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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA SOCIEDADE: RESUMO

O Estado moderno por nascer absolutista sempre foi visto ao longo da história como
um inimigo que impedia liberdade individual e deveria ser combatido. Essa idéia foi a raiz
individualista do estado liberal. Ao longo do tempo a burguesia enriqueceu e começou a
exigir um estado mais liberal, considerando a liberdade contratual um direito natural dos
indivíduos. Sob influência do jusnaturalismo, outros direitos naturais foram sendo
proclamados, principalmente no âmbito econômico, como a propriedade visando impedir a
interferência do Estado. Adam Smith em sua obra “A Riqueza das Nações” defendia que cada
homem é o melhor juiz de seus interesses e deve ter a liberdade de promovê-los segundo a sua
livre vontade, condenando qualquer tipo de intervenção estatal. Visando o ponto de vista
político o chamado “liberalismo econômico” no século XIX se afirmaria como principal
doutrina econômica quando Stuart Mill publicou “Da Liberdade” que se baseava em três
objeções fundamentais: “Ninguém é mais capaz de realizar qualquer negócio ou determinar
como ou por que deva ser realizado do que aquele que está diretamente interessado; mesmo
que os indivíduos não realizem tão bem o que se tem em vista, como o fariam agentes do
governo, é melhor ainda que o indivíduo o faça, como elemento da própria educação mental;
cada função que se acrescenta às que o governo já exerce, provoca maior difusão da
influência que lhe cabe sobre esperanças e temores, convertendo, cada vez mais, a parte ativa
e ambiciosa do publico em parasitas do poder público, ou de qualquer partido que aspire ao
poder.”
Essas mesmas ideias foram apreciadas no âmbito jurídico e aparece em várias obras de
juristas incluindo Bluntschli que diz que o estado deve proteger e encorajar o bem particular,
não tutelá-los.
A burguesia manteve separados o domínio político o econômico e o social. De
qualquer forma o Estado Liberal organizou-se na maneira a ser mais fraco possível,
caracterizando-o como Estado Mínimo, favorecendo assim a implantação do
constitucionalismo, pois implicava no enfraquecimento do Estado.
A mínima interferência na vida social do Estado liberal, trouxe benefícios tais como: o
progresso econômico acentuado, que favoreceu a revolução industrial; valorização do
indivíduo; e o desenvolvimento de técnicas de poder, com o surgimento da ideia do poder
legal. No entanto o próprio Estado Liberal propiciou condições que possibilitasse a sua
superação, sendo estas: a valorização do indivíduo resultando em um ultraindividualismo;
Concepção individualista do Estado, que uma vez que o impedia de proteger os menos
afortunados, favorecia o surgimento de injustiças sociais. Além disso, a formação do
proletariado, vivendo em péssimas condições de trabalho e ínfima remuneração, estimulou o
surgimento de movimentos socialistas, e posteriormente, o aparecimento nas primeiras
décadas do século XX, de um surto intervencionista.
Durante a I Guerra Mundial a situação dos operários se agravou no mundo todo. Na
Rússia criaram-se as condições para o primeiro Estado socialista. Nos demais Estados houve,
a adoção de medidas socializantes para promover a estabilidade social. Na Alemanha, por
exemplo, tem-se a aprovação da Constituição de Weimar, com grande ênfase a questão
operária, consagrando os direitos sociais (relações de produção e de trabalho, educação,
cultura, etc).
Nos Estados Unidos o então presidente Franklin Roosevelt, eleito em 1932, lança o
programa de governo New Deal, que consistia em uma política intervencionista, visando
melhorias para situação precária vivenciada pelo país em decorrência da Grande Depressão de
1929. Em 1936, Roosevelt consegue a reeleição graças ao êxito de sua política de governo.
No mesmo ano, Walter Lippmann, formula uma obra que, ficaria famosa como a expressão do
neoliberalismo, procurando uma nova definição do Estado liberal, caracterizando-o como um
protetor dos direitos iguais, que visa proteger os homens das arbitrariedades.
A partir disso, o Estado mínimo foi substituído pelo Estado de serviço, que passa
empregar seu poder para, através de intervenções, suavizar as desigualdades econômicas.
Com a 2ª Guerra mundial, o Estado amplia ainda mais sua atuação intervencionista, buscando
garantir os direitos fundamentais do indivíduo. Terminada a guerra ocorre ainda um avanço
no intervencionismo, em razão das novas necessidades existentes, tais como: restauração dos
meios de produção, reconstrução de cidades, financiamento de estudos e projetos, etc.
Em razão de um intenso esforço competitivo entre os grandes Estados, recentemente
desencadeou-se um novo processo de intervencionismo. Neste sentido, a participação do
Estado na economia, que antes era vista como um fator de restrição de liberdade pelos
grandes grupos econômicos, passa a ser concebida como benéfica, sendo inclusive,
estimulada por tais grupos. O Estado, neste contexto, passa a ser um grande financiador e um
dos principais consumidores, assumindo funções de agente negociador e apoiador de grupos
econômicos, ao passo que: realiza abertura de mercados, patrocina acordos econômicos e
estabelece barreiras protecionistas, visando favorecer os interesses econômicos daqueles
grupos sediados em seu território. No tocante aos planejamentos e desenvolvimentos na área
de tecnologia, destaca-se que o Estado deve subscrever os custos de pesquisa e
aperfeiçoamento, bem como garantir mercado para os produtos resultantes.
No final do século XX surgiu a expressão globalização. Usada amplamente, a palavra
globalização contém mais uma insinuação do que a afirmação de uma realidade ou de um
conceito e acabou ganhando a generalização sem que tenha sido precisado o seu sentido e sem
esclarecimento das ambiguidades do seu uso. Alguns teóricos do capitalismo passaram a
sustentar que o mundo hoje é um só, está globalizado, desaparecendo as barreiras
representadas pelas fronteiras dos Estados. Sendo assim, esse seria regido pelas leis do
mercado e não mais pelas leis do direito que decorrem dos valores do povo e de todo o
conjunto de relações sociais.
É importante ressaltar que a ideia da globalização, que não chega a ser uma teoria,
pretende fundamentar-se primordialmente nas relações econômicas e nas atividades
financeiras, o que fica muito evidente pela ampla e persistente utilização das expressões
“mercado” e “liberdade econômica”, como se fossem as determinantes do novo mundo. John
Kenneth Galbraithem, em sua obra economia das fraudes inocentes, faz a análise dessas ideias
e a crítica das expressões utilizadas pelos seus defensores, mostrando que a intenção dos
criadores da ideia de globalização e de economia de mercado é criar um novo vocabulário,
que substitua capitalismo e outras expressões, já muito desgastadas e carregadas de
implicações políticas e sociais negativas.
Pretende-se transmitir a ideia de que o mundo todo está unificado com os padrões do
capitalismo e, pela existência de conflitos, o Estado foi substituído pela iniciativa privada.
Verifica-se que, embora praticamente não substituam barreiras nacionais para a
movimentação financeira, existem muitas e graves divergências quanto a circulação de
mercadorias e de serviços. A globalização pode ser a expressão de inovações importantes no
relacionamento entre os Estados e as instituições econômicas e financeiras, mas está longe de
significar a integração mundial das sociedades humanas e dos grupos nacionais, como se toda
a população do mundo fizesse parte do povo de um único estado.

REFERÊNCIAS

DALLARI, D. de A. Elementos de teoria geral do Estado. 30ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
p. 271-279.

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