Você está na página 1de 138

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/320826805

Manual de avaliação de riscos na agropecuária – um guia metodológico

Book · January 2017

CITATIONS READS

0 33

2 authors:

Márcio Buainain Rodrigo Lanna Franco da Silveira


University of Campinas University of Campinas
97 PUBLICATIONS   254 CITATIONS    80 PUBLICATIONS   69 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Determinantes da eficiência técnica e econômica da citricultura em propriedades rurais do estado de São Paulo View project

Special Issue on "The Political Economy of Land Reform" for IJLTEFS, as main invited guest editor. View project

All content following this page was uploaded by Rodrigo Lanna Franco da Silveira on 03 November 2017.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Antônio Márcio Buainain
Rodrigo Lanna F. da Silveira

MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA

UM GUIA METODOLÓGICO

Núcleo de Economia
Agrícola e Ambiental - IE/Unicamp
A Escola Nacional de Seguros
A Escola Nacional de Seguros foi fundada em 1971, com a missão de desenvolver o
mercado de seguros através da geração e difusão de conhecimento e da capacitação de
profissionais.

A princípio com um ensino voltado para a parte técnica, a Escola elaborou o curso para
formação e habilitação de corretores de seguros – o mais requisitado entre os oferecidos
pela instituição –, além de outros programas educacionais, como palestras, workshops,
seminários e apoio à pesquisa.

Com a crescente demanda por qualificação de nível superior, em 2005, a Escola foi
autorizada pelo Ministério da Educação (MEC) a ministrar, no Rio de Janeiro, a gradua-
ção em Administração de Empresas com Linha de Formação em Seguros e Previdência,
a primeira do Brasil com tais características. Desde 2009, o curso também é oferecido
em São Paulo. Em menos de uma década, a graduação em Administração de Empresas
se tornou referência nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, com base nos resultados
do Índice Geral de Cursos (IGC), medido pelo Inep/MEC.

Por sua excelência na área de administração, seguros e previdência, a Escola Nacional


de Seguros fundou, em 2014, o Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), que
atua nas áreas de Pesquisa, Bolsas de Estudos, Publicações e Seminários. O CPES é
membro do Research Network do IIS – International Insurance Society. O IIS tem a
missão de modelar o futuro da indústria global de seguros através do diálogo aberto
sobre os desafios, avanços e interações de mercados de seguro dos países associados.

A Escola Nacional de Seguros tem sede no Rio de Janeiro, conta com outras 12 unida-
des, está presente em mais de 80 cidades de todo o país, através de parcerias. Atende a
mais de 50 mil alunos e participantes por ano, por meio de aulas e eventos presenciais e
também a distância. Consegue, assim, manter e expandir o elevado padrão de qualidade
que é sua marca, bem como ratificar sua condição de maior e melhor escola de seguros
do Brasil.

ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS


www.funenseg.org.br

ISBN 857052621-2

9 788570 526212

Rua Senador Dantas, 74 - Térreo, 2ª Sobreloja, 3°, 4° e 14° andares


Centro - Rio de Janeiro - CEP: 20031-205
Central de atendimento: 0800 025 3322
www.funenseg.org.br
MANUAL DE AVALIAÇÃO DE
RISCOS NA AGROPECUÁRIa
U m guia me t odol ó gico

 3
MISTO
Papel produzido a partir
de fontes responsáveis
FSC© C075527

4    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


 5
© Funenseg. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sejam
quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação
ou quaisquer outros, sem autorização por escrito da Fundação Escola Nacional de
Seguros – Funenseg.

1ª edição: Março, 2017


Fundação Escola Nacional de Seguros – Funenseg
Rua Senador Dantas, 74 – Térreo, 2º, 3º, 4º e 14º andares
CEP 20031-205 – Rio de Janeiro/RJ – Brasil
Tels.: (21) 3380-1000
Internet: www.funenseg.org.br
E-mail: faleconosco@funenseg.org.br

Coordenação editorial
Centro de Pesquisa e Economia do Seguro / Grupo Banco Mundial
Edição | Claudio R. Contador
Produção gráfica | Christiane Sonoki
Projeto gráfico, capa e diagramação | JLS Comunicação
Revisão | Claudio R. Contador

Virginia Thomé – CRB-7/3242


Responsável pela elaboração da ficha catalográfica

B93m Buainain, Antônio Márcio


Manual de avaliação de riscos na agropecuária : um guia metodológico
/ Antônio Márcio Buainain e Rodrigo Lanna Franco da Silveira. – Rio de
Janeiro : ENS-CPES, 2017.
133 p. ; 21 cm

O presente livro foi resultado de parceria do Grupo Banco Mundial


com CPES-ENS, para produção do trabalho.
Os autores são professores do Instituto de Economia da Unicamp e
pesquisadores do Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente –
NEA, do IE/Unicamp.

ISBN nº 978-85-7052-621-2.

1. Seguro agrícola – Gestão de risco – Brasil. 2. Agronegócio – Gestão
de risco – Brasil. 3. Agropecuária – Gestão de risco – Brasil. 4. Agricultura
– Gestão de risco – Brasil. I. Silveira, Rodrigo Lanna Franco da. II. Título.

0017-1824 CDU 631.55:368(81)


AGRADECIMENTOS

– Diego Arias Carballo, Pablo Valdivia e Wanessa Matos, do


Banco Mundial, pelo apoio técnico, e ao Banco Mundial,
pelo apoio financeiro aos estudos sobre risco na agricultura
brasileira;

– Pedro Abel Vieira, da Embrapa, e Pedro Loyola, da FAEP,


pelos comentários a versões preliminares e pela cessão de
materiais utilizados no Guia;

– Paulo Meneses, do MAPA, pelo apoio ao  projeto MAPA/


EMBRAPA/Banco Mundial, para o qual o Guia foi preparado;

– todos os participantes do curso organizado pelo MAPA/


EMBRAPA/Banco Mundial, que tiveram paciência em nos
acompanhar durante 20 horas, comentaram o material pre-
liminar e deram sugestões para o aprimoramento.
8    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
APRESENTAÇÃO

A agricultura tem sido caracterizada como uma ilha cercada e coberta de


riscos. Em que pese todo o progresso tecnológico, as atividades agrícolas
mantêm forte dependência da natureza e os resultados estão sujeitos a
variações climáticas, brotes de pragas, enfermidades e ocorrência de
outros fenômenos naturais, desde terremotos até ciclones. Esta mesma
dependência introduz certa rigidez em seu processo produtivo, que tem
efeitos sobre a dinâmica e riscos econômicos e financeiros. É mais difícil,
senão impossível, ajustar o nível de produção às flutuações da demanda
durante o período da safra; tampouco é viável acelerar, por meio de um
terceiro turno, o processo produtivo para aproveitar uma boa fase do
mercado. Também não é possível deixar as plantas ociosas, ou demitir
árvores, como se faz com as máquinas e os funcionários em uma indús-
tria em períodos de baixa do mercado.

Ao contrário de diminuir, os riscos que envolvem a agricultura têm au-


mentado. De um lado, a agricultura é hoje uma atividade intensiva em
capital, inserida em cadeias de valor complexas, envolvendo uma exten-
sa rede de fabricantes e prestadores de serviços, um grande número de
pessoas e um percentual do PIB muitas vezes superior ao valor agregado
gerado no setor primário estrito senso. Uma frustração de safra devido a
evento climático adverso tem efeitos sistêmicos que, em geral, vão mui-
to além do produtor rural e de sua comunidade imediata. Em especial
porque os eventos têm uma natureza catastrófica, atingem simultanea-
mente vários produtores na mesma localidade, potencializando o impac-
to negativo. De outro lado, observa-se, no período recente, uma maior
instabilidade do clima e dos fenômenos naturais, com ocorrência mais
frequente de fenômenos extremos, com maior potencial para causar da-
nos econômicos e sociais. Finalmente, os mercados agropecuários têm

 9
apresentado maiores flutuações de preços em decorrência da própria ins-
tabilidade da economia global, existindo também impactos decorrentes
de um quadro de financeirização que influencia a dinâmica de formação
de preços agropecuários. Neste contexto, os mecanismos de gestão de
risco vêm ganhando grande importância nos países desenvolvidos, em
muitos casos substituindo a utilização de instrumentos tradicionais como
o crédito subvencionado e as reservas de mercado, de resto proibidas
para os membros da OMC.

Soma-se ao quadro acima exposto o fato dos diferentes tipos de riscos


inerentes às atividades agropecuárias - associados à produção, preços,
crédito, operações, ambiente institucional, entre outros - possuir, em ge-
ral, conexões, o que reforça ou atenua seus efeitos. Assim, diante de
um quadro caracterizado pela intersecção de diferentes fontes de riscos,
com a presença de múltiplos agentes, coloca-se como fundamental uma
abordagem integrada e holística. Identificar quais os riscos de certa área,
quantificar o potencial de perda, avaliar os instrumentos de gerencia-
mento, selecionar a alternativa de gestão e realizar o monitoramento da
operação são etapas necessárias para chegar a soluções que garantam
o maior retorno da intervenção, levando-se em conta o grau de vulnera-
bilidade dos stakeholders, o potencial de transmissão do risco ao longo
da cadeia produtiva e a disponibilidade dos recursos para a execução de
tais ações. A partir de tais etapas e análises, possibilita-se a priorização
de ações e a orientação de estratégias de gestão.

A publicação deste manual é fruto de uma colaboração entre o Centro


de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), da Escola Nacional de Se-
guros, Núcleo de Economia Agrícola e Meio Ambiente (NEA), vinculado
ao Instituto de Economia da Unicamp, e o Grupo Banco Mundial. Prepa-
rado originalmente no contexto de projeto conjunto do Banco Mundial,
Embrapa e Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento para
difundir e aprimorar os mecanismos de gestão integrado de risco na
agropecuária no Brasil, o manual introduz ferramentas e enfoques para
a análise dos principais tipos de risco a que a atividade agropecuária
(primária) está exposta, e informações sobre os instrumentos de gestão
de risco disponíveis e em uso no Brasil. Utilizando uma visão holística
sobre os riscos na agropecuária, propõe uma abordagem integrada para

10    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


as decisões relacionadas ao risco, que inclui medidas para prevenir o
evento adverso, mitigar o impacto potencial de tal evento e/ou enfren-
tar os efeitos negativos decorrentes da ocorrência de fatores adversos,
associados à natureza ou ao funcionamento da economia. Trata-se de
um guia introdutório, que apresenta informações históricas básicas para
contextualizar a agricultura brasileira e mundial de hoje, e os instrumen-
tos analíticos necessários para identificação, mensuração e gestão de
tais riscos em diferentes cenários.

O público-alvo deste manual inclui produtores rurais, técnicos, pesquisa-


dores, servidores públicos, estudantes e empresários ligados ao agrone-
gócio, entre outros agentes que tenham interesse ou atuem em ativida-
des associadas à atividade agropecuária.

  11
PREFÁCIO

Prezados Colegas,

É indiscutível o relevante papel do agronegócio para a sociedade brasilei-


ra. O setor movimenta mais de 70 bilhões de dólares em exportações, o
que representa cerca de 46% do total das exportações do País e, assim,
contribui sobremaneira para o superávit da balança comercial brasileira.
Os números da participação do setor são tão expressivos que cerca de
23% do Produto Interno Bruto (PIB) e 33% dos empregos têm origem
no setor de agronegócio.

Essa importância vai além, haja vista a demanda crescente de alimentos


no mundo. Um exemplo prático é que no ano de 2050 a população mun-
dial totalizará 9,5 bilhões de habitantes, ou seja, aproximadamente 35%
maior quando comparada aos dias de hoje. Paralelamente, a produção
agropecuária deverá se elevar em 80%, abrindo caminhos para que o
Brasil se torne o maior produtor e exportador de alimentos do mundo.
Atualmente, o País é o segundo maior exportador de alimentos, porém,
as projeções já o colocam em primeiro lugar para o próximo decênio.

Em meio ao dinamismo inerente à produção agropecuária é impossível


desconsiderar a competividade e os desafios cada vez mais complexos,
os quais exigem competência e profissionalismo para o aporte devido de
melhorias nos sistemas produtivos. Além disso, promover a integração
das cadeias de valor, a inclusão de pequenos e médios produtores, e o
estabelecimento de políticas públicas eficientes são ações preponderan-
tes e que necessitam de ferramentas adequadas para o retorno desejado.
O Brasil perde em média anualmente mais de R$ 11 bilhões devido aos
riscos extremos, o que corresponde a 1% do PIB Agrícola. As ameaças
são em parte bem conhecidas e permitem identificar as oportunidades
e as ações necessárias para mitigá-las, respondê-las ou transferi-las. A
gestão dos riscos agropecuários se apresenta como ferramenta urgente
e sua adoção possibilita o aumento da eficiência das políticas e dos
programas públicos e, simultaneamente, o planejamento e a integração
das mais diversas ações voltadas, prioritariamente, para a estabilidade
da renda do produtor.

É certo que muito já existe quando nos propomos a identificar os esforços


para a redução dos riscos nas atividades agropecuárias, mas também é
certo que muito há que ser feito ainda. Este Manual é uma dessas coisas
que servem como a base para criar um conhecimento no setor público e
privado sobre o que são os diferentes riscos que enfrenta o setor, como
avalia-los e quais são as diferentes estratégias e ferramentas disponíveis
para geri-los e reduzir perdas. Sem este conhecimento básico sobre a
gestão integrada de riscos agropecuários por parte dos principais atores
do setor pode transformar os avanços até o momento alcançados pelo
agronegócio em prejuízos incalculáveis para a sustentabilidade do setor
e, consequentemente, do País.

Martin Raiser,
Diretor do Banco Mundial no Brasil

14    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


PREFÁCIO

Não obstante a importância do agronegócio para a economia brasileira


na criação de empregos qualificados – em cada 3 pessoas empregadas
uma está no agronegócio –, na geração de divisas com exportações, nos
efeitos diretos e indiretos em outros setores e na arrecadação de impostos,
e na tranquilidade que propicia na oferta de alimentos, permanece uma
grande lacuna a ser preenchida pelo seguro privado na gestão de risco e na
mitigação de danos. O agronegócio se tornou um dos pilares da atividade
econômica no Brasil moderno e globalizado. É o nosso soft power, do qual
devemos nos orgulhar e usar como exemplo para outros países.

Este Manual tem um papel importante na descrição e avaliação dos riscos


a que o agronegócio está sujeito – não apenas no Brasil, pois os problemas
se repetem em outros países e regiões – e como o seguro pode ser inserido
e acoplado em medidas preventivas e de mitigação de danos.

O CPES – Centro de Pesquisa e Economia do Seguro, da Escola Nacional


de Seguros, tem o prazer e sente-se prestigiado em oferecer aos analistas
e estudiosos do mercado de seguros e das instituições, publicas e priva-
das, um texto que tem condições de se tornar um clássico.

Prof. Claudio R. Contador, Ph.D.


Centro de Pesquisa e Economia do Seguro

  15
16    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
SUMÁRIO

1. Contexto no qual se insere a agrOPECUÁRIA............. 21


Posição da agropecuária na economia nacional......................... 21
Especificidades da agricultura e o risco.................................... 23
O contexto atual.................................................................... 24

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária........ 27


Como definir o risco?.............................................................. 28
As classificações dos riscos..................................................... 29
Exercícios............................................................................. 40

3. Análise integrada dos riscos: visão global.............. 41


Avaliação do risco.................................................................. 43
Análise das soluções.............................................................. 43
Operacionalização, implantação e monitoramento..................... 43
Realizando um inventário das informações sobre riscos
agropecuários........................................................................ 44

4. Identificação dos riscos............................................... 47


Tendência, restrição e risco: exemplos para análise.................... 48
Categorização e mensuração dos fatores de risco....................... 49
Exercícios............................................................................. 54

5. Gestão integrada dos riscos:


análise das soluções..................................................... 55
Identificação do risco e estratégia de gerenciamento.................. 56
Classificação das estratégias de gerenciamento do risco............. 58
Aplicação da metodologia de análise integrada de riscos:
O caso do Paraguai................................................................ 63
Exercícios............................................................................. 66

  17
6. Risco de produção: mensuração e
mecanismos de gestão................................................... 67
Mudança climática e risco de produção.................................... 67
Como quantificar o risco de produção?..................................... 68
Quais os instrumentos para gerenciar o risco de produção?......... 71
Exercício............................................................................... 78

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e


mecanismos de gestão................................................... 79
Como quantificar o risco de preço?.......................................... 80
Quais os instrumentos para gerenciar o risco de preço?.............. 85
Mercado a termo: definição e exemplo de operação................... 86
Mercado futuro: definição e exemplo de operação...................... 88
Mercado de opções: definição e exemplo de operação................ 90
Mercado de swap: definição.................................................... 91
Mudanças na gestão de riscos nas cooperativas de produtores
em Honduras........................................................................ 92
Exercícios............................................................................. 94

8. Risco de crédito e de liquidez...................................... 95


Classificações do risco de crédito............................................. 96
Um foco no risco de liquidez................................................... 99
Crédito agrícola no Brasil: um breve cenário............................. 99
Exercícios............................................................................. 103

9. Risco operacional e mecanismos de gestão.............. 105


Quais os instrumentos para gerenciar o risco operacional?.......... 107

10. Risco de ambiente institucional / de negócios......... 109


11. Apresentação didática de mecanismos de gestão
de risco utilizados no brasil e em outros países.... 111
Colômbia: desenvolvimento de capacidade de sistemas
sanitários e fitossanitários (SSF) como estratégia para a
redução do risco sanitário na pecuária...................................... 111
México: Fundo para Contingência Climática destinado aos
pequenos agricultores (CADENA)............................................. 113
Mongólia: Programa de Seguro Baseado em Índice de Criação
de Gado (IBLIP)..................................................................... 117
México: Suporte para Contratação Futura (com contratos
a termo) e hedging de preços.................................................. 119

12. REFERÊNCIAS..................................................................... 127

13. GABARITOS DOS EXERCÍCIOS.............................................. 131


Índice de GRÁFICOS
Gráfico 1. Evolução do PIB do agronegócio no Brasil entre 1995 e 2015..... 21
Gráfico 2. Evolução das exportações do agronegócio no Brasil
entre 1997 e 2015................................................................ 22
Gráfico 3. Produção mundial (milhões de sacas 60 kg) e preços do café
na Bolsa de Nova Iorque (1901 a 2012)................................... 50
Gráfico 4. Evolução do rendimento por hectare do milho (safra inverno)
no Mato Grosso entre 1991 e 2016......................................... 70
Gráfico 5. Evolução da volatilidade dos mercados de café e milho entre
jul/05 e mai/16...................................................................... 82

Índice de FIGURAS
Figura 1. Método proposto pelo Banco Mundial para gestão integrada
do risco nas atividades agropecuárias........................................ 42
Figura 2. Etapas no processo de identificação dos riscos........................... 47
Figura 3. Análise da severidade das perdas financeiras por tipo de
commodity e evento................................................................ 52
Figura 4. Método holístico para análise da gestão do risco nas atividades
agropecuárias......................................................................... 56
Figura 5. Diferentes níveis de risco e estratégias de gerenciamento............ 57
Figura 6. Estratégias de gestão de risco conforme a severidade do
impacto da ocorrência do evento.............................................. 58
Figura 7. Riscos, instrumentos, estratégias e stakeholders........................ 59
Figura 8. Projeções do clima por região no ano 2100............................... 68
Figura 9. Formas de financiamento de um negócio................................... 97
Índice de QUADROS
Quadro 1. Tipologia dos riscos agropecuários no Brasil............................. 30
Quadro 2. Tipos de riscos presentes na atividade agropecuária a partir
dos agentes envolvidos.......................................................... 32
Quadro 3. Principais categorias de riscos enfrentados pelas cadeias
de suprimento da agricultura.................................................. 35
Quadro 4: Dados e informações para análise de risco............................... 45
Quadro 5. Exemplo de método para avaliação do grau de severidade de
um evento de risco................................................................ 51
Quadro 6. Exemplo de análise dos fatores de risco conforme probabilidade
do evento e nível da perda financeira....................................... 51
Quadro 7. Exemplos de ranking de prioridades em relação aos
tipos de evento..................................................................... 53
Quadro 8. Ferramentas de gestão de risco, conforme nível institucional
e grupos de estratégia............................................................ 62
Quadro 9. Frequência e impacto dos riscos - Paraguai.............................. 64
Quadro 10. Estratégia de gestão de risco - Paraguai................................... 65
Quadro 11. Características dos programas brasileiros de seguro de produção.. 74
Quadro 12. Componentes de Subsídio, Programa AxC, ASERCA.................. 123
Quadro 13. Benefícios e desafios do programa mexicano de
suporte de preços.................................................................. 125

Índice de Tabelas
Tabela 1. Perda de produção e monetária nos eventos de quebra de
produtividade no estado do Mato Grosso entre 1991 e 2016..... 70
Tabela 2. Variação acumulada real de índices de preço relativos às
commodities agrícolas entre as décadas de 1960 e 2010......... 80
22    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
1 Contexto no qual se
insere a agrOPECUÁRIA

Posição da agrOPECUÁRIA na economia nacional


A atividade agropecuária é um setor estratégico para a economia e a
sociedade brasileira. Em 2015, tal atividade foi responsável por aproxi-
madamente 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e 39% das ex-
portações, e pela ocupação de 16 milhões de pessoas. Está na base do
chamado agronegócio, o qual, no mesmo ano, gerou aproximadamente
21% do PIB (Gráfico 1), respondeu por 46% das exportações brasileiras
(Gráfico 2) e empregou aproximadamente 40% da população econômica
ativa do país.

Gráfico 1. Evolução do PIB do Agronegócio no Brasil entre 1995 e 2015

Fonte: CEPEA/ESALQ/USP (2016)

  21
Tais dados revelam o papel e a contribuição da agropecuária para a eco-
nomia nacional, regional ou local. Esses indicadores permitem prever o
que está em jogo e as perdas potenciais associadas a eventos adversos
que comprometem o desempenho do setor. Para se ter uma ideia das
possíveis perdas geradas, um estudo da FAO (2015) mostrou, a partir
de 78 avaliações das necessidades pós-catástrofe em 48 países em
desenvolvimento, que 25% dos danos advindos de desastres naturais
ocorridos entre 2003 e 2013 recaíram sobre a agropecuária, levando
a US$70 bilhões de prejuízo nessas atividades. Estima-se que 44%
destas perdas foram causadas por seca e 39% por enchentes. No Bra-
sil, uma análise do Banco Mundial et al. (2015) evidenciou uma perda
anual próxima a R$11 bilhões (1% do PIB Agrícola) devido a eventos
extremos.

Gráfico 2. Evolução das Exportações do Agronegócio


no Brasil entre 1997 e 2015

Fonte: MAPA (2016)

Também é relevante entender os fatores macroeconômicos que afetam


o desempenho da agricultura, dentre os quais se destacam: a trajetória
e conjuntura da economia nacional e mundial; a política econômica, em

22    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


particular a política cambial e fiscal; o contexto político e institucional; a
situação fiscal e os indicadores sociais, especialmente os do meio rural.

Deve-se ter claro que o desempenho econômico e social da agricultura


é determinado pela combinação do conjunto de fatores indicados e do
conjunto de riscos que têm impacto significativo sobre os resultados do
setor. Eventos climáticos, por exemplo, podem determinar perdas rele-
vantes na produção, nas exportações e na ocupação (direta e indireta),
além de maior volatilidade na produção e renda dos produtores, elevação
de preços para os consumidores e insegurança alimentar.

Especificidades da agricultura e o risco

Dependência da Natureza. A atividade agrícola é fortemente marcada


por uma especificidade que a diferencia da produção industrial e do setor
de serviços: a forte dependência da natureza, seja da terra – cuja oferta
é relativamente rígida – seja do clima e dos processos biológicos, os
quais, por serem extremamente dinâmicos, em conjunto desempenham
um papel ativo na organização, processo de produção e resultados da
agricultura. Em particular, essas características implicam: (i) uma maior
rigidez do processo produtivo, tendo como consequência menor flexibi-
lidade para ajustar-se aos ciclos da economia e às mudanças nas con-
junturas dos mercados relevantes; (ii) sazonalidade da produção, a qual
ainda hoje, em muitos ramos, é inteiramente determinada pela natureza;
(iii) a dependência de processos biológicos que são responsáveis diretos
pelas operações mais importantes do processo produtivo.

Riscos. Esta dependência se reflete nos riscos que cercam a atividade da


agricultura, que tendem a ser maiores do que o do conjunto das demais
atividades. A produção fica exposta às chuvas e à falta delas, ao frio e
ao calor, ao ataque de pragas; tem maior dificuldade para responder
rapidamente às conjunturas favoráveis do mercado, ou para se ajustar
às negativas; incorre em custos adicionais para lidar com a sazonalidade
da produção, levando, em muitas ocasiões, a um descasamento entre os
fluxos de despesas e receitas. Por isto, a agricultura é uma ilha em um
mar de riscos.

1. Contexto no qual se insere a agrOPECUÁRIA   23


O contexto atual

Atividade Intensiva em capital. No passado, a agricultura era uma ati-


vidade intensiva em terra e trabalho, fatores que eram abundantes e
baratos. Os maiores riscos eram associados ao clima e às flutuações dos
mercados, cujos impactos econômicos eram suavizados pela baixa imo-
bilização de capital, pelo baixo custo de produção e pelas relações inter-
setoriais relativamente débeis. A agricultura moderna e contemporânea
se caracteriza pelo uso intensivo do capital, em todas as suas modalida-
des: o capital fixo, capital fundiário – resultado da transformação da terra
por investimentos e aplicação de tecnologia –, capital ambiental, capital
humano, capital circulante e capital financeiro. A utilização intensiva de
capital implica, por si só, em riscos mais elevados, uma vez que o custo
de eventos adversos é maior.

Relações intersetoriais complexas e efeitos em cadeia. A atividade


agropecuária caracteriza-se, também, pela intensificação das relações
a jusante e a montante, como parte de uma cadeia produtiva bem mais
ampla, que envolve indústrias e serviços e mobiliza um número mui-
to maior de pessoas do que as diretamente empregadas na produção

Dados e leituras complementares

Informações a respeito da importância da agricultura para o País podem


ser acessadas a partir de diversas fontes, entre as quais:

• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA):


www.mapa.gov.br
• Ipeadata: www.ipeadata.gov.br
• Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB): www.conab.gov.br
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): www.ibge.gov.br
• Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário:
www.mda.gov.br
• Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Esalq/USP):
cepea.esalq.usp.br/pib

24    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


De forma a aprofundar as análises a respeito do contexto atual da agricul-
tura, suas relações intersetoriais e sua nova dinâmica, acesse os seguintes
estudos:

ZYLBERSZTAJN, D. Coordenação e Governança de Sistemas Agroin-


dustriais. In: Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves; José Maria da
Silveira; Zander Navarro. (Org.). O mundo rural no Brasil do século
21: A formação de um novo padrão agrícola e agrário. 1ª ed. Brasí-
lia, 2014. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publica-
coes/-/publicacao/994073/o-mundo-rural-no-brasil-do-seculo-21-a-
formacao-de-um-novo-padrao-agrario-e-agricola

SAES, M. S. M.; SILVEIRA, R. L. F. Novas formas de organização


das cadeias agrícolas brasileiras: tendências recentes. In: Antônio M.
Buainain; Eliseu Alves; José M. da Silveira; Zander Navarro (Org.). O
mundo rural no Brasil do século 21: A formação de um novo padrão
agrícola e agrário.. 1ª ed. Brasília: Embrapa, 2014.

JAFFEE, S.; SIEGEL, P.; ANDREWS, C. Rapid Agricultural Supply


Chain Risk Assessment: a conceptual framework. World Bank, 2008.
Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/INTCOMRISMAN/
Resources/RapidAgriculturalSupplyChainRiskAssessmentConceptual-
Framework.pdf

primária. Isto significa que eventos adversos, em geral, propagam-se


para os demais setores da economia, potencializando e multiplicando os
impactos que incidem diretamente sobre a agricultura. Ainda que este
manual tenha como foco o risco na atividade primária, é preciso levar em
conta as implicações de eventos adversos na agricultura sobre as cadeias
produtivas, tanto em termos organizacionais, de governança, custos, efi-
ciência como de competividade em geral.

Uma nova ordem global e institucional. A agricultura está inserida em


uma nova ordem global, que condiciona sua dinâmica, desempenho e
interfere nos riscos em geral. Destacam-se, em particular, alguns fatores:

(i) o ambiente criado pelo multilateralismo e o peso crescente das


regras fixadas em acordos internacionais e na legislação nacional;

1. Contexto no qual se insere a agrOPECUÁRIA    25


(ii) controles e regras regulando os principais aspectos que envol-
vem toda a cadeia do agronegócio, desde o ambiente, segurança
alimentar, saúde, relações de trabalho, comércio e propriedade
intelectual;

(iii) mudanças climáticas globais, com aumento de eventos extremos;

(iv) pressões sociais com suficiente força para impor regras, atitudes,
legitimar ou refutar opções tecnológicas e etc.;

(v) valorização do consumidor como stakeholder central da cadeia de


valor do agronegócio. Este novo ambiente interfere diretamente
nos riscos agropecuários, em particular nos riscos institucionais,
tecnológicos e de produção.

26    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


2 Conceitos de riscos
aplicados à agropecuária

O agricultor busca o lucro. A atividade agropecuária, à semelhança de


outros processos produtivos, orienta-se pelo objetivo geral de gerar lucro,
o que pode ser alcançado mediante várias estratégias que envolvem dife-
rentes combinações de atividades produtivas, horizontes temporais, tec-
nologia etc.. Ainda que seja uma simplificação, pode-se de fato considerar
que, na esfera produtiva, os agricultores buscam o máximo rendimento
dos fatores de produção ao menor custo associado, e na esfera comer-
cial buscam a obtenção do maior preço de venda do produto. O objetivo
consiste, portanto, em maximizar receita e minimizar custo, perseguindo,
assim, o máximo lucro. Este objetivo, socialmente determinado e condicio-
nado pelos fatores institucionais arrolados, não exclui outros objetivos que
os produtores possam ter, como, por exemplo, a segurança alimentar da
família, e que também interferem em suas decisões e opções.

A gestão de risco é intrínseca à atividade agropecuária. Dados os re-


cursos disponíveis e as variáveis do contexto, os resultados da atividade
agropecuária estão relacionados à qualidade das diversas decisões dos
agricultores, antes, durante e após o processo produtivo, e que se referem
às três questões básicas da economia: O que produzir? Como produzir?
Para quem produzir? Tais decisões, que dizem respeito à definição de qual
produto produzir, à tecnologia a ser empregada, à forma de financiamento
e à estratégia de comercialização, entre outros fatores, são envolvidas,
influenciadas e modificadas por diversos tipos de riscos. Ou seja, ao tomar
estas decisões, os agricultores levam em conta os riscos e fazem, portanto,
uma gestão integrada do risco. Por isto, é possível afirmar que a gestão do
risco é inseparável da gestão da produção agropecuária, não importando o
tipo e/ou tamanho do produtor.

  27
como definir o risco?

O conceito de risco. Em termos intuitivos, o risco é em geral entendido


como a possibilidade de o resultado final ser diferente daquele esperado
devido à interveniência de fatores aleatórios e imprevistos. De forma
geral, e com maior rigor, o risco da atividade agropecuária pode ser
definido como uma medida de dispersão dos possíveis resultados que
o agricultor pode obter em relação a um resultado esperado. Trata-se
de uma incerteza possível de ser mensurada. Além do caráter de perigo,
que tradicionalmente é associado a este conceito, confere-se também
a oportunidade que a sua exposição pode levar na busca de inovações
e de maiores retornos. As ações dos agentes envolvidos nas cadeias

Incerteza e risco
Qual a diferença entre incerteza e risco? A maior parte das decisões eco-
nômicas relevantes envolve o futuro, e o futuro remete, necessariamente, à
incerteza. Trabalhar com o futuro exige algum tipo de previsão, que pode ser
simples, complexa ou mesmo impossível. A incerteza está associada, ainda,
à imperfeição das informações, seja porque são mesmo insuficientes, seja
porque a capacidade de analisá-las é limitada. Portanto, todas as decisões
que envolvem o futuro se dão em um contexto de incerteza. E a incerteza
remete, necessariamente, ao risco.
Em muitas situações é possível estimar, com certa objetividade, a probabi-
lidade de ocorrência dos eventos futuros incertos. Nestes casos, a incerteza
se transforma em risco, que pode ser definido como a incerteza mensu-
rável. Do ponto de vista macroeconômico, a distinção é mais sútil e foi
qualificada por Keynes, para quem o risco se refere a uma situação na
qual a probabilidade de eventos futuros pode ser mensurada com base em
probabilidades objetivas, enquanto a incerteza se refere a uma situação
cuja previsão está associada a estimativas subjetivas. “O jogo de roleta
não é sujeito, neste sentido, a incerteza ..., e a expectativa de vida é apenas
levemente incerta. Mesmo a previsão do tempo é apenas moderadamente
incerta. O sentido em que estou usando o termo (incerteza) é o de que a
perspectiva de uma guerra europeia é incerta assim como o preço do cobre
e a taxa de juros daqui a vinte anos... Sobre esses assuntos não há base
científica para estabelecer nenhum cálculo de probabilidade, qualquer que
seja. Nós simplesmente não sabemos.”

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Incerteza

28    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


agroindustriais dependem, em primeiro lugar, de como esses atores per-
cebem os riscos. A partir da percepção, as medidas devem ser pautadas
com vistas à otimização da relação retorno-risco, sendo fundamental,
neste processo, uma gestão que trate de maneira adequada os elemen-
tos propulsores de risco, analisando-os de uma perspectiva dual (retorno
-risco) e integrada (DAMODARAN, 2009).

as Classificações dos riscos

Os riscos relativos à agropecuária podem ser classificados de duas formas.


A primeira leva em conta as origens dos fatores de risco, enquanto a
segunda considera a natureza do risco (IBGC, 2007). Sob a análise das
origens do risco, os fatores geradores de risco são separados em externos
e internos ao processo produtivo, e em relação à natureza, os riscos são
classificados em três grandes grupos: risco de produção, risco de mercado
e risco do ambiente de negócios (ver Quadro 1).

Riscos externos. No grupo dos riscos externos, consideram-se os eventos


econômicos, políticos, sociais, setoriais e climáticos, que impactam o qua-
dro competitivo, institucional/legal, organizacional e tecnológico no qual o
agente se encontra. Exemplos disso são um possível aumento da alíquota
de imposto sobre defensivos agrícolas, uma variação da taxa de câmbio
da economia, a descoberta de uma nova variedade de semente, as condi-
ções de seca de uma região produtora, etc.. A característica básica desses
elementos está associada ao fato de o agricultor não ter capacidade de
alterá-los e, sim, somente de administrá-los. O agricultor não pode evitar
a seca, mas pode optar por uma tecnologia adequada para situações que
são tradicionalmente qualificadas como “seca”, reduzindo ou até mesmo
anulando os efeitos da estiagem sobre a produção. Trata-se de um aspecto
da gestão do risco.

Riscos internos. Os riscos internos ao processo produtivo, também conhe-


cidos como riscos do negócio, advêm de práticas que ocorrem dentro da
unidade produtiva – tais como ações relativas à comercialização, finan-
ciamento, escolha da tecnologia de produção, gestão de custos, gerencia-
mento do processo produtivo e da qualidade dos produtos, dentre outros
elementos.

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária   29


Quadro 1. Tipologia dos riscos agropecuários no Brasil

Riscos
Grupos de Eventos
riscos (Distribuição
(Exemplos no Brasil)
temática)
Climáticos e Secas, geadas, excesso e chuva, ventos
incêndios fortes.
Sanidade animal Aftosa, BSE (vaca louca), Newcastle, etc.
Risco de
Sanidade vegetal Pragas e doenças (lagarta Helicoverpa)
produção
Gestão da produção Mudança nas outorgas de água, na
e de recursos assistência técnica, na fiscalização, na
naturais disponibilidade de mão de obra

Comercialização Variação dos preços dos produtos


(preço de insumos e e insumos, taxas de câmbio, taxas
produtos) e crédito de juros, mudanças nos termos dos
Risco de créditos.
Mercado Comércio exterior Fechamento de mercados de
exportação e mudanças de acesso à
importação de insumos.

Logística e Greves nos portos, fechamentos nas


infraestrutura rodovias/ferrovias/hidrovias, mudanças
nos incentivos à armazenagem
Ambiente Marco regulatório, Mudanças em leis/regulamentações
de políticas, (ambientais, trabalhista, insumos,
Negócios instituições e grupos terra), mudanças em instituições
de interesse públicas e apoio (MAPA, MDA, MME,
ANA), modificações na interpretação de
normativas.

Fonte: Banco Mundial, MAPA e EMBRAPA (2015)

Natureza do risco: risco de produção, risco de mercado e risco do am-


biente de negócios. Os dois primeiros tipos resultam no chamado risco
financeiro da atividade. Por um lado, o risco de produção está associado
à possibilidade do volume produzido planejado não se efetivar devido à
ocorrência de um evento climático, de incidência de doença ou praga ou

30    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


ainda de falhas operacionais. Por outro lado, o risco de mercado (também
chamado de risco de preço) deve-se basicamente ao grau de variabilida-
de dos preços dos insumos, dos produtos agrícolas, da taxa de câmbio,
da taxa de juros, etc.. Esse tipo de risco possui destaque na agricultura
devido a dois fatores, que restringem o tempo e elevam o custo para a
comercialização do bem: (i) perecebilidade de boa parte dos produtos; (ii)
os custos associados ao armazenamento necessário para desconcentrar no
tempo a oferta agrícola. Observa-se ainda que o risco de preço também
está associado à própria organização do negócio, em particular às fontes e
modalidades de financiamento utilizadas. A utilização de capital de tercei-
ros na estrutura de capital do negócio, mediante captação de empréstimos
bancários, introduz o risco relativo à alavancagem financeira na atividade,
sendo este associado às oscilações não desejáveis das taxas de juros e de
câmbio (no caso de captação externa) e à possibilidade da não renova-
ção dos empréstimos (HARDAKER ET AL., 2004). O risco do ambiente
institucional, por sua vez, tem base na possibilidade de alterações não
previstas em leis/regulamentações em certa região ou ainda em mudanças
do marco regulatório que rege a economia nacional e o comércio mundial.

Riscos adicionais: risco operacional e de crédito. Outros tipos de risco


também podem ser observados na atividade agropecuária. Um deles é
o risco operacional do negócio, que está associado à possibilidade de
ocorrência de falhas humanas ou de sistemas em processos relativos à
gestão e/ou operação da atividade. Destaca-se que tal risco está presente
tanto em aspectos da gestão do negócio – na administração do capital de
giro do negócio, no planejamento e controle das operações, no gerencia-
mento dos custos da atividade, na logística, entre outros pontos –, como
também no processo produtivo em si quando da adoção, por exemplo, de
uma nova tecnologia. Existe ainda o risco de crédito, que está associado a
duas principais possibilidades. A primeira se refere à possiblidade de que
a contraparte (indústria, trading ou fornecedor) não honre o contrato esta-
belecido com o produtor rural. A segunda emerge da possibilidade de que
o agricultor não obtenha crédito suficiente para executar sua atividade.
Tais eventos podem ser causados por uma conjugação de fatores internos
e externos ao negócio, alguns controláveis pelos agricultores e outros não.

Classificação alternativa. O Quadro 2 apresenta os riscos com uma tipo-


logia diferente, que também é útil para compreender os riscos presentes

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária   31


na atividade agropecuária. Nesta análise, classificam-se os tipos de risco
conforme a sua origem e como incidem sobre os diferentes agentes e
níveis de agregação: produtor individual (micro), comunidade específica
(meso) e região/país (macro). Observa-se que a ocorrência de alguns
eventos tem maior abrangência e, portanto, maior impacto potencial.
Um bom exemplo é o de mudanças na política macroeconômica, que
incidem diretamente sobre a taxa de juros e a disponibilidade, custo
e acesso ao crédito. Outros riscos, como aqueles associados a eventos
climáticos extremos, podem ocorrer tanto em uma área bastante especí-
fica, atingindo apenas alguns produtores individuais, como alcançar toda
uma comunidade ou região.

Quadro 2. Tipos de riscos presentes na atividade


agropecuária a partir dos agentes envolvidos

Micro Meso Macro


Tipo de risco
(Indivíduo) (Comunidade) (Região/país)
Mudança Mudanças nos
no preço da preços dos insumos
Mercado/ terra, novas e do produto final
Preço demandas da (choques), novos
indústria de mercados, etc.
alimentos

Granizo, geada, Poluição, Inundação, seca,


doenças não- chuvas, pestes, doenças
Produção contagiosas, deslizamento contagiosas,
riscos pessoais de terras tecnologia
(doença, morte)

Mudanças na Mudanças nas


Financeiro renda advinda taxas de juros/
de outros ativos acesso ao crédito

Mudanças na Mudanças políticas/


Institucional/ política local e regulações/lei
legal nas regulações ambiental
locais

Fonte: OECD (2009)

32    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Risco na Cadeia Produtiva do Agronegócio. Como já indicado, os riscos
da agropecuária têm potencial para se propagar por toda a cadeia do
agronegócio, tanto para os segmentos a montante como a jusante. Uma
quebra de safra por razões climáticas afetará, imediatamente, a capaci-
dade de os agricultores honrarem os compromissos financeiros assumi-
dos durante o processo, tendo como lastro a expectativa da colheita; a
redução da renda em decorrência de evento catastrófico poderá afetar,
também, a venda de máquinas e insumos agropecuários, em especial
se as linhas de crédito forem também comprometidas pela eventual ina-
dimplência. A agroindústria e os traders também poderão ser atingidos,
tanto pela redução da oferta como pela elevação dos preços. Em alguns
casos, o impacto pode ser ainda mais grave na ausência de fontes alter-
nativas de suprimento. E, claro que a conta chegará ao consumidor e à
sociedade em geral.

Os riscos ao longo da cadeia são relativamente complexos e, em muitos


segmentos, demandam mecanismos de coordenação específicos e se
refletem na própria forma de organização dominante. Algumas agroin-
dústrias utilizam matérias-primas cujo processo de produção precisa se
adequar a procedimentos técnicos estritos e rigorosos para assegurar a
qualidade/especificidade desejada. A utilização de matéria-prima fora
do padrão pode implicar custos elevados e para reduzir este risco as
empresas processadoras lançam mão de vários mecanismos, desde
contratos de produção com provisão de assistência técnica e liberdade
para monitorar o processo produtivo, valorização da reputação até a
montagem de laboratórios especializados para identificar a presença
de atributos indesejáveis na matéria-prima. Em outros casos, o nível de
especificidade da matéria-prima envolvida, o custo de monitoramento
e o custo da ocorrência de eventos indesejáveis são tão elevados que
inviabilizam a operação da cadeia com base em transações nos mer-
cados e em contratos, obrigando a verticalização de parte relevante do
processo produtivo.

Transmissão de riscos nas cadeias do agronegócio. Os riscos são trans-


mitidos e captados por vários canais, sendo os mais importantes o pró-
prio mercado nos quais os preços das mercadorias flutuam e são trans-
mitidos entre os agentes; a perda de qualidade do produto devido a
problemas logísticos, mas também por fatores climáticos, tecnológicos e

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária   33


operacionais; acesso ao mercado restringido pela ocorrência de proble-
mas sanitários; quebra de produção devido a eventos climáticos adver-
sos e restrições institucionais, em particular pressões sociais associadas
a temas ambientais, indígenas e sociais. O Quadro 3 sintetiza como os
vários riscos já mencionados incidem sobre a cadeia de suprimento da
agricultura.
Quadro 3. Principais categorias de riscos enfrentados
pelas cadeias de suprimento da agricultura

Tipo de risco Eventos

Risco associado Déficit periódico e/ou excesso de chuvas ou temperatura, tempes-


ao clima tade de granizo, ventos fortes

Desastre natural
(incluindo eventos Grandes inundações e secas, ciclones, tufões, terremotos, ativi-
climáticos dade vulcânica.
extremos)

Pestes e doenças nas atividades agrícolas e pecuária; contami-


nação associada ao problema sanitário; contaminação humana;
Risco biológico e
contaminação e degradação dos recursos naturais e do meio am-
do meio ambiente
biente; contaminação e degradação da produção e do processo
produtivo.

Mudanças na oferta e/ou demanda que impacta os preços domés-


ticos e/ou internacionais dos insumos e/ou dos produtos, mudan-
Riscos ças na demanda de mercado (quantidade e qualidade), mudanças
relacionados ao nos requisitos associados à segurança alimentar; mudanças na
mercado demanda de mercado relativas ao tempo de distribuição do pro-
duto; mudanças de reputação e confiança relativas à cadeia de
suprimento.
Mudanças nos custos de transporte, comunicação e de energia;
Risco da logística degradação do transporte, comunicação e infraestrutura de ener-
e da infraestrutura gia; destruição física, conflitos, disputas trabalhistas que afetam
transportes, comunicação, infraestrutura de energia e serviços.
Decisões ineficientes relativas à alocação dos ativos e uso de in-
sumos; controle de qualidade deficiente; erros de planejamento e
Risco de gestão e de previsão; avaria nos equipamentos da fazenda ou da empresa;
operacional uso de sementes obsoletas; falta de preparação para mudança
de produto, processo e mercado; incapacidade de adaptação às
mudanças nos fluxos financeiros e de trabalho.
Mudança e/ou incerteza acerca das políticas monetárias, fiscais,
Riscos
financeiras (crédito, poupança e seguro), regulatórias e legais, co-
institucionais e de
merciais, de terras, etc. Fraca capacidade institucional para im-
política pública
plantar regras regulatórias.
Instabilidade sócio-política do país ou em países vizinhos, in-
terrupção de comércio em razão de disputas com outros países,
Risco político
confisco de ativos especialmente em relação a investidores es-
trangeiros

Fonte: adaptado de JAFFEE, S.; SIEGEL, P.; ANDREWS (2008).

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária   35


O risco ambiental no século XXI

D urante milênios, o balanço da relação homem/Natureza era claramente


positivo: o uso limitado de recursos naturais abundantes assegurou a
reprodução e a evolução do homem com impactos pouco relevantes sobre
o meio ambiente, de alcance local e sem repercussões sistêmicas. O uso
intensivo dos recursos naturais propiciados pelo vertiginoso progresso tec-
nológico, ao lado da inegável melhoria das condições de vida da sociedade,
produziu também resultados negativos que hoje se manifestam, por exem-
plo, nas mudanças climáticas globais e na perda da biodiversidade. Os ris-
cos ambientais crescentes ameaçam a sustentabilidade e turvam o horizonte
para a humanidade. Mas o que vem a ser o risco ambiental? Quais as suas
causas? E suas consequências?
O meio ambiente sempre foi e continua sendo o provedor de um amplo
conjunto de serviços – os chamados serviços ambientais –, essenciais e
insubstituíveis para a sociedade, porque incluem a amenidade climática, a
produção de alimentos e matérias-primas de origem agropecuária, a água
doce e pura, entre outros. Em última análise, o risco ambiental representa
os potenciais efeitos da dinâmica ambiental, afetada ou não pela ação an-
trópica, sobre as condições necessárias para a sustentação da vida e sobre
a dinâmica socioeconômica. Sempre convivemos com certo risco ambiental,
mas o dado novo é a exacerbação deste risco devido à ação do homem sobre
o meio ambiente, o que de certa forma o descola da dinâmica dos eventos
que no passado eram fundamentalmente determinados por fatores naturais.
Neste contexto, a provisão de muitos dos serviços ambientais necessários
para equilibrar as forças da Natureza tem sido comprometida, elevando os
riscos e os custos sociais e econômicos envolvidos.
A expressão mais clara do risco ambiental aparece nos chamados “desas-
tres naturais”, cuja ocorrência, escala e gravidade têm aumentado no perí-
odo mais recente. Ainda que continuemos denominando tais eventos como
“desastres naturais”, já não é possível atribui-los apenas à fúria dos deuses
ou à dinâmica natural do meio ambiente. Tampouco é possível considerá-los
como fenômenos exógenos, aleatórios e independentes, pois no período re-
cente refletem fundamentalmente os desequilíbrios provocados pela ação
humana sobre a Natureza, especialmente na escala local e regional.
A sobreutilização dos recursos naturais tem elevado o risco ambiental na
agricultura, por exemplo, aumentando a probabilidade de faltar água para
irrigação, reduzindo a fertilidade do solo em função de processos erosivos
associados ao manejo inadequado do solo, multiplicando a ocorrência de

36    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


pragas e doenças decorrente da maior homogeneidade das lavouras e da
redução da biodiversidade, entre outros eventos. A mesma dinâmica tem
ocorrido na área urbana, onde o risco ambiental decorrente da ação humana
tem resultado em elevadas perdas humanas e econômicas.
O risco ambiental no século XXI tem se manifestado também em maior
incerteza na tomada de decisão, na ocorrência cada vez mais frequente de
eventos extremos e abrangentes, cujos resultados em alguns casos têm sido
catastróficos para a sociedade, e nos potenciais efeitos globais e regionais
das mudanças climáticas. Não significa que todos os desastres naturais te-
nham sua origem na ação humana, mas o aumento da escala humana no
uso dos recursos naturais e na transformação do meio ambiente tem ampli-
ficado os seus efeitos sociais e econômicos. Neste sentido, a efetivação do
risco ambiental tem sido catastrófica para a sociedade, como já verificado
em algumas regiões brasileiras.
A natureza e o alcance do risco ambiental também mudam, da escala
micro para a macro, e da dimensão local para a meso e global. A ocorrência
de eventos adversos associados ao que estamos denominando, lato senso,
de risco climático, por exemplo, causa danos que vão bem além da escala
micro e, na maioria dos casos, o seguro cobre apenas o dano financeiro, não
raramente o menor deles. O problema é que para este novo risco ambiental
ainda não existe seguro capaz de proteger a sociedade, uma vez que não
pode ser tratado privadamente, porque seus efeitos afetam toda a coletivida-
de. A falta de chuva ou de água, por exemplo, em uma região afeta toda a
população e todas as atividades econômicas.
O custo social e econômico tem sido crescente. O risco ambiental tem
sido tratado como uma externalidade negativa, que não é internalizado nos
processos decisórios. A sociedade não tem adotado medidas adequadas
para enfrentar essa nova realidade. Não há ações ou planejamento para
a prevenção, mas apenas a remediação diante da ocorrência dos eventos.
Contudo, mesmo o seguro, o instrumento de gestão de risco mais utilizado,
pode apenas minimizar as perdas econômicas privadas, mas não cobrem as
perdas econômicas ou não econômicas que afetam a coletividade. Se falta
água para uso doméstico, é possível até buscar reparação pecuniária junto à
empresa responsável, mas esta reparação não resolverá o problema central
do desconforto e queda de bem-estar provado pela falta de água. Este ce-
nário amplifica a urgência do tratamento mais adequado do risco ambiental
pela sociedade, na tentativa de minimizar as perdas proporcionadas por esta
nova realidade.
O seguro ambiental corresponde à obrigação de reparação ou indenização
aos agentes afetados por parte do agente causador, a fim de possibilitar as

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária   37


correções causadas pelos danos ambientais. Essa definição está amparada
no princípio do poluidor-pagador, uma vez que o causador do dano ambien-
tal seria responsável pela reparação ou indenização dos agentes afetados.
No entanto, o risco ambiental do século XXI e sua eventual efetivação não
estão necessariamente vinculados à ação de um único agente ou pequeno
grupo de agentes, como preconiza o princípio do poluidor-pagador, porque
a origem do dano ambiental é coletiva. Deste modo, como responsabilizar
toda uma sociedade pelos danos ambientais causados por suas ações?
O modelo vigente de seguro ambiental está amparado apenas nas ações
dos agentes individualizáveis, a fim de evitar ou restringir comportamentos
ou práticas negligentes que possam elevar o risco ambiental. Observa-se
que apenas aquilo que é inadequado do ponto de vista institucional é consi-
derado no seguro ambiental. Neste sentido, as emissões de gases de efeito
estufa decorrente do uso dos veículos automotores não são consideradas
ações inadequadas. Apesar disso, as emissões estão na base das mudanças
climáticas locais, tais como o efeito estufa local, aumento da concentração
de poluentes, problemas respiratórios, entre outros. E têm impactos sobre o
custo dos seguros, arcados privadamente, e sobre os riscos agropecuários.
Neste contexto, apenas o aprimoramento das modalidades de seguro am-
biental não é suficiente para o enfrentamento dos novos desafios, porque as
fontes de risco ambiental são coletivas, não têm reconhecimento institucio-
nal e não são de fácil identificação. Desse modo, ao lado do aprimoramento
do seguro ambiental, que melhor amenizaria o risco privado, já conhecido,
é preciso cobrir o risco coletivo, que proporciona os prejuízos coletivos de
maior magnitude e que não são cobertos pelas apólices privadas. Como se-
gurar este risco cujo agente causador é a própria coletividade? Quem pagaria
pelo sinistro ambiental resultante das mudanças climáticas, por exemplo?
Neste contexto, a indústria de seguro tem um papel relevante a desempe-
nhar para a redução de risco e pode incluir, em muitas apólices privadas,
condicionantes e incentivos para controlar e mitigar o risco ambiental. Tal
como vem fazendo com a segurança no trânsito, bonificando os motoristas
que dirigem com cuidado e incentivando a boa manutenção dos veículos.
Mas é preciso ter claro que este risco nunca será coberto de forma adequada
pelo seguro, e que por isto mesmo é preciso reforçar as ações de prevenção,
mitigação não financeira e conscientização da sociedade em relação aos
riscos envolvidos no novo risco ambiental.

Fonte: a partir de Buainain, A.M. e Ruiz, J. G. (2016). O risco ambiental no século


XXI. Cadernos de Seguro, No 189, Julho/Agosto de 2016, Ano XXXVI, Escola Nacio-
nal de Seguros. ISSN 0101-5818.

38    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Leituras complementares
Análises adicionais sobre o conceito de risco e os aspectos relativos a tal
temática na agricultura podem ser consultadas em:

BANCO MUNDIAL, MAPA e EMBRAPA. Revisão Rápida e Integrada


da Gestão de Riscos Agropecuários no Brasil. Caminhos para uma
visão integrada. Brasília, 2015.

BUAINAIN, A. M.; PEDROSA, M. T. M.; VIEIRA JUNIOR, P. A.; SIL-


VEIRA, R. L. F.; NAVARRO, Z. Quais os riscos mais relevantes nas
atividades agropecuárias? In: Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves;
José Maria da Silveira; Zander Navarro (Org.). O mundo rural no
Brasil do século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrí-
cola. 1ª ed. Brasília: Embrapa, 2014. Disponível em: https://www.
embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/994073/o-mundo
-rural-no-brasil-do-seculo-21-a-formacao-de-um-novo-padrao-agra-
rio-e-agricola

BUANAIN, A. M.; Vieira, P. A.; Cury, W. J. M. Gestão do risco e se-


guro na agricultura brasileira. RJ. Funenseg, 2011.

DAMODARAN, A. Gestão estratégica do risco: uma referência para


a tomada de riscos empresariais. SP. Bookman, 2009.

JAFFEE, S.; SIEGEL, P.; ANDREWS, C. Rapid Agricultural Supply


Chain Risk Assessment: a conceptual framework. World Bank,
2008. Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/INT-
COMRISMAN/Resources/RapidAgriculturalSupplyChainRiskAssess-
mentConceptualFramework.pdf

OECD. Managing risk in agriculture: a holistic approach. OECD,


2009.

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária   39


Exercícios

1) Conforme o Instituto de Economia Agrícola, “A febre aftosa é uma


doença de grande importância na pecuária de corte, por ser de dis-
seminação rápida e impor a necessidade de eliminação dos animais
contaminados com perda total da produção. Os principais prejuízos
são econômicos e atingem tanto os pequenos quanto os grandes pe-
cuaristas”. Classifique este risco a partir dos conceitos apresentados
nesta seção, avaliando as razões das perdas econômicas.

2) A partir do parágrafo a seguir, classifique o risco destas atividades.

“Projeções de geadas têm preocupado os produtores de café, cana


e milho nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Tais perspectivas têm
causado oscilações nos preços internacionais destas commodities,
especialmente nas duas primeiras, visto que o país é responsável por
boa parcela das exportações mundiais”.

3) Identifique e classifique os riscos já efetivados a partir do cenário


apresentado. “Suinocultores têm enfrentado problemas nos custos de
produção devido à elevação dos preços do milho e da soja, e redução
das exportações e do consumo interno. Embargo imposto pela Ucrâ-
nia foi responsável pela queda das vendas externas. Por outro lado, o
consumo interno vem caindo devido à diminuição do poder aquisitivo
dos consumidores”.

40    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


3 Análise integrada dos
riscos: visão global

Como analisado nas seções anteriores, o risco é um fator inerente à ati-


vidade agropecuária. O desenho de ações com vistas à gestão de riscos
tem por objetivo garantir a continuidade da atividade produtiva, reduzir
as perdas econômicas dos agentes envolvidos, garantir maior estabilida-
de da renda agrícola e uma maior resiliência do setor para enfrentar as
diferentes ameaças. Mas, em última análise, não se pode perder de vista
que os riscos não ameaçam apenas os agricultores, mas sim a sociedade
como um todo, de forma direta e indireta.

É necessário ter uma visão clara dos riscos, um diagnóstico. Não se


deve, porém, propor soluções para os problemas associados às amea­
ças que pairam sobre o setor sem realizar pelo menos uma análise
preliminar dos riscos agropecuários. Na maioria das vezes, esses riscos
estão inter-relacionados, ora reforçando impactos negativos ora atenu-
ando alguns efeitos indesejáveis advindos de um dos grupos. Como
exemplo, o movimento dos mercados – influenciado fortemente por fa-
tores que incidem no grupo do risco de produção – interage com ações
do governo que estão arroladas no grupo de risco do ambiente de negó-
cios, e ambos influenciam as estratégias e decisões dos produtores, as
quais, por sua vez, se refletem no ciclo sucessivo. A interseção dos ris-
cos reforça, assim, a necessidade de uma abordagem integrada, ainda
que, configurado o diagnóstico e mensurados os riscos, os produtores e
governos possam tratá-los separadamente, com instrumentos próprios
para cada situação.

Etapas analíticas da gestão integrada do risco. Neste contexto, é ne-


cessário cumprir algumas etapas – Figura 1, nas quais se identificam
os principais riscos, se quantifica o potencial de perda e se avalia a
capacidade de gerenciamento. A partir daí, seleciona-se a alternativa

  41
de gestão e realiza-se o monitoramento da operação. A racionalidade
desse processo está em chegar até as soluções que representam o
maior retorno para as intervenções diante de um quadro de recursos
escassos.

Figura 1. Método proposto pelo Banco Mundial para


gestão integrada do risco nas atividades agropecuárias

Fonte: Banco Mundial (2016)

Vale observar que as ações sequenciais acima propostas possuem carac-


terísticas distintas que variam segundo a região em estudo, os agentes
envolvidos, a cadeia produtiva e as condições gerais da economia. Além
disso, tal processo é dinâmico, sendo as estratégias redefinidas a partir
da alteração do ambiente em que os stakeholders estão inseridos ou até
mesmo diante de uma resposta apresentada por uma determinada ação
de gestão (Banco Mundial, 2016).

42    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


AVALIAÇÃO DO rISCO

A avaliação do risco se constitui na primeira etapa da análise de gestão


integrada. Este primeiro passo engloba a identificação, a mensuração, a
avaliação do potencial de impacto dos fatores de risco e a consequente
priorização do risco a ser gerenciado. Esta não é uma tarefa trivial, espe-
cialmente quando se constata que os fatores de risco não são facilmente
identificados. Como já se comentou, os riscos e seus fatores são muitas
vezes interdependentes, possuem influências simultâneas em diversas
áreas do negócio e, além disso, impactam de forma heterogênea os dife-
rentes agentes do sistema agroindustrial.

ANálise das soluções

O segundo passo da análise integrada dos riscos envolve o conhecimen-


to das técnicas de gestão e a análise da adequação de tais ferramentas
ao problema em questão. O processo de escolha das ações ou de uma
combinação de ações para gestão do risco deve levar em conta não só
o potencial das perdas envolvidas, mas também o custo-benefício da
medida, a sua abrangência e as restrições à sua execução. Por um lado,
pode ser possível e desejável realizar ações ex ante à ocorrência do
evento de risco, tanto para eliminar como para prevenir e mitigar o risco.
Por outro lado, estratégias ex post ao evento, classificadas como medi-
das de enfrentamento, também podem ser efetivadas. Os três grupos
de soluções são observados em diferentes âmbitos – propriedade rural/
comunidade, mercado e governo.

Operacionalização, implantação
e monitoramento

A operacionalização e implantação das ações de gestão ao risco requer


análise das condições específicas da região em análise. É preciso levar
em conta os riscos existentes, as instituições atuantes, o grau de vulne-
rabilidade dos stakeholders, a capacidade desses agentes para gerenciar

3. Análise integrada dos riscos: visão global   43


e implantar os mecanismos de gestão e a disponibilidade de recursos,
entre outros fatores. Para tanto, recomenda-se a elaboração de um plano
de ação, delineando-se:

i) Cada uma das atividades a serem desenvolvidas, apontando


os respectivos objetivos;

ii) Os responsáveis pelas ações, distinguindo os papéis dos se-


tores privado e público;

iii) O período de execução;

iv) Os recursos necessários, entre outros aspectos (Banco


Mundial, 2016).

O monitoramento, por sua vez, envolve a análise do progresso do plano


de ação, considerando planos de contingência. Nesta última etapa, os
resultados efetivos são avaliados vis-à-vis a projeção realizada, possibili-
tando ajustes na formulação e execução da estratégia de gestão do risco.

Realizando um inventÁrio das informações


sobre riscos agropecuários

Dados e informações são críticos para o gerenciamento dos riscos. No


entanto, os atores devem procurar dados e informações de boa qualida-
de para melhorar o conhecimento dos elementos expostos nas análises
dos riscos, na tomada de decisões e no desenvolvimento – por exemplo
– de estratégias e atividades de gestão de risco. No caso dos produtores
agropecuários ou de suas associações ou cooperativas de produtores,
eles procuram dados e ponderam informações agrometeorológicas e de
mercado para planejar a data de semeadura e os sistemas de produção
que garantam os melhores resultados possíveis. Semelhantemente, as
instituições financeiras e os governos requerem dados para o desenvol-
vimento de produtos financeiros e programas de incentivos para os dife-
rentes grupos-alvo do setor agropecuário.

Levando em conta a importância dos dados e das informações agro-


climáticas para um melhor conhecimento dos riscos, é aconselhável

44    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


estabelecer acordos de cooperação para compartilhar e disseminar as
informações com grupos de produtores, instituições acadêmicas e de
pesquisa, empresas privadas, assim como com entidades governamen-
tais. Algumas informações-chaves seguem no quadro abaixo:

Quadro 4: Dados e informações para análise de risco

Tipo de
Informação Descrição

• Base de dados climáticas diárias


• Base de dados climáticas diárias consistidas e
preenchidas
Meteorológica • Base de dados de estações meteorológicas (lat. / lon.,
ID, tipo, porcentagem de dados faltantes, data de início,
altitude, tempo de transmissão)

• Cultivares
• Período de semeadura
Agronômica • Área semeada, área colhida, produção
• Rendimento
• Estudos de modelos biofísicos

• Mapas com as divisões regionais do país


• Mapas topográficos
Geral
• Mapas de cobertura vegetal
• Mapas dos solos

Regulatórios • Leis ou portarias

Fonte: Banco Mundial (2016)

3. Análise integrada dos riscos: visão global   45


Leituras complementares

O passo a passo da análise integrada dos riscos relativos às atividades


agropecuárias pode ser examinado em dois estudos do Banco Mundial
referentes aos estados da Bahia e da Paraíba.

BANCO MUNDIAL. Bahia State Agriculture Sector Risk Analysis.


Washington, 2015. Disponível em: http://documents.worldbank.
org/curated/en/400771467998231000/pdf/100992-WP-P-
150895-PUBLIC-Box393257B.pdf

BANCO MUNDIAL. Paraiba State Agriculture Sector Risk Analysis.


Washington, 2015. Disponível em: http://documents.worldbank.org/
curated/en/159751468186536984/pdf/100993-PORTUGUESE
-WP-P150895-PUBLIC-Box393257B.pdf

46    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


4 identificação
dos riscos

A primeira etapa no processo de análise integrada dos riscos agropecu-


ários consiste na avaliação dos fatores que podem gerar perdas para os
agentes participantes dos sistemas agroindustriais. Neste sentido, quatro
etapas devem ser cumpridas: identificação do risco, sua mensuração,
avaliação do potencial de impacto e o estabelecimento do risco a ser
priorizado com vistas ao gerenciamento (Figura 2).

Figura 2. Etapas no processo de identificação dos riscos

Neste processo, é necessário, em um primeiro momento, distinguir ten-


dência, restrição e risco.

 Risco está relacionado a um evento incerto, cuja ocorrência


pode ser associada a uma probabilidade e que, quando ocorre,
gera perdas tangíveis.

 Restrição, por sua vez, é uma condição existente que resulta em


um desempenho subótimo do processo produtivo.

 Tendência consiste em um padrão de longo prazo que pode ser


previsível, e que, portanto, não pode ser considerado como in-
certo.

  47
Tendência, restrição e risco:
exemplos para análise

A partir dos trechos abaixo, identificam-se exemplos do que é uma ten-


dência, restrição ou risco.

Trecho 1: “Comprovados os cenários atuais preconizados pelos modelos


do IPCC, considerando um aumento de 1ºC, 3ºC e 5,8ºC na temperatura
média anual do globo, o cultivo do café arábica nos estados de Goiás,
Minas Gerais, São Paulo e Paraná será drasticamente reduzido nos pró-
ximos 100 anos, se mantidas as condições genéticas e fisiológicas das
atuais variedades” (Assad et al., 2004, p. 1063).

Trecho 2: “A mesorregião sul cearense possui peculiaridades climáticas


e pedológicas que condicionam diferentes ambientes para o cultivo do
feijoeiro (...) No norte/nordeste dessa mesorregião, predominam os solos
típicos do ambiente Semiárido, com severas restrições ao uso agrícola,
associados ao clima com deficiência hídrica, onde se concentram as áre-
as com potencial Baixo e Muito Baixo” (Araújo Filho et al., 2013, p. 1).

Trecho 3: “... o que distingue os países desenvolvidos daqueles em de-


senvolvimento é que estes últimos não têm a capacidade que seria neces-
sária para conservar os progressos obtidos em matéria de disponibilidade
alimentar por habitante quando têm de enfrentar situações de guerra ou
quando ocorrem catástrofes econômicas mais profundas. Como a propor-
ção da renda total consagrada à alimentação nos referidos países é im-
portante, as eventuais reduções da renda traduzem-se na diminuição da
demanda de produtos alimentícios. Além disso, as penúrias alimentares
e as altas de preços se traduzem em baixas significativas da renda, o que
constitui um círculo vicioso” (Chonchol, 2005, p. 36).

O primeiro trecho aponta previsões dos possíveis impactos na cafeicultu-


ra brasileira da tendência de aumento da temperatura. O segundo trecho
mostra que os fatores de clima e solo impõem forte restrição para o
cultivo de feijão no sul do Ceará e o terceiro aponta para o risco de exis-
tência de catástrofes nos países em desenvolvimento e o seu impacto na
segurança alimentar.

48    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


CATEGORIZAÇÃO E MENSURAÇÃO
DOS FATORES DE RISCO

Observada a existência de risco, o passo seguinte consiste na categori-


zação dos fatores de risco entre os diferentes grupos: risco de produção,
de preço, operacional, de crédito e do ambiente de negócios.

Na sequência, é necessário mensurar o risco, tendo como base dois


critérios: frequência do evento e a severidade do impacto. Esta mensu-
ração é específica para cada tipo de risco. Por exemplo, para o risco de
produção de um cultivo qualquer, deve-se examinar as séries relativas
à área plantada e ao rendimento, os dados históricos de ocorrência de
pragas e de doenças e a ocorrência de certos eventos meteorológicos no
local de estudo. Para mensuração do risco de preço, é comum a utili-
zação de séries de cotação do produto em questão e da taxa de câmbio
R$/US$. Além de informações obtidas a partir de fontes secundárias, da-
dos primários, levantados mediante entrevistas com agentes pertencen-
tes à cadeia produtiva, podem ter papel essencial no dimensionamento
da probabilidade do evento de risco e o seu respectivo impacto.

A partir do conhecimento dos riscos e das suas fontes, é necessário


identificar as ocorrências dos eventos adversos ao longo do tempo e
examinar os impactos socioeconômicos produzidos.

O Gráfico 3 apresenta a evolução da produção mundial de café e os


seus respectivos preços internacionais. Esses dados permitem avaliar a
frequência de geadas e secas e a variação nas cotações decorrente dos
impactos dos eventos climáticos sobre a produção. Naturalmente que a
relação entre geada/seca e variação de preço internacional não é imediata,
e que muitos outros fatores intervêm no sentido tanto de suavizar como
de acentuar o movimento dos preços. De qualquer forma, assumindo
que as variações de preços observadas nos anos de ocorrência de geada/
seca sejam associadas a estes fenômenos climáticos, é possível analisar
a severidade de tais eventos.

4. identificação dos riscos   49


Gráfico 3. Produção mundial (milhões de sacas 60 kg)
e preços do café na Bolsa de Nova Iorque 1901 a 2012

Fonte: OIC e Bolsa de Nova Iorque

O grau de severidade do evento é estimado por:

Grau de severidade = Frequência do evento × Perda financeira

Naturalmente que a variável “perda financeira” pode ser substituída por


outra variável, segundo o interesse da análise. Em alguns países e situa-
ções, utiliza-se até mesmo o número de mortes pela fome ou de famílias
deslocadas pelo evento climático.

Essa análise pode e deve ser realizada com base em métodos relativa-
mente simples, utilizando indicadores objetivos. O método classifica a
chance de existência de determinado evento com base em sua probabili-
dade de ocorrência e à qual se atribui categorias específicas (ocorrência
muito provável ou improvável, por exemplo). Associada à tal ocorrência,
estabelece-se a magnitude do impacto (financeiro, social, econômico ou
ambiental), ao qual também se atribui uma categoria específica (impac-
to negligenciável, moderado ou catastrófico). O Quadro 5 apresenta o
método a partir de um exemplo hipotético.

50    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Quadro 5. Exemplo de método para avaliação do grau de
severidade de um evento de risco

Indicador
Probabilidade do Nível da perda Indicador
evento (Intervalo de financeira (Perda financeira)
anos)
Muito provável 2 anos Negligenciável < 5%
Provável 5 anos Moderado 5 a 15%
Ocasional 10 anos Considerável 15 a 30%
Moderado 20 anos Crítico 30 a 50%
Remoto 40 anos Catastrófico > 50%

Com a definição de uma área e um produto, viabiliza-se a elaboração de


uma matriz (Quadro 6) que identifica os tipos de risco conforme a proba-
bilidade de ocorrência e o grau de seu impacto sobre a receita do produtor.

Quadro 6. Exemplo de análise dos fatores de risco conforme


probabilidade do evento e nível da perda financeira

Nível da perda financeira


Probabilida-
de do evento Catas-
Negligenciável Moderado Considerável Crítico
trófico
Muito Volatilidade
provável dos preços

Volatilidade
Redução da
Provável das taxas de
área cultivada
câmbio

Volatilidade Risco de
Ocasional das taxas de crédito, Geada
juros regulação

Moderado Peste

Remoto Incêndio

A partir de tais medidas e análises, é possível avaliar a severidade do


impacto entre diferentes culturas, regiões e tipos de evento, conforme
mostra a Figura 3. Cabe apontar, no entanto, que a mensuração do

4. identificação dos riscos   51


impacto pode considerar outros aspectos, além da receita do produtor,
tais como segurança alimentar, emprego rural, balança comercial, entre
outros. Dessa forma, a tomada de decisão quanto à priorização dos
riscos é feita a partir de informações objetivas e direcionadoras.

Figura 3. Análise da severidade das perdas financeiras


por tipo de commodity e evento.

(a) Por tipo de commodity

(b) Por tipo de evento

Fonte: Banco Mundial (2015)

Potencial de transmissão e vulnerabilidade. Vale também observar que,


nesse processo, deve-se levar em conta o potencial de transmissão do
risco entre os stakeholders ao longo da cadeia produtiva e o grau de
vulnerabilidade de cada um destes grupos, já mencionado. Esta última

52    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


questão é chave na definição das prioridades. Considere, por exemplo, o
caso de pecuaristas de certa região do Centro-Oeste em que existe alto
risco de ocorrência de febre aftosa em seu rebanho. Apesar de ser um
risco com alto potencial de perdas, a vulnerabilidade pode ser amenizada
por ações de prevenção do setor público e privado, enquadradas dentro
de estratégias consistentes de gestão de risco. Considere, agora, uma zona
produtora de café, localizada no norte do Paraná, onde os produtores têm
baixa escolaridade, exploram propriedades pequenas, com baixa capitali-
zação e cooperativismo incipiente. Ainda que a probabilidade de ocorrên-
cia de geada nesta região não fosse tão alta, o potencial de perdas para as
famílias é grande em relação ao pecuarista do Centro-Oeste, uma vez que
a capacidade destes agentes se protegerem contra uma quebra de safra
ou um movimento adverso nos preços é bastante pequena. Diante deste
quadro, verifica-se uma alta vulnerabilidade. Observa-se, assim, que a vul-
nerabilidade não é somente uma função da exposição às perdas, é tam-
bém necessário avaliar a capacidade de gestão dos agentes envolvidos.

Por fim, considerando todos os aspectos abordados, comparam-se os


impactos dos riscos de forma a priorizar ações (Quadro 7) e orientar es-
tratégias de gestão, justificando os investimentos em tais políticas.

Quadro 7. Exemplos de ranking de prioridades em relação aos tipos de evento


Commodity Prioridade 1 Prioridade 2 Prioridade 3
Café Geada Variação dos preços Praga
Mandioca Praga Alagamento Seca
Milho Seca Variação dos preços Praga
Soja Seca Variação dos preços Praga
Arroz Seca Alagamento Variação dos preços
Pecuária bovina Doença Seca Ambiente institucional
Avicultura Ambiente institucional Doença Variação dos preços
Agregado Seca Variação dos preços Praga

Em resumo, esta análise preliminar contém os seguintes passos: (i) defi-


nição do alcance geográfico (país, região, estado, município); (ii) espécies
agropecuárias produzidas na área; (iii) fatores de risco; (iv) prioridades
definidas a partir da severidade do impacto, do grau de vulnerabilidade
dos agentes e do efeito transmissor ao longo da cadeia produtiva.

4. identificação dos riscos   53


Exercícios

1) O estudo de Saes e Silveira (2014, p. 400) aponta que:

“Nas últimas décadas, importantes mudanças têm sido observa-


das na forma de comercialização da produção entre produtores
rurais e empresas de insumos devido a dois fatores principais. O
primeiro tem base na gradual saída do Estado como financiador
da atividade agrícola...”. Pode-se, então, afirmar que um quadro
marcado pelo gradual decréscimo da capacidade do governo em
ofertar crédito à agropecuária a taxas de juros baixas se constitui
em um risco? Por que?

2) Considere duas regiões produtoras de milho. Enquanto a primeira é


caracterizada pela presença de grandes produtores de alta escola-
ridade, a segunda é formada por muitos produtores familiares. Tal
aspecto deve ser levado em conta na formulação de uma política de
gestão integrada de risco? Por que?

54    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


5 Gestão integrada
dos riscos: análise
das soluções

Como já observado, a atividade agropecuária é como uma ilha em um


mar de riscos. A gestão dos riscos – em particular a integrada – envolve
distintas etapas analíticas, tanto para identificar, hierarquizar e priorizar
os riscos existentes como para definir a(s) estratégia(s) de gestão e os
instrumentos a serem utilizados.

As soluções para gestão do risco, em geral, envolvem uma combinação


de medidas e de players, com atuação dos setores privado e público, em
que a disponibilidade de recursos frequentemente determina as ações.
É necessário, assim, estabelecer critérios objetivos, claros e coerentes
para selecionar as ferramentas/metodologias adequadas a cada situação
e, para isso, os analistas podem estabelecer filtros baseados em uma
escala de benefícios, custos e abrangência, além do feedback dos
stakeholders.

A análise das soluções não pode isolar os vários elementos que interagem
e interferem na definição do risco, das estratégias e das políticas/instru-
mentos de gestão. Em geral, o risco observado já reflete a adoção de
medidas de gestão de risco empregadas previamente pelos agentes, os
quais seguem estratégias – ainda que intuitivas e informais – com base
na experiência anterior, na percepção própria dos riscos agropecuários,
nas políticas existentes, etc.. Por isto, “(...) não é possível isolar e iden-
tificar riscos individuais, estratégias isoladas de produtores e políticas
governamentais, sendo necessária uma visão holística para a análise do
sistema” (OECD, 2009, p. 16) que incorpore os riscos agropecuários e
suas fontes, as estratégias dos produtores e as políticas governamentais.

  55
A figura abaixo, com três eixos, representa o método holístico proposto
pela OECD para a análise da gestão integrada de riscos nas atividades
agropecuárias.

Figura 4. Método holístico para análise da gestão


do risco nas atividades agropecuárias

Fonte: OECD (2009)

identificação do risco e estratégia


de gerenciamento

A definição da estratégia e a escolha das políticas envolvem conhecer


duas dimensões-chaves dos riscos em geral: (i) a probabilidade de ocor-
rência dos eventos e (ii) a severidade dos impactos sociais e econômicos,
já abordadas. É possível segmentar os riscos em três níveis que refletem
a combinação dessas duas dimensões (Figura 5).

56    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Níveis de risco. No primeiro nível, estão os riscos frequentes, os quais
ocasionam perdas pequenas. São os riscos normais do negócio, em
geral assumidos pelos próprios produtores, que fazem a gestão usando
instrumentos disponíveis no estabelecimento ou acessando políticas
públicas gerais. No segundo nível, estão os riscos mais relevantes, cuja
frequência e impacto não podem ser negligenciados nem assumidos
pelos próprios produtores, que buscam proteção em instrumentos espe-
cíficos desenhados para transferi-los, via operações de mercado, para
terceiros. Este é o nível de riscos seguráveis. Finalmente, o terceiro nível
inclui riscos que, mesmo tendo uma frequência pequena, geram grandes
perdas e, por isso, são classificados como catastróficos. Os produtores
não têm condições para assumir tais riscos, a transferência para terceiros
é difícil e, em muitos casos, inviável. É o nível no qual o mercado falha,
e que se justificam ações governamentais para lidar com os riscos de
natureza catastrófica.

Figura 5. Diferentes níveis de risco e estratégias de gerenciamento

Fonte: OECD (2009)

5. Gestão integrada dos riscos: análise das soluções   57


classificação das estratégias de
gerenciamento do risco

Tipos de ações específicas de gerenciamento de risco podem ser


agru­­padas, conforme a Figura 6, em três tipos: prevenção, mitigação/
transferência e enfrentamento do risco.

Figura 6. Estratégias de gestão de risco conforme a


severidade do impacto da ocorrência do evento

Fonte: OECD (2009)

Classificação das estratégias. A prevenção visa reduzir a probabilidade


de ocorrência de eventos adversos, a mitigação busca diminuir o impacto
potencial dos eventos sobre os produtores e a sociedade, e o enfrenta-
mento objetiva aliviar os efeitos negativos provocados pela a ocorrência
dos eventos. Notem que as ações de prevenção e de mitigação são toma-
das antes da ocorrência dos eventos, enquanto as de enfrentamento são
ativadas após a ocorrência e têm por objetivo suavizar as consequências
constatadas. Um problema frequente é não ter uma estratégia clara de
enfrentamento pré-definida, o que leva a improvisações e demora para
intervir após a ocorrência do sinistro, elevando os custos e reduzindo a

58    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


eficácia das ações. Por isso, o planejamento da gestão integrada de risco deve
também contemplar ações de enfrentamento, e os atores envolvidos de-
vem estar preparados para colocá-las em prática quando e se necessário.

A Figura 6 ilustra graficamente a definição das estratégias, levando-se


em conta a probabilidade de ocorrência e a severidade do impacto. A
estratégia de prevenção e mitigação é mais recomendada para tratar
eventos cuja frequência pode ser pequena ou grande, mas cujos impactos
são pequenos. À medida que aumenta a severidade do impacto, torna-se
necessário atuar de forma mais firme, tanto para evitar as consequências
do evento, transferindo o risco para terceiros, como para enfrentá-las.

Na prática, uma gestão integrada de risco planeja e considera a adoção


dos três tipos de estratégias, de maneira coordenada, pelos vários atores
envolvidos. A lista de mecanismos para apoiar as diversas estratégias é
grande e, por isso, uma etapa relevante do planejamento da gestão de
risco é identificar os riscos, as possíveis estratégias e os instrumentos
que estão de fato disponíveis e ao alcance dos atores. A Figura 7 repre-
senta a interação entre tipos de risco, instrumentos, estratégias, agentes
e níveis de atuação.

Figura 7. Riscos, instrumentos, estratégias e stakeholders

5. Gestão integrada dos riscos: análise das soluções   59


Ações de prevenção. A gestão de risco tem início na própria propriedade
rural/comunidade, com estratégias de prevenção embutidas nas decisões
dos produtores referentes ao que produzir e a como produzir. Uma ação
radical de prevenção é decidir não cultivar alguns produtos sujeitos ao
risco climático mais elevado. Foi o que fizeram os cafeicultores do norte
do Paraná, em meados da década de 1970, substituindo o café pela soja.
Ou ainda os produtores de algodão do Nordeste, em meados dos anos de
1980, diante do risco de produção provocado pela infestação do bicudo.
As decisões de como produzir, que se referem principalmente às escolhas
tecnológicas, são também essenciais para a prevenção. Produtores rurais
localizados em região caracterizada pela possibilidade de ocorrência de
seca podem adotar sistemas de irrigação ou utilizar sementes mais re-
sistentes à seca como medidas de prevenção e mitigação. Percebam que
nem a irrigação nem a semente reduzem a probabilidade de ocorrência da
seca, mas ainda assim são preventivas porque reduzem a importância de
secas que são consideradas eventos adversos.

Ações de mitigação. Como estratégia de mitigação, de forma alternativa


e/ou complementar, estes agentes podem diversificar a produção para re-
duzir os riscos decorrentes da vinculação exclusiva a um único produto.
Podem também transferir parte do risco para terceiros, utilizando o me-
canismo do seguro rural, que cobre a ocorrência de eventos climáticos.

Ações de enfrentamento. Finalmente, caso o evento adverso ocorra, o


produtor/comunidade pode enfrentar as consequências mais graves por
meio de várias ações, como por exemplo vendendo patrimônio – medida
comum no Nordeste, onde os pequenos produtores vendem seus ani-
mais para enfrentar a seca –, tomando empréstimo, migrando tempora-
riamente para trabalhar e gerar a renda necessária para manter a família,
ou até mesmo recorrendo a programas governamentais de suporte.

A maior parte das decisões dos produtores/comunidades passa tan-


to pelo mercado como pelos governos, cujas ações são necessárias
para disponibilizar, facilitar e ou viabilizar a operacionalização das
decisões tomadas na esfera micro. A decisão de abandonar o café e
o algodão, por exemplo, e substituir pelo cultivo da soja e criação de
gado, só pôde se viabilizar porque os produtores contaram com apoio
financeiro de instituições governamentais e de mercado para suportar

60    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Plano de combate à aftosa

Prevenir pode ser a melhor estratégia de gestão de risco. É assim


no caso das ameaças sanitárias, cujo risco ainda é negligenciado
em muitas áreas e segmentos da agropecuária. Para a pecuária
bovina, a febre aftosa sempre foi uma grande ameaça e fonte de
prejuízos, não apenas para o produtor, mas para a sociedade em
geral. De imediato, tem impacto relevante sobre a produtividade
dos rebanhos, com efeitos sobre a rentabilidade e sobre os preços.
O comércio internacional é praticamente vetado aos países onde
há foco da doença, e a simples ameaça se traduz em severas res-
trições ao comércio, causando prejuízo aos países com potencial
exportador. No caso do Brasil, os surtos de febre aftosa, no Pará
e Amazonas, em 2004, e no Mato Grosso do Sul e Paraná em
2005, provocaram o embargo de praticamente todas as carnes
para o mercado russo, além de restrição da bovina por parte de
vários importadores relevantes.
Diante deste quadro, o MAPA, em comum acordo com estados
produtores e associações representativas dos interesses da pecuá­
ria bovina, reforçaram as ações de prevenção. O Programa Na-
cional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa – PNEFA, de
2007, e o Plano de Ação para a Febre Aftosa, adotado em 2009,
são poderosos instrumento de gestão de risco sanitário. O Plano é
a principal ferramenta operacional do Sistema Nacional de Emer-
gências Veterinárias, e contempla a investigação e alerta, como
medidas iniciais, até as ações emergenciais em caso de confirma-
ção da ocorrência.

as perdas e realizar os investimentos necessários para mudar o cultivo.


A escolha tecnológica adequada supõe disponibilidade de informa-
ção, que pode ser suprida tanto pelos agentes do mercado como pelos
governos. Zoneamentos agroclimáticos precisos são instrumentos im-
portantíssimos de prevenção de riscos, seja porque pré-identificam e
mensuram os riscos por cultivo, seja por indicarem as melhores opções
tecnológicas para o local. Na mesma linha, estão os programas de

5. Gestão integrada dos riscos: análise das soluções   61


prevenção de desastres e doenças animais, cordões sanitários ado-
tados contra pragas e regulamentações específicas sobre o processo
produtivo e exigências fitossanitárias.

O Quadro 8 organiza essa análise e apresenta um conjunto de ferra-


mentas de gestão agrupadas conforme a estratégia e os diferentes níveis
institucionais em que a ação pode ocorrer (no âmbito da propriedade
rural/comunidade, do mercado e do governo).

Quadro 8. Ferramentas de gestão de risco, conforme nível


institucional e grupos de estratégia

Nível institucional
Estratégia Fazenda/
Mercado Governo
comunidade

Prevenção Escolha Treinamento em Políticas


tecnológica técnicas de gestão macroeconômicas,
de risco prevenção contra
desastre e doenças
animais

Mitigação Diversificação Derivativos, Sistema tributário


da produção; seguro rural, de renda
compartilhamento integração vertical, progressivo,
de cultura comercialização programas contra-
não focada na cíclicos, regras de
safra, trabalho fronteira (medidas
fora da agricultura de biossegurança)

Enfrentamento Empréstimo Venda de ativos, Assistência


com familiares, empréstimo social, programas
amigos e/ou na bancário, renda de agrícolas de
comunidade fora da agricultura suporte ao
agricultor

Fonte: OECD (2009)

62    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Um alerta importante. É preciso deixar claro que a definição da estraté-
gia não se relaciona apenas com a natureza dos riscos envolvidos, mas
também com a capacidade para mobilizar e operacionalizar os instru-
mentos e as técnicas de gerenciamento dos riscos identificados. Este
parece ser um alerta óbvio, mas um erro comum de muitas iniciativas
tem sido justamente não reconhecer limitações na capacidade para mo-
bilizar e gerenciar instrumentos disponíveis no rol das políticas públicas
e das ações dos agentes privados. Por isso, a definição da estratégia de
gestão de risco e do conjunto de instrumentos a ser utilizado deve buscar
a solução que represente o maior retorno diante das possíveis interven-
ções que poderiam ser indicadas para lidar com o problema identificado,
levando-se em conta o conjunto de restrições para executar a estratégia
e não a solução ideal que só existe no papel. Duas simples perguntas
esclarecem esse ponto:

i) Tipo de investimento: se numa região onde a seca é um risco,


como saber se é mais efetiva a redução de perdas investindo
em irrigação ou na compra de um seguro contra risco climáti-
co? Ou os dois?

ii) Modalidade do investimento: se os recursos disponíveis para


subvencionar um programa de seguro rural não são suficien-
tes para cobrir todas as produções, não seria melhor assumir
esta limitação e focalizar naqueles riscos, produtos, agriculto-
res, ou regiões que são de maior prioridade para a sociedade
em geral?

Aplicação da metodologia de anÁlise


integradA de riscos: O caso do Paraguai

O Banco Mundial, junto ao Governo do Paraguai, realizou uma avaliação


integrada de riscos no setor agropecuário para poder desenvolver uma
estratégia e plano de ação de políticas e programas públicos. O trabalho
avaliou os riscos de diferentes cadeias e segmentos de produtores dentro
do setor agropecuário. Os riscos mais importantes foram identificados de
forma participativa com os atores das cadeias e logo depois quantificados

5. Gestão integrada dos riscos: análise das soluções   63


segundo informação histórica disponível. Sobre a base desta identificação
e quantificação, foram preparados os seguintes quadros (ver exemplo
abaixo) para diferenciar os riscos segundo o impacto econômico e a sua
frequência.

Quadro 9. Frequência e impacto dos riscos - Paraguai


     Impacto
Bajo Moderado Crítico Catastrófico

Probabilidad
Muy alta

Alta Inundación por lluvia sequía

Mediana Aftosa

Baja Abigeato Invasiones de las terras


Heladas severas

Fonte: Banco Mundial (2015).

A estratégia a ser desenvolvida pelo Banco Mundial e o Governo do Pa-


raguai visava atacar aqueles riscos com um impacto extremo no setor e
na economia. Assim, a segunda fase da análise concentrou-se em avaliar
a capacidade do setor público e privado do Paraguai para executar a
gestão desses riscos, sempre tendo em conta os diferentes segmentos do
setor agropecuário. Dessa forma, a segunda fase identificou aqueles ris-
cos que deveriam passar a ser prioritários na gestão de políticas públicas
em cada segmento do setor, identificando medidas segundo a estratégia
de gestão de riscos: mitigação, transferência, ou resposta aos riscos (ver
quadro a seguir).

64    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Quadro 10. Estratégia de gestão de risco - Paraguai
Agricultura Empresarial Agricultura Familiar Ganadería*

Mejorar el sistema de información y Mejorar la eficiencia y la coordinación Fortalecer los servicios de control de
alerta temprana (también beneficia a de los servicios técnicos existentes la fiebre aftosa de SENACSA, y de
la agricultura familiar). en el sector público (DEAg, IPTA, otras enfermedades.
Evaluar el estado actual de la infraes- SENAVE, PPA, etc.), para introducir Evaluar la efectividad de los
Mitigación tructura de transporte de granos (vial, buenas prácticas agrícolas, mejorar servicios sanitarios vinculados con
fluvial). monitoreo de plagas y detección la exportación y proponer políticas
Políticas públicas relativas a la lo- temprana, difundir técnicas de complementarias.
gística de las exportaciones, las nego- riego apropiadas, impulsar la Estrategia de emergencia en
ciaciones con países vecinos, etc. diversificación de cultivos, etc. situaciones de sequía y/o heladas.

Analizar la factibilidad de establecer Crear un mecanismo financiero para


una bolsa agropecuaria, que entre atender situaciones de emergicia
otras cosas dé mayor transparencia a climática (seguro-fondo).
Transferencia los mercados.
Desarrollar el mercado de seguros
agropecuarios (más cobertura),
llegando a más productores y con
diversidad de instrumentos

Analizar opciones para responder Crear un mecanismo financiero para Crear un fondo de contingencia parça
a eventos catastróficos con atender situaciones de emergicia atender situaciones de emergicia
Absorción pérdidas fiscales e impactos climática (seguro-fondo). cuando se presenta un brote de fiebre
macroeconómicos. aftosa u otra enfermidad exótica.

* Ganadería está listado por separado a la agricultura empresarial y familiar porque en la práctica los productores de ganado están expuestos a

5. Gestão integrada dos riscos: análise das soluções


riesgos distintos que se pueden analizar con más detalle cuando se separa de los riesgos de producción agrícolas.

Fonte: Banco Mundial (2015).

  65
Exercícios

1) Os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná tiveram significati-


va quebra de safra do feijão em 2016 em virtude da ocorrência de
chuvas e geadas em áreas produtoras. A partir da análise da efeti-
vação de tal risco, quais instrumentos de prevenção e mitigação os
produtores poderiam ter utilizado ex ante ao evento? Em relação às
políticas de enfrentamento (ex post), o que pode ser feito?

2) Assinale se a ação de gestão é de prevenção, mitigação ou enfrenta-


mento.

Ação Prevenção Mitigação Enfrentamento

Diversificação da atividade,
incluindo renda não agrícola

Uso de tecnologias, como


a adoção de sementes
geneticamente modificadas

Compra de um seguro agrícola

Estabelecimento de um contrato
com uma indústria para entrega
do produto em três meses a um
preço já fixado

Empréstimo bancário
decorrente de uma quebra de
safra

66    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


6 Risco de produção:
MENSURAÇÃO e
mecanismos de gestão

Nesta seção, abordam-se o risco de produção, algumas técnicas para


mensurá-lo e os mecanismos de gestão existentes no Brasil. Esse tipo
de risco está associado à possibilidade de o volume produzido esperado
não se efetivar devido ao clima, incidência de doenças e pragas e falhas
operacionais, dentre outros fatores que incidem diretamente sobre o ren-
dimento da produção.

Possui destaque, neste contexto, o processo de mudanças climáticas


em curso, que parece estar elevando o risco de produção dada a maior
ocorrência de eventos meteorológicos extremos e de catástrofes natu-
rais, com efeitos no rendimento da produção agrícola e pecuária e na
incidência de doenças e pragas. Tem aumentado, também, a “incerteza
climática”, dificultando a gestão da produção visando prevenir e reduzir
os riscos associados ao clima.

Mudança climática e risco de produção

A Figura 8 mostra projeções do clima para 2100 de várias regiões bra-


sileiras, feitas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em
2007. Aponta-se, em geral, para o aumento da temperatura na América
do Sul, especialmente na região sul da Amazônia. As incertezas são
particularmente elevadas quanto ao ciclo hidrológico (Marengo 2014,
p. 28), o que incide diretamente sobre a agricultura brasileira, baseada
principalmente no regime de chuva e muito pouco em tecnologia de
irrigação. Como consequência, a tendência de aquecimento elevará as

  67
incertezas sobre os eventos climáticos, o que, por sua vez, aumentará o
risco de produção.

Figura 8. Projeções do clima por região no ano 2100.

Fonte: Inpe; Marcovitch (2010)

Como quantificar o risco de produção?

Uma técnica simples de se avaliar o risco de produção de um produto


agrícola consiste na observação do comportamento do seu rendimento
em uma determinada região ao longo do tempo, verificando os eventos
muito abaixo da tendência da série. Métodos estatísticos básicos de re-
gressão linear simples podem ser incorporados à análise, utilizando-se
cinco passos:

1. Considerar séries de rendimento de uma determinada região;

2. Elaborar um gráfico de rendimento em relação ao tempo;

68    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


3. Adicionar uma linha de tendência linear a partir das observações;

4. Inserir uma segunda linha, subtraindo da tendência um valor


igual a 0,33 × desvio padrão do rendimento;

5. Avaliar as observações abaixo da segunda linha de tendência,


calculando as perdas de rendimento e do produto total;

6. A partir de todos os pontos identificados no passo anterior, cal-


cular a perda financeira média no período de análise.

O Gráfico 4 apresenta a evolução do rendimento do milho, safra de inver-


no, no estado do Mato Grosso, entre 1991 e 2016. Ao ajustar uma linha
de tendência linear à série ao longo do tempo (“Linha de tendência 1”),
observa-se um aumento anual médio de 0,20 ton/ha, sendo o intercepto
da reta igual a 0,84 ton/ha. A “Linha de tendência 2”, por sua vez, é
obtida ao subtrair da “Linha de Tendência 1” a parcela de 33% do desvio
padrão do rendimento1.

Dados históricos e análise do risco


A mensuração do risco de produção faz tradicionalmente uso de dados
históricos de produtividade, área plantada, de clima, entre outras variá-
veis. No entanto, é importante reconhecer que o uso de séries temporais
para previsão é semelhante a conduzir um veículo utilizando-se somente
o espelho retrovisor, sem olhar para a frente. Uma ocorrência brusca ou
imprevista na rota poderia provocar um acidente, já que não seriam cap-
tadas pelo condutor, pois este está se orientando apenas pelas imagens
do retrovisor. Ou seja, uma forte alteração do clima ou ainda a incidência
de uma praga/doença pode levar a uma quebra de safra superior à esti-
mada, indicando as limitações do uso de séries históricas para estimação
do risco. Além disso, mudanças de padrão na produtividade ou no clima
podem existir, exigindo certo cuidado nas análises de tendência acima
abordadas.

1 O valor de 33% é arbitrário; neste caso, espera-se, em condições normais de mercado,


que cerca de 25% dos valores da produtividade estejam em um intervalo entre o valor
médio menos 0,33*desvio padrão e valor médio mais 0,33*desvio padrão. O conceito
de desvio padrão pode ser analisado no próximo tópico relativo ao risco de mercado.

6. Risco de produção: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   69


Gráfico 4. Evolução do rendimento por hectare do milho
safra inverno) no Mato Grosso entre 1991 e 2016

Fonte: CONAB (2016).

Entre 1991 e 2016, o rendimento ficou abaixo da “Linha de tendência


2” em quatro safras (Tabela 1), sendo os piores eventos observados em
1998/99 e 2010/11. Como a área plantada de 2010/11 foi cinco vezes
maior que a do final da década de 1990, a perda de produção foi subs-
tancialmente maior. Considerando uma cotação de R$50/saca, a perda
média anual, no período total de 25 anos, é de R$36,58 milhões.

Tabela 1. Perda de produção e monetária nos eventos de quebra de


produtividade no estado do Mato Grosso entre 1991 e 2016

Perda de produção Perda monetária


Anos (sacas de 60 kg) (R$ mi)

1998/99 -2.723.931 -136,20

1999/00 -307.078 -15,35

2009/10 -3.146.680 -157,33

2010/11 -12.110.191 -605,51

Média em 25 anos  -731.512 -36,58

70    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Quais os instrumentos para
gerenciar o risco de pRODUÇÃO?

O zoneamento agroclimático e a adoção de tecnologia apropriada por


parte dos agricultores estão entre principais mecanismos de prevenção
de risco.

Zoneamento Agroecológico e
Zoneamento Agrícola de Risco Climático

O Zoneamento Agroecológico (ZAE) é um instrumento técnico-científico


construído a partir do conhecimento das potencialidades e vulnerabilidades
ambientais de determinada região, especialmente do comportamento e das
características do clima, do solo, da vegetação, da geomorfologia, e com
foco na aptidão das terras para uso agrícola. Considera também as caracte-
rísticas sociais e econômicas de cada região.

Como instrumento de ordenamento do espaço da produção agrícola, de-


limita zonas agroecológicas, que são áreas homogêneas ou unidades am-
bientais ou ainda unidades básicas de trabalho para a agricultura. Assim,
para cada zona delimitada, é possível determinar um conjunto de diretrizes
gerais e específicas que nortearão as políticas públicas e as ações de uso
da terra.

O ZAE é uma ferramenta dinâmica e deve ser aprimorada pela agregação de


novas informações, de acordo com as condições ambientais, socioeconômi-
cas, políticas e tecnológicas.

Tem como principal objetivo fornecer subsídios para a pesquisa agrícola, as-
sistência técnica e extensão rural, e também orientar tomadores de decisão
no estabelecimento de políticas públicas em programas de desenvolvimento
agrícola.

Geralmente, é uma demanda de governo, mas também dos demais setores


da produção agropecuária, especialmente agricultores e seguradoras (públi-
cas e privadas), que veem no Zoneamento Agroecológico e de Risco Climáti-
co, alternativa para redução de riscos na agricultura e consequente aumento
de renda.

6. Risco de produção: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   71


O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) funciona como instru-
mento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura, orienta o produ-
tor rural sobre a melhor época de plantio e semeadura das culturas, visando
reduzir perdas agrícolas.

Vantagens e benefícios. O zoneamento, como instrumento de subsídio a po-


líticas públicas e de tomada de decisão por todos os setores/atores do agro-
negócio, permite promover o uso e ocupação das terras agrícolas com foco
na sustentabilidade e preservação dos recursos naturais; redução dos riscos
inerentes à atividade agrícola (ambientais e socioeconômicos); aumento da
produção, produtividade agrícola e oferta de alimentos.

A caracterização e delimitação das áreas indicadas para uso agrícola (apti-


dão), das áreas e classes de risco climático (baixo, médio e alto) e indicação
de épocas de plantio e semeadura com baixo risco climático, para cada
município, por cultura e ciclo do cultivar (precoce, médio e tardio) e por
tipo de solo (arenoso, médio e argiloso) são apresentadas na forma de rela-
tórios técnicos contendo mapas, tabelas e calendário de épocas de plantio/
semeadura.

O ZAE é indicado para todas as culturas de importância econômica e social,


desde que tenham os indicadores técnico-científicos necessários e disponi-
bilizados por meio da pesquisa agropecuária

Fonte: Embrapa (https://www.embrapa.br/tema-zoneamento-agroecologico/nota-tecnica)

Seguro agrícola. Dentre os instrumentos de mitigação, o seguro rural pos-


sui significativa importância. O Brasil dispõe de um conjunto de instru-
mentos que ainda operam em escala insuficiente para assegurar a estabili-
dade da renda do setor agropecuário ao País. Destacam-se o Programa de
Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), o Programa de Subvenção
ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), os programas específicos para a agricul-
tura familiar – Seguro Agrícola para a Agricultura Familiar (Seaf) e Garantia
Safra (GS) – e os fundos mútuos (Quadro 11). Destes, os mais importantes
são o Proagro, mais focado no público da agricultora familiar, e o PSR,
criado em 2003 pelo Governo Federal, com início das operações no final
de 2005, tendo como principal objetivo garantir o acesso ao seguro rural
de forma a propiciar estabilidade de renda ao agricultor.

72    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


O seguro agrícola no Brasil

‘‘A atividade agropecuária é dotada de certas peculiaridades que a tornam ex-


tremamente arriscada quando comparada a outras atividades empresariais.
(...) A ocorrência de eventos climáticos adversos nas regiões agrícolas do
País tem ocasionado prejuízos significativos aos produtores, mesmo consi-
derando o elevado nível de tecnologia aplicado nas atividades rurais. (...) De
forma geral, o socorro público gera um ciclo vicioso, que apenas alivia tem-
porariamente a situação do produtor, mas não resolve o problema, além de
representar um elevado custo financeiro para o governo e para a sociedade.
A renegociação de dívidas apenas prorroga a solução da crise e deve ser ado-
tada somente em situações extremas de prejuízos nas atividades rurais. (...)

Os seguros rurais representam um importante mecanismo de proteção para


que os produtores possam investir com alguma segurança de que, se ocorre-
rem adversidades climáticas, poderão dar continuidade às suas atividades.

A função de qualquer seguro é transferir as consequências da ocorrência de


um determinado risco do segurado para a seguradora.

O principal benefício de um seguro rural eficiente para o produtor é a se-


gurança para continuar investindo na produção e se manter competitivo
no agronegócio, mesmo sob condições de perda patrimonial ou frustração
de safra.

Modalidades de Seguros Rurais


A legislação prevê as seguintes modalidades de Seguros Rurais:
I - Seguro agrícola;
II - Seguro pecuário;
III - Seguro aquícola;
IV - Seguro de florestas;
V - Seguro de penhor rural - VI - seguro de benfeitorias e produtos agro-
pecuários;
VII - Seguro de vida do produtor rural; e
VIII - Seguro de Cédula do Produto Rural (CPR)’’.

Fonte: Guia de Seguros Rurais e Proagro. Sistema Faep, FenSeg, CNA e Sistema Ocepar (2016).

6. Risco de produção: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   73


A viabilidade do seguro agrícola privado depende de subvenção pública
para reduzir o custo da apólice, como ocorre em vários países onde
tal instrumento é utilizado. Evidências comprovam que é muito mais
barato, para a sociedade, arcar com a subvenção do que com as con-
sequências econômicas e sociais provocadas por eventos climáticos e
por flutuações abruptas de preços que não podem ser evitadas, se os
produtores contarem com seguro.

Quadro 11. Características dos programas brasileiros de seguro de produção

Programa Objetivo Abrangência


Garantir a cobertura dos Pequenos e médios
financiamentos para custeio da agricultores enquadrados
atividade em caso de sinistro no Pronaf* e Pronamp**. A
Proagro
causado pela incidência modalidade é obrigatória
de fenômenos naturais e para aqueles enquadrados no
incidência de pragas e doenças Pronaf.
Garantir parte da receita
Seguro de Agricultores familiares que
líquida esperada, além
agricultor possuem financiamentos de
da cobertura relativa ao
familiar custeio agrícola no Pronaf.
financiamento do custeio.
Ação realizada no âmbito
do Pronaf, abrangendo
agricultores familiares da
Garantia Indenização por perdas na
área de atuação da Sudene***,
Safra atividade agrícola.
especialmente no semiárido,
que sofrem perda de safra por
seca ou excesso de chuvas.
Redução do prêmio do seguro Cerca de 78 tipos de culturas
Subvenção
rural de forma a estimular sua agrícolas, 7 atividades
do Seguro
contratação. pecuárias, atividades
Rural
aquícolas e de florestas.
Indenização por perdas na Casos específicos que
Fundos
atividade agrícola. variam entre cooperativas e
mútuos
associações de produtores.
* Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar; ** Programa Nacional de
Apoio ao Médio Produtor Rural; *** Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
Fonte: GESER (2013) e Vieira Júnior et al. (2008).

74    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Os produtos ofertados pelas seguradoras são variados, sendo o mais
utilizado o seguro de custeio, o qual garante o valor do crédito de custeio
em caso de sinistro, sendo assim semelhante ao Proagro. Outras moda-
lidades podem ser citadas, tais como o seguro de: receita (faturamen-
to), produtividade, penhor rural de implementos, pecuniário, aquícola,
contra geada, canavial e de vida do agricultor (GESER, 2013). Este pri-
meiro, o seguro receita, é bastante recente no País, sendo, no entanto,
amplamente usado no mercado norte-americano. Representa um avanço
em relação ao seguro de custeio, dado que garante a gestão do risco de
produção e de preço simultaneamente.

A partir das considerações acima realizadas, é possível observar a des-


tacada importância da gestão do risco financeiro nas atividades agro-
pecuárias, que se bem equacionada pode garantir uma taxa de retorno
mínima adequada ao empreendimento e à sustentabilidade da atividade,
reduzindo os efeitos das incertezas provocadas por eventos climáticos e
de mercado.

Apesar de se observar um avanço na oferta e respectivo uso de instru-


mentos de gestão do risco financeiro, um longo caminho se faz neces-
sário trilhar no sentido de, por um lado, difundir a existência e carac-
terísticas de tais instrumentos, criando a cultura da gestão do risco no
agricultor e, por outro lado, aperfeiçoar e ampliar os produtos ofertados,
considerando as singularidades da atividade agropecuária nacional.

6. Risco de produção: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   75


O Programa de Garantia da Atividade
Agropecuária – proagro
O Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) garante o pagamento das
operações de crédito rural de custeio, quando a liquidação desses contratos é dificulta-
da pela ocorrência de fenômenos naturais, pragas e doenças sem métodos difundidos
de controle que atinjam as lavouras.
O Programa é custeado por recursos alocados pela União e dos provenientes da taxa
que o produtor rural paga, chamado de adicional, ou seja, o custo para aderir ao
Proagro. Em 2004, foi criado o “Proagro Mais”, destinado a atender os produtores
vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)
nas operações de custeio agrícola, que passou a cobrir também as parcelas de custeio
rural e investimento, financiadas ou de recursos próprios.
O Proagro é administrado pelo Banco Central do Brasil e operado por seus agentes,
representados pelas instituições financeiras autorizadas a operar em crédito rural, as
quais contratam as operações de custeio e se encarregam de formalizar a adesão do
mutuário ao Programa, da cobrança do adicional, das análises dos processos e da de-
cisão dos pedidos de cobertura, do encaminhamento dos recursos à Comissão Especial
de Recursos – CER, dos pagamentos e registros das despesas.
Quando o pedido de cobertura do Proagro é negado pelo agente financeiro, o produtor
pode recorrer à Comissão Especial de Recursos - CER, única instância administrativa
do Proagro. A CER é um órgão Colegiado, da qual a FAEP participa por indicação da
CNA. A Secretaria Executiva do CER está ligada ao Ministério da Agricultura.
O Banco Central do Brasil (BACEN), administrador do Proagro, age com rigor para
efetuar as indenizações em caso de ocorrência de sinistros, considerando fielmente
as normas do Manual de Crédito Rural (MCR). As orientações produzidas a seguir são
baseadas nas normas do Manual do Crédito Rural para o Proagro.
Eventos amparados pelo PROAGRO?
Nas operações de custeio agrícola, são causas de cobertura dos empreendimentos
efetivamente enquadrados no Proagro os seguintes fenômenos naturais fortuitos e suas
consequências diretas e indiretas: chuva excessiva, geada, granizo, seca, variação
excessiva de temperatura, ventos fortes, ventos frios, doença ou praga sem método
difundido de combate, controle ou profilaxia, técnica e economicamente exequíveis.
Nas operações de custeio pecuário, são amparadas as perdas decorrentes de doenças
sem método de combate, controle ou profilaxia.
Como funciona a cobertura do PROAGRO?
A cobertura do Proagro corresponde, no mínimo, a 70% (setenta por cento) e, no máxi-
mo, a 100% (cem por cento) do limite de cobertura, por empreendimento enquadrado.

Fonte: Guia de Seguros Rurais e Proagro. Sistema Faep, FenSeg, CNA e Sistema Ocepar.

76    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Dados e leituras complementares

Séries de produção podem ser consultadas em:

 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA):


www.agricultura.gov.br/vegetal/estatisticas

 Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB): www.conab.gov.br

 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): www.ibge.gov.br

 Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA):


www.fas.usda.gov/data

Para dados a respeito do seguro agrícola no País, acesse:


www.agricultura.gov.br/politica-agricola/seguro-rural

Uma análise mais aprofundada a respeito das ferramentas de gestão do risco


de produção pode ser feita a partir das seguintes referências:

BUANAIN, A. M.; Vieira, P. A.; Cury, W. J. M. Gestão do risco e seguro na


agricultura brasileira. Funenseg, 2011.

FAEP, FenSeg, CNA, OCEPAR e OCB. Guia de Seguros Rurais, 2016.


Disponível em: www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Seguro%20Rural/
Cartilha%20Seguro%20Rural_PROAGRO.pdf

Mello, P. C.; Spolador, H. F. S.; Osaki, V. A. Estudos de risco e seguro no


agronegócio brasileiro. Funenseg, 2007.

6. Risco de produção: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   77


Exercícios

1) A partir da metodologia apresentada, quantifique o risco de produ-


ção do milho no Paraná a partir dos dados a seguir.

Área Produção Produ- Área Produção Produ-


Ano safra tividade Ano safra tividade
(mil ha) (mil ton) (ton/ha) (mil ha) (mil ton) (ton/ha)
1976/77 2.153,9 4.630,8 2,15 1996/97 1.851,8 7.222,0 3,90

1977/78 1.811,0 2.468,0 1,36 1997/98 1.460,0 5.402,0 3,70

1978/79 2.150,0 4.358,0 2,03 1998/99 1.540,3 5.837,7 3,79

1979/80 2.165,0 5.110,0 2,36 1999/00 1.543,4 5.834,1 3,78

1980/81 2.153,0 5.570,0 2,59 2000/01 1.852,1 9.445,7 5,10

1981/82 2.304,0 5.414,0 2,35 2001/02 1.490,9 7.380,0 4,95

1982/83 2.270,0 5.180,1 2,28 2002/03 1.453,6 8.140,2 5,60

1983/84 2.290,0 5.159,5 2,25 2003/04 1.351,8 7.522,8 5,57

1984/85 2.130,0 5.258,6 2,47 2004/05 1.257,2 6.537,4 5,20

1985/86 2.270,0 3.917,8 1,73 2005/06 1.514,9 7.756,3 5,12

1986/87 2.686,2 7.064,3 2,63 2006/07 1.318,0 8.804,2 6,68

1987/88 2.149,0 5.466,7 2,54 2007/08 1.374,8 9.708,8 7,06

1988/89 1.863,0 4.856,3 2,61 2008/09 1.268,9 6.522,1 5,14

1989/90 1.937,0 4.796,0 2,48 2009/10 894,1 6.866,7 7,68

1990/91 2.130,0 4.600,8 2,16 2010/11 768,0 6.046,5 7,87

1991/92 2.300,0 6.693,0 2,91 2011/12 977,7 6.578,9 6,73

1992/93 2.139,0 6.630,9 3,10 2012/13 878,1 7.156,5 8,15

1993/94 2.181,0 7.415,4 3,40 2013/14 665,2 5.425,4 8,16

1994/95 2.150,0 7.740,0 3,60 2014/15 542,5 4.683,4 8,63

1995/96 1.870,5 6.546,8 3,50

78    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


7 Risco de preço:
MENSURAÇÃO e
mecanismos de gestão

Oscilações de preços e a importância da gestão de riscos de mercado. A


gestão de riscos de mercado é hoje tão importante – às vezes até mais –
quanto a dos riscos da produção. Variações de preços dos insumos e dos
produtos agrícolas influenciam a tomada de decisão relativa à produção e
comercialização e os resultados alcançados. Fortes oscilações de preços
são capazes de inviabilizar o negócio, tanto de produtores rurais como de
agroindústrias, mesmo em um contexto de alta eficiência na produção.
Produtores e governo precisam conhecer o comportamento padrão dos
preços dos produtos agrícolas, os primeiros para definir suas estratégias
de gestão do risco, e o segundo para desenhar políticas apropriadas ao
setor. A volatilidade dos preços agrícolas não afeta apenas os produtores
e a cadeia produtiva, mas a sociedade em geral. Volatilidade muita
elevada pode ser fonte de risco à segurança alimentar, tem efeitos sobre
a balança comercial, nível de emprego, índices de inflação e ciclos dos
negócios.

As taxas de variações dos índices de preços ao longo de um período


relevante revelam o tamanho do risco associado ao movimento das
cotações, conhecido como risco de preço ou de mercado. Na Tabela 2
apresenta-se, como exemplo, a variação entre 1960 e 2010. Observa-se
que ao longo da segunda metade da década de 2000 grande parte dos
produtos agropecuários apresentou significativa flutuação das cotações.
Enquanto entre a metade da década de 1970 e os anos de 1990 o índice
de commodities agrícolas do Banco Mundial caiu, em termos reais,
aproximadamente 58% (especialmente nos anos de 1980), no período
2005-2008 houve um aumento real de cerca de 40%. Os preços de

  79
algumas commodities agrícolas, como milho, soja e trigo, apresentaram
um crescimento real neste período superior a 60%.

Tabela 2. Variação acumulada real (%) de índices de preço relativos às


commodities agrícolas entre as décadas de 1960 e 2010

1960 1970 1980 1990 2000 2010*

Agricultura -6,19 0,55 -31,58 -5,25 50,68 -15,50

Bebida -6,59 41,88 -48,88 6,50 64,77 -11,47

Alimentos 1,21 -7,45 -32,30 -9,52 62,88 -13,99

Óleos/gorduras vegetais -11,87 -4,02 -34,10 2,44 76,95 -19,39

Grãos 8,87 -8,23 -29,54 -11,47 74,97 -15,97

Outros 14,57 -11,96 -32,68 -19,02 38,73 -5,09

* Nota: entre 2010 e 2015.


Fonte: Banco Mundial (2016)

Conhecer o padrão histórico é relevante, uma vez que as decisões de


investimento, mesmo na implantação de culturas temporárias com ciclo
anual, são opções de médio e longo prazo. É preciso ir além e conhecer
as flutuações no dia a dia, durante o período relevante de colheita e en-
tressafra, quando a maioria dos produtores comercializa a maior parte
da produção.

Como quantificar o risco de preço?

Técnicas para mensurar o risco de preço. Diferentes técnicas são utili-


zadas para mensurar o risco de preço de um produto agropecuário. Sim-
ples medidas como a amplitude dos preços (diferença entre as cotações
máxima e mínima), até cálculos que envolvem procedimentos econo-
métricos sofisticados, avaliam o tamanho do risco relativo às cotações.
Dentre as várias opções, uma das medidas mais conhecidas refere-se ao
desvio-padrão, no qual se avalia o grau de dispersão de uma variável

80    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


em torno de sua média. No caso da mensuração do risco de preço,
também denominado ‘‘volatilidade’’, avalia-se a dispersão dos retornos
das cotações de um certo produto em relação ao retorno médio. Assim,
existindo alta variação de preços ao longo do tempo, as rentabilidades
possuem forte oscilação, o que se traduz em alta volatilidade.

Onde, σi é o desvio-padrão dos retornos da commodity i, R é a rentabi-


lidade dos preços e P consiste na probabilidade de ocorrência de cada
um dos eventos.

Medidas similares são também aplicadas, representando alternativas ao


desvio padrão. Ao analisar a dispersão dos retornos que estão abaixo
da média, tem-se a semi-variância. Se, a partir do conceito de semi-
variância, utiliza-se a média de um benchmark qualquer (exemplo, taxa
Selic), ao invés da média dos retornos do ativo, obtém-se o downside-risk.
E, por fim, tendo base no conceito de desvio padrão, porém conferindo
maior peso aos retornos mais recentes, declinando exponencialmente as
participações das rentabilidades passadas, chega-se a EWMA (Exponen-
tially Weighted Moving Average).

Definições de volatilidade segundo o período. É importante notar a vola-


tilidade é uma medida que capta as variações ocorridas em um período
determinado. Pode-se falar, por exemplo, em volatilidade diária, sema-
nal, mensal, sazonal e anual, e essas medidas, para o mesmo produto,
podem variar muito. Um produto pode apresentar forte volatilidade diá-
ria, mas baixa volatilidade mensal; pode registrar elevada sazonalidade
quando se observa a flutuação dos preços entre os períodos de safra e
entressafra e, ao mesmo tempo, elevada estabilidade quando se obser-
vam os preços médios ao longo de vários anos. É provável que para um
produtor médio de soja, a volatilidade diária não seja tão relevante, mas
certamente o é para os produtores de certos legumes e verduras, que
comercializam produção às vezes diariamente. Isso significa que a

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   81


escolha do período para o cálculo da volatilidade a fim de orientar as
decisões dos produtores e definir a estratégia de gestão de risco depende
da natureza do produto e, principalmente, de como o produtor está inse-
rido na cadeia de negócios.

Volatilidade dos preços nos


mercados agrícolas brasileiros
O Gráfico 5 mostra a evolução da volatilidade nos mercados do café e do milho
no Brasil entre julho de 2005 e maio de 2016, obtida a partir de índices de
preços calculados pelo Cepea/Esalq/Usp.

Gráfico 5. Evolução da volatilidade dos mercados


de café e milho entre jul/05 e mai/16.

Fonte: Cepea/Esalq/Usp (2016).

Ao utilizar o desvio padrão dos retornos como método de mensuração, observa-


se que a volatilidade do café arábica (média de 27% a.a.) foi bastante superior
em relação à observada no mercado do milho (média de 11% a.a.). A diferença
acima observada tem base na formação dos preços de tais produtos - enquanto
as cotações do café se formam no mercado internacional, o preço do milho é
resultado, em boa medida, das condições de oferta e demanda do mercado
interno brasileiro.

82    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Dados históricos e análise do risco de preço

Tal como o risco de produção, o risco de preço é normalmente mensura-


do a partir de dados históricos, com o uso de séries de preço. A mesma
limitação, ilustrada a partir da condução de um veículo feita exclusiva-
mente pelo espelho retrovisor, é novamente válida. Esta observação é
especialmente relevante no período atual, no qual diferentes fatores têm
impactado as cotações de diferentes commodities.

Fatores estruturais associados à oferta e à demanda têm tradicionalmente


papel-chave na formação dos preços dos produtos agropecuárias. No en-
tanto, o período recente tem apresentado novos fatores de risco. Além das
mudanças climáticas que vêm impactando a produção de alguns países,
questões ambientais relativas ao uso da terra para o cultivo e criação
de animais têm colocado limites à expansão da atividade agropecuária.
Verifica-se ainda um aumento significativo da oferta de combustíveis reno-
váveis, como etanol e biodiesel, sendo estes últimos obtidos, por exemplo,
a partir do milho, soja e sebo bovino – dessa maneira, abre-se a possibi-
lidade de diminuir a oferta de tais produtos na forma de alimentos, além
de existir pressão sobre as áreas usadas por outras culturas. Por outro
lado, alterações na demanda por produtos agropecuários, especialmente
na China, possuem um alto potencial de impacto sobre os preços.

Fatores da esfera financeira também têm influenciado os preços das com-


modities agropecuárias, sendo, portanto, fatores de risco. A oscilação do
valor da moeda norte-americana impacta a demanda por commodities co-
tadas em dólares, alterando os fundamentos do mercado. Além disso, as
cotações internacionais do petróleo, ao impactar os preços dos combus-
tíveis, fertilizantes, herbicidas, fungicidas, nitratos, entre outros produtos
derivados, influencia os custos de produção da atividade agrícola, sendo
estes repassados aos preços dos produtos agropecuários.

Em resumo, a análise e a mensuração do risco de preço de produtos


agropecuários têm se constituído em um processo de alta complexidade,
especialmente nos últimos anos. Tal fato expõe as limitações de se avaliar
o risco de preço concentrando-se no estudo dos padrões históricos da
série de cotações da commodity. É necessário levar em consideração os
aspectos acima abordados, avaliando os fundamentos do mercado e a
conjuntura econômico-financeira de forma a identificar os fatores de risco
que permeiam a cultura em análise.

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   83


Como os produtores percebem o risco?

O comportamento humano é influenciado pelo sistema cognitivo que proces-


sa as informações de acordo com leitura própria. Nesse contexto, intuição
e emoção interferem na tomada de decisões, abrindo-se a possibilidade da
existência de excesso de confiança nas ações. Nesse caso, três fatores devem
ser considerados: efeito maior que a média, descalibragem em previsões e
ilusão de controle. Como observa Silveira et al. (2013, p. 400), “o efeito
maior que a média tem origem no fato de os indivíduos, em geral, se consi-
derarem tão bons quanto outros em suas habilidades ou características pes-
soais. A descalibragem, por sua vez, advém da imprecisão das expectativas
dos agentes econômicos em relação a um dado futuro vis-à-vis os resultados
efetivos. Já a ilusão de controle surge de um comportamento no qual um
agente possui percepção de que detém o controle e a direção sobre determi-
nados resultados, considerando assim uma probabilidade de sucesso maior
do que a probabilidade objetiva pode garantir. Dessa forma, eventos sujeitos
à incerteza seriam mais controláveis do que realmente o são – o risco, por-
tanto, seria considerado como uma variável passível de controle, que poderia
ser sobrepujada pelo talento pessoal”.

Estudos apontam que o excesso de confiança é bastante comum em agen-


tes que administram seu próprio negócio, incluindo produtores rurais. Tal
característica impacta a percepção do risco (especialmente de preço e de
produção) do agente e as suas decisões relativas à gestão. No Brasil, estudos
constataram excesso de confiança em produtores de milho (Cruz Júnior et
al., 2009), de café (Silveira et al., 2013 e 2014) e de laranja (Carrer et al.
2015). Como exemplo, Silveira et al. (2013) verificaram, em uma amostra
de 244 cafeicultores, que aproximadamente 50% dos produtores apresenta-
ram excesso de confiança nos meses da safra ao constatarem que as oscila-
ções históricas dos preços do café foram bastante superiores à percepção dos
produtores amostrados em relação aos movimentos das cotações.

84    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Quais os instrumentos para
gerenciar o risco de preço?

Âmbitos da gestão de risco de preços. A gestão de risco de preço se


dá no âmbito da política pública, do mercado, das relações privadas
(contratos) e da unidade produtiva. No âmbito da política pública, ope-
ram-se os instrumentos de políticas de preços mínimos de garantia; uti-
lização de estoques reguladores visando reduzir flutuações sazonais e
assegurar regularidade da oferta mesmo em anos de catástrofe; políticas
comerciais que regulam o fluxo de comércio externo e sistema de infor-
mações de preços que têm (ou podem ter) papel relevante no processo
de arbitragem de preços e redução de falhas de mercado que elevam
a volatilidade. No âmbito das relações privadas, os produtores podem
e fazem contratos de fornecimento que, às vezes, contêm cláusulas de
fixação de preços para reduzir, ou até eliminar, o risco de preço durante
certo período. Este tipo de contrato é comum em cadeias com elevada
concentração vertical, em sistemas integrados com grande coordenação
e até mesmo em cadeias com menor nível de integração, mas mercados
transparentes, como o de grãos, café e açúcar, por exemplo. No âmbito
micro, políticas públicas e até mesmo a experiência própria do produtor
podem levar a ações no sentido de reduzir os riscos de preços, como,
por exemplo, diversificar a produção, plantar variedades tardias ou de
ciclo curto para evitar o pico da safra e/ou se beneficiar dos preços mais
elevados praticados na entressafra.

Estratégias no âmbito do mercado. E finalmente, além da diversificação


da produção e integração vertical, outras estratégias podem ser usadas
para gerenciar o risco de preços com base em operações no mercado.
Tais estratégias contemplam o uso de contratos de derivativos, instru-
mentos financeiros que viabilizam transações com liquidação futura. Ne-
gociados em mercados de balcão e de bolsa, a função econômica prin-
cipal destes papéis é fornecer proteção contra oscilações não favoráveis
do ativo-objeto do contrato mediante operações de hedge, nas quais se
garante a trava, no presente, da cotação de compra ou de venda para
uma data futura.

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   85


O que é o hedge?

Hedge significa cerca, mais precisamente cerca viva, barreira, divisão, e


como verbo significa cercar, restringir, limitar. No mercado, hedge é uma
operação utilizada para barrar, cercar, restringir, limitar o risco, portanto,
para se proteger de incertezas associadas ao comportamento do preço
no futuro. Trata-se de uma prática antiga, mas que foi institucionalizada
na segunda metade do Século XIX, no mercado de commodities de Chi-
cago, que então despontava como importante centro de comercialização
de grãos. Para evitar surpresas quanto aos preços durante a safra, muitos
agricultores preferiam vender sua produção antecipadamente, por preço
pré-definido, prometendo entregá-la após a colheita. Do outro lado, muitos
agentes, em especial exportadores e agroindústrias, também pelas mes-
mas razões, preferiam comprar antecipadamente, pois assim tinham ga-
rantia do preço e poderiam realizar seus negócios futuros sem risco de ter
que comprar matéria-prima por preço mais elevado do que aquele utilizado
no cálculo das transações que precisavam realizar com seus clientes. Aos
poucos, essas transações foram se tornando impessoais e deram origem ao
sofisticado mercado de derivativos que conhecemos hoje.

MERCADO A TERMO: DEFINIÇÃO


E EXEMPLO DE OPERAÇÃO

Tipos de derivativos. Os contratos de derivativos são negociados no mer-


cado financeiro mundial, em várias modalidades, envolvendo títulos as-
sociados a vários ativos e riscos, desde a moeda estrangeira, preços de
mercadorias em geral até índices de inflação. O mais antigo deles é o
contrato a termo, que aparece em várias configurações. Negociado em
mercados de balcão ou de bolsa, o termo representa um acordo de com-
pra e venda de um ativo a um preço pré-definido para entrega em data
futura. Os itens contratuais são definidos entre as partes e sua liquidação
é feita, em geral, no final do contrato.

Como exemplo, considere um produtor de milho do Paraná que, em março,


acerta a venda de 18 mil sacas de milho a uma agroindústria a R$27,00/
saca para entrega em meados de julho. Com isso, independente do que

86    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


ocorra com o preço do grão nesses meses, o produtor e a agroindústria
estarão protegidos das variações nas cotações.

O gráfico ao lado mostra


a evolução dos preços
do milho, entre março e
julho, na região do pro-
dutor. Verifica-se que,
em meados de julho,
o preço local foi para
R$25,00/saca. O pro-
dutor, no entanto, en-
tregou sua produção à
cotação de R$27/saca,
recebendo R$486 mil
pelas 18 mil sacas, conforme estabelecido no contrato a termo, prote-
gendo-se, assim, da queda das cotações.

Operações de Barter. Produtores de milho, soja, café, algodão e açú-


car têm utilizado de maneira bastante significativa, especialmente no
Centro-Oeste do País, as denominadas operações de barter. A partir de
uma transação triangular entre produtor, empresa de insumos e trading
(agroindústria ou exportador), o produtor rural recebe o insumo neces-
sário para o plantio, comprometendo-se a entregar uma porcentagem
de sua produção a uma trading como forma de pagamento. Este último
agente, por sua vez, vende o produto no mercado e realiza o pagamento
à empresa de insumos. Essas operações reduzem os riscos de preços dos
insumos, financiam parte do custo de produção e ainda diminuem os
riscos relativos à comercialização. Adicionalmente, caso o contrato este-
ja formalizado a partir de um preço fixo do produto, garante-se a gestão
do risco de preço, sendo, assim, uma modalidade de contrato a termo.

Cédula do produtor rural. Outra modalidade alternativa de contrato a


termo se refere à Cédula do Produto Rural (CPR). Trata-se de um título
cambial, negociável no mercado de balcão ou bolsa, que representa a
promessa de entrega futura de um determinado produto agropecuário.
A partir da emissão da CPR, realizada por um produtor rural (ou uma
cooperativa/associação de produtores), estabelece-se um adiantamento

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   87


de recursos ao emissor, existindo o dever de liquidação no vencimento.
Tal liquidação pode ocorrer mediante entrega física ou pagamento finan-
ceiro. Na CPR financeira, ao invés de entregar o produto à contraparte,
o produtor liquida o título em dinheiro conforme o preço de resgate, po-
dendo este ser fixo (definido no momento da operação) ou indexado por
um indicador relativo ao mercado à vista ou futuro.

MERCADO FUTURO: DEFINIÇÃO E


EXEMPLO DE OPERAÇÃO

O mercado a termo apresenta duas importantes deficiências. A primeira


advém da customização de seus contratos, o que implica na impossibi-
lidade da liquidação da posição antes de seu término. A segunda tem
base no risco de crédito da operação, dada a possibilidade de uma das
contrapartes não honrar com o acordado. Visando solucionar tais defici-
ências, surgem os contratos futuros. Estes possuem, em sua essência,
a mesma função do termo, porém são dotados de alguns mecanismos
próprios. Ao serem contratos padronizados – em relação ao ativo-obje-
to, tamanho, unidade de cotação, meses de vencimento, entre outros,
esses papéis permitem a liquidação da operação a qualquer momento
via transferência de posição para um terceiro. Além disso, os futuros
são negociados exclusivamente em bolsas de mercadorias, onde existe a
atuação de câmaras de compensação. Estas são responsáveis pelo regis-
tro, compensação e liquidação das operações, sendo a garantidora dos
negócios ali executados. Para tanto, utilizam vários mecanismos para
redução do risco de crédito das negociações, sendo os mais importantes
deles o ajuste diário e a margem de garantia.

Considere o mesmo produtor de milho do exemplo anterior. Ao invés de


travar o seu preço no mercado a termo, este negocia contratos futuros
na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBOVESPA). Como
pretende se proteger da queda de preço referente às 18 mil sacas e cada
contrato futuro equivale a 450 sacas, o produtor vende 40 contratos
futuros, com vencimento em julho, ao preço de R$29/saca, realizando o
que se denomina de hedge de venda. Neste momento, a partir da aná-
lise do histórico das safras anteriores, o produtor tem a expectativa de

88    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


que a diferença dos preços à vista e futuros (conhecida como base), no
vencimento do contrato, será de -R$1/saca. Com isso, prevê a trava de
preço a R$28/saca.

Admita que o preço do milho possua a evolução indicada no gráfico ao


lado. Assim sendo, em julho, na data de vencimento do contrato futuro,
verificam-se preços à vista e futuros iguais a R$25 e 26/saca, respecti-
vamente – ou seja, a base de – R$1/saca se confirmou.

O produtor, então, vende o seu produto no mercado local a R$25/saca.


No mercado futuro, sua posição é revertida, obtendo uma soma de ajus-
tes diários igual a R$3/saca (desconsiderando os custos de corretagem
da operação). Dessa forma, obtém resultado final de R$28/saca, como
era esperado.

E se o valor da base não se confirmasse?

Suponha, por exemplo, que o preço à vista e o preço futuro atingissem,


em julho, valores iguais a R$25,50 e R$26,00/saca, respectivamente,
levando a uma base maior do que se esperava (-R$0,50/saca). O pro-
dutor venderia o seu produto no mercado físico a R$25,50 e teria um
ganho nos mercados futuros igual a R$3,00, proporcionando R$28,50/
saca. Ou seja, com o fortalecimento de base, o produtor se beneficiou.

Por outro lado, considere preços à vista e futuros de R$25,00 e R$26,50/


saca (base de -R$1,50/saca). Considerando o recebimento de R$25,00

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   89


no mercado físico mais um ganho de R$2,50 nos mercados futuros, o
produtor teria R$27,50 para cada saca produzida. A partir desse caso,
observa-se que o enfraquecimento da base prejudicou o produtor.

Verifica-se, assim, que os contratos futuros contribuem para o gerencia-


mento contra oscilações desfavoráveis nos preços da commodity que
o produtor trabalha. Porém, um risco residual referente à base se faz
presente.

MERCADO DE OPÇÕES: DEFINIÇÃO E


EXEMPLO DE OPERAÇÃO

O mercado de opções. Os contratos futuros, ao solucionar algumas de-


ficiências do termo, possuem algumas características que limitam sua
utilização pelos produtores rurais. O principal entrave é a elevada mo-
vimentação financeira ao longo da operação. Além disso, os contratos
futuros travam o preço do ativo-objeto do contrato, o que impede que os
contratantes aproveitem movimentos favoráveis das cotações no merca-
do à vista em seu benefício. Os contratos de opções, ao mesmo tempo
que protegem o contratante dos riscos, preservar-lhe a flexibilidade para
negociações alternativas em função da evolução do mercado. Diferen-
temente do termo e do futuro, que representam acordos de compra e
venda de um ativo a certo preço, as opções equivalem a direitos de com-
prar ou de vender um ativo em certa data ou período futuro a um preço
previamente acordado, sendo este conhecido como preço de exercício
(K). O comprador da opção paga um preço (prêmio) para o vendedor
para adquirir tal direito.

Assim, produtores rurais podem utilizar as opções de venda, denomi-


nadas de puts, para garantir a venda de seu produto a um certo preço,
pagando um prêmio por isso. No vencimento do contrato, caso o preço
de mercado seja menor que K, o produtor exerce o seu direito de vender
o produto ao preço K. Por outro lado, se o preço de mercado superar K,
o direito não é exercido. O produtor perde o prêmio, porém se aproveita
do movimento altista do mercado.

90    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Exemplo do produtor de milho.

O mesmo produtor de milho dos exemplos anteriores decide utilizar as


opções sobre contratos futuros para gerenciar o risco de queda dos pre-
ços do milho. Negocia, assim, opções de venda com preço de exercício
de R$30,00/saca, pagando um prêmio de R$2,00/saca.

Suponha que, na data de vencimento da opção, o preço futuro do milho


esteja R$26/saca e o preço à vista R$25/saca. O produtor exerce o direi-
to de vender o contrato futuro a R$30,00 e já logo reverte a sua posição
neste mercado, obtendo ganho de R$4/saca. Ao descontar o prêmio pago
no início da operação, o ganho líquido totaliza R$2/saca. Com a venda no
mercado a vista a R$25/saca, este produtor obtém R$27/saca, desconsi-
derando os custos de corretagem.

E se se os preços futuros e à vista se elevassem?

Suponha que os preços à vista e futuro chegassem, respectivamente, a


R$36 e R$37/saca. O direito de vender a R$30/saca não seria exercido e
o produtor perderia R$2/saca referente ao prêmio. Porém, ainda receberia
um valor líquido R$34 para saca vendida.

Mercado de swap: definição

O último tipo de contrato de derivativo é o swap. Negociado em mer-


cado de balcão, o swap consiste em um acordo, em que as contrapar-
tes trocam fluxos futuros de caixa baseados em um indexador, valor de
referência e prazo. Assume-se uma posição ativa (vendida) e passiva
(comprada) em dois indexadores, existindo um fluxo de caixa futuro as-
sociado a cada um deles. Caso a posição ativa seja maior que a passiva,
obtém-se um ganho pela diferença na data de liquidação da operação.
Vale, no entanto, destacar que os swaps dificilmente são negociados por
produtores rurais.

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   91


Mudanças na gestão de riscos nas
cooperativas de produtores em honduras

A crise dos preços do café do ano 2002 foi muito grave para os países
produtores. No ano 2002, o preço internacional do café chegou ao valor
real mais baixo da história, o que causou muitos problemas aos produ-
tores de café arábica com estruturas elevadas de custo de produção, em
particular em países de América Central, México e países andinos.

A Cooperativa La Central de Honduras não escapou da crise e seus


membros passaram rapidamente a avaliar como fazer a gestão do risco
de preço para poder continuar no setor. Alguns produtores tiveram
que sair da produção de café, sobretudo aqueles cujas propriedades
se situavam abaixo dos 800 metros de altitude, já que a qualidade
do café (acidez) não era suficiente para conseguir o diferencial de
preço a fim de cobrir os custos de produção. Esses produtores viram a
solução na diversificação da produção fora do setor cafeicultor. Porém,
a maioria dos produtores da cooperativa se manteve na atividade, mas
implementou várias mudanças para fazer face ao risco de volatilidade
dos preços:

1. Diferenciação do produto: O café arábica é de qualidade melhor


do que o café robusta, porém a cooperativa não recebia benefí-
cio pela qualidade. A cooperativa mudou as práticas de produ-
ção e processamento para minimizar defeitos e conseguir preços
mais elevados e diferenciados (assinando contratos com preços
fixados de acordo com a qualidade do produto e vendendo dire-
tamente para clientes do mercado internacional).

2. Descentralização da produção: Para reduzir os custos de trans-


porte e aumentar o controle da qualidade, a cooperativa instalou
o beneficiamento em nível regional para que a qualidade fosse
controlada em cada região e assim rastrear os problemas antes
de se chegar às etapas de comercialização. O beneficiamento do
produto mais perto da propriedade também reduz o volume e
peso do café a ser transportado.

92    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


3. Busca de novos mercados: para garantir um preço estável e
diferenciado a cooperativa lançou uma campanha de comercia-
lização a compradores de cafés especializados em países impor-
tadores de café.

Leituras complementares

Uma análise mais aprofundada a respeito das ferramentas de gestão do


risco de preço pode ser feita a partir das seguintes referências:

BESSADA, O.; BARBEDO, C.; ARAÚJO, G. Mercado de derivativos


no Brasil: conceitos, operações e estratégias. Editora Record, 2005.

HULL, J. Fundamentos dos mercados futuros e de opções. 4º ed.


BM&F, 2005.

MARQUES, P.V.; MELLO, P. C.; Martines FILHO, J. G. Mercados Fu-


turos e de Opções Agropecuárias. Piracicaba, S.P., Departamento de
Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP,

7. Risco de preço: MENSURAÇÃO e mecanismos de gestão   93


Exercícios

1) Um pecuarista, localizado na região próxima a Goiânia, trabalha


com a engorda de boi gordo. Em fevereiro, planeja vender o gado
dali a aproximadamente quatro meses. Ao avaliar os preços futuros
da BM&FBOVESPA, decide fazer um hedge de venda, negociando
100 contratos futuros com vencimento em maio a R$150/@. Sa-
bendo que a base histórica na região é de -R$2,00/@, pergunta-se:

a. A que preço o pecuarista trava a venda da arroba do boi?

b. Calcule o preço obtido por arroba nos quatro cenários propostos,


avaliando o que ocorreu com a base.
Cenário 1: preço à vista = R$140; preço futuro = R$142.
Cenário 2: preço à vista = R$138; preço futuro = R$139.
Cenário 3: preço à vista = R$138; preço futuro = R$142.
Cenário 4: preço à vista = R$160; preço futuro = R$162.
Cenário 5: preço à vista = R$158; preço futuro = R$161.

2) Esse mesmo pecuarista negocia opções de venda sobre futuro de boi


gordo na BM&FBOVESPA. O preço de exercício da opção é igual a
R$160/@ e o prêmio é de R$10/@. Calcule o preço obtido por esse
produtor, caso:

a. Os preços futuros e à vista atinjam R$145,00 e R$143/@,


respectivamente.

b. Os preços futuros e à vista atinjam R$170,00 e R$168/@,


respectivamente.

3) Aponte as vantagens e desvantagens do contrato a termo, futuros e


opções para um produtor rural que necessita fazer o hedge de sua
produção.

94    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


8 Risco de crédito e
DE liquidez

Credito: insumo estratégico para a agricultura. O crédito é um serviço


essencial para a atividade agropecuária, que tem processos produtivos
relativamente rígidos, ditados pela sazonalidade climática e pela dinâ-
mica da própria natureza e, por isso mesmo, maior dificuldade para
compatibilizar temporalmente os fluxos de receitas e despesas. Em cer-
tos cultivos permanentes e segmentos da produção animal, o produtor
precisa incorrer em despesas durante anos sem gerar receita alguma que
financiem os gastos correntes e cubram parte dos investimentos. A ne-
cessidade de crédito eleva os riscos financeiros da atividade, e a inadim-
plência coloca o produtor em situação de fragilidade. De um lado, pode
não obter os recursos necessários para financiar a produção corrente e
de outro, em casos extremos, coloca em risco seu próprio patrimônio, em
geral dado como garantia da operação de financiamento.

Risco de crédito. O risco de crédito consiste na possibilidade de inadim-


plência de uma das partes envolvidas em uma transação. Em comple-
mento, esse risco também está associado à probabilidade de deterio-
ração da qualidade do crédito da contraparte, o que automaticamente
leva a uma maior chance de que este agente não honre os contratos
previamente firmados.

Risco de exposição e de recuperação. O risco de crédito não deve ser


somente avaliado a partir da possibilidade do default em si. Duas outras
questões devem ser analisadas:

i) risco da exposição – baseada na incerteza relativa ao volume


financeiro total devido quando da efetivação do evento de ina-
dimplemento;

  95
ii) risco de recuperação – determinado pelo montante a ser re-
cuperado quando da ocorrência do default. Neste contexto,
Lima et al. (2016, p. 3) apontam que “o risco de default
está estreitamente relacionado às características econômi-
co-financeiras do agente tomador de crédito, já os riscos de
exposição e de recuperação advêm do desenho do contrato
de crédito”.

classificações do risco de Crédito

Dentro do contexto das atividades agropecuárias, o risco de crédito pode


ser analisado sob duas perspectivas: a do produtor e a da sua contra-
parte. Enquanto, na primeira perspectiva, considera-se o risco de expo-
sição do produtor diante da possibilidade de default de sua contraparte
na segunda perspectiva, a análise é contrária, sendo a fonte da possibi-
lidade de inadimplemento centrada no produtor rural.

Perspectiva do produtor. O risco associado ao crédito tem, dentro des-


sa perspectiva, duas fontes de origem – na atividade operacional e na
forma de financiamento da atividade. A primeira está associada às
transações realizadas com a indústria, tradings e/ou fornecedores. O
produtor pode ter seu contrato não honrado ao não se efetivar o pa-
gamento da venda de seu produto ou pela não entrega do insumo já
pago. Em relação à segunda fonte, esta é relativa à possibilidade de
não obtenção de crédito por parte do produtor para execução de suas
atividades de custeio e/ou investimento. Vale observar que, mesmo
que esteja associado ao crédito, esse último tipo de risco não deve ser
classificado como um risco de default em si, sendo comumente deno-
minado de risco de liquidez.

Deve-se destacar que o risco de liquidez está associado a muitos fato-


res, entre os quais o ambiente de negócios e o ambiente institucional.
Mudanças abruptas na conjuntura econômica repercutem no ambiente
de negócios e podem inviabilizar expectativas pactuadas anteriormente.
Um exemplo claro desse risco foi a crise financeira mundial detonada
pela explosão da bolha especulativa em 2008. O setor de bioenergia no

96    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Brasil encontrava-se no auge de um ciclo de investimentos financiado
com recursos captados no exterior. Com a súbita retração do mercado,
muitas empresas tiveram dificuldades de captar e renovar o financia-
mento e entraram em crise. O mesmo pode ocorrer com uma reorienta-
ção da política econômica e agrícola, ou devido a mudanças nas próprias
regras de financiamento bancário.

Perspectiva da contraparte. Da mesma forma que em outras atividades,


um produtor rural pode financiar seu negócio a partir de recursos pró-
prios ou de terceiros (Figura 9). Enquanto o capital próprio é formado
pelos recursos dos proprietários (Patrimônio Líquido), o capital de tercei-
ros é constituído pelo passivo oneroso (empréstimos e financiamentos) e
pelo passivo de funcionamento (fornecedores, contas, salários e impos-
tos a pagar). A partir dessa decisão de financiamento, forma-se o que se
conhece como estrutura de capital do empreendimento. A estrutura de
capital interage diretamente e está associada ao risco de liquidez, risco
de crédito, risco financeiro e de produção, com repercussões relevantes
sobre a sustentabilidade do próprio negócio.

Figura 9. Formas de financiamento de um negócio

Fonte: Assaf (2014)

8. Risco de crédito e DE liquidez   97


Conhecidos a estrutura de capital e os custos relativos a cada uma das
fontes de recursos, mensura-se o custo médio ponderado de capital
(CMPC). Na situação em que a atividade gera um retorno operacional
sobre o valor investido superior ao custo de capital, é possível remunerar
as fontes de financiamento e ainda agregar valor à atividade.

Retorno da atividade operacional > Custo de capital  Geração de valor

Alavancagem financeira e risco de crédito. O aumento da alavancagem


financeira, expressão comumente usada no jargão do mercado, tem por
base o maior uso de recursos de terceiros na estrutura de capital, me-
diante a captação de empréstimos bancários. A alavancagem amplia o
risco de crédito do produtor frente à contraparte (bancos, fornecedo-
res, governo, entre outros), já que problemas com a produção, devido a
eventos climáticos ou outros, ou na comercialização podem inviabilizar o
pagamento do crédito e levar à inadimplência. A partir de certo nível de
alavancagem, a concessão dos empréstimos pode estar associada a um
custo de capital crescente ou até mesmo à restrição ao crédito (efetivan-
do-se o risco de liquidez). Consequentemente, o custo de capital pode se
tornar superior à rentabilidade da atividade, provocando destruição de
valor e potencializando um evento de default pelo produtor.

Cabe notar que, além de possíveis desencaixes entre receita advinda


das operações do agricultor (exposta ao risco de preço e de produção)
e o compromisso com o pagamento das parcelas referentes à dívida, o
montante financiado pode sofrer oscilações conforme o movimento das
taxas de juros e de câmbio (no caso de captação externa), elevando o
endividamento. Verifica-se, assim, que o risco de crédito está intima-
mente relacionado com risco de preço e de produção, além do risco
institucional que será avaliado mais adiante.

Avaliação do risco de inadimplência. O risco da ocorrência de um evento


de inadimplemento pode ser avaliado a partir das características do pro-
dutor e de seu negócio, aliado à análise do valor de seu patrimônio, das
garantias que podem ser colocadas no contrato de concessão de crédito
e das condições de mercado existentes. Métodos diversos são utilizados
pelas instituições financeiras para mensurar tal risco, cujos exemplos são
credit scoring e risk rating.

98    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


um foco no risco de liquidez

No contexto das atividades desenvolvidas na agropecuária, o risco de


liquidez tem base na possibilidade de, ao se deparar com uma situação
de descasamento entre pagamentos e recebimentos, não se obter os
recursos suficientes para a continuidade esperada de suas operações.

Informação assimétrica. Um dos principais motivos para dificuldade na


obtenção de crédito rural é o fato de as instituições financeiras, que
ofertam crédito, não terem informações suficientes acerca das caracterís-
ticas do projeto e do agente que demanda recursos. O contexto de infor-
mação assimétrica entre mutuários e credores eleva os chamados custos
de transação porque muitas operações exigem processos onerosos de
avaliação e monitoramento por parte da instituição credora. O risco de
inadimplência implica, também, na elevação da taxa de juro, que deve
incorporar provisão para cobrir empréstimos faltosos.

Seleção adversa e risco moral. Devido à dificuldade de distinguir os bons


dos maus pagadores e, por consequência, incorrer em um risco de sele-
ção adversa, os credores implementam (ex ante à concessão do crédito)
técnicas de avaliação, que visam aferir a capacidade de pagamento dos
mutuários, além de estabelecerem exigências de colaterais nos contratos.
Após liberação dos recursos, entra em cena um outro fator denominado
de risco moral, sendo este determinado pela possibilidade de o tomador
do crédito executar ações que aumentem significativamente o risco do
negócio. Como forma de gerenciar tal risco, as instituições financeiras (ex
post à liberação do recurso) monitoram a operação de forma a garantir
cumprimento das cláusulas contratuais. No entanto, cabe apontar que
este último processo de enforcement dos contratos pode sofrer significa-
tivas limitações no caso de existir um sistema legal moroso e ineficiente.

Crédito agrícola no brasil: um breve cenário

A oferta de crédito no Brasil é segmentada em quatro grandes agentes:


(i) setor público, via bancos oficiais, nas linhas definidas pela política
agrícola e por programas especiais que incluem financiamento como um

8. Risco de crédito e DE liquidez   99


dos instrumentos; (ii) setor privado bancário, como agente da política
pública e em operações autônomas selecionadas; (iii) setor privado não
bancário (empresas de insumos e equipamentos, traders e agroindús-
trias) e (iv) mercado de capitais. Em relação ao produtor, a maioria das
políticas e programas opera com a segmentação entre agricultura fami-
liar e não familiar, cada subgrupo dividido segundo o tamanho/nível de
renda para fins de fixação das condições especiais de financiamento.

Ao contrário do passado, quando as regras de concessão do crédito ofi-


cial eram mais permissivas, observa-se, no período mais recente, a con-
vergência de critérios e mecanismos de avaliação utilizados pelos bancos
públicos e privados. Também se observa que a despeito da expansão da
oferta geral, os limites do crédito continuam presentes, em particular no
segmento do crédito oficial. Neste contexto, reforça-se a necessidade de
uma boa gestão de risco, tanto por parte dos agentes ofertantes como
dos tomadores de crédito, a fim de reduzir o risco de inadimplência. O
casamento entre o seguro e o crédito, por exemplo, pode ser adequado
em várias situações. Ademais, como coloca Carrer et al. (2013), “uma
boa avaliação (screening) dos tomadores de crédito e de fortes meca-
nismos de incentivo na utilização do crédito para reduzir a probabilida-
de de inadimplência devido à má aplicação dos recursos (risco moral)”
também são fortemente recomendáveis.

Em resumo, a intensidade dos fatores acima colocados – risco de se-


leção adversa, risco moral e dificuldade no enforcement dos contratos
– condiciona a existência de um quadro de racionamento ao crédito,
determinando o risco de liquidez. Sob racionamento, os recursos são es-
pecialmente direcionados aos produtores de menor risco. O problema da
obtenção de empréstimos é ainda agravado pela existência de burocracia
no processo de concessão e pela demora na liberação dos recursos, o
que pode prejudicar o cronograma da atividade.

100    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Crédito rural no brasil:
modalidades e fontes

O Crédito Rural abrange recursos destinados ao custeio, a investimen-


tos ou à comercialização. As suas regras, finalidades e condições estão
estabelecidas no Manual de Crédito Rural (MCR), elaborado pelo Banco
Central do Brasil. Essas normas são seguidas por todos os agentes que
compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), como bancos e
cooperativas de crédito.

Os créditos de custeio ficam disponíveis quando os recursos se destinam


a cobrir despesas habituais dos ciclos produtivos, da compra de insumos
à fase de colheita. Já os créditos de investimento são aplicados em bens
ou serviços duráveis, cujos benefícios repercutem durante muitos anos.
Por fim, os créditos de comercialização asseguram ao produtor rural e
às cooperativas os recursos necessários à adoção de mecanismos que
garantam o abastecimento e levem o armazenamento da colheita nos
períodos de queda de preços.

O produtor pode pleitear as três modalidades de crédito rural como pes-


soa física ou jurídica. As cooperativas rurais são também beneficiárias
naturais do sistema.

Ano a ano, a alocação de recursos pelo Governo Federal para o crédito


rural tem aumentado. A maior parte do valor destina-se a créditos de
custeio. Esse recurso é tomado diretamente nos bancos ou por meio das
cooperativas de crédito.

A oferta de linhas de créditos para investimentos conta com recursos do


Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos
Fundos Constitucionais de Financiamento do Centro-Oeste, Norte e Nor-
deste, conhecidos, pela ordem, como FCO, FNO e FNE.

Fonte: http://www.agricultura.gov.br/politica-agricola/credito-rural

8. Risco de crédito e DE liquidez   101


Dados e leituras complementares

Dados sobre crédito rural podem ser acessados no site do MAPA (http://
www.agricultura.gov.br/politica-agricola/credito-rural).
Para uma análise mais aprofundada sobre crédito agrícola, consultar os
seguintes estudos:

BELIK, B. O financiamento da agropecuária brasileira no período re-


cente. Texto para discussão 2028. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada, IPEA. Brasília, 2015.

SANTANA, C. A. M.; BUAINAN, A. M.; SILVA, F. P. S.; GARCIA, J. R.;


LOYOLA, P. Política agrícola: avanços e retrocessos ao longo de uma
trajetória positiva. In: Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves; José
Maria da Silveira; Zander Navarro (Org.). O mundo rural no Brasil do
século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. 1ª ed.
Brasília: Embrapa, 2014. Disponível em: https://www.embrapa.br/
busca-de-publicacoes/-/publicacao/994073/o-mundo-rural-no-bra-
sil-do-seculo-21-a-formacao-de-um-novo-padrao-agrario-e-agricola

BUAINAN, A. M.; SANTANA, C. A. M.; SILVA, F. P. S.; GARCIA, J. R.;


LOYOLA, P. O tripé da política agrícola brasileira: crédito rural, seguro
e Pronaf. In: Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves; José Maria da
Silveira; Zander Navarro (Org.). O mundo rural no Brasil do século
21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. 1ª ed. Brasí-
lia: Embrapa, 2014.

102    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Exercícios

1) O estudo de Belik (2015) fornece uma importante análise acerca


da evolução do crédito agrícola no período recente no país. Diante
do trecho abaixo apontado pelo autor, analise os motivos pelos
quais o tamanho médio dos contratos de crédito do setor público é
tão diferente em relação ao setor privado.

“Os valores médios dos contratos mostram essas discrepâncias


entre os agentes financeiros privados e os bancos públicos. As
diferenças ocorrem tanto no custeio, na comercialização quan-
to também no investimento, mas as maiores distâncias entre
os valores de contratos aparecem no investimento, sendo que
– em termos reais – o valor médio do contrato de investimen-
to nos bancos privados em 2011 – sem incluir Pronaf – foi de
R$310.086,22 contra apenas R$28.199,54 dos bancos públicos”
(Belik, 2015, p. 21).

2) Leia o trecho da notícia veiculada, no dia 02/04/2015, pelo portal


de notícias “Notícias Agrícolas”. Avalie as consequências da efe-
tivação do risco de liquidez ao produtor, analisando como outros
tipos de risco o impactam.

“A liberação de crédito rural no chamado ‘pré-custeio’ para a sa-


fra 2015/16 está paralisado em todo o país. Muitos produtores já
reclamam que a demora na liberação atrasa a compra de insumos
e fertilizantes para a próxima safra. (...) a falta de liberação não é
decorrente de aumento na taxa de juros, mas sim a falta de verba
do governo”.

8. Risco de crédito e DE liquidez   103


104    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
9 Risco operacional e
mecanismos de gestão

O risco operacional está associado à possibilidade de ocorrência de


falhas humanas ou de sistemas em processos relativos à gestão e/
ou operação da atividade. Destaca-se que tal risco está presente em
diferentes etapas da atividade agropecuária, permeando aspectos que
vão desde a área técnica do processo produtivo até a comercialização
do produto.

Em um contexto tomado por incertezas, não é trivial separar problemas


decorrentes de falhas humanas associadas à imperícia, informação imper-
feita e omissão dos problemas decorrentes de erros de avaliação que são
inerentes à natureza do negócio ou do mercado no qual o produtor/gestor
está inserido. O produtor pode analisar a conjuntura macroeconômica e
dos mercados agropecuários e, com base em informações bem objeti-
vas, apostar em uma elevação de preços na entressafra, que pode não
ocorrer. Pode também optar por determinado pacote tecnológico, tendo
como base experimentos e informações técnicas confiáveis, e os resulta-
dos não corresponderem ao esperado porque a tecnologia simplesmente
não funcionou.

O fato de estes riscos serem de certa forma parte do negócio não diminui
a importância, uma vez que, em termos de impactos, não se distinguem
daqueles provocados por imperícia, incompetência, omissão, ou seja,
por má gestão. Por isso mesmo, a estratégia de gestão de risco deve
incorporar os riscos operacionais, com medidas de prevenção, monitora-
mento e controle, regras de governança que restrinjam – sem limitar as
iniciativas – a autonomia dos executivos para operar o negócio, experiên-
cias pilotos, dentre outras. Os itens a seguir exemplificam algumas das
fontes de risco operacional em três diferentes etapas do negócio.

  105
Planejamento da atividade. Na etapa de planejamento da atividade,
anterior ao início do ciclo operacional do negócio, definem-se os objeti-
vos almejados e são traçadas as decisões com fins de cumprir as metas
propostas. Neste processo, um conjunto de informações é levantado e
avaliado. Emerge, assim, a possibilidade da ocorrência de falhas de ava-
liação em relação, por exemplo, à dimensão dos recursos (fatores de pro-
dução) disponíveis. Incluem-se, aqui, avaliações sobre as características
da região quanto à composição do solo, topografia, hidrologia, clima e
respectiva adaptação da atividade a ser desenvolvida a tais itens. Tam-
bém são necessárias análises a respeito da disponibilidade de mão-de-o-
bra e de serviços de apoio local, da logística e do ambiente competitivo e
institucional no qual a atividade se insere. A escolha da tecnologia pode
ser determinante para o desempenho e, no limite, para o fracasso e/ou
sucesso do empreendimento.

Implementação da atividade. A produtividade de uma cultura é, em certa


medida, função da decisão referente à adoção de insumos químicos, bio-
lógicos e mecânicos, daquela combinação que comumente é chamada
de pacote tecnológico. Dessa forma, a escolha dos sistemas produtivos e
do pacote tecnológico é determinante, e o uso de técnicas equivocadas
pode levar a perdas de produtividade e à redução da receita ao produtor.
Por outro lado, o custo de produção é impactado, entre outros fatores,
pelo sistema de cultivo adotado, pela escolha dos insumos já citados e
pelas relações de trabalho no meio rural. Falhas advindas da mensura-
ção dos custos fixos e variáveis do negócio, bem como do acompanha-
mento e controle de tais itens, podem resultar tanto em perdas financei-
ras, como também em análises econômico-financeiras equivocadas. Vale
observar que além da possibilidade de falhas humanas, a produtividade
e os custos da atividade também podem ser impactados por problemas
operacionais associados à utilização de máquinas e dos insumos usados
no processo produtivo. Na prática, os riscos associados à execução estão
inter-relacionados ao próprio planejamento da atividade, ainda que do
ponto de vista analítico seja conveniente separar as duas dimensões e
pensar na etapa do planejamento de forma estrita, como um conjunto
de atividades de concepção, análise de viabilidade, definição do projeto,
etc., e as realizadas na fase anterior à execução. Nesta concepção, os ris-
cos associados à implementação são, portanto, daqueles associados ao

106    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


planejamento, e estão mais ligados a problemas próprios da execução,
muitos dos quais causados pelo mau planejamento.

Comercialização. As ações relativas à comercialização do produto agro-


pecuário estão sujeitas a erros de avaliação na escolha do momento da
venda, do preço e das condições praticadas e da contraparte do negócio.
Além disso, esta etapa também inclui a decisão pelo uso de técnicas de
gestão do risco de preço, existindo a possibilidade do uso de contratos
de derivativos. Apesar de terem como função garantir a trava dos preços
de venda, tais instrumentos exibem um elevado potencial para perdas no
caso de uso inadequado.

Quais os instrumentos para gerenciar


o risco Operacional?

Os principais instrumentos de gestão para o risco operacional se baseiam


na utilização de ações de extensão rural e assistência técnica, as quais
garantem um serviço de educação com vistas ao aperfeiçoamento
dos processos de produção, gestão e comercialização das atividades
agropecuárias.

9. Risco operacional e mecanismos de gestão   107


108    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
10 Risco de ambiente
institucional/de
negócios

Como ocorrem com os demais setores da economia, as instituições


condicionam e dirigem as decisões de investimento e de produção dos
produtores rurais e afetam a dinâmica e o próprio desempenho da agri-
cultura. Tratar o risco do ambiente institucional não é trivial, e exige um
razoável conhecimento das principais instituições do país e do marco
regulatório que rege o comércio mundial.

Instituições frágeis e disfuncionais impactam o risco. O risco do am-


biente institucional se confunde com os efeitos negativos de instituições
desalinhadas e disfuncionais, que no lugar de facilitar as transações e
reduzir riscos e custos de transações, erguem-se justamente como obs-
táculos adicionais para os produtores rurais e atores das cadeias produ-
tivas do agronegócio. O risco se refere à possibilidade de mudanças um
tanto repentinas, ou mesmo mudanças que estão em pauta, mas sobre
as quais ainda paira incerteza de como de fato serão e quando de fato
serão implementadas.

O mau funcionamento de algumas instituições-chaves para moldar os


incentivos e guiar os investimentos também implica em riscos que preci-
sam ser incorporados ao modelo de gestão.

• Direitos de propriedade da terra mal definidos, por exemplo, es-


tão associados a riscos elevados. No Brasil, esse problema ma-
nifesta-se inclusive em conflitos sociais relevantes, envolvendo
produtores rurais, populações indígenas, pequenos agricultores,
grileiros e posseiros legítimos e de boa fé.

  109
• Mudanças nas regras referentes à propriedade da terra, como,
por exemplo, a limitação ao direito de propriedade de terra por
parte de estrangeiros, também são fonte de incerteza e risco,
com impactos relevantes sobre a dinâmica de certos segmentos,
a atratividade dos investimentos e a própria opção do sistema
produtivo e do pacote tecnológico adotado.

• Mudanças nas regras de comércio também são fonte de risco


institucional.

• Regras relacionadas à própria produção, como proibições ao uso


de certos insumos e a restrição para produzir em certas áreas em
decorrência das indicações do zoneamento agroecológico, figuram
como exemplos de eventos que elevam o risco institucional.

Mesmo sendo difícil, é possível identificar os riscos do ambiente institu-


cional e de negócio nos vários países, usando informações veiculadas na
imprensa livre, a pauta de discussão nos parlamentos e as reivindicações
de stakeholders relevantes. Por exemplo, o Congresso Nacional está dis-
cutindo mudanças à legislação que protege o conhecimento tradicional
e os direitos de proteção das comunidades portadoras deste conheci-
mento, que podem ter impactos relevantes para a agricultura. Pode-se
perguntar como e de que maneira esta mudança pode afetar o setor?
Quais os riscos implícitos nas alternativas em discussão? E qual o possí-
vel impacto das mudanças para os grupos envolvidos? Alguns riscos do
ambiente institucional e de negócio podem estar associados à dinâmica
da política local, que gera incerteza sobre a continuidade/ mudança nas
políticas públicas, nos grupos que controlam postos-chaves da adminis-
tração pública. É o caso, por exemplo, das mudanças de governo a cada
ciclo eleitoral, ou mesmo de ministros da Fazenda e da Agricultura.

110    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


11
Apresentação didática de
mecanismos de gestão de risco
utilizados no brasil
e EM outros países

Neste item, será apresentada uma síntese de alguns estudos de caso,


elaborados pelo Banco Mundial, explorando os passos metodológicos, as
fontes de informação, a análise realizada e a vinculação entre os resulta-
dos e as recomendações de políticas.

Colômbia:
desenvolvimento de capacidade de Sistemas
Sanitários e Fitossanitários (SSF) como estratégia
PARA A redução do risco sanitário na pecuária

Instrumento: Investimentos públicos e privados na sanida-


de vegetal e animal.

Estratégia de gestão de risco: mitigação.

Os esforços da Colômbia para fortalecer o Sistema Nacional de Ciência


e Tecnologia Agrícola e os Sistemas Sanitários e Fitossanitários (SPS)
por meio da participação dos setores públicos e privados melhoraram
o acesso das exportações colombianas aos mercados internacionais.
A agricultura e agronegócio colombianos são responsáveis por 21%

  111
do PIB agregado, 25% das receitas de exportação e pelo emprego de
mais de 4,5 milhões de pessoas, que corresponde a 30% do emprego
total do país. A pecuária bovina era extremamente vulnerável a falhas
nos padrões de qualidade. A Venezuela, principal mercado da carne
bovina colombiana, fechou suas fronteiras com a Colômbia, afetando
enormemente o setor. Além disso, por estarem prestes a entrar em um
Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, fortalecer os valores
de SPS era fundamental para garantir a competitividade dos mercados
internacionais.

A estratégia para fortalecer o SPS envolveu certificados nacionais de


sanidade, a implementação de boas práticas agrícolas, a aprovação de
protocolos de exportação para vários países e a criação de um laboratório
de biossegurança nível 3 agrícola (NBL3Ag). O país foi declarado livre de
febre aftosa sem vacinação, e várias áreas livres de doenças em animais
e plantas foram estabelecidas (dentre as mais importantes, Brucelose,
Tuberculose, Bactrocera, Moscas-da-fruta controladas). Em relação à eli-
minação da febre aftosa, o país atendeu aos compromissos do Plano
Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA).

Benefícios

1. Uma abordagem multifacetada dos investimentos na saúde


animal combina o uso de baixa tecnologia para boas práticas
agrícolas com tecnologia avançada;

2. Certificados de sanidade são obrigatórios para os mercados de


exportação com altos padrões de qualidade;

3. A prevenção das doenças reduz a perda e a necessidade de sa-


crificar o gado doente;

4. Acompanhamento antecipado e preciso de doenças em plantas


e animais reduzem perdas para os produtores e país.

112    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Desafios:

1. Coordenação entre os atores públicos e privados e definição cla-


ra dos papéis de cada um;

2. Integração dos componentes da abordagem abrangente adotada


para lidar com a saúde animal;

3. Custos antecipados para montar um novo laboratório e custos


operacionais para coletar e analisar amostras.

Fonte: Banco Mundial (2014)

México:
Fundo para Contingência Climática DESTINADO AOS
pequenos agricultores (CADENA)

Instrumento: Governos federais e estaduais adquirem se-


guros baseados em riscos climáticos para obter recursos
fiscais adicionais e compensar os agricultores após eventos
climáticos adversos.

Estratégia de gestão de risco: transferência.

Cadena (em espanhol, Componente Atención a Desastres Naturales en


el Sector Agropecuario y Pesquero) é um programa de seguros contra
catástrofes em lavouras e criações animais, que opera no plano macro,
e criado especificamente para fornecer uma rede de segurança social a
pequenos agricultores vulneráveis que não se encaixam no perfil para
seguros agrícolas comerciais. Em substituição às suas intervenções tra-
dicionais ad hoc que visavam aliviar os efeitos de desastres, o Estado
adquire seguros paramétricos para plantações e animais a fim de ofere-
cer cobertura a uma população rural previamente registrada e que recebe
pagamentos automáticos em caso de catástrofes, independentemente
das perdas individuais relatadas em cada estabelecimento.

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   113


O Cadena foi criado para fornecer, rapidamente, uma compensação de
renda a pequenos agricultores, com o objetivo de ajudá-los a se recu-
perar de eventos catastróficos e continuar a produção. Os valores totais
segurados são revisados todo ano para se aproximar dos custos médios
de produção. Sob o seguro de índice Cadena, os agricultores não são
compensados pelas suas perdas reais e recebem pagamentos com base
em se sua localização foi ou não afetada. O Cadena promove de forma
ativa o registro prévio de agricultores para que os pagamentos sejam
rápidos e transparentes.

Os pequenos agricultores que participam do Cadena não pagam parte


alguma do prêmio. Ao invés disso, o Ministério de Agricultura (SAGAR-
PA) oferece subsídios de 80 ou 90% do prêmio do seguro, dependendo
do grau de marginalização dos agricultores em cada estado, e o Gover-
no do Estado paga o restante. Os beneficiários podem se inscrever se
atenderem a certos critérios de pequenos produtores, como tamanho da
propriedade, quantidade de cabeças de gado, etc..

Seguro de índice paramétrico/climático e o seguro de índice


baseado na produtividade por hectare
Agroasemex (empresa pública) é a única que oferece produtos de se-
guros paramétricos climáticos (SPH). Seguradoras privadas apenas
oferecem os produtos tradicionais, baseados no rendimento por hecta-
re. Nenhuma das formas de seguro é baseada em indenização, e isso
significa que os produtores não são individualmente compensados pela
quantia específica de danos provocados na fazenda. A diferença entre o
seguro de índice paramétrico/climático e o por rendimento/ha é que os
pagamentos de um seguro paramétrico são acionados por uma variável
climática pré-estabelecida, correlata com as perdas agrícolas, enquan-
to o SPH requer a coleta de amostras das plantações para estabelecer
a média real de produção perdida, em nível municipal. Os paramétricos
de índices climáticos cobrem um número restrito de ameaças, enquan-
to o SPH cobre múltiplos tipos de riscos, incluindo causas naturais,
climáticas ou biológicas que afetam a produção animal e as planta-
ções. Os dois tipos de seguros disponíveis para bovinos são um índice
paramétrico por medição remota de pasto, utilizando um IVDN (Índice

114    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


de Vegetação por Diferença Normalizada), e um seguro tradicional para
bovinos contra catástrofes.

Benefícios:

O seguro com índice climático estruturado como o CADENA evita vários


problemas dos seguros tradicionais, incluindo:

1. Seleção adversa: todos os agricultores em uma região que se


qualificam para o programa são automaticamente selecionados
para se beneficiar do seguro. No caso do CADENA, os agricul-
tores não pagam diretamente os prêmios do seguro e, por isso,
não há problemas associados à falta de disposição para pagar;

2. Risco moral: os agricultores ainda têm um incentivo para ten-


tar salvar suas plantações, pois a indenização é vista como um
bônus adicional independente das perdas;

3. Altos riscos correlacionados: desastres naturais normalmente


atingem comunidades inteiras, anulando os mecanismos locais
de auxilio, como empréstimos informais dentro de uma comuni-
dade. Seguros com índices que cobrem uma região são impor-
tantes, pois essas formas alternativas de auxílio geralmente não
estão disponíveis para os agricultores;

4. Custos de transação: seguros com índices podem reduzir ou eli-


minar a necessidade de avaliações de danos no local. Seguros
contra ameaças a plantações tradicionais, cobrindo um ou múl-
tiplos riscos, se apoiam em pesquisas dos danos causados à
plantação para determinar o valor de indenização apropriado.

Os seguros com índice climático, como o CADENA, também oferecem


várias vantagens em comparação a um programa de compensação de
desastres ex post:

1. O pagamento das indenizações pode ser feito rapidamente para


os governos estaduais, que possuem certo grau de autonomia
sobre como alocar os recursos em caso de desastres;

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   115


2. O pagamento de seguros para os agricultores pode ser feito rapi-
damente a agricultores com base no registro ex ante;

3. Transparência e padronização das regras referentes às indenizações;

4. Subsídios para uma parceria pública-privada podem ser uma


preocupação fiscal menor, ou no pior dos casos, uma preocu-
pação fiscal mais consistente do que no caso dos programas de
seguro ex post;

5. Seguros de índice tornam possível hierarquizar e transferir riscos


(resseguro, neste caso). A máxima responsabilidade fiscal pode
ser quantificada previamente e incluída no orçamento fiscal para
pagar as empresas locais e internacionais de seguro e resseguro.

Limitações e Desafios:

1. É difícil garantir que o estado efetue rapidamente os pagamentos


afetados nas regiões seguradas;

2. Risco de base alto: as diferenças entre o valor das indenizações


do seguro e os valores da perda real do agricultor beneficiário
são elevadas para o seguro de índice;

3. Para muitos agricultores, os dividendos do CADENA são inade-


quados para cobrir os custos envolvidos na produção agrícola,
e elevar o valor das indenizações é um desafio para o governo.

4. O contrato cobre apenas riscos que estão nos índices - não outro
tipo de risco natural ou humano que afeta a produção alimentar.
Estabelecer um índice requer dados históricos de plantações e
clima e uma rede adequada de estações meteorológicas;

5. Prêmio: Estas transações possuem um custo antecipado.

Fonte: Banco Mundial (2014)

116    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Mongólia:
Programa de Seguro Baseado em Índice de
Criação de Gado (IBLIP)

Instrumento: linhas de contingência de crédito para finan-


ciar respostas e pagamentos emergenciais, baseadas em
seguro de índice de mortalidade de criação de gado. Estra-
tégia de gestão de risco: transferência.

Na Mongólia, os invernos rigorosos ocorrem aproximadamente uma vez


a cada cinco anos, matando milhões de cabeças de gado e devastando
a base da subsistência de quase a metade da população da Mongólia.
Cerca de um terço do PIB agregado deriva da agricultura, e aproxima-
damente 80 por cento do PIB da agricultura corresponde à pecuária. A
população rural depende muito da criação de gado para obter renda,
emprego, segurança alimentar e como meio de acumulação patrimonial.
Acontecimentos recentes do fenômeno “dzud” foram registrados em de-
zembro de 2009 e janeiro e fevereiro de 2010.

Em 2006, o Banco Mundial ajudou o Governo da Mongólia a desen-


volver o Programa de Seguro Baseado em Índice de Criação de Gado
(IBLIP), com financiamento CAT DDO, que é uma combinação de
autosseguro com seguro baseado no mercado e rede de proteção so-
cial. Riscos de intensidade e gravidade diferenciadas, estruturados em
camadas, são alocados a diferentes atores. Pastores assumem perdas
pequenas, mas frequentes. Perdas maiores são transferidas para a in-
dústria de seguro privada, para a qual os pastores pagam um prêmio de
mercado. O Governo da Mongólia cobre o custo das perdas na camada
catastrófica.

Como se trata de um produto de seguro de índice, a indenização do


seguro não compensa as perdas individuais de gado, uma vez que o ga-
tilho é acionado quando a taxa de mortalidade de gado na microrregião
exceder um limite específico. Esse produto depende da disponibilidade
de bons dados. Como o seguro não está vinculado ao evento dzud, o
programa apoia-se em três décadas de dados de séries cronológicas da

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   117


Mongólia sobre mortalidade animal por microrregião e por todas as espé-
cies de criação de gado. Após um “ponto de exaustão” especificado, que
varia segundo as espécies e localização, as empresas de seguro deixam
de ser responsáveis e o programa de rede de proteção social financiado
e operado pelo governo é mobilizado.

O seguro de índice de mortalidade foi escolhido por sua simplicidade


relativa, custo mais acessível, menor risco moral e seleção adversa.
As alternativas consideradas incluem cobertura de seguro individu-
al para pastores e seguro climático baseado em índice. A cobertura
individual não foi bem-sucedida na Mongólia devido ao risco moral,
seleção adversa, custos elevados de administração e a imaturidade
do mercado de seguros privado, ainda relativamente novo. O seguro
climático baseado em índice também foi considerado, mas a Mongó-
lia não dispõe dos dados históricos referentes ao clima necessários
para projetar um índice climático. Os eventos também são fenômenos
complexos e influenciados pelas chuvas de verão, neves do inverno,
temperatura e vento.

Ao agrupar o risco, o Governo da Mongólia foi capaz de financiar o risco


catastrófico recorrendo aos mercados internacionais para a sua cober-
tura com base em Facilidade de Dívida Contingente (contingent debt
facility). Ao agrupar o risco, o Governo da Mongólia pode obter resseguro
global para o grupo. A linha de crédito contingencial financia a resposta
emergencial do governo. Esse arranjo é considerado uma maneira mais
eficiente para fornecer subsídio. Além disso, a parceria com o setor pri-
vado de seguro torna possível que o seguro se sustente por si só. Se o
Governo da Mongólia decidir terminar o subsídio, o seguro de risco para
a criação de gado ainda poderia ser vendido.

Benefícios:

1. Estratificação do Risco: a abordagem de estratificação do risco


encoraja os agricultores a assumir a primeira camada de riscos.
O Governo da Mongólia não precisa cobrir todo o risco.

2. Simplicidade relativa, custo mais acessível, menor risco moral e


seleção adversa

118    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Limitações e Desafios:

1. Disposição para pagar: devido à abordagem da estruturação


de riscos, os produtores pagam por riscos pequenos, mas são
cobertos para perdas maiores. Foi necessário um esforço subs-
tancial de informação/educação sobre o novo programa e para
encorajar os produtores a comprar o seguro.

2. Mercado de seguro doméstico: O mercado de seguro doméstico


é muito pequeno e altamente concentrado; a maior empresa
de seguro detém 74 por cento do mercado. O IBLP investiu na
construção da capacidade e ajudou, eventualmente, a desen-
volver o mercado e a encorajar novas empresas de seguro a
introduzir produtos mais fortes.

Fonte: Banco Mundial (2014)

México:
Suporte para Contratação Futura
(COM CONTRATOS A TERMO) e hedging de preços

Instrumento: Promoção de contratos a termo e subsídios ao


prêmio em contratos de opções (derivativos) comprados em
bolsas internacionais de mercadorias.
Estratégia de gestão de risco: transferência.

Agricultura por Contrato (AxC) é um programa de gerenciamento de riscos


de preços iniciado em 2001 como parte de um programa mais extenso
chamado “Programa de Prevencion y Manejo de Riesgos”. Esse programa
maior incluía subprogramas para apoiar a produção, comercialização e
exportação de colheitas específicas, a certificação de qualidade, o acesso
a grãos para produção animal e agricultura contratual para produtores de
criação de gado. Os dois subprogramas principais são:

1. Fixação da base (diferenciais) a partir dos preços futuros da Bolsa


de Chicago (CBOT) para cada uma das duas principais estações

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   119


agrícolas em um ano específico e compensação dada para
produtores e consumidores quando os preços forem diferentes
daquelas bases fixadas (programa de compensação de base) e;

2. Co-financiamento para a compra das opções (opções de compra


e venda) usadas para gerenciar risco proveniente dos contratos
a termo negociados entre produtores e consumidores, aqui refe-
ridos como o programa de hedging.

Os objetivos oficiais dos programas de gerenciamento de risco ASERCA


são amplos e extensivos e incluem:

1. Suporte à comercialização das commodities a fim de mitigar a


volatilidade dos preços locais;

2. Segurança para a cadeia de valor agrícola sobre preços no con-


texto de um ambiente de mercado internacional volátil;

3. Suavização do impacto da alta de preço em produtos finais da


cadeia de valor em benefício dos consumidores finais;

4. Ganhos de eficiências na alocação do orçamento do governo;

5. Promoção do consumo de colheitas nacionais por parte de


indústrias que dispõem de alternativas para o suprimento dos
insumos nos mercados internacionais, e;

6. Promoção de penetração do financiamento por parte do setor


privado por meio da redução do risco de preço da commodity em
portfólios de empréstimo.

Mecanicamente, os programas de gerenciamento de risco fornecem


uma compensação que protege os participantes contra volatilidade
do preço físico de commodities-chaves para um grupo seletivo de
contratos futuros apoiados pelo governo, chamados contratos AxC. A
ideia é encorajar os produtores e consumidores a se envolverem com
mais contratos a termo, o que, por sua vez, apoia a comercialização
dos produtos envolvidos.

120    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Contratos a termo para as commodities relevantes, cobertas pelo progra-
ma (milho amarelo, trigo, sorgo), são tipicamente precificadas com base
nos preços futuros da CBOT e a inclusão de um diferencial (base) que
reflete as condições da oferta e demanda local, os custos de logística,
o seguro e o financiamento. Produtores e consumidores concordam com
esses contratos no início de um ciclo de produção (pré-colheita), mas
não fecham o contrato até o final do ciclo de produção, com duração
entre três a seis meses depois (pós-colheita). Neste meio tempo, a base
pode flutuar, criando risco tanto para o produtor quanto para o consumi-
dor. A diversidade de padrões mexicanos de produção/consumo agrícola,
junto com o tamanho do produtor e a geografia, cria níveis elevados de
diferenciação entre mercados. Isso significa que o número dos diferen-
ciais de base, que corresponde a commodities individuais e zonas de
produção/consumo, é alto.

O programa de compensação da base tem por meta as estimativas


dos níveis da base, acima dos preços futuros da CBOT, para cada uma
das duas principais temporadas de colheita (primavera/verão e inverno/
outono). Níveis estimados da base para commodities específicas produ-
zidas em estados selecionados são anunciados no início da temporada
e usados para estabelecer o preço para os contratos físicos AxC feitos
entre os produtores e consumidores. Os níveis da base são derivados
usando uma fórmula que começa com o preço futuro na CBOT e inclui o
custo para a entrega física do milho dos EUA em uma região específica
do México na qual se encontra o consumidor (referida como Base Pa-
dronizada da Zona do Consumidor). Custos relativos à entrega física de
uma zona de produção local até a zona do consumidor (referida como
Base Padronizada da Zona do Consumidor) são então subtraídos para
determinar um preço ao produtor. No final de temporada, os níveis efeti-
vos da base são calculados usando a média dos preços para transações
físicas observadas durante os primeiros quinze dias da colheita (para
cada colheita e ciclo de produção correspondente) e os custos efetivos
de transporte observados durante a mesma janela de tempo. O progra-
ma então fornece compensação para os produtores e consumidores por
movimentos negativos entre as bases estimadas e as bases efetivas, que
podem ter ocorrido durante o período entre o início do acordo (pré-co-
lheita) e o final do acordo (pós-colheita) do contrato posterior. Quando

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   121


a base efetiva é mais alta que o nível estimado, o pagamento vai para o
produtor, assim garantindo que ele/ela esteja sendo compensado(a) pelo
aumento nos preços refletido pelo mercado spot no período da colheita.
Quando a base efetiva é mais baixa que o nível estimado, o pagamento
vai para o consumidor, assim garantindo que ele/ela se aproprie da van-
tagem resultante da redução nos preços registrada no mercado spot no
período da colheita.

O programa de hedging tem como alvo os preços futuros na CBOT que


são usados como referência de preço para negociação entre os produto-
res e consumidores do contrato físico AxC. Sob o programa anteriormen-
te gerenciado pela ASERCA, os produtores e consumidores que aderiam
aos contratos AxC contavam com contratos de opção para cobrir os ris-
cos (hedge) dos preços futuros na CBOT fixado no contrato AxC. O princi-
pal objetivo dessa abordagem era reduzir o incentivo ao descumprimento
dos contratos a termo AxC, no caso de movimentos favoráveis de preço
(alto para produtores, baixo para consumidores), que podem ocorrer en-
tre o acordo do contrato (pré-colheita) e a liquidação do contrato (pós-co-
lheita). O programa de hedging forneceu, portanto, uma opção de venda
aos produtores (que garante uma indenização se os preços de mercado
aumentassem) e consumidores com uma opção de compra (que garante
uma indenização se os preços de mercado diminuíssem). A ASERCA
assumiu a responsabilidade pela compra dos contratos de opção, que
também foram estabelecidos pela ASERCA no final da temporada.

O Quadro 12 resume os níveis de suporte de subsídio fornecido aos


produtores e consumidores sob o programa gerenciado pela ASERCA. É
importante diferenciar dois tipos de subsídios: para o programa de com-
pensação de base, o governo fornece um pagamento em dinheiro que
compensa os movimentos das bases nos períodos entre pré e pós-co-
lheita; para o programa de hedging, o governo fornece um subsídio para
cobrir parte do custo (prêmio) por comprar um contrato de opção CBOT.

122    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Quadro 12. Componentes de Subsídio: Programa AxC e ASERCA
Componente Produtor Consumidor

Programa de Diferenciais entre a base Diferenciais entre a base


compensação de estimada e a efetiva, estimada e a efetiva,
base se base efetiva > base se base efetiva < base
estimada. estimada.

Programa de 80% para a cobertura 70% da cobertura para


hedging da compra de opções de a compra de opções de
compra (call options) venda (put options)

As oportunidades/os benefícios notados pelos investidores incluem:

• Os contratos AxC teoricamente proporcionam aos produtores e con-


sumidores mecanismos padronizados para conduzir vendas a futuro
– assumindo que seja possível acordar os prazos dos contratos e que
não se registre relaxamento (default) dos compromissos contratuais;

• Os preços futuros na CBOT do milho e trigo são utilizados como


valores de referência para a maioria dos contratos físicos, proporcio-
nando assim aos produtores/consumidores a possibilidade de deter-
minar um valor subjacente para essas commodities utilizando um
preço corrente, transparente, vigente em momento bem definido;

• A disseminação da informação sobre os níveis de base (tanto estima-


dos quanto efetivos) fortalece a transparência dos preços e ajuda os
produtores/consumidores a estabelecer orçamentos e investimentos
a curto prazo e estratégias de marketing;

• O programa de hedging ASERCA permitiu que os consumidores se


beneficiassem de possíveis aumentos nos preços após terem reali-
zado uma venda;

• O programa de hedging ASERCA permitiu que os consumidores se


beneficiassem de possíveis quedas nos preços após terem realizado
uma compra;

• Historicamente, a indenização dos programas das bases de compen-


sação tem favorecido os produtores, já que os custos logísticos têm
experimentado uma tendência ao aumento dos preços.

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   123


As limitações/os custos incluem:

• A exigência de fixar o nível de preço da CBOT nos contratos AxC re-


duz a flexibilidade que os produtores/consumidores têm para utilizar
outros mecanismos a fim de estabelecer preços ou para vender/com-
prar de maneira estratégica. Isto poderia ter um impacto negativo
nos volumes de contratos a termo e/ou nos incentivos para omissões;

• O uso limitado para commodities como algodão, suco de laranja,


soja, arroz, aveia e cevada, sugere que o programa talvez não seja
necessário para elas;

• As margens de elegibilidades têm sido muito limitadas (normalmen-


te entre 30-45 dias), complicando assim a margem de tempo para
negociação de contratos. Isto impede o desenvolvimento de rela-
ções empresariais dinâmicas, as quais refletem a realidade na qual
o tempo ótimo para contratos a termo pode variar de acordo com a
perspectiva de cada ator individual operando no mercado;

• Objetivos almejados não estão claros. Análises anteriores do pro-


grama indicam que níveis consideráveis de suporte estão sendo for-
necidos a grandes empresas do agronegócio, as quais podem não
precisar da assistência;

• Os benefícios continuados do programa de compensação de base são


difíceis de avaliar, pois os contratos a termo estão se tornando padrão
na prática de mercado. Em vários outros mercados de commodities,
celebrar um contrato a termo significa que tanto os produtores quanto
os consumidores acreditam que as bases diferenciais são aceitáveis;

• Os consumidores nem sempre desejam se comprometer em “AxC”


quando os valores são altos e/ou quando os mercados a termo estão
em retração (backwardation) (caracterizado pela inclinação negativa
da curva de futuros);

• A maior volatilidade nos preços dos principais grãos provavelmente


resultou em prêmios mais elevados no mercado de opções.

124    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


Quadro 13. Benefícios e desafios do programa mexicano de suporte de preços
Benefícios Desafios

1. Suavização da renda 1. O programa é muito caro e está


(Income smoothing) tanto passando por reformas devido a
para vendedores quanto restrições orçamentárias.
compradores de commodities
2. O programa (com o desenho atual)
agrícolas no México.
não promove o desenvolvimento de
2. Os efeitos do aumento do mercados locais de futuros/opções.
uso de mercados a termo
3. Risco de base (diferencial de valor
podem mudar as decisões de
em preços entre a CBOT e mercados
investimento dos vendedores
domésticos).
e compradores do commodity.
4. A elegibilidade do programa é
ampla e, dessa forma, a maioria dos
benefícios vai para compradores/
produtores maiores, os quais não
precisam do apoio.

Fonte: Banco Mundial (2014)

11. Apresentação didática de mecanismos de gestão de risco utilizados   125


126    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
12
REFERÊNCIAS

ARAÚJO FILHO, J. C.; MARQUES, F. A.; NASCIMENTO, A. F.; BARROS, A. H.


C.; AMARAL, A. J.; CARVALHO, M. S. B. S. Potencial pedoclimático da
mesorregião sul cearense para o cultivo do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.).
XXXIV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 28 de julho a 02 de agosto de
2013, Florianópolis, SC.

ASSAD, E. D.; PINTO, H. S.; ZULLO JUNIOR, J.; ÁVILA, A. M. H. Impacto das
mudanças climáticas no zoneamento agroclimático do café no Brasil. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, 39(11), 1057-1064, 2004.

ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo, Atlas, 2014.

BANCO MUNDIAL; MAPA; EMBRAPA. Revisão Rápida e Integrada da Gestão de


Riscos Agropecuários no Brasil. Caminhos para uma visão integrada. Brasília,
2015.

BANCO MUNDIAL. Bahia State Agriculture Sector Risk Analysis. Washington,


2015.

BANCO MUNDIAL. Paraíba State Agriculture Sector Risk Analysis. Washington,


2015.

BANCO MUNDIAL. Technical Training Program on Agricultural Sector Risk


Assessment. Disponível em: <www.agriskmanagementforum.org/content/
training-module-agriculture-sector-risk-assessment>. Acesso: 08/05/2016.

BELIK, B. O financiamento da agropecuária brasileira no período recente. Texto


para discussão 2028. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA. Brasília,
2015.

BESSADA, O.; BARBEDO, C.; ARAÚJO, G. Mercado de derivativos no Brasil:


conceitos, operações e estratégias. Editora Record, 2005.

  127
BUAINAIN, A.M., RUIZ, J. G. O risco ambiental no século XXI. Cadernos de Seguro,
n. 189. Escola Nacional de Seguros, 2016.

BUAINAN, A. M.; SANTANA, C. A. M.; SILVA, F. P. S.; GARCIA, J. R.; LOYOLA, P.


O tripé da política agrícola brasileira: crédito rural, seguro e Pronaf. In: Antônio
Márcio Buainain; Eliseu Alves; José Maria da Silveira; Zander Navarro (Org.). O
mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão agrário e
agrícola. 1ed.Brasília: Embrapa, 2014.

BUAINAIN, A. M.; PEDROSA, M. T. M.; VIEIRA JUNIOR, P. A.; SILVEIRA, R. L. F.;


NAVARRO, Z. Quais os riscos mais relevantes nas atividades agropecuárias? In:
Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves; José Maria da Silveira; Zander Navarro
(Org.). O mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão
agrário e agrícola. 1ed.Brasília: Embrapa, 2014.

BUANAIN, A. M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J. M.; NAVARRO, Z. O mundo rural no Brasil
do século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Embrapa, 2014.

BUANAIN, A. M.; Vieira, P. A.; Cury, W. J. M. Gestão do risco e seguro na agricultura


brasileira. Funenseg, 2011.

CARRER, M. J.; SOUZA FILHO, H. M.; VINHOLIS, M. M. B. Determinantes da


demanda de crédito rural por pecuaristas de corte no estado de São Paulo.
Revista de Economia e Sociologia Rural, 51(3), 455-478, 2013.

CARRER, M.J.; SILVEIRA, R.L.F.; SOUZA FILHO, H.M.; ROSSI, F.R. Factors influencing
hedging decisions: evidence from Brazilian citrus farmers. 5ª Conferência em
Gestão de Risco e Comercialização de Commodities. São Paulo, 2015.

CEPEA, CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. PIB do


Agronegócio Brasileiro, 2016. Disponível em: <www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-
do-agronegocio-brasileiro.aspx>. Acesso em 14-03-2017.

CHONCHOL, J. A soberania alimentar. Estudos Avançados, v. 19, n. 55, p. 33-48.


2005.

Conab, Companhia Nacional do Abastecimento. Safras. Brasília, 2017.

CRUZ JÚNIOR, J. C.; IRWIN, S. H.; MARQUES, P. V.; MARTINES FILHO, J. G.;
BACCHI, M. R. P. O excesso de confiança dos produtores de milho no Brasil e o
uso de contratos futuros. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 49, n. 2,
p. 369-390, 2011.

DAMODARAN, A. Gestão estratégica do risco: uma referência para a tomada de


riscos empresariais. Bookman, 2009.

FAEP, FenSeg, CNA, OCEPAR e OCB. Guia de Seguros Rurais e Proagro, 2016.

128    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


FAO, FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. The
impact of natural hazards and disasters on agriculture and food security and
nutrition: a call for action to build resilient livelihoods, 2015.

GESER. Boletim do Seguro Rural. 1a, 2a, 3a e 4a edições, 2013. Disponível em:
<http://geser.imagenet.com.br/>

HARDAKER, J. B.; HUIRNE, R. B. M.; ANDERSON, J. R.; LIEN, G. Coping with risk
in agriculture. CABI, 2004.

HULL, J. Fundamentos dos mercados futuros e de opções. 4º ed. BM&F, 2005.

IBGC, INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Guia de orientação


para o gerenciamento de riscos corporativos. Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa; coordenação: Eduarda La Rocque. São Paulo, SP: IBGC, 2007.

JAFFEE, S.; SIEGEL, P.; ANDREWS, C. Rapid agricultural supply chain risk
assessment: a conceptual framework. World Bank, 2008.

LIMA, F. G.; FONSECA, C. V. C.; SILVEIRA, R. L. F. The determinants of credit rating


levels: evidence from Brazilian non-financial companies. International Conference
on Emerging Market Economies, Porto, Portugal, June 29 - July 1, 2016.

MAPA, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agrostat:


estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro, 2016.

MARCOVITCH, J. (coord.). Economia da mudança do clima no Brasil: custos e


oportunidades. São Paulo: IBEP Gráfica, 2010.

MARENGO, J. A. O futuro do clima no Brasil. Revista USP, n. 103, p. 25-32, 2014.

MARQUES, P.V.; MELLO, P. C.; Martines FILHO, J. G. Mercados futuros e de opções


agropecuárias. Piracicaba, S.P., Departamento de Economia, Administração e
Sociologia da Esalq/USP, 2006, Série Didática nº D-129.

MELLO, P. C.; SPOLADOR, H. F. S.; OSAKI, V. A. Estudos de risco e seguro no


agronegócio brasileiro. Funenseg, 2007.

MENDONÇA, A. A. Hedge para empresas. Elsevier, 2011.

OECD. Managing risk in agriculture: a holistic approach. OECD, 2009.

SAES, M. S. M.; SILVEIRA, R. L. F. Novas formas de organização das cadeias agrícolas


brasileiras: tendências recentes. In: Antônio M. Buainain; Eliseu Alves; José M. da
Silveira; Zander Navarro (Org.). O mundo rural no Brasil do século 21: a formação
de um novo padrão agrário e agrícola. 1ed.Brasília: Embrapa, 2014.

  129
SANTANA, C. A. M.; BUAINAN, A. M.; SILVA, F. P. S.; GARCIA, J. R.; LOYOLA, P.
Política agrícola: avanços e retrocessos ao longo de uma trajetória positiva. In:
Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves; José Maria da Silveira; Zander Navarro
(Org.). O mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão
agrário e agrícola. 1ed.Brasília: Embrapa, 2014.

SILVEIRA, R. L. F., A. G. MAIA, J. C. CRUZ JÚNIOR AND M. S. M. SAES. Influence


of farmers behavioral attitudes on hedging decisions. Academia, v. 27, n. 3,
355-365, 2014.

SILVEIRA, R.L.F.; MAIA, A.G.; SAES, M.S.M.; CRUZ JR, J.C. Overconfidence in
relation to sale prices: a study among coffee producers. Revista de Administração
(RAUSP), v. 48, n. 3, p. 399-408, 2013.

VIEIRA JUNIOR, P. A.; BUAINAIN, A. M.; MADI, M. A. C.; VIEIRA, A. C. P.; DOURADO
NETO, D.; CHANG, C. S.; ASSAD, E. Um Modelo Integrado de Gestão do Risco
Agrícola para o Brasil. Revista Brasileira de Risco e Seguro, v. 4, n. 8, p. 1-40,
2008.

ZYLBERSZTAJN, D. Coordenação e Governança de Sistemas Agroindustriais. In:


Antônio Márcio Buainain; Eliseu Alves; José Maria da Silveira; Zander Navarro.
(Org.). O mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão
agrário e agrícola. 1ed.Brasília: Embrapa, 2014.

130    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


13
GABARITOS DOS EXERCÍCIOS

2. Conceitos de riscos aplicados à agropecuária


1) Risco de produção relativo à sanidade animal. A perda financeira direta está
associada à eliminação dos animais contaminados. Impactos também ocor-
rem ao longo da cadeia produtiva, incluindo no comércio internacional.

2) Risco de produção relativo ao clima. Risco de mercado associado à volatili-


dade dos preços.

3) Risco de mercado e do ambiente institucional.

4. Identificação dos riscos


1) Não se trata de risco e, sim, de tendência.

2) Sim, pois deve-se considerar o fator vulnerabilidade.

5. Gestão integrada dos riscos: análise das soluções


1) Exemplos de instrumentos de prevenção e mitigação: diversificação da pro-
dução e compra de seguro rural. Quanto às políticas de enfrentamento, po-
de-se citar a tomada de empréstimos com familiares, comunidade e bancos,
além da participação em programas de apoio governamentais.

  131
2)

Ação Prevenção Mitigação Enfrentamento

Diversificação da atividade, X
incluindo renda não agrícola

Uso de tecnologias, como X


a adoção de sementes
geneticamente modificadas

Compra de um seguro X
agrícola

Estabelecimento de um X
contrato com uma indústria
para entrega do produto em
três meses a um preço já
fixado

Empréstimo bancário X
decorrente de uma quebra
de safra

6. Risco de produção: mensuração e mecanismos de gestão


1. Supondo uma cotação de R$50/saca, temos:

Perda de produção Perda de produção Perda monetária


Anos (mil ton) (sacas de 60 kg) (R$ mi)
1985/86 -231,58 -3.859.738,04 -192,99
1989/90 -81,99 -1.366.514,32 -68,33
1990/91 -1130,87 -18.847.751,99 -942,39
1995/96 -100,81 -1.680.203,45 -84,01
1997/98 -290,72 -4.845.316,39 -242,27
1998/99 -433,97 -7.232.905,12 -361,65
1999/00 -716,59 -11.943.124,79 -597,16
2005/06 -242,25 -4.037.578,89 -201,88
2008/09 -834,63 -13.910.503,27 -695,53
Média em 39 anos -1.736.503,49 -86,83

132    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa


7. Risco de preço: mensuração e mecanismos de gestão
1) a. R$148,00/@
b.
• R$140,00/@ + R$8/@ = R$148,00/@. A previsão relativa à base confir-
mou-se.
• R$138,00/@ + R$11/@ = R$149,00/@. A base fortaleceu-se.
• R$138,00/@ + R$8/@ = R$146,00/@. A base enfraqueceu-se.
• R$160,00/@ - R$12/@ = R$148,00/@. A previsão relativa à base confir-
mou-se.
• R$158,00/@ - R$11/@ = R$147,00/@. A base enfraqueceu-se.

2)
a. Exerce a opção a R$160,00/@ e obtém ganho de R$5/@. Ao vender no
mercado à vista a R$143/@, obtém um preço final de R$148/@.
b. Não exerce a opção e perde o prêmio de R$10/@. Ao vender no mercado à
vista a R$168/@, obtém um preço final de R$158/@.

3) Enquanto o contrato a termo é, em geral, negociado em mercado de balcão, sendo


os itens do contrato definidos entre as partes, o contrato futuro é padronizado e
negociado em bolsa. Assim, o termo pode atender a necessidades específicas dos
agentes, porém não é possível reverter a posição antes da liquidação, dada a custo-
mização. Além disso, no contrato a termo, o acerto financeiro é somente realizado
no final da operação, não levando a fluxos de entrada e de saída de recursos ao
longo da estratégia. Por outro lado, tal característica leva a um aumento do risco de
crédito da operação. Nos mercados futuros, a padronização leva à possibilidade de
reversão da posição antes do vencimento do contrato, porém é preciso se adaptar
aos itens do contrato. Adicionalmente, o risco de crédito é mínimo, dada a atuação
da câmara de compensação, porém existe uma movimentação financeira ao longo
da operação (ajustes diários). Os dois contratos representam acordo de compra e
de venda, onde a trava do preço é efetivada. Nas opções, negociam-se acordos
de compra e venda. Assim, ao invés de travar um preço, estabelece-se um preço
mínimo para venda ou preço máximo para compra, sendo possível se aproveitar
de movimentos favoráveis dos preços. Além disso, nas opções, paga-se um prêmio
no início da operação, não existindo ajustes diários. O contrato é padronizado se
negociado em bolsa e customizado se transacionado em balcão.

8. Risco de crédito e de liquidez


1) Conforme Belik (2015, p. 21), “os bancos privados aplicam critérios de
seletividade na utilização de recursos obrigatórios, dando preferência para
contratos de maior porte”.
2) Risco do ambiente institucional influencia o risco de liquidez. A partir da
efetivação do risco de liquidez, a continuidade dos negócios é impactada.

13. GABARITOS DOS EXERCÍCIOS   133


134    MANUAL DE AVALIAÇÃO DE RISCOS NA AGROPECUÁRIa
  135

View publication stats

Você também pode gostar