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Waldomiro Vergueiro

Seleção de materiais
de informação:
princípios e técnicas

Terceira edição

BRIQUET DE LEMOS
LIVROS
© Waldomiro Vergueiro, 2010

Todos os direitos reservados. De acordo com a lei n º 9 610, de 19/2/1998, nenhu­


ma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada
num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma Sumário
ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do
autor ou da editora.

Primeira edição: 1995 Introdução 1


Segunda edição: 1997
1 A seleção: um momento de decisão 5
Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990
2 Considerações gerais que influenciam a seleção 11
O assunto 13
Revisão: Maria Lucia Vilar de Lemos O usuário 13
Capa: Formatos Design Gráfico Ltda.
O documento 14
O preço 15
Questões complementares 15
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro. sr, Brasil
3 Em busca de critérios de seleção 17
Vergueiro, Waldomiro
Seleção de materiais de informação· princípios e técnicas/ Waldomiro Vergue1ro. -3. Critérios que abordam o conteúdo dos documentos 18
ed. - Brasília, OF · Briquet de Lemos/ Livros, 2010. Critérios que abordam a adequação ao usuário 22
ISBN 978-85-85637-41-5
Critérios relativos a aspectos adicionais do documento 23

l. Bibliotecas -Serviços de aquisição 2. Livros -Seleção 3. Livros- Política de.seleção 4 Seleção de materiais especiais e multimeios 26
1. Título.
Periódicos 27
10-03633 coo 025.21 Histórias em quadrinhos 30
Índices para catálogo sistemático: Livros infanta-juvenis 32
1. Seleção: Material de informação: Biblioteconomia 025.21 Filmes, vídeos e ovos 35
2. Material de informação: Seleção: Biblioteconomia 025.21
Discos, fitas e cos 38
Diapositivos 40
Outros materiais 42

2010 5 Seleção de documentos eletrônicos 43


Briquet de Lemos / Livros CD-ROMS e DVD-ROMS 45
SRTS - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7
Edifício Centro Multiempresarial Bases de dados on-line 49
Brasília, OF 70340-000 Documentos disponíveis na internet 51
Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725
,vww.briquetdelemos.com.br
6 Organizando o processo de seleção 57
editora@briquetdelemos.com.br
Quem seleciona? 58
scanned by Regis Feitosa
Mecanismos para identificação, avaliação e registro 63
Formulários para indicação e seleção de títulos 63
Instrumentos auxiliares da seleção 65 Introdução
7 Política de seleção 68
Componentes do documento de política de seleção 71
JÁ FAZ MAIS DE UMA DÉCADA que a· segunda edição deste livro foi
75 publicada. E acho que pelo menos uns cinco anos desde que ela se
8 Doações
esgotou. Do momento da publicação do livro àquele em que a tota­
Reconsideração da decisão de seleção 77 lidade de seus exemplares foi adquirida por bibliotecários ou estu­
9
dantes de biblioteconomia do país inteiro, várias coisas se modifica­
79 ram na realidade das bibliotecas e unidades de informação do país.
10 Tópicos especiais de seleção
Seleção e formação profissional 80 Consciente dessas mudanças, eu entendi, então, que uma republica­
83 ção ou reimpressão da obra não seria conveniente. Para continuar
Seleção e censura
88 cumprindo seus objetivos, ela necessitaria ser atualizada.
Seleção e cooperação bibliotecária
Seleção e direitos autorais 93 �nicialmente, tudo pareceu relativamente fácil. Afinal, em pouco
mais de um ano de trabalho eu havia conseguido elaborar a segun­
99 da edição do livro, publicada apenas três anos depois da primeira.
11 O futuro da seleção
A adequabilidade do livro 100 Desta vez, no entanto, as coisas não correram da mesma forma. Feliz
101 ou infelizmente, envolvi-me em muitas atividades profissionais nos
O custo do livro
102 últimos dez anos, dando prosseguimento à minha carreira acadêmi­
O contexto social da informação
A seleção de materiais na era da informação eletrônica 103 ca, exercendo por duas vezes a chefia do Departamento de Bibliote­
conomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da
109 Universidade de São Paulo, engajando-me na orientação de traba­
12 Considerações finais
lhos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, dedicando-me
110 a outros projetos de livros (alguns deles tampouco finalizados até
Bibliografia complementar
hoje), publicando livros em outras áreas, etc. Tudo isso não me per­
116 mitiu a concentração necessária para dedicar-me à atualização de
Anexos
meus vários livros na área de biblioteconomia, entre os quais este se
119 inclui.
Índice
A ideia de trabalhar na terceira edição de Seleção de materiais de
informação jamais foi abandonada. Ela sempre representou um fan­
tasma a me espreitar, fantasma do qual eu sabia que não conseguiria
fugir indefinidamente e que cedo ou tarde iria alcançar-me. Parece
que este dia finalmente chegou. Para o bem ou para o mal.
e
Lembro-me que, ao escrever a introdução da segunda edição deste
livro eu historiei o início de minha atuação como autor na área de
biblioteconomia, reportando-me à publicação de meu livro sobre de-

vi 1
têm por obrigação selecionar materiais de informação para as bibliote­
senvolvimento de coleções e às portas que ele me havia aberto na
cas? Estarão eles condenados ao desemprego? Serão eles dinossauros
profissão (sua segunda edição é também outro fantasma em minha fadados à extinção (seremos todos nós)? As respostas para essas per­
- vida... ). Hoje, tantos anos passados, vejo que aquilo que mencionei guntas, começou a parecer-me, poderiam variar bastante, dependendo
sobre o livro [?esenvolvimento de coleções poderia ser aplicado a todos da forma como se busque encarar essas mudanças, sua abrangência e o
os outros que tive publicados posteriormente. ritmo com que elas acontecem ou irão acontecer no futuro. Achei que
Provavelmente, a forma positiva como meus livros sempre fo­ esta seria uma discussão proveitosa para ser realizada numa segunda
ram recebidos pelos colegas bibliotecários e por outros professores edição. 1
de biblioteconomia se deveu muito mais ao acaso do que a algum
talento especial que eu possua. Seja quaJ tenha sido a razão, o fato é Embora alguns desses questionamentos continuem váJidos, alguns
que, largamente adotados pelos diversos cursos do país, eles tive­ outros poderiam ser acrescentados, levando a discussão a um ponto
ram na profissão uma repercussão que eu jamais esperava alcançar. cego, em que não seria mais possível vislumbrar saídas. Em um
Confesso que até hoje fico impressionado com as manifestações a mundo em que a totalidade dos documentos e informações parece
respeito de minhas obras, principalmente quando participo de even­ estar ao alcance das mãos de qualquer interessado, a necessidade da
tos da área e faço contato com alunos ou bibliotecários mais jovens, própria atividade de seleção pode ser facilmente questionada. Se
que tiveram conhecimento de meus livros durante seu período aca­ tudo posso ter, não necessito escolher. Se a tudo tenho acesso, não
dêmico. Isso me torna especialmente feliz, pois os autores escreve­ preciso me preocupar com qualquer tipo de incompletude. De uma
mos para sermos lidos, para que nossas reflexões possam atingir e certa forma, as possibilidades de felicidade infinita prometidas por
modificar a vida de nossos leitores. Por isso, como falei antes, atua­ Borges em seu conto A biblioteca de Babel,2 em que todo e qualquer
li2ar uma, obra bem-sucedida é uma tarefa particularmente espinho­ livro estará acessível ao interessado, em todas as suas possibilida­
sa, pois se corre o risco de mexer exatamente naqueles pontos que des, o original e sua cópia, a cópia da cópia e todas as outras cópias imagi­
mais agradaram aos leitores, de retirar do livro exatamente aquilo náveis, cada uma com pequenas e mínimas diferenças entre elas, parece
que foi a razão de seu sucesso. Mas são os riscos que fazem a vida ter se tornado realidade na nova ordem mundial da informação ele­
emocionante. Por que fugir deles, então? trônica.
Sem dúvida, muita coisa mudou no ambiente da informação des­ Vã ilusão. Como sabemos, a abundância ou mesmo a totalidade
de a segunda edição deste livro. Em 1998, a internet ainda estava de informações não é necessariamente sinônimo de acesso a elas.
longe de se tornar a realidade corriqueira que hoje representa para Ou de permanência. Como já foi mencionado por muitos autores -
bilhões de pessoas no mundo. A porcentagem de pessoas alijadas do tantos que nem me dou ao trabalho de citá-los neste momento -,
mundo da informação eletrônica era então muito maior do que ago­ nem tudo o que hoje está acessível nas redes eletrônicas de informa­
ra e, pelo menos em termos do grande público não-especializado, ção continuará a se manter desta forma no futuro. Muita coisa será
tinha-se uma ideia ainda relativamente vaga sobre o impacto que retirada do ar sem qualquer tipo de explicação ou mesmo sem moti­
esses novos meios de comunicação eletrônica viriam a ter no futuro. vo algum. Muita coisa será substituída por outra mais recente ou
Assim, as considexações que fiz quando comecei a refletir para atualizada, perdendo-se a versão anterior e, com ela, as relações so­
elaborar a segunda edição do livro parecem excessivamente ingênu­ ciais ou pessoais que havia produzido. Isso terá consequências ain­
as quando vistas com os olhos de hoje: da não bem dimensionadas para diversas áreas, como a história, a
sociologia, o jornalismo.
[... ) a primeira coisa que me veio à mente foi abordar as implicações Tudo isto me fez acreditar na necessidade de uma terceira edição
desta nova realidade sobre as atividades de seleção. Afinal, o que esta de meu livro Seleção de materiais de informação. Assim, como procedi
verdadeira ebulição eletrônica representa para aqueles profissionais que

2 3
da vez anterior, reli o que havia escrito antes, mantive o que entendi
continuar com a mesma validade, reformulei as partes em que senti
a necessidade de um enfoque diferente, acrescentei informações que
me pareceraq1 necessárias, atualizei a bibliografia, ampliei conside­ 1
rações que antes só havia esboçado. Acredito que acertei em algu­
mas decisões, assim como, provavelmente, equivoquei-me em ou­
tras (e espero sinceramente que o número das primeiras seja subs­
tancialmente maior que o das segundas ... ). Acredito, também, que
A seleção: um momento de decisão
deixei de seguir alternativas que talvez pudessem ser mais interes­
santes tanto para mim quanto para os futuros leitores do livro. Mas
O BIBLIOTECÁRIO TALVEZ NÃO o saiba, mas há um momento em que é
sobre isso não me debruço ou peço desculpas. $empre tive por nor­
chamado para tomar uma decisão. Ou seja: um momento de deci­
ma que alguém jamais se deve arrepender daquilo que não fez. Não
são. Não que deva sentir-se uma Shirley MacLaine ou uma Anne
vejo motivo para mudar de opinião a esta altura da vida.
Bancroft, mas a sensação talvez seja um pouco parecida com a que
elas experimentaram no filme Momento de decisão (The turning point)
Notas
(se alguém ainda não o assistiu, assista-o). Há um momento em que o
1 VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de 111aleriais de informação. 2 .cd. Brasília: Briquct poder de decisão pode estar nas mãos do bibliotecário. É quando da
de Lemos/ Livros, 1997, p. 4. seleção. De livros, periódicos, discos, filmes. De qualquer material
2 BORGES, Jorge Luis. A biblioteca de Babel. ln:--. Ficções. São Paulo: Compa­
passível de fazer parte do acervo. De qualquer item cuja incorporação
nhia das Letras, 2007.
ao conjunto existente contribua para que se aproxime mais dos objeti­
vos estabelecidos para aquele agrupamento de materiais informacio­
nais. Assim, ao menos potencialmente, o bibliotecário interfere na
vida de inúmeras pessoas. Quando um simples ato profissional de­
fine o universo de informações a que um grupo de usuários terá
acesso, pode-se dizer que o bibliotecário detém o poder. O poder. _
Mas, considerando o acima exposto, alguém poderá perguntar: o
que, exatamente, significa isso? Entre outras coisas, significa que o
bibliotecário, queira ou não, é um elemento que está permanente­
mente interferindo no processo social. Isto, sem dúvida, é uma es­
pécie de poder: O quanto este poder interfere de fato no processo
social já é uma outra questão, que provavelmente exigirá uma res­
posta mais elaborada.
O universo das probabilidades é infinito: imagine-se, por exemplo,
que um grande pesquisador necessita de uma informação sobre de­
terminado componente químico, e que essa informação lhe permiti­
rá desenvolver uma vacina contra a AIDS. Vai à bibljoteca e descobre que
ela não possui o título que traz essa informação. Preenche um for­
mulário sugerindo a aquisição do livro e espera sua chegada. O bi-

4 5
bliotecário, ao analisar o pedido, decide que aquele documento não 1) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua
está entre as prioridades da coleção e o rejeita. Infelizmente, o pes­ responsabilidade, sabendo melhor do que ninguém em que aspec­
quisador não tem a possibilidade de utilizar outras fontes, pois al­ tos ele está fraco, em que aspectos ele está forte, em que aspectos ele
gum tempo depois da decisão falece em um acidente automobilístico. atingiu um estágio ideal de desenvolvimento;
Com isso, anos de pesquisa são comprometidos e uma descoberta 2) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o usuário cujas
científica é atrasada. Tudo isso porque o bibliotecário não selecionou necessidades informacionais tem por obrigação procurar atender,
o material que permitiria ao pesquisador concluir sua pesquisa ... sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as
É claro que isso tudo é um exagero. Não é o caso de se deixar que têm características mais duradouras, ligadas a necessidades reais,
envolver pela paranoia. Esse exercício de imaginação busca apenas das que são ditadas por tendências esporádicas, influência dos meios
salientar que o efeito que uma decisão pode ter sobre a vida dos de comunicação de massa ou de modismos.
usuários é realmente inimaginável. Estes deveriam ser argumentos suficientes para que os bibliote­
Assim como se pergunta o que efetivamente é esse poder do qual cários participassem mais ativamente no processo de seleção. Na
o bibliotecário está imbuído, pode-se questionar se e quanto ele está realidade, devido aos senões apontados, isto acaba não acontecendo.
preparado para assumir esse papel ou utilizar esse poder (presume­ Nem todos os profissionais conhecem suficientemente bem o acervo
se: em benefício da sociedade). Infelizmente, deve-se admitir que a sob sua responsabilidade, de modo a poderem tomar decisões eficien­
resposta a essas perguntas, pelo menos na maioria dos casos, seria tes a respeito de inclusões ou exclusões que poderiam ou deveriam
negativa. Os motivos? Muitos e variados, indo desde a falta de co­ ser feitas nesse acervo. O mesmo se pode afirmar em relação aos
nhecimentos básicos sobre o mercado editorial - o que, para dizer usuários: em número de vezes maior que o desejado, não passam de
o mínimo, lhe possibilitaria tomar as decisões de maneira mais efi­ ilustres desconhecidos para os bibliotecários. As exceções vão sem­
ciente, - até sua inconsciência sobre a importância da atividade de pre dizer respeito àqueles usuários mais assíduos à biblioteca, que
seleção. Por isso, o mais das vezes, esse poder acaba se transforman­ acabam se transformando, bem ou mal, no parâmetro para todos os
do em fumaça. Foge. Às vezes por culpa do profissional, mas nem outros. Nesses casos, a exceção é vista como se fosse a regra e as
sempre. Às vezes os demais personagens do sistema informacional decisões acabam muitas vezes tendo-a por base. Desnecessário enume­
(superiores hierárquicos, como diretores, secretários municipais e rar a variedade de distorções que podem originar-se de uma prática
prefeitos; ou grupos de usuários, como os pesquisadores, os profes­ como essa. As bibliotecas já são um testemunho por demais gritante.
sores, etc.) assumem esse poder. E o bibliotecário fica a contempla�
outros tomando decisões nas quais ele muito teria a contribuir. E Mas que não se entenda erradamente o que aqui se propõe: não se
travestido de ajudante de ordens, executor, escudeiro e outras deno­ está defendendo a participação única e exclusiva do bibliotecário na
minações tão ou mais degradantes quanto essas (pelo menos, sob seleção, alijando todos os usuários, como se eles não tivessem, por
este ponto de vista). Uma situação não muito agradável para um sua vez, nada a colaborar para o processo. Isto seria excesso de ra­
profissional com um perfil de nível superior, deve-se convir... dicalismo, algo parecido com levantar a bandeira da 'biblioteca para os
O que acima foi dito leva, preliminarmente, à necessidade de es­ bibliotecários' que muitas vezes está por trás de um corporativismo
tabelecer uma premissa básica, sem a qual toda a discussão que se malintencionado e/ou idiota. Absolutamente. Os usuários devem atuar
pretende fazer a seguir perderá sua razão de ser: o bibliotecário tem no processo de seleção e em muitos casos será deles a decisão final.
algo a dizer no que se refere à seleção de materiais para as bibliot�­ O bibliotecário deverá sempre participar com seu conhecimento da
cas (se alguém não concordar com isso, fará melhor em fechar o li­ coleção, propondo uma direção coerente para o acervo e gq.rantindo,
vro nesse momento e sair para comer uma pizza...). Como funda­ assim, que os objetivos para ela estabelecidos não se percam com o
mento a essa premissa, �evem-se salientar dois pontos: passar do tempo. Sua participação é essencial para evitar que a cole-
6 7
ção se transforme em um agrupamento mais ou menos desajeitado senvolvimento da coleção. A experiência mostra que os usuários ten­
de documentos que nem sempre têm muita coisa em comum. dem a enxergar de maneira bastante limitada o acervo, estabelecen­
Parece também evidente que ao bibliotecário deve caber a orga­ do suas necessidades pessoais mais imediatas como o parâmetro de
nização da seleção de maneira racional e eficiente, estipulando re­ todas as decisões sobre a coleção. O bibliotecário tem condições de
gras, definindo critérios ou estabelecendo responsabilidades. Assim, ir muito mais além.
mesmo quando não é ele quem diz o sim ou o não definitivo, sua A objetividade no processo de seleção é uma meta sempre alme­
presença faz-se sentir durante todo o processo. Talvez se possa afir­ jada. Sem ela, existe o risco de surgirem acusações de favoritismo
mar que, no que diz respeito à seleção, uma das melhores contribui­ ou ineficácia da parte de cada usuário que não se sinta satisfeito
ções do bibliotecário esteja em sua capacidade de coordenar deman­ com a escolha efetuada. Para fazer frente a essas acusações, a única
das e necessidades conflitantes, de maneira a garantir que o resulta­ alternativa é demonstrar que os materiais foram incluídos no acervo
do final seja o mais harmonioso possível. Neste sentido ele é, acima segundo parâmetros objetivos de qualidade ou de necessidade.
de tudo, um negociador. Nem sempre isso será fácil de realizar. Por trás de tudo estará a
Talvez o exemplo mais característico desta função de negociador questão de definir, entre os milhares ou milhões de materiais de in­
do bibliotecário seja a atividade de seleção desenvolvida em bibliote­ formação que são lançados no mercado, quais os melhores para uma
cas especializadas ou mesmo universitárias. No Brasil, ao contrário de biblioteca específica. Não simplesmente definir quais os melhores
outros países, o bibliotecário não é um especialista na área em que mas, isto sim, quais os melhores para um determinado conjunto de
atua. Isto equivale a dizer que um profissional que trabalha em uma usuários, alvo de uma coleção já existente (ou não). Na raiz dessa
biblioteca especializada em biologia ou medicina, por exemplo, não questão estará embutida a necessidade de conhecer a fundo essa
tem conhecimento forma], especializado, dessas áreas. Por melhores comunidade a cujas necessidades aquele conjunto de documentos
intenções que possua, ele é, usando-se uma expressão popular, ape­ deve atender. Na raiz dessa questão está, também, a compreensão
nas um leigo no assu,nto. E provavelmente jamais passará disso, em­ de que a atividade de seleção não é realizada no vazio, mas efetuada
bora os anos de experiência possam vir a trazer-lhe, de modo mais dentro de um determinado contexto sociocultural, com tensões,
ou menos eventual, um razoável conhecimento da literatura da área ambivalências, disputas e negociações.
em que atua. Mesmo querendo ser o mais otimista possível, é difícil Não há como fugir dessa realidade. Da mesma forma, é virtual­
acreditar que possa ir muito além disso. Daí ser possível afirmar que mente impossível abolir a atividade de seleção das bibliotecas. Não
a melhor contribuição que o bibliotecário poderá prestar ao usuário existem nem existirão recursos financeiros suficientes para adquirir,
especializado será a de coordenar as diversas demandas ou necessi­ físicos para acomodar, ou humanos para processar a quantidade de
dades existentes, balanceando o acervo segw1do a importância rela­ materiais que invariavelmente chegaria às bibliotecas, por mais espe­
tiva dos assuntos, priorizando a seleção em função dos projetos em· cializadas que fossem. Mesmo que se admitisse a hipótese absurda
desenvolvimento na instituição ou dos cursos existentes, atuando de obter todos os materiais sem despender diretamente um único
em conjunto com wna comissão de seleção composta por especialis­ centavo, por meio de doações, as outras dificuldades continuariam
tas nos assuntos representados no acervo. presentes. Não há como fugir da seleção. O sonho da biblioteca de
Nos casos em que a decisão final de seleção não pertença ao bi­ Alexandria cada vez mais se configura como apenas isso: um sonho.
bliotecário, será necessário que ele tenha um conhecimento bastante Bonito, sim. Maravilhoso, talvez. Mas, ainda assim, um sonho.
preciso dos procedimentos adotados nesse processo, de modo a poder Alguns bibliotecários argumentarão que essa história de organi­
defender as necessidades da coleção. Talvez até se devesse dizer: é zar o processo de seleção parece coisa de teórico: na prática, no dia­
exatamente quando não possui o poder da decisão final que o biblio­ a-dia, não se tem tempo para tanta elucubração, pois as decisões
tecário deve ser ainda mais zeloso em suas preocupações com o de- têm que ser tomadas rapidamente. Não há tempo para estabelecer

8 9
critérios, por mais positivos que sejam. Não há tempo para avaliar
as diversas alternativas, por mais que isto seja necessário. Não há
tempo para a discussão nem para formar comissões, por mais que
isto seja aconselhável. Às vezes, tudo tem que ser decidido quase
2
num estalar de dedos para não se perder a possibilidade de utilizar
uma verba destinada à aquisição; não fazer isso significaria perder
esse valor na dotação orçamentária do ano seguinte, e não dá para se Considerações gerais que
correr esse risco. Outras vezes, não é possível interromper as demais
atividades da bibJjoteca para verificar um a um os itens de uma doa­ influenciam a seleção
ção, escolhendo apenas os que interessam de fato ao acervo.
Tudo isso é e não é verdade. Dizer que não se dispõe de tempo
para estabelecer critérios de seleção é uma falácia porque, na maio­ EM MUITOS CASOS, a própria área de atuação da biblioteca implica
ria das vezes, a falta de critérios também obedece a um critério, que um critério de seleção. Basta fazer uma relação das várias denomi­
não interessa ao profissional elucidar. Afirmar que os prazos para nações que indicam a especialização das instituições bibliotecárias:
utilização de certas verbas são irrevogáveis pode até ser uma boa biblioteca de química, biblioteca de física, biblioteca de comunica­
justificativa, mas sua credibilidade é prejudicada quando utilizada ções e artes, biblioteca de arquitetura, etc. Tem-se, então, uma pri­
durante anos e anos (afinal, não existe nada mais previsível que a meira grande subdivisão, ou, melhor dizendo, um grande critério
imprevisibilidade das verbas...). E dizer que a sistematização do pro­ de seleção: o assunto.
cesso de seleção é preocupação de teóricos parece ser uma maneira Outro tipo de especialização, muitas vezes presente na denomi­
de evitar tomar uma posição, preservando-se uma prática que pre­ nação que as bibliotecas adotam, refere-se à definição do usuário.
tende justificar-se por si mesma. Estabelecer uma biblioteca infantil implica a seleção de títulos ade­
Não é verdade que as bibliotecas funcionem ou possam funcio­ quados a esse público. Mais uma vez, tem-se um primeiro grande
nar sem a utilização de critérios de seleção. Bem ou mal, eles exis­ critério de seleção: a clientela.
tem. Uma biblioteca que só armazena livros já tem um grande crité­ Os exemplos poderiam continuar por páginas e páginas, mas,
rio de seleção estabelecido, bastando apenas refiná-lo. O mesmo acon­ para os objetivos pretendidos, já são suficientes, ou seja, demonstrar
tece com a que armazena livros e periódicos, ou livros e discos, ou que existe uma graduação de critérios de seleção, de grandes (ou
livros e filmes, e assim por diante. Pode-se afirmar que existe uma amplos) a específicos. Isto, em princípio, não parece ser uma noção
gradação de critérios de seleção, alguns mais amplos do que outros. de muito difícil entendimento para os bibliotecários, principalmen­
Muitas bibliotecas limitam-se ao estabelecimento de grandes critéri­ te se lembrarmos dos sistemas de classificação decimal, os tão co­
os gerais, ligados ao tipo de publicação ou a grandes abrangências nhecidos sistemas Dewey e cou, que trabalham com este conceito na
temáticas. Do mesmo modo, pode-se afirmar que há uma decisão ou divisão do conhecimento humano, partindo do geral para o especí­
um critério de seleção por trás de cada documento da biblioteca, fico.
como se cada um fosse o testemunho vivo da atividade de um pro­ Outra comparação possível é com uma corrida de obstáculos.
fissional, de sua preocupação, ou descaso, com o usuário ou com Imaginemos todos os documentos competindo para atingir um de­
seu papel de intermediador entre o universo do conhecimento e a terminado objetivo (sua inclusão no acervo) e tendo que ultrapassar
comunidade. Como dito acima, a falta de critérios não deixa de ser certos obstáculos que existem no caminho (os critérios de seleção).
um critério também... A questão principal é deixá-lo em evidência. Alguns serão bem-sucedidos, vencendo todos os obstáculos que lhes
Não, absolutamente, negá-lo. foram colocados. Outros tropeçarão e terão que ser excluídos da

10 11
competição. Como em uma corrida verdadeira, na medida em que particular. Essas considerações vão se referir ao assunto, ao usuário,
as dificuldades vão ficando mais complexas e as exigências se tor­ ao documento em si e a seu preço. A ordem em que essas considera­
nando mais rígidas, maior é o número de candidatos que não conse­ ções são feitas poderá variar, e em muitos casos elas são colocadas
guem chegar ao final. simultaneamente. Mas estarão presentes, de modo indispensável,
Esta pode parecer uma maneira meio irreverente de descrever a em todas as bibliotecas. Entenda-se, portanto, que a ordem em que
atividade de seleção em bibliotecas. Mas, na prática, não foge muito são enfocadas neste livro obedece apenas a uma distinção metodo­
disso. A questão principal está na colocação dos obstáculos/critérios lógica e não de importância.
de seleção corretos. Se forem fáceis de ultrapassar, é provável que
seja grande o número dos que alcançarão o objetivo final, e talvez O assunto
isto cause problemas no futuro com a acomodação ou mesmo ma­
nutenção dos vencedores. Se os critérios forem rígidos, poucos se­ Uma das primeiras considerações a serem feitas na seleção de mate­
rão bem-sucedidos, o que pode gerar dificuldades de disponibilida­ riais em bibliotecas enfocará a problemática do assunto, a fim de
de dos materiais. Infelizmente, não há uma solução simplista. Como verificar se os materiais passíveis de incorporação ao acervo (em
em uma verdadeira corrida, cada caso tem suas peculiaridades de princípio, todo o universo do conhecimento já registrado em algum
percurso, de competidor, de público, etc. Não existem respostas fá­ tipo de suporte) estão ou não incluídos nos parâmetros gerais de
ceis. assunto ou áreas de cobertura da coleção. É muito difícil encontrar
Antes de se entrar propriamente na problemática da elaboração bibliotecas que não façam alguma restrição quanto aos assuntos tra­
de critérios (que será tratada com detalhes no próximo capítulo), é tados nos documentos que devem fazer parte do acervo). Em segui­
necessário refletir um pouco sobre os fatores gerais que influenciam da, traçam-se as prioridades de coleta para esses assuntos. O estabe­
o processo de seleção. Nunca é demais salientar que, entre outras lecimento dessas prioridades, que poderia ser encarado como um
coisas, a forma de abordar esse processo será diretamente influencia­ refinamento do critério inicial, tornar-se-á necessário devido à im­
da pela tipologia da biblioteca. Em bibliotecas especializadas, a pri­ possibilidade material de selecionar da mesma maneira todos os
meira questão a ser respondida estará ligada à definição temática do assuntos de interesse. Da mesma forma, será necessário, em um
acervo, enquanto que em bibliotecas públicas ela se ligará à defini­ momento posterior da atividade de seleção, definir os assuntos que
ção da comunidade, caracterizando-se os usuários reais e os poten­ sejam considerados afins à área de atuação da biblioteca, que terão
ciais, ou, indo mais além, os usuários preferenciais. No caso das pri­ uma representação mínima em seu acervo ou poderão estar dispo­
meiras, o processo de seleção começará com a definição dos grandes níveis em outros lugares, a serem previstos, como uma alternativa
assuntos que deverão estar representados no acervo. Mas mesmo de acesso.
quando a caracterização do usuário é o ponto de partida, o processo
de seleção não poderá deixar de inicialmente considerar os grandes O usuário
grupos de assuntos. Essas duas considerações estão praticamente
juntas. As considerações quanto às características do usuário real ou poten­
Essa breve discussão leva necessariamente a se questionar sobre cial estão diretamente ligadas à definição do benefício que cada
a existência de procedimentos comuns à seleção de materiais, que material incorporado ao acervo poderá trazer à comunidade a que a
estariam necessariamente presentes em qualquer tipo de instituição biblioteca almeja servir. Em geral, essas considerações iniciais esta­
bibliotecária. Na realidade, esses procedimentos existem. Todas as rão ligadas a uma primeira avaliação da adequação ao usuário do
bibliotecas iniciam o processo de seleção com considerações abran­ material a ser selecionado. Pouco adiantará possuir materiais de
gentes, que são depois refinadas e adequadas a cada uma delas em altíssima qualidade que jamais despertarão qualquer interesse e fi-

12 13
carão mofando nas estan!es, gerando despesas com manutenção, lim­ O preço
peza, acomodação, etc. E sempre bom lembrar a anedota sobre uma
biblioteca pública do interior que possuía, lindamente encadernada A quarta consideração dirá respeito ao custo do material: o bibliote­
em couro de primeira qualidade, a coleção completa das obras de cário terá que definir se a biblioteca tem condições de arcar com o
Goethe... em alemão gótico. custo de cada documento. Sabendo-se que os recursos disponíveis
Enfim, a resposta correta a essa questão envolve um conhecimento para aquisição não são inesgotáveis (na realidade, raramente são
bastante aprofundado dos usuários, suas características e preferên­ suficientes) torna-se imprescindível definir quanto a biblioteca pode
cias. Esse conhecimento não deve ser confundido com a familiarida­ comprometer-se em relação ao preço do material. A experiência -
de superficial que se adquire em relação a usuários mais assíduos, mostra que esta exigência, pelo menos no Brasil, acaba deixando fora
cujos interesses o bibliotecário acaba conhecendo mais detalhada­ da coleção grande parte dos documentos. Mesmo, porém, em países
mente que os daqueles usuários não tão assíduos (ou tão comunica­ com mais recursos financeiros para as bibliotecas, as duas coisas es­
tivos). Deve-se tomar cuidado para não confundir os interesses de tão ficando cada vez mais pr,óximas devido ao aumento do preço
alguns com os interesses de todos, procurando-se definir mecanis­ dos materiais bibliográficos. E conveniente desenvolver algum tipo
mos que permitam não só a avaliação global dos usuários mas que de sistema de avaliação que permita comparar o custo do documento
impeçam, também, o aparecimento de favoritismos. Neste caso, evi­ com o provável benefício que ele trará ao conjunto do acervo e aos
dencia-se a ligação da seleção com outra atividade do desenvolvi­ usuários, interligando-se, então, todas as considerações anteriormen­
mento de coleções, o estudo de comunidade. te feitas. Mais especificamente, fica clara aqui a relação da seleção
com a atividade de aquisição de materiais.
O documento
Questões complementares
Cada documento desempenhará um papel no conjunto do acervo.
Neste sentido, a terceira pergunta a ser feita nos procedimentos ini­ Outras duas considerações podem ser feitas no sentido de dimensio­
ciais de qualquer processo de seleção buscará uma definição precisa nar corretamente as anteriores. A primeira diz respeito à probabili.::--,
da necessidade de cada documento. Em outras palavras, o bibliote­ dade de que o material selecionado possa vir a ser alvo potencial de
cário deverá responder (a si mesmo) se a coleção dispõe de material vandalismo, furtos ou rnublações, bem como gerar objeções por parte
sµficiente sobre o assunto em causa, ou tipo de documento em par­ dos usuários devido à sua incorporação ao acervo. Não é uma ques­ \
ticular, e, em caso afirmativo, se necessita de mais. Isto implicará tão que leve necessariamente à recusa de seleção mas representa, 1
uma avaliação anterior do acervo, por mais elementar que ela seja, sem dúvida, fatos a serem pesados na decisão. Um material muito
sem a qual a resposta será um mero palpite. Fica claro que é preciso valioso acarretará custos adicionais, com respeito à sua segurança,
desenvolver mecanismos, ainda que mínimos ou rudimentares, que que talvez a biblioteca tenha dificuldades para cobrir; custos que, na
permitam ao responsável pela biblioteca um conhecimento objetivo realidade, são superiores ao preço da compra. Materiais sobre as­
do acervo no que concerne tanto à distribuição dos assuntos como à suntos polêmicos também podem trazer mais problemas do que
sua representatividade em relação com o número de usuários, de benefícios à biblioteca, devendo ter sua necessidade para o acervo J
cursos ou disciplinas, de linhas de pesquisa, etc. Também neste caso cuidadosamente estudada, visando urna decisão mais objetiva a seu
torna-se evidente a ligação da seleção com outra atividade do de­ respeito.
senvolvimento de coleções: a avaliação de coleções. A última consideração concerne a urna primeira estimativa de
qualidade do material selecionado. Nem sempre o bibliotecário tem
informações suficientes que lhe permitam determinar ou ao menos

14 15
fazer uma estimativa da qualidade dos documentos. Para tentar fa:
zer essa avaliação, deverá utilizar todos os dados disponíveis, seja
no próprio material (orelha do livro, apresentação, índice, biblio­
grafia, etc.) e da opinião de especialistas.
3
Todas essas considerações são feitas cotidianamente no processo
de seleção. São realizadas, depois de um certo tempo, quase que
automaticamente - pode-se até dizer inconscientemente, - na me­ Em busca de critérios de seleção
dida em que são incorporadas à rotina de trabalho. O que não garan­
te que sejam infalíveis. É importante, aliás, salientar que infalibili­
dade é algo que jamais existirá na seleção; esta é sempre um trabalho A LITERATURA ESPECIALIZADA está repleta de critérios, muitas vezes
de aproximação, buscando-se dados objetivos que permitam prever repetitivos e mesmo contraditórios, destinados ao julgamento dos
a importância futura do documento para o usuário e para a coleção. materiais a serem selecionados. De todo modo, eles visam guiar o
Um correto estabelecimento de critérios de seleção contribuirá para bibliotecário no trabalho periódico de seleção, garantindo a coerên­
que essas previsões sejam realizadas da forma mais acurada possí­ cia do acervo no transcorrer do tempo. Graças ao conjunto de _crité:_
vel, mantendo-se o aparecimento de erros em níveis aceitáveis. Mas rios de seleçffeo, comumente denominado política de seleção, é possí­
isto já é assunto para outro capítulo. vel manter um direcionamento racional para a coleção à medida que
os profissionais se incorporam ou se afastam da equipe de trabalho.
A política de seleção procura garantir que todo material seja incor­
porado ao acervo segundo razões objetivas predeterminadas e não
segundo idiossincrasias ou preferências pessoais. Igualmente, é ela
que garante que as lacunas existentes no acervo não são fruto do
descaso ou ineficiência do profissional responsável pela seleção, mas
se coadunam com o processo de planejamento vigente na institui­
ção bibliotecária, sendo coerentes com os propósitos e objetivos es­
tabelecidos para sua atuação.
Antes de· entrar propriamente nos critérios de seleção, é impor­
tante fazer urna advertência: a organização da atividade de seleção
mediante o estabelecimento de critérios só é eficiente quando todos
os envolvidos trabalham de modo racional, dispostos a discutir ob­
jetivamente a aplicação ou aplicabilidade desses critérios. Na medi­
da em que os envolvidos na problemática da seleção afastam-se do
racional, mergulhando no terreno do passional ou do autoritarismo,
os critérios de seleção tornam-se cada vez mais inócuos. Não existe
critério de se)eção que possa anular ou dissuadir uma autoridade
superior firmemente decidida a fazer valer a sua vontade... ou um
bibliotecário disposto a imprimir seus preconceitos pessoais ao acer­
vo sob sua responsabilidade. Neste sentido, os critérios consubstan-

16 17
ciados na política de seleção devem ser vistos como uma espécie de dice de confiabilidade do conteúdo dos documentos. Com a prática,
constituição: não existe nenhuma que consiga resistir a g�)Vernantes o bibliotecário aprenderá a identificar as editoras de excelência nas
com disposição e força suficiente para desrespeitá-la. E claro que áreas de interesse da biblioteca, geralmente as que contam com edi­
isto nunca foi razão para que as constituições não fossem elabora­ tores ou comissões editoriais de reconhecida competência, e fará a
das; da mesma forma, a prepotência de autoridades superiores tam­ seleção desses materiais quase que de forma automática. Por exem­
bém não é razão para que os critérios de seleção não sejam elabora­ plo, sabendo-se, que as editoras Facet Publishing, Libraries Unlirnited
dos. É nesses momentos que são ainda mais necessários, visando e Scarecrow Press são bastante conceituadas nas áreas de biblioteco­
tornar evidente o exercício da prepotência. nomia e ciência da informação, o fato de um livro ter sido publicado
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que os critérios que se­ por alguma delas irá pesar favoravelmente na sua avaliação. O mes­
rão relacionados a seguir são apenas uma sugestão. Cada profissio­ mo pode ser afirmado em relação a documentos patrocinados por
nal deverá procurar desenvolver os critérios mais apropriados para instituições de destaque em sua área de atuação. Documentos pa­
a coleção pela qual é responsável, que poderão ou não incluir os que trocinados por instituições como a Organização das Nações Unidas
forem aqui citados. Utilizando uma comparação não muito criativa, para a Alimentação e Agricultura (FAO) ou a Organização das Na­
pode-se afirmar que desenvolver uma coleção é corno organizar um ções Unidas para Educação, Ciência e Cultura (uNEsco) costumam
guarda-roupa pessoal: cada um tem critérios próprios para definir ter bom nível, merecendo, em princípio, uma avaliação favorável.
as vestimentas que dele farão parte e esses critérios variarão segun­ Cada biblioteca deverá identificar essas instituições ou editoras de
do características individuais, como altura, peso, etc. Os critérios prestígio, cujos nomes funcionam como aval dos materiais a que dão
sugeridos não são uma fórmula passível de generalização, mas ape­ origem, e fazer com que essas informações estejam disponíveis aos
nas algumas das muitas possibilidades existentes. Assim devem ser responsáveis pela seleção dos materiais, constando do documento
encarados. de política de seleção.
A literatura especializada costuma apresentar uma grande varie­ É claro, no entanto, que não existem garantias suficientemente
dade de critérios. Às vezes a diferença entre alguns é mínima, ape­ seguras em relação a este critério. O fato de uma editora ter publica­
nas uma questão de enfoque ou preferência terminológica. Neste do dezenas de obras de altíssima qualidade, gozando de uma sólida
· texto, os critérios foram organizados de modo a que pudessem ser reputação no mercado, não quer dizer que todos os materiais que
mais bem assimilados didaticamente, mesmo com o risco de classi­ ela publicar terão o mesmo nível. Revistas especializadas costumam
ficar um ou outro de forma inadequada. Assim, considerando-se os utilizar um sistema de rodízio com relação a·seus editores responsá­
objetivos deste livro, optou-se por.agrupar os muitos critérios utili­ veis, mudando-os periodicamente; isso, muitas vezes, pode impli­
zados na seleção de materiais em bibliotecas, citados na literatura car queda da qualidade dos artigos.
especializada, segundo o tipo de enfoque por eles adotados:

Critérios que abordam o conteúdo dos documentos


-P Precisão. Visa evidenciar o quanto a informação veiculada pelo
documento é exata, rigorosa, correta. Para analisar um documento
sob este ponto de vista, o bibliotecário precisará muitas vezes da
Autoridade. Busca definir a qualidade do material a partir da repu­ opinião de um especialista, pois nem sempre a imprecisão está tão
tação de seu autor, editora ou patrocinador. Baseia-se na premissa evidente quanto se desejaria que estivesse.
de que o fato de um autor ter produzido materiais de qualidade no Lembro-me de uma obra enciclopédica sobre histórias em qua­
passado é um indicador razoavelmente confiável de sua produção drinhos, aparentemente exata, que, à primeira vista, deixou-me bas­
futura. Da mesma forma, algumas editoras costumam notabilizar-se tante impressionado; no entanto, wna leitura atenta evidenciou er­
pela qualidade dos materiais que editam, funcionando como um ín- ros primários. Fiquei assustado ao ler ali que um amigo desenhista
18 19
de histórias em quadrinhos, com quem estivera na semana anterior, costumam ser muito valorizadas pelos pesquisadores, por constituí­
havia morrido fazia mais de dois anos... rem uma contribuição já reconhecida e incorporada ao conhecimen­
to (daí, provavelmente, a importância maior que as ciências huma­
Imparcialidade. Procura verificar se todos os lados do assunto nas dão às obras monográficas).
são apresentados de maneira justa, sem favoritismos, deixando cla­ Convém, por exemplo, estar alerta para mudanças políticas e es­
ra, ou não, a existência de preconceitos. Deve-se ter em mente, no truturais na sociedade moderna, que fazem com que mapas ou enci­
entanto, que esta imparcialidade poderá, ou não, ser pré-requisito clopédias recentes logo percam sua atualidade. As mudanças ocor­
necessário para inclusão na coleção. ridas ao longo da última década do século xx e na primeira década
Muitas vezes, obras não-imparciais representam uma visão al­ do século xx1 no Leste europeu, por exemplo, demonstram o adven­
ternativa de um determinado assunto, funcionando como uma es­ to de modificações surpreendentes, que afetam o trabalho de todos
pécie de contraponto a obras já existentes no acervo. Outras vezes, que têm o fornecimento de informações fidedignas entre suas obri­
obras aparentemente imparciais disseminam veladamente precon­ gações profissionais.
ceitos contra determinadas camadas da sociedade, como minorias No trabalho de seleção, os bibliotecários deverão manter-se aten­
étnicas, de gênero, orientação sexual, etc. Durante muito tempo, por tos a trabalhos que se apresentam como edições atualizadas ou re­
exemplo, acreditou-se que os livros didáticos eram obras imparciais, vistas de obras já publicadas, procurando avaliar de maneira objeti­
pois se limitavam a funcionar como instrumentos para a transmis­ va quanto da informação contida nesses documentos é realmente
são de conhecimentos considerados específicos para fins educacio­ informação nova e não a mesma anteriormente divulgada, apenas
nais. Análises realizadas por pesquisadores conceituados, entre os em uma diferente apresentação.
quais se pode destacar Umberto Eco, mostraram que essa certeza
não passava de uma grande falácia. Cobertura/Tratamento. Refere-se à forma como o assunto é tra­
A imparcialidade nem sempre é algo muito fácil de ser definido tado. Na aplicação deste critério, o bibliotecário distinguirá:
e, acima de tudo, pode ser encarada tanto de um ângulo negativo
(disseminação de preconceitos sociais) como positivo (exteriorização • se o texto entra em detalhes suficientes sobre o assunto ou se a
de pontos de vista minoritários). Cada profissional definirá a me­ abordagem é apenas superficial;
lhor maneira para, no contexto de seu campo de trabalho específico, • se todos os aspectos importantes foram cobertos ou alguns foram
abordar essa polêmica questão. tratados ligeiramente ou deixados de fora.

Atualidade. Urna informação desatualizada perde muito de seu É importante salientar que também neste caso não existe resposta
valor. Para bibliotecas onde a atualidade dos dados tem muita im­ fácil. O fato de um documento não realizar a cobertura total de um
portância, este critério é decisivo. É itnportante ter esse fato bem assunto ou fazer um tratamento apenas superficial não significa que
claro, pois afetará diretamente a atividade de seleção. não possa vir a ser de interesse para determinado acervo. A especifi­
A velocidade com que as informações se desatualizam varia con­ cidade da clientela e/ou coleção deverá ser levada em conta, pois
forme a área de conhecimento em que a biblioteca atua. Documen­ este critério pode ser utilizado de uma forma por uma biblioteca e
tos de algumas das chamadas ciências exatas, como a computação, de forma totalmente diversa por outra. Muitas vezes, para correta
se desatualizam rapidamente. Por isso, os bibliotecários das áreas aplicação deste critério, é importante contar com a colaboração de
de ciências exatas necessitam estar bastante atentos a este critério, um especialista.
visando minimamente acompanhar o ritmo com que novas tecnolo­
gias surgem e desaparecem. Nas ciências humanas, obras 'antigas'

20 21
Critérios que abordam a adequação ao usuário Estilo. Muitas vezes o estilo utilizado não é apropriado ao as­
sunto ou ao objetivo do texto. Este critério procura verificar este fato,
Conveniência. Intimamente ligado ao critério de cobertura/tratamen­ bem como constatar se ele é adequado ao usuário-alvo. Ninguém,
to. Procura verificar se o trabalho é apresentado em um nível, de por exemplo, porá em dúvida a excelência do estilo de Machado de
vocabulário e visual, que seja compreensível pelo usuário. Em geral, Assis, mas é bastante discutível a adequação de alguns de seus li­
neste critério são levantados aspectos relativos à idade dos usuários, vros, corno Dom Casmurro ou Memórias póstumas de Brás Cubas, a uma
desenvolvimento intelectual, etc. clientela infanta-juvenil.
Na aplicação deste critério, fica evidente quanto é necessária a
interação do bibliotecário com seu público: para analisar correta­ Critérios relativos a aspectos adicionais do documento
mente o documento, será preciso que o profissional tenha conheci­ Características físicas. Abrangem os aspectos materiais dos itens a
mento profundo do usuário cujas necessidades informacionais pro­ serem selecionados.
cura atender, conseguindo determinar de modo exato suas limita­ Na aplicação deste critério, o bibliotecário, em face do uso pre­
ções e potencialidades. Pouco adiantará colocar no acervo itens ina­ tendido para o material e as características dos usuários, verificará
dequados para o tipo de utilização pretenruda ou que é efetuada se os caracteres tipográficos foram bem escolhidos, têm boa legibili­
pelo usuário. Por exemplo, se o objetivo de um texto para a bibliote­ dade, tamanho apropriado, etc. Verificará se a encadernação é resis­
ca for atender à realização de trabalho em grupos, ele deve ser ade­ tente para o uso em biblioteca, fazendo, inclusive, uma estimativa
quado para isso, tanto em termos físicos e de conteúdo . de sua durabilidade e das possibilidades ou necessidade de futuros
reparos. Analisará também a qualidade do papel, submetendo-o a
Idioma, Trata-se de definir se a língua do documento é acessível escrutínio semelhante ao da encadernação.
aos usuários da coleção. As características físicas são muito importantes para materiais
Em muitas bibliotecas esta análise é facilmente realizada por não com previsão de alta demanda ou dirigidos para públicos específi­
existir tão grande diversidade de publicações em sua área de inte­ cos. Em certos países, existe uma florescente indústria editorial
resse e nem grupos de usuários com necessidades linguísticas espe­ dirigida para a população de terceira idade, com livr?s iI:1'1pr�ss�s
cíficas. Em algumas bibliotecas especializadas, no entanto, esta veri­ em formato grande e com letras aumentadas. No Brasil, a mdustna
ficação da língua de publicação terá necessariamente que ser feita de livros infantis tem procurado utilizar material resistente e ade­
item por item, assunto por assunto. quado para crianças, podendo-se apontar a produção de livros in­
fantis em plástico, pano, etc.
Relevância/Interesse. Busca definir se o documento é relevante
para a experiência do usuário, sendo-lhe de alguma utilidade. Da Aspectos especiais. Neste item analisam-se a inclusão e a quali­
mesma forma, tenta-se verificar se o texto tem condições de desper­ dade de bibliografias, apêndices, notas, índices, etc. Enfim, todos os
tar sua imaginação e curiosidade. elementos que contribuem para melhor utilização do documento.
Alem de, como nos dois critérios anteriores, implicar a necessi­ Às vezes, mais que constatar a existência desses elementos, será ne­
dade de um conhecimento mais aprofundado dos usuários, não se­ cessário avaliar se valorizam a obra e não constituem apenas um
ria exagero dizer que' este critério exigirá do bibliotecário algum fator totalmente supérfluo para suas finalidades.
conhecimento das características dos textos literários e técnicos. Ou,
Contribuição potencial. Este critério leva em consideração a co­
melhor dizendo, um interesse pessoal pela leitura.
leção já existente, na qual o documento a ser selecionado deverá ocu­
par um lugar específico.

22 23
Material algum será incorporado ao acervo por simples inércia, e apresentação artísticas são pontos que devem ser considerados.
mas para torná-lo mais completo. Assim, é preciso que cada item Em obras de não-ficção, por outro lado, a objetividade e clareza de
seja analisado do ponto de vista de sua relação com os demais, veri­ apresentação acabam assumindo prioridade sobre outros aspectos.
ficando-se quanto contrabalança outros trabalhos, trazendo uma Os critérios de seleção aqui abordados não se aplicam apenas a
perspectiva diferente e enriquecedora ao acervo, ou se simplesmente Jjvros, mas a todos os materiais. Evidentemente, haverá critérios es­
se soma ao que existe, gerando redundância de informações. Esta pecíficos para certos tipos de documentos. Será preciso elaborar cri­
verificação será importante para se ter uma estimativa de uso futuro. térios complementares para a seleção de periódicos, filmes, discos,
diapositivo�, etc. Todos devem ser coerentes com os objetivos da
Custo. Presumindo-se que a consideração inicial sobre a possibi­ biblioteca. E inconcebível, por exemplo, a utilização de critérios de
lidade de a biblioteca arcar com o custo do material tenha sido reali­ seleção totalmente opostos para livros e periódicos, ou para livros e
zada e seja positiva, este critério procurará identificar alternativas materiais audiovisuais.
financeiramente mais compensadoras para a biblioteca. Verificará
se há edições mais baratas (encadernações simples, miolo em papel
inferior ou edições de bolso), tomando cuidado para não afetar al­
guns dos critérios anteriores. Também são analisados outros fatores
que, indiretamente, acabam afetando o custo total da obra para a
instituição. Por exemplo, os custos com processamento técnico, ar­
mazenamento, segurança, etc.
É conveniente que o bibliotecário procure definir um sistema de
avaliação capaz de lhe informar com razoável confiabilidade o quanto
é mais barato adquirir um material e incorporá-lo ao acervo, ao in­
vés de solicitá-lo por empréstimo a outra biblioteca, quando neces­
sário. Cada vez mais, a acessibilidade aos documentos por meio do
intercâmbio com outras instituições torna-se uma alternativa viável
à sua disponibilidade física.
Estes são apenas alguns dos critérios comumente utilizados para
avaliação de documentos no processo de seleção. Existem vários
outros (dois autores norte-americanos, Mary Carter e Wallace Bonk,
em Building library collections, chegam a relacionar mais de 150). Des­
necessário citar todos os critérios já utilizados ou mesmo apenas
imaginados; independentemente disso, cada profissional terá que
se defrontar, em algum mornento, com a necessidade de estabelecer
seus próprios critérios. Importante é salientar que os critérios suge­
ridos neste livro são apenas indicativos e nem sempre podem ser
aplicados a todos os documentos; sua aplicação dependerá do mate­
rial que se está analisando. Em obras de ficção, por exemplo, critéri­
os como a representação de um importante movimento, gênero lite­
rário ou cultura nacional, bem como características de originalidade

24 25
apocalípticas eram exageradas e os antigos meios de comunicação e
transmissão de conhecimento continuaram existindo, ainda que com
4 modificações. Há 40 anos, ou talvez menos, Marshall McLuhan pre­
viu que em 1990 a palavra impressa e sua leitura seriam apenas uma
lembrança; muita gente acreditou nele. Ao contrário, a publicação
de livros apenas aumentou de lá para cá, incorporando vastas cama­
Seleção de materiais especiais das da população à influência da leitura.
e multimeios Cada vez mais, novos espaços de influência são definidos. Esta
parece ser a única constatação realmente válida. Muito do que tem
sido afirmado pertence apenas ao campo do sonho, da previsão, da
futurologia sem garantias de efetividade. No que concerne à área de
PA RA AS FINALIDA DES DESTE capítulo, são materiais especiais ou multi­ atuação dos bibliotecários, o mais certo será conceituar a biblioteca
meios todos os materiais de biblioteca, à exceção dos livros. Assim, como uma instituição armazenadora e disseminadora de informa­
aqui se incluem os periódicos em geral (revistas especializadas, jor­ ções e não de tipos de documentos específicos, pois a variedade des­
nais, etc.), os materiais audiovisuais (filmes, discos, fitas cassetes, ses tende a multiplicar-se quase que em proporção geométrica.
diapositivos, etc.) e as novas tecnologias (ovos, programas de com­ Não se pretenderá tratar da seleção de todos os outros tipos de
putador em cos, etc.). documentos existentes no mercado. Provavelmente, à época do lan­
. ,
Um ponto importante que deve ser colo; ado como pre�1ssa_ a çamento deste texto, ele já estaria desatualizado, havendo muitos
discussão de critérios é que os diferentes ve1culos de comumcaçao outros materiais dos quais não se teria tratado. O elenco a ser apre­
não podem ser encarados como adversários em uma grande disputa pela sentado enfocará alguns dos materiais que já podem, até que com
preferência da sociedade. Nenhuma forma d� comunicação con�olida­ relativa facilidade, ser encontrados nas bibliotecas. Na elaboração
da é imediatamente destruída pelo aparecnnento de novos ve1culos. de critérios específicos para a seleção desses outros materiais de­
As formas anteriores modificam-se, têm seu público diversificado e vem ser buscados critérios mais adequados para cada um, levando
continuam valendo. Estratificam-se. Assim sempre tem acontecido em consideração suas peculiaridades. Os critérios de seleção esta­
e não há motivos que façam acreditar que isto virá a modificar-se em rão sempre diretamente ligados ao tipo de material selecionado; por
futuro próximo. exemplo: o custo total de qualquer obra em multimeio é afetado em
Bob Usherwood, em The public library as public knowledge, lembra muito maior proporção por seu custo de manutenção, do que o cus­
que, há alguns anos, a televisão !ngles� apresen:ou uma série sobre to de uma obra impressa comum.
,
o desenvolvimento das tecnologias da mformaçao no fmal do seculo
x1x, na qual um bibliotecário respondia a um usuário: "Não, eu não Periódicos
posso verificar em um livro, senhor, ist? é uma biblioteca, não um
,
museu." Isto evidencia a crença generalizada de que os ve1culos de A seleção de uma publicação periódica difere basicamente da de um
informação, como os conhecemos atualmente, estão fadados a desa­ livro ou monografia no sentido de que na primeira estabelece-se um
parecer. Há anos se prevê o fim dos livros com o advento d�s no� as compromisso com sua continuidade, enquanto que no livro essa
tecnologias informacionais, da mesma forma como se prevm o fim decisão se esgota naquele momento. Fora alguns casos específicos,
do cinema com o aparecimento da televisão, do videocassete e do não há razão ·para a biblioteca selecionar apenas alguns fascículos
devedê. A realidade, no entanto, mostrou que as previsões de um periódico. Ela deverá necessariamente adquirir, e provavel­
mente conservar, o título como um todo, a partir do momento em
26 27
que optar por ele. No caso dos periódicos, o ato de seleção se repete outros indicadores que permitem ao bibliotecário uma avaliação
de tempos em tempos, ao se tomar uma decisão pela continuidade satisfatória. Vários desses indicadores constam da contracapa ou das
ou pelo encerramento da assinatura. Fica evidente, então, o perigo páginas iniciais do fascículo, principalmente em periódicos especi­
de se fazer renovação de assinaturas por inércia, simplesmente por­ alizados. Um deles é a existência de um comitê editorial, cuja fun­
que um título vem sendo assinado há muito tempo, sem considerar ção é apreciar os artigos submetidos a publicação, um dado tido como
fatores importantes como o uso ou relevância do título para o usuá­ garantia de qualidade. lsto significa que um artigo, para ser publica­
rio atual. do em um periódico que possua comissão editorial, será examinado
Esse compromisso com a continuidade acarretará, por exemplo, por um ou vários especialistas, que decidirão se o trabalho atende
a necessidade de considerar atentamente as implicações do título aos requisitos ou critérios de qualidade estabelecidos. Quando esse
para a biblioteca, em termos de utilização do espaço, algo que não é comitê é composto por especialistas de instituições ou países dife­
tão essencial quando da seleção de livros. Coleções de periódicos rentes, supõe-se que a garantia de qualidade seja ainda maior, ca­
crescem e ocupam um grande espaço; isto é comum em bibliotecas racterizando uma publicação onde não existe endogenia de grupos
especializadas, pois a informação veiculada em periódicos tem im­ ou linhas de pensamento.
portância muito grande para seus usuários, em geral pesquisadores De certa maneira, quando se verifica a existência e composição
que necessitam de informações atualizadas. de comissões editoriais e se considera este dado na seleção de publi­
Vinculada à avaliação do espaço disponível para acomodação dos cações periódicas, está-se trabalhando com o critério da autoridade:
periódicos está a análise global do custo desse material. Nesse senti­ acredita-se que os especialistas da comissão editorial emprestam sua
do, o valor pago pela assinatura de um título não é o único custo reputação ao periódico.
com que a biblioteca está arcando ao optar por sua aquisição; exis­ Pode-se dizer que o mesmo critério está sendo utilizado quando,
tem vários custos, diretos e indiretos, que devem ser consic;Jerados. conhecendo-se o rigor com que os títulos são indexados em bases de
Mas, só para ficar no preço das assinaturas, é importante salientar dados especializadas, aceita-se como subsídio para a tomada de de­
que, em se tratando de periódicos científicos, ele tem subido muito cisão a presença de um periódico nessas bases. Supõe-se que quanto
acima dos índices inflacionários dos países onde são produzidos. maior for o número de bases que indexam o periódico, maior será a
Como uma assinatura de periódico representa um comprometimen­ garantia de sua qualidade. Assim, quando se tem que decidir entre
to, por tempo indeterminado, de uma percentagem razoável do or­ dois periódicos, ambos com o mesmo nível de interesse para a biblio­
çamento da biblioteca, é importante que essa análise de custo seja teca, pode-se utilizar, como critério de desempate, o fato de um de­
feita periodicamente. Isto é muito importante com novas assinatu­ les ser indexado por bases de dados da área. Há razões para acredi­
ras, para não permitir que cresça em demasia o investimento da bi­ tar que um periódico indexado terá maior probabilidade de ser utili­
blioteca em novos títulos. zado, na medida em que as bases de dados funcionarão como fontes
Em paralelo às análises de ocupação do espaço e custo da assinatu­ secundárias, permitindo ao usuário ter acesso ao conteúdo dos peri­
ra, é importante ter-se clareza quanto à utilização futura dos títulos, ódicos ali indexados.
a fim de avaliar quando vale a pena fazer uma assinatura e quando a Ao se utilizar a presença em bases de dados como critério de
melhor opção é solicitar o fasdculo por empréstimo a outra bibliote­ seleção, deve-se atentar para títulos recentes, para os quais ainda
ca. Neste caso, estatísticas de empréstimo entre bibliotecas podem não houve tempo de serem avaliados e indexados em bases de da­
oferecer subsídios valiosos para a tomada de decisão (é claro que, dos, embora possuam qualidade para isso. Em geral, essas bases,
em caso de títulos recém-lançados esta alternativa fica prejudicada). antes de incluir novos títulos, adotam a política de aguardar até que
Julgar a qualidade de um periódico nem sempre é tarefa fácil. tenham mais elementos para aferir sua qualidade.
Fora a opinião do especialista, sempre uma ajuda indispensável, há No caso de periódicos em línguas estrangeiras inacessíveis aos

28 29
usuários, a presença de um resumo em idioma acessível, em geral o estudos, desviavam-nas de salutares hábitos de leitura, prejudica­
inglês, deve ser considerada na seleção. Leva-se esse dado em conta vam seu desenvolvimento intelectual, etc. Por todos esses motivos,
não apenas porque com o resumo as informações ficam disponíveis parece apropriado refletir um pouco sobre os critérios de seleção
e a probabilidade de utilização é maior, mas também porque isso queyoderão e deverão ser aplicados a esses materiais.
indica que o título propõe-se a uma circulação internacional, uni­ A primeira vista, as histórias em quadrinhos limitar-se-iam às
verso onde as exigências são maiores. vendidas em bancas de jornais, os tradicionais gibis (daí o apareci­
Todos esses critérios terão maior aplicabilidade nas bibliotecas mento de um novo substantivo na área biblioteconômica de língua
especializadas ou universitárias, devido aos objetivos dessas insti­ portuguesa - gibitecas: bibliotecas de histórias em quadrinhos). De
tuições e às características específicas de seus usuários. Para biblio­ fato, os gibis existem em grande número, com enorme variedade de
tecas públicas deve-se reconhecer que sua utilidade é limitada, pois temas e gêneros. Com certeza, constituirão a maioria de qualquer
nem sempre a questão será colocada com tal nível de especificidade, acervo dedicado a esse material; há gibis infantis, adultos, de super­
de modo a exigir a aplicação de padrões de qualidade utilizados na heróis, de aventuras, eróticos, pornográficos, etc. O bibliotecário
avaliação de periódicos científicos. Nelas, os critérios mais relevan­ deverá, com base no conhecimento que tem de seu público e na ava­
tes serão provavelmente os que dizem respeito à adequação dos pe­ liação de suas demandas, definir os gêneros que farão parte do acer­
riódicos aos usuários. vo.
As mesmas considerações acerca da disponibilidade de espaço
Histórias em quadrinhos para periódicos, feitas antes, aplicam-se às histórias em quadrinhos.
Em geral, talvez seja arriscado optar pela exaustividade em relação
Ultimamente, vem sendo dada grande atenção às histórias em qua­ ao material quadrinhístico. A produção brasileira, para não falar da
drinhos, com a imprensa mundial registrando um incremento no norte-americana ou espanhola, é grande, e isto comprometeria, em
número de artigos, resenhas, reportagens e entrevistas com autores curtíssimo prazo, a disponibilidade de espaço. É importante que cada
especializados nesse material. Mesmo, e talvez principalmente, em biblioteca defina de maneira clara a quais tipos de histórias em qua­
nosso país, uma busca em jornais e revistas revelará um interesse drinhos irá dedicar seus esforços de coleta e disseminação.
maior em relação às histórias em quadrinhos. Isto, aos poucos, veio Além dos gibis, em geral impressos em papel de qualidade infe­
influir nas bibliotecas brasileiras, na medida em que o público passoü rior, de pouca resistência, o mercado também oferece a opcão de
a buscar essas publicações e solicitar que fizessem parte do acervo. álbuns e graplúc novels, publicações muitas vezes de maiores dimen­
Tradicionalmente, a maioria das bibliotecas sempre manteve os sões e de apresentação mais luxuosa, que são resistentes e duráveis.
quadrinhos afastados de suas prateleiras. Muitas vezes os bibliote­ Nas bibliotecas, onde o manuseio do material será mais frequente, a
cários partilharam com o público, ou com algumas parcelas desse opção por uma edição em álbum ou graphic novel talvez seja uma
público, os preconceitos que existiam contra essas publicações. Sabe­ alternativa mais viável. Considerações referentes a armazenamento
se hoje que esses preconceitos foram uma das maiores injustiças co­ e acomodação, bem como outras relativas ao custo de aquisição,
metidas contra um meio de comunicação de massa não só legítimo podem reforçar, ou não, esta conclusão.
mas também de grande penetração popular. A evolução dos tempos Quanto maior for a variedade de histórias em quadrinhos que a
tem mostrado que a maioria das barreiras levantadas contra as his­ biblioteca incorporar a seu acervo maiores as implicações para os
tórias em quadrinhos baseava-se em opiniões preconcebidas, elitistas, profissionais, em termos de tratamento, recuperação, cuidados es­
carentes de qualquer argumento lógico. Pesquisas sérias e bem-co­ peciais e armazenamento: bem como um conhecimento mais apro­
ordenadas têm colocado por terra todas as alegações de que os qua­ fundado desse material. A medida que os quadrinhos são incorpo­
drinhos levavam as crianças à preguiça mental, afastavam-nas dos rados às bibliotecas, maiores se tornam as exigências dos leitores,

30 31
que passam a solicitar as tiras de jornais, os fanzines (revistas elabo­ nhecer sua comunidade por meio de dados estatísticos ou perfis mais
radas por fãs de histórias em quadrinhos), as revistas alternativas, ou menos genéricos. É preciso estar no meio do público, conhecer e
os livros e artigos especializados. Por isso, antevê-se a necessidade conversar com crianças e jovens que frequentam a biblioteca, esta­
de os bibliotecários se familiarizarem com esses materiais, a fim de belecer um diálogo proveitoso com os pais, avós ou outros parentes
conhecerem melhor as particularidades e os tipos de suportes em que acompanham as crianças, visitar as escolas e discutir com os
que as histórias em quadrinhos são veiculadas, para poderem for­ professores os livros que recomendam. Se, para os bibliotecários isto
mular critérios adequados para sua seleção. já é importante, para os responsáveis pela definição dos títulos a
que o público infanto-juvenil terá acesso na biblioteca é vital. A in­
Livros infanto-juvenis fância e adolescência são os períodos em que se alicerça a formação
integral de qualquer indivíduo, e as bibliotecas públicas e escolares
As bibliotecas públicas costumam ter uma grande quantidade de podem dar uma grande contribuição nesse sentido, tanto pela pos­
materiais de informação voltados para crianças e jovens, principal­ sibilidade de acesso a materiais informacionais adequados a esse
mente textos de literatura infanta-juvenil. As bibliotecas escolares, público como pelas atividades que desenvolvem em torno deles.
ainda que sejam tão poucas no Brasil, também possuem esse tipo de Essa é uma responsabilidade muito grande e não deve ser vista
publicação, utilizando-o para o processo didático e incentivo às ati­ de maneira leviana. Selecionar materiais que atendam às necessida­
vidades de leitura, e colocando-o à disposição dos estudantes em des do público infanta-juvenil está no cerne desta questão, pois a
seus momentos de lazer e entretenimento. produçã? editorial é muito variada e nem sempre de qualidade apro­
O Brasil possui uma grande produção editorial voltada para o priada. As vezes, por trás de figuras atraentes e histórias divertidas
público infanto-juvenil, que abrange de livros paradidáticos a textos estão a disseminação de preconceitos e o velado incentivo a discri­
traduzidos de inúmeros idiomas. O mercado é muito dinâmico, com minações de ordem étnica, cultura] ou social. Os bibliotecários de­
um fluxo constante de novas produções e autores. Alguns autores vem estar atentos a essas obras, familiarizando-se com suas caracte­
atingem vendas estrondosas e são muito solicitados por crianças e rísticas mais marcantes, que incluem:
jovens nas bibliotecas.
Profissionais da informação que atuam junto ao público mais jo­ • a ausência de minorias étnicas, como se a sociedade fosse com­
vem identificam os autores de maior popularidade pela simples ve-· posta por urna população homogênea de indivíduos 'brancos';
rificação do estado físico de suas obras, que com frequência exigem • a representação negativa das minorias, seja retratando-as como
reparos e/ou reencadernação e logo atingem tal desgaste que exige figuras caricatas, seja colocando-as como personagens antipáti­
seu descarte e substituição (quando isso é possível). São casos fáceis cos, quando não são escolhidos como os vilões da história, seja
para o bibliotecário responsável pela seleção, pois muitas crianças reservando para elas papéis considerados de menor importância
tendem a ler e reler os títulos e autores que mais lhes agradam, bus­ social (como empregadas domésticas, criados, trabalhadores não­
cando sempre os mesmos livros ou solicitando que lhes contem re­ qualificados, mendigos, etc.);
petidas vezes as mesmas histórias, como se a cada vez estivessem • a colocação da figura feminina em situação de dependência em
reencontrando um velho e querido amigo, em quem confiam e por relação ao homem, tanto em termos econômicos e sociais (a dona
quem têm especial carinho. de casa que não é responsável pelo sustento da família) como
A afirmação acima apenas reitera o fato de que profissionais que _emocionais (é o homem quem toma as decisões importantes, dei­
atuam na seleção de materiais de informação para crianças e jovens xando para ela apenas as questões que não têm grande significa­
precisam ter um contato bem próximo com seu público, para conhe­ ção);
cer as peculiaridades e idiossincrasias de cada leitor. Não basta co-

32 33
• representação positiva das classes sociais dominantes, retratadas físicas dos livros considerará principalmente a resistência do mate­
como pessoas simpáticas, bonitas, felizes e modelos de compor­ rial empregado, dando-se, quando possível, preferência a material
tamento a serem seguidos pelas crianças. mais resistente, de major durabilidade.
É importante desenvolver critérios que levem em conta a especi­
Dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, mas talvez seja ficidade do público e as características da literatura infanta-juvenil,
mais interessante deixar aos bibliotecários a tarefa de identificá-los a relação entre texto e ilustrações, a apresentação gráfica, etc., a fim
em sua prática diária de seleção. Como subsídio a essa atividade, a de estabelecer uma política de seleção adequada.
leitura do texto de Fúlvia Rosemberg,1 que trata da relação entre Além dos pontos mencionados, deve-se, sempre que possível,
literatura infantil e ideologia, e a dos livros de Maria de Lourdes buscar o apoio de especialistas da área, que já desenvolveram parâ­
Chagas Deiró2 e Umberto Eco,3 sobre a disseminação de preconcei­ metros críticos para julgamento da qualidade da produção editorial
tos em obras didáticas, pode ser bastante proveitosa. destinada a crianças e jovens. Uma comissão especial de seleção,
Atenção especial deve ser dada a materiais infanta-juvenis edita­ composta por especialistas em literatura infanta-juvenil e por biblio­
dos pela indústria de comunicação de massa, presentes em grande tecários que atendem a esse público, é uma boa alternativa para ga­
quantidade no mercado. É muito comum que desenhos animados rantir o nível de excelência do acervo.
ou seriados televisivos sejam transplantados para o formato impres­ Existem alguns instrumentos auxiliares para a seleção de livros
so, em produções muitas vezes realizadas às pressas, com o simples infanta-juvenis produzidos no Brasil. São em geral bibliografias,
intuito de tirar o máximo proveito da popularidade momentânea muitas vezes com resenhas críticas, elaboradas por instituições liga­
dos personagens (enfim, de lucro, puro� simples). Em geral, o re­ das à área. Nem sempre estão atualizadas ou abrangem muita coisa
sultado é pobre, com histórias insignificantes e desenhos abaixo da do imenso universo de publicações infanta-juvenis. Constituem,
crítica. Representam apenas o deslavado aproveitamento de ima­ apesar dessas limitações, fontes valiosas para identificação de itens
gens produzidas para outro meio de comunicação, às quais se acres­ que devem ser acrescentados ao acervo.
centa um texto que nem sempre consegue lhes dar muita coerência
narrativa. Deve-se, no entanto, ter em mente que haverá sempre al­ Filmes, vídeos e ovos
gumas exceções a essa regra, e a identificação e incorporação ao acer­
vo de obras que fujam à mesmice da produção de massa serão uma A presença de filmes e vídeos em bibliotecas não é novidade em
das tarefas a serem desenvolvidas pelo responsável pela seleção. outros países. Em bibliotecas norte-americanas, principalmente es­
Alguns dos critérios gerais de seleção citados no capítulo anterior colares, há muito tempo vem sendo discutida a incorporação de fil­
deverão ser objeto de adaptação, quando aplicados a livros infanto­ mes a seus acervos, salientando-se sua importância no processo di­
juvenis. O critério de autoridade, por exemplo, irá relacionar-se tan­ dático-pedagógico. Em paralelo, uma indústria produtora de filmes
to ao autor do texto como ao ilustrador, quando forem diferentes, com essa finalidade desenvolveu-se nos países mais adiantados, aten­
baseando a decisão de seleção em obras anteriores realizadas indi­ dendo a um mercado consumidor de dimensões e poder aquisitivo
vidualmente ou em conjunto, ou até mesmo da coleção em que o suficientes para justificar sua existência.
livro foi publicado (como as séries Vaga-Lume, da editora Ática, e No Brasil, a utilização de filmes no processo educacional acabou
Veredas, da editora Moderna, para apenas citar duas das mais co­ prejudicada por preços muitas vezes proibitivos tanto do material
nhecidas). como da aparelhagem necessária à exibição (não se descartando cer­
O critério da conveniência levará em conta a faixa etária da crian­ ta dose de preconceito dos professores na utilização desses meios).
ça, analisando a adequação do texto ao desenvolvimento intelectual A popularização do videocassete modificou essa situação, com mui-
de seu usuário potencial. Além disso, a avaliação das características

34 35
tas escolas hoje tendo aparelhos de reprodução e produtos educativos exibidos. Da mesma forma, algumas áreas do acervo são enriqueci­
em utilização no ambiente escolar. das pela inclusão de materiais em vídeo. É o caso, por exemplo, de
Devido em grande parte à questão econômica, a discussão sobre gravações de partidas de futebol, em esportes; de peças teatrais ou
a presença de filmes em bibliotecas brasileiras guiou-se inicialmen­ versões cinematográficas de romances, em literatura; e de apresen­
te pela incorporação de fitas de videocassete. Antes de entrar na busca tações de orquestras ou óperas, na área de música. Deste modo, o
de critérios, deve-se discutir o papel que esse material representará usuário terá ampliado seu acesso a materiais informacionais,
no conjunto do acervo. Sua abertura para outros tipos de materiais complementando sua pesquisa (ou seu lazer) por intermédio de vá­
não deve ser fruto de modismos ou de um esforço irrefletido para rios meios de comunicação.
tornar popular a biblioteca. Nem representar o velho chamariz para Do ponto de vista técnico, a avaliação de filmes, para incorpora­
o livro impresso, como muitas vezes se costuma fazer com os cursos ção ao acervo das bibliotecas, deve considerar vários fatores; a
de corte e costura, croché e outras atividades. minudência da aplicação desses fatores, entretanto, dependerá dos
As bibliotecas públicas não existem para competir com a iniciati­ objetivos da biblioteca. Bibliotecas especializadas levam em conta
va privada, atuando paralelamente a ela. Isto quer dizer que, no caso detalhes de fotografia, como a composição da obra, o trabalho de
dos filmes, colocá-los no acervo para atender apenas e tão somente à câmara, a fidelidade de cor e distinção claro/escuro, que muitas ve­
demanda individual por filmes da grande indústria cinematográfi­ zes não serão de vital importância em outras instituições. A qualida­
ca pode, sob muitos aspectos, ser encarado como uma má aplicação de da edição e dos efeitos especiais também é um aspecto a ser leva­
de dinheiro público. Em quase todos os bairros há locadoras que do em conta cm uma avaliação mais rigorosa. Em filrnes de anima­
tornam esses materiais disponíveis, cobrando taxas de aluguel aces­ ção e desenhos animados, as técnicas utilizadas são muito impor­
síveis. A questão primordial é criar uma identidade própria para a tantes.
coleção de filmes nas bibliotecas, diferenciando-a das existentes nas Além desses aspectos, relativos mais à parte visual dos filmes,
locadoras. itens como a fidelidade do som e a qualidade/credibilidade dos efei­
Para uma biblioteca especializada em cinema, existe todo um sig­ tos �onoros também podem ser considerados na avaliação.
nificado em possuir uma coleção de filmes para dar suporte às ne­ E provável que bibliotecas especializadas em cinema considerem
cessidades de pesquisa dos usuários. Isto é fácil de compreender. atentamente a adequação da produção cinematográfica para outros
Do mesmo modo, o acervo de filmes de uma biblioteca escolar exis­ suportes, preocupação que dificilmente existirá em outras bibliote­
te para dar suporte ou ser utilizado como instrumento didático por cas. Quando um filme produzido para exibição em telas grandes é
professores e alunos. O mesmo se aplica a bibliotecas universitárias. transposto para uma fita de videocassete, são feitos recortes e adap­
Em uma biblioteca pública, a presença desse material sempre teve tações, a fim de tornar as imagens adequadas à dimensão do moni­
por objetivo ampliar o espectro de atuação da biblioteca, possibili­ tor de tcvê. lsto gera perdas da imagem original, do que resulta uma
tando um melhor atendimento das necessidades informacionais dos cópia muito distinta da que lhe deu origem; essas perdas podem ser
usuários. Muitas vezes isto inclui o empréstimo domiciliar, dupli­ inaceitáveis para um pesquisador, para quem a fidedignidade da
cando eventualmente o serviço oferecido pelas locadoras. Mas, como imagem é de capital importância. Em bibliotecas públicas esse fator
se disse acima, não pode limitar-se apenas a isso. Para uma bibliote­ não terá a mesma importância.
ca pública, possuir um acervo de filmes deve significar que este É claro que os critérios acima assinalados dizem respeito apenas
material está inserido em um processo de planejamento global de à qualidade da cópia ou exemplar. Ao chegar a esse ponto, questões
serviços, uma proposta concreta de intervenção na sociedade. As­ básicas deverão ter sido anteriormente respondidas, como a ade­
sim, além do empréstimo domiciliar, pode-se fornecer espaço para quação do material ao usuário, sistema de vídeo mais apropriado
projeções comunitárias, seguidas ou não de debates sobre os filmes para a biblioteca (v1-1s ou Betarnax), implicações financeiras para a

36 37

- ---�--
----- - --
instituição, etc. São quesitos para os quais não existem receitas pron­ lha entre discos, em geral de vinil, e fitas cassetes. Muitas bibliote­
tas. Cada biblioteca terá de analisar sua realidade específica e che­ cas costumavam ter como norma a aquisição preferencial de discos.
gar a uma resposta que lhe seja satisfatória. Quando o usuário solicitava o empréstimo de um disco, seu conteú­
Desde a segunda metade dos anos 1990, entretanto, a escolha do era gravado em fita cassete, que era emprestada, mas não o disco.
deixou de ser feita entre quais sistemas de videocassete utilizar e Assim, preservava-se a integridade do disco, evitando-se riscos ou
passou a ser entre a fita de videocassete e o disco de ovo, (Di�it�l outros danos ao material.
_
Versatile Disc (Disco Versátil Digital)) , 4 um disco de matenal plash­ Quanto à durabilidade ou resistência, os discos são facilmente
co e de leitura ótica, do mesmo tamanho de um co de música ou de arranhados pelo manuseio indevido; com o passar do tempo, a re­
um co-ROM, mas com capacidade sete a 26 vezes maior. Este produto produção do som pode ficar distorcida. No entanto, é preciso assi­
armazena filmes com definição duas vezes maior que a do vídeo nalar que com o tempo eles ficaram mais resistentes. Fitas cassetes,
VHS além de contar com seis canais de som. Outras vantagens não
por seu lado, são vulneráveis a acidentes, podendo ser facilmente
pa;am aí: pode-se escolher o áudio de um filme em até oito idiomas apagadas ou danificadas.
_
e as legendas entre 32 línguas; podem-se cortar cenas do filme, as­ No que diz respeito ao conteúdo, alguns autores costumam assi­
sistindo-se apenas às de maior interesse; é possível assistir a cenas nalar que os discos são mais indicados para gravações de música
que ficaram de fora na versão oficiaJ e ver entrevistas com os atores clássica, que requerem maior qualidade de reprodução, enquanto
e o diretor. Além disso, o acesso aleatório e a durabilidade, fazem­ as fitas cassetes são mais indicadas para os álbuns de música popu­
no a melhor opção para as bibliotecas. lar. Este argumento parece ser, em primeiro lugar, um pouco
Novidades estão surgindo na área de filmes e vídeos, colocando preconceituoso, imaginando que os aJ11antes dos gêneros mais po­
em xeque muitas das tecnologias existentes. Os discos Blu-Ray (Blu­ pulares sejam ouvintes de segunda classe que ficarão satisfeitos com
Ray Discs) são um novo formato de disco ótico de 12 cm de �iâme­ um produto de qualidade inferior. A aplicação deste critério ao acervo
tro, igual a um co e urri ovo. Considerado o sucessor do ovo, e capaz deixa subentendida a seguinte mensagem: se quiserem uma quali­
de armazenar filmes de muito maior tamanho, mas exige um apare­ dade melhor, aprimorem o gosto. Em segundo lugar, devido ao aper­
lho de televisão com tela de cristal líquido (LCD), plasma ou LED2 para feiçoamento tecnológico ocorrido nos últimos anos, tanto nas fitas
poder exibir todo o seu potencial. Seu preço, entretanto, ainda é b�s­ cassetes como nos aparelhos reprodutores, o argumento perde qua­
_ ,
tante alto e a comercialização no Brasil incipiente. Os b1bltotecanos se por completo sua credibilidade. Hoje em dia, a qualidade de som
devem estar atentos a essa nova mídia, de forma a avaliar suas vaJ1- obtida com discos ou fitas se equivale, independentemente do gêne­
tagens e incorporá-la ao acervo quando conveniente. ro da música.
Na realidade, o aperfeiçoamento tecnológico influiu na discus­
Discos, fitas e cos são acima mencionada de uma maneira bastante diversa, transfor­
mando-a radicalmente. Hoje em dia, a opção primeira não se dá en­
Discos e fitas de áudio há tempos fazem parte do acervo de bibliote­ tre o disco e a fita cassete, mas entre ambos e o compact disc (co). Por
cas. Além das especializadas, muitas bibliotecas públicas possuem vários motivos. A qualidade de som obtida do compact disc é
este material, a fim de atender aos interesses e necessidades da cli­ muitissimamente superior, permitindo uma audição mais completa
entela. Na maioria dessas últimas predominam os gêneros musicais de todos os acordes envolvidos na gravação. A resistência do co,
mais populares, mas já se percebe a preocupação em incorporar itens excetuando-se condições excepcionais, é quase total.
para a área de ensino de idiomas estrangeiros, onde apresentam re­ O que se afirmou quanto ao ovo já é uma realidade no que diz
sultados bastante positivos. respeito aos cos de áudio, a começar pelas vantagens de acesso alea­
A decisão técnica de seleção originalmente compreendeu a esco- tório (sem contato direto do usuário com o material, é bom lembrar)
38 39
1 1111

e maior durabilidade. Sua crescente popularidade, inclusive, fez com verdadeira e atualizada, limitar-se a um só tema preferencialmente
que o seu custo, a grande desvantagem que possuíam em relação ao pois facilita a assimilação por parte do espectador;
disco de vinil e à fita cassete, diminuísse consideravelmente. Além 3) figuras simples. Os desenhos técnicos complexos não são
disso, as produtoras deixaram de fabricar discos de vinil, concen­ apropriados para serem apresentados em um só quadro;
trando sua produção em cos. Assim, cabe aos bibliotecários o desen­ 4) devem-se escolher ilustrações nas quais o tema mais impor­
volvimento de mecanismos de avaliação desse material, bem como tante se destaque do fundo;
estar atentos ao aparecimento de novas mídias, como as produções 5) os dados numéricos devem ser apresentados sob a forma de
em MP3 e MP4, e como elas podem impactar os acervos das bibliote­ gráficos ou de quadros, por serem de mais fácil compreensão;
cas. 6) observar a qualidade do material: de película, dos impres­
sos [sic] de revelação, fixação, produtor, etc.
Diapositivos
Além dessas, outras considerações poderiam ser feitas. Por exem­
Para a seleção de diapositivos ou slides, deve-se considerar, além da plo, algumas bibliotecas dão preferência a conjuntos de diapositi­
adequação aos usuários, aspectos técnicos como perfeição das cores, vos, acompanhados por material para utilização simultânea à proje­
qualidade da imagem projetada e se são compatíveis com o equipa­ ção, incluindo desde textos explicativos até fitas cassetes com a apre­
mento de projeção existente na biblioteca. Neste último aspecto, sentação já organizada pelos editores. A seleção desses conjuntos
implicações sobre o custo tanto para aquisição do equipamento como exige que se levem em conta a coerência entre os diversos compo­
sua manutenção deverão ser avaliadas, optando-se pelo que ofere­ nentes do todo e a relação entre o texto escrito/gravado com o con­
cer o maior número de vantagens. teúdo dos diapositivos. Em alguns casos, talvez seja necessário o
As características do público são provavelmente os pontos mais auxílio de especialistas para responder com clareza a esses
importantes a serem considerados, pois influenciarão muito na for­ questionamentos.
mulação dos critérios de seleção. Selecionar diapositivos para pro­ Muitas bibliotecas preferem elas mesmas produzir seus diaposi­
fessores universitários é uma tarefa de maior complexidade do que tivos, com imagens feitas a partir de livros ou periódicos constantes
selecioná-los para utilização por estudantes de primeiro grau. O ní­ de seu acervo. O nível de exigência quanto à qualidade das repro­
vel de exigência de um docente que vai utilizar um diapositivo em duções, dependendo de sua finalidade, poderá ser maior ou menor.
uma aula de anatomia humana será muito maior do que o do estu­ Merece cuidado especial a adequação do suporte fotográfico, para
dante de primeiro grau que usará o material como ilustração de uma se obter o resultado mais satisfatório possível.
aula de ciências. No primeiro caso, a perfeição de detalhes será o Outro aspecto para o qual os profissionais devem estar atentos
principal critério para seleção. No segundo, essa exigência pode não refere-se ao direito autoral de obras intelectuais ou artísticas. Foto­
ser um fator tão determinante. grafias, pinturas, gravuras, etc. são protegidos por lei quanto à sua
Buscando sistematizar o assunto, a professora. Maria Luiza Loures reprodução em outro suporte ou sua exposição pública, requerendo
Rocha Perota, em seu livro Multimeios: seleção, aquisição, processamen­ autorização dos detentores dos direitos autorais. Não convém tratar
to, armazenagem, empréstimo, um dos poucos textos em português a esta questão com leviandade. Sempre existe o risco de um processo
enfocar o tema, sugere, resumidamente, os seguintes critérios de judicial, por lesão de direitos autorais.
seleção:
Outros materiais
1) interesse concre_to para o usuário;
2) a informação contida em cada vista deve ser clara, concisa, Como se comentou no início deste capítulo, não se pretendeu aqui

40 41
esgotar todos os tipos de materiais que podem fazer parte do acervo
das bibliotecas. Esta seria uma pretensão muito ambiciosa, inevita­
velmente fadada ao fracasso. Para as finalidades deste texto, bus­
cou-se apenas fazer uma abordagem muito ampla de alguns dos
5
materiais nrnis comuns, de modo a possibilitar aos profissionais um
conhecimento básico desta área da seleção. Bibliotecas que possuam
coleções de materiais não enfocados neste texto (como brinquedos, Seleção de documentos eletrônicos
incunábulos, microformas, transparências, mapas e globos, fotogra­
fias, etc.) deverão aplicar-lhes as mesmas reflexões aqui feitas em
relação a periódicos, histórias em quadrinhos, filmes e vídeos, etc. QuEM ACOMPANHA DE PERTO a evolução dos suportes de informação
Este será um exercício fascinante que muitos benefícios trará aos sabe como eles se diversificaram nos últimos anos com a possibili­
profissionais e à comunidade a que devem servir. dade de armazenamento digital de dados. O armazenamento de
dados em computadores de grande porte, a aquisição de disquetes,
Notas co-Rorvis e atualmente ovos contendo bases de dados bibliográficos,
o acesso cm linha ou via internet a computadores remotos, etc. fa­
RosEMBERG, Fúlvia. Literat1tra infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1984.
2 DEIRÓ, Maria de Lourdes Chagas. As belas mentiras: a ideologia subjacente aos tex­ zem parte de um leque de alternativas disponíveis para tornar a in­
tos didáticos. 13. cd. São Paulo: Centauro, 2005. formação mais acessível, maximizando seu uso.
3 Eco, Umberto. Mentiras que parecem verdades. São Paulo: Summus, 1980. Cada vez mais, profissionais da informação que atuam em dife­
4 Originalmente a sigla correspondia a digital vídeo disc (videodisco digital), rentes áreas do conhecimento são chamados a se posicionar em rela­
mas como faz muito mais do que reproduzir imagens de vídeo, seu signifi­
cado fo i mudado. ção a esses meios eletrônicos, decidindo pela sua incorporação ao
5 LCD (liquid crystal display), plasma ou LED (light emilling diode) são evoluções dos acervo. É imprescindível, então, ter previamente definidos os crité­
aparelhos de televisão, permitindo que estes possam receber imagens e som trans­ rios para realizar essa avaliação de maneira correta, de modo a pre­
mitidos em formato digital, com muito melhor qualidade que as transmissões servar os mesmos padrões de qualidade que conseguiram colocar
analógicas.
em seus acervos tradicionais.
Na seleção de documentos eletrônicos consideram-se aspectos
de conteúdo, acesso, suporte e custo. As considerações sobre conteú­
do são iguais às feitas sobre documentos impressos, na medida em
que sua inclusão se justificar com base nos objetivos da biblioteca e
no interesse dos usuários. Optar por documentos eletrônicos só por­
que são modernos, bonitos e atrativos não se justifica. É preciso que
o conteúdo esteja de acordo com os parâmetros de-assunto defini­
dos pela instituição e haja razoável certeza de que significarão acrés­
cimo valioso em termos de expectativas e necessidades dos usuári­
os. As vantagens e limitações do documento devem ser evidentes
em termos de qualidade intrínseca, mesmo que para se isso tenha de
ouvir especialistas.
Em termos de acesso, os documentos eletrônicos devem ser avali-

42 43
ados não apenas quanto à sua maior facilidade para realizar buscas também a qualidade das instruções deverá ser avaliada, bem como a
específicas, possibilitadas por mecanismos automatizados que per­ facilidade ou dificuldade de acesso ao suporte técnico. De pouco
mitem atingir um número maior de relações entre conceitos do que adianta dispor de um número telefônico para contato se estiver sem­
as conseguidas em buscas manuais. Embora este seja um dos pontos pre ocupado ou houver incompatibilidade entre o horário da biblio­
centrais da decisão de seleção, a análise deve englobar também ques­ teca e o fornecedor do produto, etc.
tões como a compatibilidade do documento eletrônico com o siste­ Por fim, fatores relacionados com o custo do documento em for­
ma de automação da biblioteca. Outro ponto importante é a autori­ mato eletrônico têm um peso grande na decisão de seleção. Por cus­
zação do fornecedor para que os documentos sejam acessíveis em to entenda-se não apenas o mais evidente, como o valor da compra
rede local ou tenham sua utilização restringida a computadores iso­ do produto. Devem ser considerados todos os demais custos, como
lados e as implicações que essas duas alternativas terão no custo do os de atualização (correspondentes à renovação das assinaturas de
material. periódicos), manutenção e uso (neste caso, também a disponibilida­
Quando os documentos eletrônicos constituem instrumentos de de em rede local, que pode significar um acréscimo, às vezes salga­
referência, como índices, resumos ou sumários periódicos, a bibliote­ do, ao preço inicial de aquisição).
ca deve estar preparada para um impacto na demanda de materi�s, A comparação de preços entre os documentos impressos e seus
pois os usuários terão conhecimento de documentos que talvez nao similares eletrônicos costuma ser mais complicada do que aquela
estejam disponíveis no acervo. com que estão acostumados os bibliotecários quando comparam os
_ .
Dispor de estrutura administrativa que responda de modo ef1c1- preços de livros ou materiais de referência em papel. Mais compli­
ente a essas demandas, inclusive com a possibilidade de emprésti­ cada ainda é essa comparação quando diz respeito apenas a docu­
mo entre bibliotecas e comutação bibliográfica, pode ser uma medi­ mentos eletrônicos, pois as estratégias de preço dos diversos produ­
da prudente para evitar que o acirramento da ansiedade pel� info�­ tores varia e nem sempre é fácil determinar qual é a mais vantajosa
mação conduza à frustração do usuário. Em termos de relaçoes pu­ em termos de custo-benefício.
blicas, para não falar do apoio que a instituição deve receber da co­ No que tange aos documentos eletrônicos, é preciso refinar cada
munidade a que serve, isto é desastroso. vez mais os instrumentos de anál.ise de custos, de modo a englobar
As questões relacionadas com o suporte necessário para utiliza­ o maior número possível, tanto os diretos (preço, custo dos equipa­
ção do documento eletrônico são sempre muito pertinentes. Para mentos necessários, etc.) como os indiretos (despesas com treina­
muitas bibliotecas, trata-se de materiais com os quais seu pessoal mento do pessoal, tempo gasto na orientação dos usuários, impres­
não tem ainda suficiente familiaridade, para utilização independen­ são das informações contidas nos documentos, etc.).
te. Necessitarão, portanto, de um período de adaptação e mesmo de Considerando os objetivos deste livro, torna-se inviável o enfo­
treinamento antes que estejam aptos a proporcionar aos usuários a que detalhado de cada urna das possibilidades oferecidas pela in­
ajuda que com certeza irão solicitar. formação eletrônica nos dias de hoje. Dada a rapidez com que a área
Os usuários precisarão receber orientação para que se tornem avança, no momento do lançamento desta obra ela já esta.ria desatua­
independentes no uso dos novos recursos. Isto signif�ca dizer qu�, lizada. Desta forma, serão vistas apenas algumas alternativas, com
no momento da seleção, será preciso examinar a questao da d1spo111- considerações sobre suas características e discutindo-se alguns dos
bilidade de elementos complementares aos documentos eletrônicos. critérios que lhes são mais apropriados.
Entre eles está a existência e qualidade dos manuais de instruções e
a disponibilidade de suporte técnico por telefone ou em linha que CO-ROMS e DVD-ROMS
permita dirimir, junto ao produtor/fornecedor, as dúvidas sobre a
utilização do documento eletrônico. Isso, porém, não é tudo, pois co-Rotvr significa compact disc - read only memory [disco compacto -
44 45
memória apenas de leitura], uma tecnologia desenvolvida na déca­ esse novo tipo de documento e com as implicações que ele deverá
da de 1980 e que armazena grande quantidade de informações em ter em suas atividades profissionais. Pois ele já está entre nós.
discos compactos similares aos utilizados para gravações sonoras, Os documentos em CD-ROM e DVD-ROM têm crescido bastante na
já abordados neste texto. DVD-ROM significa digital vídeo disc - read área de entretenimento, além de brinquedos e jogos dos mais variados
only memory [disco digital de vídeo - memória apenas de leitura], tipos. Também há muitos produtos para o ensino, seja para utiliza­
com capacidade de armazenamento de vídeos e dados bem superior çao em sala de aula, como complemento pedagógico, seja para estu­
à dos cD-ROMs. A produção desta nova tecnologia vem crescendo em do independente. Embora, nas bibliotecas, seu maior impacto tenha
progressão geométrica, praticamente em todas as áreas do conheci­ ocorrido na área de obras de referência, a decisão de incorporar ao
mento, sendo possível afirmar que ela tende a substituir os CD-ROMS acervo material de entretenimento nesse formato talvez seja uma das
em prazo bastante curto. primeiras que os profissionais da informação terão de ponderar.
A popularização dessas e de outras recentes tecnologias para ar­ Existe uma grande variedade de bases de dados bibliográficos
mazenamento da informação está ocorrendo nas bibliotecas no mun­ em CD-ROM ou DVD-ROM. Obras de referência tradicionalmente publi­
do inteiro. No Brasil, já podem ser encontradas em muitas bibliote­ cadas em papel, assim como a maioria dos serviços de indexação,
cas especializadas ou universitárias, nas várias regiões do país. Em­ estão disponíveis nesses suportes. Este panorama deve se alterar nos
bora, ao que se saiba, não tenha ainda sido realizado qualquer tipo próximos anos, fazendo com que se intensifique a necessidade, para
de levantamento para conhecer o ritmo de crescimento do número os bibliotecários, de saber avaliar esses materiais de maneira ade­
de cD-ROMS e DVD-ROMS nas bibliotecas brasileiras, é de se admitir quada, o que não se resume a comparar o material impresso com o
que esse número esteja crescendo além das expectativas. A cada dia se material em formato eletrônico. É mais do que isso.
reduzem os preços dos equipamentos de informática e mais biblio­ Entre as vantagens dos produtos bibliográficos em discos eletrô­
tecas adquirem , microcomputadores que já trazem unidades de lei­ nicos, deve-se destacar a facilidade de busca em comparação com as
tura desses discos. Da mesma forma, a maior disponibilidade e di­ versões impressas dos mesmos títulos. Isto fica ainda mais evidente
versidade de produtos nesse formato também leva a uma queda de quando é preciso fazer uma pesquisa bibliográfica que abranja vários
preços, equiparando-os e muitas vezes até mesmo deixando-os infe­ anos. Enquanto a pesquisa em uma base de dados impressa obriga o
riores aos preços dos documentos impressos. usuário a fazer várias viagens às estantes e a manusear dezenas de
Alguns leitores talvez venham a pensar que esta tecnologia, por volun1osas edições, aquela realizada em um CD-ROM não é afetada
ser ainda bastante recente, afetará apenas algumas bibliotecas espe­ pelo período estipulado, sendo feita da mesma forma, caso fosse
cializadas ou universitárias, principalmente devido à pouca dispo­ definido um período mais limitado. Há de se concordar que fazer
nibilidade de recursos orçamentários nas bibliotecas públicas. Mes­ uma busca bibliográfica sentado diante do computador é muito mais
mo correndo o risco de ser acusado de excesso de otimismo, penso agradável do que fazê-la com dispêndio de força e deslocamentos
ser esta uma conclusão equivocada. Nunca é demais lembrar que há físicos (talvez os fanáticos por condicionamento físico discordem
poucos anos nenhum cidadão comum de classe média sequer cogi­ dessa afirmativa... ).
tava na possibilidade de possuir um computador pessoal. Pouco Bases de dados em CD-ROM ou DVD-RO ,1 podem ser utilizadas com
antes, o mesmo ocorria com a televisão em cores. O barateamento o auxílio de variado número de opções, que facilitam a recuperação
dos equipamentos eletrônicos em geral levou à inclusão dos CD-ROMS das informações. Entre elas estão as buscas por assuntos, por núme­
e DVD-ROMS no acervo de muitas bibliotecas públicas. Isso ocorreu de ros de classificação, nome de autores, títulos, palavras-chave, datas,
forma surpreendente e só tende a se intensificar no futuro, bem 1nais etc. Ademais, os termos de busca podem ser combinados utilizan­
cedç> do que os bibliotecários imaginam (quem viver, verá!). do-se a lógica booleana, do que resultam estratégias muito mais pre­
E preciso, portanto, que os bibliotecários saibam como lidar com cisas do que as realizadas em bases de dados impressas. É lógico

46 47
que essas opções variam de produto para produto, mas é importan­ Além desses pontos, deve-se verificar, ao se optar por uma base
te que o bibliotecário tenha bem claro aquelas que sejam mais úteis de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, o quanto de liberdade de uso se
para os usuários de sua instituição. obtém. Muitos produtores desses materiais eletrônicos apenas os
A escolha entre obras publicadas em papel e as mesmas obras em cedem para uso durante um período determinado, em geral especi­
CD-ROM ou DVD-ROM é algo que já começa a afetar principalmente o ficado em um documento de licenciamento (internacionalmente co­
setor de referência das bibliotecas. Essa escolha será tanto mais obje­ nhecido como licence agreement). Não se trata de uma venda, como
tiva quanto mais o profissional se organizar em termos de coleta de acontece com os livros impressos.
dados de custo e custo-benefício, facilidade de acesso, disponibili­ É preciso atentar para as condições de uso que são permitidas
dade de espaço, manuseio, equipamentos necessários, custos de ar­ pelo documento de licenciamento, pois esse tipo de contrato costu­
mazenamento, etc. ma ser bastante draconiano em suas exigências, com cláusulas rígi­
A decisão entre adquirir qualquer instrumento bibliográfico em das quanto à utilização dos materiais. Na maioria das vezes consti­
papel e sua versão em CD-ROM deve considerar fatores como custo do tuem verdadeiros 'contratos de adesão', que beneficiam apenas o
equipamento para leitura dos discos (e do computador onde ele deve produtor, com cláusulas que vão de encontro aos objetivos da biblio­
ser instalado), custo de utilização do equipamento (mobiliário, ma­ teca. Se o bibliotecário quiser utilizar o produto em uma torre de CD­
nutenção, cuidados especiais, etc.), disponibilidade de espaço físico ROMS, por exemplo, deve verificar, ao assinar o contrato, se este não
e providências necessárias para adequação desse espaço ao equipa­ proíbe essa forma de uso. Se do contrato constar tal proibição, o
mento, para apenas citar alguns fatores. Também deve orientar essa bibliotecário deverá exigir que ela seja retirada do texto ou que seja
decisão o conhecimento sobre as políticas editoriais de muitos pro­ alterada para se ajustar tanto quanto possível a suas pretensões.
dutores, que atualmente parecem tender à manutenção exclusiva da Em geral, quando todos os elementos são cuidadosamente veri­
versão eletrônica de suas publicações. Foi o que aconteceu, por exem­ ficados e se toma cuidado para não cair em alguma armadilha con­
plo, com o Chemical Abstracts, tradicional obra de referência publicada tratual, as bases de dados em CD-ROM ou DVD-ROM proporcionan1 um
pela American Chemical Society, disponível em muitas bibliotecas benefício muito maior do que fica aparente ao se comparar seu pre­
brasileiras. Em janeiro de 2010, a editora descontinuou a publicação ço com o das obras impressas. Nesse sentido, é preciso mais uma
impressa da obra e da maioria de seus subprodutos, mantendo so­ vez salientar a ligação entre a seleção e o gerenciamento da institui­
mente suas versões eletrônicas. ção bibliotecária, principalmente quando se tem de optar entre duas
É importante salientar que, para se fazer a avaliação do custo de ou mais versões de um mesmo título, cuja adequação aos objetivos
uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, não basta comparar seu da instituição e dos usuários, em termos de conteúdo, é inquestio­
preço final com o das bibliografias impressas. É importante ter bem nável. O bibliotecário responsável pela seleção necessitará das in­
claro o que se está adquirindo em cada um dos casos. Bases de da­ formações adequadas para uma correta avaliação de todos os fato­
dos impressas em geral oferecem apenas os números correntes e os res envolvidos.
.,
cumulativos do corrente ano; bases de dados em CD-ROM podem in­
cluir um arquivo retrospectivo, com atualizações. Bases de dados on-line
Muitas vezes, o conteúdo das bases em CD-ROM é inferior ao das
bases em papel. A experiência mostra que muitas bases que os pro­ Diferentemente de uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, uma
dutores afirmam trazer o texto integral dos periódicos às vezes não base de dados de acesso on-line não está fisicamente presente no acer­
incluem quadros, tabelas e figuras constantes das versões em papel, vo da biblioteca. O computador onde a base está armazenada pode
porque ocupam demasiado espaço nos discos. Bases de dados em encontrar-se a milhares de quilômetros de distância, em outro país
DVD-ROM em geral não têm essa limitação. ou continente. No começo, com o auxílio de um aparelho chamado
48 49
modem, acoplado ao computador, e de uma linha telefônica, podia­ Considerados os pontos acima, verifica-se que a opção pelo aces­
se realizar o acesso à base. Atualmente, com o avanço da tecnologia, so a bases de dados on-line é muitas vezes a única alternativa para
essa base pode ser acessada via internet de banda larga, com muito bibliotecas que desejam proporcionar a seus usuários o maior leque
mais vantagens, rapidez e qualidade no acesso. possível de opções em termos de materiais de informação. O núrne­
A possibilidade de acessar esse tipo de bases de dados é encon­ ro de bases de dados em formato eletrônico hoje disponíveis no
trada com frequência cada vez maior em instituições bibliotecárias mercado torna impossível o armazenamento de toda e qualquer fonte
brasileiras, principalmente nas da área universitária e especializada. que os usuários possam um dia ter necessidade de utilizar.
Muitas vezes estão também disponíveis em CD-ROM ou DVD-ROM, po­ Bibliotecas menores obtêm maiores benefícios com o acesso on­
dendo ser adquiridas pela biblioteca. Nesses casos, o responsável line, principalmente para demandas particularizadas e infrequentes,
pela seleção deverá pesar os prós e contras de cada opção e definir­ mas essa regra não é assim tão rígida.
se pela que lhe for mais conveniente. Alguns pontos merecem-aten­ Usuários não habituados com uma determinada base de dados
ção: podem levar muito tempo para definir uma busca, aumentando os
custos para a biblioteca. Às vezes é preferível que os bibliotecários
• nem sempre uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM contém o planejem e executem a busca para os usuários, visando não só bai­
mesmo que suas congêneres on-line, que são armazenadas em ser­ xar o custo da conexão mas, também, obter melhores resultados na
vidores de grande porte e, portanto, com um volume maior de recuperação da informação. O acesso on-line pode também funcio­
dados. É importante distinguir com clareza as diferenças e seme­ nar como uma avaliação do volume de demanda real por determi­
lhanças entre os dois produtos; nada base, proporcionando elementos para a eventual decisão por
• em princípio, quando há baixo volume de demanda pela base de sua aquisição em CD-ROM e seu armazenamento no computador da
dados, o acesso on-line costuma ser economicamente mais ade­ biblioteca.
quado para a biblioteca, pois ela pagará apenas as buscas efetua­
das e não precisará incorrer em diversos outros custos ligados à Documentos disponíveis na internet
aquisição e manutenção da base em seu acervo, seja em CD-ROM,
DVD-ROM ou outro tipo de suporte. Quando a demanda for maior, Em certos aspectos, a internet parece ser a grande coqueluche do
a aquisição da base será mais vantajosa para a biblioteca, pois os novo século, a ela sendo atribuído o embrião das grandes revolu­
custos da utilização on-line serão maiores. Na medida em que, ao ções sociais que se darão no futuro. Ela vem afetando em muito as
utilizar-se uma base de dados on-line, deve-se pagar o tempo de bibliotecas do mundo inteiro, trazendo desafios e oferecendo opor­
acesso e o profissional que presta assessoria ao usuário, o custo tunidades aos profissionais responsáveis pelo gerenciamento des­
será mais alto quando houver maior frequência de utilização; sas instituições. Majs particularmente, ela. tem colocado muitas ques­
• por serem em geral volumosas, as bases de dados ocupam grande tões aos bibliotecários que respondem pela seleção de materiais, que
espaço na memória dos computadores. Poucas bibliotecas pos­ cada vez mais se perguntam como podem utilizar os recursos da
suem máquinas em número suficiente ou dispõem de capacida­ internet em benefício de sua instituição e de seus usuários.
de de memória assim tão grande, de modo a armazenar muitas A literatura especializada onde se discutem essas questões cres­
bases de maneira simultânea. Para redes de bibliotecas, que pos­ ce a olhos vistos, mostrando que os profissionais da informação es­
suem sistemas de computadores integrados e podem instalar tor­ tão atentos às implicações da informação eletrônica em suas ativi­
res de cD-ROMS, esta questão talvez não seja tão problemática, dades e preocupados em estabelecer, para os documentos disponí­
embora talvez a velocidade de processamento dos computado­ veis pela internet, critérios de qualidade semelhantes aos utilizados
res possa vir a ser afetada. para a seleção dos materirus mais tradicionais.
50 51
Para quem não está familiarizado com o assunto, é importante sofisticação até há pouco tempo inimaginável da internet, que in­
salientar que a internet é muito mais do que uma rede de computa­ corpora aplicativos e interfaces baseadas em técnicas de hipertexto
dores: trata-se de uma interconexão entre diversas redes de compu­ e hipermídia.2 Por último, vieram as redes de relacionamento ou
tadores dispersas pelo mundo inteiro, acessadas por caminhos dife­ comunidades virtuais, congregadas em espaços próprios na Rede.
rentes e alternativos, exigindo apenas que o interessado possua um O mais famoso deles é certamente o Orkut (www.orkut.com), uma
computador adequado, um modem, um software de comunicação e imensa comunidade em linha que congrega pessoas interessadas nos
uma senha que lhe permita entrar no sistema por uma das diversas mais diversos assuntos e é muito utilizada para contatos entre ami­
redes interligadas (que funcionam como provedores de acesso). gos, bem como para a troca de fotos, vídeos e mensagens.
Para esclarecer melhor, costuma-se comparar a internet a um sis­ Há tempos a internet deixou de ser de uso exclusivo do mundo
tema de autoestradas conectadas entre si e ligando um país de ponta acadêmico, podendo ser utilizada por indivíduos de todas as áreas
a ponta, numa variedade que vai desde estradas vicinais carentes de e atividades, por um custo bastante acessível. Isto gerou uma explo­
melhorias até vias expressas com complexa organização e contando são do universo de informações disponíveis na rede, que crescem e
com os mais avançados recursos se modificam numa rapidez difícil até mesmo de imaginar e mais
Um viajante, para se locomover de um ponto a outro do país, ainda de acompanhar.
poderá iniciar sua viagem por uma estrada vicinal, quase nunca pa­ A cada minuto, informações sobre todo e qualquer assunto são
vimentada, e depois utilizar uma estrada estadual ou uma autoes­ incorporadas e tornadas disponíveis na internet. Desde dados total­
trada federal, tendo às vezes de trafegar por outra estrada vicinal mente irrelevantes (a não ser para poucos interessados) a documen­
(ou muitas outras estradas, vicinais ou não) antes de chegar ao local tos de interesse universal, oriundos de organizações conceituadas
pretendido. Algo similar ocorre na internet: os caminhos para uma no mundo científico ou empresarial. Hoje em dfa, pode-se fazer quase
mensagem ir de um objetivo a outro são muitos, dependem de vários tudo pela internet: obter dados estatísticos, adquirir bens, contratar
fatores, mas ao final é de se esperar que o processo se realize a con­ serviços, acessar bases de dados, consultar catálogos de bibliotecas,
tento. encontrar parceiros para jogos ou relacionamento amoroso, etc. (os
No início, a internet teve como objetivo interligar os profissio­ limites talvez sejam apenas a nossa própria imaginação). Daí, pode­
nais que trabalhavam em pesquisas e no ensino universitário no se ter uma ideia do potencial que ela representa em termos de fonte
mundo inteiro, facilitando-lhes a comunicação. de informação.
A comunicação eletrônica surgiu e tomou corpo na rede como Os bibliotecários no mundo inteiro se interessaram pelas redes
uma de suas possibilidades mais atraentes, sendo utilizada por pes­ eletrônicas, em particular pela internet, desde seu início. Ao invés
quisadores e cientistas em todo o mundo para a troca de informa­ de ficar preocupados com possibilidades de eventual desapareci­
ções, por meio de e-mails, mensagens enviadas por via eletrônica que mento (veja-se, a respeito desse assunto, o capítulo 11, sobre o futu­
ficam armazenadas no espaço em máquina exclusivo do receptor ro da seleção), trataram de incorporar os documentos disponíveis
(conhecido como endereço eletrônico). 1 na internet às alternativas de informações que ofereciam a seus usu­
Mais tarde, surgiram as listas de discussão, genericamente co­ ários. Bibliotecas incorporaram-se à rede criando home pages, 3 por
nhecidas como listservs ou newsgroups, pelas quais todos os interes­ meio das quais possibilitam acesso a seus catálogos e criam ligações
sados em wn determinado assunto encaminham suas mensagens para com informações disponíveis na rede, tornando-se uma porta para
um endereço específico e essas mensagens são distribuídas para os o mundo das informações eletrônicas. Isso parece tender unicamente
assinantes da lista, gerando um permanente clima de troca de ideias ao crescimento, à medida que mais e mais instituições de informa­
e informações. Depois veio a www (World Wide Web ou simples­ ção fazem o mesmo trajeto.
mente Web, a Rede), evolução tecnológica dos antigos gophers, uma O universo de informações disponíveis na internet é complexo e

52 53

--- --
diversificado ao extremo. Para as bibliotecas, não se trata apenas de pela seleção de sítios de periódicos específicos, ou um sítio que apon­
possibilitar que parcelas da comunidade que não têm disponibilida­ te para uma coleção de periódicos".'1 Não existe uma regra fechada
de financeira para utilizar a rede possam fazê-lo por meio dessas nessa área e cada biblioteca deverá decidir qual opção lhe é mais
instituições. Trata-se, muito mais, de definir critérios que garantam conveniente. Isto também não significa que deva existir uma opção
ao interessado a fidedignidade, atualidade e confiança sobre a pro­ fechada: é possível optar pelo coletivo em determinados momentos,
cedência da informação fornecida via rede eletrônica. deixando ao usuário a seleção daquilo que lhe é de maior interesse
Às vezes a experiência de trafegar pela internet compara-se à ou utilidade, e em outros momentos fazer a indicação diretamente
aventura de quem viaja a um pais estrangeiro sem conhecer o idio­ para a fonte específica.
ma e tem que se comunicar/sobreviver em um ambiente diferente Outro ponto importante relaciona-se com a indicação apenas de
daquele ao qual está acostumado. Assim, as bibliotecas têm-se preo­ recursos acessíveis gratuitamente na internet ou da inclusão tam­
cupado em proporcionar aos usuários indicadores para orientação bém de documentos para cujo acesso se exige uma compensação
nessa balbúrdia, selecionando e possibilitando o acesso a endereços monetária. Caso a última opção seja a preferida, o bibliotecário de­
da internet que contenham material de interesse para seus usuários. verá decidir se a biblioteca arcará com custo do acesso ou se será
De uma certa forma, a incorporação de qualquer endereço eletrô­ repassado, total ou parcialmente, ao usuário final. Estas questões
nico à página que a biblioteca mantém na internet pode ser compa­ devem estar bem claras para o usuário antes que ele realize a pes­
rada à aquisição de um documento escrito e sua incorporação ao quisa, pois é muito frustrante engajar-se cm uma busca de informa­
acervo físico. Trata-se, em muitos aspectos, da mesma atividade de ção e ter que interrompê-la em determinado momento, ao saber que
determinação de qualidade e adequação ao usuário realizada pelos existirá um custo adicional inesperado.
bibliotecários de seleção. Muitos dos critérios aplicáveis aos docu­ Além das bases em CD-ROM, DVD-ROM ou em linha, muitas se tor­
mentos impressos aplicam-se também àqueles disponíveis via rede naram acessíveis via internet. Às vezes, esta alternativa é feita sem
eletrônica. Pode-se dizer, por exemplo, que a biblioteca deverá ava­ um custo direto de aquisição ou assinatura, o que é uma vantagem
liar um documento eletrônico segundo o mesmo critério de autori­ adicional. Na maioria das vezes, porém, para ter acesso à base de
dade que utiliza para o documento em papel: no caso deste, o crité­ dados na internet, a biblioteca deve arcar com o custo definido pelo
rio seria validado pelo renome do autor, do editor e do órgão res­ produtor. Nesses casos, deve-se fazer a avaliação de custo-benefí­
ponsável pela edição da obra; para o documento disponível via in­ cio, visando a melhor escolha para a instituição bibliotecária.
ternet serão definidos elementos equivalentes aos mencionados, e A inconstância dos endereços na internet obriga a um acompa­
avaliados segundo a credibilidade que tenham e também baseado nhamento das indicações já feitas. Nada garante que um endereço
em suas produções anteriores. Isto não é difícil de entender, pois se útil para a biblioteca continuará existindo ou se transferirá para ou­
imagina que um documento disponível no endereço eletrônico da tro ponto da rede. Neste caso, muitas vezes uma indicação para o
UNESCO, da ONU ou outra organização conceituada seja mais confiável novo endereço é feita quando se acessa o endereço antigo, restando
do que um documento disponível no endereço de uma pessoa física à biblioteca fazer a atualização dos dados. No primeiro caso, existe a
sem maiores referências. O mesmo se aplica aos demais critérios de possibilidade de a informação estar perdida para a instituição, pelo
conteúdo mencionados no capítulo 3. menos em formato eletrônico.
Outro aspecto importante da incorporação de documentos dis­ A internet é um conjunto de redes interconectadas, com bilhões
poníveis na internet refere-se à indicação de páginas individuais de dados e informações, que, na maioria, talvez sejam dispensáveis,
sobre determinado tema ou instituição, ou à indicação de servidores sem interesse duradouro. Cabe às bibliotecas colaborar com o pro­
que contenham conjuntos de recursos. Kim Fung Yip assim cesso de comunicação, avaliando as fontes e indicando as que se
exemplifica essa questão: "podem-se selecionar jornais na internet destacam em relação a parâmetros de qualidade, diminuindo o tem-

54 55
po do usuário para encontrar a informação nesse emaranhado de
informações muitas vezes conflitantes. Esta atividade se faz ainda
mais importante à medida que os mecanismos de busca existentes
na própria internet são ainda insuficientes para uma recuperação
6
satisfatória. 5

Notas Organizando o processo de seleção


1 Um endereço eletrônico é composto de modo similar a um endereço comum,
indicando o destinatário, a máquina e o país onde esta se localiza. O meu ende­
reço eletrônico, por exemplo, é wdcsverg@usp.br, que pode ser descrito assim: É IMPORTANTE SALIENTAR que, na prática, a selecão tem um alto grau de
o que vem antes do símbolo @ (representativo do latim ad: em direção a, para) detalhamento. Em outras palavras: o que parece simples, nem sem­
indica o nome do destinatário; o que vem depois identifica o local onde o com­
pre é tão simples assim. As vezes, a complexidade da seleção não
putador/servidor, ou provedor, se encontra (usp: Universidade de São Paulo) e
o país (br: Brasil). fica evidente para o profissional, que raramente interrompe sua ro­
2 Foge aos objetivos deste livro entrar em muitos detalhes sobre a internet e seu tina para refletir a respeito das atividades que desenvolve. Essa com­
funcionamento. Para aqueles que se interessem cm conhecer mais sobre a rede, plexidade, porém, é real, palpável, bastando que se enfoquem, com
aconselha-se a leitura de alguns dos diversos manuais existentes no mercado.
senso crítico, as atividades desenvolvidas na tomada de decisão, para
Entre outros, pode-se salientar o seguinte título: ERCÍLIA, Maria; GRAEH, Anto­
nio. A internet. São Paulo: P ublifolha, 2008. que ela se torne evidente. Essas atividades variam de uma institui­
3 Home page é a página inicial de qualquer endereço na Rede, trazendo as princi­ ção para outra, cada uma organizando o processo segundo suas pe­
pais indicações sobre o conteúdo daquele endereço (uma espécie de menu). culiaridades e características e procurando obter o fluxo adminis­
4 Kim Fung Yip. Selecting Internet resources: experience at Hong Kong Universi­
trativo mais conveniente para garantir que todos os materiais só in­
ty of Science and Technology (HKUST) Library. The Eleclronic Library, v. 15, n. 2, p.
91-98, 1997. gressem no acervo após uma avaliação por parte de um responsá­
5 Entre os mecanismos de busca disponíveis na internet destacam-se: Google, vel. É inaceitável que um item ingresse na coleção por descaso, falta
AltaVista, Yahoo, Bing, Lycos e Ask. de tempo ou ineficiência dos responsáveis por sua manutenção e
desenvolvimento.
Algumas expressões como lista de desiderata, demanda repri­
mida e lista de sugestões são de uso corrente, expressando coisas
mais ou menos iguais. Na prática, são quase sinônimas, pois se refe­
rem a materiais que a biblioteca está considerando incorporar ao
acervo. Lista de desiderata, como o nome indica, refere-se a materiais
que a biblioteca deseja adquirir; imagina-se, neste caso, que já te­
nham recebido decisão favorável de alguém, mas esta regra nem
sempre é seguida. Demanda reprimida, expressão pouco simpática,
indica títulos procurados pelos usuários e não possuídos pela biblio­
teca, mas também pode referir-se aos indicados pelos usuários.
Lista de sugestões, talvez a expressão mais ampla, em geral indi­
ca uma lista de títulos que foram sugeridos para aquisição, normal­
mente composta por indicações de usuários. Com frequência, esses

56 57
títulos ainda não foram submetidos a um processo de tomada de
decisões (mas essa regra nem sempre é seguida). Alternativa 1
Considerando as definições acima, cada profissional deve ter bem Existência de uma comissão de seleção, de caráter
claro o significado de cada expressão no contexto da biblioteca em deliberativo, da qual o bibliotecário participa
que atua, principalmente para diferençar entre títulos ou indicações como membro ou coordenador/presidente
cuja aquisição já foi decidida e aqueles que ainda deverão ser sub­
metidos ao processo de tomada de decisões.
Esta alternativa pressupõe a existência de um grupo de pessoas co­
O fato de uma lista ter sido confeccionada - tenha ela recebido locadas, como um conjunto, hierarquicamente acima do bibliotecá­
que nome for - deve significar todo um trabalho de identificação, rio, para tomar as decisões concernentes à seleção dos materiais. A
avaliação e aplicação de critérios de seleção para cada um dos itens presença do bibliotecário visa oferecer garantias de que as necessi­
que a compõem (se antes ou depois da confecção da lista, é irrele­ dades da coleção como um todo estarão acima de interesses de gru­
vante). E significa uma definição precisa do responsável ou respon­ pos ou indivíduos. Embora se costume manter apenas o responsá­
sáveis pela seleção dos materiais, apontando-se as atribuições de cada vel pela biblioteca como membro efetivo da comissão, nada impede
um dos envolvidos no processo. que outros profissionais do corpo técnico da biblioteca participem,
principalmente os que têm mais contato com os usuários, como é o
Assim, a organização do processo de seleção vai implicar defi­ caso do bibliotecário responsável pelo serviço de referência.
nir: O funcionamento das comissões de seleção tende muitas vezes a
ser apenas burocrático, com um ou dois membros tomando as deci­
• os responsáveis pela tomada de decisão; sões pelos demais. Em geral, reúnem-se segundo uma periodicida­
• os mecanismos para identificação e registro dos itens a serem de prefixada (mensal, bimestral, etc}, quando analisam as sugestões
selecionados; dos usuários e as encaminhadas pelo corpo técnico da biblioteca,
• a política de seleção. podendo ainda incorporar sugestões próprias.
As dificuldades burocráticas, talvez inevitáveis, devem ser en­
Os dois primeiros itens serão vistos neste capítulo. O terceiro item, frentadas com criatividade e eficiência, as decisões ocorrendo do
devido à sua importância, será visto em outro capítulo. modo mais amplo e rápido possível. À biblioteca caberá, entre ou­
tras medidas, elaborar formulários apropriados para registro das
Quem seleciona? sugestões e decisões a respeito de cada item analisado, de modo a
facilitar a avaliação pela comissão.
Uma vez estabelecida a premissa inicial da importância da partici­ Alguns bibliotecários podem entender que comissões de seleção
pação do bibliotecário na seleção; parece ser interessante concentrar representam uma limitação à autoridade/autonomia do profissio­
a análise nas estruturas em que sua participação é efetivamente con­ nal. Em muitos casos têm razão: sob certos aspectos, elas podem ser
creta, deixando de lado aquelas em que ele atua como mero cumpri­ assim encaradas, representando um fator de inibição do profissio­
dor de decisões superiores. nal. Mas a existência de um grupo com funções deliberativas, hie­
As várias alternativas para organização das atividades de sele­ rarquicamente superior ao bibliotecário, pode ter aspectos positi­
ção podem ser esquematicamente analisadas assim: vos, que devem ser explorados ao máximo.
Comissões, na medida em que compostas por membros represen­
tativos da comunidade, permitem um contato maior com os usuá-

58 59
rios, funcionando como um canal permanente para a discussão de mais que permitam a participação, ainda que mínima, de todos
suas necessidades de informação e também como um excelente veí­ os interessados.
culo de relações públicas. Podem fornecer apoio político ao bibliote­
cário, em suas solicitações por maiores e melhores recursos para a
biblioteca. Alternativa 2
A constituição dessas comissões varia de instituição para insti- Existência de uma comissão de seleção, de caráter
tuição: consultivo, para assessoria ao responsável pela seleção.

• em bibliotecas públicas, são em geral indicadas pelo prefeito ou


pela câmara municipal, obedecendo a diretrizes estabelecidas em Visa proporcionar ao bibliotecário suporte às decisões de seleção.
leis ou decretos, que fixam o número de componentes, a forma Quando formalmente estruturada, sua existência pode ser interpre­
como são selecionados na comunidade, atribuições e duração do tada como um indicador de que o profissional atingiu um alto índi­
mandato, etc. No Brasil, não se sabe de comissão de seleção ou de ce de reconhecimento no meio em que atua, sendo-lhe atribuída a
biblioteca constituída pelo voto da comunidade, prática comum responsabilidade pela tomada de decisões de seleção. Significa, tam­
em outros países. Às vezes, são necessárias comissões voltadas bém, que é reconhecida a necessidade de assessoria especializada,
para certos materiais: em bibliotecas infanta-juvenis, por exem­ seja cm relação aos assuntos do acervo, seja em relação a particulari­
plo, pode haver comissões de seleção compostas por especialis­ dades da comunidade servida.
tas em literatura infantil; Muitas vezes, embora não formalmente organizada, essa comis­
• em bibliotecas especializadas, elas são compostas por pesquisa­ são pode ser incentivada pelo bibliotecário, sem que isto represente
dores da instituição, em geral representando os departamentos demérito ou timidez de sua parte para a tomada de decisões. Ao
que a constituem. Partem da premissa de que a seleção em áreas contrário, poderá ser uma estratégia para aproximar os usuários da
especializadas deve ser realizada por quem tem conhecimento biblioteca e otimizar as decisões de seleção.
nessas áreas. Sua existência parece também justificar-se pela im­ Em bibliotecas de grande porte, com muitos bibliotecários, po­
possibilidade de o bibliotecário dominar todos os assuntos do dem ser formadas comissões de seleção compostas apenas por eles,
acervo. A indicação dos membros poderá ser feita pelo diretor da dando suporte ao responsável pela seleção.
instituição ou pelos responsáveis pelos departamentos; Imagina-se, provavelmente com certa razão, que a soma das ex­
• em bibliotecas escolares e universitárias, os participantes das co­ periências e conhecimento das necessidades da comunidade acu­
missões costumam ser indicados dentre os membros dos corpos mulados pelo grupo de profissionais, em especial os que mantêm
docente e discente. Para se alcançar maior representatividade, contato direto com o usuário, proporciona um retrato fiel da reali­
muitas vezes procura-se obter a participação de ex-alunos ou dade onde a biblioteca atua, fornecendo subsídios para a tomada de
membros do corpo técnico. Saliente-se que a participação do bi­ decisões. Alguns sistemas de bibliotecas públicas inglesas adotam
bliotecário nas comissões de seleção é vital para evitar que algu­ essa prática para a seleção de mater_iais de informação.
mas áreas da coleções se desenvolvam, de modo injustificado,
mais do que outras. Alguns pesquisadores ou professores costu­
mam destacar-se, sendo mais atuantes (ou preocupados) do que Alternativa 3
outros na seleção; cabe ao bibliotecário zelar para que todos os O bibliotecário faz a seleção dos materiais.
assuntos de interesse da instituição se desenvolvam independen­
temente de atuações individuais, por meio de mecanismos for-

60 61
Muitas vezes, o bibliotecário é o único responsável pela seleção. nas possíveis sobre a comunidade que visam a servir. Para isso, será
É dele a decisão única e exclusiva sobre o que é ou não incorporado, necessário que desenvolvam mecanismos formais (estudos de co­
sern que tenha que a priori consultar escalões superiores. Como no munidade, de usuários, pesquisas de opinião, etc.) ou informais (con­
caso anterior, isto pode significar um reconhecimento da capacida­ tato direto com os usuários, em geral no empréstimo de materiais)
de do profissional para tomar decisões. visando identificar fontes de auxilio à tomada de decisões. A prática
É preciso reconhecer que esta decisão muitas vezes cai nas mãos acabará por capacitá-los a identificar personalidades dispostas a au­
do bibliotecário por simples e total desinteresse da comunidade a xiliar na análise dos materiais, trazendo-lhes valiosos subsídios para
que a biblioteca deve servir. É mais cômodo que o bibliotecário tome a seleção. Esta prática, convenientemente implementada, também
as decisões, ao mesmo tempo em que lhe são negadas as ferramentas poderá funcionar como um excelente veículo de relações públicas
que lhe permitiriam, eventualmente, tomar decisões mais eficientes, para a biblioteca.
ou tornar suas decisões efetivas.
Embora doloroso, talvez este seja o caso mais comum no Brasil, Mecanismos para identificação, avaliação e registro
principalmente nas bibliotecas públicas de cidades de pequeno e
médio porte: bibliotecários tomam as decisões de seleção, sim; mas, Quando, no início deste capítulo, foram mencionadas listas de títu­
devido à falta de um orçamento definido, jamais se constitui um los sobre os quais a decisão de seleção foi ou será tomada, deixou-se
ambiente de tomada de decisões. No máximo, decide-se sobre a incor­ de comentar que grande parte do trabalho que precede essa decisão
poração das doações de alguns usuários. é composto por rotinas administrativas que visam gerar um eficien­
Este panorama catastrófico, que domina grande parte das biblio­ te fluxo de informações. Essas listas de títulos não surgem de ma­
tecas brasileiras, não é motivo suficiente para descaracterizar a ne­ neira espontânea, mas são confeccionadas com dados obtidos de
cessidade de organizar as atividades de seleção de forma estrutura­ diversas fontes, que podem ser tanto os usuários da biblioteca como
da. Profissionais que têm que trabalhar de maneira quase isolada, publicações da mais variada procedência. Isto implicará, entre ou­
muitas vezes chefes de si mesmos, são os que mais necessitam orga­ tras coisas, a necessidade de:
nizar seu tempo de forma racional e utilizá-lo do modo mais eficien­
te possível. Decisões tomadas às pressas nem sempre produzem os • elaborar formulários adequados para cada tipo de biblioteca, de
melhores resultados. modo a identificar satisfatoriamente tanto a procedência da indi­
Os bibliotecários que decidem sobre a seleção estão também mais cação (usuário? corpo técnico da biblioteca?) como o material
propensos a encarar suas responsabilidades de maneira inadequa­ indicado (autor, título, edição etc.);
da. São muitas as pressões que sofrem por trabalhar em um ambien­ • definir os instrumentos auxiliares a serem utilizados para a sele­
te desestimulador: a pouca disponibilidade de tempo ou de pessoal ção.
auxiliar é uma realidade demasiadamente estressante para muitos
profissionais. No entanto, embora se compreendam suas dificulda­ Formulários para indicação e seleção de títulos
des, às vezes fica difícil justificar a forma leviana como são tomadas
algumas decisões de seleção. Deve-se sempre resistir, por exemplo, Parece desnecessário enfatizar a importância de se contar com ins­
à tentação de aceitar todas as doações, só para não se ter o trabalho trumentos formais para a indicação de títulos. Grande porcentagem
de analisá-las mais detida.mente. Isto ocorre com muito mais frequên­ dos materiais incorporados ao acervo das bibliotecas provém de indi­
cia do que se imagina. cações dos usuários, e às vezes é triste verificar como esse processo
Os bibliotecários com responsabilidades de seleção são talvez os ocorre de maneira completamente irregular. Histórias sobre usuários
que maior necessidade têm de possuir as informações mais fidedig- que apresentaram indicações para seleção nos mais variados e pito-
62 63
rescos suportes são comuns no meio bibliotecário. Sabe-se de suges­ para indicação ou sugestão de títulos fica ainda mais evidente ao se
tões rabiscadas em envelopes, assinaladas em catálogos de editoras, considerar que poderão ser utilizados em todas as atividades da se­
indicadas em lista de referências de artigos de periódicos (muitas leção. Em muitos casos, serão preenchidos por várias pessoas: quem
vezes em folhas arrancadas do próprio original), bem como de usuá­ solicita o material, quem recebe o pedido, quem verifica se a biblio­
rios que transmitem verbalmente suas sugestões ao pessoal da bibli­ teca possui o título, quem aprova a indicação, etc. Eventualmente,
oteca. poderão acompanhar a aquisição e processamento dos materiais. As
A hilaridade, ou tragicomicidade, de algumas situações, no en­ idas e voltas geradas por formulários malelaborados têm um custo
tanto, não pode obscurecer a importância de se derrubarem todas as muito alto para a instituição.
barreiras que possam impedir os usuários de apresentarem suas
sugestões para o acervo. É importante que se sintam motivados a O excesso de documentos é prejudicial a qualquer atividade ad­
colaborar no desenvolvimento da coleção, ainda que suas contribui­ ministrativa. Por isso, é aconselhável restringir ao máximo o núme­
ções possam ser irregulares, irrelevantes, pouco confiáveis ou sim­ ro de formulários que serão manuseados no processo de seleção.
plesmente ininteligíveis. A existência de formulários deve ser dita­ Onde apenas um instrumento formal for suficiente, dois ou três não
da por necessidades organizacionais e não para impedir ou dificul­ precisarão existir. O mesmo se pode afirmar quanto ao número de
tar a participação dos usuários no processo. Um dos primeiros pon­ vias dos formulários, que deve ser o menor possível. Assim, foge-se
tos a serem analisados, portanto, é quanto a existência de um instru­ da duplicação de esforços, economiza-se tempo e evita-se a prolife­
mento formal para indicação de títulos contribuirá para aproximar ração de arquivos ou bancos de dados (que nada mais são do que
mais da biblioteca os usuários. Se a resposta for negativa, talvez seja arq'!ivos com mania de grandeza).
melhor deixar de lado essa história de formulário e tentar aprimo­ E claro que dificilmente serão elaborados instrumentos perfei­
rar os contatos pessoais que estejam funcionando satisfatoriamente. tos. Cada biblioteca deverá analisar criteriosamente os dados de que
Ou talvez seja melhor reelaborar o instrumento formal, desta vez necessitará para a tomada de decisão e incorporá-los ao formulário
sob o ponto de vista do usuário ... e não da biblioteca. que adotar. Da mesma forma, detalhes corno tamanho ou dimen­
Felizmente, excetuando alguns casos em que até mesmo os bibli­ sões do formulário, tipo de papel utilizado, cores, impressão etc.
otecários têm dificuldade para entender o que se pretende (mais ou são questões que devem ser respondidas no âmbito de cada institui­
menos parecidos com aqueles contratos para financiamento da casa ção, considerando fatores como custo, benefício, durabilidades, le­
própria), geraltnente os formulários para indicação/sugestão de tí­ gibilidade, etc. A prática certamente acabará deixando evidente a
tulos buscam a simplicidade, facilitando a compreensão do que se adequação ou não do instrumento utilizado.
deseja, organizando o fluxo de solicitações e reduzindo-as a um for­ Corno sugestão, reproduz-se, no anexo 1, um modelo de formu­
mato comum. Os formulários devem ser de fácil preenchimento e lário para indicação de títulos.
compreensão, exigindo do usuário o mínimo de seu tempo. É con­
veniente lembrar que nenhum usuário deve se sentir constrangido Instrumentos auxiliares da seleção
para encaminhar uma sugestão ao acervo por não conhecer todos os
dados para preenchimento do formulário (pensem, por exemplo, Tendo em vista o atual universo editorial, é totalmente impossível a
e_m quantas crianças já tiveram a intenção de indicar um livro para a qualquer bibliotecário ter conhecimento de tudo que é de interesse
biblioteca e desistiram porque não sabiam preencher o 'papel' que para sua instituição, ou mesmo ter condições de avaliar objetiva­
os bibliotecários lhes deram). Uma indicação rnaJformulada será mente os materiais publicados. Por maior que seja sua dedicação e
sempre preferível a indicação nenhuma. disponibilidade, ele irá fracassar.
A necessidade de especial atenção na confecção de formulários Se o bibliotecário limitar as decisões de seleção aos materiais su-

64 65
geridos pelos usuários, talvez deixem de ser incorporadas ao acervo • idiomas incluídos: algumas fontes abrangem apenas a língua do
obras importantes, das quais os usuários não chegaram a ter conhe­ país onde são publicadas, outras não têm essa limitação;
cimento ou não tiveram informações suficientes a ponto de interes­ • inclusão de diferentes tipos de suportes e materiais não-con­
sar-se por elas. Isto para não falar da possibilidade, talvez certeza, vencionais tais como periódicos, filmes, fitas de vídeo ou áudio,
de a coleção tender, a longo prazo, a concentrar-se nas áreas em que diapositivos, etc.
os usuários apresentam maior número de sugestões.
Os chamados instrumentos auxiliares da seleção, também conhe­ Bibliotecas públicas e escolares em geral recebem maiores benefícios
cidos como fontes de seleção, possibilitarão, ainda que de maneira com a utilização de catálogos de editoras, resenhas publicadas em
imperfeita, que as limitações acima apontadas não se transformem jornais e revistas de circulação geral (como Veja, IstoÉ, Newsweek etc.),
em barreiras ao correto desenvolvimento da coleção. Por intermé­ bem como por consultas regulares a sítios de editoras e livrarias na
djo deles, os bibliotecários poderão obter informações referentes à internet. Bibliotecas universitárias e especializadas provavelmente
existência de itens específicos, e ter acesso a uma estimativa da qua­ precisarão ter acesso a bibliografias especializadas, inclusive rese­
lidade dos documentos. Esse tipo de subsídio será muito importan­ nhas publicadas em periódicos científicos de sua área de atuação, a
te no dia-a-dia da seleção porque não é possível tomar decisões a fim de fazer o melhor uso possível das informações disponíveis.
respeito de algo cuja existência se desconhece, e porque nem sem­ Catálogos de editoras são.utilizados no mundo inteiro como instru­
pre se pode contar com a ajuda de especialistas para aplicação de mentos auxiliares da seleção em todos os tipos de bibliotecas. Isto é
alguns dos critérios de seleção. perfeitamente compreensível, em grande parte devido ao interesse
Cada biblioteca deve definir os instrumentos auxiliares que lhe das editoras em torná-los acessíveis às bibliotecas.
sejam úteis. Em face da diversidade de documentos e formatos exis­ Para não repetir informações já apresentadas no livro sobre de­
tentes, limitar muito as fontes que a biblioteca pode utilizar na sele­ senvolvimento de coleções, deixo de fazer aqui a análise pormeno­
ção talvez seja uma faca de dois gumes. Em princípio, os instrumen­ rizada de cada um dos instrumentos auxiliares mencionados (suas
tos auxiliares circunscrevem-se mais às obras de referência, como vantagens e desvantagens já foram suficientemente detalhadas na­
bibliografias, diretórios ou mesmo catálogos de editoras, mas na quela oportunidade). Cada profissional deverá avaliar com muito
prática são todos os materiais, em qualquer suporte, que possam cuidado a objetividade, credibilidade e veracidade das informações
oferecer subsídios para a decisão de seleção. veiculadas nas fontes de seleção que pretende utilizar, de modo a
A adequação de um instrumento auxiliar a uma biblioteca espe­ ter plena confiança no benefício que delas poderá receber. Feliz ou
cífica irá em muito depender do que se deseja dele. Entre os fatores infelizmente, os instrumentos auxiliares apenas funcionarão corno
que influenciarão essa adequação podem ser salientados: elementos de suporte, fornecendo subsídios à tomada de decisão.
Nenhum deles eximirá o bibliotecário ou responsável pela seleção
• a exaustividade do instrumento: algumas fontes de seleção pro­ de sua participação no processo. Por esse motivo, fica evidente que
curam arrolar tudo o que está sendo ou foi publicado na área a escolha de instrumentos auxiliares inadequados pode comprome­
respectiva, e outras apresentar uma cobertura mais superficial; ter a efetividade do processo de seleção.
• seleção corrente ou retrospectiva: alguns instrumentos apresen­
tarão apenas dados referentes a materiais correntes, sem incluir
obras publicadas antes de um certo período;
• fornecimento de apreciações críticas dos itens, o que proporciona­
rá maior número de elementos para a tomada de decisão;

66 67
Mas é aí, que a ques_tão começa a se complicar. Mesmo que se
aceite o paragrafo anterior corno verdadeiro (e ele é!), ainda assim é
grande o r'.s�o de, a longo prazo, desenvolver-se uma coleção aquém
7 _
do �ecessano. Nao existem garantias de que os bons profissionais
serao eternos em uma biblioteca. Muitos fatos podem levar um bi­
bliotecário a afastar-se da instituição, desde aqueles pessoalmente
Política de seleção positivos (ascensão_ na carreira, mudança de emprego) aos negati­
vos (doenças, licenças, falecimento). Para não mencionar os casos de
aposentadoria, que tanto podem ser positivos como negativos, de­
pendendo do ponto de vista. Em qualquer uma dessas situações, 0
FALAR SOBRE POLÍTICA de seleção é, de fato, repetir muito do que já foi
resultad? será urna coleção prematuramente órfã, que estará sujeita
mencionado neste ou no livro sobre desenvolvimento de coleções.
aos caprichos do acaso. E deve-se reconhecer que isso poderá ser até
Por esse motivo, este capítulo será dedicado mais à estruturação do
fatal para algumas delas.
documento de política do que à discussão sobre sua razão de ser,
Corre-�e o ,ris<:o ou não? Cada bibliotecário pode fazer essa per­
procurando fornecer subsídios para que cada profissional, em cada
gunta a s1 propno, amda que seja apenas como um exercício de
situação específica, elabore seu próprio material. Antes, porém, con­
elucubração.
_ Se optar pelo risco, só restará desejar-lhe boa sorte e
vém apresentar os motivos da existência de um instrumento formal
vida longa. Se optar pela alternativa mais segura, registrará de modo
de política de seleção.
formal os �ritérios de seleção que adota, de modo que sua prática
Muitos bibliotecários argumentarão que dispor de um documento
possa contmuar por intermédio de seus sucessores.
onde os critérios de seleção estão registrados é, sob certos aspectos,
Esta seria uma primeira razão para justificar a existência de um
uma perda de tempo. Afinal, não têm dúvida de que utilizam crité­
instrumento formal de política de seleção: garantir a manutenção
rios de seleção razoáveis e os têm gravados na memória. Além do
dos critérios além da permanência física dos profissionais responsá­
mais, dirão, os usuários parecem estar satisfeitos com aquilo que _
veis pelas decisões. Só ela, provavelmente, já seria suficiente. Mas
eles, os bibliotecários, estão realizando. Para comprovar isso, desa­
seria possível acrescentar algo mais.
fiarão os incrédulos a perguntar a opinião dos usuários e mostrarão
Parece evidente, por exemplo, a necessidade de dar conhecimen­
o acervo sob sua responsabilidade, duvidando que alguém possa
to à comunidade de que a coleção não está sendo desenvolvida de
discordar dos critérios que utilizam ou afirmar que realizam seu
maneira aleatória, com base apenas cm caprichos ou idiossincrasias
trabalho de maneira não-criteriosa.
do bibliotecário. Conseguir o apoio dos usuários é uma política pru­
Longe deste autor querer duvidar da sinceridade desses biblio­
dente, considerando-se os altos e baixos que a biblioteca enfrenta no
tecários. Muitos profissionais exercem a atividade de seleção com
seu dia-a-dia, principalmente quanto aos recursos para aquisição
zelo admirável e são bem-sucedidos no desenvolvimento de cole­
dos materiais.
ções adequadas a seus objetivos. Analisam cada material que inclu­
Comunicar aos interessados, de modo claro, os critérios de sele­
em no acervo, utilizam critérios objetivos e bem-elaborados, discu­
ção do acervo é uma boa estratégia para, em momentos críticos, con­
tem com os usuários a importância de cada item, negociam interes­
seguir o apoio da comunidade. É difícil e talvez ingênuo esperar
ses divergentes, evidenciando, em todos os seus atos, a precisão de
que os usuári�s apóiem o bibliotecário em suas solicitações por
suas decisões. Profissionais assim (e felizn1ente existem muitos nes­
maiores dotaçoes orçamentárias, se ele não esclarecer os critérios
te país) são exemplos que devem ser reconhecidos e servir de mode­
que _ irã? guiá-lo na utiHzação das verbas suplementares. Ninguém
lo para todos os outros. _
apoiara os profiss1ona1s da informação apenas pelos seus belos

68 69
olhos... pelo menos na grande maioria dos casos (existem profissio­ grande apoio nesses momentos. Os critérios de seleção devem fun­
nais com olhos belíssimos). cionar, para a biblioteca, como funcionam as leis para um pais: en­
Uma coleção não é sempre um elemento de pacífica concordân­ quanto não são modificadas, devem ser obedecidas. O documento
cia na comunidade. É natural que parte dos usuários deseje que o registrará os critérios de seleção vigentes na biblioteca; eles - e ape­
acervo contemple mais suas necessidades de informação, entenden­ nas eles - deverão justificar todas as decisões. As pressões exercidas
do que algumas áreas deveriam receber prioridade diferente daque� sobre o acervo só serão eficientemente enfrentadas com a utilização
la que lhes está sendo conferida pelos responsáveis pela seleção. E objetiva desses critérios. Essa objetividade só poderá ser comprova­
também compreensível que alguns usuários discordem que deter­ da se estiver registrada em um documento, que poderá ser apresen­
minadas áreas do acervo recebam novas obras ou que sejam até mes­ tado para justificar as decisões atuais e futuras. Em suma, um docu­
mo minimamente contempladas, tentando evitar que os demais usuá­ mento formal de política de seleção justifica-se por seu caráter:
rios tenham acesso a certo tipo de informações.
Não há como evitar o aparecimento de tensões em torno da cole­ • administrativo, com a finalidade de garantir a continuidade dos
ção, com grupos de usuários desejando imprimir determinado dire­ critérios além da presença física de seus elaboradores;
cionamento às decisões de seleção, enquanto outros grupos atuam • de relações públicas, ao tornar a biblioteca simpática aos olhos da
em direção inversa. Neste sentido, é até possível questionar o acerto comunidade; e
de uma política que procure suprimir essas tensões, pois esse confli­ • político, ao proporcionar um instrumento para resistência ou ge-
to é bastante enriquecedor e contribui para que a gama de opções renciamento dos conflitos e pressões em torno da coleção.
existente seja ampliada (muito pelo contrário até: algumas vezes a
busca do conflito pode ser parte integrante da estratégia para admi­ E, com essas últimas palavras, como diria Perry Mason, a defesa
nistração da coleção). Que bom seria se todas as bibliotecas pudes­ descansa, passando a tratar do detalhamento do instrumento de
sem contar com grupos de usuários se digladiando em torno do acer­ política.
vo! Pelo menos, os bibliotecários teriam uma vida muito mais emo­
cionante... Componentes do documento de política de seleção
Ironia à parte, as tensões em torno do acervo, embora em geral
saudáveis, podem fazer do bibliotecário um refém de interesses di­ Na realidade, não existe uma fórmula universal para elaboração do
vergentes. Sem saber como foi parar no meio disso tudo, pode des­ documento que conterá a política de seleção dos materiais nas biblio­
cobrir que se transformou no árbitro de preferências talvez irrecon­ tecas. Cada profissional deverá analisar sua prática e o tipo de ins­
ciliáveis e está mergulhado em diferentes dilemas. Como fazer para trumento que necessita como suporte a suas atividades. Alguns ne­
negar-se a atender a determinada indicação sem ferir um grupo de cessitarão de um documento extremamente detalhado, que defina
usuários com uma representação forte na comunidade? Como atuar todos os critérios e subcritérios passíveis de utilização. Para outros,
no sentido de beneficiar uma parte da comunidade constantemente critérios gerais serão suficientes como diretrizes para a seleção. Isto
preterida em suas pretensões? Ou, levando a situação para o lado não fará diferença quanto à qualidade do instrumento. Uma política
mais pessoal, como recusar-se as sugestões do usuário x ou Y, que não será melhor por ser mais extensa (felizmente, somente o peso do
sempre foram tão simpáticos com a biblioteca e são tão atenciosos? documento ainda não é suficiente como indicação de sua adequação
E, pior ainda, fazer isso sem passar a ideia de estar tomando o parti­ ou qualidade...). O melhor indicador da qualidade de uma política de
do de um ou de outro, de estar perseguindo alguns, de ser mais seleção é o resultado proveniente da sua utilização: a coleção em si.
simpático a alguém. Apesar de não ser possível fornecer uma receita universal, é ra­
Um documento de política de seleção bem-estruturado fornece zoável imaginar que alguns elementos deverão constar, ainda que
70 71
minimamente, de todo documento de política. A ordem como serão • a periodicidade das reuniões;
distribuídos, a importância dada a cada um, variará segundo os in­ • a organização das atividades da comissão, com as atribuições de
teresses e particularidades da biblioteca (como sugestão, no anexo 2, seus membros (quem preside, quem secretaria, quem vota) e as
é apresentado um esquema geral para o documento, que deve ser formas para obtenção de consenso (maioria simples, maioria de
adaptado de acordo com as necessidades). dois terços, unanimidade, voto de qualidade, etc).
O documento de polític,a é um instrumento de trabalho para apoi­
ar as decisões de seleção. E, acima de tudo, um manual administra­ Da mesma maneira, deve ficar evidenciado o relacionamento for­
tivo e imagina-se que fará parte de um conjunto de documentos que mal da comissão de seleção com os bibliotecários e demais funcio­
guiarão as atividades ligadas ao desenvolvimento da coleção. Tal nários da biblioteca, a fim de evitar que hierarquias organizacionais
como acontece com qualquer instrumento administrativo, a elabo­ indevidas possam aparecer (assessores ou membros de comissão
ração de um documento de política de seleção deve atender aos re­ podem entender que possuem autoridade hierárquica sobre a equi­
quisitos de simplicidade (ser de fácil utilização), clareza (ser facilmen­ pe da biblioteca, o que nem sempre corresponde à realidade). Con­
te compreensível) e veracidade (corresponder à realidade da institui­ vém anexar à política um organograma da biblioteca, onde a posi­
ção à qual se aplica). ção hierárquica da comissão esteja bem-definida.
Em linhas gerais, de um documento de política constam: Os critérios utilizados. Nesta seção, cada biblioteca relacionará,
com o detalhamento conveniente, todos os critérios cotidianamente
• identificação dos responsáveis pela seleção de materiais; utilizados para a seleção dos materiais.
• os critérios utilizados no processo; Não é necessário expressar os critérios de forma literariamente
• os instrumentos auxiliares; atrativa. É fundamental, porém, que não deixem dúvida a respeito
• as políticas específicas; do que se almeja com eles. A enunciação do critério talvez não baste
• os documentos correlatos. para a compreensão total, exigindo uma explicação objetiva de seu
significado e como podem ser atendidos.
Identificação dos responsáveis pela seleção de materiais. Para Os instrumentos auxiliares. Todos os instrumentos auxiliares
fins do documento de politica, é preciso que a responsabilidade pe­ ou fontes de seleção utilizados como suporte à tomada de decisões
las decisões de seleção esteja registrada de maneira clara e definida, devem ser mencionados. Se for o caso, devem ser distribuídos se­
a fim de evitar distorções ou desentendimentos. gundo as áreas de interesse da biblioteca. Em bibliotecas especiali­
Se a decisão for de competência exclusiva dos bibliotecários, isto zadas, por exemplo, a definição de instrumentos auxiliares corretos
deve ficar bem claro no documento, bem como a legislação, interna é-decisiva para uma seleção mais eficiente.
ou externa, que lhe concedeu essa responsabilidade. Em casos de É aconselhável que o documento deixe claro, para os funcionários
discordância com as decisões do bibliotecário, o documento deve envolvidos na seleção, como os instrumentos auxiliares são utiliza­
informar a que autoridades superiores os recursos devem ser enca­ dos. Algumas bibliotecas podem definir, por exemplo, que um item
minhados e que medidas se tomarão a respeito. só seja considerado para seleção se constar de determinadas biblio­
Se houver comissões de seleção, constarão do documento: grafias ou receber apreciação favorável em um número mínimo de
resenhas. Talvez valha a pena acrescentar um fluxograma de como
• a forma como elas foram originalmente constituídas ou indicadas as decisões de seleção são tomadas.
(lei, decreto, portaria, etc.); As políticas específicas. Neste item serão detalhados, conforme
• a identificação dos membros e o período de mandato (em docu­ a necessidade, os casos de seleção que devem merecer maior desta­
mento anexo); que. Muitas bibliotecas têm, por exemplo, políticas dirigidas para a

72 73

í
seleção de materiais não-convencionais ou para determinadas áreas
do acervo, com critérios de seleção mais amplos ou mais rígidos,
conforme os objetivos pretendidos. Cada instituição definirá a in­ 8
clusão ou não dessas diretrizes específicas em seu documento de
política de seleção, deixando claro se são provisórias.º� permanen­
tes. A criação de novos cursos pode, por exemplo, ex1gtr que se rea­
lize uma seleção retrospectiva mais intensa, durante certo período Doações
de tempo. Coleções especiais (história local, obras raras, memória
_ ,
da instituição, etc.) costumam ser contempladas neste item da poh­
tica de seleção. EM PRINCÍPIO, A DOAÇÃO é uma função de aquisição, assim como a com­
Os casos mais comuns e que talvez mereçam mais destaque di­ pra ou a permuta. O que a diferencia é que ela não precisa ser inici­
zem respeito ao recebimento ou aceitação de doações, em especial ada pelos bibliotecários. Quando isso acontece com muita frequên­
as espontaneamente oferecidas (presume-se que as solicitadas pela cia, podem surgir problemas de disponibilidade de espaço físico.
biblioteca foram objeto de seleção prévia) e aqueles casos em que os Dependendo da sobrecarga de atividades do corpo técnico, os ma­
usuários solicitam reconsideração da decisão sobre materiais selecio­ teriais podem acumular-se na biblioteca, à espera de uma decisão
nados. quanto à sua incorporação.
Como evitar essa acumulação é uma preocupação sempre pre­
sente. Nem sempre é possível selecionar os materiais no momento
de seu recebimento, e não seria sensato recusar doações porque não
se tem tempo para avaliá-las: o risco de deixar de obter itens valio­
sos e importantes para o acervo é grande demais.
Pode parecer que o bibliotecário fica no dilema do 'se correr o
bicho pega, se ficar o bicho come'. Mas não é verdade. Em um país
onde as bibliotecas e centros de informação são alvo de restrições
orçamentárias, as doações são uma inestimável fonte para a aquisi­
ção de recursos informacionais: não podem ser absolutamente des­
prezadas ou encaradas de maneira superficial.
A frequência com que uma biblioteca é procurada para a doação
de materiais pode ser um sinal de seu prestígio junto à comunidade.
Nem sempre é fácil para alguém dispor de materiais que adquiriu
durante toda uma vida. Doá-los pode ser uma decisão doída e des­
pida de satisfação pessoaJ, a não ser a de saber que está entregando
bens preciosos a alguém que deles tratará com carinho similar ao
que receberam de seu dono. Qualquer usuário que procure a biblio­
teca para doar materiais merece o maior respeito, ainda que o seu
oferecimento não seja relevante aos objetivos daquele acervo especí­
fico.

74 75
As bibliotecas foram criadas para atingirem objetivos específi­
cos, que nem sempre vão ao encontro dos interesses ou desejos dos
doadores. Alguns almejam que suas doações recebam maior desta­
que no acervo, procurando indicar maneiras como deverão ser tra­ 9
tadas após a aceitação (estantes diferenciadas, salas especiais, restri­
ções ao uso, etc.). Usuários que fazem esse tipo de proposta, embora
guiados por boas intenções, estão interferindo na administração da
coleção, que é competência dos bibliotecários, e ultrapassando a
Reconsideração da decisão de seleção
barreira do razoável. Devem ser preliminarmente esclarecidos a
esse respeito, antes de concretizarem suas doações.
Assim como inexiste uma fórmula para evitar que os materiais NEM SEMPRE AS DECISÕES de seleção obtêm consenso. Às vezes, itens

doados se acumulem, não há um jeito infalível para dissuadir os fav�r�velmente sel�cionados e adquiridos desagradam parte dos
usuanos,
doadores de tentarem impor sua vontade. Definir uma política clara _ . que pressionam os responsáveis pela biblioteca para que
sobre doações, incorporá-la à política de seleção e torná-la pública é se3am retirados do acervo. As razões e implicações dessas atitudes
medida eficiente na administração de doações. serão tratadas no próximo capítulo, mas é preciso partir da premis­
Os casos em que a biblioteca aceita doações e como se propõe a sa de que a probabilidade de ocorrerem não é desprezível. O mesmo
tratá-las devem ficar claramente entendidos pelos doadores. A doa­ se dá quanto a decisões de seleção contrárias à aquisição de docu­
ção é um contrato de confiança entre doador e biblioteca: ambos mentos sugeridos pelos usuários, que insistirão para que a bibliote­
devem estar concordes a respeito do que se está efetuando. Convém ca mude sua posição.
que o doador receba uma cópia da política de seleção e tome conhe­ � razoável_ imaginar que essas pressões serão tanto maiores quanto
cimento das diretrizes sobre materiais doados, que serão tratados n�a1or for o mteresse dos usuários pela coleção. Reclamações não
de maneira igual à dos outros materiais, passando pelos mesmos sao necessru-iamente um incômodo a mais para o trabalho dos biblio­
critérios de seleção. Mas seria ingenuidade acreditar que o doador tecár!os (bem, talvez algumas até o sejam), e devem ser previstos
conhece e concorda com isso (talvez até concorde com relação às canais por ?�de sejam filtradas e ai1alisadas quanto à sua pertinên­
doações dos outros ...). cia. :�r mais trreverente ou irrelevante que seja sua reclamação, todo
Formalizar o ato de doação é medida prudente no caso de recla­ usuano merece receber dos bibliotecários o mesmo tipo de atenção
_
mações. Um formulário simples, assinado pelo doador, registrando e respeito. Graças a essas reclamações, pode ficar evidente um
a data da doação e que tem conhecimento e concorda com a política descompasso entre as políticas da biblioteca e as características ou
da biblioteca costuma surtir efeito. A biblioteca pode fornecer uma interesses da comunidade.
carta ou declaração sobre o recebimento dos materiais e agradecen­ A_mesma imparcialidade que se procura imprimir às decisões de
do ao usuário pela doação. Além de ser um gesto simpático repre­ s�leçao deve ser dirigida às reclainações a respeito do processo. Teo­
senta o reconhecimento da importância da participação dos usuários ncai11ente ao me�os, a imparcialidade e a coerência no julgai11ento
no desenvolvimento da coleção. dessa� reclmr�a�oes deve'.iam ser a marca característica da atuação
Modelos da política para doação e dos formulários são apresen­ dos b1bltotecanos. Esse e um objetivo difícil de ser atingido, mas
tados nos anexos 3, 4 e 5. que ,�erece ser perseguido, ainda que seja apenas por autodefesa,
ou se}a, p�ra evitai: maiores complicações. Todo e qualquer caso de
msattsfaçao devera ser julgado à luz dos critérios de seleção utiliza­
dos na biblioteca. Se for comprovado que houve erro dos seleciona-

76 77
é
dores admiti-lo e tomar as medidas necessárias para sua correção
o mínimo que se poderá fazer. Não haverá demérito algum para nin-
1

guém nesse processo. . . . . � 10


Embora não se deseje em absoluto restrmg1r o dtre1to qu: temº:
usuários de discordar dos resultados do processo de seleçao, sera
e
preciso algum grau de formalização, a fim de orientar a revisã�
organizar um eventual fluxo de reclamações, bem como para . regis­ Tópicos especiais de seleção
en­
trar todos os casos. Alguns por timidez, outros por desconhecim
to, os usuários podem ficar constrangidos por terem
_ que �reenc�er
um formulário de reclamação e deixarão de registrar sua d1scordan­ O ATO DE SELEÇÃO NÃO ocorre no vazio. É influenciado por diversos e dife­
is­
cia. Devem ser elaborados instrumentos que possibilitem a admin rentes fatores, alguns mais corriqueiros e diretamente ligados à tomada
tração eficiente das insatisfações, não barreiras que desestimulem de decisão, como o estado físico ou mental do selecionador, outros com­
sua apresentação por escrito. Formulários bem-elaborados, acom­ plexos e distantes, como a infraestrutura editorial a que a biblioteca tem
panhados por uma atitude de disponibilidade e _boa vontade para acesso. Ressalte-se que o elemento humano não pode ser ignorado em
6
com os usuários são uma grande ajuda nesse obJetivo. No anexo qualquer processo de tomada de decisão, e que a seleção está inserida em
apresenta-se uma sugestão de documento formal. complexos sistemas sociais. Este capítulo está voltado para essa proble­
mática, embora não se busque esgotar o complexo de relações/interações
sociais passíveis de interferir no processo de seleção.
Imaginou-se que tentar abordar pragmaticamente alguns temas
encontrados no dia-a-dia dos profissionais poderia trazer maiores
benefícios para os leitores. Como toda seleção, a realizada para este
capítulo também pode ser objeto de discordância e seria muito bom
se isso acontecesse.
Um dos itens importantes para destaque, a censura de materiais,
já foi anteriormente abordado por este autor em várias oportunida­
des, por isso busco outro enfoque, fazendo referência a textos ante­
riores, quando for o caso. Outros tópicos têm sido abordados na lite­
ratura internacional, mas em geral sob o ponto de vista de bibliotecá­
rios de países mais desenvolvidos. Uma abordagem que leve em
conta as características do país parece muito mais proveitosa, e ela
será buscada nas páginas seguintes.
A separação dos tópicos resultou mais ou menos superficial, aten­
dendo apenas a objetivos metodológicos e de clareza do texto, pois
a relação entre eles é impossível de ser quebrada. Na realidade, eles
devem ser vistos a partir dessa interação, e não como fatores isola­
dos, o que poderá facilitar a compreensão do fenômeno aqui consi­
derado, ou seja, a seleção.

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Entre os tópicos para discussão estão as relações entre seleção e: pouca prioridade a essa área, reservando-lhe uma percentagem pe­
quena do total de horas do currículo.
formação profissional; Os conhecimentos obtidos em cursos formais de bibliotecono­
censura; mia e documentação também variam de escola para escola. Um con­
cooperação bibliotecária; e senso sobre a bagagem de conhecimentos necessários a um
direitos autorais. selecionador está ainda por ser atingido. O mesmo se pode afirmar
a respeito de quanto da formação profissional deve ser dedicado às
Seleção e formação profissional atividades de seleção.
Deve-se reconhecer que o bibliotecário brasileiro tem limitações
Por muito tempo a seleção foi considerada como uma arte. Muitas em sua formação, no que tange à seleção de materiais. A maior tal­
páginas foram escritas comparando o trabalho do selecionador com vez se refira à inexistência de bibliotecário pós-graduado, aquele
o de um artista que, martelada após martelada, de uma pedra bruta que, depois de ter obtido seu diploma de graduação numa área es­
faz surgir a figura de um deus grego. Isto significava dizer que ape­ pecífica do conhecimento, buscou o curso de biblioteconomia em
nas bibliotecários com talento especiaJ poderiam desenvolver boas nível de pós-graduação, a fim de trabalhar com a documentação da
coleções. Aos outros restava dedicar-se à sublimação de suas deficiên­ área em que se formou originalmente.
cias, o que talvez, mas muito improvavelmente, seria atingido após Os cursos de pós-graduação em biblioteconomia e ciência da in­
30 ou 40 anos de trabalho. formação já colocaram no mercado dezenas de alunos, a grande
Felizmente, essa visão parece ser hoje parte do passado. Já não se maioria constituída por bacharéis de biblioteconomia. Isso, embora
compreende a atividade do selecionador como uma arte, mas muito contribua para o aprimoramento da profissão, não significa que se
mais como uma função técnica que exige formação e treinamento. O estejam formando bibliotecários especializados (ou especialistas bi­
domínio de algumas habilidades e conhecimentos básicos será ne­ bliotecários... as palavras até começam a faltar).
cessário para todos os bibliotecários que desejem dedicar-se priori­ A legislação impede que os pós-graduados em biblioteconomia e
tariamente às atividades de seleção. documentação, que não sejam bacharéis na mesma área, registrem­
O Brasil deu passos concretos rumo ao melhor equacionamento se nos conselhos regionais de biblioteconomia, requisito para o
da formação profissional para a seleção de materiais em bibliotecas, exercício da profissão. E parece digno de lamentação que, a conside­
ao introduzir a matéria formação e desenvolvimento de coleções no rar-se a oposição dos conselhos, sindicatos e associações de bibliote­
currículo mínimo dos cursos de biblioteconomia. Embora insuficien­ cários à formação múltipla, as probabilidades de ocorrerem modifi­
te, representa um avanço, pois um espaço para discussão da proble­ cações nessa legislação são muito limitadas.
mática do desenvolvimento de coleções foi previsto, restando ape­ Embora reconhecendo a insuficiência da legislação e criticando a
nas preenchê-lo adequadamente. posição dos organismos de classe, deve-se concordar que são bas­
Bibliotecários malpreparados para a tomada de decisão tomarão, tante limitadas, pelo menos a curto prazo, as consequências que a
obviamente, decisões inadequadas, prejudicando todos aqueles cujas criação do bibliotecário especiaJista teria para o conjunto das biblio­
necessidades informacionais devem ser atendidas pela coleção sob tecas do país. Provavelmente, afetaria muito mais as bibliotecas uni­
sua responsabilidade. Como preparar adequadamente esses profis­ versitárias e os centros de informação do que as públicas e as poucas
sionais torna-se, então, a questão dominante. bibliotecas escolares existentes. Mas a necessidade de possuir habi­
No Brasil, ao contrário de países mais desenvolvidos, praticamen­ lidades específicas para a seleção dos materiais, que seriam trans­
te inexistem bibliotecários trabalhando em tempo integral na sele­ mitidas pela educação formal dos bibliotecários, não deixa de exis­
ção de materiais. Isto talvez explique porque as escolas dedicam tir. Mesmo bibliotecários com dupla formação correm o risco de não

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encontrar espaço no mercado de trabalho de sua área, t endo que área de conhecime nto em que atua, consubstanciando-as em cri­
atuar na seleção de materiais de out ras áreas. Se as atividades d e térios de seleção;
seleção dependessem apenas do domínio da área de assunto, não g) analisar objetivamente os materiais, não permitindo que suas cren-
haveria r azões para que sua discussão fosse realizada nos parâme­ ças e prefe rências pessoais interfiram em sua decisã o;
tros dos cursos de biblioteconomia e ciência da informação, passando­ h) elaborar documentos de política de seleçã o.
se essa responsabilidade para as outras áreas do conhecimento.
Como esse não p arece ser o caso, algo rec onhecido até mesmo na Nem todas as habilidades necessárias à seleçã o de materiais podem
literatura biblioteconômic a p roveniente de países m ais desenvolvi­ ser academicame nte transmitidas. Al gumas exigirã o muitas horas
dos, deve-se b uscar um corp o básico de conhecimentos ou habilida­ de prática e f a milia ridade com os assuntos da biblioteca e co m os
des p assíveis de serem t ransmitidos em curs os de graduação e q� e instrumentos au xiliares utilizados. Neste sentid o, o treinamento em
possibilitem aos bibliotecários atuar de f orm a eficiente na seleçao serviço, supervisionado por profissionais mais experientes, pode ser
de materiais. uma maneira eficiente para a f ormação dos bibliotecá rios que deve­
rão ass umir a respo nsabilidade pela seleção . Os c ursos d e bibli ote­
Considerando-se as limitações em relação ao domínio do con­ conomia poderiam colaborar muito nesse aspecto, dando especial
teúdo d os documentos, não seria realista esperar que ele fosse pro­ destaque às a tivida des de seleção d urante o perí odo de estági o su­
porcionado por meio de um cur so de graduação (exist:m hr�1i_tes pe rvisionado dos alunos.
para a absorção de conhecimentos). Tudo indica que a seleçao dmg 1da
para área s especializadas seja tem a p ara a educação contínua do bi­ Seleção e censura
bliotecário, tra ta da em cursos de especialização ou pós-graduação, e
não em cursos normais de graduação. As relações entre seleção e censura já f oram tratadas tanto em meu
Em geral, p ara atuar na seleção de materiais, o bibliotecário de- livro sobre ?esenvol vimento de c oleções como em dois artigos. Não
_
verá ter recebido, na graduação, as informações necessárias para : serao repetidas para não cansar os leitores que já tenham conheci­
mento desses textos. No entanto, como qualquer trabalho sobre se­
a) reco nhecer as particularidades da produção de conhecimentos leção de materiais em bibliotecas fica ria incompl eto sem u ma dis­
nos grandes ramos das ciências humanas, exatas e biológicas, e cussão sobre censura, ela será aqui abordada, buscando-se, entre ­
como essa produção se reflete na literat ura de c ada um a (um a tanto, um enfoque diferenciado .
abordagem ge ra ] sobre a bibliografia das grandes áre as será de Quando mencionei o p oder que os bibliotecári os possuem ao
grande utilidade p ar a os futuros selecionadores); tomar decisões de seleção, a ideia de censura ficava subjacente. Num
b) ter familiaridade com a indústria de produção de conhecimen­ país onde as bibliotecas recebem pouca atenção das autoridades
tos, tanto de p rodutos tradicionais como não-tradicionais (por govername ntais, tanto em t ermos de recursos financeiros como do
exemplo, periódic os ele trônicos e f ontes disponíveis via internet); monitoramento de suas atividades, visando minimamente verificar
c) identificar e utilizar com independência os instrumentos auxilia­ o q uanto estão atingindo seus objetivos; num país ond e, em ge ral, a
res de seleção mais imp ortantes em cada área ; comunidade pouca atenção dá à maneira como os acervos informa­
d) avaliar co m eficiência os benefícios que podem ser obtidos pela cionais a que tem acesso são constituídos, confiando, aparenteme n­
cooperação e comp artilhamento de recursos informacionais; te sem restrições, nos critérios dos que decidem em seu nome; num
e) at uar em co missões de seleção ou grupos de trabalho dirigidos à país onde as classes menos privilegiadas encaram todas as bibl iote­
seleção dos m ateriais; cas como benesses concedidas por governantes magnânimos e sen­
f) identificar as necessidades dos usuá rios e as particularidades da tem-se extremamente gratas por quaisquer migalhas que l hes sã o

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concedidas; enfim, num país onde o preço dos materiais informacio­ te colocá-la em discussão. Os bibliotecários, por mais que queiram
nais tem características proibitivas para aquisição própria, pelo me­ viver, como diria Voltaire, no "melhor dos mundos possíveis", po­
nos para a grande maioria da população... o poder daqueles que dem acabar descobrindo que vivem em uma realidade demasiada­
decidem sobre a constituição dos acervos pode ser muito grande. mente frustrante para quem possui como única defesa a arma dos
Tanto para o bem como para o mal. nobres ideais. Tem-se a impressão de que as discussões sobre censu­
Aparentemente, não foram ainda realizadas pesquisas neste país ra no meio bibliotecário acabam se deixando levar pela ingenuida­
para verificar como os bibliotecários envolvidos com a seleção de de, imaginando que os corações puros são monopólio da profissão,
materiais comportam-se em relação à censura. Em geral, pode-se ou que todos os ataques ao acervo sob responsabilidade dos profis­
imaginar que a grande maioria dos profissionais, se consultada a sionais provêm de vilões mal-intencionados.
respeito, certamente se manifestaria contrária a atos de censura e Muitas vezes isso acontece, realmente. A imagem de uma Bette
levantaria os velhos paradigmas profissionais sobre a importância Davis bibliotecária enfrentando com denodo as políticas restritivas
da disseminação da informação e a inestimável contribuição do bi­ à liberdade intelectual no filme No despertar da tormenta (Storm center),
bliotecário no fornecimento de informações à comunidade. A pro­ de 1956, é o exemplo mais claro de como as atividades profissionais
fissão está repleta de expressões eufonicamente atrativas, que funcio­ podem beneficiar a coletividade, ainda que o preço a pagar possa
nam mais ou menos da mesma forma como os dogmas funcionam ser alto em termos pessoais e profissionais. Basta lembrar que essa
para os grupos religiosos (algum dia seria bom alguém tentar elabo­ biblioteca é incendiada, o que significa que a personagem represen­
rar uma lista a respeito), e a tentação de citá-las é quase sempre tada por Bette Davis acabou perdendo o emprego (lá vou eu de novo
irresistível. Levantamentos de opinião entre os bibliotecários têm contando o final do filme...).
geralmente demonstrado o quanto eles são avessos à censura de No exemplo utilizado acima, as razões para lutar contra a censu­
materiais. Pelo menos nesse aspecto, parece haver razões para se res­ ra pareceriam evidentes a qualquer bibliotecário. Imagina-se que,
pirar com um pouco de tranquilidade... como fez a profissional retratada no filme, qualquer profissional
Tudo isso parece lógico e é reconfortante encontrar uma catego­ entenderá ser seu dever insurgir-se contra todas as orientações res­
ria de profissionais que publicamente defende uma postura tão libe­ tritivas que um pequeno número de indivíduos, momentaneamente
ral como sua filosofia de trabalho. Os bibliotecários norte-america­ detentores do poder, queira exercer sobre a biblioteca, principalmente
nos chegaram a elaborar cartas em defesa da liberdade intelectual e quando tal acontece à revelia do resto da sociedade. No caso em
travaram verdadeiras batalhas judiciárias, e às vezes físicas, com questão, tratava-se de momentos muito difíceis, a época da chama­
passeatas e tudo o mais, em defesa do direito de o usuário ter acesso da 'caça às bruxas' nos Estados Unidos, quando as autoridades go­
à totalidade de opiniões sobre todos os assuntos (mais sobre essa vernamentaisJ sob o pretexto da infiltração soviética no país, atenta­
luta pode ser encontr!:ldo em meu livro Desenvolvimento de coleções). vam contra a liberdade individual de toda a sociedade norte-ameri­
Têm mantido uma luta cerrada - como os norte-americanos gos­ cana, desrespeitando, inclusive, a própria constituição. O papel do
tam de dizer: uma eterna vigilância! - contra todas as tentativas de bibliotecário na preservação da liberdade intelectual dos usuários é
censura que autoridades governamentais ou grupos minoritários, e extremamente exaltado no filme, talvez na melhor representação da
mesmo majoritários, possam querer exercer sobre a seleção do acer­ profissão já levada às telas cinematográficas, e ao vê-lo é difícil dei­
vo. O mérito dos bibliotecários que alguma vez se levantaram em xar de sentir orgulho por fazer parte dessa profissão. O Brasil tam­
defesa da liberdade intelectual deve ser reconhecido e proclamado. bém viveu momentos parecidos na época da ditadura militar, em­
Não há como discordar de sua posição. bora, infelizmente, não haja muitas notícias sobre igual tipo de rea­
Mas é preciso reconhecer que, embora a 'filosofia' da liberdade ção dos bibliotecários brasileiros.
intelectual seja inatacável, situações concretas poderão eventualmen- Aos bibliotecários cabe talvez desempenhar um papel único, com
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o objetivo de garantir que todos os membros da comunidade tenham de censura é mais complicado do que enfrentar as autoridades do
acesso às informações necessárias e importantes para sua vida. Isto governo.
inclui a luta contra as tentativas de censura aos materiais da biblio­ Objeções quanto aos 1rn1teriais constantes do acervo podem pro­
teca da forma como o fazem os bibliotecários norte-americanos. É vir tanto de grupos minoritários inexpressivos, defendendo posi­
importante que a categoria profissional se organize para dar supor­ ções extremas e isoladas, como da maioria da sociedade, expressan­
te a seus membros, estabelecendo padrões de comportamento e nor­ do uma preocupação generalizada. Nem sempre é muito fácil carac­
mas de conduta para esses casos. E covardia obrigar um profissional terizar aqueles que pressionam a biblioteca para retirar materiais do
a lutar sozinho contra atitudes arbitrárias das autoridades, nos vários acervo como sendo os vilões mal-intencionados referidos algumas
níveis de governo. É isto que na prática se está fazendo quando se páginas atrás. Em número talvez expressivo, trata-se de indivíduos
deixa o bibliotecário órfão em termos de diretrizes para ação contra preocupados com a coletividade, que merecem pelo menos o res­
a censura às bibliotecas como no que se refere a estratégias para peito dos bibliotecários. Não seria correto ridicularizá-los por causa
mobilização da categoria para um posicionamento conjunto dos pro­ dessa preocupação, embora possa parecer que estão equivocados em
fissionais quando casos de censura são identificados. Neste sentido, seus objetivos. Assim como o bibliotecário tem o direito de achar
o caminho a ser percorrido pelos bibliotecários brasileiros parece importante que a comunidade tenha acesso a todos os documentos
ser ainda bastante longo. ou informações disponíveis, a comunidade tem o direito de não de­
Felizmente, nada parece indicar que a segunda década dos anos sejar que alguns desses itens, contrários àquilo em que a comunida­
2000 venha a ser muito problemática em termos de censura gover­ de acredita, estejam disponíveis naquelas instituições que ela man­
namental. A Constituição brasileira proíbe de modo taxativo o exer­ tém, como as bibliotecas públicas. Ninguém pode ser pejorativamente
cício da censura, em todas as suas formas. Ela certamente poderá, e taxado de censor por estar exercendo um direito. A comunidade tem
deverá, ser utilizada como arma contra tentativas de censura às bi­ o direito de se defender.
bliotecas. Mas a censura governamental não é a única com a qual o Em casos como o acima mencionado, em que uma legítima dis­
bibliotecário pode entrar em contato em sua vida, apesar de ser tal­ cordância da comunidade encontra expressão concreta - a não-in­
vez a mais deletéria e que maiores preocupações costuma trazer. clusão de determinados materiais naquelas instituições mantidas
Outras formas de censura, nem sempre muito claras e nem sempre financeiramente pela sociedade-, a luta para fazer valer as diretri­
entendidas como tal, podem surgir no dia-a-dia, trazendo outros zes éticas profissionais que orientam para a disponibilidade irrestrita
dilemas ao exercício profissional. de todos os materiais informacionais independentemente dos pon­
Alguns membros da comunidade podem sentir-se descontentes tos de vista que defendam será complexa e sujeita a um maior nú­
com a forma como está sendo constituído o acervo das bibliotecas às mero de questionamentos.
quais têm acesso e solicitar aos responsáveis pela seleção que modi­ Sob esse aspecto, vale a pena urna reflexão maior: embora pare­
fiquem os critérios adotados ou retirem da coleção todos aqueles ça, e sob certo ponto de vista realmente seja, uma atitude lastimável,
títulos dos quais eles, os membros da comunidade, discordam. Gru­ ceder às pressões legítimas da sociedade, retirando do acervo um
pos religiosos ou associações preocupadas com a moral e os bons documento tido como impróprio pela maioria de seus membros, não
costumes exercem pressões desse tipo, com maior ou menor suces­ é a mesma coisa que impedir totalmente que diferentes ideias te­
so. Nos últimos tempos eles têm dirigido suas baterias mais contra nham possibilidade de ser disseminadas, como acontece quando a
os meios de comunicação de massa, como a televisão ou o rádio, do publicação de determinados livros é proibida ou os jornais são sub­
que contra as bibliotecas, mas isso não significa que não venham a metidos a censura prévia. Os usuários interessados nos materiais
fazê-lo no futuro (ou mesmo que não o estejam fazendo agora, sem a excluídos continuarão a ter acesso a eles por intermédio de outras
mesma publicidade). Sob certos aspectos, combater essas atividades instituições, como as livrarias ou as bibliotecas mantidas por insti-

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tuições privadas. Parece lógico que as instituições mantidas pela represente uma avalanche de materiais redundantes, inexpressivos
comunidade devam ter o ponto de vista dessa mesma comunidade e muitas vezes descartáveis.
como seu principal parâmetro de seleção. Diante dessa realidade, conhecimentos precisos a respeito de
Isto não quer dizer que o profissional deva concordar com a po­ como funciona a indústria editorial, cm todas as suas modalidades,
sição da maioria (que decidiu pela retirada dos materiais) e nem o serão úteis aos profissionais responsáveis pela seleção. Todo biblio­
isenta, tampouco à categoria como um todo, de tentar convencê-la tecário precisará familiarizar-se com as editoras mais importantes
de que a longo prazo as consequências da remoção de certos títulos em sua área, de modo a identificar os títulos imprescindíveis à biblio­
do acervo poderão ser mais nefastas do que os benefícios imediatos. teca e garantir que tal objetivo se concretize.
Os bibliotecários estão em posição privilegiada para argumentar Apesar disso, será impossível a qualquer instituição bibliotecá­
neste sentido, pois têm uma visão conjuntural da ampliação de pers­ ria atingir a auto-suficiência em termos de acervo. Mesmo refinan­
pectivas que a informação oferece à sociedade. do ao máximo a seleção, de modo a só incluir materiais de máxima
Talvez o que deva mesmo preocupar seja a constatação de que os prioridade, as limitações orçamentárias, para não falar das físicas,
bibliotecários muitas vezes definem-se como os árbitros definitivos ou espaciais e de recursos humanos, farão com que muita coisa valiosa
os únicos filtros das ideias disseminadas na sociedade, decidindo deixe de fazer parte das coleções. É primordial contar com canais
em seu próprio nome, e de acordo com a sua própria visão de mundo, alternativos de acesso ao documento primário, de modo a garantir
sobre aquilo a que os leitores poderão ou não ter acesso. Nem sem­ que os usuários possam utilizá-lo.
pre isso é consciente ou percebido como censura, sendo realizado Há algum tempo os bibliotecários no mundo inteiro vêm-se preo­
com base em um variado número de razões e justificativas que po­ cupando com essa questão. As redes e sistemas de bibliotecas, que
dem até parecer bastante razoáveis a seus perpetradores. Mas é um são uma tendência generalizada, procuram alcançar o objetivo de
ato de censura. Estabelecer alguns mecanismos administrativos míni­ dar eficiência à totalidade do universo informacional existente em
mos, tais como os critérios ou a política de seleção, que proporcionem uma região ou país e maximizar a utilização de recursos limitados.
aos bibliotecários uma arma contra suas próprias e eventuais fra­ Bibliotecas isoladas têm suas chances de correto atendimento das
quezas ou tentações, é no mínimo uma atitude de prudência. Um demandas informacionais de seus usuários comprometidas, fazen­
cuidado especial com a formação profissional, inclusive em termos do com que a cooperação entre as instituições da área se torne uma
de educação contínua, também parece ser uma medida necessária imposição para a própria sobrevivência da biblioteca.
para aprimoramento da atuação dos profissionais da informação. Inicialmente, esta cooperação costumava dar-se de maneira in­
formal, por iniciativa individual de profissionais que conheciam as
Seleção e cooperação bibliotecária coleções existentes em bibliotecas vizinhas e, muitas vezes de co­
mum acordo com seus pares nas outras instituições, definiam suas
A produção editorial atual alcança números quase incontáveis, com prioridades de seleção, de maneira que um acervo suprisse as defi­
novos títulos sendo publicados a cada instante. Nesse contexto, o ciências do outro. Isto na prática se efetivava por meio do que costu­
universo para as decisões de seleção ampliou-se consideravelmente. ma ser denominado empréstimo entre bibliotecas, pelo qual uma
A diversidade de formatos trouxe novos complicadores para a seleção, instituição solicita material por empréstimo a uma outra, para aten­
pois não se trata mais de apenas identificar e selecionar materiais der a um usuário específico. Bibliotecas especializadas brasileiras
impressos, mas também os meios audiovisuais e eletrônicos, além têm tradicionalmente utilizado essa modalidade de cooperação, in­
da extensa produção digital disponível na internet. Os bibliotecários clusive contando com funcionários que desempenham essas funções
não produzem os documentos que selecionam e não podem fazer percorrendo as diversas bibliotecas em veículo da instituição, a fim
com que o mercado altere seu ritmo de produção, ainda que isso de recolher e, depois, devolver os materiais requisitados.

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O empréstimo entre bibliotecas é uma alternativ� relativamente utilizada, têm que percorrer quando necessitam de um material
simples para sanar deficiências do processo de sel�çao. Graças a el�, que consta do acervo de outra biblioteca da própria usr:
,
títulos monográficos que não puderam ser adqumdos ou penod1-
cos cujas assinaturas foram descontinuadas devido a restrições or­ a) verificam no acervo da biblioteca de sua escola ou faculdade (não
çamentárias podem chegar às mãos do usuário final, pe�·mitindo �ue existe);
a biblioteca cumpra o seu papel de disseminadora de mformaçoe�. b) verificam no sistema Dedalus, o catálogo online que contempla
Essa possibilidade é um aspecto a ser considerado quan�o da deci­ todas as bibliotecas da universidade, em qual coleção ele consta
são de seleção, para utilizar eficientemente os recursos fmance1ros (conseguem localizá-lo na biblioteca x);
disponíveis. c) como a biblioteca x já implantou o empréstimo automatizado,
verificam on-line a disponibilidade do material (está disponível);
É importante, no entanto, salientar alguns cuidados que necessi­ d) realizam uma reserva on-line, para garantir que o material não
tam ser tomados quando dessa consideração: seja emprestado a outros;
e) solicitam o impresso de empréstimo entre bibliotecas à bibliote-
1) garantia de acesso: nem sempre, por razões de política instituci­ ca de sua escola (em várias vias);
onal ou visando maior preservação do material, o acesso ao do­ f) deslocam-se até a biblioteca x para realizar o empréstimo;
cumento primário é permitido pela outra instituição, frustrando g) após a utilização, devolvem o material à biblioteca x;
o empréstimo entre bibliotecas. Mesmo quando existe essa ?ª­ h) retornam a via correspondente do impresso, devidamente ano­
rantia, mudanças de política podem jogar por terra o obJetivo tada, à biblioteca de sua escola.
pretendido: antes da tomada de decisão, é preciso estar seguro
de que o acordo existente irá manter-se no futuro; 4) Custo para a biblioteca: nem sempre essa problemática é suficien­
_
2) possibilidades práticas de acesso: bibliotecas convivem com res­ temente equacionada pelos profissionais. Dependendo da frequência
trições orçamentárias que podem implicar demora na ch�gada com que determinados títulos são necessários, o custo para obter
do material nas mãos do usuário. Dificuldades em conseguir um o material mediante empréstimo entre bibliotecas acaba sendo
veículo ou funcionário para buscar o item na outra instituição às superior a seu custo de aquisição e manutenção. Um estudo cui­
vezes comprometem a política de fornecimento de informações e dadoso de todos os custos envolvidos na realização dos emprésti­
deixam o usuário insatisfeito com os serviços da biblioteca; mos (desgaste do veículo, combustível, tempo dos funcionários,
3) ônus para o usuário: algumas bibliotecas passam a responsabili­ etc.), comparando-os com os que se teria caso o material fosse
dade pela retirada do material ao próprio usuário, fornecendo­ adquirido pela biblioteca, poderá ajudar a esclarecer essa ques­
lhe apenas o formulário preenchido e deixando que ele realize tão. Infelizmente, os custos relacionados com o usuário, ou seja,
todos os deslocamentos necessários. Essa é uma alternativa mui­ quanto custa para ele não ter acesso imediato ao material, con­
to cômoda para a biblioteca, que certamente justificará essa me­ tentando-se, ou sendo obrigado a contentar-se, em esperar um
dida e até se vangloriará de pelo menos estar possibilitando algu­ certo período, são mais difíceis de computar.
ma saída para atender uma demanda, embora não tenha condi­
ções de satisfazê-la com recursos próprios. Cabe, _ no ent�nto, u'.11ª Mas o empréstimo entre bibliotecas é apenas uma das alternativas
reflexão a respeito das implicações éticas que uma atitude tipo existentes para a cooperação bibliotecária. Iniciativas mais estrutu­
Pôncio Pilatos pode ter em um contexto de atuação profissional. radas, com a constituição formal de consórcios, redes de cooperação
_
Em aula, costumo teatralizar o calvário que os estudantes da Urn­ ou sistemas de bibliotecas estão se tornando cada vez mais comuns
versidade de São Paulo (usr), onde essa prática é normalmente em nosso meio. Nesses casos, são introduzidos mecanismos admi-
90 91
nistrativos voltados para a seleção planificada ou cooperativa das mesmo considerando que parte dos custos é repassad a ao usuário
coleções, garantindo que a acessibilidade aos materi�s _ mais rele­ final.
vantes em cada uma das instituições reunidas em consorcio, rede ou
sistema possa ocorrer da maneira ef iciente. V�ri� s estruturas_ or ga­ Seleção e direitos autorais
nizacionais têm s ido introduzidas com esse obJetivo, com maior ou
menor sucesso. Tem-se, nesses casos, uma organização formalmente Em um primeiro momento, pod e até parecer qu e não existe qual­
estabelecid a quanto aos deve res e direitos de cada uma d_a s i ns� itu!­ qu�r relação entre os direitos autorais e as atividades de seleção .
ções componentes, de maneira que a atuação de uma nao i: reJ�d�­ Afmal, alguns argumentarão, os bibl iotecá rios estão acima dessa
que as demais. Esta tem sido uma �lternativa b�scada por mshtui­ qu estão : não se beneficiam diretainente com o empréstimo dos li­
_
ções da área universitária, nas quais os �enefic1os_ a�abam ficando vros e outi'.os materiais de informação, pois em geral não estipulain
muito mais evidentes do que em outros tip os de bibliotecas. qualquer tipo de tax a para o empréstimo ou a util ização dos docu­
mentos no recinto da biblioteca; não recebem qualquer percentagem
Em âmbito maior, a cooperação bibliotecária ocorre mediante o q� ando selecionam ou adquirem novos títulos; não sonegain os di­
fornecimento de fotocópias ou cópias escaneadas, em �nbito _nac!o­ reit os dos autores, pois adqu irem os materia is mediante canais le­
nal e internacional. Trata-se provavelmente da forma mais cornqueira galmente constituídos. Os bibl iotecários, em s ua atividade de sele­
de cooperação entre instituições bibliotecárias, na qual u�:1ª. biblio­ ção e em qualquer outra, são os maiores incentivadores dos direit os
teca obtém cópias de materiais, em geral artigos de penod1cos ou autorais, pois possibil itam a ci rculação de suas coleções, divul gan­
capítulos de livros, solicitados pelos seus usuários. Ao 1-r:i�smo tem­ do seus au tores e possibilitand o-lh es a ainpliaçã o de seu público.
po, fornece cópias de materiais de seu ac�rvo para usuar1os de ou­ Os autores deveriam ficar até agradecid os aos bibliotecá rios pelo
tras comunidades. Sob certos aspectos, e um desdobramento do que realizam em benefício deles...
o ue, n? �or­
empréstimo entre bibliotecas, a única diferença send � A rigor, os bibliotecá rios parecem ter alguma razão em seus ar­
necimento de fotocópias ou cópias escan ea das, o ma terial ongmal gumentos. O empréstimo de livros em bibliotecas foi tradicional­
não é retirado da instituição. mente �ncarado,. inclusive pelos próprios autores e uma boa parte
dos editores, mais como uma ajud a na divul gaçã o do material do
O Instituto Brasileiro de Inf ormação em Ciência e Tecnolo gia que como um prejuízo monetário . Apesar disso, é certo que pelo
(m1cT), por meio do p rograina coMUT, administra uma rede de forn�­ menos uma parcela dos l eitores deixa de adquiri r d eterminados
cimento de fotocópias e cópias escaneadas, que envolve a padroni­ materiais por ter acesso a eles nas bibliotecas. Isto significa uma per­
zação de rotinas, impressos, prazos, preços, etc. Parte do custo desse da para os autores, que deixam de receber os d ireitos autorais cor­
serviço costuma ser repassado ao usuário final, rep resenta:1do um respondentes a essas vendas não realizadas. Mas isto também nã o é
ônus que ele não teria se o documento original fosse possuido p�la tão preocupante, pois d ificilmente todos os leitores que ti rarain um
e o matenal
instituição que ele util iza. Tend o em vista q benefício qu determinado título por empréstimo iriain de fato comprá-l o. Talvez
pode lh e trazer, talvez seja até possível considerar este um custo de alguns o fizessem, provavelmente uma pe rcentagem pequena, não
menor importância, embora essa decisão tenha q ue se r t om ada pelo mais que dez por cento do total. Os restantes noventa por cento cons­
usuário. tituem uma comunidade que nã o teria acesso àquela produção e não
N os serviços de fornecimento de fotocópias e cópias escanead�s, poderia usufru ir aquela mensagem, se não f ossem os serviços de
é preciso atentar para os custos: dependendo do volume de empres­ informação. N este sentido, o aspecto democratizante das bibliote­
timos, a biblioteca pode despender mais para ter acesso remoto aos cas é mais uma vez enfatizado. Além disso, essa comunidade bene­
documentos do que se os adquirisse e m antivesse em seu acervo, ficiada pelos serviços de inf ormaçã o será um polo de disseminação

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das ideias dos autores com que entraram em contato, e também po­ reito autoral, vigente em 2010, é a lei 9 610, de 19 de fevereiro de
derá exercer influência sobre a biblioteca quanto à seleção de obras 1998. Ela substituiu a legislação anterior, que era da década de 1970,
futuras, numa espécie de compensação pelos direitos autorais que incluindo as novas tecnologias informacionais que surgiram depois
pretensamente não teriam sido recebidos. dessa data.
Boa parte das reclamações quanto à perda de direitos autorais A lei br�sileira
_ é bastante abrangente em termos de princípios
devida à atuação das bibliotecas provém mais das editoras do que e
� � ·ais de dire1t
_ _? de a �tor, definindo algumas situações em que é
_
dos próprios autores. Os _ autores estão mais preocupados com seu licita a real1zaçao de copias de materiais. No capítulo dedicado às
direito moral de autor - o de ter seu nome vinculado a uma obra e ser limitações dos direitos autorais, a lei estipula que não constitui ofensa
reconhecido como seu criador intelectual - e em divulgar o seu aos direitos autorais "a reprodução, em um só exemplar de peque­
trabalho e suas ideias, encarando positivamente as atividades das nos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este,
bibliotecas e inclusive colaborando com elas. Os editores, como sem intuito de lucro". Isto diz respeito diretamente às bibliotecas,
empresários, costumam aplicar um enfoque mais comercial às suas pois significa que um estudante ou um usuário pode tirar uma có­
atividades, dando ênfase ao direito patrimonial de autor - o de rece­ pia de um artigo de periódico ou de um capítulo de livro para uso
ber retribuição pecuniária pela obra publicada. Ao defenderem o próprio, sem que esteja transgredindo a legislação ou ferindo os di­
pagamento dos direitos autorais, geralmente equivalente a dez por reitos autorais. Essa permissão é reconhecida internacionalmente,
cento do preço de venda, as editoras parecem estar mais preocupa­ sendo denominada fair use, isto é, uso correto ou justo. Se alguém
das com a parcela do lucro que lhes cabe e deixa de ser coletada do resolver fazer várias cópias do material, revendendo-as com lucro,
que com os direitos autorais propriamente ditos. estará desenvolvendo uma atividade ilegal e, portanto, sujeito aos
Independentemente de suas motivações, a pressão dos editores ditames da lei.
sobre as bibliotecas costuma ter uma certa intensidade, em geral ten­ As atividades de cooperação bibliotecária fazem com que a pro­
tando evitar a reprodução fotográfica dos documentos pelos usuários. blemática da realização de cópias dos documentos apareça de modo
Em alguns países, como a Inglaterra, essa pressão foi até mais longe, muito
_ mais frequente para os bibliotecários. Uma biblioteca que, por
forçando as bibliotecas a pagarem uma taxa pelo empréstimo dos meto do serviço de comutação bibliográfica, obtém um documento
livros. No Brasil, ainda não se chegou a tanto, mas também não se ou uma cópia para um usuário, inclusive, muitas vezes, cobrando
pode dizer que os editores tenham se mantido inativos a respeito. uma taxa por esse serviço, ou seja, obtendo um pequeno lucro, dei­
Frequentemente, novas tentativas são realizadas visando cercear o xou efetivamente de adquirir aquele material; em consequência,
uso de fotocopiadoras nas bibliotecas, com o argumento de que elas deixou de realizar o pagamento dos direitos autorais corresponden­
trazem prejuízos aos autores. tes. Quando esse fato ocorre uma vez ou outra, pode até ser conside­
É evidente que os produtores intelectuais necessitam receber justa rado de menor importância, concentrando-se a atenção no benefício
recompensa por sua produção científica ou literária. Sem essa re­ que foi possível obter. Mas, quando os materiais são solicitados por
compensa existiria pouco incentivo para o trabalho intelectual. Por meio da comutação bibliográfica com uma frequência acima de es­
outro lado, a sociedade não pode, para beneficiar os autores, con­ porádica, pode-se com justiça questionar se e quanto seus autores
cordar que uma parte da população deixe de usufruir dessa produ­ estão se��� prejudicados em termos financeiros. Essa é uma per­
ção intelectual. Entre outras coisas, as bibliotecas existem para cor­ gunta d1f1c1I de responder, pois isso exigiria um acompanhamento
rigir ou minorar as distorções eventualmente existentes. bastante rígido das atividades de comutação, de modo a definir onde
Os países têm leis que regulamentam os direitos autorais. Exis­ os exageros se localizam.
tem inclusive convenções internacionais, como as de Berna (1886), Esse fato afetará muito, por exemplo, as assinaturas de periódi­
Bruxelas (1948) ou Estocolmo (1967). A legislação brasileira de di- cos. Nos Estados Unidos, a lei estipula que uma biblioteca pode so-

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licitar um título de periódico por comutação bibliográfica um máxi­ ou possibilitar, instalando uma fotocopiadora na biblioteca, que to­
mo de seis vezes ao ano, sem a obrigatoriedade de efetuar o paga­ dos os interessados tirem cópias para uso próprio. Nem é necessá­
mento dos direitos autorais; uma frequência superior caracterizará, rio, como fazem os norte-americanos, colocar um aviso a respeito
segundo a legislação norte-americana, uma opção pela obtenção de dos direitos autorais nas fotocopiadoras - como fazem os fabrican­
cópias, deixando-se de efetuar a assinatura do periódico ( aliás, é tes de cigarros, quando imprimem nos maços do produto que 'fu­
importante lembrar que a palavra inglesa copyright é muito melhor mar é prejudicial à saúde' ... - alertando sobre os males que as cópias
traduzida como direito de cópia do que exatamente como direito de podem trazer aos autores do textos copiados.
autor). Essa preocupação intensificou-se com o aparecimento de Por outro lado, não se deve assumir uma atitude leviana em rela­
empresas especializadas no fornecimento de cópias de artigos de ção à utilização de cópias no dia-a-dia da administração das cole­
periódicos, que recebem pagamento por elas. Com a popularização ções. O custo relativamente baixo das cópias pode tornar irresistível
das máquinas de fax e das diversas modalidades de comunicação a tentação de incorporar ao acervo uma cópia feita localmente, ao
eletrônica, essa atividade ampliou-se, constituindo uma área comer­ invés de adquirir o material pelos canais normais. Isso acontece em
cial em expansão. As empresas que atuam nessa área são obrigadas relação a títulos importados, cujos preços e mesmo as dificuldades
a incluir na conta um valor equivalente ao pagamento dos direitos burocráticas para aquisição funcionam como elemento desestimu­
autorais, normalmente calculado como uma percentagem do total, o lador. Parece mais fácil, simples e barato fazer uma cópia integral do
que às vezes faz com que a obtenção de uma cópia de um simples material, obtido por comutação bibliográfica ou deixado pelos li­
artigo fique mais cara do que a aquisição de todo o volume do mes­ vreiros como demonstração, do que se engajar no processo de com­
mo periódico. Esse valor costuma ser repassado para o usuário, en­ pra. As implicações éticas de tal procedimento são mais do que evi­
carecendo o processo de obtenção de informações. Parece um pouco dentes para serem enunciadas.
de ingenuidade acreditar que os autores dos artigos serão beneficia­ Mesmo essá atitude tem atenuantes. Veja-se este caso: a bibliote­
dos com isso, ainda mais quando se considera que as editoras de ca decidiu adquirir um título e providenciou sua inclusão na próxi­
periódicos científicos exigem, para a aceitação de trabalhos para ma aquisição. Vários fatores, no entanto, impedem a disponibilida­
publicação, que os autores assinem um compromisso cedendo-lhes de imediata do material para os usuários:
seus direitos autorais.
Os editores de periódicos não ficaram inativos em relação ao uso • o fornecedor levará um certo período de tempo para efetivar a
generalizado de cópias de seus materiais nas instituições bibliotecá­ entrega;
rias. Com a justificativa de contrabalançar suas perdas, definiram • a verba para aquisição demorará a ser liberada;
que as bibliotecas pagariam um preço diferenciado pelos periódicos, • o título encontra-se esgotado.
superior ao pago pelo assinante individual. Isto, no entender deles,
atua como um elemento compensador para os leitores extras, não­ Nesses casos, é possível defender a elaboração de cópias para aten­
pagantes, a que as bibliotecas atendem. der à demanda mais imediata, com sua consequente eliminação quan­
Para as bibliotecas, é claro, essa medida é um inconveniente, au­ do os materiais estiverem efetivamente disponíveis.
mentando suas dificuldades para aquisição de materiais. Mas pode
ser vista como um elemento de despreocupação no que se relaciona Os mesmos argumentos poderiam ser usados quanto a cópias
à responsabilidade dos bibliotecários quanto aos direitos autorais, extras de materiais existentes no acervo, a fim de atender a aumen­
pois essa quantia adicional significa o pagamento desses direitos. tos imprevistos da demanda. A substituição por fotocópias de mate­
Neste sentido, não existem, realmente, motivos para dramas de cons­ riais totalmente danificados ou comprometidos por uma utilização
ciência por colocar os materiais à disposição de um grande público intensa parece justificar-se no caso de títulos esgotados.

96 97
Embora os exemplos utilizados tenham se_referi?� apenas a do­
cumentos impressos, a preocupação em relaç�o _ a co�1as este�de-se
-
a todos os tipos de m ateriais. Por exemplo, copias nao- autou� adas
de filmes em DVD, também conhecidas como DVDS plfatas, constituem 11
violação dos direitos autorais de toda �1� a classe artístic a e sua �qu1-
sição deve ser evitada por parte da b1bhoteca, de modo que na? se
torne cúmplice em uma violação da lei, sei� cont� q�e a dur�b1l�da­
de e qualidade dessas produções clandestmas nao sao c?nfiave1s.
O futuro da seleção
Em relação ao uso dos DVDS ou das antigas fit as de videocassete
nas bibliotecas, deve-se notar que não existe um consenso a respeito
da g ravação, pelas próprias bibliotecas,?: programas ou apre�enta­ É COMUM ouv1R FALAR no fim das bibliotecas, como são conhecidas até
ções transmitidas pelos canais de telev1sao, com a postenor mcor­ hoje, ou seja, um edifício onde se armazenam materiais de informa­
poração dessas fitas ao acervo. �lguns autores defenden? qu� ela: se ção (predominantemente livros) sob os cuidados de p rofissionais
enquadram nas definições de Jair use, mas nem todas as 1rnphcaçoes conhecidos como bibliotecários. A bibliografia de biblioteconomia e ,,
_ ciênci a da informação e as publicações voltadas p ara o grande pú­
se encontram totalmente esclarecidas qu anto a esse aspecto. Os ns­
cos são menores quando se realiza a cópia de programa� d� modo blico divulgam previsões que enaltecem as delícias de um mundo
parcimonioso, copiando-se apenas materiais irnprescmd1ve1s e am­ onde a informação em p apel será apenas uma lembrança, vista so­
da não disponíveis para aquisição no mercado, corno, por exemplo, mente em museus.
Esse futuro foi e é idealizado em um maravilhoso cenário onde a
um programa recente de debates, um docum _ :ntário,_ etc. O risco �e
virar réu em um processo judicial por v1olaçao de dire�t?s autorais informação flui rá até seus interessados de maneira quase instantâ­
será menor se as cópias em vídeo de programas telev1s1_ ��s forem nea, b astando, para tanto, ter-se um computador, um modem e um
destinadas exclusivamente para empréstimo/uso dom1c1har, se1:1 dispositivo de comunicação. Nesse contexto, falar em seleção de
qualque r finalidade lucrativa. Copiar os víd�os e exibi-los em a�d1- materiais chega mesmo a ter como que um ranço de saudosismo
ência coletiva para a comunidade, cobrando mgres�o �ara a sessao e antecipado. Afin al, esta é uma época m arcada pela inconstância no
, plano das idei as e no d as tecnologias, que surgem e proliferam ain­
divulgando essa atividade de todas as formas poss1ve1s � colocar-se
, da mais rapidamente.
em uma posição muito vulnerável perante os responsave1� pela pro­
dução original e eles t alvez não apreciem mui�o descobr�r �ue seu Na área da inform ação, os avanços ocorreram com rapidez es­
trabalho está dando lucros para out ros que nao eles propnos, to­ pantosa. Segundo Paul Shaughnessy, passamos "da biblioteca basea­
mando medidas judiciais a respeito (alguém já se imaginou en�ren­ da em papel p ara a biblioteca automatizada em um período de cerca
tando uma grande rede de televisão na Justiça?). Nesta questa_ o, o de duas décad as" . 1 A revolução da eletrônica bate às portas das bi­
bibliotecário deverá guiar-se po r aquilo que o b�m sen�o lhe d,z_ ser bliotecas e centros de inform ação e parece acenar-lhes com o desti­
, � no inexorável de seu desap arecimento.
a opção mais ap ropri ada. Como diz o _velh? �'.tado: prudencia e
caldo de galinha nunca fizeram m al a nmguem . Aparentemente, não h averi a futuro para essas instituições que
se encontram. Em alguns casos, instal ad as em p rédios imensos e
suntuosos, onde armazenam prioritariamente livros e outros m ate­
riais de informação em suporte de papel. Tampouco haveria futuro
par a os profissionais responsáveis por esses acervos.
Se não há futuro, seria o caso de indagar quais os motivos que

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levaram países como a França e a Inglaterra a construir novos e enor­ portátil, possibilitando sua utilização em qualquer local, na posição
mes edifícios para abrigar suas bibliotecas nacionais, edifícios esses que o leitor julgar mais confortável.
que parecem representar a antítese da biblioteca sem muros que o A imaginação talvez seja o único limite para as possibilidades de
futuro prenuncia. utilização do livro. Pode ser utilizado das mais diversas formas, de
Sob muitos aspectos, é wn mundo fascinante esse que se vislumbra, acordo com os interesses e objetivos do indivíduo, pois nada impe­
onde os indivíduos terão acesso a todas as informações de que neces­ de que alguém leia um dicionário da primeira à última página ou
sitem (ou mesmo àquelas de que jamais irão ter necessidade algu­ que desfrute de uma obra de ficção pela leitura de capítulos aleato­
ma). Mas é também um mundo de características algo assustadoras, riamente escolhidos.
na medida em que ainda não se conhecem seus contornos e se ignora O livro possui, em Peral, um preço acessível para as camadas
o que esse novo ambiente representará em termos de ampliação da médias da população. E relativamente resistente, conservando suas
liberdade de opções (ou mesmo de negação dessa liberdade). características e legibilidade, em circunstâncias normais, por tempo
Na realidade de uma informação eletrônica onipresente, imagi­ bastante longo.
na-se que cada cidadão será seu próprio profissional da informação. A tecnologia ainda não conseguiu produzir uma tela de compu­
Contará com a ajuda de sistemas especialistas, que executarão todas tador que permita reproduzir com fidelidade a experiência de leitu­
as tarefas hoje desenvolvidas por profissionais humanos especiali­ ra de um livro com todas as suas nuances. É um interessante exercí­
zados (os bibliotecários). Isto faz acreditar que, sem dúvida, um fu­ cio mental imaginar um indivíduo sentado durante horas à frente
turo sombrio aguarda as instituições ligadas à preservação e disse­ de um computador, para a leitura das quase mil páginas do Ulisses
minação da informação. Nele parece haver pouco espaço para a dis­ ou do Finnegan's Wake, de James Joyce.
cussão de um assunto como a seleção de materiais de informação, Ainda demorará muito para que toda a informação disponível
na medida em que este diz respeito ao exame dos materiais que se­ em formato impresso seja transferida para suportes eletrônicos. Gran­
rão armazenados nessas instituições. de parte da informação que as pessoas buscam nas bibliotecas, prin­
Será esse o futuro que nos espera? Devemos aceitar como infalí­ cipalmente públicas, ainda não está disponível por via eletrônica.
veis as previsões? Devemos acreditar que só haverá bibliotecas vir­ Talvez até jamais se venha a reconhecer como prioritária sua trans­
tuais para os habitantes do século xx1? ferência para suportes eletrônicos. As informações históricas, por
Isto talvez seja um exagero. Existem motivos para pensar em ou­ exemplo, principalmente as de interesse local, só estão disponíveis,
tras possíveis alternativas, que não significariam o desaparecimento em sua maioria, em formato impresso. E que dizer da literatura de
dessas instituições. ficção, da qual apenas uma parcela está disponível em forma eletrô­
Não se trata de renegar as mudanças, mas entendê-las e nica, apesar dos diversos projetos desenvolvidos com o objetivo de
contextualizá-las. Com este princípio em mente, tecerei considera­ realizar essa transferência?
ções sobre as razões da permanência dos materiais impressos no
panorama dos serviços de informação do futuro,� e�aminar�i qu:s­ O custo do livro
_
tões relativas à desintermediação e suas consequenc1as/Imphcaçoes
para a seleção de materiais de informação. Alguns tipos de materiais de informação representam uma opção
mais econômica de produção quando em formato eletrônico. É o
A adequabilidade do livro caso, por exemplo, de muitas obras de referência disponíveis em
suportes eletrônicos. Nesse formato, são muito mais acessíveis e fá­
O livro é um objeto adequado à finalidade para a qual foi criado. � ceis de utilizar do que as verdadeiras monstruosidades que são suas
prático, pois não depende de qualquer fonte externa de energia. E edições impressas em papel.

100 101
A passagem d essas obras para form ato eletr_ôni�o, _ e12"1 co-R�M ou
na intern et, representa uma vantagem Pª:ª as mshtu1çoes d: 1�f�r­ cussão desse assunto com eça a aparecer na literatura especializada,
_ e al guns países buscam uma legislação que permita o equaciona­
mação. M as O preço de uma obra de referencia em co-R?M � ao e tao
. inferior ao d a edição em papel. Sem contar os cus�os _md1retos d_a mento da questão, embora aind a se esteja longe de uma resposta
utilização d� formatos eletrônicos. Em termos econom1cos � su�st'.­ satisfatória. I nexistem formas confiáveis para controlar a utilização
tuição não par ec e haver trazido gr ande vantagem para as mshtut­ de um texto disponível na red e, d e modo a oferecer justa r etribuição
_ ao autor pela utiliza ção d e s uas id eias. M as a questão não termina
ções de informação, mas, sem dúv!da, trouxe comodidade para os
usuários. Isto compensa tudo o mats. aí. Da for ma como as coisas estão, grand e parte da indústria editori­
- . al estará f adad a à implosãp, caso instrumentos eficien tes de contro­
A mesma defesa da opção pelos suport es eletrom�os pode s�r
feita quanto a monografias e periódicos de pequen a tiragem, CUJO le das informações veiculad as p elos meios eletrônicos não sejam ra­
custo em papel é alto. No caso de grandes tiragens, os c ustos_ de pidamente desenvolvidos.
produção favorec em a impressão em �ap_el . � mesmo se pode dizer Por outro lado, há dúvidas quanto a se um controle total seria
a respeito d e revist as para o grande publico. realmente algo desejável ou se não traria escondido o p erigo de se
estabelece r um est ado d e vigil ância incompatível com os anseios de

O contexto social da informação liberdade do ser h um ano.

Uma das questões que ainda nã_o estão ?en:i-equ�ci�nadas na �isse A seleção de materiais na era da informação eletrônica
:
minação via red es eletrônicas diz resp�1to a conh ab1ltdade da mfor
mação. Não existem indic adores suficientes que garantam que um Hoje, a expressão mais popular no m undo acadêmico parece ser de­
texto recebido pela internet em um computado: é �xata11:1ente o texto sintermediação, que está sendo utilizada por p rofission ais das mais
prodUZI·do pelo autor. A probabilidade de alguem mtervtr no proces- variadas áreas, i ncl usive p rofissionais da informação.
so, refazendo, ad ulterando ou modificando u1� text� e dº1stn·b um- . Desintermediar seria for talecer "o receptor para que estabeleça
do-o seg undo seus interesses constitui uma var1avel vtrtualment e (e conexões que antes só pod eriatn se r feitas com o auxílio de um in­
a palavra pode ser ap licada com dup_lo sentido) incontro láv_ el. A termediário h umano, o que era mais dispendioso para a instituição
_ e mais limi tante p ara o receptor". 4
superestrada da informação lembra a btbhoteca de Babel m enciona­
da por Borges, contendo todo e qualq�e� livro p�ssível �n: todas as Imagina-se que a superestrada da informação to rnará realidade
suas possibilidades, o original e sua copta, a copia da copia � t?das essa desintermediação. Talvez extrapolando a figura utilizad a -
as outras cópias imagináveis, cada um a com pequenas e m1mmas autoestrada -, imagi na-s e q ue, ao trafeg ar por ela, os us uários te­

diferenças entre si. nham autonomia para b uscar seus p róprios catninhos, definir os ata­

Essa possibilidade de deturpação das ideias não ocorre com igual lhos preferidos, demarcar os pontos p rediletos de descanso, as pai­
facilidade nos textos impr essos em p apel. Encerrado o processo � e sagens que merecem maio r aten ção, etc. Temos de admiti r que mui­
edição de um livro, as informações que ��nté� n �o ��de1:1 ser faci l­ to disso já é realid ad e. S erá uma estrada sem sinalização, mas talvez
mente modificadas, pois qualquer mod1ftcaçao s1gmficana um pro­ a maior emoção da busca se d eva m ais à incerteza sobre o que en­

cesso de edição distinto do primeiro. Isto traz segur_ �ça a� prod�­ contrará após a próxima c urva do que ao objeto/informação que se
tor intel ectual, que quer ter garantia de que suas ideias nao serao deseja encontrar.
deturpadas no processo de distribuição. 3 Não há certeza se o f ut uro d a informação corr espond erá a esse
_ . , •
Outro fator importante refere-se à compensaça� pecumarta �o cenário. Ao ter possibilidad e de acessar as inform ações, a p essoa
autor. E seria possível enfocar também a compensaçao moral. A d1s- poderá optar entre o acesso direto e o rec urso a um intermediário,
que as identifique e localiz e ( no caso, o profissional da informação).
102
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A decisão p ela segunda alternativa dependerá de fatores como a dis­ obtê-lo por empréstimo entre bibliotecas. Os custos disso não eram
ponibilidade ou int eresse do usuário em aprender a utilizar a rede tão complicados e nem tão difíceis de equacionar. A possibilidade
el etrônica, obtendo o maior b en efício possível, ou a qualidade do de cooperação bibliotecária sempre foi um dos elementos conside­
serviço obtido p elo profissional da informação. rados no momento da decisão de seleção.
É natural pensar que nem todas as pessoas terão suficiente domí­ �oje, te_ r acesso ao cont, eúdo de um documento pode significar
nio das técnicas de recuperação da informação, seja no ambiente dos muito mais do que locahza-lo em uma biblioteca. Implica conectar­
materiais impressos, seja no ambiente da informação eletrônica. Ain­ se a um computador remoto e transf erir o documento para o com­
da que cedêssemos ao otimismo mais ingênuo, imaginando que a putador da biblioteca ou do próprio usuário. No entanto, a questão
evolução dos meios eletrônicos fará com que sejam de manuseio _
continua a mesma : ta nto antes como agora são necessárias análises
a migável e fácil, mesmo assim uma boa parcela dos indivíduos po­ que possibilit em o conh ecimento preciso do custo real desse acesso.
derá preferir delegar essa atribuição a um profissional mais bem O el eme nto complicador é que deverão ser incluídos custos antes
preparado nas técnicas de recuperação da informação. inexistentes, como os de aquisição e manutenção de equipamentos,
No ent anto, uma visão mais serena das promessas da tecnologia de pes:oal operacio�al especi alizado, da impressão em papel ou
da comunicação eletrônica talvez revele que as mudanças não ve­ .
gra ';'a çao em outra mtdt a, do t empo de tel ecomunicação, etc.
nham a ser tão drásticas quanto desejariam alguns (embora não ve­ E evident e qu e as políticas de sel eção deverão ser definidas com
nham a ser tão tímidas quanto desejariam outros). As mudanças ocor­ base não só em critérios de custo-be nefício, mas também outros,
rerão, mas sua magnitude está muito mais no terreno da especula­ desde as características inerentes ao ca mpo de conhecimento onde a
ção do que no campo da realidade possível. Embora sem a mesma seleção ocorre a té as particularidades dos clientes e do ambiente onde
emoção d as antevisões apocalípticas, é necessário reconhecer que o º: serviços de inf �n� açã? se l �calizam. Isso coloca novas preocupa­
desa parecimento de livros e bibliotecas não ocorrerá de maneira � s para_os pro !1s�1ona 1s da mfonn ação. Imagine-se a opção pela
o e
imediata. mformaçao eletromca em uma região onde os serviços de telecomu­
Daí a necessidade de prosseguir com a discussão da proble!náti­ nicação são insatisfatórios devido à ausência de conexão de banda
ca da seleção de materiais nesse novo contexto informacional. E pre­ I a �ga, e, n� caso d � (inh as t elefônicas, congestionam entos, quedas e
ciso, porém, e ncarar a questão de um ponto de vista não-exclusivista rUJdos de lmh a e d1f1culdades de manutenção. Ao invés de um usuá­
no que concerne às fontes de informação a serem objeto da nova rio satisfeito, haverá mais reclamações, queixas e frustração com os
prática profissional. serviços recebidos.
Num mundo onde materiais impressos conviverão, espera-se que Isso po�e1:á ser sa nado por meio de investime ntos maciços na
em harmonia, com os suport es eletrônicos, serão muitas as implica­ ,
area tecnologtca. Enquanto tal não acontece, continua s endo UJn as­
ções para as atividades dos profissionais responsáveis p ela seleção pe�to imp?r�ante a pesar na sel eção de informaçõ es disponíveis por
de materiais. Em princípio, esta realida de, que ocorrerá nos mais me10 el etromco. S eJ a qual for o meio utilizado, deve-se ter em men­
variados tipos de instituições de informação, não parece apresentar te q�e o fim almej ado é o forn�cimento da informação desejada/ne­
grandes problemas para os profissionais, pois eles já têm, principal­ .
cessar1a ao menor custo poss1vel para a instituição e com o maior
mente no mundo mais desenvolvido, mas não exclusivamente nele, nível de satisfação para o usuário.
a percepção d e que não s e pode mais atender às necessidades de T�1mbém é nec essário refletir sobre as repercussões que a infor­
A . ,
informação da comunidade utilizando-se ap enas os recursos local­
�açao el<:_trornc� tera em relação ao próprio usuário dos serviços de
mente disponíveis. mform�çao. J:foJe, a m�utenção de um título no acervo significa
Faz pouco tempo, as alternativas existentes para se ter acesso efe­ ac esso 1rr�stnto a :sse tit ulo, s em ônus adicional. A definição dos
tivo ao conteúdo de um documento eram: adquiri-lo por compra ou custos da mformaçao obtida por intermédio de redes eletrônicas ain-
104 105
da é mais ou menos incerta, mas pode-se especular se será possível duzido pelo mercado. Ele responde a condições específicas da co­
às bibliotecas manterem indefinidamente a prática de não-cobrança munidade e a objetivos precisos, definidos pela organização à qual
ao usuário pela utilização de meios eletrônicos. a biblioteca está subordinada.
Se os custos vierem a ser repassados ao usuário, haverá mais uma Esta descrição da realidade permru1ece válida. O mercado conti­
barreira para a utilização dos serviços de informação, que ficarão nua a produzir informações de forma incontrolada, agora também
restritos a quem puder arcar com esse ônus. Isto colocaria em xeque, em formato eletrônico. Definir determinados agrupamentos de in­
por exemplo, as bibliotecas públicas como local de livre acesso às formação eletrônica será a tarefa dos bibliotecários responsáveis pela
ideias, ainda que se possa argumentar que livre acesso não significa seleção. Talvez a importância social da atividade tenha sido
acesso gratuito. incrementada, ao invés de minimizada, pelas tecnologias da infor­
Em países onde os índices de desigualdade social são elevados, mação eletrônica.
cabe aos responsáveis pela seleção e aos gerentes das instituições Como comenta Thomas Nisonger, lembrando Ortega y Gasset,
bibliotecárias definir políticas que garantam a todos o acesso à in­ "os bibliotecários ainda se deparam com a mesma responsabilidade
formação, independentemente de suas disponibilidades financeiras, em relação às publicações eletrônicas: filtrar do grande número dis­
definindo os casos de isenção do pagamento. ponível a parcela que é relevante ao atendimento das necessidades
Algumas instituições sentirão mais rapidamente as pressões para de informação de seus clientes". 5
abandonar o objetivo de atender às necessidades de informação dos Ao possibilitar acesso a uma parcela específica da informação
usuários com recursos próprios. De um lado estão as bibliotecas de digitalizada, por meio de um link do servidor da biblioteca, por uma
pesquisa, e do outro, as públicas. É provável que estas demorem a base de dados eletrônica, o responsável pela seleção estará criando
mudar, e continuem utilizando, predominantemente, seus próprios um "subconjunto altamente seletivo de objetos de informação dis­
recursos para atender à demanda. Essa demora será maior em paí­ poníveis, segregados e favorecidos, aos quais o acesso é possibilita­
ses menos desenvolvidos. Em países avançados há bibliotecas pú­ do e aos quais a atenção do cliente/usuário é dirigida em oposição
blicas onde a informação eletrônica faz parte da realidade cotidiana, aos objetos excluídos". 6 Com essa atividade, agregará valor ao que
convivendo em harmonia com os recursos impressos. existe na rede eletrônica, ao informar aos usuários que os itens 'sele­
A decisão entre acesso e posse dos documentos sempre ocorreu, cionados' atendem a determinados requisitos de autoridade, fide­
ou deveria ter ocorrido, levando em conta as condições de cada ins­ dignidade e credibilidade, assim como seus antecessores que apli­
tituição. Nada indica que isso deva modificar-se no futuro. É prová­ carrun critérios de seleção aos materiais impressos que armazena­
vel que as instituições de informação continuarão a optar pelo aces­ vam nas bibliotecas.
so aos documentos quando esta alternativa for menos dispendiosa Esse valor será agregado por intermédio de uma política mais
do que a compra, processamento e armazenamento do documento runpla, voltada para o desenvolvimento global da coleção, que se
impresso, for a única possibilidade de acesso à informação, ou o modo consubstanciará na prática diária da seleção. Esse acréscimo de va­
de acesso significar um valor agregado à informação, seja pela pos­ lor será realizado a partir da consideração das características da cli­
sibilidade de busca por palavras-chave, seja pela apresentação em entela. Este continuará sendo o requisito primário para o êxito da
um formato mais conveniente. seleção de materiais, seja em que ambiente for. As palavras de Tefko
Tradicionalmente, a seleção de materiais de informação enfocou Saracevic, em mesa-redonda sobre o futuro das bibliotecas, vêm a
a definição de critérios que justificassem determinado agrupamento calhar para o encerrrunento deste capítulo:
de documentos em um ou mais espaço(s) físico(s) determinado(s).
Este agrupamento é definido em contraposição a todos os outros Hoje na internet todo mundo é um editor e não existe absolutamente qualquer
controle. Não existe qualquer controle da informação, não existe qualquer cer-
possíveis, inclusive o universo de publicações não-controlado pro-

106 107
tificação da qualidade, não existe qualquer forma de avaliar a qualidade, não
existe nada nesse sentido. É um dos segredos sujos da internet. Você pode en­
contrar isso, você pode encontrar aquilo, mas quanto disso é bom? quanto é
útil? quanto é bonito? e quem vai ser o juiz? Pelo menos até agora, nós, na
biblioteconomia e na ciência da informação, não estamos desempenhando um
12
papel na avaliação, ou mesmo no estabelecimento de critérios para isso, mas
alguém terá que fazê-lo: alguém terá que começar a falar de critérios - sobre se
se pode ter alguma certeza de que aquilo que se está encontrando tem alguma
veracidade e alguma realidade.7 Considerações finais
Notas
QuE NINGUÉM SE ENGANE: a leitura deste livro não capacitará o biblio­
SHAUGHNESSY, Thomas W. The library director as change agent. ]ourna/ of Library tecário à auto-suficiência na seleção de materiais de informação.
Administration, v. 22, n. 2/3, p. 43-56, 1996. Imagino, talvez com o entusiasmo de autores estreantes, que ela lhe
2 Para quem deseja aprofundar-se nesta questão, talvez o melhor texto disponí­ dará mais confiança em si mesmo, possibilitando-lhe realizar um
vel, apesar do radicalismo de seus autores, seja o de Walt Crawford e Michael
trabalho de melhor nível. Mas minhas ilusões param aí, pois ainda
Gorman, Future Iibraries: drearns, madness & reality (Chicago: American Library
Association, 1995), cuja leitura aconselho. existe muito para ser falado, discutido, questionado, repensado,
3 Mais informações em PROBST, Laura K. Libraries in an environment of change: devido às condições específicas de atuação, à diversidade de situa­
changing roles, responsibilities, and perception in the information age. Journal ções onde se identificam e avaliam os materiais para seleção. Cada
of Library Administration, v. 22, n. 2/3, p. 7-20, 1996, e RowLEY, Jennifer. Libraries estrada será feita pelo próprio caminhar.
and the electronic information marketplace. Library Review, v. 45, n. 7, p. 6-18,
1996. Este livro propõe passos iniciais, que entendo necessários para todos
4 ATKINSON, Ross. Library functions, scholarly communication, and the foundation · os profissionais, independentemente das bibliotecas onde atuem.
of the digital library: laying claim to the contrai zone. Library Quarterly, v. 66, n. Acredito que instituições de informação mais eficientes, com acer­
3, p. 239-265, 1996. vos e serviços que respondem de forma adequada às necessidades
5 N1soNGER, Thomas E. Ccillection management issues for electronic journals. IFLA
journal, v. 22, n. 3, p. 233-239, 1996. dos usuários, passam pela definição correta das atividades de sele­
6 ATKINSON, Ross, op. cit.. ção. Entendo, inclusive, que não se trata de simples opção profissio­
7 Citado por Tefko Saracevic na p. 519 do painel intitulado LIBRARIES present and nal. É uma imposição ética. Nenhum profissional pode contentar-se
future: the future of the library profession. The ºE/ectronic Library, v. 14, n. 6, p.
com a mediocridade.
517-522, 1996.
Quero encerrar com uma nota otimista e não como um velho de
dedo em riste. Minha experiência, como docente e autor, tem-me
feito acreditar cada vez mais na importância desta área. Neste mun­
do em ebulição, há muito a ser feito e o papel a ser desempenhado
pelos profissionais da informação está ainda virgem, pronto para
ser preenchido, à espera de que eles mesmos definam a forma como
irão ocupá-lo. O fascinante nisso tudo é que não existem limites pos­
síveis para a atuação profissional, bastando apenas que se tenha a
coragem de ousar. Mais do que nunca, agora compensa sonhar.

108 109
CuRLEY, Arthur & BRODERICK, Dorothy. Building library collections. 6.ed.
Metuchen, N.J.: Scarecrow, 1985. - Título antigo, originalmente escrito por
Carter e Bonk, quando tinha enfoque dirigido para a seleção de materiais.
Bibliografia complementar Nesta edição é mais abrangente, buscando o desenvolvimento de coleções.
Os capítulos sobre seleção são exageradamente voltados para bibliotecas
públicas. Leitura valiosa para quem deseja ampliar seus conhecimentos na
Esta lista menciona títulos que trazem informações complementares para área.
os leitores. A maioria é em língua inglesa, refletindo a predominância desse D1cKINSON, Gail K. Selection and evaluation of electronic resources. Englewood,
idioma na literatura profissional. Todos foram utilizados na elaboração deste co: Libraries UnlimHed, 1994. - Um dos primeiros livros dedicados à sele­
livro, por isso alguns leitores notarão que já têm familiaridade com parte
das ideias apresentadas nas obras. Para melhor organização, agrupei os ma­ ção de materiais eletrônicos em bibliotecas, aos quais muitos outros se se­
teriais segundo três categorias: livros, publicações periódicas (abrangendo guiram. Para muitos bibliotecários brasileiros, para quem a informação ele­
tanto os títulos de uma publicação como fascículos específicos), e docu­ trônica ainda não ocupa lugar importante em .seus acervos, grande parte
mentos e listas de discussão eletrônicos. Relacionei títulos que tratam espe­ da discussão poderá ter pouco sentido prático. No entanto, essas discus­
cificamente da seleção de materiais e os que tratam do desenvolvimento de sões, que à época de sua publicação pareciam apenas acadêmicas, encon­
coleções em geral. tram cada vez mais ressonância em nosso meio, mantendo esse texto ainda
bastante pertinente. Na própria internet encontram-se vários textos sobre
seleção de materiais eletrônicos e digitais que merecem ser objeto de aten­
Livros
ção, como os mencionados na página mantida por Alastair Smith desde
ANDRADE, Diva, VERGUEIRO, Waldomiro. Aquisição de materiais de informação. 1996, intitulada' Evaluation of information sources' (disponível em http://
Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 1996. - Dada a exiguidade da literatura www.vuw.ac.nz/staff/alas tair_smith/evaln/evaln.htm).
em português, um texto sobre aquisição pode ser pertinente para ampliar
ELusoN, John. W. (ed.) Media librarianship. New York: Neal-Schuman Publ.,
as reflexões sobre as consequências das decisões de seleção, tornadas real­
1985, p.171-273: Selection. - Manual didático dedicado aos multimeios
mente efetivas a partir do trabalho da aquisição. As duas atividades estão
em bibliotecas, abordando-os desde o tratamento técnico à divulgação. Os
muito ligadas e as respostas possibilitadas por uma acabam se refletindo
capítulos sobre seleção de multimeios são interessantes.
na outra, e vice-versa.
EVANS, G. Edward; SAPONARO, Margaret Zarnosky. Developing libra1:; and
BARKER, Keith (ed.) Graphic account: the selection and promotion of graphic
information center collections. 5. ed. Littleton, co: Libraries Unlimited, 2005.
novels in libraries for young people. Newcastle-under-Lyme: Toe Library As­
- Imprescindível para qualquer bibliotecário interessado em aprofundar
sociation; Youth Libraries Group, 1993. - Enfoque pragmático sobre a se­
seus conhecimentos sobre seleção. Considero o manual mais completo so­
leção de histórias em quadrinhos em bibliotecas, organizado por un1 bibli­
bre desenvolvimento de coleções existente no mercado. Nesta quinta edi­
otecário com experiência prática na área. Aborda apenas as graphic novels,
ção, al guns capítulos, como o de materiais eletrônicos, informação gover­
que são parcela importante da indústria de histórias em quadrinhos, mas
namental e compartilhamento de materiais foram quase totalmente rees­
não chegam a esgotar o leque de veículos pelos quais as histórias em qua­
critos. A edição traz um CD com material suplementar, e um sítio a ser criado
drinhos são divulgadas. Considerando que as graphic novels, em âmbito
na internet fará atualização dos URLS citados no livro.
internacional, têm representado uma espécie de cartão de visitas do gêne­
ro e têm aberto as portas das bibliotecas para esse material, o livro consti­ FENNER, Audrey (ed.) Selecting materiais for library collections. New York :
tui uma leitura bastante proveitosa. Haworth Press, 2004. - Publicado originalmente no periódico Acquisitions
Librarian, apresenta capítulos sobre seleção de materiais para várias cole­
BROADUS, Robert N. Selecting materiais for libraries. New York: H. W. Wilson,
ções especializadas, como, por exemplo, música, artes, estudos chineses,
1981. - Um manual já tradicional na área. Bastante claro e preciso, busca
esporte e lazer.
tratar a fundo, de maneira sistemática, a questão da seleção em bibliotecas.
Apesar de publicado há mais de quinze anos, continua uma leitura obriga­ FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Desenvolvimento e avaliação de coleções. Rio de
tória para aqueles que desejam aprofundar-se no assunto.
111
110
Janeiro: Rabiskus, 1993. - Coletânea de artigos sobre desenvolvimento de LEE, Stuard D. Building an electronic resource collection: a practical guide.
coleções publicados pela autora em revistas brasileiras. Apresenta uma London: Library Association, 2002. - Apresenta um panorama dos recur­
reflexão sobre a literatura internacional na área de desenvolvimento de sos eletrônicos em bibliotecas de todos os tipos, abordando-os sob vários
coleções, procurando refletir sobre as características da biblioteconomia bra­ aspectos. Especialmente útil é o capítulo que analisa formas de avaliação e
sileira. Apesar dos anos decorridos desde sua publicação, seus questiona­ aquisição de recursos eletrônicos.
mentos e pontos de vista continuam atuais. Traz capítulo sobre seleção de
MIRANDA, Antonio. Seleção de material bibliográfico em bibliotecas universitári­
livros.
as brasileiras: idéias para um modelo operacional. Brasília: CAPES/ABDF, 1978. -
FurAs, Elisabeth (ed.) Collection development policies and procedures. 3. ed. Publicado há mais de três décadas, mantém-se atual.
Phoenix: Oryx, 1995. - Coletânea de políticas para o desenvolvimento de
OsBURN, Charles & ATKINSON, Ross (ed.) Collection management: a new treatise.
coleções, utilizadas em bibliotecas públicas e universitárias norte-america­
Greenwich: JAI Press, 1991. (Especialmente os três capítulos relacionados
nas. Organizada de maneira bastante prática, permite o acesso por insti­
com a seleção de materiais, nas páginas 273 a 335.) -Indispensável para
tuições e materiais específicos. Essencial como fonte para a definição de
os interessados em desenvolvimento de coleções. Os capítulos sobre sele­
políticas próprias.
ção merecem leitura atenta.
HucHES, MargaretJ. & KATZ, Bill (ed.) A.V. in public and school libraries: selection
PATTIE, Ling-yuh W.; Cox, Bonnie Jean (ed.) Electronic resources: selection and
and policy issues. New York: Haworth Press, 1994. - Publicado original­
bibliographic control. New York: Haworth, 1996. - Publicado originalmente
mente como um fascículo de Acquisitions Librarian, enfoca a seleção de
como fascículo de Cataloging & Classification Quarterly, traz artigos sobre
materiais audiovisuais em bibliotecas públicas e escolares, do ponto de vista
seleção e controle bibliográfico de recursos eletrônicos, constituindo um
da biblioteconomia norte-americana. Traz informações úteis para as ati­
guia básico para profissionais e estudantes. Os artigos dividem-se entre
vidades de aquisição desses materiais. Interessante capítulo sobre audiolivros.
seleção e processamento técnico. Abordagem teórica e prática.
JoHNSON, Peggy; MAcEwAN, Bonnie (ed.) Collection management and develop­
PEROTA, Maria Luiza Loures Rocha. Multimeios: seleção, aquisição, processa­
ment: issues in an electronic era. Chicago: American Library Association, 1994.
mento, armazenagem, empréstimo. Vitória: O. Ceciliano Abel de Almeida, 1991.
- Coletânea de trabalhos apresentados em um evento sobre desenvolvi­
- Provavelmente a única obra em português sobre o assunto.
mento de coleções, versando sobre o desenvolvimento de coleções na era
da eletrônica. Os trabalhos apresentam às vezes certo desequilíbrio entre SPILLER, David. Book selection: principies and practice. 5. ed. London: Clive
si, na medida em que alguns autores são mais profundos do que outros. Bingley, 1991. - Um manual bastante tradicional de seleção, tratada de
Embora nenhum dos textos trate da seleção de meios eletrônicos, o livro é um ponto de vista prático, apesar do enfoque demasiadamente centrado
importante para ampliar as perspectivas sobre o impacto desses meios nas na biblioteconomia inglesa. Continua atual.
atividades dos profissionais da informação. Saliente-se o capítulo de Ross
Atkinson, 'Access, ownership, and the future of collection development'. VERGUEIRO, Waldomiro. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis; Asso­
ciação Paulista de Bibliotecários, 1989. - Uma abordagem ampla e inicial
JoHNSON, Peggy; MACEI-VAN, Bonnie (ed.) Virtually yours: models for managing sobre desenvolvimento de coleções.
electronic resources and services. Chicago: American Library Association, 1999.
- Outra reunião de trabalhos apresentados em evento sobre desenvolvi­
Periódicos especializados e artigos específicos
mento de coleções, tem as limitações inerentes a esse tipo de coletânea,
embora apresente uma boa variedade de assuntos. Divide-se em quatro
seções: 'Entendendo as bibliotecas e sua missão', 'Entendendo as necessi­ DREXELL LIBRARY QUARTERLY, V. 18, n. 1, 1982. - Número especial sobre cen­
dades dos usuários em um meio ambiente em mudança', 'Entendendo as sura em bibliotecas. Apesar de ter sido publicado há mais de 20 anos, con­
bibliotecas 'digitais': implicações práticas', e 'Entendendo as mudanças nas tinua a manter sua atualidade. Traz artigos esclarecedores e bem elabora­
bibliotecas: considerações sobre implementação'. Destaque para o capítulo dos, uma leitura fácil e agradável.
de Ross Atkinson, 'Toward a redefinition of library services'.
JouRNAL OF LIBRARY AoMINISTRATION. New York, Haworth Press, 19 . - Títu-

112 113
lo tradicional sobre administração de bibliotecas, costuma trazer artigos bibliotecários responsáveis pela aquisição de materiais, mas possibilita a
sobre desenvolvimento de coleções e seleção. Importante como complemen­ troca de informações sobre vários aspectos da atividade de seleção.
tação deste livro são os números publicados em 1996 sobre acesso, compar­
tilhamento de recursos e desenvolvimento de coleções (v. 22, n. 4), emprés­ BooKWIRE D1RECTORY (http://www.bookwire.com/bookwire/book wire.html)
timo entre bibliotecas e fornecimento de documentos (v. 23, n. 1/2), sobre os - Um guia para os recursos bibliográficos disponíveis na Internet, com links
padrões emergentes do desenvolvimento de coleções em um ambiente de para sítios relacionados com livros (editoras, bibliotecas, agentes) em to­
compartilhamento de recursos, informação eletrônica e em rede (v. 24, n. 1/ das as partes do mundo.
2). COLLDV-L - LIBRARY COLLECTION DEVELOPMENT LIST (http://serials.
K1M Fung Yip. Selecting Internet resources: experience at Hong Kong Uni­ infomotions.com/colldv-1/) - Embora dedicada à discussão do desenvolvi­
versity of Science and Technology (HKusr) Library. The Electronic Library, v. mento de coleções em geral, a seleção é uma presença constante nas dis­
15, n. 2, p. 91-98, 1997. - Apesar de retratar uma experiência específica de cussões desta lista. Certamente, seu acompanhamento pode ser proveitoso
seleção, situada em um local diferente do nosso, as considerações que tece para os bibliotecários que atuam na área. Mensagens de inscrição devem
sobre a problemática da selecão de materiais na internet são perfeitamente ser enviadas para listproc@usc.edu.
aplicáveis às bibliotecas brasileiras. O apêndice apresenta os principais ins­ ERIL - ELECTRONIC RESOURCES IN LIBRARIES (http://listserv.binghamton.edu/ar­
trumentos de identificação de documentos disponíveis na Rede. chives/eril-l.html) - Um forum de discussão para bibliotecários comparti­
LIBRARY TRENDs. Charnpaign, IL: Graduate School of Library and Informati­ lharem opiniões e experiências sobre a aquisição e como lidar com os re­
on Science, 19 . - Um dos periódicos mais conceituados em bibliotecono­ cursos eletrônicos. Entre os assuntos cobertos pela lista estão políticas de
mia e ciência da informação que busca apresentar e discutir as principais desenvolvimento de coleção, manutenção de revistas eletrônicas, estatísti­
tendências na área. De interesse como leitura complementar deste livro são cas de uso, licenciamento e negociação, instruções sobre produtos específi­
o v. 39, n. 1/2, de 1990, sobre censura e liberdade intelectual; o v. 41, n. 2, de cos, etc.
1991, sobre ética e disseminação da informação, e o v. 45, n. 1, de 1996, NEWJouR (http://old.library.georgetown.edu/newjour/)- Divulga os novos
sobre liberdade intelectual dos usuários. periódicos disponíveis na internet.
RAo, S. Subba. Information retrieval services: role of optical technologies. COLLIBS-L (collibs@is.su.edu.au)- Lista de discussão sobre desenvolvimen­
New Libran1 World, v. 98, n. 1132, p. 16-24, 1997. - Descreve as principais to de coleções. Embora ambicione discutir questões relacionadas com bi­
tecnologia� para acesso de informação, com especial enfoque nas caracte­ bliotecas universitárias e de pesquisa situadas no território australiano, é
rísticas dos co-ROMs, salientando sua análise em termos de custo-efetividade, aberta para a participação de qualquer interessado. Para inscrever-se, en­
serviços de bases de dados em vários assuntos e relaciona algu mas bases viar mensagem para listserv@is.su.edu.au.
de dados nesse suporte.
INTERNET RESOURCES NEWSLETTER - Periódico eletrônico publicado mensal­
ULIANA, Dina Elisabete; VERGUEIRO, Waldomiro C. S. Gibitecas: estrutura, mente pela biblioteca da Heriot-Watt University, da Inglaterra, desde ou­
organização e acervo. Informação Cultural, n.10, p. 2-10, jun. 1990. - Pro­ tubro de 1994. Destinada a acadêmicos, estudantes, engenheiros e cientis­
vavelmente a primeira tentativa efetuada no país visando enfocar as histórias tas, busca aumentar o conhecimento sobre novas fontes de informação na
em quadrinhos do ponto de vista das bibliotecas. Procura descrever todos internet, particularmente aquelas relevantes para a pesqüisa universitária.
os formatos existentes e apresenta algumas proposições para seu tratamento Cada número traz seções contendo ,os novos sítios disponíveis na Rede, em
técnico. ordem alfabética, novas listas de discussão, notícias sobre redes eletrôni­
cas e novos livros na área. Pode ser acessada em: http://www.hw.ac.uk./
libWWW/irn/irn.html/. Encerrada em dezembro de 2009.
Documentos e listas de discussão em redes eletrônicas

ACQNET - The Acquisitions Librarians Electronic Network (http://


lists.ibiblio.org/mailman/listinfo/acqnet-1)-Iniciada em 1990, é dedicada a

114 115
3.2 Doações
Anexo 1 3.3 Duplicação de materiais
3.4 Substituições
Formulário para indicação de títulos 3.5 Reconsideração de decisões
Anexos
Autor a) Fluxograma das atividades de seleção
Título b) Formulário para sugestões
c) Formulário para doações
Editora Data de publicação
Local de publicação d) Recibo de doações
ISBN/ISSN Preço e) Formulário para reclamações ou reconsideração de decisões
Fonte da qual obteve os dados
Indicado por Anexo 3
Endereço
Modelo de política para doações
Telefone Profissão
Materiais oferecidos em doação só serão aceitos com o entendimento
explícito de que poderão ser incorporados ao acervo, vendidos, per­
Anexo 2 mutados, doados a outras bibliotecas ou descartados visando atender
às prioridades estabelecidas pela Biblioteca ______ ____
Esquema do documento de política de seleção
para o desenvolvimento de suas coleções. As doações serão incorpora­
das ao acervo em sua sequência normal, evitando-se ordenações dife­
1. Introdução renciadas, pois coleções separadas (especiais) limitam o uso pelo pú­
1.1 Identificação da biblioteca e instituição mantenedora blico e dificultam a localização dos documentos. Os itens doados terão
1.2 Descrição dos objetivos da biblioteca e caracterização do públi­ sua procedência devidamente reconhecida, podendo ser identificados
co-alvo por um ex-líbris ou etiqueta especial.
1.3 Identificação dos responsáveis pela seleção, inclusive a compo­
sição da comissão de seleção, quando existir
1.4 Descrição pormenorizada das atividades de seleção
2. Instrumentos auxiliares utilizados
Anexo 4
2.1 Catálogos de editoras Formulário para doação de materiais
2.2 Bibliografias
2.3 Resenhas Eu, ___________, carteira de identidade (Rc) nº ___,
2.4 Outras fontes de seleção residente na rua cidade de esta-
3. Critérios gerais de seleção do de ___, abaixo assinado, por este intrumento transfiro incondi­
3.1 Assuntos de interesse cionalmente à Biblioteca -----------------' situada na rua
3.2 Aspectos qualitativos cidade de estado de to-
3.3 Aspectos físicos dos os meus direitos sobre os materiais doados nesta data, conforme
4. Políticas específicas relação em anexo. Declaro, também, ter tomado ciência e estar de acor­
3.1 Coleções especiais (filmes, áudio, diapositivos, etc.) do com a política adotada pela biblioteca em relação às doações.
3.2 Documentos eletrônicos Data Assinatura-------------

116 117
Anexo 5
Recibo de aceitação de doações
A Biblioteca aceita e reconhece como doação
Indice
incondicional à sua coleção o(s) item(ns) abaixo relacionados, doados
por residente na rua _______ _ _ _ __, adequabilidade do livro 100-101 Davis, B. 85
cidade de estado de _____, e concorda em administrá- adequação da seleção 22-23 Deiró, M.L.C. 34, 42
Andrade, D. llO demanda reprimida 57
lo(s) de acordo com as políticas formalmente estabelecidas para as
área de a luação da biblioteca 11 desiderata 57
doações. assunto da biblioteca 13 desintermediação 100, 103
Data assuntos polêmicos 15 diapositivos 40-41
Assinatura ___ _ _ _ _____ _ _ Atkinson, R. 108, 113 Dickinson, G.K. 111
ato de doação 76 direitos autorais 93-95
Relação dos materiais doados atualidade 20-21 discos 38-40
1. ------------------------ -- autoridade 18-19 doações 75-76
documento de política 71-74, 117-118
2. ---------------------
----- -
Barker, K. 110 documentos
base de dados 49-51 eletrônicos 43-51
bibliotecário na internet 51-56
poder de decisão 5-6 relevância 22
participação na seleção 7-9, 61-63 DVOS 38, 98
Anexo 6 Blu-Ray 38 DVD-ROMS 45-49
Formulário para reconsideração de decisões Bonk, W. 24
Borges, J.L. 3, 4, 102 Eco, U. 20, 34, 42
Título____________ _ _ _ Broadus, R.N. 111 editoras de prestígio 19
Autor _
Broderick, D. 111 Ellison, J.W. 111
Editor Data de publicação _ __ Tipo de material:
D Livro D Revista D Filme D Fita ou disco D Outro:_ ___ empréstimo entre bibliotecas 89-93
Solicitação feita por- - ----� carteira de identidade (RG) nº� características dos documentos 23-25 endereço eletrônico 52, 56
residente na rua cidade de estado de __, Carter, M. 24 Ercília, M. 56
telefone catálogos de editoras 67 especialização da biblioteca 11
CD-ROMS 45-49 estilo dos documentos 23
D grupo ou organização. censura 83-88 Evans, G.E. 111
Você representa: D a si mesmo
Chemical Abstracts 48
Nome do grupo ou organização--- - - - - - - - ------
classificação decima1 11 Fenner, A. 112
Motivo do pedido de reconsideração: por favor, explicite nas linhas seguintes cobertura de assunto 21 Figueiredo, N.M. de l12
os motivos por que considera que o material deve ser retirado do acervo: comissão de seleção 59-61 filmes 38-40
compact disc 39-40 fitas
COMUT 92 de áudio 38-42
conveniência para o usuário 22 de vídeo 98
cooperação bibliotecária 88-92 formulário 63-65, 78
Assinatura- - -------------- Data _ _ _ _ _ _
_
Cox, B.J. 113-114 para doação de materiais 118
A Biblioteca agradece sua preocupação com Crawford, W. 108 para indicação de títulos 63, 117
a constituição de seu acervo e se compromete a analisar detalhadamente sua critérios de seleção 10-25, 68, 69, 71, 73 para reconsideração de decisões 119
solicitação à luz dos critérios de seleção utilizados. Uma decisão a respeito lhe Curley, A. 111 fotocópia 94
será comunicada no prazo de_ dias. Obrigado. custos 15, 24, 45, 101-102 furtos 15
Fulas, E. 112

118 119
scanned by Regis Feitosa
futuro da seleção 99-108 multimeios 26-33

gibitecas 31-33 Nisonger,T.E. 107,108


Gorman,M. 108 No despertar da tormenta (filme) 85
Graeff,A. 56
graphic novels 31-32 objetividade no processo de seleção 9
Orkut 53
hipermídia e hipertexto 53 Ortega y Gasset,J. 107
histórias em quadrinhos 30-32 Osburn,C. 113
home page 53,56
1-Iughes, M.J. 112 Pattie, L.W. 113-114
periódicos 27-32,95-96, 114-115
identificação,avaliação e registro 63 Perota,M.L.L.R. 40,114
idioma dos documentos 22 política
imparcialidade 20 de seleção 17-25,73
indicação e seleção de títulos 63-65 para doação 75-76
informação eletrônica 100, 102-108 precisão 19-20
Instituto Brasileiro de Informação em Probst,L.K. 108
Ciência e Tecnologia (m1cr) 92 processo de seleção 57-67
instrumentos auxiliares 65-67, 73
internet 51-56, 102 Rao,S.S. 115
recibo de aceitação de doações 119
Johnson, P. 112,113 reclamações 77
reconsideração da decisão 77-78
Katz,13. 112 redes eletrônicas 53,102,115-116
Kim Fung Yip 54,56,114-115 relevância dos documentos 22
responsáveis pela seleção 72-73
Lee,S.D. 113 Rosemberg, F. 34,42
lei de direito autoral 94-95 Rowley,J. 108
liberdade intelectual 84-85
lista Saponaro,M.Z. 111
de desiderala 57 Saracevic,T. 107,108
de sugestões 57 seleção e formação profissional 80-83
de discussão 52-53, 115-116 Shaughnessy,T.W. 108
livro Spiller,O. 114
adequabilidade l 00
custo 101-102 Uliana, D.E. 115
didático 20-21, 34 Universidade de São Paulo 90-91
infanta-juvenil 32-35 Usherwood,13. 26
usuário 12,13-14
MacEwan, 13. 112, 113
McLuhan, M. 27 vandalismo 15
materiais audiovisuais e especiais 26-42 Vergueiro,W.C.S. 4,110,114,115
mecanismos de busca 56 vídeos 35-38
Miranda,A. 113 Voltaire 85
modelo de política parn doações 118
Momento de decisão (filme) 5 World Wide Web 52

120

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