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1. Empresário.

Para o Código Civil em seu artigo 966, empresário é quem exerce


profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou
de serviços. O próprio artigo trás as condições básicas para que alguém seja considerado
empresário. Profissionalismo, atividade econômica organizada e produção ou circulação de
bens ou serviços.

O profissionalismo diz respeito à habitualidade e pessoalidade do exercício da


atividade. Habitualidade é a não esporadicidade, a produção ou “circulação” não pode ser
periódica. Por exemplo: se João Silva conserta relógios na cidade onde mora, porém faz isso
apenas raramente ele não pode ser considerado empresário e um dos motivos é o fato de
prestar este serviço apenas de forma esporádica. A pessoalidade não significa
necessariamente a presença do empresário no setor produtivo, por exemplo, muito pelo
contrário. A pessoalidade aqui reside no fato do empresário ser o responsável pela atuação
jurídica da empresa.

É desconsiderado empresário aquele que exerce a atividade empresarial e ao


mesmo tempo a atividade de produção propriamente dita ou a prestação do serviço. Tomando
como base o exemplo acima se João Silva conserta os relógios ele mesmo, não pode ser
considerado empresário. Para que isso ocorra, ele deve contratar pessoas para executar o
trabalho (serviço), no caso o concerto dos relógios. Vale lembrar que este é apenas um dos
requisitos para possuir o “título” de empresário.

A atividade economicamente organizada serve para que o empresário alcance seu


fim, o qual é sempre o lucro a partir do serviço que presta ou da produção de algo. O
empresário deve organizar de forma sistemática capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia
para que sua atividade se desenvolva de modo sustentado e consiga atingir o seu fim que deve
sempre ser o lucro.

A produção ou circulação de bens ou serviços é a própria atividade empresária. É


aquilo com o que o empresário visa atingir o lucro. O empresário necessita do profissionalismo
e da organização justamente para conseguir produzir um bem ou prestar um serviço. Se
continuarmos com o exemplo de João Silva, o serviço prestado é o concerto dos relógios, para
que João seja empresário nessa atividade ele precisa além de prestar esse serviço fazê-lo de
forma profissional e organizada. Ou seja, prestá-lo de forma regular e não esporádica,
contratar trabalhadores para realizar a prestação de fato e ele apenas organize o serviço e
cuide da atuação jurídica da empresa visando sempre o lucro. Cumprindo esses requisitos
expressos no artigo 966 do Código Civil João Silva pode ser considerado um empresário.

Segundo Rubens Requião, empresário é o sujeito que exercita a atividade


empresarial. Requião cita em sua doutrina ainda dois fatores como sendo característicos da
figura do empresário, apesar de não estarem previstas no Código Civil.

Dois elementos fundamentais – destacam geralmente os autores – servem


para caracterizar a figura do empresário: a iniciativa e o risco. O poder de
iniciativa pertence-lhe exclusivamente: cabe-lhe com efeito determinar o
destino da empresa e o ritmo de sua atividade.

O empresário pode valer-se, e normalmente se vale, da atuação e


colaboração de outrem, mas a ele cabe a decisão, a ele compete, no caso de
diversidade de perspectiva, escolher o caminho que lhe pareça mais
conveniente. Compensando o poder de iniciativa, os riscos são todos do
empresário: goza ele das vantagens do êxito e amarga as desventuras do
insucesso e da ruína.

Quanto ao “poder” iniciativa do empresário ele vem sendo limitado, segundo


Requião, pela lei. E de fato isso ocorre, se uma lei determina que determinado segmento da
economia será explorado pelo Estado diretamente ou segundo autorização por esse dada o
poder de iniciativa do empresário foi limitado para aquele setor. Mas na economia capitalista
vigente esse tipo de determinação estatal ocorre pouco e normalmente se concentra em
setores estratégicos para o Estado como o setor de energia, por exemplo.

Registro do empresário

O primeiro e um dos principais deveres do empresário é a oficialização de sua


condição mediante a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM). É
obrigatória a inscrição, diz o art. 967 do Código Civil, antes do início da atividade.

A importante legislação baixada em 1945, 1966 e 1981, foi consolidada pela lei
nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que dispõe minuciosamente sobre o Registro
Público de Empresas Mercantis, denominação adotada pelo CC/02, e pelo Decreto nº
1.800/96. Existe uma junta comercial em cada unidade federativa, ou seja, uma em
cada Estado e uma no Distrito Federal.

A mais importante inovação da Lei de 1994 foi a ampliação do âmbito do


registro. Até então, fora as companhias, apenas as sociedades limitadas dedicadas à
exploração de atividade mercantil, podiam ter seus atos constitutivos registrados na
junta comercial. As demais limitadas, com objeto social relacionado à atividade civil,
tinham negado o pedido de registro neste órgão e deviam buscar os Registros Civis de
Pessoas Jurídicas. A partir da Lei nº 8.934/94, qualquer sociedade com finalidade
econômica, independentemente de seu objeto, podia registrar-se na junta comercial.
Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, o âmbito do registro pelas juntas
comerciais voltou a se restringir (art. 998). Apenas as sociedades empresárias devem
ser atualmente registradas nas juntas. As sociedades simples são registradas no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas e as voltadas à prestação de serviços de advocacia
devem ter seus atos constitutivos levados à Ordem dos Advogados do Brasil – OAB (Lei
nº 8.906/94, art. 15, § 1º).

O Registro Público de Empresas Mercantis é exercido em todo o território


nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais. E os seus serviços serão
exercidos também em todo o território nacional, pelo Sistema Nacional de Registro de
Empresas Mercantis (SINREM), composto pelo Departamento Nacional de Registro de
Comércio (DNCR) e pelas juntas comerciais.

O DNRC é órgão federal, integrante do Ministério do Desenvolvimento,


Indústria e Comércio Exterior. Suas atribuições são de normatização, disciplina,
supervisão e controle de registro. Nos termos do art. 4º da Lei nº 8.934/94, é de sua
competência a supervisão e coordenação dos atos praticados pelas juntas comerciais,
o estabelecimento e a consolidação de normas e diretrizes gerais sobre o registro de
empresas, a solução de dívidas sobre a matéria, bem como a fiscalização destas e a
atuação supletiva, nos casos de deficiência de serviço. Cabe-lhe também organizar e
manter o Cadastro Nacional de Empresas Mercantis, preparar os processos de
autorização para nacionalização ou instalação no Brasil de empresas estrangeiras, e,
enfim, desenvolver estudos e patrocinar reuniões ou publicações, para o
aprimoramento do registro de empresas.

O DNRC não dispõe de instrumento de intervenção nas juntas comerciais, caso


não adotem suas diretrizes ou deixem de acatar recomendações de correção. A Lei
estabelece, apenas, que o DNRC pode representar às autoridades competentes (o
Governador do Estado ou do Distrito Federal, o Ministério Público estadual e outros).

As Juntas Comerciais são em nível estadual e têm atribuições de execução do


registro de empresa. Cabe-lhes a prática dos atos registratórios. Além disso, é de sua
competência a expedição da carteira de exercício profissional, o assentamento de usos
e práticas dos comerciantes e a habilitação e nomeação de tradutores públicos e
intérpretes.

Não é demasiado repisar que o registro não é meio complemento formal. No


caso da sociedade empresária, a ausência de registro implica a não personificação
jurídica. No campo tributário, as conseqüências são seríssimas, à medida que,
impossibilitado de obter o CPF, o empresário informal não pode emitir nota fiscal nem
duplicata, palmilhando o terreno delituoso de sonegação fiscal.

Não se conclua que o registro faz empresário quem efetivamente não atua. Não
é isso. A mera inscrição não constitui, por si só, evidência segura de que o inscrito seja
empresário.

Para resumir esse assunto, temos que não é empresário, para o efeito de
exercício dos direitos inerentes a tal condição, quem não é registrado, mas não é
suficiente que o seja. Nem o empresário irregular nem o empresário fictício. A prática
profissional é imprescritível para converter em realidade a presunção gerada pelo
registro. A qualidade de empresário é igual a exercício profissional da empresa e
registro.

Sistema híbrido de competência

A vinculação hierárquica a que se submetem as juntas é de natureza híbrida.


Em matéria de direito comercial e ????? ao registro de comércio, ela se encontra
sujeita ao DNCR, órgão federal; nas demais matérias (direito administrativo e
financeiro), o vínculo de subordinação se estabelece com o governo da unidade
federativa que integra. Assim a matéria de comércio, como o direito substantivo,
passou a ser de competência legislativa da União, mas a organização administrativa
das Juntas Comerciais ficou a cargo dos Estados.

A vinculação hierárquica de natureza híbrida se manifesta, igualmente, na


hipótese de interposição de recurso administrativo, dirigido ao Ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio (esfera federal), contra decisões do Plenário da
Junta Comercial (esfera estadual). Também deve ser lembrado que da duplicidade de
vínculos hierárquico decorre, segundo algumas decisões judiciais, a competência da
Justiça Federal para apreciar a validade dos atos da Junta, relacionados ao direito
comercial.

A Junta se estrutura de acordo com a legislação estadual respectiva. Na maioria


das unidades federativas, tem-se preferido revesti-la com a natureza de autarquia,
com autonomia administrativa e financeira; noutras, ela é apenas um órgão da
administração direta, normalmente integrante da Secretaria da Justiça. Em qualquer
caso, ela deve possuir, por força da legislação federal, os seguintes órgãos: a
Presidência, o Plenário, as Turmas, a Secretaria Geral e a Procuradoria.

A Lei nº 8.934/94, regulamentada pelo DC n º 1.800/96, revisou toda a matéria,


dispondo sobre o RPEM, dando outras providências.

O Código Civil de 2002, nos arts. 1.150 e seguintes, também regula a matéria.

Finalidade do registro

O Registro Público de Empresas Mercantis tem a finalidade de: dar garantia,


publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas
mercantis, submetidos a registro; cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em
funcionamento no país e manter atualizadas as informações pertinentes; proceder às
matrículas dos agentes auxiliares do comércio, bem como o seu cancelamento.

Conteúdo do registro

São três os atos compreendidos pelo registro de empresas: a matrícula, o


arquivamento e a autenticação (Lei nº 8.934/94, art. 32). A matrícula e seu
cancelamento dizem respeito a alguns profissionais cujas atividades são sujeitas ao
controle das juntas. São os leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes
comerciais, ?????? e administradores de armazém-????. Estes agentes apenas
exercem suas atividades de forma regular quando matriculados no registro de
empresas.

O arquivamento se refere à grande generalidade dos atos levados ao registro


de empresas. Assim, o de constituição, altuação, dissolução e extinção de sociedades
empresárias são arquivados na Junta. Também serão objeto do arquivamento a firma
individual, os atos relativos a consórcio e grupo de sociedades, as autorizações de
empresas estrangeiras e as declarações de microempresas. Do mesmo modo, será
arquivado qualquer documento que, por lei, deva ser registrado pela Junta Comercial.
Esses documentos todos, de registro obrigatório, só produzem efeitos jurídicos válidos
após a formalidade do arquivamento.

O terceiro ato do registro de empresas é a autenticação, relacionada aos


instrumentos de escrituração impostos por lei aos empresários em geral.
Os papéis e documentos apresentados para esses fins estão dispensados do
reconhecimento de firmas por tabelião.

Compreende-se, também, na competência do RPEM, o cancelamento do


registro da empresa mercantil inativa, com perda automática de proteção ao seu nome
comercial (Lei nº 8.934/64, art. 60).

Será considerada inativa a empresa que não apresentar a arquivamento


qualquer ato por mais de dez anos. O DC nº 1.800/96, no art. 32, II, h, prevê o
arquivamento de comunicação de paralisação temporária das atividades da empresa
mercantil.

Efeitos do RPEM

O Registro Mercantil é público e qualquer pessoa tem o direito de consultar os


seus assentamentos, sem necessidade de alegar ou provar interesse, na forma que for
determinada pelo regimento interno da Junta Comercial. As certidões do registro serão
fornecidas sem embaraços, mediante o pagamento das respectivas taxas,
denominadas ?????. Aplicam-se ao RPEM as disposições legais referentes à
publicidade de que se reveste o Registro Civil.

É preciso acentuar que registro dos atos de comércio não é constitutivo de


direitos. Assim, por exemplo, a inscrição de firma individual não assegura a qualidade
de comerciante somente pela efetuação do registro.

Essa qualidade constante do registro pode ser elidida por qualquer prova em
contrário. Segundo a doutrina dominante, não se cria, com o registro, uma presunção
de direito, e o mais acertado será que considere que a inscrição constitua uma prova
prima ????. Mas, o efeito da inscrição e publicidade decorrente de um ato que se deva
inscrever produz seus efeitos frente a terceiros, porém não há “fé pública” nesse
registro e publicidade. Podem ser elididos em face de melhor prova.

Podemos, ademais, pôr em destaque as observações do Professor Jean Escana,


de que o RPEM constitui um instrumento de publicidade cujo valor está longe de ser
obsoleto. Em princípio a matrícula no registro não determina a qualidade de
comerciante, qualidade esta que pode ser contestada por terceiro.

Referências Bibliográficas
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

FAZZIO JUNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1º vol. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

SANCHES, Juliana Rocha. A teoria da empresa e a atividade empresarial no Código


Civil de 2002. Disponível em <http://www.franca.unesp.br/Juliana_Rocha_Sanches.pdf>
, acessado em 9 de outubro às 15:00h.

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