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Foi numa noite densa e sinistra, porém, pouco depois que a palavra chegou que
um navegador descobrira um lugar chamado Novo Mundo, que o Infante Dom Henrique
enviou mensageiros com ordens oficiais para que Vimaranes enviasse representantes
para a Marinha Real (já que, por ser um condado de Terra, não se tinha tradição), e o
Conde estava magro e fraco, com os olhos vítreos, na cama, sussurrando palavras
ininteligíveis, que Baldr foi aos seus aposentos a pedido das camareiras.
Depois de discursar longamente sem articulação, seu pai fez silêncio durante um
longo minuto. Então, perguntou onde estava sua irmã.
– Ela está ocupada, pai – Baldr lhe explicou –, e não pôde vir.
– Preciso de ambos aqui – Santiago Dávila implorou. Abalado, Baldr segurou-
lhe a mão. Era um rapaz taciturno e poucas coisas lhe podiam mover às lágrimas, de
modo que por mais que o sofrimento do pai lhe cortasse o coração, se prostrava sério e
firme. As barbas e cabelos da cor vermelha , como os do pai, e os olhos azuis muito
claros, como os da mãe.
– Sinto muito, meu pai. Ela disse expressamente que não viria. Eu tentei insistir,
mas…
Ele se deteve. O pai fez um sinal com a mão que o impediu de prosseguir. Então,
depois de outro silêncio, disse, com a voz muito fraca:
– Meu filho… abra o meu guarda-roupa. Tem um fundo falso.
Um pouco confuso, Baldr obedeceu. Atrás do fundo falso, descobriu uma espada
larga, robusta e, apesar de velha, brilhantemente trabalhada, desde o punho dourado até
a lâmina bem preservada. Ficou atônito, pois não era uma arma comum naquelas terras
e, embora já tivesse treinado com semelhantes, aquela superava todas as que já vira em
qualidade e estética. Cuidadosamente, removeu-a do encosto no qual repousava, e sentiu
que ela se encaixava perfeitamente em sua mão. Embora tivesse sido treinado no
combate com machado tanto quanto com espadas, as segundas eram suas favoritas.
– O que é isto, pai? – perguntou, quase num sussurro. – É linda…
– O nome dela é Lágrima do Céu – o velho moribundo respondeu. – É sua.
– Minha?! – o rapaz não soube esconder a surpresa.
– Bem… eu não mais a poderei empunhar. – O velho (pois soava como um
velho) tinha um tom fúnebre. – Mas já usei-a muito, no passado. E meu pai, antes de
mim…
– Então é um tesouro da nossa família! Por que me está entregando ela desse
jeito?
O Conde o encarou com os olhos de gelo.
– Filho – chamou –… como é o meu nome?
Baldr hesitou, surpreso.
– Santiago Dávila, meu pai. O Conde Vimaranes.
O Conde balançou a cabeça negativamente.
– Não, meu filho. Meu nome é Hrolf. Eu vim de longe daqui, de uma terra onde
o frio não existe e o Sol nunca brilha como aqui pois as nuvens de poeira vulcânica o
encobre quase totalmente . As noites são mais negras, embora as estrelas brilhem mais.
Impressionado, Baldr umedeceu os lábios.
– Mas se as estrelas brilham mais… como pode ser mais negra?
Hrolf assumiu um tom grave.
– Existem coisas mais negras neste mundo do que o manto da noite, meu filho.
Essas palavras eriçaram todos os pelos do corpo de Baldr. Sentiu o calafrio
percorrer a espinha.
– Sim – o pai prosseguiu. – Você sabe do que estou falando. Eu lhe contei. E à
sua irmã.
– Não – ele negou. – Lorde Charles disse que não são reais.
– São. – O velho o encarava cheio de vontade. Os olhos penetrantes.
– Não…
– São, filho.
Baldr se calou. E Hrolf falou:
– Diga.
– Não.
– Diga!
A exclamação reverberou pelo quarto solitário. Lentamente, as palavras
deslizaram para fora da garganta de Baldr.
– Demônios…
Hrolf anuiu com leveza, incitando-o a continuar. Baldr prosseguiu:
–… filhos da noite…
Hrolf apenas aguardou pelo último.
–… e Dragões.
Após um grave silêncio de aceitação, Hrolf retomou seu discurso:
– Eu nunca sonhei em chegar ao status social que adquiri, meu filho. Meu
objetivo, quando passei por aqui, era chegar ao Novo Mundo.
– Mas o Novo Mundo acaba de ser descoberto. Como o senhor poderia saber…?
– Os deuses nos disseram, filho – ele explicou. E eles estão indo para lá… todos
eles… vão infestar o Novo Mundo. E isso era o que eu não podia permitir. Mas eu
relaxei.
Baldr engoliu em seco.
– E o senhor partiu sozinho? Seu clã permitiu que viesse só? Lhe deixou toda
essa responsabilidade?! – A ideia de que as histórias que seu pai lhe contara fossem
verdade e, pior, que ele fosse o único responsável por combater aquelas coisas terríveis,
lhe assombrava até os ossos.
– Não, filho… – ele respondeu rapidamente. – Não sou o único. Sou apenas o
único do meu clã a procurar o Oeste.
– E por que veio só?!
Então, pela primeira vez, o velho esboçou um sorriso. A revolta no corpo de
Baldr esfriou.
– Porque eu sabia que não ficaria sozinho, filho. – Havia ternura em seus olhos.
– Um Lord do fogo nunca está só.
Baldr hesitou.
– Então é isso que eu sou? Não sou um cavaleiro, é o que dizem.
– Não – confirmou Hrolf. – Você é um Lord. Você é um Caçador nato.
– Nascido Exilado – ele abaixou os olhos. – E Freyja?!
– Freyja é… sua mãe.
Baldr franziu a testa.
– Como assim? – Falar na mãe deles era quase um tabu, em Vimaranes, embora
o povo a tivesse como um tipo de deusa.
– Desde cedo eu soube. Ela seria como a mãe, mas muito mais firme. Ela nasceu
para a aristocracia e a nobreza. Ela é inteligente e altiva. Você é forte e sábio, mas vocês
são diferentes. Em vocês, os Velhos Deuses viverão. Ela é Freyja, porque eu queria que
ela fosse sábia e justa com o poder que herdaria. Você é Baldr, porque eu queria que
você fosse bravo, e o criei para ser invencível… para que você chegasse aonde eu não
consegui.
– E onde é isso, pai?
– Além do mar.
Houve um silêncio sereno, e as emoções de Baldr estavam à flor da pele. Então,
Hrolf falou:
– Seja sincero, meu filho… você não está em casa, não é?
Então, pela primeira vez, as lágrimas transbordaram dos olhos do Jovem Lobo.
– Não, pai. – Ele confirmou. – Não estou.
Assim que o Conde Viramanes faleceu, o título de nobreza foi dado a Baldr, que
abriu mão dele em prol de sua irmã. Novamente, Viramanes tinha uma condessa e única
senhora. Baldr passou os anos seguintes viajando pelas terras vizinhas, planejando partir
para a Costa, mas voltava constantemente para casa, para ter com a irmã e o chanceler.
Quando o Infante mandou novamente buscar representantes para a Marinha Real em
Viramanes, Baldr se ofereceu, mas os nobres vizinhos se recusaram a navegar com ele,
chamando-o de Exilado, e o deixaram no castelo.
Apesar da recusa dos nobres, o povo de Viramanes gostava de seu jovem senhor,
e mais de uma vez houve levantes civis para que ele assumisse o condado, mas se
recusava, deixando a responsabilidade para Freyja. Mas a Condessa Branquinha estava
cada vez mais impaciente com isso.
Quando Baldr por fim resolveu partir de Viramanes, pois não podia permanecer,
e buscar outro modo de chegar ao Novo Mundo, já que a Marinha Real não o aceitaria,
Lorde Charles organizou para ele uma viagem para um reino distante com uma carta de
recomendação a algum alto lorde conhecido seu, que o ajudaria.
Assim que Baldr partiu, carregando apenas uma armadura simples, roupas de
couro, suprimentos para viagem, um arco composto e a Lágrima do Céu, Freyja
imediatamente decretou que o Jovem Lobo estava banido de Viramanes, e todas as
pessoas que foram contra ela foram obrigadas a partir para o serviço da Marinha Real.
Os cavaleiros não ousavam desafiá-la, e todos tinham medo de sua mão de ferro, e até
mesmo Lorde Charles se tornou receoso ao tratar com ela. Não obstante, Viramanes
cresceu em força e se tornou um dos principais representantes da Marinha Real, sendo
Freyja uma das senhoras favoritas tanto do Rei João I quanto do Infante Dom Henrique,
e a infâmia de Baldr, Nascido Exilado, apenas cresceu por todo o Reino. Ela não era
doce como Antonietta, a Branca, e foi assim que passou a ser chamada Freyja, a
Condessa de Gelo.
Após seu exílio, Baldr, percorreu sua viagem ate um reino onde fôra impactado
pela religião do lugar e chegado ao seu destino se viu frente a um templo adornado com
figuras draconicas alem de pedras preciosas nas quais pareciam que nunca tinham sido
tocadas por ninguém. Não lhe restando nada além de curiosidade o jovem lobo entrou e
procurou pelo tal lorde a quem ele poderia pedir ajuda.
Ao encontrar o Lord, Baldr teve uma enorme surpresa ao se ver diante de uma
criatura que na verdade não era humana, e sim um grande lagarto de 2,50 m bem
encorpado e que lhe recebeu muito bem mediante a carta que o mesmo carregava de
terras tão distantes, Após se conhecerem melhor o tal Lord Sodexho lhe ofereceu um
lar em troca de treinamento e serviços.
Não tendo outra opção o jovem se afiliou e treinou por anos para se tornar um
paladino de Tiamat, durante sua iniciação como paladino, algo incrível lhe aconteceu.
Tiamat lhe concedeu uma transfiguração e o tornou draconiano como seus irmãos de
irmandade. Com o passar do tempo em que serviu a ordem de Tiamat seu nome Baldr
foi sendo esquecido e substituido por Garruk para sua própria segurança e desapego
com seu passado.