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Ian Castro de Souza é planner / redator de mídias digitais da agência Idéia 3 e graduando em Comunicação na
Universidade Federal da Bahia. O blog Intermídias (http://www.intermidias.com.br) é o reflexo da sua prática
profissional com comunicação digital e mídias sociais, além dos estudos que desenvolve sobre as possibilidades que o
ambiente digital traz a prática publicitária.
de dados em suspensão, disponíveis para download (não necessariamente via
browser, é válido ressaltar). Em suas elucubrações, Raskin constata um fato
que muitas vezes nos passa despercebido: algumas das tarefas que
desempenhamos na internet podem vir a exigir muito mais cliques, muito mais
esforço, do que a digitação de alguns comandos o faria. Foi exatamente esta
constatação que fez Raskin iniciar o desenvolvimento do Ubiquity, um
complemento para o navegador web Mozilla Firefox que, quase
nostalgicamente, retoma a idéia dos comandos escritos – mas, desta vez, a
partir de uma abordagem diferenciada: a semântica.
Para compreender porque a proposta de Raskin não é retrocesso, mas um
avanço na usabilidade das interfaces de usuário, devemos pensar nas interfaces
de linha de comando e seu principal problema: a limitação do repertório de
comandos. Quando digitamos um comando em um terminal, o sistema
operacional não o interpreta, apenas o reconhece. É isso que o computador se
resume a fazer: reconhecer os comandos escritos, a partir da comparação com
um banco de comandos pré-estabelecidos, e executá-los. Contudo, sabemos
perfeitamente que a linguagem escrita, como os humanos a utilizam, não se
baseia só na equivalência – pelo contrário, nos deparamos freqüentemente com
significados sem uma expressão definida ou várias expressões que possuem um
mesmo significado. Em resumo: as línguas (sim, qualquer uma delas) são
regidas pela semântica, não pela sintaxe.
Com o Ubiquity, Raskin propõe uma substituição deste modo de
manipulação sintático por um modelo semântico, no qual que possamos “dar
sentido” ao caos informacional que é a web – a articulando e operando da
mesma forma que fazemos com nossas idéias e nossa linguagem. É uma
interface que não exige de nós a memorização de uma lista interminável de
comandos, mas que entenda nossas solicitações, da forma que, de fato, as
fazemos. O complemento permite que o usuário ative uma série de serviços
(previamente integrados) a partir da entrada de pequenos comandos escritos
diretamente no navegador.
No vídeo de apresentação do projeto (abaixo), Raskin ratifica a utilidade
de sua criação com uma situação bastante comum: o envio de um e-mail com
um mapa – apesar do Wave, lançado bastante tempo depois do anúncio do
Ubiquity, propor outra solução (gráfica) para esta mesma situação, o exemplo
continua perfeitamente cabível. Para realizar esta tarefa, o usuário faria uma
série de tarefas simultâneas ao processo de composição da mensagem em si:
1. abrir o e-mail; 2. abrir o Google Maps; 3. buscar a localização desejada e 4.
Colar o link do mapa no e-mail. Todo o processo exigiria, além de bastante
tempo, vários cliques e resultaria em um e-mail com um link e não um mapa –
o que faz bastante diferença para o destinatário. O Ubiquity altera radicalmente
esta dinâmica; com ele tudo que o usuário precisa fazer é digitar “map” seguido
do endereço desejado e o mapa é inserido no e-mail.
O Ubiquity, sem dúvidas, torna mais ágeis atividades corriqueiras pela
sintetização de suas ações em comandos escritos, porém ele ainda não pode
ser caracterizado como uma espécie de modelo semântico de interface de
usuário. O complemento funciona, assim como as antigas linhas de comando, a
partir de um repertório pré-estabelecido de comandos (e serviços). Atualmente,
ele conta com aproximadamente 80 comandos, relativos a atividades
comumente realizadas na web (busca, tradução, envio de mensagens,
localização de lugares, entre outros) - ou seja, pela simplicidade e abrangência
dos comandos ele simula uma interface semântica, mas não é. Ainda assim, o
Mozilla Ubiquity traz uma diferença que o torna bastante significativo: o fato
dele ser um software livre, um projeto open-source com o qual qualquer
indivíduo pode colaborar construindo e compartilhando comandos com a
comunidade a partir da API do complemento – escrita em Javascript, linguagem
de programação extremamente popular na internet.
É bom ver que, enquanto o novo orgasmo do mundo da tecnologia são
projetos de interfaces gráficas manipuladas pelo toque (e a supressão, cada vez
maior, dos inputs de texto), ainda existem pessoas que pensam diferente.
Bibliografia