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Doutrina e Fé

Introdução
Fé e doutrina não são antagônicàs. Harmonízam-se. É necessário que se faça distinção entré as duas
realidades mostrando-se, entretanto, o valor, das doutrinas para a fé cristã. Os batistas sempre zelaram pela
sã doutrina, através dos séculos, e têm se identificado pela sua fidelidade à Palavra de Deus como base
exclusíva para a formulação das doutrinas que seguem. Mesmo na atualidade, a despeito de tantos
movimentos religiosos que desprestigiam a doutrina, como se ela fosse contrária' à fé .e à espiritualidade, os
batistas têm insistido necessidade de manter a identidade doutrinária que os tem caracterizado e distinguido
dos diferentes grupos evangélicos. Demonstração disso são os congressos promovidos para estudo da
identidade denominacional e a preocupação atual da JUERP manifestada em dedicar trimestres ao estudo
doutrinário, bem como em publicar literatura contendo os princípios batistas e a Declaração de fé da
Convenção Batista Brasileira

1. O que é fê

Fé é um estado e uma disposição de espírito que consiste na convicção de serem verdadeiros todos os
fatos, ensinos e preceitos contidos nas Escrituras, na confiança em Deus, em seu plano de salvação e em
todas as suas promessas, e em ser submisso e obdiente a Deus para fazer toda a sua vontade.

Há, portanto três elementos na fé:


1) A credibílídade dada a tudo o que está escrito na Bíblia, aceitando-a como .a Palavra de Deus; a
credíbilidade na existência, na natureza, no caráter e nos'propôsitos de Deus: a credibílidade na pessoa de
Jesus Cristo como o Filho de Deus e nosso o Salvador; a credibilidade nas promessas e em todos os preceitos
bíblicos;

2) A confiança na obra realizada por Deus, em suas promessas e em seu caráter, sabendo que ele não pode
mentir (Tt 1.2);

3) A submissão à vontade de Deus exclusívamente contida em sua Palavra.

O elemento preponderante na fé é a confiança. Todos os heróis da fé que constam de Hebreus 11


foram obedientes porque confiavam. Por isso mesmo, é muito fácil pessoas confundirem fé com
superstição, com misticismo, com fanatismo e com temeridade, porque nessas quatro falsificações da fé
existe confiança. O que distingue a verdadeira fé da superstição, do misticismo, do fanatismo e da
temeridade é a relação entre o que se crê e o que está escrito na Bíblia, que é a revelação de Deus. As
falsas manifestações de fé não estão fundamentadas na Bíblia, mas em fábulas, em experiências pessoais
alegadas ou até verdadeiras, em emoções dominantes, em sinais e prodigios que alguem relate ter feito
ou visto realizar e em impulsos carnais de pura emoção, revestidos de aspectos espirituais. O que
identifica a verdadeira fé, em outras palavras, é o fato de ela estar fundamentada na Palavra de Deus. A
forma de crença que se expressa racionalmente em nossa linguagem formando postulado com base nas
Escrituras é a doutrina . A convicção interior, a confiança, a submissão constituem a fé.

1.1 Definição bíblica de fé

O autor da Carta aos Hebreus define fé nas seguintes palavras: “ Ora a fé é o firme fundamento
das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” (Hb 11.1). “No original grego, a
palavra traduzida por “prova” traz a ideia de “Título de propiedade”:upostásis é firmeza ,
realidade, instrumento legal que garante a posse. (TAYLOR, W.C., Introdução ao Novo
Testamento Grego, JUERP, vpl.2,p.233.)
"Fé é uma convicção tão firme, profunda e arraigada de confiança no caráter perfeito e
imutável de Deus que não pode mentir (Tt 1.2), que tem o valor de um firme alicerce e de uma
escritura pública de uma propriedade", outorgada pelo próprio Deus. (UMA, D.S., O Pentecoste e os
Dons do EsPírito Santo, Seminário Teológico Batista de Niterói, p41.)
É claro que, para que a fé seja "fundamento" (base, alicerce) e "prova" (título de propriedade),
ela tem que ser em conformidade exclusivamente com o verdadeiro sentido da revelação de Deus.
Emoções, sonhos, visões, conjecturas, experiências pessoais, fábulas etc. não podem ser
fundamento de coisa nenhuma. A verdadeira fé não pode discrepar da Palavra de Deus. "A fé
bíblica não é a mesma coisa que fé mistica. Esta última consiste em confiança colocada em
supostas revelaçoes diretamente feitas a pessoas de hoje. A primeira é a confiança colocada nas
manifestações de revelação da iniciativa de Deus, registradas como fatos, profecias e preceitos nas
Escrituras”. (Lima, D.S. op, cit.43 )

1.2. Expressões da falsa fé, ou seja, a fé mistica,


1) A superstição, que consiste 'em a pessoa ter convicção e confiança em alguma coisa que não
existe (corno entidades imaginárias) ou em coisas que existem, mas são ineficazes, porque nada são
e nada podem, coisas usadas como elementos de magia. Por exemplo: crer em cura. por beber água
orada, crer em prosperidade por passar por baixo de determinadas portas, pendurar objetos em casa
ou no carro com palavra misteriosa que os místicos chamam de rhema, confiar no perdão dos
pecados pela queima de papeis com confissão deles e levados a fogueiras santas etc.
2) O fanatismo, que consiste em tentar realizar o que Deus jamais mandou fazer, ou em esperar receber o
que Deus jamais prometeu nas Escrituras.
3) A temeridade consiste na tentativa de realizar coisas fantásticas e absurdas como andar sobre águas, ou
determinar a Deus, em orações, o que exigem que ele faça, ou declarar diante de Deus que não aceitam
enfermidades ou dificuldades em sua vida

A fé se manifesta em confiar, pedir, esperar e sujeitar-se humildemente à vontade de Deus, assim


como o Senhor Jesus fez no Getsêrnane: "Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia não seja
como eu quero, mas como tu queres" (Mt 26.39). Esta é a oração da fé. Porém, as "orações" em que dizem
"Não aceito isto!" ou "Determino que faças isto ou aquilo” são manifestação de arrogancia e
fanatismo.

2. O que é doutrina

A palavra "doutrina" é tradução do grego didaskalía, que significa "ensino", "preceito", O


sentido de ensino não é apenas o de ação ou processo de ensinar, de transmitir conhecimentos,
mas os próprios conhecimentos quando organizados em torno de um fenômeno ou de uma
realidade descoberta, de modo a formarem um universo de afirmações; é o conteúdo e a natureza
da.matéria que se ensina. A recomendação de Paulo a Tito ajuda-nos a entendermos melhor:" Tu,
porém, fala o que convém à sã doutrina" (Tt 2.1). A ação recomendada é falar, que seria exercida
tanto em forma de pregação como em forma de aula. A sã doutrina é a matéria sobre a qual
deveria falar e que deveria ser saudável sem erros, sem mistura de falsidades, mas corretamente
verdadeira. Evidentemente, a preocupação de Paulo era com o conteúdo do ensino, com o
universo de verdades reveladas nas Escrituras, referentes ao evangelho, e que Tito deveria falar
(pregar ou ensinar) sem falsíficações.sem místura com as fábulas da imaginação, das fantasias ou
interesses dos falsos mestres.
Filosófica e cientificamente, "doutrina é um conjunto de idéias, de princípios que se articulam
e se coordenam, imprimindo um sentido de unidade integral à concepção de uma determinada
ordem de fatos ou fenômenos". (PIMENTA, Joaquim, EncicloPédia de Cultura, Livraria Freitas
Bastos, vol 1, p.209.)
Aplicando-se essa definição à Teologia, doutrinas são conjuntos de crenças postuladas como
verdadeiras sobre revelações de Deus nas Escrituras Sagradas, formando universos de sentido
integral, harmonioso e coerente em torno de cada fato revelado. Por exemplo: doutrina de Deus;
doutrina de Jesus Cristo; doutrina da salvação etc. O conjunto desses universos de conhecimento
sobre revelaçaõ divina é que formam uma fé definida e identificadora dos diversos grupos. Entre
esses estão os batistas, que como os demais , se identificam por suas doutrinas e pelas práticas
delas resultantes.

Eis porque precisamos manter nossa identidade doutrinária: para manter bem definaidas
nossass fronteriras que nos separam das falsidades e dos erros, a fim de que não nos
desencaminhemos em nosso percurso para trrenodas fantasias, das fábulas, das superstições , do
fanatismo, da temeridade , dos cultos frenéticos e teatrais e da sedução por bens materiais e
glórias terrenas.

Quando:alguém, por ignorância ou má fé, irreverência ou interesses pessoais, estabelece e


propaga enunciados de fé que não se originaram da verdade bíblica, está forjando doutrinas falsas.'
Toda doutrina que discrepa das Escrituras, que se baseia em experiências pessoais, fantasias,
sonhos, "revelações", distúrbios mentais' e mentiras deliberadas, é falsa e diabólica: Mas o Espírito
expressamentediz ,que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé , dando ouvidos a espiritos
enganadores, e a doutrina de demônios"( 1 Tm 4.1).

3. Relação entre fé e dourina

Há grupos de cristãos evangélicos que adquiriram verdadeira ojeriza pela palavra doutrina,
como se ela fosse algo pernicioso e prejudicial à fé e ao desenvolvimento do reino de Deus na
terra. Essa posição decorre, provavelmente, de desavenças em torno de certos aspectos de
doutrinas em que haja divergências. A amargura existente entre alguns no embate de diferentes
interpretações doutrinárias teria levado certas pessoas a não quererem nem ao menos falar em
doutrina. Entretanto, o Novo Testamento está repleto de passagens exaltando o valor das doutrinas
na vida cristã.

3.1 O evangelho anunciado pelos apostolos não constituiu de fábulas, mas das verdades que
eles proprios viram em CristoJesus: Poerque não fizemos saber a virtude e a vida de nosso Senhor
Jesus Cristoseguindo a fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade
(2 Pe 1.16)
3.2 O evangelho foi recebido pelos ouvintes de Jesus como uma “nova doutrina”: Todos se
alegravam, a ponto de perguntarem entre si : Que vem a ser isto? Uma nova doutrina! (Mc: 1.27)

3.3 O Senhor Jesus ensinou que os que desejam fazer a vontade do Pai saberão discenir sua
doutrina: “ A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguem quizer fazer a
vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se é de Deus ou se falo por mim mesmo. Quem fala
por si mesmo busca a sua própia glória: mas o que procura a glória daquele que o enviou, esse é
verdadeiro, e não há nele injustiça” (Jo 7.16-18). Isto significa, exatamente, que a vontade de Deus
se expressa em forma de doutrinas.quem

3.4. O apóstolo Paulo elogiou os cristãos de Roma" pela sua obediência à doutrina aprendida:
Graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, bbedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues"
(Rm 6.17).

3.5. Paulo recomenda aos romanos que se apartem dos que contrariavam a doutrina que haviam
aprendido: "E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que
apreendestes; desviai-vos deles" (Rm 16.17)

3.6. Paulo exortou Timóteo a pregar, reprender e exortar com a doutrina, e o mandou se
precaver contra os que se desviaram da verdade: “...Tndo comicchão nos ouvidos, amontoaraão
para si doutores conforme as suas própias concupiscencias; e deviarãoos ouvidos da verdade
voltando às fábulas” (2 Tm 4 1-4)

3.7. Paulo exortou os Efesos a serem adultos e a combaterem as falsas doutrinas de homens
fraudulentos: “Para que nõa sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento
de doutrina , pelo engano dos homes que com astúcias enganam fraudulosamente” (Ef 4.14).

Conclusão

Precisamos defender nossa identidade doutrinária. Preçisamos, discemir os homens astuciosos


e fraudulentos; que “ sopram" os ventos de doutrina e, como adultos.no evangelho, saibamos
rejeitá-los. Precisamos vencer a sedução dos modismos religiosos do .misticismo com suas
proçostas fantasiosas e fraudulentas de poder sobrenatural para realizar sinais e prodígios, de
prosperidade material, de prestígio e glória diante dos homens. Não podemos trocar a verdadeira
fé pelas superstições, fanatismos, temeridades e pela vaidade de incharmos as igrejas com
multidões não convertidas, não-regeneradas, atraídas pelo espetáculo, do culto frenético e pelas
promessas ludibriadoras de cura de todas as doenças, solução de todos os problemas e
enriquecimento material. O mundo que estamos ajudando a evangelizar precisa que mantenhamos
nossa identidade doutrinária.

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