Convenção so-
Pesquise sobre ações desenvolvidas
bre a Biodiversidade e a Agenda 21. em seu Município ou Estado para
diagnóstico de problemas sócio-am-
bientais e geração de diretrizes para
As conferências internacionais realizadas em Adelaide (1988), Sundsvall um desenvolvimento local sustentável,
em consonância com a Agenda 21.
(1991), Bogotá (1992) e Jacarta (1997) traçaram diretrizes para as políticas públi-
cas relativas a ambientes e estilos de vida saudáveis.

Os riscos ambientais e suas consequências para a saúde estão assim, para O reconhecimento da complexida-
de dos problemas ambientais vem
além da alçada do setor saúde. Nesse sentido, nos anos 1990, em nosso país, o exigindo a superação dos reducio-
nismos, por meio de uma ciência
debate sobre o modelo de vigilância da saúde veio traçar novas bases para polí- mais voltada ao diagnóstico dos
ticas e ações de saúde centradas em uma perspectiva de promoção. problemas e reconhecimento dos
seus limites, bem como práticas
inter/transdiciplinares de produção
de conhecimento, constituição de
O paradigma da promoção à saúde é posto em ação por meio do mode- equipes multiprofissionais e polí-
lo de vigilância da saúde, tendo como sujeitos do processo tanto a equipe de ticas intersetoriais e participativas,
que assumam a dimensão comple-
saúde quanto os cidadãos, por meio do controle social. As novas tecnologias xa dos problemas ambientais. Nesse
processo, reforça-se a necessidade
de comunicação social e planejamento local situacional, aliadas às tecnolo- de uma redefinição e reorientação
do papel do setor saúde frente aos
gias médico-sanitárias, se constituem nos meios para a intervenção nos fatores problemas ambientais (...). Nesse
determinantes das condições de vida e de trabalho da população, organizadas contexto, a intersetorialidade passa
a ser conceito-chave, significando
em ações intersetoriais, em bases territoriais. Este novo paradigma requer a re- a integração entre os vários níveis
e setores de governo envolvidos
ordenação dos recursos humanos que atuam nesse campo, com novas compe- direta ou indiretamente em torno
de problemas de saúde e ambiente.
tências relativas à comunicação social, pensamento estratégico e habilidades (Ministério da Saúde, CBVA, 2002).
de articulação com os diversos setores e estruturas envolvidos na promoção à
saúde e com a população.

UNIDADE I – Modelo de Desenvolvimento, Riscos Ambientais e Saúde 19

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O SINVAS define a Vigilância Am-
biental em Saúde como um con-
O ano de 2000 foi marcado pela criação e gestão do Sistema Nacional
junto de ações que proporcionam de Vigilância Ambiental (SINVAS) a cargo da Fundação Nacional de Saúde (FU-
o conhecimento e a detecção de
qualquer mudança nos fatores de- NASA), em articulação com instituições públicas e privadas integrantes do SUS,
terminantes e condicionantes do
meio ambiente que interferem na envolvendo ações nos campos da saúde, saneamento e meio ambiente.
saúde humana, com a finalidade de
identificar as medidas de preven-
ção e controle dos fatores de risco Em junho de 2003, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) absorveu as
ambientais relacionados às doen-
ças ou outros agravos à saúde. (Mi-
atribuições do antigo Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), até então sob
nistério da Saúde, SINVAS, 2002). gestão da FUNASA e, com base no Decreto nº 4.727, de 9 de junho de 2003,
assumiu também a gestão do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e
Ambiental em Saúde.

A Instrução Normativa nº 1, de 7
de março de 2005, regulamentou o
Em nível municipal, as estruturas das vigilâncias epidemiológica, sanitária
Subsistema Nacional de Vigilância e ambiental, até então desarticuladas, passam a se constituir na estrutura opera-
em Saúde Ambiental (SINVSA). En-
tre suas atribuições estão a coorde- cional da vigilância da saúde, em uma perspectiva de integralidade e interseto-
nação, a avaliação, o planejamen-
to, o acompanhamento, a inspeção rialidade das ações.
e a supervisão das ações de vigi-
lância relacionadas às doenças e
agravos à saúde no que se refere a: Em conformidade com as ações da Vigilância em Saúde Ambiental é im-
1) água para consumo humano;
2) contaminações do ar e do solo;
perativo que o desenvolvimento econômico e político ocorra de maneira sus-
3) desastres naturais; tentável havendo a integração entre os empresários e os diversos setores gover-
4) contaminantes ambientais e
substâncias químicas; namentais, além da participação de comunidades representadas por meio de
5) acidentes com produtos perigosos;
6) efeitos dos fatores físicos; e conselhos e comissões.
7) condições saudáveis no ambien-
te de trabalho.
Cabe ainda ao SINVSA elaborar in- Na área da saúde muito se pode fazer no sentido de contribuir para o de-
dicadores e sistemas de informação
de vigilância em saúde ambiental senvolvimento sustentável, a equipe de enfermagem pode e deve participar de
para análise e monitoramento, ações desse contexto como cidadãos e profissionais.
promover intercâmbio de experi-
ências e estudos, ações educativas
e orientações e democratizar o co-
nhecimento na área. (Ministério da
Saúde, SVS, 2009).
Bibliografia
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Fundação Nacional de Saúde. Curso Básico de Vigilância
Ambiental em Saúde. CBVA. Brasília: 2002, mimeo.

______. SVS, 2009. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profis-


sional/visualizar_texto.cfm?idtxt = 30804>.

20 20 Meio Ambiente, Qualidade de Vida e Saúde

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______. Fundação Nacional de Saúde. Vigilância Ambiental em Saúde. Brasília,
2002. Disponível em: < http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_sin-
vas.pdf>. Acesso em: 16 de julho de 2009.

______. Secretaria de Vigilância em Saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.


br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt = 25344>. Acesso em: 16 de
julho de 2009.

______. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde.


Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/politica_promocao-
saude.pdf>. Acesso em: 25 de julho de 2009.

______. Fundação Osvaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.


Programa de Formação de Agentes Locais de Vigilância em Saúde. PROFORMAR,
Unidade de Aprendizagem II, Módulo 4. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2004.

Organização Pan-Americana da Saúde/Brasil. Atenção Primária Ambiental.


Brasília, DF: Brasil, 1999.

UNIDADE I – Modelo de Desenvolvimento, Riscos Ambientais e Saúde 21

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O Trabalho em Saúde

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Trabalho Enquanto Produção da Vida Material e Social unidade I
Objetivo
Reconhecer o trabalho enquanto produção humana e necessidade gregária.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


I.1- Analisar a história do trabalho 1- Trabalho como produção da vida 1- Pesquisa sobre a história do trabalho e do de-
e sua importância na vida material material e de meios para a satisfação senvolvimento da humanidade.
e social. das necessidades de subsistência 2- Apresentação dos trabalhos e debate sobre sua
2- Trabalho individual e trabalho co- importância na evolução da consciência huma-
letivo na e da vida material e social da humanidade.
3- Divisão social do trabalho 3- Debate sobre as formas de divisão do trabalho
• Homens e mulheres na história e na sociedade atual e suas implica-
• Adultos e crianças ções (diferenças salariais e de status social, ex-
• Cidade e campo posição a riscos ambientais e a desgaste físico/
• Trabalho intelectual e braçal emocional, consequências para a qualidade de
4- Necessidade de relações sociais vida e saúde).
• Linguagem/comunicação en- 4- Leitura e discussão do texto: A Evolução da
quanto intercâmbio entre os Organização do Trabalho.
homens

Avaliação: Avaliação processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto final da Unidade I
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Pesquisa sobre a divisão do trabalho por gênero, idade e classe social em saúde e na enfermagem.

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Texto 2 A Evolução da Organização do Trabalho

É de Adam Smith (1723-1790), Nos primórdios da humanidade a


economista escocês, entusiasta
da divisão do trabalho, o célebre natureza representava a fonte de subsis-
exemplo da fábrica de alfinetes. Em
uma indústria um operário dificil- tência. Com a escassez de alimentos, no
mente conseguiria fabricar muito
mais do que alguns alfinetes em
entanto, houve o desenvolvimento de
um dia de trabalho. Mas se vários técnicas e ferramentas para a extração
operários, devidamente treinados
para isso, executarem cada etapa e produção de bens de consumo para
da fabricação do alfinete: separar
o arame, desenrolar, medir, cortar, a manutenção da vida na comunidade.
afiar a ponta, colocar a cabeça. a
produção aumenta exageradamen-
te. Em seu exemplo fala de uma Os bens materiais utilizados
manufatura com 10 funcionários
que produziam 12 libras de alfine- pelo homem eram produzidos pelos
tes por dia, o que representa 48 mil
alfinetes. Dessa forma um operário
artesãos. Essa forma de trabalho se caracterizava pela independência, pois o
é responsável pela produção de 4,8 artesão possuía a matéria-prima e as ferramentas necessárias, além do que de-
mil alfinetes/dia, o que jamais seria
capaz de produzir sozinho. senvolvia o trabalho em sua própria casa ou em pequenas oficinas coletivas.
Dessa forma dominava todas as etapas do processo produtivo da mercadoria e
o artesanato se desenvolveu.

O advento da modernidade apon- Como os bens produzidos dependiam da matéria-prima disponível, que
tou outra configuração à concep-
ção e organização do trabalho, variava regionalmente, iniciou-se o período de troca de mercadorias ocasionan-
impulsionadas pelas descobertas
científicas e marítimas, pelo desen- do o desenvolvimento das regiões de produção. O comércio se organiza em ar-
volvimento das ciências da nature-
za, da imprensa e do domínio/con-
mazéns e as mercadorias passam a ser levadas a outras regiões para ser trocadas,
trole do tempo. A organização do provocando a necessidade de aumento na produção.
trabalho fabril introduz o processo
de trabalho coletivo e a inclusão de
mulheres e crianças como mão de
obra. Nesse contexto são lançadas
Com o incremento da demanda, gradativamente o processo de produção
as bases do liberalismo burguês e de uma mercadoria passa a ser fragmentado, dividido entre vários trabalhado-
do capitalismo, ao se conceber o
trabalho como gerador de direitos res. Com a divisão social da produção há aumento na produtividade e para a
e criador de valores e ao se con-
siderar o homem/trabalhador não utilização das máquinas e execução da etapa que cabe a cada operário há a
mais como “alma” controlável pelo
poder político/religioso, mas como necessidade de treinamento.
força de trabalho, passível de ser
barganhada pelo salário. (Ministé-
rio da Saúde, 2000). Assim, em meados do século XVIII, ocorre a Revolução Industrial, fenô-
meno iniciado na Inglaterra e com repercussão mundial, que traz a mecanização
para os processos de produção, com isso a tarefa artesanal do homem foi sendo

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substituída pela atividade da máquina e o trabalho realizado em casas e oficinas
Com a Revolução Industrial, o
passa a ser feito em fábricas. trabalho perde suas características
de extração/produção individual/
familiar, em que a manufatura de
Nas fábricas, os operários assalariados deixam de ter domínio sobre o produtos/serviços envolvia reali-
zação e desenvolvimento humano
produto de seu trabalho, exercendo cada vez mais a tarefa repetitiva e mecânica e respeitava o ritmo biológico do
que lhe cabe. O trabalho especializado de cada etapa, como visto anteriormen- trabalhador. A produção em sé-
rie vem fragmentar e decompor o
te, ao obedecer o ritmo de produção, garante quantidade. processo de trabalho, retirando do
trabalhador a autorrealização de
ver sua obra completa e acabada.
A mecanização trouxe mudanças que transformaram todo o contexto A sujeição do operário ao ritmo
mecânico de produção em massa
político-social. Atraídas por novas perspectivas de trabalho, famílias inteiras foi e tem sido um poderoso fator
determinante de doenças físicas
de trabalhadores rurais deixam o campo e se aglomeram nos arredores dos e mentais. Esse princípio, ao ser
aplicado automaticamente a ou-
grandes centros industriais, modificando inclusive, a relação entre o homem e tras áreas de trabalho – inclusive
serviços de saúde, a pretexto do
o meio ambiente. aumento da produtividade, trouxe
consequências graves para traba-
lhadores e usuários. (Ministério da
Os métodos de manufatura tornaram-se mais eficientes, uma vez que os Saúde, 2000).
produtos passaram a ser fabricados em menor tempo e em maior quantidade,
reduzindo o preço, estimulando o consumo e firmando o acúmulo do capital.

Os empregadores estabelecem as regras impondo a divisão do trabalho, Marx vem a ser um divisor de
águas ao apontar que o trabalho
o ritmo necessário à produção e a jornada de trabalho. Como o que se tinha era oculta a alienação e a inconsciên-
cia do trabalhador em relação ao
a produção em massa passa a se estimular o consumo desenfreado, mudando o seu próprio ato, descaracterizando-
o de sua natureza humana e indivi-
modelo econômico-social da população. dual. Assim, o trabalhador passa de
indivíduo a membro de determi-
nada classe social, condição esta
Nesse período, Frederick Taylor (1856-1915), engenheiro norte-america- que só será eliminada pela supera-
ção do trabalho assalariado. Marx
no, destacou-se na área, concebendo a ideia de que a organização e a adminis- também mostra outra dimensão do
trabalho ressaltando que por meio
tração das empresas deveriam ser tratadas cientificamente e não empiricamente dele (enquanto ação voluntária e
como vinham sendo conduzidas. consciente) o homem intervém so-
bre a natureza para humanizá-la e
humanizar-se, ou seja, o trabalho
tem sido a forma histórica de de-
Sua atenção foi direcionada principalmente para a organização racional senvolvimento da humanidade. A
do trabalho no “chão de fábrica”. Intensificou a divisão do trabalho convicto superação da dicotomia teoria-prá-
tica ocorre a partir do entendimen-
de que a eficiência aumentava com a especialização e cada trabalhador ficou to de trabalho enquanto atividade
concreta do ser humano, que trans-
limitado à execução de uma etapa do processo de produção, de maneira re- forma o mundo e, nesse processo,
transforma-se a si mesmo. (Ministé-
petitiva e constante. rio da Saúde, 2000).

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Karl Marx (1818-1883): Socialista
Preocupou-se ainda com a eliminação de tempo não dedicado às tarefas
de origem alemã, idealizador do produtivas (estudo dos tempos e movimentos) especialização do operário e pa-
comunismo, tinha como principal
enfoque uma sociedade mais justa dronização de ações e situações. Defendeu a centralização do planejamento do
e equilibrada quanto à distribuição
de renda. Acreditava que a frag- trabalho nas gerências, estabelecendo controle rígido dos operários na execução
mentação do trabalho trazia ao in-
divíduo a alienação, pois não con- de suas tarefas, mediante a ação do supervisor. O trabalhador passou a ser um
seguia visualizar o produto final. mero executor de tarefas provocando a separação entre a concepção e a execu-
ção (mente e mãos).

Contemporâneo de Taylor, Henri Fayol (1841-1925), na França, desenvol-


No processo de trabalho de saúde veu a Teoria Clássica, com ênfase na estrutura da organização. Concebeu como
e em enfermagem ainda se observa
forte influência da teoria científica. sendo função administrativa o ato de prever, organizar, comandar, coordenar e
De maneira geral há uma acentu-
ada preocupação em como fazer, controlar. Baseado em estruturas militares, Fayol desenvolve um trabalho meto-
valorizando os mínimos detalhes
das tarefas, que muitas vezes o pro-
dizado e hierarquizado, afirmando que a organização se faz mediante algumas
fissional executa ritualisticamente, características indispensáveis: autoridade e responsabilidade; disciplina; unida-
de forma mecânica e sem nenhum
questionamento. de de comando e direção; centralização, ordem, subordinação dos interesses in-
A escala funcional é outro exem-
plo, cuja ênfase está na tarefa. A dividuais em detrimento dos coletivos; equidade; justiça quanto à remuneração
distribuição de atividades diárias
entre os integrantes da equipe é fei- de pessoal e estabilidade.
ta por tarefas, ou seja, o técnico de
enfermagem A é responsável pelos
controles e curativos, o técnico de A partir de 1920, época de crise econômica mundial, Elton Mayo, impor-
enfermagem B pela higiene e ali-
mentação e o técnico de enferma-
tante estudioso das teorias administrativas, percebeu por meio de estudo com-
gem C pela administração de medi- parativo que o ambiente de serviço tinha pouca ou nenhuma influência sobre a
cação de todos os pacientes. Nesse
caso há uma fragmentação dos produtividade quando comparado a condições emocionais dos trabalhadores.
cuidados de enfermagem prestados
ao cliente. Atualmente, as escalas Para Mayo, a relevância está na participação deles nas tomadas de decisão, no
diárias de trabalho baseadas nas
divisões de atividade estão sendo trabalho em grupo e na motivação para tarefas que os estimulem como seres
substituídas pela escala de trabalho sociais.
com ênfase no cuidado integral.

Nas primeiras décadas do século XX, em Detroit, nos Estados Unidos da


América, Henry Ford, inspirado nos trabalhos de Taylor, inovou o processo de
trabalho em sua fábrica de automóveis, introduzindo a produção em série, que
A linha de montagem concebida
por Ford foi magistralmente retra- ficou conhecida internacionalmente como linha de montagem. O processo con-
tada por Charles Chaplin, em seu
filme Tempos Modernos. Assistam siste em uma esteira rolante que passa em frente aos trabalhadores com o produ-
ao filme e façam uma analogia
com as atividades desempenhadas
to a ser montado, ao qual são adicionados sucessivamente os componentes que
na enfermagem. se encontram ao lado de cada operário.

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Nesse modelo o sistema proposto por Taylor foi aperfeiçoado, proporcio- O sistema fordista-taylorista foi
duramente criticado, sendo visto
nando aumento da produtividade do trabalho com automação operada pela má- como processo que robotizava os
trabalhadores, não havendo nenhu-
quina. Ford consagrou-se pela produção de um mesmo tipo de carro para um ma chance de criar e participar li-
vremente do processo de produção.
público de massa – o famoso modelo T de cor preta.

No final da Segunda Guerra Mundial um novo sistema surgiu no Japão


que se iniciou também numa fábrica de automóveis e ficou conhecido como
toyotismo. Esse sistema chegou ao Ocidente na década de 1970.

O toyotismo trouxe nova configuração ao sistema de produção que o dis-


tinguiu do sistema taylorista/fordista. Se o modelo T de carro fordista do inicio do
século passado era todo produzido no mesmo local, o mesmo não ocorreu com
a Toyota japonesa do pós-guerra. Vários componentes utilizados na fabricação
dos veículos passaram a ser produzidos em empresas fornecedoras localizadas
em outras regiões ou países, possibilitando a redução do custo de mão de obra e
do produto final. A montagem é realizada em pequenos lotes, mas com grande
variedade para atender ao mercado.

O trabalho passa a ser operado de maneira mais coletiva e as ideias e


opiniões do trabalhador, que contribuíssem para os objetivos organizacionais,
são valorizadas. Não há mais a rígida barreira entre a direção (pensa) e o tra-
balhador (executa).

Nas décadas seguintes a exigência de mercado se torna cada vez Polivalência e multifuncionalidade
(...) conceitua a polivalência como
maior, há demanda de produtos cada vez mais diversificados para atender a ampliação do conjunto de tarefas
atribuídas ao empregado dentro
às diferentes necessidades do consumidor. Coube às empresas se adequa- da sua especialidade profissional
e multifuncionalidade como a
rem às novas situações, enfrentando desafios como a capacidade de res- ampliação no conjunto de tarefas
que incorpora outras especialida-
ponder rapidamente às mudanças de demanda de mercado, incorporação des profissionais não pertencen-
de novas tecnologias e formas de gestão da força de trabalho, incluindo tes, originalmente ao empregado,
ambas exigindo (re) qualificação
trabalho em equipes, círculos de controle de qualidade, com ênfase na co- para o novo trabalho (polivalente
ou multifuncional). (HIRATA apud
operação, na multifuncionalidade e na polivalência. (Laranjeira apud Loch, Mazzilli, C; Agra, C., 1998).

C. L; Correia, G.S., 2004).

UNIDADE I – Trabalho Enquanto Produção da Vida Material e Social 29

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Bibliografia
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M.H.P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3 ed.
São Paulo: Moderna, 2003.

FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I. Gestão empresarial: de Taylor aos


nossos dias, Evolução e tendências da administração moderna de empresas. São
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HELOANI, R. Gestão e organização no capitalismo globalizado: História da mani-


pulação psicológica no mundo do trabalho. São Paulo: Atlas, 2003.

HERBET, B. R. de M. N. Marx, Taylor, Ford: as forças produtivas em discussão. São


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LOCH, C. L.; CORREIA, G. S. A flexibilização do trabalho e da gestão de pessoas limi-


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MAZZILLI, C.; AGRA, C. O significado do trabalho multifuncional no processo de


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PONTES, A. P. Filho; et al. A divisão do trabalho como instrumento de dominação. III Se-
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30 30 O Trabalho em Saúde

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O Mundo do Trabalho Contemporâneo: unidade II
Perspectivas para o Trabalho em Saúde
Objetivo
Reconhecer o cenário político-econômico nacional e internacional e suas impli-
cações para o mundo do trabalho e para a gestão do SUS.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

II.1- Analisar o mundo do trabalho 1- O mundo do trabalho nas socieda- 1- Organização e participação em seminário so-
nas sociedades contemporâneas e des pós-industriais bre mundo do trabalho, globalização, políticas
sua relação com o panorama políti- • Diminuição de postos de traba- públicas e consequências para o mercado de
co-econômico. lho/desemprego trabalho e trabalhador.
• Privatização
• Informatização

II.2- Analisar as implicações do ce- 1- Sistema Público de Saúde 1- Pesquisa sobre alternativas de trabalho em
nário político-econômico para o • Precariedade saúde e enfermagem para além do emprego
Sistema de Saúde e para os traba- • Heterogeneidade de vínculos formal.
lhadores. • Concentração da força de trabalho 2- Apresentação dos trabalhos e debate sobre as
nos níveis estadual e municipal consequências do cenário político-econômico
• Terceirização nacional e internacional para os trabalhadores
2- Alternativas de trabalho em saúde/ nos aspectos sociais e legais.
enfermagem: 3- Leitura e discussão do texto: Gestão do Traba-
• Emprego formal lho no SUS.
• Cooperativas
• Home care
• Trabalho temporário
• Trabalho autônomo

Avaliação: avaliação processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade II
Integração Curricular:
ÁREA I Promoção da Saúde
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Pesquisa sobre a situação do mercado de trabalho seu Estado/Município.
Pesquisa sobre a situação do mercado de trabalho em enfermagem seu Estado/Município e sobre as possibilidades de atuação do técnico
de enfermagem.

UNIDADE II – O Mundo do Trabalho Contemporâneo: Perspectivas para o Trabalho em Saúde 31


Texto 3 Gestão do Trabalho no Sus

No texto anterior fizemos o resgate histó-


rico da evolução do trabalho. Percebemos que a
evolução da sociedade, da educação e do traba-
lho é parte do processo histórico da humanida-
de, caracterizado pela relação dos sujeitos com o
modo de vida, a convivência em coletividade, as
crenças e significações, valores, objetivos e prio-
ridades que variam conforme a época.

As influências de outras sociedades nesse


processo de construção remeteram às tentativas
de adaptação e inserção de diferentes modelos de trabalho que no final do
século  XX e início do  século XXI, foram suscitadas pela globalização. O
processo produtivo nessa fase destaca-se principalmente pela flexibilidade
de produção, qual seja a necessidade de adaptação rápida dos produtos às
exigências do mercado, com repercussões importantes na gestão do trabalho
e na atuação dos trabalhadores. Mudanças contínuas como a que se verifica
atualmente determinam a necessidade de o trabalhador desenvolver também
a capacidade de se ajustar à situação, com a incorporação de diferentes habi-
lidades que lhe dê mobilidade para modificar continuamente suas atividades
sempre que forem necessárias. No âmbito da saúde o panorama é semelhan-
te, embora sua finalidade seja distinta à da produção de bens e produtos.

O trabalho em saúde faz parte do setor de serviços e é essencial à vida


humana. Integra o conjunto das atividades denominado serviços de consumo
coletivo e sofre de igual forma os impactos do cenário político e econômico
mundial que vem atingindo o mundo do trabalho nas últimas décadas.

Em estudos anteriores pudemos observar que dentre as mudanças orga-


nizacionais que afetam a vida do trabalhador destacam-se a redução dos níveis
hierárquicos, a polivalência e a multifuncionalidade. São novos desafios coloca-

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dos diante do trabalhador, considerando-se que essas transformações suscitam o
desenvolvimento de novas competências como as relacionadas ao aumento de
escolaridade, exigência de conhecimentos gerais, trabalho em equipe, flexibili-
dade, capacidade de tomar decisões perante problemas complexos, comunica-
ção, acesso às informações, além das habilidades pessoais como responsabilida-
de, espírito crítico, criatividade e iniciativa.

Enfatiza-se sobretudo a necessidade de se ter um quadro de pessoal Pesquise no Serviço que você tra-
balha quais os tipos de parcerias
ajustado às mudanças tecnológicas e às variações do mercado, capaz de existentes e as oportunidades de
trabalho que estas oferecem ao
dar soluções mais rápidas e criativas para os problemas à medida que estes técnico de enfermagem. Discuta
em sala de aula as vantagens e
vão surgindo. Essa noção de flexibilização do emprego e do trabalho, se- desvantagens de trabalhar em ser-
viços terceirizados.
gundo Passos Nogueira, significa encontrar formas de colocar prontamente
a pessoa certa no lugar certo para garantir a satisfação do cliente e permitir
a própria reprodução da instituição diante das forças do mercado e das
tecnologias modernas.

Podemos observar a flexibilização na gestão do SUS em contratos de Organizações Sociais (OS): “são
entidades privadas, sem fins lu-
gestão com organizações sociais (OS), contrato temporário, terceirização por crativos, qualificadas pelo Poder
Público, sob certas condições pre-
meio de empresas ou cooperativas. São estratégias de gestão diferenciadas vistas expressamente em lei, com
vistas à formação de uma parceria
para atender às demandas trazidas pelas políticas de saúde no contexto or- com o Estado para fomento e exe-
çamentário imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita os gastos cução de atividades de interesse
público, mediante contrato de ges-
com pessoal. (Brasil. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. SUS: avan- tão”. (FUNDAP, 2004).

ços e desafios, 2006).

A flexibilização da administração da saúde pode ser observada em Orga-


nizações Sociais (OS), que embora não façam parte da estrutura da administra-
ção pública, são voltadas para prestação de serviços sociais de interesse público
que possibilitam maior autonomia administrativa e financeira, respeitados os li- Cooperativa: “... uma associação
mites estabelecidos por instrumentos legais. autônoma de pessoas que se uni-
ram voluntariamente para fazer
frente às necessidades e aspirações
A terceirização é notória em nosso meio. Segundo PICCININI (2004), esta econômicas, sociais e culturais co-
muns por meio de uma empresa de
tem se difundido em todos os setores da economia e em sua maior parte, de- propriedade conjunta e democrati-
camente controlada”. (IRION apud
senvolve-se por meio de cooperativas de trabalho. É uma modalidade cuja vin- PICCININI,1997).

UNIDADE II – O Mundo do Trabalho Contemporâneo: Perspectivas para o Trabalho em Saúde 33

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Pesquise sobre precariedade e he- culação do trabalhador se dá de maneira bastante flexível e efetuada por meio
terogeneidade de vínculos e esta-
beleça relação com o SUS. de contrato global. Os custos geralmente ficam mais reduzidos para o gestor
que vem a contratar os serviços de cooperativas, pois não tem que arcar com os
encargos trabalhistas.

Pesquise na sua comunidade quais


os serviços de Cuidado Domiciliar A terceirização de serviços está cada vez mais presente na prestação de
(CD) – Homecare – oferecidos.
Discutir em sala de aula quais as
serviços de saúde pelo SUS, sobretudo em alguns setores como higiene e limpe-
qualificações necessárias ao técni-
co de enfermagem para desenvol-
za, nutrição e dietética, laboratório de análises clínicas e recepção.
ver essa modalidade de trabalho.

PICCININI ressalta que há duas opiniões distintas sobre as cooperativas de


trabalho: solução para o desemprego e precarização do trabalho. Ainda, segun-
do esta autora, uma cooperativa deve seguir os seguintes princípios:
Pesquise em seu município insti-
tuições de saúde que incorporaram
novas tendências em seus modelos adesão livre e voluntária; controle democrático e partici-
de gestão. Debata com seu grupo a
relação entre modelo de gestão e pação econômica dos sócios; independência e autonomia
qualidade na atenção à saúde.
das cooperativas; educação, treinamento e formação do
pessoal; integração entre as cooperativas e preocupação
com a comunidade.

Home Care é uma modalidade sui- Outra alternativa cada vez mais expressiva no meio da saúde é o
generis de oferta de serviços de saú-
de. A empresa provê cuidados, tra- Home care.
tamentos, produtos, equipamentos,
serviços especializados e específicos
para cada paciente, num ambiente
extra-institucional de saúde mais TORRE et al (1998), apontam para uma série de vantagens no que se refere
especificamente, porém não tão
somente, nas suas residências. Em
à internação domiciliar, entre elas a redução dos custos e dos riscos de infecção,
Home Care a condição clínica ou en-
fermidade do paciente torna-se parte
racionalização dos recursos e leitos hospitalares, menor impacto na rotina e no
de um plano de tratamento global in-
tegrado, cuja finalidade é a ação pre-
modo de vida do cliente e consequentemente uma assistência mais humanizada.
ventiva, curativa, reabilitadora e/ou
paliativa especializada. Poucos servi-
ços de saúde têm estas características. REHEM e TRAD (2005) concluem que estas estratégias refletem a preocu-
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<http://www.portalhomecare.com. pação com a humanização da assistência, além da diminuição do tempo de per-
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34 34 O Trabalho em Saúde

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Bibliografia
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81232005000500024&script=sci­­_arttext>. Acesso em: 29 de junho de 2009.

UNIDADE II – O Mundo do Trabalho Contemporâneo: Perspectivas para o Trabalho em Saúde 35

30916018 miolo.indd 35 2/9/2009 17:49:36


TORRES, G.de V.; DAVIM, R.M.B.; NÓBREGA, M.M.L. Aplicação do processo de
enfermagem baseado na Teoria de Orem: estudo de caso de uma adolescente grávi-
da. Rev Latino-Am. Enfermagem v.7 nº 2. Ribeirão Preto, Abr.1999. Disponível em:
<http://www.revistauspsibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104116919
99000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 30 de junho de 2009.

36 36 O Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 36 2/9/2009 17:49:36


O Processo de Trabalho em Saúde unidade III
Objetivo
Analisar a organização dos serviços e o processo de trabalho em saúde.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

III.1. Caracterizar o processo de 1- Processo de trabalho 1- Dramatização de situações de trabalho distin-


trabalho em saúde. • Meios de trabalho tas. Sugestão: trabalho artesanal (sapateiro,
• Força de trabalho costureira), trabalho industrial (linha de mon-
2- Processo de trabalho em saúde: tagem) e assistência hospitalar.
• Divisão técnica: vertical e hori- 2- Debate sobre as características dos meios e
zontal do processo de trabalho em cada situação no
• Coletivização do trabalho: intera- que se refere a: trabalho individual X trabalho
ção efetiva entre os membros da coletivo; domínio da totalidade do trabalho X
equipe fragmentação do trabalho; produto X serviço.
Destaque para a divisão técnica no processo
de trabalho em serviços de saúde e suas impli-
cações para a integralidade e humanização da
atenção.
3- Debate sobre a importância dos processos de
qualificação/especialização dos trabalhadores
com vistas à qualidade dos serviços prestados.

UNIDADE III – O Processo de Trabalho em Saúde 37

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Objetivos Específicos Conteúdos Método

III. 2 – Reconhecer a supervisão 1- O papel da supervisão no processo 1- Dramatização de situações envolvendo super-
como ferramenta para a coordena- de trabalho em saúde visão do processo de trabalho em saúde e em
ção do processo de trabalho cole- • Função técnica enfermagem. Sugestão: trabalho em Programa
tivo. • Função administrativa de Saúde da Família, Centros de Terapia Inten-
• Função pedagógica siva, Serviço de Emergência, Centro de Atendi-
2- A supervisão em enfermagem mento Psicosocial.
2- Análise das características processo de traba-
lho e da supervisão em cada situação.
2- Debate sobre a importância da supervisão na
coordenação do trabalho coletivo e suas fun-
ções. Destaque para os impasses e desafios
para a supervisão e formas de superação.
4- Debate sobre as possibilidades de o técnico de
enfermagem auxiliar o enfermeiro na supervi-
são. Destaque para a importância da passagem
de plantão, considerando-se as características
do processo de trabalho em saúde (trabalho
coletivo e em turnos).

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade III
Integração Curricular:
ÁREA I Promoção da Saúde
ÁREA III O Trabalho em Enfermagem

38 38 O Trabalho em Saúde

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Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 39 2/9/2009 17:49:36


40

30916018 miolo.indd 40 2/9/2009 17:49:36


Gestão em Saúde unidade I
Objetivo
Reconhecer a importância da gestão na organização dos serviços e na valoriza-
ção do trabalhador de saúde.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Analisar o processo de gestão 1- Gestão e administração em saúde 1- Leitura em grupos do texto Gestão em Saúde.
em saúde com base em teorias 1.1- Missão e cultura organizacional 2- Debate em plenária sobre os pontos apre-
administrativas. 1.2- Teorias administrativas sentados no texto, com destaque para as
1.3- Novos modelos de gestão teorias administrativas, novos modelos de
gestão e as implicações do modelo de ges-
tão para a qualidade do trabalho em saúde
e valorização do trabalhador. Pesquise mais
sobre o tema, se necessário. Relacione com
o modelo de gestão adotado em seu local de
trabalho, com base nas teorias administrati-
vas abordadas.
3- Trabalho em grupos com elaboração de pro-
postas para melhor organização do trabalho em
saúde, considerando o cenário do mundo do
trabalho e do mercado de trabalho em saúde.
4- Apresentação dos trabalhos e debate.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade I


Integração Curricular:
ÁREA III O Trabalho em Enfermagem

UNIDADE I – Gestão em Saúde 41

30916018 miolo.indd 41 2/9/2009 17:49:36


Texto 4 Gestão em Saúde

Pense em que estes conceitos de Para alguns autores os termos gestão e administração possuem o mesmo
gestão e administração se relacio-
nam com o trabalho em saúde e significado sendo considerados como sinônimos. Em uma visão mais moderna
com a sua função de técnico de
enfermagem. gestão reflete um sentido mais amplo, englobando pessoas, processos e planeja-
mento, enquanto administração relaciona-se a finanças, contabilidade e merca-
do, incluindo concorrentes e oportunidades.

A administração consiste em um conjunto de atividades de planejamento,


organização, controle e avaliação para atingir os objetivos organizacionais esta-
belecidos. Portanto, a administração estaria inserida na gestão.

Sabemos que esse equilíbrio entre


oferta e demanda nem sempre está
O conceito de administração tem-se modificado através dos tempos e
presente quando observamos os consequentemente de acordo com a evolução do processo político, coligado às
serviços de saúde, alguns sucatea-
dos, outros, com grande demanda, necessidades sociais e à preocupação com o meio ambiente. Envolve conceitos
exigindo do poder público medidas
urgentes para alcançar essa estabi- dinâmicos que acompanham mudanças governamentais, espírito empreendedor
lidade. Como profissionais da área
da saúde necessitamos também as-
e inovações, para atender às necessidades da clientela.
sumir posição atuante na busca de
melhoria dessas condições.
Impossível pensar em gestão em saúde sem considerar a população usu-
ária. É ela, a clientela, ou seja, a comunidade, que demanda serviços de saúde,
o que gera a oferta, para que haja um equilíbrio entre a oferta e a demanda, no
campo da prevenção, recuperação ou reabilitação.

Missão: é uma menção que identi- Toda instituição de saúde


fica a razão da existência de uma
organização. Contém o seu objeti- deve definir sua missão, explicitan-
vo, a que ela se destina, bem como
sua função no futuro, apontando do seus objetivos baseados em sua
seus princípios em relação à ética.
Cultura organizacional: “pode ser cultura organizacional.
concebida como um conjunto de
valores, convicções, objetivos, ritu-
ais e maneiras de resolver problemas Para entendermos uma ins-
compartilhados por seus membros”1.
tituição, ligada à área de saúde
ou não, é necessário conhecer o

1
KURCGANT, Rio de Janeiro, 2005.

42 42 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 42 2/9/2009 17:49:36


organograma que representa como ela se organiza, como é a distribuição Pesquise a missão da instituição
em que você atua e debata com
de cargos e a respectiva hierarquia. O cargo consiste na ocupação do in- seu grupo se a missão reflete a cul-
tura organizacional.
dividuo dentro da escala hierárquica. A hierarquia é definida como gradu-
ação da autoridade e representa a subordinação, que é a quem as pessoas
devem se reportar. A escala hierárquica estabelece organização, o fluxo das
informações devendo ser respeitada e seguida para que haja um canal de
comunicação eficaz.
Organograma: Quadro geométrico
representativo de uma organização
ou um serviço e que indica os ar-
ranjos e as inter-relações de suas
unidades constitutivas, o limite da
atuação de cada uma delas.
Fluxograma: é a representação grá-
Nível decisório / Supervisor fica que aponta todos os passos de
um processo.
Nível intermediário / Enfermeiro Cargo: lugar que o individuo ocupa
dentro da instituição.
Nível operacional / Auxiliar ou técnico em Função: são as tarefas a serem
enfermagem desenvolvidas pelo individuo que
ocupa determinado cargo.

Teorias Administrativas

Existem varias escolas em Administração, com concepções distintas sobre


formas de organização, tipo de relação entre gestores e empregados e sistemas
de incentivos. Cada uma delas reflete um contexto histórico, político, econômi- Pesquise o organograma da insti-
co e social, certa visão de mundo. Destacamos as principais características de tuição em que você atua e debata
com seu grupo se o organograma
três teorias: e o fluxograma refletem o processo
de trabalho.

• Teoria Científica, cujo principal representante é Frederick Taylor, enge-


nheiro americano (1856-1915).
• Teoria Clássica representada por Henri Fayol, engenheiro francês (1841-
1925).
Remeta ao Texto 1 sobre Evolução
• Teoria das Relações Humanas representada por Mayo e desenvolvida do Trabalho para comparar com a
evolução histórica das teorias da
nos Estados Unidos a partir de 1940. administração.

UNIDADE I – Gestão em Saúde 43

30916018 miolo.indd 43 2/9/2009 17:49:36


Teoria Científica Teoria Clássica Teoria das Relações Humanas

TAYLOR FAYOL MAYO

Divisão de tarefas Hierarquia Trabalho em equipe

Salário compatível com a produção Controle Participação nas tomadas de decisão

Especialização “Cada coisa no seu lugar” Relações informais

Organização formal “Cada lugar para sua coisa” Importância na comunicação entre as pessoas

Colocações mecanicistas (trabalho/produção) Planejamento Organização informal

As influências das teorias adminis-


trativas na gestão de serviços de
saúde são evidentes, como também
no processo de trabalho em enfer-
magem. Baseado nas principais ca-
racterísticas dessas teorias faça uma
relação com as ações de enferma-
gem e discuta em pequenos grupos
onde você identifica características
dessas teorias. Utilize o quadro
abaixo e preencha as lacunas. Am-
plie a discussão para a classe.

Teoria das
Relação com a Relação com a Relação com a
Teoria Científica Teoria Clássica Relações
Enfermagem Enfermagem Enfermagem
Humanas

Principais Principais Principais


características características características

Além de teorias administrativas, novas tendências em gestão vêm sendo


incorporadas nos processos gerenciais, sob a influência das mudanças políticas
e econômicas no mundo contemporâneo. A opção pela forma de gerenciar de-
pende do momento que a instituição vivencia e consequentemente do cenário
político e econômico, focada no mercado de oportunidades.

44 44 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 44 2/9/2009 17:49:36


Do ponto de vista gerencial, o que importa na instituição é maximizar os
pontos fortes e minimizar os pontos fracos para que se possa manter no mercado.

Alguns modelos de gestão podem ser utilizados por qualquer instituição


de saúde, seja ela pública ou privada:

Parcerias: são constituídas por associações de pessoas ou empresas, com- O TECSAUDE é um exemplo de
parceria em que as Secretarias da
prometidas com ideias, metas e ganhos e na busca de um objetivo comum. Essa Saúde, Gestão Pública, Desen-
volvimento e Educação se uniram
associação vai explorar um segmento de mercado com enfoque na qualidade com o objetivo de ampliar a esco-
laridade da população por meio da
para obtenção de resultados. Deve ser vantajoso para ambos, a parceria pressu- formação de profissionais de nível
técnico e melhorar a qualidade dos
põe união de forças; caso contrário, pode redundar em fracasso ao investimento. serviços de saúde prestados à po-
pulação no âmbito do SUS.

Terceirização: É uma prática empresarial surgida em meados dos anos


1950, legítima e oportuna que gera produtividade e baixo custo. Consiste na
contratação de outras empresas que desenvolvem atividades de apoio, possibili- Muitas instituições de saúde têm
adotado processo de contratação
tando que a contratante concentre sua atenção e recursos naquilo que realmente de profissionais de saúde de for-
ma terceirizada. Debata com seu
é o ramo da organização. grupo as consequências para o tra-
balhador e para a instituição desta
forma de trabalho.
Downsizing: Surge a partir dos anos 1990, devido a mudanças políticas
e econômicas. É baseada no “achatamento” da organização com cortes hierár-
quicos e consequentemente redução de custos. A vantagem desse modelo é que
as pessoas tornam-se mais flexíveis., por outro lado, há um acúmulo de funções
com sobrecarga para o trabalhador.
Pesquise, em seu município, insti-
Reengenharia: forma de administração que analisa o momento econômi- tuições de saúde que incorporaram
novas tendências em seus modelos
co reestruturando todos os processos implantados na empresa visando alcançar de gestão. Debata com seu grupo a
relação entre modelo de gestão e
melhorias contínuas. qualidade na atenção à saúde.

Energização: visa reduzir níveis hierárquicos e atribuir mais responsabili-


dades aos recursos humanos. Busca padrões de excelência e utiliza-se de equi-
pes ZAPP (zênite, ânimo, persistência e poder) para atingir metas. Podem ocorrer
conflitos entre as equipes pela competitividade não saudável.

UNIDADE I – Gestão em Saúde 45

30916018 miolo.indd 45 2/9/2009 17:49:36


Bibliografia
DIAS, E. de P. Conceitos de Gestão e administração: uma revisão crítica. Revista
Eletrônica de Administração, Facef- vol. 1, edição 01, jul./dez. 2002.

FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ. Gestão em Saúde: Curso de Aperfeiçoamento para


dirigentes municipais. Programa de Educação a Distância, Rio de Janeiro. Unidade
III. Gestão operacional de sistemas e serviços de saúde. Brasília: UnB,1998.

FERREIRA, A. A.; REIS, A. C. F.; PEREIRA, M. I.. Gestão empresarial: de Taylor aos
nossos dias, evolução e tendências da administração moderna de empresas. São
Paulo: Pioneira, 1997.

HERBET, B. R. de M. N., Marx, Taylor, Ford: as forças produtivas em discussão. São


Paulo: Brasiliense, 1989.

HONÓRIO, M. T.; ALBUQUERQUE, G. L. de. A gestão de materiais em enferma-


gem, Ciência, Cuidado e Saúde. Maringá, v. 4, n. 3, p. 259-268, set./dez. 2005.

KURCGANT, P. (coord.); TRONCHIN, D. M. R. et al. Gerenciamento em enferma-


gem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

LOCH, C. L.; CORREIA, G. S. A flexibilização do trabalho e da gestão de pessoas


limitadas pela racionalidade instrumental. Revista de Ciências da Administração. v.
6, n. 12, jul./dez. 2004, p. 11. Disponível em: <http://www.cad.ufsc.br/revista/12/
Revista%2012%20-%201%20-%20RCAD%2019%202004.pdf>. Acesso em: 6 de
abril de 2009.

46 46 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 46 2/9/2009 17:49:36


Planejamento em Saúde unidade II
Objetivo
Reconhecer o planejamento enquanto ferramenta para a gestão com vistas à
organização da atenção à saúde, considerando-se os princípios do SUS.

Objetivos Específicos Conteúdos Método


II.1- Identificar os princípios e ferramentas 1- Planejamento 1- Trabalho em grupos para exercício de planejamento de
de planejamento em saúde. • Estruturado uma campanha de vacinação a ser realizada na comuni-
• Não estruturado
dade em sua área de atuação. Considerar como plano de
• Normativo ou tradicional
ação para a atividade:
• Estratégico
• Tático • Por que o projeto ou atividade escolhida deve ser
• Operacional realizada (Justificativa)
• O que será feito (Etapas)
2- Etapas:
• Como deverá ser realizada cada atividade/etapa
• Objetivo
(Método)
• Justificativa
• Onde cada atividade será executada (Local)
• Método
• Procedimentos • Quando cada uma das atividades deverá ser executa-
• Local da (Tempo)
• Tempo • Quem realizará as atividades (Responsabilidade)
• Custo • Quanto custará cada etapa do projeto (Custo)
• Avaliação 2- Apresentação dos trabalhos e sistematização das etapas
2- O planejamento nas unidades de saúde do de um planejamento em saúde.
SUS 3- Leitura e discussão do texto: Planejamento em Saúde.
• Demanda de atendimentos
• Perfil da clientela 4- Debate em plenária sobre os aspectos a ser considerados
• Perfil dos profissionais em um planejamento com vistas às unidades do SUS.
• Tecnologia existente
• Disponibilidade de equipamentos e
serviços
• Rede de serviços
3- Indicadores institucionais e de enferma-
gem no planejamento do trabalho

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes da Unidade II


Integração Curricular:
ÁREA I Promoção da Saúde
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Participar junto ao enfermeiro do planejamento, organização e avaliação da assistência de enfermagem.

UNIDADE II – Planejamento em Saúde 47

30916018 miolo.indd 47 2/9/2009 17:49:37


Texto 5 Planejamento em Saúde

Pensar em planejamento remete


à necessidade de organizar-se, do que
precisamos fazer para atingir determina-
do fim. Rotineiramente nos planejamos.
Fazemos planejamento, por exemplo,
quando desejamos viajar nas nossas fé-
rias. Para isso precisamos fazer uma reserva financeira, escolher o mês mais
adequado para a viagem considerando disponibilidade da família e do traba-
lho, que tipo de vestuário levar em função do clima local, reservar passagem
e hospedagem, quais passeios realizar, data de retorno, cuidados necessários
para com as plantas e animais caso possua. Enfim, levantamos todas as possi-
bilidades que possam intervir no nosso objetivo final, a viagem, para que ela
ocorra de maneira prazerosa e todas as outras questões relacionadas à nossa
vida sejam também contempladas durante esse período. Apesar de todo o
cuidado no planejamento de nossas férias, sabemos que existem variáveis
que fogem a nossa governabilidade e que podem transformar esse período
em grande desastre. Esse tipo de planejamento que rotineiramente fazemos
acontece de forma empírica, baseado em experiências vividas e muitas vezes
utilizamos estratégias intuitivas.

O ato de planejar é também um pro- O planejamento no ambiente de trabalho, por sua vez pressupõe a utiliza-
cesso de reflexão e tomada de de-
cisão sobre a ação. É importante ter ção de metodologia própria a esse fim.
uma visão de futuro, estabelecer es-
tratégias que possam direcionar na
perspectiva traçada, avaliar continu- O processo de planejamento, portanto diz respeito a um
amente o processo de trabalho para
a realização dos objetivos e metas conjunto de princípios teóricos, procedimentos metodo-
institucionais. Delimitar o tempo e
estabelecer os prazos são vitais para lógicos e técnicas de grupo que podem ser aplicados a
minimizar dificuldades na fase de qualquer tipo de organização social que demanda um
execução, reduzindo as interrup-
ções e evitando a improvisação. objetivo, que persegue uma mudança situacional futura.
O planejamento não trata apenas das decisões sobre o
futuro, mas questiona principalmente qual é o futuro de
nossas decisões. (TONI, 2004).

48 48 Gestão do Trabalho em Saúde

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O planejamento é condição necessária quando se pretende uma gestão
eficiente, voltada para a qualidade e que contribua para o desenvolvimento das
pessoas. A equipe ao se envolver no planejamento passa a pensar sobre os seus
problemas do cotidiano de trabalho, incorpora a reflexão sobre essa realidade e
as possibilidades de transformá-la.

Assim, devemos ter sempre em mente que toda a energia


aplicada no planejamento do funcionamento dos servi-
ços de saúde deve convergir para gerar resultados e não
apenas produtos. Isto é, quando planejamos o funciona-
mento de uma unidade do sistema municipal de saúde,
com programas de atendimento a grupos de risco espe-
cíficos, por exemplo, o objetivo não é as consultas pro-
duzidas, mas, sim, o resultado que esses procedimentos
terão sobre a saúde dos indivíduos e o impacto que as
ações planejadas terão sobre os indicadores de saúde da
população. (TANCREDI et al., 1998, p. 15).

O planejamento normativo pode ser classificado em:

Planejamento estruturado que utiliza a formalização de procedimentos para a


elaboração de propostas de ação, segundo a análise da situação. Exemplo: a elabo-
ração da escala mensal de trabalho. É necessário analisar a situação, considerando o
número de colaboradores, a dinâmica da unidade e definir os dias de férias para cada
Escolha um dia na sua vida (ontem,
um, sem comprometer a assistência ao cliente. Imagine como seria o dia de trabalho hoje ou um dia especial). Conside-
re as ações no decorrer desse dia e
na unidade, se a metade dos trabalhadores entrasse em férias no mesmo mês! identifique a aplicação do plane-
jamento como um princípio para
orientar as atividades, inclusive no
O planejamento não estruturado é informal, não segue um padrão de trabalho: Em algum momento houve
planejamento? Formal ou informal?
ações prévio, ainda que esteja vinculado ao alcance dos objetivos. Exemplo: a Quais os resultados? Houve atrasos?
Registre as observações sobre as di-
elaboração da escala diária de trabalho. Após a distribuição das atividades, um ferentes ações e apresente ao gru-
po, destacando os variados modos
dos membros da equipe apresenta problemas de saúde e precisa se ausentar, em que o planejamento pode ser
de maneira informal, as atividades desse profissional são redistribuídas para o entendido, aplicado, constatando
os resultados. Avalie sobre os possí-
restante da equipe, assegurando assim o alcance dos objetivos. veis caminhos para readequações.

UNIDADE II – Planejamento em Saúde 49

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O técnico de enfermagem aplica o Assim sendo, a execução do planejamento considera os saberes teóricos,
planejamento no seu trabalho, po-
dendo ainda colaborar com o en- práticos, comportamentais, pressupondo a competência dos sujeitos no proces-
fermeiro no planejamento das ações
pertinentes àquele setor de trabalho. so, articulando o conhecimento com a ação, o presente com o futuro. Imagine
quais os resultados de um planejamento da escala mensal realizado por um
profissional que sabe elaborar escala, conhece a unidade e as características
dos membros da equipe, e quando elaborado por outro que desconhece esses
dados? a competência faz a diferença!

A palavra Estratégia deriva do gre- Situações cotidianas na assistência podem ser seriamente comprometi-
go strategos. Oriunda do cenário
de guerra em que “as constantes das pela ausência ou falha de planejamento. Nessa condição, frequentemente
lutas e batalhas ao longo dos sé-
culos fizeram com que os militares verificamos que os profissionais reclamam pela deficiência, mas não percebem
começassem a pensar antes de agir.
a condução das guerras passou a a própria parcela de responsabilidade como participantes no processo de tra-
ser planejada com antecipação”2. balho. Identificando e buscando a solução para as falhas, o profissional poderá
Pode ser relacionada com a arte de
dirigir situações complexas. colaborar e assegurar que essa deficiência não se repetirá e não incorrerá em
prejuízo para si mesmo, como também para a integridade do cliente, a qualida-
de da assistência prestada, e de forma geral, do serviço de saúde.

No processo de trabalho taylorista Os caminhos traçados para evitar problemas ou buscar soluções estão
contamos com: aqueles que pla-
nejam – os seres pensantes de uma relacionados aos diferentes métodos de planejamento adotados: normativo ou
organização, aqueles que fazem e
as chefias – que controlam. É dessa tradicional, estratégico, tático e operacional.
concepção de trabalho que vem o
planejamento tradicionalmente co-
nhecido, no qual uma minoria pen- O planejamento normativo ou tradicional determina a direção das ações,
sante estabelece as ações necessá-
rias para atingir determinadas metas. com centralização do poder de decisões. Tomemos como exemplo a falta de de-
terminado material de consumo, que pode ser solucionada com a comunicação
sobre o baixo nível de estoque. Utilizando esse tipo de planejamento, o gestor
determina a implantação de controle por meio de registro de consumo diário,
sem realizar uma análise prévia e consultar seus pares.

Dessa forma aconteciam os planejamentos, vinham do superior hierárquico


sem que houvesse a participação do restante da organização e uso de seu conheci-
mento tácito, o chamado estoque de conhecimento dos processos de trabalho era
descartado. Nessa forma tradicional de planejar, normativa, os sujeitos tornam-se ob-
jetos, perdem sua autonomia e a realidade é conhecida sob um único ponto de vista.

50 50 Gestão do Trabalho em Saúde

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O planejamento estratégico abrange uma visão mais geral, estabelece ob- A metodologia de planejamento
estratégico pode ser utilizada em
jetivos de longo prazo, com estratégias e ações para alcançá-los, considerando duas circunstâncias:
– antes da implantação do serviço;
a instituição como um todo. Ou seja, não é centrado somente no poder e eco- – com o serviço já em funciona-
mento.
nomia, considera também as questões sociais, a resolução dos conflitos e as Na primeira, a criatividade e a li-
berdade no pensamento direcio-
características dos atores envolvidos no processo. nam as ações iniciais, por se tratar
de uma criação futura. na segunda,
é a possibilidade de reavaliar a re-
A análise das forças internas da instituição e das condições externas – alidade atual e redirecionar para
uma nova perspectiva.
como conjuntura econômica – influencia na tomada de decisões, exigindo cria-
tividade e flexibilidade, no apoio à gestão para o desenvolvimento futuro.

Requer o envolvimento de todos, daí a importância de considerar aspectos


como missão e valores, clima organizacional relacionados à liderança, motiva-
ção e compreensão global do papel de cada um na instituição. Vamos refletir: o
que o técnico de enfermagem tem a ver com essas questões? Ou são preocupa-
ções de âmbito administrativo dos níveis hierárquicos superiores, apenas?

Considere o bom resultado no cuidar e a assistência prestada com quali-


dade como objetivo ou meta a ser alcançada: quando o profissional conhece a
missão e os valores da instituição, saberá como direcionar o trabalho em direção
à excelência no atendimento. Se esse mesmo profissional é competente, tem ca-
pacidade de liderança, está motivado e sabe que o resultado do próprio trabalho
se refletirá na imagem da instituição, representará um diferencial de extrema
valia e poderá contribuir efetivamente no planejamento.

O planejamento tático é desenvolvido com projeção em médio prazo,


visando à utilização eficiente dos recursos, em consonância com o estabelecido
no planejamento estratégico.

No planejamento operacional os planos são desenvolvidos para períodos


de tempo curtos, com foco nas atividades rotineiras da instituição. Apresenta
planos de ação ou operacionais ao identificar os procedimentos e rotinas especí-
ficas, em consonância com o estabelecido no planejamento tático e estratégico.

UNIDADE II – Planejamento em Saúde 51

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Procure conhecer o planejamento Assim sendo, podemos perceber que guardam estreita relação entre si, pois
da sua instituição de trabalho e
identifique qual método foi utiliza- cada envolvido no processo é corresponsável pelo planejamento e pelos resultados.
do para sua realização.

Veja a síntese do planejamento no esquema abaixo:

Conhecimento
Análise Raciocínio Visão global
da Reflexão Conjuntura
situação Intuição interna e externa
da empresa

Planejamento
Execução Estratégico
Tático
Avaliação Operacional

Você já viveu situação em que pla- No desenvolvimento de um projeto ou programa de trabalho, algumas
nejamentos foram feitos por pesso-
as que lhe são superiores hierarqui- etapas no planejamento podem nortear os caminhos dessa construção, ao esta-
camente, que provocaram mudan-
ças no seu processo de trabalho e belecer o plano de ações baseado nas seguintes etapas:
não houve sua participação?

52 52 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 52 2/9/2009 17:52:58


A análise prévia da situação atual é fundamental e indica a necessidade de construção ou transformação.
É o primeiro passo: o que fazer?
Objetivo Esta análise diagnóstica pode contribuir na delimitação dos objetivos e na determinação das
metas a serem alcançadas.

O objetivo está relacionado a uma finalidade: para que fazer?


Justificativa Estimar a demanda, o perfil, as características e necessidades da clientela: para quem fazer?
Explicar o motivo que justifica a criação do projeto, destacando as prioridades.

Delinear os modos de execução (começo, meio e fim) em cada etapa do trabalho: como fazer?
Método Planejar as estratégias considerando possíveis imprevistos e os modos de resolução.

Especificar as tarefas a serem executadas e as atribuições dos responsáveis: quem vai fazer?
Verificar os recursos humanos, materiais e tecnológicos à disposição. Considerar a disponibilidade da
Procedimentos rede de serviços.
Definir o perfil desejado dos profissionais da equipe.

Onde o trabalho será realizado: onde fazer?


Local Analisar o local, as dimensões físicas, a adequação estrutural.

Tempo Estabelecer a dimensão temporal: quando fazer?, por quanto tempo?

Custo Considerar o aspecto orçamentário como custos, receitas, despesas: quanto custa?

Monitorar continuamente o processo para assegurar o bom resultado final. Avaliar somente ao término do
Avaliação processo pode comprometer o alcance das metas e a qualidade dos resultados, ao impossibilitar a busca de
novas soluções.

Para acompanhar e avaliar as estratégias definidas, bem como os resulta- No estudo em grupo, enumere al-
gumas atividades em seu setor de
dos obtidos, são utilizados os indicadores. Consistem em parâmetros de avalia- trabalho. Selecione uma atividade
e elabore um plano de ação toman-
ção quantificáveis (taxa, porcentagem, índice) das características dos processos do como referência o esquema aci-
ma e apresente os resultados. Ao
instituídos. São dados numéricos ou informações que quantificam a entrada (re- final da apresentação, debata com
cursos), a saída (produto ou serviço) e o desempenho em uma atividade. Apon- o grupo sobre as diferentes percep-
ções encontradas.
tam a necessidade de alterações para ajustar algo que não está bom ou que pode
ser melhorado, na organização como um todo.

UNIDADE II – Planejamento em Saúde 53

30916018 miolo.indd 53 2/9/2009 17:49:37


Os tipos de indicadores mais utilizados são de qualidade e de produtivi-
dade. Entretanto, podem também ser criados outros, segundo as necessidades
de cada instituição.

Para monitorar e avaliar os serviços de saúde são utilizados diferentes


indicadores, como taxa de ocupação hospitalar, tempo de permanência, taxa
de reinternação não programada, taxa de mortalidade na instituição, relação
enfermagem-leito, relação enfermeiro-leito, taxa de acidente de trabalho, taxa
de infecção hospitalar, entre outros1.

O indicador adequado responde a algumas questões: qual a informação


de que preciso?; como obter a informação?; o que será medido?; quais os pa-
Estudo de caso: na unidade de in-
ternação, após o recebimento do
drões de referência?. As respostas obtidas apontam para a necessidade ou não de
plantão, o técnico de enfermagem rever os processos no planejamento ou na execução do trabalho.
é orientado quanto à escala diária
de trabalho, verificando que tem
cinco clientes sob seus cuidados:
três com grau de independência,
No âmbito da enfermagem, os indicadores são empregados para monitorar
em condições de se autocuidar; e avaliar a assistência prestada, a qualidade do serviço ou da organização como
um com grau de dependência in-
termediária e um com grau de de- um todo. Podem ser utilizados indicadores relacionados às iatrogenias no trabalho,
pendência total. Antes de iniciar a
execução dos cuidados, o técnico como incidência de queda de paciente, de extubação acidental, de perda de sonda
de enfermagem. dirige-se a cada
unidade do paciente para conhecer nasogastroenteral para aporte nutricional, de úlcera por pressão, de não conformi-
os clientes e identificar as necessi-
dades individuais relacionando-as
dade relacionada à administração de medicamentos pela enfermagem, de flebite.
à assistência a ser prestada. Com
base nessa descrição, elabore um
plano de trabalho simplificado das
Os indicadores relacionados aos recursos humanos, por sua vez, medem
atividades necessárias ao longo da as horas de enfermeiro/cuidado intensivo, horas de técnico de enfermagem/cui-
assistência nesse dia. Apresente a
atividade em sala de aula, anali- dado intensivo, taxa de absenteísmo de enfermagem, taxa de acidente de tra-
sando as sugestões propostas.
Nesta atividade, aplique o conhe- balho de profissionais de enfermagem, índice de treinamento de profissionais2.
cimento com criatividade!

Apresentamos alguns instrumentos que contribuem para a elaboração e


avaliação do planejamento. Cabe ao profissional reconhecer o planejamento
como um importante método para aprimorar e qualificar seu trabalho.

1
Disponível em: <http://www.cqh.org.br/?q=node/100>. Acesso em: 6 de junho de 2009.
2
Disponível em : <http://www.cqh.org.br/?q=node/213>. Acesso em: 6 de junho de 2009.

54 54 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 54 2/9/2009 17:49:37


Propomos algumas questões para refletir sobre o próprio desempenho
profissional e a participação no processo de trabalho e planejamento no local
de trabalho. Pergunte-se: o que faço? por que? como faço? posso fazer melhor?
o que ofereço? para quem? do que as pessoas precisam? o que mais poderia
oferecer? para alguém mais?

Bibliografia
CHIAVENATO, I. Planejamento estratégico – Fundamentos e aplicações. Rio de Ja-
neiro: Campus, 2003.

COFEN. Conselho Federal de Enfermagem (RJ). Resolução nº 189/96. Dispõe sobre


os parâmetros para dimensionamento de quadro de profissionais de enfermagem nas
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nível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script = sci_arttext&pid = S0034-
89102006000400011&lng = en&nrm = iso>. Acesso em: 4 de junho de 2009.

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Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998.

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32, jan. 2004. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/>. Acesso em:
5 de maio de 2009.

UNIDADE II – Planejamento em Saúde 55

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TRONCHIN, D. M. R. et al. Indicadores de qualidade de enfermagem: uma ex-
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Disponível em: <www.scamilo.edu.br/pdf/mundo_saude/35/indicadores_qualidade.
pdf>. Acesso em: 6 de junho de 2009.

VILAS BOAS, A. L. Q.; PAIM, J. S.. Práticas de planejamento e implementação


de políticas no âmbito municipal. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n.
6, jun 2008. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script = sci_
arttext&pid = S0102-311X2008000600005&lng = en&nrm = iso>. Acesso em: 4
de junho de 2009.

56 56 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 56 2/9/2009 17:49:37


Qualidade em Saúde unidade III
Objetivo
Conhecer a política nacional e estadual de gestão e certificação da qualidade
em saúde e suas implicações para a assistência de enfermagem.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

III.1 – Identificar os princípios e ferra- 1- Gestão da Qualidade 1- Pesquisa em seu local de trabalho sobre indica-
mentas de avaliação e certificação da • Histórico dores de qualidade: taxas de mortalidade geral,
qualidade em saúde. 2- Sistema de Acreditação mortalidade operatória, infecção hospitalar, per-
• Programa Compromisso com a manência hospitalar, ocupação hospitalar, entre
Qualidade Hospitalar (CQH) outros.
• Organização Nacional de Acredita- 2- Leitura e discussão do texto: Qualidade em Saúde.
ção (ONA) 3- Debate sobre as implicações da gestão e da certi-
3- Gestão da Qualidade Total: Ferramentas ficação da qualidade para o trabalho da enferma-
• Brainstorming gem e a participação do técnico de enfermagem
• Método 5 S neste processo.
• Ciclo PDC 4- Exercício em grupos utilizando as ferramentas
• Indicadores de Saúde de qualidade (Brainstorming, Método 5 S e Ciclo
PDC) com base em situações concretas de traba-
lho. Sugestão: utilizar dados da pesquisa sobre
indicadores de saúde.
5- Debate sobre as possibilidades da gestão da qua-
lidade em seu local de trabalho.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade III
Integração Curricular:
ÁREA I Sistema de Informação em Saúde: Indicadores
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Visitar instituições de saúde que implementam modelos de gestão e certificação da qualidade.
Empregar princípios de qualidade em sua atuação como técnico de enfermagem.

UNIDADE III – Qualidade em Saúde 57

30916018 miolo.indd 57 2/9/2009 17:49:37


Texto 6 Qualidade em Saúde

A análise sobre a importância da reorganização dos ser-


viços de saúde no Brasil ganha relevância quando associada à
avaliação da qualidade desses serviços.

O conceito de Controle de Qualidade teve início na déca-


da de 30, surgiu dentro do contexto industrial e atingiu o apogeu
na indústria japonesa, no período pós-guerra1.

Em 1950, após o enfrentamento da Segunda Guerra Mun-


dial, o Japão convida W. Edwards Deming para compartilhar os
ensinamentos relacionados ao controle e gerenciamento, junto aos industriais,
com o propósito de reavaliar o processo de reconstrução do país.

A adoção desse modelo provoca mudanças na forma de gerenciamento,


levando ao fortalecimento das indústrias e contribuindo para a transformação do
Japão em potência mundial.

Nos anos 70 a crise provocou o enfraquecimento das empresas america-


nas no mercado, frente ao avanço e concorrência dos produtos japoneses, cujos
recursos foram centrados na tecnologia eletrônica. Nesse contexto, os investi-
mentos realizados priorizavam a Qualidade, considerando-se que o mercado
tornou-se mais restrito e exigia produtos de alta qualidade. Esses conceitos de
gestão e de técnicas de controle da qualidade passaram a ser difundidos em ou-
tros países, privilegiando a boa qualidade dos produtos.

Acompanhando essa concepção evolutiva, as exigências do mercado foram


se modificando e – além de prezar a qualidade do produto final – outros aspectos
foram incorporados na avaliação, como os processos de trabalho, as relações inter-
setoriais e intrassetoriais, as ações administrativas, inclusive questões ambientais,

1
MALIK, A. M. São Paulo, 1998.

58 58 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 58 2/9/2009 17:49:37


valorizando as condutas preventivas e visando à excelência da empresa como um
todo. Essa nova concepção de avaliação institucional prioriza a Qualidade Total.

A Gestão da Qualidade Total (GQT) valoriza o ser humano no âmbito das Vamos fazer uma analogia en-
tre Qualidade e Qualidade Total.
organizações, reconhecendo a capacidade de tomada de decisão e solução rá- Considere a realização do curativo
como um serviço a ser oferecido na
pida de problemas, buscando permanentemente a perfeição. Pode ser entendida assistência ao cliente.
– Qualidade no produto/serviço
como uma nova filosofia gerencial, uma nova maneira de pensar, implicando final: curativo aparentemente ex-
mudança de postura gerencial, de atitudes e comportamentos, como uma forma celente (realizado com mau humor,
sem conversar com o paciente, con-
moderna de entender o sucesso de uma organização. Essas mudanças visam ao taminando o local, utilizando ma-
terial de baixa qualidade, com in-
comprometimento com o desempenho, ao autocontrole e ao aprimoramento sumos originados de empresas que
desrespeitam o meio ambiente);
dos processos. Implica também a mudança da cultura da organização. As re- – Qualidade Total: curativo aparen-
temente excelente (realizado com
lações internas tornam-se mais participativas, a estrutura mais descentralizada, bom humor nas relações, respei-
com mudanças no sistema de controle. (Longo apud Longo, 1996, p. 10). tando a técnica, utilizando material
de boa qualidade, com insumos
provenientes de empresas idôneas
que respeitam o meio ambiente);
Inicialmente, a GQT foi implantada na área industrial e os bons resultados Como você pode contribuir na qua-
animaram os gestores das instituições de saúde na busca de modelo semelhante lidade total da assistência prestada?

para melhorar a qualidade dos serviços prestados. Ao contrário do ocorrido na


evolução da atividade manufatureira para a industrialização, estavam cientes de
que, no setor Saúde, a incorporação tecnológica não substitui o trabalho do ser
humano no processo do cuidar.

A fim de elevar a qualidade do serviço e da assistência prestada, foram


aplicados consideráveis investimentos e incorporação de tecnologia avançada
para fins de diagnóstico e tratamento de enfermidades.

Entretanto, tais investimentos não resultaram na redução da morbimortali-


dade, de forma significativa. Verificando que o resultado final não era tão satisfató-
rio, os gestores começaram a analisar quais os aspectos que podiam ser ajustados
e perceberam que inúmeras etapas do processo mereciam atenção cuidadosa.

Visando a esses ajustes, compreenderam a necessidade de uma avaliação


criteriosa, realizada por um órgão externo para evitar distorções nas novas reo-
rientações do trabalho.

UNIDADE III – Qualidade em Saúde 59

30916018 miolo.indd 59 2/9/2009 17:49:37


Identifique uma instituição de saú- A gestão com qualidade em saúde envolve conceitos como:
de que utiliza a gestão de qualida-
de e quais as ações desenvolvidas
para a implantação. • Eficácia: oferecimento de boa assistência para a saúde e bem-estar dos
indivíduos;
• Eficiência: é a relação entre o benefício oferecido pelo sistema de saúde
ou assistência médica e o custo econômico. Ex: a relação entre a me-
lhoria gerada pelo sistema oferecido x custo econômico deste sistema;
• Efetividade: é a relação entre o benefício real oferecido pelo sistema de
saúde ou assistência e o resultado esperado pelo cliente;
• Otimização: é o ponto de equilíbrio relativo, com o máximo benefício
em relação ao custo econômico. É a tentativa de evitar lucros exorbitan-
tes para a empresa a custos elevados ao consumidor;
• Aceitabilidade: é a adaptação da assistência à saúde às expectativas,
desejos e valores dos pacientes e suas famílias;
• Legitimidade: é a possibilidade de adaptar satisfatoriamente um serviço
à comunidade ou à sociedade;
• Equidade: é a adequada e justa distribuição dos serviços e benefícios
para todos os membros da comunidade ou sociedade.

Com a utilização de mecanismos para avaliação da qualidade, o serviço


de saúde pode planejar a readequação da instituição e a vigilância dos padrões
de atendimento, além do controle dos custos.

“o propósito dos sistemas de aten- Estes mecanismos estão relacionados ao custo-efetividade, pois o investi-
ção à saúde, em seu núcleo e
através de inúmeras partes, é pro- mento justifica os custos em prol da qualidade que se reflete no perfil dos pro-
porcionar o mais alto nível de qua-
lidade ao menor custo, de maneira fissionais, na estrutura e serviços oferecidos, na imagem da instituição como um
mais equitativa, ao maior número
de pessoas”. (Donabedian, 1978).
local de referência e excelência, a ser amplamente requisitado.
Qual o papel do técnico de enfer-
magem nesse processo?
Ao final do processo, o aumento da clientela, gera um ganho muito maior
do que os investimentos realizados inicialmente, pois ultrapassa as fronteiras
financeiras ao promover uma assistência segura, privilegiando a satisfação do
assistido, da equipe profissional e da sociedade.

60 60 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 60 2/9/2009 17:49:37


A busca por esse processo de avaliação tem caráter voluntário, as próprias
instituições de saúde estabelecem contato com uma dessas organizações e ma-
nifestam o interesse em conhecer os critérios estabelecidos para a acreditação e
certificação.

A organização acreditadora faz uma visita com propósitos diagnósticos Em 1913, em Filadélfia, o Dr. Er-
nest Codman apresentou um estu-
para identificação da situação vigente e indicar os pontos que podem ser melho- do para estimular a reflexão sobre
a padronização dos hospitais e a
rados. Após a análise da proposta, a instituição de saúde orienta todas as áreas qualidade dos serviços. Em 1919,
o Colégio Americano de Cirurgi-
e colaboradores, direcionando para a readequação de ações e procedimentos. ões adotou o “Padrão Mínimo”
Posteriormente, a organização acreditadora realiza uma visita final e outorga, ou para a prestação de cuidados hos-
pitalares relacionado às caracterís-
não, o selo à instituição de saúde. ticas dos profissionais, associadas
ao caráter e ética profissional, à
exigência do registro de todos
O sistema de acreditação constitui-se em estratégia para avaliação da es- os atendimentos e à existência
de instalações adequadas para o
trutura, dos processos de trabalho e dos resultados levando à melhoria contínua diagnóstico e o tratamento.

dos serviços prestados a população.

Quadro esquemático do processo de acreditação da instituição de saúde:

Acreditação é um sistema de ava-


liação e certificação da qualidade
de serviços de saúde, voluntário,
periódico e reservado. ONA. Dis-
ponível em: <www.ona.org.br>.

Instituição
• Institui os créditos
de Saúde
• Avalia a Instituição
para a certificação de Saúde
• Instrui a Instituição de • Orientação dos propósitos • Outorga (ou não) o
Saúde para a certificação para certificação Selo de Acreditação
• Reorganização interna
conforme os critérios
estabelecidos
Organização de Organização de
Acreditação Acreditação

UNIDADE III – Qualidade em Saúde 61

30916018 miolo.indd 61 2/9/2009 17:54:26


O Prêmio Nacional de Qualidade
(PNQ) é um reconhecimento for-
A Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations
mal pela excelência na gestão das (JCAHO), criada em 1920 nos Estados Unidos, é uma entidade internacional
organizações sediadas no Brasil.
Os Critérios de Excelência consti- que avalia as instituições de saúde por meio de auditorias.
tuem um modelo sistêmico da ges-
tão adotado por inúmeras organi-
zações internacionais: Qualidade É responsável pelo credenciamento de todos os tipos de instituições pres-
Centrada no Cliente, Valorização
das Pessoas, Aprendizado Contí- tadoras de serviços de saúde, por meio de indicadores e medidas que avaliam a
nuo, Ação Pró-Ativa e Resposta
Rápida, Gestão Baseada em Fatos qualidade do atendimento, na adoção de padrões estabelecidos com bases cien-
e Processos, Foco nos Resultados,
Comprometimento da Alta Dire- tíficas envolvendo especialistas e considerando as necessidades dos pacientes,
ção, Visão de Futuro, Responsabi- com vistas a uma assistência de qualidade.
lidade Social.

No Brasil, por volta de 1990, foi criado o Programa Compromisso com a


Qualidade Hospitalar (CQH). O selo de qualidade tem período de validade e
cabe à instituição de saúde pretender ou não a revalidação.

Visite uma instituição de saúde ca-


dastrada em uma organização de
Em 1997 o Ministério da Saúde propõe a criação de uma organização
acreditação e verifique as modifi- nacional para centralizar o processo de acreditação e em 1999 é criada a Orga-
cações internas necessárias para a
certificação. nização Nacional de Acreditação (ONA) constituída por entidades compradoras
e prestadoras de serviços de saúde e representantes da área governamental.

Algumas ferramentas da qualidade, muitas vezes utilizadas em relação à


Gestão de Qualidade Total, são instrumentos valiosos e foram criadas para um
melhor desempenho ou acompanhamento dos processos. Vejamos:

Brainstorming em inglês quer dizer tempestade cerebral. É uma técnica


muito utilizada na geração de ideias. É realizada em grupos e a participação de
todos implica a maior responsabilização na construção das propostas. Consiste
na definição e apresentação do problema que está dificultando o desenvolvi-
mento do trabalho, o grupo participante é solicitado a pensar sobre o problema
e cada elemento propõe soluções. O grupo discute as ideias, sem manifestações
críticas e elege as propostas que consideram prioritárias.

O método 5S, ou cinco sensos, pode ser utilizado em instituições de


saúde, empresas e até mesmo em nosso cotidiano domiciliar. O objetivo é

62 62 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 62 2/9/2009 17:49:38


evitar o desperdício e promover a mudança de comportamento das pessoas,
cuidando da organização do local de trabalho e a aplicação é simples e de
impacto positivo.

Os 5 S representam as iniciais das palavras japonesas Seiri, Seiton, Seiso, Leia mais sobre o método 5S, con-
verse com os familiares e proponha
Seiketsu e Shitsuke, correspondentes a cada fase do método: a aplicação, começando em sua
casa. Você pode se impressionar
com os bons resultados!
• Seiri = senso de utilização: avaliar tudo o que está guardado e separar
o que não utilizamos dando-lhe outro destino;
• Seiton = senso de arrumação: dispor tudo em locais definidos e que
permita a localização por qualquer pessoa;
• Seiso = senso de limpeza: limpar o local de trabalho tornando o am-
biente confortável;
• Seiketsu = senso de asseio: manutenção da limpeza do local deixando-
o um ambiente saudável;
• Shitsuke = senso da disciplina: aprender e aplicar os princípios anterio-
res no trabalho, incorporando-os no dia a dia.

Pesquise mas sobre o ciclo PDCA,


O ciclo PDCA é ferramenta utilizada no planejamento e melhoria de pro- discuta com seu grupo de trabalho
cessos e compreende quatro fases. O PDCA pode ser utilizado por todos no elegendo um problema e proponha
à/ao enfermeira/o a aplicação do
planejamento das ações e a gestão se subsidia para a tomada de decisão. PDCA. Utilize o 5W e 2H para o
planejamento.
• 1ª fase: P – Plan = Planejar - é definido o problema, analisado suas ca-
racterísticas e traçado um plano de ação para sua resolução;
• 2ª fase: D – Do/Executar, é a fase de executar o que foi planejado;
• 3ª fase: C – Check = Verificar os resultados - é quando se avalia se os
resultados propostos foram alcançados;
• 4ª fase: A – Action = Agir - o resultado é padronizado para evitar pro-
blema futuro e o que não atendeu ao esperado retorna à 1ª fase para
replanejar.

UNIDADE III – Qualidade em Saúde 63

30916018 miolo.indd 63 2/9/2009 17:49:38


O Seis Sigma é uma estratégia aplicada na busca da Qualidade Total, com
foco na melhoria contínua dos processos, começando pelos relacionados di-
retamente ao cliente, identificando as necessidades do mesmo e a capacidade
produtiva da empresa.

É realizado um projeto objetivando identificar a situação atual e os aspec-


tos que podem ser melhorados como logística, transporte, redução de estoque
de material, relacionamento com o cliente, conforme a característica da empre-
sa e perfil do cliente. Aproveita todas as iniciativas já implantadas na instituição,
harmonizando-as e estabelecendo metas de redução de desperdício, utilizando
princípios do PDCA, citado anteriormente, e do DMAIC:
• 1ª fase: D = Definir: quais as necessidades do cliente e como transfor-
má-las em especificações nos processos, a fim de atingi-las;
• 2ª fase: M = Medir: identificar os pontos críticos a ser corrigidos e equi-
librar os gastos com insumos, para reduzir desperdícios;
• 3ª fase: A = Analisar: analisar os resultados de medidas prévias que irão
nortear as mudanças planejadas;
• 4ª fase: I = Implementar: implementação das estratégias delineadas;
• 5ª fase: C = Controlar: controlar os resultados e as distorções promoven-
do a reavaliação contínua do processo e dos resultados.

Para o plano de ação podemos utilizar outra ferramenta da qualidade cha-


mada 5W e 2H, sigla em inglês e significa: What - o que, Why – por que, When
– quando, Who - quem e Where - onde.

Os 2H correspondem a How – Como e How Much – Quanto custa.

Esse plano é simples e permite estruturar e apontar de forma clara os ele-


mentos necessários para a implementação de nossas ações.

Veja a sequência:

64 64 Gestão do Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 64 2/9/2009 17:49:38


O que Por que Como Quando Quem Onde Quanto Custa

Como será
Por que a ação Quem é o Qual a
O que será feito? realizada cada Quando a ação
foi escolhida? responsável por abrangência dessa Qual é o custo?
Etapas? etapa? Quais os será realizada?
Justificativa? essa ação? ação?
passos?

Outro instrumento utilizado na qualidade são os indicadores de saúde. Indicadores - são parâmetros utili-
zados internacionalmente com o
objetivo de avaliar, sob o ponto de
vista sanitário, a higidez de agrega-
Os indicadores possibilitam ao gestor o monitoramento das informações e dos humanos, bem como fornecer
o alcance da melhoria em seus resultados, mas devem ser analisados dentro de subsídios aos planejamentos de
saúde, permitindo o acompanha-
uma dada realidade e associando vários deles. mento das flutuações e tendências
históricas do padrão sanitário de
diferentes coletividades considera-
Existem inúmeros indicadores de saúde, sendo que na área hospitalar os mais das à mesma época ou da mesma
coletividade em diversos períodos
utilizados são as taxas de mortalidade geral do hospital, mortalidade operatória, de tempo. (ROUQUAYROL apud
MALIK, 1998, p. 62).
infecção hospitalar, permanência hospitalar, de ocupação hospitalar, entre outros.

Na área da enfermagem também utilizamos indicadores para o monitora-


mento e avaliação das ações.

Os indicadores mais comumente utilizados são os relacionados à assis- Visite o site do CQH e conheça o
trabalho desenvolvido por um sub-
tência de enfermagem, avaliando o índice de queda de paciente, integridade da grupo do CQH, o Núcleo de Apoio à
Gestão Hospitalar (NAGEH), quanto
pele, acesso venoso periférico e administração de medicamentos. a indicadores de enfermagem. Dis-
ponível em: <www.cqh.org.br.>.

Os indicadores relacionados aos recursos humanos medem o número de


enfermeiro/cuidados intensivos, o número de técnicos de enfermagem/cuidados
intensivos, o tempo de treinamento dos profissionais, o índice de rotatividade na
enfermagem, a taxa de absenteísmo, entre outros.

Na análise desses indicadores a equipe de enfermagem pode avaliar a


qualidade dos cuidados prestados ao cliente e no acompanhamento, estabelecer
as ações necessárias para a melhoria dessa assistência.

UNIDADE III – Qualidade em Saúde 65

30916018 miolo.indd 65 2/9/2009 17:49:38


As instituições de saúde que praticam a Gestão da Qualidade acreditam
que podem melhorar sempre. Na busca da qualidade são necessários a clareza
de objetivos e valores e o comprometimento por parte de todos os atores envol-
vidos nos processos de trabalho. A cultura organizacional se transforma e todos
precisam de disponibilidade para a mudança.

Para essa nova mentalidade, a comunicação é fator determinante de su-


cesso; é importante que todos da instituição recebam as informações necessárias
sobre a gestão de qualidade e sistemas de acreditação.

Por sua vez, o técnico de enfermagem tem por competência participar do


planejamento, da organização, da execução e da avaliação do processo de traba-
lho em enfermagem junto ao enfermeiro. Portanto, necessita conhecer a Gestão da
Qualidade e suas ferramentas para contribuir substancialmente na implementação
das ações específicas de enfermagem visando à assistência com qualidade.

A busca pela elevação da qualidade e avaliação dos padrões é um pro-


cesso contínuo, mediante a solução dos problemas e as propostas de inovações
permanentes.

Bibliografia
ANTUNES, A. V.; TREVIZAN, M. A. Gerenciamento da qualidade: utilização no ser-
viço de enfermagem. Rev.latino americana enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 1,
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66 66 Gestão do Trabalho em Saúde

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UNIDADE III – Qualidade em Saúde 67

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68

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O Trabalho em Enfermagem

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Gestão do Trabalho em Enfermagem unidade I
Objetivo
Analisar a gestão dos serviços e do processo de trabalho em enfermagem à luz
do Código de Ética profissional.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Caracterizar o processo de traba- 1- Estrutura, organização e funciona- 1- Levantar em seu local de trabalho o organograma
lho em enfermagem. mento do serviço de enfermagem nas do Serviço de Enfermagem.
instituições de saúde 2- Apresentação dos trabalhos e sistematização so-
2- O processo de trabalho em enfer- bre alternativas de estrutura, organização e fun-
magem cionamento de Serviços de Enfermagem.
• Divisão técnica do trabalho em 3- Organização e participação de seminário sobre
enfermagem o processo de trabalho em enfermagem e divisão
• Planejamento, organização da as- técnica do trabalho em enfermagem. Tomar como
sistência de enfermagem referência o Código de Ética dos profissionais de
• Atribuições e responsabilidades Enfermagem.
dos integrantes da equipe
4- Debate sobre direitos e deveres dos trabalhadores
• Direitos e deveres dos trabalhado-
de enfermagem.
res de enfermagem

UNIDADE I – Gestão do Trabalho em Enfermagem 71

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Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.2- Analisar o papel do técnico de 1- A gestão do serviço de enfermagem 1- Acompanhar o enfermeiro na gerência de se-
enfermagem nas ações de gestão em • Plano de cuidados de enfermagem tores de trabalho, levantando as possibilidades
enfermagem. • Gestão de infraestrutura: ambiente e de atuação do técnico de enfermagem em ações
equipamentos de planejamento, execução e avaliação da assis-
• Gestão de suprimentos tência de enfermagem e em ações administrativas
• Gestão de pessoal – Escala mensal e (gestão de infraestrutura, ambiente e equipamen-
diária tos e gestão de suprimentos).
2- Leitura em grupos do Código de Ética de Enfer-
magem no que se refere ao perfil do técnico de
enfermagem.
3- Apresentação em plenária dos relatos das ativi-
dades realizadas e sistematização das ações do
técnico de enfermagem em colaboração ou sob
delegação do enfermeiro.
4- Trabalho em grupos para elaboração de escala
mensal e diária de trabalho tendo como referência
o perfil da atenção no seu local de trabalho.
5- Apresentação dos trabalhos e sistematização dos
critérios para elaboração de escala mensal e diá-
ria, com destaque para a legislação do trabalho
no que se refere a folgas, horário noturno, férias,
licenças.

72 72 O Trabalho em Enfermagem

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Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.3- Discutir o uso de protocolos téc- 1- Protocolos técnicos para organização 1- Levantamento dos protocolos técnicos e relatórios
nicos na organização do serviço de do serviço de enfermagem em nível local do serviço de enfermagem em seu local de trabalho.
enfermagem. • Normas e rotinas
2- Análise da importância e utilidade das normas,
• Relatórios
rotinas e relatórios na organização dos serviços
de enfermagem, considerando a qualidade da
assistência prestada e a otimização do processo
de trabalho.
3- Elaboração de propostas de normas e rotinas,
considerando a necessidade de (re)organização
do serviço em nível local.
4- Apresentação dos trabalhos e debate.
5- Leitura e discussão do texto: A Gestão do Trabalho
de Enfermagem.

UNIDADE I – GESTãO DO TRABALHO EM ENFERMAGEM 73

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Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.4- Analisar o papel do técnico de 1- Sistematização à Assistência de En- 1- Trabalho em grupos com troca de experiências
enfermagem na Sistematização da fermagem sobre a aplicação da metodologia da Sistemati-
Assistência de Enfermagem. • Histórico zação da Assistência de Enfermagem nos servi-
• Diagnóstico ços, com destaque para a atuação do técnico de
• Prescrição enfermagem e para a importância das anotações
• Evolução de enfermagem.
2- Teorias de Enfermagem 2- Apresentação dos trabalhos e debate sobre a im-
portância de uma assistência de enfermagem sis-
tematizada, com vistas à qualidade do serviço.
3- Participação de seminário sobre princípios e práti-
cas do cuidar em saúde e em enfermagem.
4- Executar o plano de cuidados de enfermagem e
acompanhar a evolução de clientes sob seus cui-
dados.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade I


Integração Curricular:
ÁREA I Promoção da Saúde
ÁREA II O Trabalho em Enfermagem
ÁREA III Relações Humanas no Trabalho em Saúde
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
Participar de atividades administrativas de enfermagem em diversas unidades de saúde.
Participar de ações em gestão de infraestrutura, ambiente e equipamentos e gestão de suprimentos.
Participar de testagem de artigos e equipamentos em uso em seu setor de trabalho.
Auxiliar o enfermeiro na supervisão e orientação de auxiliares de enfermagem na realização de procedimentos, colaborando no processo
de avaliação do trabalho.
Participar junto ao enfermeiro do planejamento, organização e avaliação da assistência de enfermagem.
Auxiliar o enfermeiro na implementação do Plano de Cuidados de Enfermagem para clientes.
Organizar, controlar e verificar as ações de forma a atender às demandas e às necessidades do paciente/cliente, de acordo com as priori-
dades definidas no Plano de Cuidados de Enfermagem.
Elaborar relatório diário da unidade em seu local de trabalho.
Manter o ambiente, os equipamentos e os instrumentos de trabalho em condições de uso para o paciente/cliente e para os profissionais de saúde.

74 74 O Trabalho em Enfermagem

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Texto 7 A Gestão do Trabalho de Enfermagem

O trabalho da enfermagem contempla duas


dimensões que se complementam e se retroali-
mentam: a da assistência ao cliente e família e a
da gestão do serviço e do processo de trabalho.

A dimensão assistencial se insere no cam-


po do cuidado, implicando a relação entre pes-
soas, permeada por saberes das ciências huma-
nas biológicas.

A dimensão gerencial é de natureza administrativa, implicando ações co-


letivas envolvendo profissionais com competências diferenciadas em termos de
complexidade – ou seja, a divisão técnica do trabalho. Nesse sentido, os aspec-
tos de comunicação e de relações interpessoais são fundamentais.

Do ponto de vista do serviço é importante que a enfermagem conhe-


ça e se aproprie dos conceitos e diretrizes que o cenário macro da institui-
ção oferece. Conhecer e participar da construção da missão da instituição,
seus valores e visão de futuro, significa ser reconhecido como elemento
atuante e com poder de transformar uma dada realidade de trabalho. A
internalização desses conceitos possibilita o direcionamento da prestação
da assistência, assim como o trabalho harmônico e com identidade dos
diversos setores da instituição. Normas: São condições estabeleci-
das pela gerência a ser observadas
na execução dos procedimentos.
Para o bom desenvolvimento do Serviço de Enfermagem é fundamen- Essas normas devem estar em con-
tal a construção do regimento de enfermagem, documento normativo que, sonância com as diretrizes.

além de conter a missão da instituição, define o perfil da clientela e os


recursos existentes para a assistência a ser prestada. Também estarão expli-
citados a organização do serviço de enfermagem, a missão, os valores, as
Diretrizes: São proposições gerais
diretrizes, as funções da cada membro da equipe de enfermagem e os seus de uma organização advindas da
administração superior que orien-
direitos e deveres. tam a tomada de decisões.

UNIDADE I – Gestão do Trabalho em Enfermagem 75

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Procedimentos: São aqueles que Outra prática que confere qualidade ao trabalho da equipe e à assistência
detalham as diretrizes e ainda
obedecem as normas estabele- prestada ao cliente é a elaboração de protocolos para as ações técnicas e ad-
cidas, padronizando a execução
dos trabalhos por meio de método ministrativas. Para além do caráter normativo, possibilita que a assistência seja
e sequência.
realizada dentro dos parâmetros a que a instituição se propõe e procura garantir
que o trabalho seja desenvolvido com a mesma qualidade, independente do
local ou de quem o realize.

A utilização de todos esses instrumentos confere à gestão a otimização de


recursos financeiros e humanos, qualidade e direcionalidade e permite a partici-
pação de todos na construção da identidade daquele trabalho.

Aspecto relevante na gestão é representado pelos trabalhadores, princi-


palmente se considerarmos que a equipe de enfermagem corresponde aproxi-
madamente a 70% do contingente de pessoal na área hospitalar. Para o dimen-
sionamento de pessoal necessário para a assistência com qualidade é necessário
considerar as características da instituição de saúde. Tomemos como exemplo
um hospital, em que alguns aspectos a considerar são:
• Característica do hospital: privado, público, filantrópico;
• Finalidade do hospital: assistência, ensino e pesquisa;
• Tipo de construção física: vertical, horizontal, blocos separados;
• Especialidades que serão atendidas como maternidade, pacientes víti-
mas de queimaduras;
• Perfil da comunidade atendida;
• Índice de absenteísmo da enfermagem na instituição;
• Existência de pronto-socorro ou pronto atendimento;
• Jornada de trabalho.

A Resolução do COFEN nº 189/96 estabeleceu critérios mínimos para


o dimensionamento de pessoal de enfermagem nas instituições de saúde.

76 76 O Trabalho em Enfermagem

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Utiliza-se do Sistema de Classificação de Pacientes (SCP), cujo principal ob-
jetivo é atender ao paciente em todas as suas necessidades básicas afetadas
de forma holística.

Essa classificação considera critérios como a carga de trabalho refletida


pela média de pacientes/dia, grau de dependência e tempo efetivo de trabalho
de enfermagem, considerando o tempo calculado em horas dispensadas no cui-
dado do paciente.

Tão importante quanto o dimensionamento adequado é a distribuição do


Para o dimensionamento de pessoal
pessoal de enfermagem, de forma a possibilitar distribuição equitativa desses considerar o índice de segurança
técnica que representa uma mar-
mesmos profissionais. As escalas se constituem em instrumento imprescindível gem de segurança segundo variá-
para a gestão que se propõe a uma assistência de qualidade. veis como folgas, faltas e licenças.

Para sua elaboração, as escalas mensais, diárias e anuais devem respei-


tar o cumprimento das determinações da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) e possíveis acordos coletivos, normas da própria instituição e também o
atendimento às solicitações pessoais, desde que não se comprometa o trabalho
desenvolvido na unidade.

Na elaboração da escala mensal devem ser consideradas as características


da unidade, o direito a licenças-maternidade, paternidade e médica, a jornada
de trabalho, bem como o número possível de folgas por dia.

A escala diária depende da quantidade de funcionários, do número de


pacientes e do grau de dependência destes, como também dos equipamentos
disponíveis. Na distribuição das atividades deve haver equilíbrio entre o número
de clientes destinado a cada funcionário e o grau de complexidade que apre-
sentam, exigindo que o enfermeiro promova rodízio da equipe na prestação de
cuidados de forma a não sobrecarregar alguns.

A escala diária pode ser classificada em:

UNIDADE I – Gestão do Trabalho em Enfermagem 77

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• funcional, quando as tarefas são divididas entre os funcionários;
• integral, quando todos os cuidados de enfermagem são realizados por
um funcionário;
• trabalho em equipe, quando há necessidade de escalar dois ou mais
funcionários para dois, três ou quatro pacientes, conforme o grau de
dependência.

Preferencialmente utilizamos a escala integral, pois proporciona a visão


holística do cliente com ganho na qualidade e humanização da assistência.

Na escala de férias é preciso considerar o período legal para usufruí-las e


o número de profissionais que estarão ausentes naquele período.

Deve-se lembrar sempre que na confecção de todas as escalas o objetivo


é proporcionar a assistência adequada ao cliente e procurar atender, ao mesmo
tempo, às solicitações e necessidades de cada trabalhador.

Por sua vez, a manutenção de infraestrutura adequada e necessária à as-


sistência contribui para a redução do nível de estresse da equipe, principalmente
nas situações de urgência e emergência. A enfermagem necessita, considerando-
se o objeto de seu trabalho, de condições para desenvolver suas atividades em
ambiente funcional e saudável e dispondo de equipamentos em condições de
uso. Por se manter diuturnamente na instituição é ela que identifica e solicita
precocemente as intervenções necessárias.

O controle das condições de funcionamento dos equipamentos e da pró-


pria estrutura física é realizado pela enfermeira e, mediante sua delegação, pelo
técnico de enfermagem. Importante considerar que a excelência da comunica-
ção na equipe contribui para a realização dessa e de outras atividades. Muitas
instituições fazem a manutenção preventiva de estrutura física e de equipamen-
tos, reduzindo a necessidade de solicitações de correções.

78 78 O Trabalho em Enfermagem

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Os insumos materiais tornaram-se objeto de preocupação de gestores em
saúde devido ao impacto que representam financeiramente e na qualidade do
serviço. O avanço tecnológico contribui para que materiais mais sofisticados
possam ser utilizados no cuidar do paciente, propiciando a melhoria da quali-
dade da assistência prestada. Porém, são fundamentais o controle rigoroso do
estoque e o uso correto desses materiais.

Algumas instituições controlam e distribuem esses materiais de forma cen-


tralizada; outras trabalham com cotas localizadas nos próprios setores. Indepen-
dente da opção escolhida, os instrumentos de controle utilizados devem garantir
o adequado monitoramento da distribuição, estoque e uso desses materiais. A
padronização de materiais e medicamentos, quanto à diversidade e à quantida-
de de itens, representa uma boa forma de otimizar sua utilização.

Cabe ao enfermeiro prever e prover a unidade de saúde no que con-


siste a recursos materiais permanentes ou descartáveis com o auxílio da
equipe de enfermagem para que a falta de material não influencie na as-
sistência prestada ao cliente. É necessário que a equipe e em especial o
técnico de enfermagem estejam engajados nesse processo, utilizando ade-
quadamente os recursos.

Teorias de enfermagem
Considerando o aspecto da gestão da assistência precisamos relembrar
que a história do cuidado é tão antiga quanto a história da humanidade. Somen-
te com Florence Nightingale, o processo do cuidar passou a ser visto de forma
científica, baseado em fundamentos teóricos. Alguns autores acreditam que esse
No modelo proposto por Wanda,
seria o primeiro registro de uma assistência de enfermagem sistematizada. a partir dos problemas levantados
junto ao paciente, o enfermeiro
elabora um plano de assistência e,
Wanda de Aguiar Horta marcou essa história quando na década de 1970 com sua equipe, presta assistência
até que o doente possa estar apto
desenvolveu o modelo de assistência baseado nas necessidades humanas bá- para o autocuidado.

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sicas afetadas, fundamentando-se nos princípios da homeostase. Considerava
o paciente/individuo como um “ser” em estado de desequilíbrio cujo intuito
final seria transformar esse desequilíbrio em equilíbrio.

É primordial, portanto, que um Nos Estados Unidos, em 1971, Dorothea Orem, em uma percepção holís-
profissional que desempenhe esta
função no cuidado domiciliar de- tica, sistematizou a Teoria do Autocuidado (AC) baseada na prática do cuidado
senvolva competências que possi-
bilitem uma assistência de enfer- do paciente para “si próprio” e “desenvolvida por ele mesmo”1 considerando-se
magem fundamentada, constante-
mente atualizada e humanizada. suas crenças, hábitos e cultura. Sua meta principal é o alcance da saúde tendo
como principal agente o próprio paciente, que com práticas voluntárias, conhe-
cimento, relações sociais e interpessoais é capaz de tomar decisões e regular seu
próprio comportamento. O papel da equipe de enfermagem é o de facilitador
para que esse paciente consiga atingir essa meta.

A crise generalizada que afeta a TORRES et al relatam que para Orem


humanidade se revela pelo descui-
do e pela falta de cuidado com que
se tratam realidades importantes
da vida: a natureza, os milhões e “ autocuidado é a prática de atividades que o indivíduo inicia
milhões de crianças condenados e executa em seu próprio benefício, na manutenção da vida,
a trabalhar como adultos, os apo-
sentados, os idosos, a alimentação da saúde e do bem-estar. Tem como propósito, as ações, que,
básica, a saúde pública e a educa-
ção mínima. A crise é civilizatória. seguindo um modelo, contribui de maneira específica, na in-
Para sair desta crise precisamos de
uma nova ética. Ela deve nascer tegridade, nas funções e no desenvolvimento humano. Esses
de algo essencial no ser humano.
A essência humana (...) reside mais propósitos são expressos através de ações denominadas re-
no cuidado do que na razão e na
vontade. É próprio do ser humano quisitos de autocuidado”.
colocar cuidado em tudo o que faz.
Se não coloca cuidado as coisas
se desmantelam e desaparecem. Considerando a assistência de enfermagem um “processo do cuidar”, é
(BOFF, 1999).
importante que seja feito de forma sistematizada. Para assegurar que todos os
membros da equipe possam prestar uma assistência de enfermagem com quali-
dade, questões sobre o Cuidar têm sido debatidas com base no pensamento de
Leonardo Boff – pensador cristão,
formado em Teologia e Filosofia, Leonardo Boff.
ajudou a formular a Teologia da
Libertação nos anos 1970. Ganhou
o prêmio Nobel Alternativo da Paz,
conferido em Estocolmo em 2001,
por seu compromisso com a justi-
1
CAMPEDELLI. São Paulo, 2000.
ça, a ecologia e a espiritualidade.
(BOFF, L. 2003).

80 80 O Trabalho em Enfermagem

30916018 miolo.indd 80 2/9/2009 17:49:38


Sistematização da Assistência de Enfermagem

A partir da decisão do COREN-SP, a Sistematização da Assistência de Decisão COREN-SP/DIR/008/99


– Decisão homologada pelo Con-
Enfermagem (SAE) foi implementada nos serviços de saúde sendo considerada selho Federal de Enfermagem (De-
cisão COFEN nº 001/2000 de 4
uma função exclusiva do enfermeiro e designada como “método e estratégia de janeiro de 2000) publicada no
de trabalho cientifico que realiza a identificação das situações de saúde/doen- Diário Oficial em 21 de janeiro de
2000 “Normatiza a Implementação
ça” para promover, recuperar e reabilitar indivíduo, família e comunidade. É da Sistematização da Assistência
de Enfermagem – SAE – nas Insti-
necessário que essa assistência esteja documentada em formulário apropriado tuições de Saúde, no âmbito do Es-
tado de São Paulo.” Disponível em:
e de forma sistemática. <www.corensp.org.br>.

A SAE é uma metodologia para organização da assistência de enferma-


gem a ser dispensada ao cliente, e para sua implementação prevê a participação
de todos os elementos da equipe de enfermagem em suas etapas. O técnico Analise os seguintes dados colhidos
em um histórico de enfermagem:
em enfermagem é coparticipante do processo e como tal deve ser também um Nome da cliente: M. S. E. Idade:
colaborador nas tomadas de decisões quanto às intervenções de enfermagem a 59 anos.
Endereço: Rua das Andorinhas, 22
serem aplicadas ao cliente. Jacarezinho - São Paulo.
Profissão: “catadora de cana”
Religião: Testemunha de Jeová
Motivo da internação: insuficiência
A SAE compõe-se das seguintes etapas: respiratória crônica agudizada
(dados fictícios).
Baseado nos dados acima, o que
O Histórico de Enfermagem compreende o exame físico e a entrevista (e por que) chamou sua atenção,
como membro da equipe de enfer-
fornecendo dados do cliente para a assistência de enfermagem. O enfermei- magem? Qual a sua preocupação/
observação? Como você relaciona
ro, além de esclarecer procedimentos ou quaisquer dúvidas com informa- esses dados com o processo saúde/
ções claras e linguagem adequada, inicia a análise dos dados pessoais. A doença e com o plano de cuidados?

importância de relacionar esses dados com os possíveis problemas possibilita


a intervenção precoce.

O Diagnóstico de Enfermagem é a conclusão feita após a entrevista e o Os dados do histórico são impor-
tantes para a atuação da equipe de
exame físico em relação aos problemas que o cliente/paciente apresenta. É um enfermagem, como informações a
respeito de hábitos e vícios, patolo-
julgamento clínico que possibilita, além da identificação dos problemas, sua gias preexistentes, uso de medica-
definição e etiologia. A partir dessas informações, o enfermeiro poderá elaborar mentos, cirurgias e/ou internações
anteriores, motivo da internação,
a prescrição de enfermagem por meio do plano de cuidados pertinentes aos entre outros. A entrevista busca le-
vantar dados sobre nutrição, elimi-
problemas de enfermagem diagnosticados. nações, sono e repouso e gregária.

UNIDADE I – Gestão do Trabalho em Enfermagem 81

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A Prescrição de Enfermagem consiste no registro dos cuidados a ser de-
senvolvidos de forma sistematizada, organizando a prestação dos mesmos e
possibilitando a consulta por qualquer membro da equipe multiprofissional. É
feita diariamente, contemplando os cuidados com higiene corporal, eliminações
intestinais e vesicais e manutenção das funções respiratórias e cardiológicas,
cuidados com sondas, drenos e cateteres, entre outros.

O técnico em enfermagem tem papel fundamental tanto na execução da


prescrição quanto na observação do cliente, obtendo informações relevantes
que podem contribuir na análise da evolução do paciente.

A Evolução de Enfermagem consiste na interpretação da prescrição de en-


fermagem, do exame físico, exames realizados e no quadro clínico do cliente,
sendo a fase final da SAE. Deve ser realizada diariamente para todos os pacientes.

A Anotação de Enfermagem é realizada por todos os membros da equipe


de enfermagem, contemplando as possíveis intercorrências, exames realizados e
cuidados prestados de forma geral.

Considerando que a comunicação entre os membros da equipe é fator


O Decreto nº 250.387, de 28 de determinante para o sucesso da gestão, a utilização de recursos de informação
março de 1961, que regulamenta
a Lei nº 2.604/1955, do exercício é imprescindível. O registro dos acontecimentos, de qualquer ordem, permite
profissional da enfermagem, dis-
põe: Art. 14, inciso c, “são deveres a socialização da informação, os encaminhamentos necessários e a tomada de
de todo o pessoal de enfermagem: decisão. Rotineiramente utilizamo-nos de reuniões, passagem de plantão, livros
manter perfeita anotação nas pa-
peletas clínicas de tudo quanto se de relatório diário, anotações de enfermagem e do próprio prontuário do cliente.
relacionar com o paciente e com
a enfermagem”. Disponível em:
<www.coresp.gov.br> Toda documentação do cliente tais como prescrições médicas e de enfer-
magem, exames, interconsultas ou avaliações de especialistas – é de suma impor-
tância, devendo ser compilada em um único instrumento denominado prontuário.
O prontuário atende a todos os envolvidos no “processo do cuidar” como médico,
enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem, dentista, nutricio-
nista, assistente social, entre outros, fornecendo dados para a prestação desse cui-
dado em todas as instituições de saúde. Deve conter informação clara com letra
legível, sempre datada e assinada pelo profissional que avaliou o cliente.

82 82 O Trabalho em Enfermagem

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Também pode ser utilizado o prontuário eletrônico, que é “um registro O prontuário possui valor legal,
sendo o instrumento que as en-
eletrônico instalado em um sistema especificamente projetado para apoiar os tidades jurídicas solicitam para
apreciação dos fatos quando ne-
usuários, fornecendo acesso a um completo conjunto de dados corretos, alertas, cessário, por exemplo, em casos
de denúncia de iatrogenias. Pode
sistemas de apoio à decisão e outros recursos, como links para bases de conhe- ainda ser fonte para o desenvolvi-
cimento médico”. (Institute of Medicine, 1977). mento de pesquisas e para o ensino
de profissionais da área de saúde.

Tem como principais vantagens:


• acessibilidade: varios membros da equipe multiprofissional podem
acessá-lo ao mesmo tempo;
• processameneto contínuo de dados: na medida em que todos alimen-
tam o sistema com informações pertinentes;
• facilidade de leitura: a escrita digital vem superar a dificuldade de lei-
tura das letras manuscitas, já que cada indivíduo possui tipo de letra
diferente, muitas vezes de difícil entendimento;
• acesso a dados para pesquisa: possui gransde quantidade de informa-
ções que podem contribuir para o ensino e pesquisa.
• atualização constante.

O prontuário eletrônico é uma ferramenta que veio para facilitar e agilizar


o processo de trabalho. Porém, essa tecnologia da informática na área da saúde
ainda não é acessível a todos.

Devemos enfatizar que o processo de gestão é competência de algumas


pessoas dentro de uma instituição, mas que somente é viabilizado com a adesão
de todos que ali trabalham.

Bibliografia
BOFF, L. Civilização Planetária. Desafios à Sociedade e ao Cristianismo. Rio de
Janeiro: Sextante, 2003.

UNIDADE I – Gestão do Trabalho em Enfermagem 83

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84 84 O Trabalho em Enfermagem

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Relações Humanas no Trabalho em Saúde

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Relações Humanas no Trabalho em Saúde e em Enfermagem unidade I
Objetivo
Reconhecer a importância das relações interpessoais no processo de trabalho
em saúde e em enfermagem.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Analisar aspectos de relações in- 1- Relações interpessoais 1- Participação em dinâmica de Tribunal de Júri, en-
terpessoais que interferem no traba- 1.1- Comunicação volvendo situações vivenciadas pela equipe de
lho em saúde e em enfermagem. • Verbal saúde e de enfermagem relativas a questões de
• Não verbal relacionamento interpessoal.
1.2- Liderança 2- Debate sobre aspectos de relações interpessoais
1.3- Motivação que impactam nas relações de trabalho e na qua-
1.4- Trabalho em equipe lidade da atenção. Destaque para aspectos indi-
2. Relações humanas no trabalho em viduais, relativos a questões pessoais/psicológicas
saúde e em enfermagem e aspectos situacionais, relativos ao ambiente e
condições de trabalho, considerando-se ainda o
contexto social, político e econômico.
3- Debate sobre a importância da comunicação
nas relações interpessoais e sobre estratégias que
favorecem a comunicação entre as pessoas no
processo de trabalho. Destaque para o papel do
supervisor/gestor neste processo.
4- Leitura e discussão do texto: O Trabalho em Saúde
e as Relações Interpessoais.
5- Pesquisa junto aos trabalhadores em seu local de
trabalho sobre fatores que causam desmotivação e/
ou dificuldades relativas a relações interpessoais.
6- Trabalho em grupos com propostas de estratégias
para ser implementadas em seu local de trabalho
com vistas à superação das eventuais dificuldades
levantadas.

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes


Integração Curricular:
ÁREA II Trabalho e Saúde
ÁREA II O Processo de Trabalho em Saúde
ÁREA IV A Gestão do Trabalho de Enfermagem

UNIDADE I – Relações Humanas no Trabalho em Saúde e em Enfermagem 87

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Texto 8 O Trabalho em Saúde e as Relações Interpessoais

O relacionamento entre as pessoas


ocorre desde que surgiu a humanidade, de
vários modos e em circunstâncias diversas.
Interagimos com tudo e todos a nossa vol-
ta; interferimos no meio, sendo, ao mesmo
tempo, agentes de mudança e seres em
constante modificação. Essas relações per-
Nesse curso já abordamos o pro-
cesso de comunicação na área meiam o dia a dia por meio de um proces-
curricular I. Relembre os aspectos so comunicativo complexo e muitos deta-
que foram abordados, em especial
os elementos da comunicação, re- lhes devem ser percebidos para que ocorra
ceptor e emissor.
uma verdadeira compreensão. O processo de comunicação pode ocorrer de
forma tanto consciente como inconsciente, seja para a pessoa que emite ou para
aquela que recebe a mensagem.

O relacionamento interpessoal na Quando falamos das relações interpessoais na área da saúde, estamos nos
área da saúde requer uma aten-
ção especial pela quantidade de referindo à equipe de enfermagem, aos clientes e suas famílias, à equipe multipro-
mensagens contendo informações
importantes para o cuidado do fissional e à comunidade. Todos simultaneamente, emitindo e captando mensa-
cliente. Nesse contexto é primor- gens e interpretando-as de diversas maneiras. É especialmente precioso nesse con-
dial atentar para uma comunica-
ção mais refinada, decodificada texto, onde está inserido o técnico de enfermagem, que a informação enviada seja
adequadamente, para que o aten-
dimento seja seguro, eficaz, dife- clara e compreensível para todos, sem lacunas ou distorções no entendimento.
renciado e de qualidade.

Há muitos exemplos de situações em que cada segundo é valioso para


a manutenção da vida e a importância da comunicação clara. Quando, por
exemplo, alguém escuta dentro de um hospital: “Parada!”, já está implícito que
este é um chamado emergencial para a equipe atender alguém que está em pa-
rada cardiorrespiratória, não devendo, portanto, ocorrer perda de tempo entre
o entendimento do código e a ação de levar o material de emergência e prestar
o devido atendimento. Nesse caso, em uma palavra resumem-se todas as ações
que deverão ser realizadas com prontidão, a mensagem é objetiva e não deixa
dúvidas. Mas não é só no estabelecimento de mensagens claras, de códigos sa-
bidamente conhecidos, que o processo comunicativo se resume.

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O sucesso do trabalho no dia a dia dependerá de como tem sido mantida
a “saúde” dessas relações profissionais. Quando acontece um esforço mútuo
para uma comunicação clara e efetiva e as pessoas encontram-se empenhadas
em aprimorar-se nesse assunto, o respeito e a credibilidade necessários são forta-
lecidos e o trabalho, mais bem desenvolvido. Assim, os desafios e os obstáculos
diários podem ser enfrentados com maior entendimento e compreensão.

O exame minucioso do comportamento comunicativo é imprescindível,


pois quando este se apresenta deficiente promove divergências nos relacio-
namentos interpessoais que se refletirão na organização do local de trabalho.
Desse modo, ocorrerão tensões, resistências a novas ideias e propostas e dis-
tanciamento entre as pessoas. Isso resulta em prejuízo na organização do tra-
balho, na sua eficiência e produtividade. (BALSANELLI, 2006). Comunicar-se,
portanto, é essencial.

Comunicação
Para SILVA (2002), comunicar é o processo de transmitir e receber mensa- Signos: são estímulos que trans-
mitem uma mensagem; qualquer
gens por meio de signos, sejam eles símbolos ou sinais. coisa que faça referência à outra
coisa ou ideia. São convencionais
e arbitrários.
Precisamos da comunicação para ter condições de compreender a reali- Símbolos: são signos que têm uma
única significação possível.
dade a nossa volta, manter contato com o outro e promover modificações neste Sinais: são signos que têm mais de
um significado.
e em si mesmo. É importante ressaltar que na comunicação estão presentes vá- Código: conjunto organizado de
signos. (SILVA, 2002).
rios elementos:
• local e situação em que a mensagem será transmitida;
• pessoas para a emitir e receber;
• forma que esta será veiculada.

Um fator importante nessa troca de informações é o entrosamento entre as


pessoas, pois as barreiras de defesa pessoais ou de uma equipe influenciam de

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Decodificação: Interpretação de uma forma importante a compreensão daquilo que se quer transmitir. As informações
mensagem pelo receptor, de acordo
com um código predeterminado. veiculam como códigos e quando a mensagem chega ao destino elas precisam
Michaelis. Moderno dicionário da
língua portuguesa. Disponível em: ser decodificadas adequadamente.
<http://michaelis.uol.com.br/mo-
derno/portugues/index.php?lingua
= portugues-portugues&palavra = SILVA (2002) descreve quatro tipos de códigos utilizados no processo
decodifica%E>. Acesso em: 5 de
julho de 2009. comunicativo:
1. comportamentais: uso de movimentos do próprio corpo como expressão;
2. artefatuais: uso de artefatos como objetos, adornos, vestimentas;
3. espaço-temporais: posicionamento de um indivíduo num dado local,
ou uso da cadência de uma música;
4. mediatórios: utilização de métodos gráficos, escrita.

Para que verdadeiramente haja comunicação entre pessoas, alguns compo-


nentes são essenciais. Se fizermos uma analogia e compararmos o processo co-
municativo a uma peça teatral no momento da encenação, será imprescindível ter:
• um cenário e palco (locais onde a mensagem é transmitida), que forne-
cem muitas informações, como a época e o lugar;
• as pessoas que se comunicarão, ou seja, personagens e público;
• mensagens, que são as emoções e informações transmitidas entre os
atores. Essas mensagens são acompanhadas dos signos.

Esses signos poderão ser notados e comparados, por exemplo, numa peça
na qual há um rei e um nobre contracenando no palco, estando o primeiro ves-
tido com roupas elegantes e uma coroa, o que o identifica como rei. O símbolo
– a coroa – tem seu significado único e claro.

O outro personagem usa uma roupa elegante da época, mas no seu traje
não há uma informação específica (não tem significado único). O tipo de roupa
– sinal – mostra que se trata de um nobre (a vestimenta pode ter vários significa-
dos, porém não indica, por exemplo, qual título de nobreza ele possui).

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Nesse processo comunicativo, ainda falta um elemento importante que é Comunicação verbal: refere-se às
palavras expressas por meio da fala
a forma pela qual a mensagem será transmitida, podendo ser utilizados a lingua- ou escrita.

gem, as palavras escritas, a expressão corporal e facial, os objetos e outros. Uti-


lizando a mesma analogia para ilustrar as diferentes maneiras de comunicação,
se na peça estiver acontecendo um encontro amigável entre o rei e o nobre, eles
tanto poderão estar se comunicando apenas com um sorriso ou pelo diálogo.

Essas maneiras de transmissão das mensagens são as diferentes formas de Comunicação não verbal: não está
associada às palavras e ocorre por
comunicação, que podem ser distinguidas em: verbal e não verbal. meio de gestos, silêncio, expres-
são facial, postura corporal etc.
(SILVA, 2002).
É importante observar algumas técnicas que auxiliarão na comunicação.
Na comunicação verbal, em que o homem se expressa como ser social, é preci-
so entender que existem três aspectos basicamente essenciais: expressão, clari-
ficação e validação.

Quanto à expressão, é relevante saber ouvir, evitando falar em demasia, Expressão: interagir verbalmente
com alguém a fim de transmitir a
demonstrando interesse pelo que o outro está dizendo. Exemplificando: durante mensagem.
Clarificação: significa clarificar um
a exposição de um fato que esteja sendo narrada por um dos membros da equi- fato, que pode ser pelo entendi-
mento de um raciocínio, de uma
pe, ou pelo paciente, é crucial saber escutar e estimular verbalmente para que postura ou comportamento que es-
teja ocorrendo naquela hora.
o orador perceba que está causando interesse e recebendo atenção. Pode-se Validação: significa validar a com-
preensão do que foi verbalmente
encorajar a pessoa a prosseguir naquilo que está dizendo. transmitido, verificando se foi real-
mente compreendida a mensagem.
(SILVA, 2002).
Na clarificação, seja de uma orientação que o cliente, funcionário ou ou-
tro membro da equipe multidisciplinar precise compreender, podem-se usar mé-
todos de comparação, dizendo: “É parecido com...”, lembrando de utilizar nessa
comparação termos e situações conhecidas dessas pessoas, além de perguntar
sobre suas impressões sobre o assunto, a fim de que ela possa ir completando o
raciocínio. Tirar suas dúvidas, esclarecendo termos complexos.

Para validar se a mensagem foi realmente compreendida, é importante


que ela seja novamente dita e na repetição reforçar os pontos principais. Outro
recurso é solicitar que a própria pessoa repita o que foi dito.

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Utilizar na sala de aula a dinâmica No ambiente de trabalho, o técnico de enfermagem precisa atentar para
do “Telefone sem fio”, escolhendo
uma mensagem para ser comuni- o uso dessa prática simples, que pode evitar erros graves e também grandes
cada verbalmente. Analise como
essa informação chega à última conflitos. Reforçar positivamente com um elogio sincero, além de contribuir
pessoa e identifique os “ruídos”.
A classe deverá propor alternativas para a construção de um bom relacionamento interpessoal, é um facilitador do
para que a mensagem seja transmi-
tida com nitidez. processo comunicativo. A comunicação se aprofunda quando nos dispomos a
demonstrar admiração pelo outro e permitir que este também possa senti-la por
nós, pois conduz a um ambiente harmônico, em que a compreensão, nas mais
diferentes situações, pode ser desenvolvida.

A comunicação não verbal é aquela que, talvez, exija mais aprendizado,


no que diz respeito à sua identificação, interpretação ou desenvolvimento. Seja
no relacionamento com a equipe ou com o cliente, é essencial a leitura dessa
outra forma de expressão, cujos estudos demonstram ser a parcela que mais da-
dos fornece na transmissão e recepção da mensagem. No homem esse tipo de
comunicação é a manifestação do ser psicológico.

Os sinais presentes nesse tipo de comunicação provêm de:


• fatores do meio ambiente: lugar, com seus objetos, cores e outras pe-
culiaridades;
• características físicas: nas quais a aparência do corpo emite, por exem-
plo, sinal sobre a idade, se é alto, magro, modo de se vestir;
• da percepção pelo tato: tacêsica;
• da linguagem corporal: cinésica, manifestada por meio de gestos, ex-
pressões da face, formas de olhar;
• da distância estabelecida entre os interlocutores: proxêmica, que, quan-
to mais curta, demonstra maior proximidade no relacionamento;
• o uso de sons emitidos, que não pertençam ao vocabulário linguístico:
paralinguagem, com grande significado na comunicação não verbal,
sob a forma de suspiro, entonação de voz e outros. (SILVA, 2002).

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Recordando o exemplo anteriormente citado (a peça teatral com o rei e o
nobre), imaginemos que a iluminação do palco e o som dos microfones estejam
deficientes. É certo que a comunicação ficará prejudicada porque as expressões
faciais não poderão ser observadas claramente, assim como as mudanças na en-
tonação de voz e o entendimento perfeito dos diálogos. Provavelmente os atores
ficarão tensos, com receio de não estarem sendo bem compreendidos, e isso
pode se acentuar pela dificuldade em visualizar e avaliar a reação do público.
Muitas alterações poderão ocorrer quanto à interpretação cênica e à compreen-
são por parte do público, devido às interferências na transmissão da mensagem.

Analogamente ao que acontece num palco, também no trabalho na área Ruído é tudo aquilo capaz de dis-
torcer a mensagem no processo
da saúde é crucial que se promova a remoção de todo e qualquer tipo de distúr- comunicativo. (QUIM et al., 2003).

bio que dificulte a comunicação, altere o teor da mensagem e provoque erros e


desavenças. Essas interferências, que podem ocorrer em qualquer fase do pro-
cesso, são chamadas de ruídos.

Liderança
Para manter um ambiente harmônico, produtivo, com qualidade nos servi- Atualmente, Liderança é definida
como a arte de usar o poder que
ços e nas relações, é necessário exercer com excelência a liderança. existe nas pessoas ou a arte de
liderá-las para fazer o que se re-
quer delas, da maneira mais efeti-
Estudos sobre liderança reforçam que não é necessário a fama ou um car- va e humana possível. (FUNDAP,
2004).
go elevado para que ela exista, mas que qualquer pessoa pode desenvolver esta
capacidade. (FUNDAP, 2004).

Na área da saúde é primordial que haja liderança, e abordando mais es-


pecificamente a enfermagem, em que está presente a arte do cuidar, é funda-
mental que a equipe tenha alguém que se preocupe não só com a coordenação
do trabalho em si mas também com quem cuida. Precisa estar apto a resolver
conflitos, agir com ética e com igualdade para com todos, estabelecendo uma
relação de confiança associada à motivação. (BALSANENELLI, 2006).

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Portanto, é relevante que esteja claro que só há liderança se houver con-
sentimento de quem é liderado. (FUNDAP, 2004).

Liderança formal: é estabelecida Há dois tipos distintos de liderança: formal e informal.


quando uma pessoa recebe algum
tipo de poder, de acordo com a po-
sição hierárquica que possui, e legi-
timado por uma autoridade.
Quando se trata de uma liderança formal, nem sempre essa pessoa con-
Liderança informal: é aquela assu- segue ser bom líder.
mida por um gerente ou qualquer
outro funcionário. (FUNDAP, 2004).
Para se conseguir mudar o comportamento das pessoas, influenciando
ideias e sua maneira de agir, é preciso estar atento para formas de liderança que
estão sendo utilizadas para que isso se efetive. É importante refletir que uma
liderança positiva e duradoura baseia-se no respeito mútuo (deve-se perceber
como se sente o liderado), na justiça, na competência de suas ações, demons-
trando segurança e valorizando os outros. O trabalho é, assim, desempenhado
com eficiência e criatividade, incentivando a troca de ideias e levando em conta
a opinião da equipe, além de delegar poder.

Identificar no seu local de trabalho Muitas vezes observamos outra forma de liderar, na qual é esperada sub-
quais os tipos de líder existentes e
as características que se sobressa- missão dos liderados, fiscalizando, ameaçando ou ainda manipulando por meio
em. Quais pontos você admira e
que lhe trazem motivação? Obser- do oferecimento de vantagens e reforçando a possibilidade de recompensa. Há,
var e trazer para discussão em sala
de aula, a fim de traçar sugestões nesses casos, centralização do poder. (FUNDAP, 2004).
sobre liderança com intuito de me-
lhorar a assistência de enfermagem
e o relacionamento interpessoal da Existem várias formas de se exercer a liderança, podendo ser (FUNDAP, 2004):
equipe multiprofissional.
• autoritária, em que o gestor tem como foco a orientação das tarefas
e faz uso de sua autoridade. Nesse modelo o líder pode decidir so-
zinho e comunicar aos outros sua deliberação, induzir a decisão ou
ainda permitir a participação, mas, ao final, o que vai prevalecer é
sua opinião.
• democrática, na qual há orientação para as pessoas e participação efe-
tiva do grupo. O líder permite e estimula que todos se manifestem, leva
em conta as sugestões e considera as decisões do grupo até onde possi-
bilitam os níveis da instituição.

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A forma de liderança exercida dependerá das características pessoais do
líder, da instituição que este trabalha, assim como do tipo de trabalho, grau de
maturidade do grupo e seu tamanho.

Para BERTELLI (2004), nas instituições de modo geral enfatiza-se a impor-


tância de ter pessoas que trabalhem compartilhando riscos, tendo uma visão
e desenvolvimento contínuo. Acrescido a isso é preciso que este líder seja um
empreendedor, conseguindo gerar inovação, reação rápida para desencadear as
mudanças necessárias e capacidade de se adaptar.

Essa capacidade de adaptar-se a novas situações, apesar das adversidades Resiliência: forças psicológicas e
biológicas exigidas para atravessar
vividas, também é conhecida como resiliência. Faz parte do papel de quem está com sucesso as mudanças na vida.
O indivíduo resiliente é aquele que
na gestão identificar essa capacidade do indivíduo e usá-la como auxílio para o tem habilidade para reconhecer a
dor, perceber seu sentido e tolerá-
seu desenvolvimento. la até resolver os conflitos de forma
construtiva. (PINHEIRO, 2004)

Outro aspecto importante, no ambiente de trabalho, a qual o técnico em


enfermagem deve estar atento, é a tomada de decisão. QUIM, R. E. et al. citam
Lawler (1986, 1992), que menciona duas abordagens que poderão ser utiliza-
das por quem está na gestão: a tomada de decisão “centrada no controle” e a
“centrada no envolvimento”. Isso significa que há casos nos quais a decisão é
tomada por quem está liderando formalmente, e só depois é comunicada aos
outros membros; e há outras situações em que a deliberação é participativa e há
envolvimento de todos, no sentido de opinar e decidir.

Existem vantagens e desvantagens nas duas situações. De modo geral, os


prós para quando há envolvimento no processo decisório são: maior compro-
misso dos funcionários no que se refere à aplicação da decisão tomada, com
maior compartilhamento do conhecimento, maior facilidade em identificar obs-
táculos e sugerir soluções e colaboração para o desenvolvimento dos funcioná-
rios. As desvantagens são de que levam mais tempo para chegar a um consenso
sobre a decisão a tomar e nem sempre há uma capacitação geral do grupo para
isso. (QUIM et AL., 2003).

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Motivação
E quando se fala de pessoas é preciso falar de motivação. Mas o que isto
significa?

Necessidade: estado de insatisfa-


ção, combinado a certa tensão in-
Já é sabido que a motivação está associada à satisfação das necessidades,
terna, decorrente de um desequilí- que podem se apresentar em diferentes níveis, variando de acordo com o estilo de
brio psicofisiológico do organismo.
Motivação: conjunto das forças in- vida da pessoa, sua personalidade, idade, profissão e outros. As teorias, neste as-
ternas (energia) que impele as pesso-
as para o agir, destinado a satisfazer sunto, relacionam as necessidades e a motivação. Afirmam que a própria pessoa é
suas necessidades. (FUNDAP, 2004).
responsável pela sua motivação, apesar dos estímulos externos, e que precisa estar
com suas necessidades satisfeitas para isso. Os estímulos adequados para “desper-
tar” alguém e fazê-lo sentir-se motivado devem ser no sentido de gerar uma nova
necessidade, algo que internamente o estimule a buscar incentivo. É necessário,
entretanto, saber como acontece o processo da motivação, desenvolver habili-
dades específicas e principalmente conhecer, compreender e perceber como se
sente esta pessoa que necessita ser estimulada. (FUNDAP, 2004).

KRON e GRAY (1994) apontam para o fato de que não se deve ter esta
visão sobre a satisfação das necessidades humanas básicas apenas para os pa-
cientes e sim lembrar que as pessoas que fazem parte do nosso trabalho também
precisam ter suas necessidades supridas. Atenta, ainda, para a interferência das
respostas emocionais nas relações interpessoais, em que aponta o prazer, a ale-
gria e o entusiasmo ligados às necessidades básicas satisfeitas, em contraponto
com a não satisfação destas gerando estresse e estafa, deixando a irritabilidade e
a ansiedade afetarem essas relações.

Dentre muitas teorias que falam sobre motivação, citaremos a de Maslow,


a de David McClelland e David Burnhan e a de Ruy Mattos. Elas podem contri-
buir para analisar o comportamento das pessoas no local de trabalho e também
ser fonte de autoconhecimento. (FUNDAP, 2004).
• A teoria de Maslow (1908-1970), pesquisador norte-americano do com-
portamento humano, cuja teoria recebeu o nome de Hierarquia das Ne-

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cessidades, representada por uma pirâmide que ilustra as necessidades
divididas em cinco grupos: fisiológicas – ligadas à subsistência e sobre-
vivência, segurança – ,emprego, moradia, proteção contra riscos, sociais
– amizade, amor, afeto, etc., estima – autoconfiança, consideração, valo-
rização pessoal, reconhecimento, etc., e autorrealização – plenitude de
sua realização pessoal. Esta teoria pressupõe que enquanto a necessidade
mais básica não for satisfeita, seguindo a ordem descrita, o indivíduo não
tem motivação para outra, que se encontra num nível acima. Toda mo-
tivação está concentrada em resolver a necessidade daquele momento.
Maslow ainda salienta que, quando a pessoa satisfaz esta necessidade, a
motivação perde a força. (FUNDAP, 2004).

• Outra teoria muito utilizada é a de David McClelland e David Burnhan, Quais são as motivações que o
trouxeram para este curso? Como
que, baseada na teoria de Maslow, classifica as pessoas como perten- você identifica as motivações na
sua vida profissional?
centes a uma das três categorias, mostrando onde se encontra a moti-
vação de cada uma. As categorias são: realização – pessoas que optam
por metas desafiadoras, procuram desenvolver-se e consideram as me-
tas mais do que recompensas; filiação – aquelas que buscam o bem
comum e o reconhecimento, dando maior valor aos relacionamentos e
às amizades e poder – as que dão importância ao uso do poder, visando
ao controle de pessoas e do ambiente. (FUNDAP, 2004).

• A teoria de Ruy Mattos está voltada para os valores pessoais. O ser hu-
mano se encaixaria numa das quatro fontes existenciais de motivação:
o ser – pessoas que procuram ser cada vez melhores porque almejam
encontrar o sentido da vida; buscam a autorrealização; ter – as que al-
mejam acumular e adquirir bens materiais; saber – seres racionais, vol-
tados para o conhecimento científico; e poder – pessoas direcionadas
para o domínio sobre os outros. Mattos não está de acordo com Maslow
quando este considera que as necessidades,de todos os níveis, perdem
sua influência motivadora quando saciadas. Segundo Mattos, isto é vá-
lido apenas para as necessidades básicas (fisiológicas e de segurança),
pois as outras seriam insaciáveis no ser humano, sofrendo, somente,
períodos de adormecimento. (FUNDAP, 2004).

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Exercer a gestão de pessoas, portanto, exige o desenvolvimento de muitas
habilidades e conhecimento. Visa à realização da missão proposta pela institui-
ção, por meio do alcance dos objetivos traçados, que serão conquistados se as
pessoas que trabalham juntas estiverem motivadas e treinadas. A liderança deve
desenvolver, com respeito e ética, o melhor do potencial de cada um, a fim de
que todos possam estar envolvidos numa melhor e crescente qualidade de tra-
balho. Espera-se, com isso, um enfrentamento positivo diante das mudanças que
se fizerem necessárias. (BERTELLI, 2004).

Porém, mudanças nem sempre são bem aceitas por todos. As pessoas têm
diferentes pontos de vista, assim como também divergem quanto aos seus inte-
resses, objetivos e necessidades. (FUNDAP, 2004). Quando isso ocorre podem
surgir conflitos que sempre deverão ser enfrentados, visando a uma solução sa-
tisfatória a todos os envolvidos.

Manejo de conflitos
Conflito: ocorre quando há interfe-
rência de uma das partes, dificul-
Os conflitos podem ser internos, nos quais a pessoa está em discórdia com
tando ou impedindo a realização ela mesma, afetando sua relação intrapessoal; ou externo, nas relações interpes-
dos interesses ou objetivos de ou-
tra. ( FUNDAP, 2004). soais. Essas relações podem ter desde uma pequena abrangência (duas pessoas
do mesmo turno de trabalho); acontecer entre equipes ou até mesmo ocorrer
entre grandes organizações. ( BERTELLI, 2004).

O técnico de enfermagem precisa estar ciente que se o conflito não for


administrado de forma adequada pode ser causa de grandes danos aos objetivos
a ser alcançados, fazendo com que as pessoas vivam num clima de tensão, pre-
judiquem a produtividade e a qualidade no desempenho de suas funções, além
do desgaste emocional e nas relações interpessoais. (GALVÃO, 2000).

Além disso, estas discórdias apresentam nuances que os diferenciam em


níveis diferentes:

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• conflito percebido – percepção por meio da comunicação não verbal; Pesquisar quais as principais ques-
tões que geram conflitos no seu
sensações; local de trabalho. Elaborar uma
lista, em sala de aula, utilizando os
dados obtidos por todos os alunos.
• conflito experienciado – boicotes e vivências desagradáveis; Discutir e propor soluções para a
resolução dos conflitos apontados.
• conflito manifestado – declarado. (BERTELLI, 2004).

BERTELLI, S. B. (2004) descreve ainda cinco maneiras de se administrar


conflitos: o estilo da evitação – em que é evitado o conflito, não há confronto,
mas também não há alcance dos objetivos em ambos os lados; estilo de acomo-
dação – há suavização da situação na tentativa de harmonizá-la, mas a causa do
conflito é ignorada; estilo competitivo – uso da autoridade por uma das partes,
sendo que esta ganha e a outra perde; estilo de compromisso – busca soluções
baseadas na cooperação, a fim de evitar futuros conflitos; e estilo de colabora-
ção – beneficia ambas as partes, reconciliando e reduzindo as diferenças, sendo
o mais apropriado.

Ao se administrar adequadamente os conflitos, nota-se melhoria no clima


organizacional, com bons desempenhos e favorecimento do alcance coletivo no
que se refere às metas e objetivos.

Outro assunto relevante para o conhecimento do técnico de enfermagem


é a negociação.

Segundo BERTELLI, S. B. (2004), processos da negociação incluem as etapas de: Negociação: É o processo pelo
qual duas ou mais partes trocam
bens ou serviços e tentam concor-
1. preparação e planejamento, que consiste nos dados sobre o conflito – dar com a taxa de troca entre elas.
(BERTELLI, 2004).
natureza e história; as pessoas envolvidas e quais as suas perspectivas.
Nesta fase é realizado o MAPAN (Melhor Alternativa Para um Acordo
Negociado);
2. definição das regras básicas, é definir quem fará o quê; quando, como e
onde será realizado e o prazo;
3. justificação e esclarecimento do fatos;

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4. barganha e solução do problema, que é a troca propriamente dita;
5. fechamento e implementação, é quando o contrato formal é estabeleci-
do e o negócio, concluído.

BERTELLI, S. B. (2004) também ressalta que se deve, no início, ter uma


postura positiva, focar o problema em si e não nas pessoas, não dar tanta impor-
tância às primeiras ofertas, mas gerar confiança entre as partes, valorizando as
soluções que serão vantajosas para todos.

Durante o processo da negociação, o técnico de enfermagem precisa es-


tar atento sobre variáveis que farão a grande diferença quando se almeja uma
solução benéfica e vantajosa para todos. É importante perceber fatores que inter-
ferem diretamente neste processo como a cultura, as personalidade, as diferen-
ças de condutas tomadas por homens e mulheres e quando há necessidade da
presença de um mediador.

QUIM, R. E. et al. (2003) ressaltam a importância do diálogo, enfatizando


que este só será mantido se houver para ambas as partes o mesmo objetivo, res-
peito e entendimento. Os pontos de vista também deverão ser compartilhados.

Trabalho em Equipe
Após tantos assuntos relevantes, abordaremos o trabalho em equipe, pois
sabemos que este é essencial na área da saúde e principalmente na enfermagem.
Fazer parte de uma equipe deve ser motivador, pois várias pessoas precisam estar
unidas para o alcance de um objetivo comum. Portanto, segundo QUIM et al.
(2003), o que caracteriza uma equipe é:
• comprometimento com a mesma meta e propósito;
• papéis e responsabilidades bem definidas e interdependentes a fim de
não gerar conflitos;

100 100 Relaçoes Humanas no Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 100 2/9/2009 17:49:40


• boa comunicação para o intercâmbio de informações;
• a equipe deve compartilhar o que está fazendo, demonstrando com-
promisso.
• a equipe de trabalho precisa se conhecer bem para executar com com-
petência e harmonia as tarefas e conquistar os objetivos. Elas podem
estar em vários estágios de desenvolvimento, como no estágio da or-
ganização, o da interdependência do grupo e finalmente o estágio no
qual já pode ser feita uma avaliação de todo o trabalho que foi feito
conjuntamente. (QUIM, 2003).

A satisfação de uma conquista coletiva é gratificante, melhora a autoes- Verifique como é o trabalho em
equipe no seu local de trabalho.
tima e motiva o grupo, impulsiona para metas mais ousadas, potencializa os Quais pontos são positivos no gru-
po? Quais são pontos de conflito?
conhecimentos e habilidades. Como solucioná-los?

Enfim, todos os profissionais da saúde e, dentre estes, o técnico de enfer-


magem precisam capacitar-se para desenvolver uma boa comunicação e formar
uma equipe motivada. Superar adversidades e descobrir o inesgotável potencial
humano presente dentro de cada um são fundamentais para prestar um atendi-
mento digno e de qualidade ao paciente.

Bibliografia
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UNIDADE I – Relações Humanas no Trabalho em Saúde e em Enfermagem 101

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102 102 Relaçoes Humanas no Trabalho em Saúde

30916018 miolo.indd 102 2/9/2009 17:49:40


Política de Saúde do Trabalhador

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104

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Saúde do Trabalhador unidade I
Objetivo
Reconhecer a relação entre ambiente e condições de trabalho, qualidade de
vida e saúde do trabalhador.

Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.1- Analisar as implicações das con- 1- Condições de trabalho 1- Debate sobre condições de trabalho que podem
dições de trabalho para a qualidade • Organização: ritmo e jornada de afetar a qualidade de vida e a saúde do trabalha-
de vida e saúde do trabalhador. trabalho dor, com destaque para o trabalho em saúde e em
• Desgaste físico/emocional enfermagem.
• Remuneração 2- Pesquisa sobre propostas e alternativas implemen-
• Segurança tadas em serviços de saúde que visem promover
• Disponibilidade de EPI a humanização e a qualidade nos ambientes de
• Autonomia no trabalho trabalho.
2- Qualidade de vida no trabalho 3- Apresentação dos trabalhos e debate sobre a
• Programas de qualidade aplicação dos princípios de qualidade, humani-
3- Humanização do trabalho zação e responsabilidade social em seu local de
4- Responsabilidade social trabalho.

I.2- Caracterizar os riscos no ambien- 1- Riscos no ambiente de trabalho 1- Levantamento em seu local de trabalho de situa-
te de trabalho e medidas preventivas. • Físicos ções relacionadas ao ambiente que oferecem ris-
• Químicos cos à saúde do trabalhador.
• Biológicos 2- Classificação dos riscos no ambiente de trabalho,
• Ergonômicos com exemplos cotidianos.
• Mecânicos 3- Debate sobre os riscos a que estão mais expostos
2- Programa de Prevenção de Riscos Am- os trabalhadores da saúde e da enfermagem e so-
bientais – NR 9 bre possíveis medidas de prevenção de riscos.
4- Análise das propostas do Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais.

UNIDADE I – Saúde do Trabalhador 105

30916018 miolo.indd 105 2/9/2009 17:49:40


Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.3- Caracterizar as doenças ocupa- 1- Trabalho e doenças ocupacionais 1- Pesquisa em seu local de trabalho sobre a inci-
cionais e medidas preventivas. • Doenças ocupacionais psíquicas dência e prevalência de doenças ocupacionais
• LER relacionadas ao tipo e ambiente de trabalho, com
• DORT destaque para as doenças psíquicas e sua maior
2- Programa de Saúde Ocupacional – NR 7 incidência na população feminina.
2- Apresentação dos trabalhos com sistematização
sobre as doenças ocupacionais mais comuns.
3- Debate sobre condições e ambiente de trabalho
em saúde e em enfermagem que estão relaciona-
dos a doenças ocupacionais e possíveis medidas
de promoção da saúde e prevenção destas doen-
ças, com base na NR 7.

I.4- Caracterizar as doenças ocu- 1- Acidentes de trabalho 1- Pesquisa em seu local de trabalho sobre a incidên-
pacionais, medidas preventivas • NR 6 – Uso obrigatório de Equipa- cia de acidentes de trabalho e sua relação com o
e de atendimento de urgência. mento de Proteção Individual – EPI tipo e ambiente de trabalho.
2- Apresentação dos trabalhos com sistematização
sobre os acidentes de trabalho mais comuns e so-
bre a importância do uso de EPI.
3- Debate sobre condições e ambiente de trabalho
em saúde e em enfermagem que estão relaciona-
dos a acidentes de trabalho e possíveis medidas
de prevenção de acidentes, tomando por base a
NR 6.
4- Dramatização de situações de acidentes mais co-
muns no trabalho da enfermagem que requeiram
atendimento de urgência.

106 106 Política de Saúde do Trabalhador

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Objetivos Específicos Conteúdos Método

I.5- Reconhecer a importância da le- 1- Legislação e normas ministeriais para 1- Observação em serviços de saúde sobre a atua-
gislação e normas ministeriais para a proteção do trabalhador ção da CIPA/COMSAT e da SESMET, identificando
proteção do trabalhador. • Comissão Interna de Prevenção de suas funções.
Acidentes (CIPA) – empresas privadas 2- Pesquisa sobre as NR que regulamentam estas co-
• Comissão de Saúde do Trabalhador missões.
(COMSAT) – serviços públicos de
3- Apresentação dos trabalhos com avaliação do pa-
saúde
pel destas comissões e debate com sugestões de
• Serviços Especializados em Engenha-
medidas para proteção do trabalhador.
ria de Segurança e em Medicina do
Trabalho (SESMET) – avaliação das 4- Debate sobre formas de participação dos trabalha-
condições ergonômicas do trabalho, dores de saúde e de enfermagem nestas comissões.
acompanhanhamento da saúde do 5- Leitura e discussão do texto: A Saúde do Trabalhador.
trabalhador
• NR 4 – SESMET
• NR 5 CIPA/COMSAT

Avaliação: processual dos conteúdos relevantes e avaliação de produto parcial da Unidade II


Integração Curricular:
ÁREA I Determinantes do processo saúde--doença
Sugestão de ações para estágio supervisionado:
• Pesquisa na rede de serviços de seu Município/Estado sobre a atuação de Programas de Qualidade e Humanização no Trabalho;
• Pesquisa na rede de serviços de seu Município/Estado sobre empresas que atuam sob o princípio da Responsabilidade Social e que
ações são por elas implementadas;
• Pesquisa sobre a incidência e prevalência de doenças ocupacionais em seu Município/Estado;
• Pesquisa sobre a incidência de acidentes de trabalho em seu Município/Estado;
• Implementação de medidas de prevenção e controle de riscos para a saúde do trabalhador em sua área de atuação.

UNIDADE I – Saúde do Trabalhador 107

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Texto 9 A Saúde do Trabalhador
Saúde do trabalhador é também um
campo do saber que visa compre-
ender as relações entre o trabalho
e o binômio saúde/doença. Nesta Para podermos iniciar uma discussão sobre a
acepção, consideram-se a saúde e a
doença como processos dinâmicos, saúde do trabalhador precisamos retornar aos co-
estreitamente articulados com os
modos de desenvolvimento produti- nhecimentos adquiridos na Área I deste curso, com
vo da humanidade em determinado a apresentação da Constituição da República Fede-
momento histórico. Parte do princí-
pio de que o modo de inserção dos rativa do Brasil, de 1988, mencionando a conquista
homens, mulheres e crianças nos
espaços de trabalho contribui de- do direito universal à saúde e o advento do Sistema
cisivamente para formas específicas
de adoecer e morrer. Na promoção Único de Saúde.
da saúde e prevenção dos agravos,
o fundamento das ações deve ser
por meio da articulação multipro- Nesse contexto, destacamos o princípio da inte-
fissional, interdisciplinar e interseto-
rial. (BRASIL, 2001).
gralidade, visando contemplar a assistência de forma
individualizada, de acordo com as necessidades de
cada um. E também o princípio da equidade, a fim de
reduzir disparidades sociais e regionais, na construção de autonomia e da res-
ponsabilidade conjunta nas práticas de atenção e de gestão. Práticas estas que
A Portaria nº 1.125, de 6 de julho
de 2005, descreve as diretrizes da incluem a saúde do trabalhador.
Política Nacional de Saúde do Tra-
balhador compreendendo a aten-
ção integral à saúde, a articulação Em vigor desde 2004, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador do
intra e intersetorial, a estruturação
da rede de informações em saúde
Ministério da Saúde visa à redução das doenças e acidentes relacionados ao
do trabalhador, o apoio a estudos trabalho, mediante a execução de ações de promoção, reabilitação e vigilância
e pesquisas, a capacitação de re-
cursos humanos e a participação na área da saúde ocupacional.
da comunidade na gestão dessas
ações. A Rede Nacional de Aten-
ção Integral à Saúde do Trabalhador O Sistema Único de Saúde tem um papel fundamental na estruturação
(RENAST) responde pela execução
de ações curativas, preventivas, de e qualificação da rede de serviços públicos para atender às demandas de saú-
promoção e de reabilitação à saú-
de do trabalhador. É composta por de, inclusive as do trabalhador, de forma integral. Dessa forma, trabalhadores
Centros de Referência em Saúde do da saúde e gestores são responsáveis por processos de trabalho significantes e
Trabalhador (CEREST) e por uma
rede sentinela de serviços de saú- dignificantes, nos quais o direito à saúde e à vida passa pela transformação do
de de média e alta complexidade.
São responsáveis pela investigação, processo de produção e ainda passa de fonte de agravos e de morte para um fator
diagnóstico e notificação de aci-
dentes e doenças relacionados ao de proteção e de promoção da vida1.
trabalho, segundo a Lista de Doen-
ças Relacionadas ao Trabalho e aos
agravos de notificação compulsória
para o registro no Sistema de Infor-
mação de Agravos de Notificação 1
Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador. Manual de Gestão e Gerenciamento. Brasília, 2006.
(SINAN-NET). (BRASIL, 2001).

108 108 Política de Saúde do Trabalhador

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O Trabalho em Saúde
Para prevenção e promoção da
Ao tecer considerações sobre o sentido do trabalho significativo, entre ou- saúde do trabalhador, integrando
tras percepções, imediatamente associamos à segurança e autonomia. Em nossa as ações da Vigilância em Saúde,
temos a Vigilância em Saúde do
organização social, o ser humano dedica aproximadamente 65% da vida produ- Trabalhador (VISAT), preconizan-
do a implantação de ações para
tiva ao trabalho, ou seja, a metade da existência. identificação, controle e moni-
toramento de riscos, impactando
significativamente na redução dos
O trabalho constitui uma das práticas mais importantes da vida do ser hu- acidentes e das doenças do traba-
lho. (BRASIL, 2006).
mano por ser uma atividade realizada com a finalidade de obter um rendimento
econômico como elemento para a própria subsistência e do núcleo familiar.

Entretanto, outros fatores são tão ou mais importantes e motivadores, As ações de prevenção e promoção
da saúde, sejam dos trabalhadores
como o sentimento de satisfação pessoal. Segundo MORIN2, a satisfação e como da população em geral, den-
tro e fora dos ambientes de traba-
a motivação têm relação com o significado percebido na atividade exercida, lho, devem ser os princípios orien-
tadores na abordagem da saúde do
além da responsabilidade em relação aos resultados obtidos e ao desempenho trabalhador. (CONASS,2007).
no trabalho.

Considerando esses significados e a importância do trabalho, a vida e a


saúde do trabalhador são bens preciosos. Devem ser preservadas pelo emprega-
dor e pelo próprio trabalhador na produção de bens ou serviços.

Assim sendo, perguntamos: Como está sendo considerada a saúde do tra- As políticas públicas no campo
da saúde e segurança no trabalho
balhador da saúde? Qual o impacto das diretrizes das políticas públicas no coti- constituem ações implementadas
pelo Estado visando garantir que o
diano do trabalho? Quais as responsabilidades dos atores envolvidos? trabalho, base da organização so-
cial e direito humano fundamental,
seja realizado em condições que
Há pelo menos quatro grandes classificações para as ações desenvolvidas contribuam para a melhoria da qua-
lidade de vida, da realização pesso-
no trabalho em saúde: o trabalho diretamente relacionado ao cliente, o trabalho al e social dos trabalhadores, sem
prejuízo para sua saúde, integridade
mediado pela tecnologia, aquele relacionado à manutenção do ambiente de física e mental. (BRASIL,2006).
trabalho e o trabalho epidemiológico das equipes de saúde pública e de saúde
da família. (FIOCRUZ, 2004).

2
MORIN, E. M. Os sentidos do trabalho. Revista de Administração de Empresas. 2001

UNIDADE I – Saúde do Trabalhador 109

30916018 miolo.indd 109 2/9/2009 17:49:40


A enfermagem foi classificada A enfermagem, em especial, insere-se em todas estas áreas, evidenciando
pela Health Education Authority
como a quarta profissão mais es- a ampla participação dos profissionais em diferentes âmbitos.
tressante, devido à responsabilida-
de pela vida das pessoas e à pro-
ximidade com os clientes em que
o sofrimento é quase inevitável,
Entretanto, em decorrência das características peculiares das ações de
exigindo dedicação no desempe-
nho de suas funções, aumentando
saúde verifica-se um estado de esforço no enfrentamento de fatores que podem
a probabilidade da ocorrência de
desgastes físicos e psicológicos;
influenciar seriamente a saúde e o desempenho dos profissionais.
desta forma tem sido objeto de
inúmeras pesquisas.
No sentido de transformar o ambiente de trabalho, a Política Nacional de
Humanização (reveja-a na Área I) possibilitou alcançar importantes mudanças
nas estruturas e processos de trabalho, favorecendo o exercício da autonomia e
respeito ao trabalhador.

As instituições de saúde, públicas


e privadas, reconhececem que
Inúmeras instituições estaduais e municipais estão modificando as con-
a promoção da saúde mental do cepções e criando espaços de acolhimento, implantando centros de terapias
trabalhador é necessária. Desen-
volvem programas ou ações como complementares, ouvidorias, práticas alternativas, ginástica laboral e ainda
instrumento na construção de re-
des solidárias de promoção da vida flexibilizando horários para viabilizar a participação das equipes. Algumas
e mobilização de competências
dos indivíduos. Sugestão: Pesquise empresas de caráter privado promovem atividades diversificadas em prol da
sobre a terapia comunitária e suas
contribuições na promoção da saú- saúde do trabalhador, compreendendo ser este o melhor e mais valioso recur-
de mental.
so da instituição; direcionam o investimento em áreas para atividade física,
descanso em intervalos determinados, sessões de alongamento e relaxamen-
to, entre outros.

Em relação às medidas de segurança e de medicina do trabalho desta-


Pesquise sobre a CLT e suas impli- camos as Normas Regulamentadoras (NR), oriundas do Ministério do Traba-
cações para o trabalhador.
lho e Emprego3. São preceitos legais que devem ser cumpridos por empresas
privadas e órgãos públicos da administração direta e indireta, cujos trabalha-
dores tenham vínculos empregatícios regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT).

3
As normas regulamentadoras encontram-se disponíveis em: <http://www.mte.gov.br/seg_sau/leg_normas_regu-
lamentadoras.asp.>. Acesso em: 21 de março de 2009.

110 110 Política de Saúde do Trabalhador

30916018 miolo.indd 110 2/9/2009 17:49:40


A compreensão das normas é importante para o conhecimento dos direi-
tos e deveres dos trabalhadores, ao definir a adoção de medidas de prevenção e
redução de riscos relacionados à Segurança e Medicina do Trabalho.

Dentre essas normas, a NR 32 estabelece as diretrizes básicas para a im- Faça um levantamento em seu
local de trabalho e identifique as
plementação de medidas de proteção à Segurança e Saúde no Trabalho em Es- comissões e serviços existentes na
instituição, conforme os citados
tabelecimentos de Assistência à Saúde. Considera prestação de assistência de nas normas regulamentadoras e
resolução da Secretaria de Estado
saúde, as ações de promoção, recuperação, assistência, inclusive pesquisa e da Saúde.

ensino em saúde.

A responsabilidade no cumprimento da norma é solidária, ou seja, com-


partilhada entre os empregadores e os trabalhadores. A efetiva aplicação depen- No Estado de São Paulo, a Resolu-
ção SS-5, de 16/01/2006, institui a
de muito da conscientização e participação de todos por meio da integração en- Comissão de Saúde do Trabalhador
(COMSAT) nas unidades da Secre-
tre a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), a Comissão de Saúde taria da Saúde.

do Trabalhador (COMSAT), Serviços Especializados em Engenharia de Segurança


e em Medicina do Trabalho (SESMET) e Comissão de Controle de Infecção Hos-
pitalar (CCIH), entre outras.

Trabalho e Riscos em Saúde

O risco em saúde expressa uma probabilidade de possíveis danos em um Riscos estão relacionados à possi-
bilidade de perigo. Causadores de
período de tempo e pode ser relacionado com a exposição a inúmeros agentes danos, incertos mas previsíveis, à
pessoa, objeto ou situação.
ou fatores, potencialmente capazes de prejudicar a produtividade, a qualidade
do trabalho e a saúde dos trabalhadores.

Devido à diversidade de agentes que podem causar prejuízos à saúde,


o Ministério do Trabalho e Emprego classifica os riscos em cinco tipos: físicos,
químicos, biológicos, ergonômicos e acidentes, sendo este último também co-
nhecido por risco mecânico.

UNIDADE I – Saúde do Trabalhador 111

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São também identificados por grupos e cores, como exemplifica o quadro:

Grupo 1 - Verde Grupo 2 - Vermelho Grupo 3 - Marrom Grupo 4 - Amarelo Grupo 5 - Azul

Risco de acidentes ou
Risco Físico Risco Químico Risco Biológico Risco Ergonômico
risco mecânico

Arranjo físico e
Inadequação de
disposição de material
equipamentos e
Ruído, vibração, Substâncias químicas em inadequado no ambiente,
Micro-organismo mobiliários em relação
radiação, temperatura estado sólido, líquido, piso escorregadio,
bactérias, vírus, fungos, ao biotipo do trabalhador,
extrema, pressão gasoso, poeira, névoa, ausência de sinalização,
bacilos, protozoários postura inadequada,
anormal, umidade neblina, fumaça, fumo iluminação inadequada,
levantamento e transporte
má conservação de
de peso incorreto
equipamentos

Segundo a NR 32, em função da natureza, da concentração ou intensi-


dade e do tempo de exposição, os tipos de riscos capazes de causar danos aos
trabalhadores na área da saúde são:
Príons são partículas de proteínas ca-
pazes de provocar modificações em
outras proteínas, tornando-as cópias • Risco Biológico: decorrente da exposição a todo agente biológico – mi-
defeituosas causadoras de doenças.
cro-organismos, geneticamente modificados ou não, culturas de célu-
las, parasitas, toxinas, príons. Regulamenta quanto à integridade física
do trabalhador e estabelece recomendações ao empregador quanto à
Kit de derramamento é o material proibição do fumo, uso de calçados abertos, higienização ambiental,
utilizado em caso de acidentes e
vazamento, na manipulação dos re- necessidade de equipamento de proteção individual (EPI), entre outras.
síduos de fluidos quimioterápicos.
O procedimento deve ser realizado
com extremo cuidado para evitar • Risco Químico: relativo à exposição a qualquer substância química,
risco de exposição indevida. Reco-
menda-se que o kit contenha, no composto ou produto químico independente das formas de apresen-
mínimo, luvas de procedimentos,
avental de baixa permeabilidade, tações (sólida, líquida, gasosa). A norma recomenda a preservação de
compressas absorventes, proteção
respiratória, proteção ocular, sabão, rótulos na embalagem original dos produtos, proibindo a reutilização
impresso para a descrição do proce-
dimento e o formulário para o regis- das embalagens de produtos químicos. Orienta quanto aos cuidados na
tro do acidente, além de recipiente
identificado para recolhimento dos manipulação de substâncias quimioterápicas antineoplásicos, a indica-
resíduos. (Reveja na Área II, deste
módulo, o texto sobre Oncologia). ção do kit de derramamento e cuidados ambientais.

112 112 Política de Saúde do Trabalhador

30916018 miolo.indd 112 2/9/2009 17:49:41


• Risco Físico: relacionado à exposição a formas de energia como radia-
ção ionizante. A norma estabelece os cuidados relacionados aos pro-
cedimentos, proteção individual, coletiva e ambiental relacionados aos
métodos radiológicos, radioterapia, uso de radiofármacos.

Podemos destacar aspectos importantes como atenção quanto à obriga-


toriedade do empregador em possibilitar a orientação e capacitação do profis-
sional frente aos diversos riscos, bem como a preocupação em relação à biosse-
gurança e ao ambiente, associado ao gerenciamento e tratamento de resíduos.

Esses diferentes riscos podem estar presentes no ambiente de trabalho, Faça um levantamento dos tipos de
riscos que o trabalhador de saúde
por isso são considerados riscos ambientais, pois conforme a concentração, o está exposto no desempenho das
funções (reveja os conteúdos estu-
tempo a ou intensidade de exposição podem causar sérios danos à saúde. En- dados no Módulo I). Identifique os
agentes ou fatores de risco e pro-
tretanto, podem ser antecipados, reconhecidos, avaliados e controlados, quanti- ponha sugestões na resolução dos
problemas encontrados. Compare
tativamente, por meio do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), com os riscos estabelecidos na NR
32. Analise as propostas com os
estabelecido na NR 9. colegas e apresente um relatório
final à instituição.

A antecipação e a identificação dos riscos biológicos mais prováveis


consideram:
• fontes de exposição e reservatórios;
• vias de transmissão e de entrada;
• transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente;
• persistência do agente biológico no ambiente;
• estudos epidemiológicos, dados estatísticos e outras informações cien-
tíficas.

Identifique em seu local de traba-


A apresentação do mapa de risco de cada setor em local visível no lho o mapa de risco correspon-
ambiente de trabalho indica a presença e o tipo de risco, bem como a inten- dente à sua área ou unidade de
atuação, reconhecendo os diferen-
sidade de exposição, favorecendo o reconhecimento dos agentes causadores tes tipos de riscos e avaliando as
medidas preventivas para evitar os
de agravos. agravos ocupacionais.

UNIDADE I – Saúde do Trabalhador 113

30916018 miolo.indd 113 2/9/2009 17:49:41


A implementação do PPRA pode ser realizada no trabalho em conjunto
com o SESMT. Preconizado pela NR 4, este serviço visa à promoção da saúde e
proteção da integridade no ambiente de trabalho.

Em 2004, na Região Sudeste, a taxa Nesse contexto, a avaliação e o controle da saúde do trabalhador são
de incidência por doenças relacio-
nadas com o trabalho, na faixa essenciais, podendo ser efetivadas qualitativamente, por meio do Programa de
de 25 a 44 anos, foi de 12,84 por
10.000 trabalhadores segurados e Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), conforme a NR 7.
na de 45 a 59 anos foi de 17,29.
Em geral a incidência de doen-
ças relacionadas com o trabalho A avaliação qualitativa tem essencialmente conotação preventiva de agravos;
é maior no Sudeste e pode estar
relacionado com: tipos de ramos pode ser efetivada por meio de apreciação clínica do estado de saúde do trabalha-
produtivos existentes na região, ca-
pacidade de diagnóstico instalada dor, realização e análise dos resultados de provas funcionais como audiometria,
(médicos, rede de serviços, tecno-
logia) e reconhecimento da inca-
espirometria, dinamometria, entre outros. Em caso de detecção de danos, o tra-
pacidade laborativa por parte da tamento é prontamente orientado, evitando consequências posteriores. Constam
perícia médica do INSS. As maio-
res taxas de incidência acometem também, das atribuições do PCMSO, a realização e o controle de exame admissio-
os que têm acima de 45 anos, de-
monstrando o grande período de nal, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional.
latência entre o início da exposição
ao risco e o surgimento da doença
do trabalho. Por outro lado, as difi- Em relação aos profissionais da área da saúde, as ações de vigilância em saú-
culdades que serão enfrentadas por
estes pacientes e pelos serviços de de incluem reconhecer e avaliar os riscos biológicos, químicos e físicos, identifican-
saúde em relação ao tratamento e à
reabilitação física e profissional são do as áreas de risco, relacionando com as atividades desempenhadas, as medidas de
preocupantes. (CONASS, 2007).
proteção ambiental, estabelecendo, inclusive, um programa de vacinação.

Assim sendo, o controle da exposição aos riscos tem estreita relação com
a ocorrência de agravos relacionados à atividade laboral, tais como as doenças
ocupacionais, os males relacionados ao trabalho e os acidentes de trabalho.

Doenças profissionais ou ocupacionais são decorrentes do trabalho en-


quanto fator necessário para o aparecimento do agravo. Temos como exemplos
a silicose e a asbestose, pois essas doenças só ocorrem quando o indivíduo tem
contato frequente e prolongado com a sílica e o asbesto.

Já as doenças relacionadas ao trabalho podem ter a ocupação como fator


desencadeador, mas também podem ser associadas a outros fatores externos,
como por exemplo a rinite e a tendinite. Nestes casos, o desenvolvimento da

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doença pode também estar relacionado a outros aspectos do dia a dia, indepen- Os quadros anteriormente deno-
minados por lesão por esforço re-
dentemente do trabalho. Daí a necessidade de investigar e dimensionar até que petitivo (LER), distúrbios osteomus-
culares relacionados ao trabalho
ponto a atividade ocupacional influencia como agente causador do agravo 4. (DORT), atualmente são associados
às afecções musculoesqueléticas
relacionadas ao trabalho (AMERT).
Enquanto as doenças demoram determinado tempo para se manifestar, o
acidente de trabalho é um acontecimento agudo, abrupto e inesperado.

O acidente de trabalho pressupõe um vínculo estreito entre o acidente e o Acidente de trabalho é aquele que
ocorre pelo exercício do trabalho,
trabalho do acidentado, configurando o nexo causal. Para fins legais, é conside- a serviço da empresa, provocan-
do lesão corporal, perturbação
rado acidente de trabalho quando ocorrer: funcional ou doença que causa a
morte ou a perda ou a redução,
• no local de trabalho durante o exercício das funções; permanente ou temporária, da ca-
pacidade para o trabalho. (Lei nº
6.367/76. Dispõe sobre o seguro
• fora do local de trabalho, a serviço da empresa; de acidentes do trabalho).

• no trajeto de ida da residência para o trabalho;


• no trajeto de volta do trabalho para a residência;
• no percurso de ida e volta para refeição e no intervalo do trabalho.

É importante mencionar também a possibilidade de exposição acidental No trabalho em grupo, enumere


as atividades mais comuns na área
dos profissionais de saúde aos agentes biológicos, principalmente em casos de da enfermagem e associe os fato-
res que podem causar acidentes de
ferimentos com material perfurocortante. Esses acidentes podem ser motivados trabalho, doenças ocupacionais ou
doenças relacionadas ao trabalho.
por diversos fatores, como desatenção, fadiga, manipulação inadequada e des- Relacione às medidas preventivas
sugeridas pelo grupo e apresente
respeito às normas de biossegurança, entre outros. Apesar da sub-notificação os resultados de forma inovadora.
ainda vigente, nessas situações é necessário conhecer as recomendações: Sugestão: dramatização, mímica,
fantoche, poema, música.

• os procedimentos a serem adotados para diagnóstico, acompanhamen-


to e prevenção da soroconversão e das doenças;
• as medidas para descontaminação do local de trabalho;
• a conduta e o tratamento de emergência para os trabalhadores;

4
Portaria nº 1.339, de 18/11/1999. Institui a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, para uso clínico e
epidemiológico na instituição de políticas públicas de saúde do trabalhador.

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• a identificação dos responsáveis pela aplicação das medidas pertinentes;
• a relação dos estabelecimentos de saúde que podem prestar assistência
aos trabalhadores;
• as formas de remoção para atendimento dos trabalhadores;
• a relação dos estabelecimentos de assistência à saúde depositários de
imunoglobulinas, vacinas, medicamentos necessários, materiais e insu-
mos especiais.

Esses requisitos devem constar no PCMSO. Entretanto, inúmeras medidas


preventivas podem ser adotadas no ambiente de trabalho, entre elas a utilização
de EPI conforme preconiza a NR 6. Além das medidas de proteção individual, a
empresa pode utilizar-se dos Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC).

Veja a informação abaixo sobre incidência de acidentes de trabalho, a dife-


rença entre o índice brasileiro quanto ao risco de morte por acidentes de trabalho
em relação o de outros países é preocupante. Daí a importância da notificação dos
acidentes e doenças ocupacionais, das medidas preventivas e conscientização do
trabalhador, além das políticas públicas fomentadas, a partir dos dados estatísticos.

No período de 1999 a 2003, a Pre- Na ocorrência de acidente de trabalho ou doença ocupacional é efetuada
vidência Social registrou 1.875.190
acidentes de trabalho, sendo uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Esse documento tem valor le-
15.293 com óbitos e 72.020 com
incapacidade permanente, média gal e possibilita a mobilização da investigação do evento por meio da Comissão
de 3.059 óbitos/ano, entre os traba-
lhadores formais, cerca de 22,9 mi- Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), segundo a NR 5 ou da Comissão de
lhões (2002). A comparação deste Saúde do Trabalhador (COMSAT).
coeficiente com o de outros países,
como Finlândia, 2,1 (2001); França,
4,4 (2000); Canadá, 7,2 (2002) e Es-
panha, 8,3 (2003) demonstra que o A notificação compulsória possibilita o acompanhamento da incidência e
risco de morrer por acidente de tra-
balho é cerca de duas a cinco vezes
prevalência dos danos ocorridos na saúde do trabalhador, favorecendo a análise
maior no País. (BRASIL, 2004). e adoção de novas medidas na empresa e propiciando a (re)formulação de polí-
ticas públicas relacionadas à saúde do trabalhador, nas esferas governamentais.

Relembre discussões da Área I so-


Na área da saúde, é preciso manter a vigilância para que as condições
bre incidência e prevalência. insalubres e perigosas não se tornem rotina no cotidiano do trabalhador.

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Os aspectos sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais relacio-
nados às condições de vida e de trabalho, bem como os fatores de risco ocu-
pacionais, são determinantes na área da saúde do trabalhador. As intervenções
visam, fundamentalmente, às mudanças nos processos de trabalho, por meio de
uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial. Devem ser obser-
vadas e reguladas pelos gestores e pelos trabalhadores, procurando esclarecer as
causas e propor soluções.

A participação social é fundamental e – mais que um exercício de cidada-


nia – é a contribuição efetiva na transformação da sociedade.

Bibliografia
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde, Departamento de
Atenção Básica. Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Cadernos de Atenção Básica
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da Diretoria Colegiada. RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o
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Oficial da União de 10 de dezembro de 2004.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Legislação em saúde: Caderno de Legislação em Saúde
do Trabalhador. 2ª ed. rev. e ampl. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

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lhador. Manual de Gestão e Gerenciamento. 1ª ed. São Paulo:2006.

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niões e conferências; 2005.

______. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978. DOU de


6/7/78 suplemento. Aprova as Normas Regulamentadoras – NR, relativas à Seguran-
ça e Medicina do Trabalho.

UNIDADE I – Saúde do Trabalhador 117

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CONASS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Coleção Progestores. Para


entender a gestão do SUS. Vigilância em Saúde. Brasília: CONASS, 2007.

COSTENARO, R. G. S.; LACERDA, M. R.; FEREIRA, C. L. L. Maus-tratos institucionais


no ambiente de trabalho em saúde: propostas que podem modificar esta realidade.
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MEDEIROS, S. M. et. al. Condições de trabalho e enfermagem: a transversalidade do


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Bibliografia Recomendada
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enças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saú-
de. Brasília (DF): OPAS/OMS, 2001.

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Dispõe sobre a saúde do trabalhador de instituições de saúde. Brasília (DF). Secre-
taria de Comunicação; 2002. Disponível em:<www.mte.gov.br>.

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Ficha Técnica

Projeto Gráfico Marli Santos de Jesus


Editoração Fernanda Buccelli
Capa Ricardo Ferreira
Ilustrações Didiu Rio Branco
Revisão Benedito Amancio do Vale
Dante Pascoal Corradini

Formato 210 x 205 mm


Tipologia Optima
Papel Capa | Triplex 250 g/m2
Miolo | Offset 90 g/m2
Número de páginas 120
Tiragem 10.000

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