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Universidade Federal de Minas Gerais 05/07/2016

Ciências Econômicas
ECN181 - História Econômica Geral
Professor: Mário Rodarte
Aluno: Eduardo Pascoal de Freitas

Resenha crítica - O Imperialismo: fase superior do capitalismo

Autor: Vladimir Ilitch Lênin

No prefácio da obra, Lênin apresenta a ideia que será discutida no texto e


expõe todas as dificuldades que encontrou para escrevê-lo. Tendo o feito em 1916,
uma de suas queixas foi a carência de publicações francesas, inglesas e
principalmente russas. Entretanto, se baseia muito na, considerada por ele, principal
obra inglesa sobre o imperialismo, que é o livro de J. A. Hobson. É importante
observar também que, além desse problema, havia na época a censura tzarista, que
fez com que o autor utilizasse alusões em suas observações políticas. Diante disso,
para explicar questões das anexações, por exemplo, a discussão é entre Japão e
Coréia. O primeiro pode ser entendido como a Rússia, enquanto o segundo como
as regiões dominadas por não-Grandes-Russos.
Resumidamente, Lenin pretende, nesse livro, discutir a natureza econômica
do imperialismo, explicando que este é o prelúdio da revolução socialista.
Detalhando também que o socialismo-chauvinismo é uma traição completa ao
socialismo e que esta cisão do movimento operário está ligada aos interesses do
imperialismo.
Para absorver melhor todo o conteúdo de uma obra extensa e cheia de
detalhes, propus dividir esse estudo inicialmente em análises dos capítulos e logo
após, integrar todas as discussões nas ideias principais. Creio que, com esta
divisão, é possível obter um enriquecimento tanto para análise do todo, quanto para
leituras posteriores de quem não tem conhecimento crítico da obra. Portanto, para
início, me atento a detalhar o capítulo primeiro, sobre a questão dos monopólios.

1. A concentração da produção dos monopólios

Este é o título do capítulo I, na qual a ideia que transmite é bem sintetizada


na obra da Marx, O Capital, e é muito detalhada por Lênin: “a livre concorrência
gera a concentração de produção, a qual, atingindo um certo grau de
desenvolvimento, conduz ao monopólio.” Aliado a essa ideia, ele desenvolve seu
argumento, sempre com exemplo de situações de grandes nações, para demonstrar
que o enorme desenvolvimento da indústria e o processo de concentração
extremamente rápido da produção, em empresas cada vez mais importantes,
constituem uma das características mais marcantes do capitalismo. O que me atrai
em toda a discussão desse primeiro tema é que as ideias do autor sempre
aparecem reforçadas por dados reais de vários países e a discussão de contra-
argumentos de economistas com pensamentos diferentes.
O primeiro ponto discutido acerca disso são estatísticas industriais da época,
da Alemanha e do Estados Unidos. Nesse estudo, vejo que a importância não está
no valor de tal dados, mas no que representam, logo, o destaque está no âmbito
qualitativo dos números, e não no valor quantitativo em si. Tanto na Alemanha
quanto no EUA, é observado que, aproximadamente, menos da centésima parte das
empresas utilizavam 75% do total da força-vapor e da energia elétrica, empregavam
mais de ¼ dos operários e o volume de produção era de quase 40% do total.
Pensando que haviam milhões de empresas, o domínio do uso da força, dos
operários e da produção por apenas dezenas de milhares é um tanto quanto
significativo. Mesmo em um país com mais de 250 ramos industriais, é errado
pensar que haveria poucas empresas grandes por indústrias. Essa é o que ele
apresenta com a ideia de integração, isto é, a reunião em uma única empresa de
diversos ramos da indústria que possam abranger as sucessivas fases de
tratamento da matéria-prima ou que possam desempenhar papéis auxiliares em
relação às outras.
Afastado esse mal-entendido que poderia ocorrer, a conclusão chegada é a
mesma inicial, que a concentração, atingindo um certo grau de desenvolvimento,
conduz, por ela própria, diretamente ao monopólio. Derivando isso, o autor diz que,
com efeito, algumas dezenas de empresas gigantescas têm possibilidade de
crescerem facilmente e, por outro lado, a dificuldade de concorrência e a tendência
para o monopólio nascem, exatamente, da grandeza das empresas. Essa
transformação da concorrência em monopólio, para Lênin, é um dos fenômenos
mais importantes – senão o mais importante – da economia do capitalismo
moderno.
Ainda no que tange a integração, é importante perceber que ela não só serve
para entender como as grandes empresas controlam todos os ramos das indústrias,
mas também é um processo que traz consequências boas para as empresas.
Dentre os vários efeitos dela, o que se destaca é que a integração elimina as
diferenças de conjuntura e assegura, também, a empresa integrada uma taxa de
lucro mais estável. Também elimina o intermediário, possibilita aperfeiçoamentos
técnicos e, por consequência, a obtenção de lucros suplementares por confronto
com os da empresa ‘simples’. E por último, na luta de concorrência que se
desencadeia no momento de uma forte depressão, quando a baixa dos preços das
matérias primas não acompanha a baixa dos produtos manufaturados, ela fortalece
a posição da empresa integrada em confronto com a da empresa simples.
Logo, um número pequeno de empresas se tornam cada vez mais
importantes. Dessas, um número cada vez maior, seja do mesmo ramo ou de ramos
diferentes, se agrupa em empresas gigantes apoiadas e dirigidas por alguns
grandes bancos. De fato, uma das conclusões que o autor chega no início do
capítulo é que o capital-dinheiro (empresas gigantes) e os bancos tornam essa
superioridade de um punhado de enormes empresas ainda mais esmagadora. Ou
seja, no sentido de que milhões de “patrões”, pequenos, médios, e ate uma parte
dos grandes, são, de fato, inteiramente dominados por algumas centenas de
financistas milionários.
Todas essas análises até agora foram feitas especialmente sobre a
Alemanha, país na qual as indústrias eram protegidas por altas tarifas alfandegárias.
Mas, segundo Lênin, esse fato apenas permitiu acelerar a concentração e a
formação de uniões monopolistas de patrões, como cartéis, sindicatos, etc. O fato é
que, mesmo em países com livre-câmbio, como a Inglaterra, a concentração
também conduziu ao monopólio, ainda que um pouco mais tarde e de outra forma.
Os fatos mostram que as diferenças existentes entre os países capitalistas, por
exemplo em matéria de protecionismo ou de livre-câmbio, apenas determinam
variações insignificantes na forma dos monopólios, ou na data de seu aparecimento,
enquanto que o nascimento dos monopólios, como consequência da concentração
de produção, é uma lei geral e essencial do atual estádio de evolução do
capitalismo.
Após provar com seus argumentos que o nascimento dos monopólios pela
concentração da produção é basicamente uma lei capitalista, o próximo destaque
são as fases históricas dos monopólios, divida na obra em três:
1) 1860 – 1880: ponto máximo do desenvolvimento da livre concorrência. Os
monopólios são apenas embriões dificilmente percebidos.
2) Após a crise de 1873: período de grande desenvolvimento dos cartéis,
mas com um caráter ainda transitório, carecendo de estabilidade.
3) Expansão do fim do séc. XIX e crise de 1900-1903: cartéis se tornam uma
das bases da vida econômica. O capitalismo de transformou em imperialismo.
Os carteis estabelecem entre si acordos sobre as condições de venda,
trocas, etc: repartem os mercados, determinam a quantidade dos produtos a
fabricar, fixam os preços, repartem os lucros entre as diversas empresas, entre
outras coisas. E a superioridade dos cartéis sobre os seus concorrentes é mesma
explicada sobre os monopólios: reside na grande dimensão das suas empresas e no
seu notável equipamento técnico.
Portanto, com a concorrência se transformando em monopólio, o resultado é
um imenso progresso na socialização da produção e, particularmente, no domínio
dos aperfeiçoamentos e inovações técnicas. O capitalismo chega então a sua fase
imperialista e conduz a beira da socialização integral da produção. Isto é, arrasta os
capitalistas para uma nova ordem social, intermédia entre a livre concorrência e a
socialização integral. Nessa nova “fase”, a produção é social mas a apropriação
continua privada. Os meios de produção permanecem propriedade privada de um
pequeno numero de indivíduos. O quadro geral da livre concorrência, que se
reconhece nominalmente, subsiste e o jugo exercido por um punhado de
monopolistas sobre a restante população torna-se cem vezes mais pesado.
No âmbito da classe dominante, isso significa que as burguesias enfrentam-
se brutalmente, chocando-se monopólios contra monopólios. Voltam-se contra os
pequenos e médios produtores, fixam preços de matérias-primas de modo a
aniquilar outros competidores e impõem sanções ao negar-se a fornecer insumos.
Impedem que os capitalistas menores lhe façam concorrência. Além disso,
fusionam-se para ampliar o seu domínio sobre os mercados. Assim, os monopólios
não eliminam a concorrência, pelo contrário, a exacerbam e a elevam a um grau
máximo, que envolve não somente as frações da classe burguesa no interior de
cada país, mas de maneira feroz eleva a competição entre os Estados.
Dito isso, significa que o capitalismo atingiu um ponto que a produção de
mercadorias se encontra desacreditada e os lucros cabe aos detentores das
maquinações financeiras. Os monopólios rompem as fronteiras nacionais do ponto
de vista das forças sociais que projetam para produzir, ao criar uma escala de
socialização das forças produtivas imensamente mais avançadas que na época do
capitalismo de livre concorrência. A contradição disso é que a burguesia se incumbe
de defendê-las, para garantir a continuidade de sua existência como classe
dominante.
Segundo esse tese de Lênin, a internacionalização do capital a um nível
nunca antes visto transforma o mundo todo em um palco de guerras comerciais,
monetárias, que podem chegar ao seu ponto culminante com os enfrentamentos
bélicos, que arrastam a humanidade a grandes sofrimentos.

2. Os bancos, o capital financeiro e as oligarquias financeiras

Nessa segunda parte, contida nos capítulos II e III, Lênin relaciona a


transformação do capitalismo em imperialismo capitalista com a evolução dos
bancos. “A função essencial destes no início era de intermediários de pagamentos.
Nesta prática, eles transformaram o capital-dinheiro inativo em capital ativo, isto é,
criador de lucro. E, reunindo os diversos rendimentos em espécies, eles colocam-
nos à disposição da classe dos capitalistas”. Em outras palavras, o banco
inicialmente apenas era o mediador de dívidas através do sistema de crédito.
Quando inicia o processo de concentração de produção, o volume de capital
necessário para alimentar os monopólios aumenta. Portanto, o lucro dos grandes
bancos também aumenta.
A medida que esse lucro aumenta e os bancos se concentram em um
número pequeno, acabam por deixar de ser apenas intermediários para se tornarem
monopólios enormes, dispondo de quase todo o capital dinheiro e da maior parte
dos meios de produção e das fontes de matéria prima de um ou vários países. Esta
transformação de modestos mediadores em um grupo pequeno de monopolistas
constitui um dos processos essenciais da transformação citada no início desse
capítulo. Ocorre então o mesmo processo das fábricas: os pequenos bancos são
esmagados pelos grandes.
Novamente, Lênin analisa a evolução do sistema bancário de vários países,
sempre com dados para reforçar seus argumentos. Essa análise é sobre itens como
ativos, concentração de depósitos, número de agências, número de contas
correntes, participação acionária de alguns bancos no capital de outros etc.
A concentração do capital bancário e o aumento do movimento dos bancos
provocou uma importante modificação na economia capitalista. Houve um
estreitamento da relação dos bancos com a indústria e o comércio e, nessa relação,
os bancos assumiram um papel de dominação sobre o resto da economia. Lênin
descreve esse fato com outras palavras: "um punhado de monopolistas subordina
as operações comerciais e industriais de toda a sociedade capitalista, colocando-se
em condições de conhecer com exatidão a situação dos diferentes capitalistas,
depois de controlá-los, exercer influência sobre eles mediante a ampliação ou a
restrição do crédito, facilitando-o ou dificultando-o, e, finalmente decidir inteiramente
sobre o seu destino, determinar a sua rentabilidade, privá-los de capital ou permitir-
lhes aumentá-lo rapidamente e em grandes proporções etc.".
Esse processo de predomínio do bancos teve seu aprimoramento do século
XIX para o século XX a partir de grandes fusões de empresas nas quais partes
maiores do capital industrial passa a ter participação acionária dos bancos. Estes,
por sua vez investem na indústria. Lênin sintetiza essas partes sempre ao destacar
o resultado da concentração de produção, que são os monopólios, a fusão dos
bancos e o aparecimento do capital financeiro.
Os monopólios financeiros nada mais eram que a oligarquia financeira, nova
parte da burguesia que passa a ser dominante sobre toda a sociedade capitalista.
Na visão de Lênin, o capital financeiro concentrado em muito poucas mãos e
gozando do monopólio, obtém um lucro enorme e que aumenta sem cessar com
emissão de moeda, empréstimos do Estado, etc, consolidando a dominação da
oligarquia financeira e impondo a sociedade um tributo em proveito dos
monopolistas. Além disso, para ele, os lucros gigantescos proporcionados pela
emissão de valores contribuíram muito para o desenvolvimento e consolidação da
oligarquia financeira.
Ao lado disso Lênin descreve com detalhes outras formas que a oligarquia
financeira utiliza para se fortalecer seus lucros como a aquisição pelos bancos, a
baixo preço, em períodos de depressão, de pequenas empresas e empresas pouco
fortes, ou ainda a especulação com terrenos situados nos subúrbios das grandes
cidades que crescem rapidamente.
Por fim, o autor destaca também a relação entre capital produtivo e capital
especulativo na nova situação. Para ele, é próprio do capitalismo separar a
propriedade do capital da sua aplicação à produção, separar o capital-dinheiro do
industrial. O imperialismo é o capitalismo no seu grau superior, em que todas essas
separações adquirem proporções muito maiores. O predomínio do capital financeiro
sobre todas as demais formas do capital implica o predomínio do especulador e da
oligarquia financeira, a situação destacada de uns quantos Estados de 'poder'
financeiro em relação a todos os restantes.

3. A exportação de capitais

Continuando com a análise das propriedades da nova fase do desenvolver-se


capitalista, Lênin destina o capítulo IV de O Imperialismo à exportação de capitais.
O autor caracterizou o chamado velho capitalismo à exportação de mercadorias, e
frisou seu caráter dominativo frente a livre concorrência. Já o capitalismo moderno,
é identificado pela exportação de capital, sendo este o que impera o monopólio.
O autor parte do principio do fato de que, por volta do século XX, encontrava-
se uma situação onde a exuberante acumulação de capital estava no monopólio de
uma quantidade ínfima de países muito ricos. Tal cenário constituiu um grandioso
“excedente de capital” nos países mais desenvolvidos. Partiu daí então, a carência
de que esse demasiado capital fosse exportado na procura de uma colocação
lucrativa. A viabilidade da exportação de capitais partia do fato de existirem países
onde ele era insuficiente, o preço da terra e os salários eram moderadamente
baixos, e a matéria-prima mais barata ainda. Lênin afirma ainda que essas
características já estavam edificadas na circulação do capitalismo mundial, fator que
constituiu uma base de transportes e condições elementares para o
desenvolvimento industrial.
Analisando os casos de países exportadores e de tomadores de capitais,
Lênin destacou duas formas em que isso se manifestava: os investimentos diretos
em empresas e os empréstimos a juros, de fonte pública ou privada, também
chamado de capital usurário. Dessa forma, ao atingir excessivas proporções, a
exportação de capitais se organizava em uma "sólida base para o jugo e exploração
imperialista da maioria dos países e nações do mundo, para o parasitismo
capitalista de um punhado de Estados riquíssimos!" Ao mesmo tempo em que
repercutia "no desenvolvimento do capitalismo dentro dos países em que são
investidos, acelerando-o extraordinariamente ... (provocando) um alargamento e um
aprofundamento maiores do desenvolvimento do capitalismo em todo o mundo".
4. A partilha do mundo entre os grupos capitalistas e as grandes potencias

Nos capítulos V e VI Lênin procura ver os desdobramentos do crescimento


dos monopólios, ainda no plano econômico. Eles dominam o mercado interno de
seus países de origem e, em seguida, esses países, as potências imperialistas,
passam à dominação do mercado mundial. Isso acontece em várias indústrias que
ele apresenta como exemplo e que, quando duas gigantes fazem acordos de
“divisão do mundo” entre si, não exclui uma nova partilha, no caso de se modificar a
correlação de forças.
No caso da indústria do petróleo, Lênin faz um relato interessante de como
os capitalistas alemães, que perdiam a luta pela partilha do mundo para a Standard,
fizeram toda uma campanha para que o Estado alemão assumisse o monopólio
sobre o petróleo a fim de ajudá-los na luta contra os americanos, o que acabou por
não se concretizar.
Depois disso, o autor descreve o que se passou na marinha mercante, nas
ferrovias, na indústria do aço, do zinco e da pólvora, para concluir que os
capitalistas partilham o mundo porque o grau de concentração a que se chegou os
obriga a fazer isso para obterem lucros. Estes são repartidos ‘segundo o capital’ e
qualquer outro processo de partilha seria impossível no sistema de produção
mercantil e no capitalismo. E o que se passava ao nível dos grupos econômicos
tinha seu reflexo nos grupos políticos, nos Estados. Estes também tratavam de
repartir o mundo entre si.
Lênin constata o crescimento cada vez maior dos povos colonizados e da
dimensão das possessões coloniais de várias potências. Habitavam a Terra naquela
época em torno de 1.657.000 pessoas. Desse total, 930 milhões viviam em países
colonizados. A conclusão de Lênin é que, sobretudo a partir de 1880, a passagem
do capitalismo à fase do capitalismo monopolista, ao capital financeiro, se encontra
relacionada com a exacerbação da luta pela partilha do mundo.
O crescimento e fortalecimento dos monopólios ocorrem quando estes possuem
terrar com matérias-primas fundamentais, como minas de minério de ferro ou
reservas de petróleo. Isso explica a acirrada luta inter-monopolista que Lênin
descreve. Nas palavras dele, quanto mais desenvolvido é o capitalismo e mais
sensível se torna a insuficiência de matérias-primas, mais acirrada é a luta de
aquisição de colônias. Complementando essa ideia, também diz que os interesses
da exportação de capitais levam do mesmo modo à conquista de colônias, já que no
mercado colonial á mais fácil suprimir o concorrente, garantir encomendas e outras
ações necessárias.
Como fruto da luta pela partilha econômica e política do mundo pelas
grandes potências, Lênin analisa os tipos de países que vão se criando. Ele destaca
que não são só dois grupos de países: os que tem colônias e as colônias, mas
também os vários países dependentes que, dum ponto de vista político, gozam de
independência, mas que na realidade se encontram envolvidos na dependência
financeira e diplomática. Com o desenvolvimento do capitalismo, com a
intensificação das lutas contra colônias ao longo de décadas, esse tipo de países
dependentes descrito por Lênin é que vai se generalizar.

5. O imperialismo, fase particular do capitalismo

Lênin faz um resumo no início do capítulo VII do que já havia apresentado


nos capítulos anteriores, e depois, começa uma polêmica com K. Kautsky. Destina
gravidade a isto, pois Kautsky havia sido uma referência importante, segundo Lenin,
o principal teórico marxista da época da chamada II Internacional, isto é, dos vinte e
cinco anos compreendidos entre 1889 e 1914. Lênin avaliava que a definição de
Kautsky sobre o imperialismo era não so errada e não marxista, como também
servia como base como um sistema de concepções que rompem com a teoria
marxista e sua atuação prática. Dizia que os argumentos de Kautsky levavam a que
se ocultasse "as contradições mais fundamentais da fase atual do capitalismo, em
vez de as pôr a descoberto em toda a sua profundidade; daqui resulta reformismo
burguês em vez de marxismo".
Para Kautsky, o imperialismo seria produto do capitalismo industrial
altamente desenvolvido e que toda a nação capitalista industrial tinha a tendência a
submeter e anexar cada vez mais regiões agrárias. Lênin se opunha a tal ideia, pois
acreditava que o imperialismo se caracterizava pelo capital financeiro, e não
especificadamente pelo capital industrial. Dizia ainda que a intenção para a
anexação se deva além das regiões agrárias, mas também das mais industriais,
isso inclusive porque faz parte da própria essência do imperialismo a rivalidade de
várias grandes potências nas suas aspirações à hegemonia. Além disso, Lênin
aferia que a tendência do imperialismo não era somente para as anexações, uma
vez “que no aspecto político o imperialismo é, em geral, uma tendência para a
violência e para a reação".
Kautsky pensava também que do ponto de vista econômico poderia haver a
união dos imperialismos de todo o mundo, quando o capitalismo atingiria uma nova
fase a fase do ultra imperialismo. Consequentemente não haveria mais guerras e
lutas entre as potências imperialistas. Lênin avaliou que a ideia do ultra imperialismo
"leva a água ao moinho dos apologistas do imperialismo, de que a dominação do
capital financeiro atenua a desigualdade e as contradições da economia mundial,
quando, na realidade, o que faz é acentuá-las."
A ideia do ultra imperialismo, ao que Lênin apelidou de ingênua fábula de
Kautsky, cumpria a função de afastar a atenção dos intensos contrassensos
viventes, em uma realidade de grande desigualdade frente a rapidez de
desenvolvimento dos diferentes países, de condições econômicas muito variadas e
de furiosa luta entre os Estados imperialistas. Para Lênin, não se poderia aplacar a
esperança de que a paz entre os povos viesse a acontecer na ordem imperialista.
Para o autor, a guerra seria o único meio para eliminar a desproporção entre o
desenvolvimento das forcas produtivas e a acumulação de capital, além da partilha
das colônias e das 'esferas de influência' do capital financeiro.
6. Decomposição do capitalismo, critica do imperialismo e o seu lugar
na historia
Lênin dedica os três últimos capítulos da obra para retirar conclusões e
consequências políticas da estrutura econômica do imperialismo. Elas constituem o
traço distintivo fundamental desta, e é o que há de mais importante nela.
Todo o raciocínio do autor converge para a ideia de que o imperialismo é a
fase suprema do capitalismo e, ao mesmo tempo, a última fase do seu
desenvolvimento. Tantas e tão profundas são as contradições, as crises e os
choques que ela gera que se preparam objetivamente as condições para sua
transformação em seu contrário, uma sociedade de tipo superior. Lênin concebe a
etapa imperialista como um "capitalismo de transição ou, mais propriamente, de
capitalismo agonizante". Em termos históricos o imperialismo é a véspera da
revolução proletária.
Para demonstrar seu ponto de vista é que Lênin analisa as principais
tendências e contras do desenvolvimento econômico do capitalismo em sua fase
imperialista. De um lado, ele é impulsionado pela possibilidade de diminuir os gastos
de produção e aumentar os lucros, implantando aperfeiçoamentos técnicos. Porém,
a tendência para a estagnação e para a decomposição, inerente ao monopólio,
continua por sua vez a operar e em certos ramos da indústria e em certos países há
períodos em que consegue se impor.
A tendência para a estagnação vem da separação entre o setor dos
especuladores e a produção. Ele dizia que o imperialismo é uma enorme
acumulação num pequeno número de países de um capital-dinheiro que vive da
exploração do trabalho de uns quantos países e colônias do ultramar. Daí é que
surge o Estado-especulador, usurário, credor, que é o Estado do capitalismo
parasitário e em decomposição contraposto à imensa maioria de países e nações
do mundo na situação de oprimidos e devedores.
Lênin destaca também a piora das contradições entre monopólios e
potências imperialistas. Dizia que sob o capitalismo não se concebe outro
fundamento para partilha das esferas de influência, dos interesses, das colônias,
entre outros, além da força de quem participa da divisão, a força econômica geral,
financeira, militar, etc. E a força dos que participam na divisão não se modifica de
forma idêntica, visto que sob o capitalismo é impossível o desenvolvimento igual das
diferentes empresas, trustes, ramos industriais, países, e por isso as alianças
pacíficas preparam as guerras e por sua vez surgem das guerras, conciliando-se
mutuamente, gerando uma sucessão de formas de luta pacífica e não pacífica sobre
uma mesma base de alianças imperialistas e de relações recíprocas entre a
economia e a política mundiais.
Na política, Lênin também identificava uma exacerbação extrema das
contradições. Para ele, o imperialismo é a época do capital financeiro e dos
monopólios, que trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação e
não para a liberdade. A reação em toda a linha, seja qual for o regime político,
intensifica-se também a opressão nacional e a tendência para as anexações, isto é,
para a violação da independência nacional. Para ele, isso não impede a evolução
das tendências democráticas na massa da população, e sim exacerba o
antagonismo de tais tendências democráticas e a tendência antidemocrática dos
trustes.
Toda esse aumento das contradições sob o imperialismo é a força mais
poderosa do período histórico de transição iniciado com a vitória definitiva do capital
financeiro mundial. Essas contradições, em plano mundial e de cada país,
colocaram a necessidade de resolver de forma prática a questão do socialismo
numa nova relação com os problemas nacionais, democráticos e sociais.
Significavam a necessidade do planejamento de uma nova estratégia e uma nova
tática revolucionária do proletariado.
Assim, a questão nacional é colocada sob uma nova visão a partir do
imperialismo. Lênin diz que Hilferding faz notar acertadamente a relação entre o
imperialismo e a intensificação da opressão nacional quando o autor de “O capital
financeiro” diz: "o capital importado intensifica as contradições e provoca uma
crescente resistência dos povos contra os intrusos, e consciência nacional desses
desperta, e as referidas nações formulam o objetivo que noutros tempos foi o mais
elevado entre as nações europeias: a criação de um Estado nacional único como
instrumento de liberdade econômica e cultural. Os movimentos de libertação
nacional nos países dependentes e a luta pelo direito à autodeterminação das
nações oprimidas passaram a integrar o programa revolucionário do proletariado.
A questão democrática que havia sido colocada na cena histórica pela
burguesia de séculos passados passou também a ser parte integrante da luta do
proletariado e seus aliados pelo socialismo. As reivindicações democráticas,
segundo Lênin, deveriam ser apresentadas de maneira revolucionária, orientadas
para a revolução social. Ele dizia que os marxistas sabem que a democracia não
suprime a opressão de classe, e sim faz a luta de classes mais pura, mais ampla,
que é, precisamente, o que necessitamos. Por isso, acrescentava que o socialismo
é impossível sem a democracia em dois sentidos:
1) o proletariado não pode levar a cabo a revolução socialista se não se
prepara para ela através da luta pela democracia
2) o socialismo triunfante não pode consolidar sua vitória e levar a
humanidade à desaparição do Estado sem realizar a democracia completa.
A questão social também é tratada sob vários aspectos. Primeiramente, o
desenvolvimento do capitalismo para o imperialismo levou a uma enorme
socialização da produção. É o que Lênin descreve detalhadamente na última parte
da obra. Ademais, Lênin constatava a tendência das massas, que são mais
oprimidas que antes, que suportam todas as calamidades das guerras imperialistas,
a derrubar a burguesia.
Ao enfrentar o problema prático da revolução, Lênin dedica grande atenção
ao problema político da direção do processo revolucionário. Essa direção estava
dividida em duas tendências: a oportunista, da qual Kautsky fazia parte e que
passou a dominar na maioria dos partidos operários da Segunda Guerra, e a
tendência revolucionária. Para ele, a luta contra o imperialismo é uma frase oca e
falsa se não for indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo. Lênin ocupou-
se, em primeiro lugar, de explicar a base material do surgimento do oportunismo. O
imperialismo, para ele, implica lucros monopolistas elevados para um punhado de
países muito ricos, gera a possibilidade econômica de subornar as camadas
superiores do proletariado e alimenta assim o oportunismo. Ou ainda, o
imperialismo tem tendência para formar categorias privilegiadas também entre os
operários, e para divorciar das grandes massas do proletariado.
O grande mérito da análise leninistas do imperialismo é que ela respondeu a
tempo os problemas colocados pelo desenvolvimento econômico e social e armou o
proletariado russo para a vitória de Outubro de 1917. Em todo o mundo, os partidos
comunistas incorporaram os ensinamentos de Lênin sobre o imperialismo aos seus
programas. Tendo sido escrito há mais de 80 anos, O imperialismo: fase superior do
capitalismo, é hoje um instrumento fundamental para a correta compreensão da
chamada globalização, é uma arma afiada na luta da classe operária contra o
neoliberalismo.

7. Críticas e outros estudos

Após o estudo da obra de Lênin, um livro com ideias complementares é o


chamado “Capitalismo Global” de Jeffry Frieden. Tal obra percorre a Era de Ouro da
globalização do início do século XX, o seu colapso durante as duas guerras
mundiais e o caminho de volta à integração internacional dos mercados a partir de
meados dos anos 1960. O autor, no capítulo introdutório, descreve a forma como a
história e os acontecimentos do final do século XIX determinaram a formação de
uma nova ordem global, modificando o sistema mercantilista em direção à
integração dos mercados mundiais, levando, de fato, a um crescimento vertiginoso
do comércio entre os países avançados. O desenvolvimento dos transportes e dos
novos sistemas de telecomunicações contribuíram para a aceleração dessas
mudanças. Um novo capitalismo global tomou o lugar da velha ordem, defendida
com armas. A força dominante passou a ser o mercado e deixou de ser o monarca.
O padrão ouro, princípio organizador do capitalismo global, foi adotado pelos
principais países, sendo fundamental na reestruturação do capitalismo na década
de 1870 e facilitando o comércio, os empréstimos, os investimentos, a migração e
os pagamentos internacionais. Além disso, por meio do ouro, as nações puderam
compartilhar de uma moeda corrente internacional, uma vez que as moedas eram
convertidas para o ouro através de uma taxa fixa e pré-estabelecida.
Pelo breve resumo da obra, é visível o diálogo entre as duas, primeiramente
por tratarem da mesma época. Além disso, por relatarem o colapso e a formação de
uma nova ordem social. Frieden analisa essa mudança do sistema mercantilista
para uma integração mundial dos mercados. E é o que Lênin também detalha e
conclui a relação dessa nova organização e o imperialismo.
Sem decorrer muito, a análise importante é que a obra de Lênin serve de
base para o estudo dessa época e da transformação, e que muitos se apoiam em
sua visão, as vezes sem o mesmo teor das últimas partes, referentes a revolução.

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