Você está na página 1de 9
introducio: critica na zona de contato E’n tistowel, Ontisio, pequena cidade rural cana- dense onde fui criada, uma esquina do cruzamento princi: pal era ocupada pela Farmacia Livingstone, admi pelo Dr. Livingstone, Ble era um médico formado que havia se tornado farmacéutico, mas, para as criancas, seu estabe- lecimento era, antes de tudo, 0 lugar onde se podia com- prar o material necessério para se pregarem pegas, ou té-las aplicadas pelo Dr. Livingstone, especialmente se ‘voce fosse Vi tarde em que a Sra, Livingstone es- tivesse ausente, Foi at sentada, por exemplo, aos milagres do vidro ante, as algemas chinesas, ao falso mago de wuravam em seus dedos @, por v secretamente vendeu a meu irmao mais v go: vomito de plistico. Fu nao estava certa, ria, foi que acreditei naquela informagio "vesdadeiro” Dr. Livingstor ficaclos por homens C08. ‘© nome na carta desbotada me perseguiu, trilhando seu legado colonial. Quando foram instalados esgotos em = iit vo) ertich 61 RAR Ke Ba vava 0 seu nome. Poucos anos depoi vendo minhas pesquisas para nia, encontrei um texto de Dame Judith que deve ter Dame Judith esta ago Listowell, recentemente s ler para const ide, espontaneidade © cega repetic2o (Livingstone, Livingstone... Em anos recentes, esse poder tomouse a Da conhecimento. deve ser, entre Em 1908, um especialista em estudos peruanos, chama- nos Arquivos Reais Dinamarques to que ele jamais havia visto antes, Fora datado da derrota final do Im- ssinado por um nome ine- a guaman, em qt ca “leopardo”). Escrito numa mistura de quichua e rude, nao gramatical, o manuscrito era uma carta endere por este andiino desconhecido ao rei Felipe III da Espanha. O. ue espantou Pietschmann foi tera carta mil e duzentas pa ginas, das quais ¢ quatrocentas de el borados desenhios 8 pena com explicativas. Intitulado A Nova Cronica e Bom Governo e Jus- tiga, 0 manuscrito propunha nada menos do que uma nova visio de mundo, Fle comegava pela reescrita da historia da a descrever com grande det povos andinos e de s seguia uma abordagem revisionista da conquista espanhola © centenas de paginas documentando ¢ denunciando a explo- ragio ¢ os desmandos espanhdis. As quatrocen seguiam 0 estilo europeu de desenhos de bico de pena le- igendados; contudo, como demonstrado por pesquisa poste- rior, elas empregavam estruturas especificamente andinas do lustracOes 1 ¢ 3). A carta wa entrevista imaginaria qual ele alerta o rei quanto 2 suas responsabilidades ¢ poe uma nova forma de governo por meio da colabora das elites andina e espanhola Soaman Poma de Ayala, Nueva Goronica y buen gobierno, John Mue- ‘Adorno, México, Siglo XXI, 1980, 1 pai 25 a gresso internacic de perplexidade. Foram necess para que uma edigao em fac-simi Poma aparecesse em Pa brugaram. sobre no final dos anos 70, quando os habi m lugar aos estudos rdinirio tour de force intercul idades ¢, os perigos de se escrever naq lagam uma com tremamente assimétricas de di como 0 colo nero quanto uma critica de ideologia, Seu tema pred nante € 0 de como os livros de viagem de europeus sobs regioes do mundo nao europeu chegaram (e chegam) a ctiar a “tematica doméstica”® do curoimperialismo; como eles engajaram 0 piblico leitor metropolitano nos (ou para 05) empreendimentos expansionistas cujos beneficios mate- icamente, a muito poucos, Virios ca- pitulos do livro lidam com estas questes através da leitura de conjuntos de relatos de viagem relacionados a transigoes historicas especificas. Um capitulo, por exemplo, examina setecentistas sobre a Africa Meridional Ro contexto da expansio continental e do advento da his- {Orla natural. Outros discutem a emergéncia do relato s mental de viagem através de material co Caribe e do inicio da exploracio britinica da Africa Ocidental (1780-1840) Outros ainda examinam as reelaboragdes de discutso na América do Sul ao longo do processo de independéncia da América espanhola (1800-1840), Um outro identifica as con- tinuidades € mutagdes do imaginério imperial desde os vi- torianos na Aftica Central (1860-1900) aos viajantes Pds-co- loniais dos anos 60 e 80 de nosso século. Estes estudos de caso sao balizados por um i | de questdes comuns. Como o relato de viagem e exploracdi Produzitt “o resto do mundo” para leitores europeus 8 insights. Const In Other Worlds, London, Methuen, 1989. relato de viagem e formas de conhecimento © expressio eragem ou se coadunam, fora e dentro da walia como 0 relato fa se aliaram para cr chamo, “planetétia”. Os esquemas classifi histéria natural sto vistos em rclacio aos conheciment verndculos dos camponeses, que tais esquemas buscavad bstituir. Os relatos de viagem cientifica e sentimental (cd alos 3 a 5) so discutidos subsidiariamente, como formas uurguesas de autoridade que desalojam as tradiges mais igas da literatura de sobrevivéncis, No estilo sentimen- tal, sao tracados os paralelos entre a narrativa de viagem e a autobiografia de escravos, que surgem aproximadamente culino € feminino. No capitulo 9, 0s textos daqueles que ‘Teddy Roosevelt chamou de *amcricanos hifenizados” sao investigados em termos dos desafios que colocavam pata a tradigfio da exploracao britanica; o relato de viagem pos- colonial dos anos 1960 é examinado, por um Jo, em re- lago A propaganda de turismo e, por outro, em relacao a _generos contestat6rios como 0 testimonio e a hist6ria oral Aqui também a manisfestagao de relagdes de raca € de gé- nero esté em questo. ‘Algumas vezes, o livro deixa para tris tanto a Europa, como os relatos de viagem pata analisar exemplos de ex- pressio ndo européia desenvolvidos em interagio com re- 29 curopeus © a supremacia rea dindm 4 expressao indigena andina carta de Guaman Poma) 0, procurei formas de mitigar a reducionista e difu de limitar © padraio (c tanto do estudo de género, quanto da critica da ideo! tes dois projetos e: ole; conceder| le relatos de viagem sao fre~ lentemente acusados de fazer. Ao es sado este termo para descrever idos ou mat Se 08 povos subjugados nao podem co mente aqui nente determinam, em graus variaveis, o que at 2 transferéncia de cultura imaginada a partir dos interesses da metpce. estes ultimos, através da construgio de si proprios seu ambiente, tal como eles os apresentaram. aos euro} Poderia o mesmo ser dito de seus modos de representacao? ja metr6pole imperial tende a ver'a si mesma como deter ‘ces, esti fundamentalmente imperativo; da mesma forma, poder-se-ia dizer, parte da higt6ria literiria européia. fa tentativa de apresentar uma abordagem dialética € izada do relato de viagem, el alguns termos € ss casos, recorrente a-circunstncias de coerci desigualdade radical e obstinada} Aqui, tomo emprestado ‘contato” de seu uso em lingilistica, onde a expres que se desenvolvem entre I tivas que precisam se comunicar entre si de me mente separados por dlescont aS € geogrificas cujas trajetsr termo “contato”, procuro ent {cos so o meio pelo qual os europeus repres textos auto-etnogrificos mais constroem em resposta Aquelas, go com as _Tepresentagdes metropolitanas. A nha de Guaman Poma, em sua Nova Cronica, da hist6 € costumes incas, ¢, nesta empreitada, sua apropriagio f constitu instne ca (ef. figura Um segundo termo que usarei bastante € “antico quista’, com 0 qual me refiro as estratégias de represent cdo por meio das quais os agentes burgueses europeus pri curam assegurar sua inocéncia ao mesmo tempo em q asseguram a hegemonia européia. O termo “anticonqui foi escolhido porque, como procuro just mado é aquele sgeaus varidveis, Poma, cles si0 ficos sto tipi ese’ argumento mais exten: Fab, Derele Attidge, Alan Durant e Gdn McCabe (eds) 32, 33 espanhola, 0s movimentos de indepen- que iriam abrir con americano eas expansion omegando a se consoli te dos autores qu diram tanto 0 Rio da Prat = usando alguns dos mesmos oficiais nos dois locais. Porém, nao foram de modo algum exclusivamente lemao Alexander von Humboldt e 0 s Aimé Bonpland estavam se preparando para uma viagem pelo Nilo, quando a invasio napolednica do Norte Fles transpuseram seu itine- sm. 0 Orinoco (consulte~ 9 como “blues do terceito mundo." ivsos europeus de viagens sobre a prop! Xe argumentacto, quando »s pontos de_minha ‘éncia, por exempl penhar a mesma tarefa ideol6giea na Bun hl da Africa ou At As fo semelhantes, > XVIII tem turopa do Norte se windo legado indlas, MOU Como O cent > Mediterrineo para s pp généro, bem come de ideologia, démico existente sobre a literatura de viagem e expl tem se inclinado por nenhuma dessas tilhas, Ele € fre- qiientemente laudat6rio, recapitulando as exploracdes de intrépidos excéntricos ou cientistas dedicados. Em out instancias, € um documentitio, debrugando-se sobre os re~ 37 parte 1 distin, sugerindo formas de leiura © enfoques para a nde ciéncia e lise retorica. O livro inclui varias interpretacées de passa- spero que algumas das interpretagoes € mo- lsentimento, 1750-1800

Você também pode gostar