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Boas idéias, criatividade, sonhos e esperança são ingredientes comuns aos

brasileiros, que são reconhecidos internacionalmente como um povo solidário.


Pessoas organizam-se, mobilizam-se para ajudarem desabrigados em
enchentes, arrecadar mantimentos, fazer trabalhos voluntários de todos os
tipos: catar lixo nas praias, distribuir presentes para crianças carentes, a dar de
comer a quem tem fome. No entanto também é importante não apenas ser
legal, mas estar legal e fazer acontecer formalmente é um passo importante e
necessário a ser dado.

Na década de 80, com a restauração da democracia a sociedade civil brasileira


colocou a mão na massa, queria descontar o tempo da ditadura e fazer as
coisas acontecerem e alcançou um notável crescimento. Pesquisa realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com o GIFE (Grupo de
Institutos Fundações e Empresas) e com a Associação Brasileira de
Organizações Não Governamentais (ABONG), aponta que entre 1996 e 2002,
o número de organizações sem fins econômicos saltou de 107 mil para 276 mil
no Brasil, registrando um aumento de 157%, indicando o desenvolvimento do
terceiro setor. No país as ongs já respondiam, na época, por 1,4% do Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro.

É muito comum ouvir que constituir formalmente uma entidade é trabalhoso,


mas segundo Dr. Paulo Haus, advogado especialista no terceiro setor, não é lá
tão cabeludo, “muito mais difícil é fazê-la funcionar, organizar pessoas e
alcançar objetivos que não se baseiam em lucro”, constata. Para ele é
importante a busca do caminho mais fácil durante todo o processo. “Nossa
orientação tem sido sempre no sentido de respeitar à "metodologia própria" da
região onde se pretende estabelecer a organização. A melhor forma de
consegui-lo é a busca da simplicidade. Isso e uma pitada de bom senso e
teremos 80% do caminho andado”, orienta Paulo.

Precisamos deixar claro que o conceito ONG, Organização Não-


Governamental, não existe como figura jurídica. Para a ABONG, a definição é
tão ampla e é qualquer organização de natureza não-estatal. Para o advogado
Paulo “é um reconhecimento supralegal, de cunho cultural, político e
sociológico que está em vigor mundo afora”, define. E para constituí-las
formalmente optam pelo modelo Associação Civil Sem Fins Econômicos, mas
também podem ser cooperativas ou fundações, vai depender dos seus
objetivos reais e o que é mais adequado para o seu fim. Segundo Paulo, “as
associações civis sem fins econômicos, além de maleáveis e de fácil
administração, podem se utilizar da ausência completa de patrimônio e de
formas democráticas para os métodos decisórios, por isso são as preferidas do
setor, e devemos reconhecer, são em geral as mais adequadas”, indica.

Primeiros Passos

Tudo começa com um ensejo coletivo, o desejo de fazer a sua parte para
construção de um mundo mais justo, solidário e sustentável. De acordo com a
ABONG no Brasil, existem apenas dois formatos institucionais para a
constituição de uma organização sem fins econômicos: fundação privada e
associação civil. “Uma fundação tem sua origem em um patrimônio ou conjunto
de bens, enquanto uma associação se origina da vontade de um grupo de
pessoas unidas por uma causa ou objetivos sociais comuns”, define. No caso
da associação o grupo se junta em assembléia, cria uma missão clara e
objetiva, fazem um estatuto com os direitos e deveres dos fundadores e os
compromissos pela causa.

Ninguém se associa para fazer uma fundação. Paulo explica que “fundações
nascem da doação de um instituidor físico ou jurídico, que reserva certo
patrimônio e o grava para a execução de um fim social determinado”. Assim
como as associações, uma vez constituída a fundação, é necessário um
estatuto com regras de funcionamento e a definição de quem irá se
responsabilizar em gerir esse patrimônio, que será doado por escritura pública
ou testamento. “Se quer eternizar uma causa, essa é a melhor forma judicial de
se organizar, porque no momento em que é instituída, o doador perde o
controle do patrimônio, que passa a ser genericamente considerado como de
toda a sociedade civil e fica sujeito à fiscalização do Ministério Público” elucida
Paulo.

Os estatutos (ver anexo), tanto das associações quanto das fundações,


precisam ter um conjunto de regras que são determinantes para conseguir os
certificados de utilidade pública, isenções de impostos e incentivos. Um bom
exemplo é o reconhecimento de ser uma OSCIP (Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público - lei 9790/99). “Neste ponto tenha cuidado, a eleição
de uma das opções pode impedir a candidatura às outras”, alerta Paulo. Para o
GIFE a Lei das Oscips inovou o marco legal do terceiro setor no Brasil, “uma
vez que reconhece as organizações qualificadas como verdadeiras parceiras
do Estado, além de trazer para o terceiro setor conceitos de governança
corporativa e de extrema transparência administrativa normalmente aplicados
do segundo setor”. Esse certificado é opcional, não é uma obrigação, explica
Paulo, “mas em geral, o poder público sente-se muito à vontade para se
relacionar com esse tipo de instituição, porque divide com toda a sociedade
civil o encargo de fiscalizar o fluxo de recursos públicos em parcerias”, conclui.
Somado a isso, essa lei permite a remuneração dos dirigentes das ongs
enquadradas.

Cursados esses passos iniciais, feita a assembléia, aprovado o estatuto,


empossada a diretoria, pode-se registrar a ong no cartório denominado
Registro Civil das Pessoas Jurídicas. “Depois, é ter também um registro no
CGC, junto ao Ministério da Fazenda e, dependendo das atividades, imprimir e
manter um bloco de notas fiscais para possibilitar a prática de atividade
econômica”, completa. Mas isso são assuntos para outras matérias.

A realidade de hoje, é um descrédito na parceria entre o poder público e a


sociedade civil. É tanta gente querendo ganhar seu quinhão mesmo tirando de
quem precisa. Exatamente por isso foi instaurada a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) das ONGs, que está em fase de coleta de informações, para
apurar supostos desvios ocorridos nas transferências de recursos entre o poder
público e diversas entidades investigadas. Não valem apenas as boas
intenções, infelizmente no atual panorama legal do Brasil, há uma série de
obstáculos à organização e ao bom funcionamento das ongs. O principal
entrave, sem dúvida, está na falta de clareza e na omissão da legislação em
vigor, com muitas normas sobrepostas que geram dúvidas. Ainda há um
caminho enorme a seguir, tanto de esclarecimento da sociedade civil, quanto
na simplicidade das leis para o setor. Mas como a esperança é a última que
morre, vamos continuar torcendo por um caminho do bem fácil e transparente,
transformando o terceiro setor num grande parceiro do Estado.

Serviços e anexos:

www.gife.org.br

http://www.abong.org.br/

Entrevista do Dr. Paulo Haus Martins sobre a


CPI das ONGs http://www.confies.org.br/index.php?
option=com_content&task=view&id=109&Itemid=1

Paulo Haus Martins Advogados


Rua Senador Dantas 20 sl: 15º - Centro - Rio de Janeiro - CEP 20031203
Tel.: (21) 2240-9808

Em anexo, texto do Dr. Paulo Haus sobre Estatutos

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