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UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE O ESPAÇO PÚBLICO

A noção de “público” tem se modificado conforme a complexificação social. Para


Jürgen Habermas, esta noção pode se apresentar em diversos sentidos e referir-se a coisas
completamente diferentes, ora pode significar aquilo que é para todos, ora àquilo que está
ligado ao poder público, isto é, ao Estado. Ainda pode ser um reconhecimento por grande
parte das pessoas, para isso, diz-se que alguém possui renome público. Mas, atentemos aqui
para a noção de público ligada ao Estado.

Ainda segundo Habermas, o poder público que é, em sua concretude, os prédios de


administração pública ou os prédios públicos, não são públicos, necessariamente, porque
estão abertos para a circulação de qualquer pessoa. Pelo contrário, o termo “público” refere-
se, antes, à sua função para com o público. Os ministérios e tribunais, por exemplo, são
instituições públicas não por serem espaços para a livre circulação dos indivíduos, mas por
tratarem de assuntos que estão dentro da esfera pública de administração do Estado.

No ano de 2015, algumas medidas tomadas pelo governo Alckmin, em São Paulo, para
o fechamento de algumas escolas, levou a uma série de manifestações estudantis, e entre elas
a mais conhecida “ocupação das escolas”. O documentário “Lute como uma menina”, de
Beatriz Alonso e Flávio Colombini, nos apresenta a visão dos estudantes que iniciaram o
movimento e nos revela a diferença entre espaço público e o que seriam prédios públicos. As
escolas, destinadas ao ensino de crianças e adolescentes, comumente são reconhecidas como
patrimônio dos estudantes e direitos destes, porém, o episódio do documentário nos revela
que são apenas prédios com finalidades públicas. Resta-nos, então, esclarecer a seguinte
antinomia: o Estado e a massa crítica pública.

Habermas atenta para uma espécie de oposição entre a opinião pública e o Estado.
Certamente, esta antinomia nos revela uma ideia de contrapeso que limita as ações de cada
esfera: a opinião pública coloca-se limitadora do Estado enquanto o Estado coloca-se
limitador da opinião pública. A decisão do então governador de São Paulo, por diversas
razões, não atendeu aos interesses de determinadas grupos sociais que reagiram com o
movimento “ocupação das escolas”. Um movimento de tal dimensão que tomou só nos revela
um governo distante da realidade de seus governados. Mas não atentemos a uma crítica ao
governo, mas na confusão entre o que é de todos e o que é para todos.
Diante o que foi apresentado, concluímos que o movimento invadiu coisa pública
privada ao governo. Porém, é necessário que não justifiquemos a causa pelo efeito. O que é de
domínio público, certamente, não deve ser privado ao governo, isso porque exclui toda
comunicação e visibilidade entre governos e governados, permitindo que cada vez mais
complexa se torne essa antinomia. As políticas públicas só condizem com seu próprio termo
quando é de coisa pública e não privada ao governo. Todavia, não devem ser, também,
abandonas ao público. Quais são os homens que, em sua individualidade moderna, conhecem
uns aos outros? Quais grupos sociais, em suas frenéticas buscas “individuais coletivas”,
reconhecem os interesses dos outros? E a isso respondo que nenhum! Somente uma parte da
sociedade especializada para isso pode assim reconhecer. Para isso, faz-se necessário que nem
o governo e nem o público tiranize o que é “público”, que as políticas públicas sejam tratadas
fora desta antinomia. Caso contrário, o governo poderá fechar escolas e a massa poderá
invadir prédios públicos.

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