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3 INTRODUÇÃO
5 UNIDADE 1 - Elementos Fundamentais da Mecânica Newtoniana
6 1.1 As leis de Newton

7 1.2 Força e massa

8 1.3 Sistemas de referência

9 1.4 Lei de Newton associada à atração da gravidade

10 1.5 Medidas e limitações da Mecânica de Newton

12 UNIDADE 2 - Movimento de Partículas em uma Dimensão

SUMÁRIO
12 2.1 Sistemas de referência

13 2.2 Coordenadas cartesianas e posição

13 2.3 Generalizando para duas e três dimensões

15 2.4 Movimento e repouso

15 2.5 Definindo formalmente a trajetória

16 2.6 Cinemática envolvendo o movimento em uma dimensão

20 UNIDADE 3 - Oscilador Harmônico e Propriedades Fundamentais


20 3.1 Conceitos fundamentais

22 3.2 Equações do movimento harmônico simples

23 3.3 A energia associada ao movimento harmônico simples

24 3.4 Oscilador harmônico amortecido

25 3.5 Oscilador harmônico forçado

28 UNIDADE 4 - Movimentos Bidimensional e Tridimensional Envolvendo Partículas


28 4.1 Vetor posição e vetor velocidade

29 4.2 Vetor aceleração

31 4.3 Movimento de um projétil


35 4.4 Força central

38 UNIDADE 5 - Unidades de Medidas


40 REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO

É sabido que a Mecânica é a parte da uma “busca pela verdade”. Os principais


Física que estuda o movimento dos cor- nomes dessa fase foram Aristóteles, que
pos. Ela é dividida em Cinemática, Dinâ- definia o movimento como um atributo
mica e Estática e, especificamente falan- do ser em movimento, e Arquimedes, que
do, é de fundamental importância para descreveu os estudos específicos sobre
a descrição de propriedades e resolução estática e hidrostática.
de problemas particulares no contexto
Segundo Meriam (2009), o conheci-
da Engenharia e, em especial, para a par-
mento dos gregos prevaleceu durante
te da Engenharia Civil. Grosso modo, de
muitos séculos, entretanto, a partir do
forma bem simples, visualizamos que:
século XV, com o Renascimento, que a
Cinemática – descreve o movimen- ciência começou a modernizar-se, Galileu
to dos objetos sem se preocupar com Galilei se tornou o principal pesquisador
suas causas, abrangendo os conteúdos da área em tais tempos. Em verdade, po-
de movimento retilíneo uniforme, mo- demos dizer que foi ele quem introduziu
vimento uniformemente variado, gran- o conceito de movimento uniforme e es-
dezas vetoriais nos movimentos e movi- tudou o movimento do pêndulo simples e
mento circular; de projéteis diversos, propondo também
que o Sol seria o centro do Sistema Solar,
Dinâmica – é o estudo dos movi-
e não a Terra, como se acreditava em pe-
mentos e suas causas. Tem como base de
ríodos anteriores. Salientamos ainda, que
seus conteúdos as Leis de Newton;
no mesmo período da morte de Galileu,
Estática – estuda o equilíbrio de um tivemos o nascimento de Isaac Newton,
sistema sob a ação de várias forças. um grande filósofo, matemático e físico
que propôs as três Leis fundamentais da
É interessante observarmos que de
dinâmica em sua obra denominada “Prin-
acordo com Hibbeler (2005), é muito com-
cípios Matemáticos da Filosofia Natural”,
plicado nas entrelinhas estabelecermos
publicada em 1687. As teorias apresen-
o nascimento da Mecânica e dos seus es-
tadas por Newton pareciam ser perfeitas
tudos relacionados, já que existem regis-
e descreviam, até então, o movimento de
tros de que ela está intimamente ligada
todos os corpos.
às considerações de astros celestes des-
de as mais remotas civilizações. Assim, a Tome nota: a Mecânica é
partir da consideração da periodicidade uma das partes da Física e sen-
do movimento dos astros que foram fei- do a mais antiga de todas, já
tos os primeiros calendários na Mesopo- que é responsável pela descri-
tâmia, por exemplo, por volta do ano de ção dos estudos dos fenôme-
2700 a.C. Dessa forma, um pulo relevante nos que ocorrem na natureza e,
na Mecânica aconteceu na Grécia antiga especificamente falando, o que
a partir da Filosofia Natural, que exercia primeiro chamou a atenção da
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humanidade foi o movimento sua aprendizagem aconteça de forma


dos corpos. Logo, criaram a Me- simples e agradável. Sugerimos que leia
cânica para que estudássemos atentamente cada parte deste material
os movimentos e o repouso dos de apoio.
corpos em geral.
Nesse sentido, o objetivo geral da nos-
Entretanto, no início do século XX, de sa disciplina é apresentar um aparato
acordo com Silva (2011), Albert Einstein teórico e prático envolvendo a aplicabili-
publicou a teoria da relatividade, que dade da Mecânica no contexto da Enge-
afirmou que os eventos físicos são os nharia e, em particular, no contexto da
mesmos para quaisquer referenciais com Engenharia Civil, desde definições e mé-
velocidade relativa constante. As Leis de todos utilizados para a resolução de pro-
Newton passaram a ser consideradas vá- blemas práticos dessas áreas.
lidas apenas para velocidades muito me- Pois bem, as palavras acima são nos-
nores do que a da luz. Entretanto, as leis sa justificativa para o módulo em estu-
propostas por Newton são suficientes do. Desde já, desejamos sucesso, não só
para o estudo dos movimentos observa- nesta disciplina, mas em todo o curso.
dos na superfície da Terra, por isso ainda
são consideradas relevantes para a Física
Clássica.

De outra forma, segundo Hibbeler


(2005), os princípios da estática desen-
volveram-se na história a muito tempo,
porque podiam ser formulados simples-
mente a partir das medições da geome-
tria e da força. Estudos sobre polia, plano
inclinado e torção aparecem em registros
antigos, da época em que as necessida-
des da engenharia limitavam-se princi-
palmente à construção de edifícios e má-
quinas.

A disciplina de Mecânica é um momen-


to que envolve a aplicação dos conceitos
da Física em relação ao movimento dos
corpos no contexto da Engenharia. Vá-
rias situações do dia a dia do engenheiro
serão analisadas, com o objetivo de fi-
xarmos a teoria de uma forma bem mais
simples e prática. Sem abrir mão da com-
plexidade dos temas propostos, o con-
teúdo foi cuidadosamente selecionado
e apresentado de modo a permitir que
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UNIDADE 1 - Elementos Fundamentais
da Mecânica Newtoniana
É interessante já ficar claro que na material e conjunto de pontos materiais
área da Mecânica, procuramos descrever mais adiante. Além disso, deve ser nota-
um conjunto de leis físicas que forneçam do que a formulação newtoniana da Me-
um método matemático para descre- cânica Clássica baseia-se em quatro con-
ver o movimento de um ponto material ceitos fundamentais, a saber: Distância
ou de um conjunto de pontos materiais. (Espaço), Tempo, Massa e Força.
Estabeleceremos os conceitos de ponto

Figura 1: Conceitos fundamentais da Mecânica. Dessa forma:


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

a “Distância (Espaço)” é entendida tica);


de forma intuitiva com base em conside-
a “Massa”, embora utilizada intuiti-
rações geométricas;
vamente, requer para a sua elaboração
o “Tempo” corresponde à medida da e compreensão o uso das próprias leis
sucessão dos acontecimentos e é capaz fundamentais da Mecânica Clássica (as
de ser definida por um observador qual- conhecidas Leis de Newton);
quer. É da inter-relação entre os concei-
a “Força”, que está intimamente re-
tos de distância e tempo que surge o es-
lacionada com a alteração do estado de
tudo do movimento, aparecendo, então,
movimento de uma partícula. Do ponto
as definições de velocidade e aceleração
de vista físico, as forças são os agentes
de um ponto material (Estudo da Cinemá-
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responsáveis pela mudança da velocida- Segunda lei de Newton: a variação


de de um objeto. Se ele muda de veloci- de movimento é proporcional à força apli-
dade então sobre ele age uma força (ou cada, e dá-se na direção da reta segundo
mais forças). a qual a força está aplicada.
Importante: as leis físicas,
introduzidas logo de início por
Newton, são a base de toda a
Mecânica Clássica, apoiadas em
observações experimentais. Es-
sas leis podem ser entendidas Figura 3: Interpretando a segunda lei de Newton.
como postulados ditados pela Fonte: Hibbler (2005).
Natureza. Suas implicações es-
tão de acordo com a observação
da natureza, então, consistente- Terceira lei de Newton: a toda a
mente, podem aceitar-se estes ação sempre se opõe uma reação igual;
postulados como verdadeiros. ou seja, as ações mútuas de dois corpos
Eles assumem, portanto, a cate- são sempre iguais e dirigidas às partes
goria de leis físicas, isto é, verda- contrárias.
des manifestadas pela própria
natureza.

1.1 As leis de Newton


Segundo Hibbeler (2005), as leis de
Newton podem ser enunciadas como se-
gue:
Figura 4: Interpretando a terceira lei de Newton.
Primeira lei de Newton: todo o cor- Fonte: Hibbler (2005).
po permanece no seu estado de repouso,
ou de movimento uniforme retilíneo, a Notemos que a primeira lei, pode ser
não ser que seja compelido a mudar esse interpretada como a Lei da Inércia. Gros-
estado devido à ação de forças aplicadas. so modo, no universo newtoniano, essa
lei associa à alteração do estado de mo-
vimento de um corpo, o aparecimento de
uma grandeza denominada força aplica-
da. Uma consequência importante dessa
lei é a existência de sistemas de referên-
cia e referenciais inerciais, que serão ca-
racterizados a posteriori.

Importante: por inércia, um


Figura 2: Interpretando a primeira lei de Newton.
corpo em repouso tende a con-
Fonte: Hibbler (2005).
tinuar em repouso. Por exemplo:
por isso que quando um indivíduo
7

está em pé dentro de um ônibus 1.2 Força e massa


e este “dá uma arrancada” forte,
De acordo com Hibbeler (2005), a
este indivíduo é jogado para trás,
obra de Newton foi sujeita, logo após a
pois tende a permanecer parado.
sua publicação, a muitas críticas pesa-
A segunda lei associa a força aplicada das, sobretudo no que diz respeito aos
com a variação de movimento, ou seja, seus conceitos fundamentais, levando
em consideração os conceitos de massa
a variação temporal da quantidade
e de força. Neste sentido, pergunta-se:
de movimento, que é o produto da massa Seria, efetivamente, necessária a defini-
pela velocidade Tal expres- ção a priori da força para construir toda a
são característica é comumente conhe- Mecânica? E o conceito de massa? O que
cida como a expressão da segunda lei de significava quantidade de matéria, qual a
Newton. sua relação com a inércia?
A terceira lei adiciona uma propriedade Os conceitos de força e massa corres-
nova ao conceito de força, que é o seu as- pondem a fórmulas de cunho matemático
pecto de dualidade, ou seja, a existência que associam medidas de espaço e tem-
de ação e reação simultâneas. Tal fato é de po. Grosso modo, o valor da massa de um
fundamental importância no contexto da ponto material corresponde ao quocien-
Engenharia como um todo. Existe, todavia, te entre a mesma e a de um outro ponto
chamarmos a atenção para o fato de essa de massa unitária, um padrão escolhido.
terceira lei não ser uma Lei Geral da Natu- Logo, segundo Hibbeler (2005), a primei-
reza, isto é, não sendo válida para todo tipo ra lei de Newton pode ser vista como:
de força. Ela só se aplica às forças que resul-
tam da interação de dois pontos materiais A aceleração de um ponto mate-
e cuja direção coincide com a linha que une rial é sempre produzida por outros
os pontos, ou seja, só se aplica às chamadas pontos materiais; se o ponto mate-
forças centrais. Cabe ressaltar ainda que, de rial é um ponto isolado, isto é, infini-
acordo com Hibbeler (2005), Newton ainda tamente afastado de qualquer ou-
observou que a força resultante que se faz tro, a sua aceleração é nula, ou, por
sentir sobre o corpo corresponde à soma de outras palavras, a sua velocidade é
cada uma das forças, no caso de elas atua- constante (o movimento é uniforme)
rem separadamente. Esse corolário enun- ou é também nula (o ponto está em
ciado por Newton constitui o princípio da repouso).
independência dos efeitos das forças, ou o Importante: a segunda lei
princípio da composição das forças. de Newton corresponde efeti-
Tome nota: as três leis e a vamente à definição de força. A
regra da composição de forças força é determinada pelas inte-
constituem os princípios básicos rações induzidas pelos corpos,
da Mecânica newtoniana e so- uns sobre os outros, segundo as
bre os quais é edificada toda a linhas que os unem; identificar os
Dinâmica. corpos que atuam sobre o corpo
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em estudo corresponde a identi- derado uma partícula, pois, o seu tama-


ficar as forças que atuam sobre nho é desprezível em relação à estrada.
este. Entretanto, este mesmo caminhão se for
colocado em um galpão, já não poderá ser
A caracterização da massa é feita com
considerado uma partícula, pois, seu ta-
base no estudo do movimento e o conhe-
manho não é desprezível em relação ao
cimento da força resulta do produto da
local onde se encontra.
massa pela aceleração. Da necessidade
de quatro conceitos fundamentais (espa- Quando um corpo é modelado como
ço, tempo, massa e força) na formulação uma partícula, os princípios da Mecânica
newtoniana, a Mecânica Clássica passa a reduzem-se a uma forma muito simplifi-
precisar somente de dois conceitos es- cada, uma vez que a geometria do corpo
senciais, espaço e tempo. não estará envolvida na análise do pro-
blema.
Uma das formas mais correntes de
determinar a massa de um corpo não é Conceito: um corpo rígido pode ser
a que se acabou de apresentar, mas sim considerado a combinação de um grande
pesá-lo (o que também corresponde a número de partículas que permanecem a
uma comparação com um corpo padrão). uma distância fixa umas das outras, tanto
antes como depois da aplicação da carga.
Este procedimento baseia-se no conhe-
Na maioria dos casos, as deformações
cimento que o peso do corpo, , cor-
reais ocorrem em estruturas, máquinas,
responde à força gravitacional que atua mecanismos e similares são relativamen-
sobre ele. Pela segunda lei de Newton: , te pequenas, e a hipótese de corpo é ade-
e m que é a aceleração da quada para a análise.
gravidade local.

Cabe mencionar que massa inercial é a 1.3 Sistemas de referência


massa que determina a aceleração de um De acordo com Meriam (2009), New-
corpo quando sujeito à ação de uma for- ton tinha consciência de que as suas leis
ça, e massa gravitacional é a massa que dinâmicas do movimento só faziam senti-
determina a força gravitacional existen- do se definisse um sistema de eixos, um
te entre um corpo e outros corpos. referencial ou sistema de referência, em
relação ao qual se pudessem fazer as me-
As modelagens ou idealizações são didas sobre o movimento dos corpos. As-
meios usados na Mecânica para simplifi- sim, nos enunciados das Leis de Newton,
car a aplicação da teoria. Em particular, não se faz qualquer menção ao sistema
vamos definir três modelos importantes. de referência em relação aos quais essas
Conceito: uma partícula possui mas- leis são verdadeiras. E isso acontece por-
sa, mas em um tamanho que pode ser que o próprio Newton admitiu, previa-
desprezado. mente ao enunciado das leis, a existência
de um espaço absoluto que na sua pró-
Exemplo: imaginemos um caminhão pria natureza, sem comparação a nada de
que percorre determinado caminho. Ao
exterior, permanece sempre o mesmo e
longo de uma estrada ele pode ser consi-
é imóvel, o que o obrigou também a defi-
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nir um espaço relativo, correspondendo a toniana, espaço e tempo são duas enti-
uma dimensão ou medida móvel do espa- dades completamente distintas, sendo
ço absoluto. Portanto, do ponto de vista esta última independente do sistema de
newtoniano, o movimento a que se refe- eixos usado; o tempo flui de igual forma
rem as suas leis é o movimento absoluto em todos os referenciais.
que possui como referencial o espaço ab-
Numa primeira aproximação, pode di-
soluto.
zer-se que os referenciais ligados à Terra
Será que existe de fato essa entidade são referenciais inerciais. Esses referen-
em relação à qual tudo se move? E por ser ciais utilizam-se, para o estudo, de fenô-
de grande dificuldade, não impossível, menos em que o movimento da Terra não
responder a esta questão, o problema influencia grandemente a observação
passa a ser colocado de forma inversa: e experimentação. Contudo, para ou-
admitem-se como válidas as leis de New- tros fenômenos, observação das estre-
ton (elas podem ser comprovadas expe- las, movimento dos planetas do sistema
rimentalmente) e, nestas condições, de- solar, o referencial ligado à Terra não se
fine-se o sistema de eixos necessário à comporta como um referencial inercial.
legitimação dessa validade. O tal espaço
Conceito: chama-se observador a
absoluto é definido como aquele em rela-
qualquer sistema físico capaz de efetuar
ção ao qual se verificam os três postula-
medidas. Na Mecânica, o observador terá
dos newtonianos, contrariamente à pre-
que estar munido de uma régua e de um
sunção inicial, ou seja, o enunciado das
relógio, de modo a conhecer as suas gran-
leis implica a existência prévia do espaço
dezas fundamentais que são o espaço e o
absoluto.
tempo, respectivamente.
Tal como Newton admitiu, a existência
do espaço absoluto, também definiu o 1.4 Lei de Newton associa-
tempo absoluto, verdadeiro e matemáti-
co que da sua própria natureza fluiria de
da à atração da gravidade
uma forma igual sem relação com qual- De acordo com Meriam (2009), após a
quer coisa de exterior. explicação de suas três leis do movimen-
to, Newton postulou a lei que governa a
Conceito: define-se referencial de atração gravitacional entre duas partícu-
inércia como aquele em relação ao qual las quaisquer. Matematicamente, escre-
são válidas as leis de Newton. Todavia, ve-se que:
ainda de acordo com a Primeira Lei, qual-
quer sistema de eixos, movendo-se com
velocidade uniforme e retilineamente em
relação ao referencial absoluto, também
será um referencial de inércia. Estes são Sendo:
os sistemas de eixos privilegiados que se
F = força gravitacional entre duas par-
utilizam na Mecânica Clássica.
tículas;
Em termos específicos, na física new-
G = constante da gravitação universal;
10

6,67 x 10-11 m3/kg.s2; grandezas, os resultados que se obtêm,


dependem dos aparelhos usados para as
m1 e m2 = massa de cada uma das
medições de espaço e de tempo; quanto
partículas;
mais precisos forem os aparelhos, mais
r = distância entre as duas partículas. rigorosos serão os resultados numéricos
a que se chegará. Todavia, existem limi-
O que seria o peso? Saberia descre-
tações físicas objetivas para a precisão
ver? Assim sendo, segundo a equação
das medidas efetuadas.
anterior, quaisquer duas partículas ou
corpos possuem uma força de atração Heisenberg mostrou em 1927, com o
mútua (gravitacional) agindo entre eles. Princípio da Incerteza, que sob a ótica
Entretanto, no caso de uma partícula lo- das dimensões atômicas o ato de medir
calizada sobre ou próxima à superfície da implica a introdução de importantes per-
Terra, a única força da gravidade com in- turbações no objeto da medição. Esse
tensidade considerável é aquela entre a fato implica que, para um elétron, não é
Terra e a partícula. Consequentemente, possível conhecer, medir, o valor da sua
essa força, denominada peso, será a úni- posição e da sua velocidade, do seu mo-
ca força que consideraremos no estudo mento linear, com uma precisão infinita.
da mecânica.
Se no mundo atômico não é possível
W=m.g o conhecimento simultâneo da posição
e do momento linear, as leis da Mecânica
Note que através de uma simples com-
Clássica, bem como todas as suas conse-
paração com F = m.a, podemos ver que g
quências, não são passíveis de ser aplica-
é a aceleração devido à gravidade. Como
das neste domínio. Para o infinitamente
ela depende de r, então o peso de um cor-
pequeno, desenvolveu-se uma nova des-
po não é uma quantidade absoluta. Em
crição da Mecânica conhecida como a Me-
vez disso, sua intensidade é determinada
cânica Quântica.
onde a medição foi feita. Para a maioria
dos cálculos de Engenharia, no entanto, Tome nota: outra limitação
g é determinada ao nível do mar e na la- da Mecânica de Newton tem
titude de 45º, que é considerado o ‘local a ver com o princípio da exis-
padrão’. tência de um tempo absoluto,
isto é, com a capacidade de um
1.5 Medidas e limitações observador saber se dois acon-
tecimentos, situados a uma
da Mecânica de Newton distância qualquer ocorrem si-
Como já falamos anteriormente, toda a multaneamente. Essa capacida-
construção da Mecânica Clássica baseia- de implicaria a possibilidade de
-se em dois conceitos fundamentais: o uma comunicação, envio de si-
espaço e o tempo; deles derivam uma sé- nais, permitindo a comparação
rie de grandezas, tais como o momento, da simultaneidade, a uma velo-
linear e cinético, a energia, entre outros. cidade infinita, isto é, o conhe-
Neste sentido, os cálculos dessas cimento instantâneo do que se
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passa em qualquer ponto do es- com grande precisão, causando um gran-


paço. Sabe-se que a velocidade de impacto na cultura científica.
máxima com que se pode trans-
Outra contribuição fundamental dada
mitir qualquer sinal é da ordem
por Newton à ciência foi a lei da Gravita-
de:
ção Universal, uma das leis fundamentais
Essa limitação imposta pela própria de interação no universo físico. Newton
natureza levou à construção de uma percebeu que, se dois corpos de massa ma
nova mecânica, a Teoria da Relatividade e mb estão a uma distância d, então sur-
Restrita, elaborada por Einstein. ge, em cada um deles, uma força gravi-
tacional que é diretamente proporcional
A Mecânica de Newton está assim su-
às massas, inversamente proporcional ao
jeita às limitações fundamentais para
quadrado da distância entre eles, tem a
dois domínios particulares de fenômenos
direção da linha que une os dois corpos e
naturais: o muito pequeno e o muito rá-
o sentido de atração entre eles. Assim, a
pido.
força atuante numa maçã que cai ao chão
É interessante observarmos que New- tem a mesma origem que aquela que
ton revolucionou a ciência de uma forma atua para sustentar a Lua em órbita, mas
geral com sua teoria sobre as leis do mo- tem intensidade menor do que esta últi-
vimento e suas propriedades peculiares. ma, segundo o quadrado da razão entre a
Ele descreveu as leis básicas do movi- distância da Lua e o raio da Terra.
mento (da dinâmica) e a da gravitação e
A partir da lei da Gravitação Universal
estabeleceu a universalidade das leis fí-
e das leis do Movimento, foi possível for-
sicas. As leis que valem na Terra se apli-
mular o movimento dos corpos celestes
cam igualmente a qualquer parte do Uni-
– a mecânica celeste – a partir de ingre-
verso. Sua lei da gravitação é conhecida,
dientes básicos. A previsão do posiciona-
por isso, como lei da Gravitação Univer-
mento e velocidade dos corpos celestes
sal.
passou a ser possível com grande preci-
Observemos também que algumas são. Newton aplicou a lei da Gravitação
das leis ou definições de Newton já es- universal para entender o movimento
tavam, previamente, compreendidas nos dos planetas em torno do Sol.
trabalhos de Galileu, Descartes e Chris-
tian Huygens. Entretanto, o mérito dife-
renciado de Newton está no fato de ter
construído uma formulação teórica de
leis e definições bem estruturada, que
contemplava todos os aspectos do movi-
mento então conhecidos, onde quer que
ocorressem. Ao introduzir o cálculo dife-
rencial na descrição de fenômenos físi-
cos, foi possível a descrição quantitativa
dos fenômenos e a presciência de outros
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UNIDADE 2 - Movimento de Partículas
em uma Dimensão
A Mecânica é a área da Física que estu- ou Três Dimensões será visto a posterio-
da o movimento dos objetos. Por razões ri.
de organização e estruturação de seu
conhecimento, a Mecânica é dividida ou 2.1 Sistemas de referência
separada em duas áreas: a Cinemática e Quando se fala que um objeto está em
a Dinâmica. movimento, significa que sua posição
É interessante notarmos que na Ci- está mudando com o passar do tempo. No
nemática são analisados os conceitos entanto, é fácil constatar que o conceito
utilizados para descrever o movimento, de movimento é relativo, isto é, um obje-
surgindo a velocidade, aceleração e tra- to pode estar em movimento em relação
jetória. Na Dinâmica, estudamos as leis a outro, mas pode estar em repouso em
do movimento, isto é, as leis que deter- relação a um terceiro objeto.
minam que tipo de movimento terá um Consideremos uma xícara sobre uma
objeto, conhecidas as forças que atuam mesa de um vagão-restaurante que se
sobre ele. encontra movimento. Observe a Figura
Neste instante é de nosso interesse a 5 a seguir. Em relação ao vagão, a xícara
descrição da parte da Cinemática, mais (e a mesa) está em repouso (e assim ela
precisamente o movimento unidimen- é vista pelos passageiros). No entanto,
sional de uma partícula. A generalização, em relação à Terra, a xícara está em mo-
que trataremos do Movimento em Duas vimento.

Figura 5: Conceito de movimento relativo.


Fonte: Meriam (2009).
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Percebe-se aqui a importância de um nas e posição


sistema tido como referência para o es-
A forma mais utilizada, do ponto de
tudo do movimento dos objetos e, por-
vista matemático, de especificarmos a
tanto, no estudo da Mecânica.
posição de um objeto é devida ao mate-
Além de o conceito de movimento ser mático francês René Descartes. Vamos
relativo (isto é, depender do sistema de ilustrar esse procedimento, analisando o
referência), outras grandezas físicas são caso de uma joaninha que se movimenta
também relativas. Esse é o caso da posi- ao longo de um fio retilíneo, conforme
ção de uma partícula. Figura 6 na sequência. Nesse caso, dize-
mos que o movimento é unidimensional,
2.2 Coordenadas cartesia- ou seja, em uma única direção.

Figura 6: Conceito de movimento unidimensional.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Para especificarmos a posição da joa- no qual a coordenada terá um valor posi-


ninha no fio, temos que adotar um pon- tivo. As coordenadas terão valores nega-
to como referência. Assim, denomina-se tivos quando a posição estiver na direção
esse ponto simplesmente de origem “O” oposta à da flecha a partir da origem.
(origem do sistema de coordenadas). A
partir desse ponto de origem, especifica- 2.3 Generalizando para
mos a coordenada do objeto da seguinte
forma: primeiramente, determinamos a
duas e três dimensões
distância do objeto até a origem. A coor- Segundo Meriam (2009), a extensão
denada será o valor dessa distância se o para o caso de duas dimensões pode ser
objeto estiver à direita da origem, ou será entendida a partir do movimento de uma
o valor dela precedido pelo sinal menos bola sobre uma mesa. As duas coordena-
se ele estiver à esquerda. Note de for- das (x, y) da posição P da bola seriam de-
ma clara que isso é uma padronização. Se terminadas conforme Figura 7 a seguir.
adotarmos outra, devemos especificá-la. Primeiramente, adota-se uma origem (O)
do sistema de coordenadas. Em seguida,
Para especificar a convenção que ado- faz-se passar pela origem dois eixos or-
tamos, fazemos uso de uma flecha. O togonais (isto é, retas perpendiculares) e
sentido da flecha apenas indica o sentido para cada um dos eixos damos uma orien-
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tação. elas encontrarem os eixos Ox e Oy, res-


pectivamente. Esses pontos de encontro
Agora traçamos, a partir de P, duas re-
das retas tracejadas com os eixos defi-
tas paralelas aos eixos e tracejadas, até
nem as coordenadas da posição do corpo.

Figura 7: Coordenadas em duas dimensões (x,y).


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

No caso do movimento no espaço tridi- ordenadas, adota-se o ponto onde a reta


mensional Figura 8 a seguir, é suficiente intercepta o plano xy.
acrescentarmos mais um eixo (z). Primei-
Podemos, então, concluir que, utili-
ramente, traçamos uma reta paralela ao
zando um sistema de coordenadas carte-
eixo z até encontrar o plano xy em P. Para
sianas, a posição P de um objeto pode ser
a coordenada z, adota-se o mesmo proce-
inteiramente especificada por meio do
dimento do caso unidimensional ao longo
conjunto de coordenadas x, y, z, ou seja,
dessa reta paralela z. Para as demais co-
temos que P = (x, y, z).

Figura 8: Coordenadas em três dimen-


sões (x,y,z).
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
15

2.4 Movimento e repouso mos um sistema de referência e, para tal,


utilizaremos um conjunto de três eixos
A partir do que foi colocado inicial-
ortogonais (perpendiculares entre si). Tal
mente, pode-se definir de maneira mais
sistema, um tanto quanto abstrato, é ab-
estruturada os principais conceitos da
solutamente fundamental na Mecânica.
Mecânica. Em um primeiro instante, tra-
taremos de um objeto de dimensões Dizemos que um corpo está em re-
muito pequenas e, por isso, nós o repre- pouso se a sua posição não muda com o
sentaremos como um ponto no espaço e tempo. Se, no entanto, sua posição variar
o chamaremos de ponto material ou par- com o tempo, ele estará em movimento.
tícula. Um objeto menos idealizado pode Observe que, se um objeto estiver em
ser tratado como uma coleção de pon- movimento, à medida que o tempo passa,
tos materiais e lidaremos com ele mais suas coordenadas (x, y, z) (ou pelo menos
adiante. Logo na sequência, introduzi- uma delas) mudarão.

Figura 9: Variação de posição de um ponto.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

2.5 Definindo formalmen- o movimento de uma mosca voando no


espaço. Agora, tiremos fotos em interva-
te a trajetória los de tempo regulares e muito curtos e
Para interpretarmos a noção de traje- superponhamos as fotos. O resultado se-
tória, basta considerarmos uma situação ria o que se vê na Figura 10 a seguir.
ilustrativa bem simples. Vamos imaginar

Figura 10: Fotos de uma mosca em movimento.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
16

Quando interligamos os diversos pon- rida pela mosca. Cada ponto da trajetória
tos pelos quais a mosca passou, obtemos representa um ponto pelo qual a mosca
uma curva no espaço conforme Figura 11 passou em algum instante de tempo.
a seguir. Essa curva é a trajetória percor-

Figura 11: Conceito de trajetória.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A trajetória é, portanto, o lugar geo- Consideremos primeiramente o caso


métrico dos pontos pelos quais a partícu- do movimento de uma partícula deslo-
la passou ao longo do tempo. cando-se ao longo de uma linha reta.
Nesse caso, sua posição fica inteiramen-
2.6 Cinemática envolven- te caracterizada, atribuindo-se à partícu-
la sua coordenada “X”. Observe a Figura
do o movimento em uma 12 a seguir.
dimensão

Figura 12: Movimento de uma partícula.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

a) Velocidade instantânea
O conceito de velocidade está intima-
mente ligado à variação da posição. Se a
posição de um objeto muda com o tempo,
ele está animado de velocidade. Se ele
está em repouso, sua velocidade é nula.

Figura 13: Variação de posição de um


ponto.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
17

Digamos que, no tempo t1, a partícula tempo e se representa:


estava em x1 e que, no instante t2, ela
está em x2. Admitiremos t2 > t1.

Logo, no intervalo de tempo t1 dado b) Aceleração instantânea e acele-


por ∆t = t2 - t1 , houve uma variação da ração média
posição,∆x , dada por ∆x = x1 - x2 . Defi- Se a velocidade de um objeto varia
nimos então a velocidade escalar média com o tempo, diz-se que ele tem acele-
(vm) como a razão entre a variação da co- ração. Se a velocidade é constante (isto
ordenada e o intervalo de tempo decorri- é, não varia com o tempo), a sua acele-
do pela expressão: ração é nula. Formalmente, isto é, ma-
tematicamente, definimos a aceleração
escalar média de uma partícula como o
quociente entre a variação de velocida-
Importante: observe-se que de e o intervalo de tempo, ou seja, por
a velocidade escalar média sem-
pre faz referência a dois instantes
de tempo (por isso, falamos em conforme nos mostra a Figura 14 a se-
média). No entanto, a velocidade guir.
na qual temos maior interesse é a
velocidade num determinado ins-
tante de tempo. Tal velocidade é
denominada velocidade instan-
Figura 14: Conceito de aceleração escalar média.
tânea.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Para definirmos a velocidade instan-
De maior importância do que a acele-
tânea, devemos recorrer a um conceito
ração média é a aceleração instantânea.
matemático conhecido como limite. Note
Como o nome indica, o interesse é a ob-
que a velocidade média é definida to-
tenção da aceleração num determinado
mando-se dois instantes de tempo. Para
instante de tempo. A maneira de defi-
defini-la num determinado instante, bas-
ni-la, a partir da aceleração média, é to-
ta tomarmos intervalos de tempo cada
marmos intervalos de tempo cada vez
vez menores. Dessa forma, estamos as-
menores, isto é, tomarmos o limite em
segurando que, cada vez mais, não exis-
que o intervalo se aproxima de zero. Esta
ta diferença entre t2 e t1. Portanto, esta-
é a situação na qual t2 é muito próximo
remos falando, ao tomarmos o limite no
de t1. Referimos, portanto, à aceleração
qual ∆t tende a zero, de um só instante
escalar instantânea através do processo
de tempo. Definimos, portanto, a veloci-
limite , ou ainda,
dade instantânea no instante t1 através
do processo limite . O proces-
c) Movimento com aceleração cons-
so limite definido acima tem o nome de tante
derivada da função x(t) com respeito ao
18

O movimento acelerado mais simples E, finalmente, escrevemos:


é o movimento retilíneo com aceleração
constante. Neste caso, a velocidade varia
com a mesma taxa durante o movimento.
Vamos deduzir as equações fundamen-
Importante: v2=v20 + 2a(x-x0).
tais para o movimento retilíneo com ace-
Podemos obter uma outra equa-
leração constante. Na igualdade anterior,
ção útil igualando as das expres-
podemos substituir a aceleração média
sões de vm dadas anteriormente,
pela aceleração (instantânea) constante
e multiplicando os dois membros
“a”:
por t. Ou seja, podemos escrever

As equações colocadas anteriormente


Faça t1 = 0 e suponha que t2 seja um
são as equações do movimento com acele-
instante posterior arbitrário t. Utilizando
ração constante. Usando essas equações,
v0 para a velocidade no instante t = 0; a
podemos resolver qualquer problema que
velocidade para qualquer instante t é v.
envolva o movimento retilíneo com acelera-
Então, a equação anterior pode ser rees-
ção constante.
crita como
d) Queda livre de corpos
, ou seja, v=v0+at .
A queda livre é um caso particular de mo-
vimento com aceleração constante, sendo
A seguir, descreveremos uma expres- interpretado inicialmente por Galileu Galilei,
são para a posição da partícula que se de modo correto, como ocorre a queda livre
move com aceleração constante. Desig- dos corpos, quando soltos próximos à super-
namos simplesmente por x a posição em fície da Terra.
um instante posterior t. Para o intervalo
Desprezando a ação do ar, ele enunciou:
de tempo ∆t = t - t0 e para o deslocamen-
todos os corpos soltos num mesmo local,
to correspondente ∆x = x – x0, vem que . livres da resistência do ar, caem com uma
mesma aceleração, quaisquer que sejam
suas massas. Essa aceleração é denominada
Para a aceleração constante, a veloci- gravidade (g). Observe a Figura 15 a seguir.
dade média é dada por:

Figura 15: A experiência


de Galileu.
Fonte: Elaborado pelo
Substituindo essa expressão de v na próprio autor.
igualdade anterior, obtemos:
19

Importante: em torno da Terra, g vale


aproximadamente 10 m/s2.

Agora, vamos considerar um objeto em


queda vertical, a partir do repouso, num Assim, a velocidade escalar atingida é
local em que o efeito do ar pode ser des- diretamente proporcional ao tempo de
prezado e a aceleração da gravidade seja queda e, ao mesmo tempo, diretamente
constante e igual a g, conforme Figura 16 proporcional à raiz quadrada da altura
a seguir. Orientando-se a trajetória para descida.
baixo, o objeto realizará um movimento
uniformemente variado (MUV) com ace-
leração escalar igual a g. Ou seja:

Figura 16: Queda de um objeto a partir do repouso.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Por meio da equação horária do deslo-
camento de Movimento Uniformemente
Variado (MUV), podemos relacionar a al-
tura descida (h) com seu respectivo tem-
po de queda (t) da seguinte forma:

A velocidade escalar (v) adquirida após


certo tempo (t) de queda é dada por:

Por outro lado, podemos expressar a


velocidade atingida (v) em função da al-
tura descida (h). Usando a equação de
Torricelli, temos:
20
UNIDADE 3 - Oscilador Harmônico e
Propriedades Fundamentais
3.1 Conceitos fundamen- mento do movimento periódico será es-
sencial para os estudos futuros sobre on-
tais das, o som, as correntes elétricas e a luz.
Você já ouviu falar em oscilador? Sabe-
Na Figura 17 a seguir, indicamos um
ria descrever oscilações? Já presenciou
sistema que pode executar um movi-
algum tipo de oscilação na prática do dia
mento periódico. Um corpo de massa m
a dia? Neste sentido, a vibração de um
se move ao longo de um trilho horizontal
cristal de quartzo em um relógio, a osci-
sem atrito, tal como no caso de um trilho
lação de um pêndulo de um relógio an-
de ar linear, de modo que ele pode se mo-
tigo de parede, as vibrações sonoras de
ver apenas ao longo do eixo Ox. A mola
um instrumento de sopro, as oscilações
presa ao corpo possuiu massa desprezí-
produzidas pelos pistões no motor de um
vel e pode ser comprimida ou esticada. A
automóvel, são exemplos clássicos de
extremidade esquerda da mola é manti-
movimentos que se repetem de forma
da fixa, e a sua extremidade direita está
indefinida. Especificamente falando, é
presa ao corpo. Vamos analisar como as
o movimento periódico ou oscilação que
oscilações ocorrem neste sistema.
será discutido neste instante. O entendi-

Figura 17: Oscilador harmônico simples.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
21

Quando deslocamos o corpo para a di- A frequência, f, é o número de ciclos na


reita até a posição x = A e, na sequência unidade de tempo. Ela é sempre positiva.
o libertamos, a força resultante e a ace- No SI sua unidade é hertz (Hz)
leração são orientadas para a esquerda.
A velocidade aumenta até o corpo atingir
a posição de equilíbrio O. Quando o corpo
está no ponto O, a força resultante que
A equação da frequência é:
atua sobre ele é igual a zero, entretanto,
devido ao seu movimento, ele atravessa
a posição de equilíbrio.
A frequência angular , é vezes
No outro lado da posição de equilíbrio,
a frequência:
sua velocidade está orientada para a es-
querda, entretanto, sua aceleração está
orientada para a direita. Logo, a veloci-
dade diminui até que o corpo para mo- Falaremos da frequência angular um
mentaneamente. No caso da mola ide- pouco mais a frente. O tipo mais simples
al, ela para no ponto x = - A. A seguir, o de oscilação ocorre quando a força res-
corpo se acelera para a direita, atravessa tauradora F é diretamente proporcional
novamente a posição e para momenta- ao deslocamento x da posição de equilí-
neamente no ponto x = A, repetindo o brio. Isso ocorre quando a mola da Figura
processo inteiro. O corpo está oscilando! 17 é ideal, ou seja, quando ela obedece à
Caso não existisse atrito nem outra for- lei de Hooke. A constante de proporcio-
ça capaz de remover a energia mecânica nalidade k entre F e x é a constante da
do sistema, este movimento se repetiria força ou constante da mola. Logo, o com-
eternamente. A força (chamada de res- ponente x da força F que a mola exerce
tauradora) obrigaria sempre o corpo a sobre o corpo é
voltar para a sua posição de equilíbrio e
F(x) = -k x
ele toda vez atravessaria de posição.
As molas reais obedecem esta lei para
A seguir definimos alguns termos que
pequenos deslocamentos.
serão usados na discussão sobre o movi-
mento periódico. Esta relação fornece corretamente o
módulo e o sinal da força, independente-
Conceito: a amplitude do movimento,
mente do valor de x ser positivo, negati-
designado por A, é o módulo máximo do
vo ou nulo. A constante da mola k é sem-
vetor deslocamento do corpo a partir da
pre positiva e possui unidades de N/m (ou
posição de equilíbrio; isto é, o valor máxi-
kg/s2). Estamos supondo que não existe
mo de x em módulo. Ele é sempre positi-
atrito, de modo que a igualdade anterior
vo. Sua unidade no sistema internacional
fornece a força resultante sobre o corpo.
(SI) é o metro (m). O ciclo é a uma oscilação
completa, digamos de A até -A e retornan- Das leis de Newton sabe-se que:
do ao ponto A. O período, T, é o tempo cor-
respondente a um ciclo. F = m a
22

Igualando as duas últimas equações, força restauradora com uma constante


vem que: de mola k.

Importante: o sinal negativo


indica que a aceleração possui A equação a seguir calcula o desloca-
sempre sentido contrário ao do mento x em função do tempo para um os-
descolamento. Esta aceleração cilador harmônico.
não é constante, de modo que
não podemos usar as fórmulas
A constante Φ é comumente conheci-
do movimento unidimensional de
da como ângulo de fase. Ela nos informa
uma partícula.
em que ponto do ciclo o movimento se
Problema – Um transdutor ultrassô- encontra para t = 0.
nico (uma espécie de alto-falante), usa-
A Figura 18 a seguir nos mostra um
do para diagnóstico médico, oscila com
gráfico da expressão anterior para o caso
uma frequência igual a 6,7 MHz. Quan-
de Φ = 0.
to dura uma oscilação e qual é a frequ-
ência angular?
Solução – neste caso, temos que:

Figura 18: Gráfico de x contra t para x= A cos (ωt +


Logicamente, vem que é igual a: Φ) (Φ=0) .
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Uma vibração muito rápida correspon- A Figura 19, na sequência, mostra um


de a valores elevados de e de f e a va- gráfico da posição em função do tempo
lores pequenos de T; uma vibração lenta para movimentos harmônicos simples
corresponde a e f pequenos e valo- com mesma frequência e amplitude, mas
res de T elevados. com fases diferentes.

3.2 Equações do movimen-


to harmônico simples
A frequência angular estabelece a
conexão entre a oscilação e o movimento
circular uniforme. Podemos interpretar a
próxima igualdade como uma relação
para a frequência angular de um corpo de Figura 19: MHS com fases diferentes.
massa m que executa um movimento Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
harmônico simples sobre o qual atua uma
23

A equação a seguir apresenta a fórmu- deslocamento máximo a partir do ponto


la de como calcular o ângulo de fase, ou de equilíbrio, ele para momentaneamen-
seja: te e depois retorna para o seu ponto de
equilíbrio. Ou seja, quando x = A (ou x =
- A), v = 0. Para este ponto a energia é in-
teiramente potencial.

E a igualdade na sequência descreve


o cálculo da amplitude no MHS, ou seja,
tem-se que:
(Equação 3.11)

Como E é constante, ela permanece


sempre igual a E em qualquer outro pon-
to. Combinando esta expressão (Equação
3.11) com a Equação 3.10 obtemos:
3.3 A energia associada ao
movimento harmônico sim-
ples Essa é a expressão da energia mecâ-
A energia cinética do corpo da Figura nica total no movimento harmônico sim-
19 é dada pela igualdade característica: ples.

A Figura 20 a seguir nos mostra a co-


nexão entre a amplitude A e a corres-
pondente energia mecânica total E. Se
Enquanto que a energia potencial da tentássemos fazer x maior do que A (ou
mola é descrita por: menor do que -A), U seria maior do que
E, e K seria negativo. Entretanto, K não
pode ser nunca negativa, logo x não pode
ser maior do que A nem menor do que -A.
A energia mecânica total E = K + U é Note que para cada ponto x a soma dos
conservada e caracterizada matematica- valores de K e de U é sempre igual ao va-
mente pela expressão: lor constante de E.

(Equação 3.10)

A energia mecânica total E, é também


frequentemente relacionada diretamen-
Figura 20: Energia cinética K, energia Potencial U e
te com a amplitude A do movimento.
energia mecânica total E em função da posição no MHS.
Quando o corpo atinge o ponto x = A, seu
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
24

3.4 Oscilador harmônico


amortecido
O sistema oscilante ideal discutido na A igualdade anterior pode ser resolvida
seção anterior não relacionava a força de utilizando a teoria das equações diferen-
atrito, ou seja, não possuía atrito. Para ciais. Quando a força de amortecimento
esse sistema, a força é conservativa, a é relativamente pequena, o movimento é
energia mecânica total é constante e, descrito por:
quando o sistema começa a oscilar, ele
continua oscilando eternamente sem ne-
nhuma diminuição da amplitude.
A frequência angular ω’ é dada por:
Contudo, os sistemas reais sempre
possuem alguma força não conservati-
va e a amplitude das oscilações vai dimi-
nuindo com o tempo, a menos que seja
fornecida alguma energia para suprir a
O movimento descrito pela igualdade
dissipação da energia mecânica.
anterior é diferente do caso sem amorte-
A diminuição da amplitude provocada cimento de dois modos. Primeiro, a ampli-
por uma força dissipativa é comumente tude Ae-(b/2m)t não é constante e diminui
denominada por amortecimento, e o mo- com o tempo por causa do fator decres-
vimento correspondente denomina-se cente e-(b/2m)t . A Figura 21 é um gráfico
oscilação amortecida. Nesse caso, exis- da equação de que mostra que quanto
te uma força de atrito adicional que atua maior for o valor de b mais rapidamente
sobre o corpo, dada por: F= -b v , diminuirá a amplitude.

Sendo,

é a velocidade, e b é uma constante


que descreve a intensidade da força de
amortecimento. O sinal negativo indi-
ca que a força possui sempre um senti-
do contrário ao da velocidade. Portanto,
a força resultante sobre o corpo é dada
por:

Figura 21: Gráfico da Equação 3.7 para Φ = 0.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
E a segunda lei de Newton para o sis-
tema é
25

Segundo, a frequência angular ω’ não sora.


é mais igual a , entretanto,
Quando aplicamos uma força propul-
é ligeiramente menor. Ela tende a zero
sora variando periodicamente com uma
quando b é tão grande que:
frequência angular ωd a um oscilador
harmônico amortecido, o movimento re-
sultante é uma oscilação forçada ou uma
oscilação com força propulsora. Trata-se
de um movimento diferente do ocorrido
Quando a igualdade anterior é satisfei- quando simplesmente deslocamos o sis-
ta, ocorre o que conhecemos como sendo tema da sua posição de equilíbrio e o dei-
o amortecimento crítico. O sistema não xamos livre; neste casso, o sistema oscila
oscila mais e, ao ser deslocado e liberta- com uma frequência angular natural ω’ ,
do, retorna para sua posição de equilíbrio determinado por m, k e b como na igual-
sem oscilar. dade

A condição b maior que cor-


responde ao superamortecimento. Nova-
mente, o sistema não oscila, entretanto,
retorna para a sua posição de equilíbrio Contudo, no caso de uma oscilação for-
mais lentamente do que no caso do amor- çada, a frequência angular da oscilação
tecimento crítico. da massa é igual à frequência angular da
força propulsora ωd . Esta frequência não
Para b menor do que o valor crítico, quan-
é igual à frequência angular ω’ com a qual
do a igualdade é
o sistema oscilaria caso ele não estivesse
verificada, a condição denomina-se suba-
submetido à ação da força. Quando você
mortecimento. O sistema oscila com uma
segura as cordas do balanço da criança
amplitude que diminui continuamente.
no parquinho, pode forçá-lo a oscilar com
qualquer frequência que desejar.
3.5 Oscilador harmônico
O caso mais simples a ser analisado é
forçado o de uma força que varia em termos da
Quando um oscilador amortecido é função seno, com a forma:
deixado livre, suas oscilações tendem a
parar. Entretanto, podemos manter cons-
tante a amplitude das oscilações aplican-
do uma força que varia periodicamente, Quando variamos a frequência angular
com dado período e uma frequência fixa. ωd da força propulsora, a amplitude da
Como exemplo, imagine uma criança osci- oscilação forçada resultante varia de
lando no balanço de um parquinho. Você modo como mostra Figura 22 a seguir. O
pode manter constante a amplitude das eixo horizontal indica a reação entre a
oscilações se fornecer a ela um pequeno frequência angular ωd e a frequência an-
empurrão no final de cada ciclo. Essa for- gular da oscilação natural
ça adicional é chamada de força propul- não amortecida. Os números ao lado das
26

curvas indicam os valores das grandezas


adimensionais , que caracteri-
zam a quantidade do amortecimento. A
curva com pico mais elevado possui
, a curva seguinte possui Problema – A extremidade esquerda
, e assim por diante. À medida de uma mola horizontal é mantida fixa.
que b aumenta, o pico torna-se mais lar- Ligamos um dinamômetro na extremi-
go e a amplitude se torna menor e se dade livre da mola e puxamos para a di-
desloca para frequências menores. reita; verificamos que a força que estica
a mola é proporcional ao deslocamento
Quando b é maior do que , o pico
e que, a uma força de 6,0 N, produz um
desaparece completamente.
deslocamento igual a 0,030 m. A seguir,
Quando existe um amortecimento removemos o dinamômetro e amarramos
muito pequeno (b pequeno), a amplitude a extremidade livre a um corpo de 0,50
kg, puxamos o corpo até uma distância
tende a crescer fortemente até atingir
de 0,020 m, libertamos e observamos o
um pico agudo no momento em que a fre-
MHS resultante. Assim sendo, pede-se:
quência angular ωd da força propulsora
torna-se igual à frequência angular natu- a) Calcule a constante da mola.
ral ω’ . Quando o amortecimento aumen-
b) Calcule o período da oscilação.
ta mais (b grande), o pico se torna mais
largo e a amplitude se torna menor e se c) Admita um deslocamento inicial
desloca para frequências menores. de +0,050 m e uma velocidade inicial de
+0,40 m/s. Calcule o período, a amplitude
e o ângulo de fase.

d) Calcule a energia mecânica total.

Figura 23: A descrição geométrica do problema.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Solução – neste caso, temos que:


a) Quando x = 0,030 m, a força que a
mola exerce sobre o dinamômetro é F = -
Figura 22: Oscilação forçada. 6,0 N. Logo, escrevemos:
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A equação que nos mostra a amplitude


A de um oscilador forçado é descrita ma-
tematicamente como segue. b) Os dados são m = 0,050 kg e k = 200
N/m = 200 kg/s2, dessa maneira, vem
27

que:

A frequência é caracterizada como se-


gue:

O período T é o inverso da frequência f,


assim sendo, temos que:

c) O período é exatamente igual ao ob-


tido T = 0,31 s, pois, em um MHS, o perí-
odo não depende da amplitude, somente
dos valores de k e de m. Portanto, vem
que:

Para encontrarmos o ângulo de fase,


usamos a expressão
como segue:

d) A energia total possui o mesmo va-


lor para todos os pontos durante o movi-
mento:
28
UNIDADE 4 - Movimentos Bidimensional e
Tridimensional Envolvendo Partículas
4.1 Vetor posição e vetor Definimos a velocidade média vm identi-
camente como fizemos anteriormente,
velocidade como o deslocamento dividido pelo inter-
Consideremos uma partícula que es- valo de tempo:
teja em um ponto P em dado instante. O
vetor posição da partícula neste
instante é um vetor que vai da origem do
sistema de coordenadas até o ponto P.
Observe a Figura 24 a seguir. Essa figura
também mostra que as coordenadas car-
tesianas x, y e z do ponto P são compo-
nentes x, y e z do vetor r. Usando os veto-
res unitários podemos escrever:

Figura 25: Movimento de uma partícula do ponto P1


ao ponto P2 .
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

A velocidade instantânea é definida


tal como feito anteriormente, ela é o li-
mite da velocidade média quando o inter-
valo tende a zero, sendo igual à taxa de
Figura 24: Vetor posição .
variação do vetor posição com o tempo. A
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
diferença fundamental é que agora a po-
sição r e a velocidade instantânea v são
Quando uma partícula se desloca no vetores:
espaço, a trajetória descrita normalmen-
te é uma curva, conforme nos mostra a
Figura 25 a seguir. Durante um intervalo
de tempo ∆t , a partícula se move de um
ponto P1, onde o vetor posição é , até o Normalmente, é mais fácil calcular o
ponto P2, onde o vetor posição é . A varia- vetor velocidade instantânea usando
ção da posição (o deslocamento) duran- componentes. Durante qualquer deslo-
te esse intervalo de tempo é ∆r = r2 - r1. camento as variações ∆x, ∆y e ∆z
29

das três coordenadas da partícula são os Problema – Um rinoceronte está na


componentes de ∆r. Daí se conclui que origem do sistema de coordenadas para
os componentes v x , v y e v z da velocidade t1 = 0. Para o intervalo de tempo entre
instantânea v são simplesmente as deri- t1 = 0 e t2 = 12,0 s, sua velocidade média
vadas das coordenadas x,y e z em relação possui componente x = -3,8 m/s e compo-
ao tempo. Ou seja, nente y = 4,9 m/s. Para t2 = 12,0 s:

a) Quais são as coordenadas x e y do


rinoceronte?

b) Qual a distância entre a origem e o


O módulo do vetor velocidade instan- rinoceronte?
tânea v – isto é, a velocidade escalar – é
dado em termos dos compontente v x , v y Solução: Neste caso, temos que:
e v z pelo Teorema de Pitágoras. Ou seja, a) x = (v x, média) ∆t = (-3,8 m/s)(12,0
escrevemos: s) = - 45,6 m

A Figura 26 a seguir mostra a situação y = (v y, média)∆t = (4.9 m/s)(12.0 s)


quando a partícula se move no plano xy. = 58,8 m.
Nesse caso, o eixo z e vz são nulos. Então, b)
a velocidade escalar (o módulo do vetor
v) é dada por:
4.2 Vetor aceleração
Assim como no caso do movimento
E a direção da velocidade instantânea unidimensional, a aceleração indica como
v é dada pelo ângulo indicado na Figura a velocidade de uma partícua está va-
26 a seguir. Então, temos que: riando. Entretanto, agora vamos genera-
lizar o conceito de aceleração para incluir
variações do módulo da velocidade (isto
é, da velocidade escalar) e variações da
direção da velocidade (isto é, da direção
e do sentido do movimento no espaço).

Na Figura 27 a seguir, uma partícula


está se movendo ao longo de uma traje-
tória curva. Os vetores v1 e v2 represen-
tam, respectivamente, o vetor velocida-
de instantânea da partícula no instante
Figura 26: Os dois componentes da velocidade para t1 quando ela está no ponto P1, e o vetor
um movimento no plano. velocidade instantânea da particula no
Fonte: Elaborado pelo próprio autor. instante t1 quando ela está no ponto P2.
30

Figura 27: Partícula se movendo em uma trajetória curva.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

As duas velocidades podem possuir trução indicada na Figura 28, na sequ-


módulos e direções diferentes. Defi- ência, nos mostra que o vetor aceleração
→ →
nimos o vetor aceleração média am da instantânea a de uma partíula em mo-
partícula quando ela se move de P1 a P2 vimento sempre aponta para o lado côn-
como a variação vetorial da velocidade, cavo de uma trajetória curva, ou seja,
v2 - v1=∆v dividida pelo intervalo de tem- para o lado interno de qualquer volta
po t2 - t1=∆t: Ou seja, temos que: que a partícula esteja fazendo. Nota-se
também que, quando uma partícula se
move ao longo de uma trajetória curva,
sua aceleração é sempre diferente de
zero, mesmo quando sua velocidade es-

Como descrito anteriormente, defini- calar é constante. A definição mais pre-


→ cisa da igualdade mostra que
mos a aceleração instantânea a no pon-
to P1 como o limite da aceleração média pode existir aceleração diferente de zero
quando o ponto P1 se aproxima do ponto quando houver qualquer variação do ve-
P2, e ∆v e ∆t tendem simultaneamente tor velocidade, incluindo apenas variação
a zero; a aceleração instantânea também da direção deste vetor sem variação da
é igual à taxa de variação da velocida- velocidade escalar ou, então, variação
de instantânea com o tempo. Como não simutânea da direção da velocidade es-
estamos nos restringindo ao movimen- calar.
to retilíneo, a aceleração instantânea é
agora uma grandeza vetorial: Para dar um exemplo de que uma partí-
cula possui aceleração diferente de zero
quando ela descreve uma trajetória curva
com velocidade constante, lembre-se da
sua sensação quando está viajando em
→ um carro. Quando o carro acelera, você
O vetor velocidade v é tangente à tra- tente a se mover em sentido contrário
jetória da partícula. Entretanto, a cons- ao da aceleração dele. Logo, você tende
31

a ser emprurrado para a traseira do carro Problema – A velocidade de um ca-


quando ele acelera para a frente (aumen- chorro correndo em um campo aberto
ta de velociade) e, para a frente do car- possui componente vx = 2,6 m/s, vy = -1,8
ro quando ele acelera para trás (diminui m/s para t1 = 10,0s. Para um intervalo de
de velocidade). Quando o carro faz uma tempo entre t1 = 10,0 s e t2 = 20,0 s, a ace-
leração média do cachorro possui módulo
curva em uma estrada plana, você tende
igual a 0,45 m/s2, formando um ângulo
a ser empurrado para fora da curva; indi- de 31,0º, medido considerando a rotação
cando que o carro possui uma aceleração do eixo +Ox para o eixo +Oy.
para dentro da curva.
a) Quais são os componentes x e y da
Normalmente, estamos interessados velocidade do cachorro?
no vetor aceleração instantânea e não
na aceleração média. A partir de agora, b) Qual o módulo da velocidade do ca-
quando mencionarmos a palavra “ace- chorro?
leração”, queremos nos referir ao vetor
Solução – neste caso, temos que:
aceleração instantânea.
a) Devemos encontrar os componen-
Cada componente do vetor aceleração
tes da aceleração nas direções x e y. Estes
instantânea é dado pela derivação do
componentes são dados por:
respectivo componente do vetor veloci-
dade: ax = a cos α0
ay = a sen α0

Dessa forma, vem que:

ax = (0,45) cos 31,0° = 0,39 m/s2;


O módulo do vetor aceleração instan-
tânea a – isto é, a aceleração escalar – é ay = (0,45) sen 31,0° = 0,23 m/s2.
dado em termos dos compontentes a x , ay Utilizando a equação v=v0+at , temos
e az pelo Teorema de Pitágoras: que:

vx = 2,6 + (0,39) (10,0) = 6,5 m/s;


vy = -1,8 + (0,23) (10,0) = 0,52 m/s.
Para a situação, quando a partícula se
move no plano xy, o eixo z e a aceleração b) Aplicando o módulo da velocidade,
v z são nulos. Então, a aceleração escalar vemos facilmente que:

(o módulo do vetor a ) é dada por:

E a direção da aceleração instantânea


4.3 Movimento de um pro-
a é dada pelo ângulo α . Então, temos
que: jétil
A fim de analisarmos este tipo de mo-
vimento, começaremos com um mode-
lo idealizado, representando o projétil
32

como uma partícula com aceleração (de- rados. Os componentes de a são:


vido à gravidade) constante em módulo, ax = 0
direção e sentido. Iremos desprezar os ay = -g
efeitos de resistência do ar e a curvatura Sendo: g = 9,8 m/s2.
e rotação da Terra.
Podemos utilizar as equações descritas
Notamos inicialmente que o movimen- anteriormente de modo direto. Exemplifi-
to de um projétil está sempre confinado cando, suponha que no instante t=0, a par-
em um plano vertical determinado pela tícula esteja em repouso no ponto (x0 e y0)
direção da velocidade inicial. Observe a e que, nesse instante, sua velocidade inicial
Figura 28 a seguir. Isso ocorre porque a possua componente v0x e v0y. Os compo-
aceleração da gravidade é sempre ver- nentes da aceleração são ax = 0 e ay = -g.
tical. Logo, o movimento de um projétil Considerando inicialmente o movimento no
ocorre em duas dimensões. O plano do eixo Ox, substituindo v por vx, v0 por v0x e a
movimento será considerado o plano xy, por 0 obtemos que:
sendo o eixo Ox horizontal, e o eixo Oy
vx = v0x
vertical e orientado de baixo para cima.
x = x0 + v0xt

Para o movimento no eixo Oy, substituin-


do x por y, v por vy, v0 por v0y e a por –g, en-
contramos:

vy = v0y – gt

Normalmente, é mais simples considerar


Figura 28: Movimento de um projétil. a posição inicial (t = 0) como a origem. Nes-
Fonte: Elaborado pelo próprio autor. se caso x0 = y0 = 0.

A chave para analisarmos o movimento A Figura 29 a seguir, mostra-nos a tra-


de um projétil é tratar os componentes x jetória de um projétil que começa na (ou
e y separadamente. O componente x da atravessa a) origem em dado instante t=0.
aceleração é igual a zero, e o componente Os componentes da posição, da velocidade
y é constante e igual a –g. e da aceleração são indicados para inter-
valos de tempos iguais; o componente x
Podemos expressar todas as relações da aceleração é igual a zero, portanto, vx é
vetoriais para a posição, velocidade e ace- constante. O componente y da aceleração
leração usando equações separadas para é constante e não nulo, de modo que vy va-
os componentes horizontais e perpendi- ria de quantidades iguais em intervalos de
culares. O movimento efetivo do projétil é tempo iguais. No ponto mais elevado da sua
a superposição destes movimentos sepa- trajetória vy = 0.
33

Figura 29: Trajetória de um corpo.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Podemos também representar a velo- vy = v0 sen α0 - gt



cidade inicial v0 por seu módulo v0 (a velo-
Essas equações descrevem a posição e
cidade escalar inicial), seu ângulo α0 com
a velocidade de um projétil na Figura 30 a
o sentido positivo do eixo Ox. Em termos
seguir, em qualquer instante t. Dessas re-
dessas grandezas, os componentes v 0x e
lações, podemos extrair muitas informa-
v 0y da velocidade inicial são:
ções. Por exemplo, em qualquer instante,
v0x=v0 cos α0 v0y =v0 sen α0 a distância r entre o projétil e a origem (o
módulo do vetor posição r) é dada por:
Equação 3.15

Usando este resultado nas relações


indicadas pela equação até a
equação x=Ae-(b/2m)t cos(ω't+Φ) e fazendo A velocidade escalar do projétil (o mó-
x0= y0, vem que: dulo de sua velocidade), em qualquer ins-
tante, é dada por:
x = (v0 cos α0 ) t

A direção e o sentido da velocidade em


vx = v0 cos α0 termos do ângulo que ela faz com o sen-
34

tido positivo de Ox são dados por: Problema – Um motociclista se proje-


ta para fora da borda de um penhasco. No
ponto exato da borda, sua velocidade é ho-
rizontal e possui módulo igual a 9 m/s. Pe-
de-se:
O vetor velocidade →
v em cada ponto é
tangente à trajetória no referido ponto. a) a posição do motociclista;
Podemos deduzir a equação da forma da b) a distância da borda do penhasco;
trajetória em termos de x e de y eliminan-
do t. Pelas equações c) a velocidade depois de 0,50 s.
que supõem x0 =y0 = 0, obtemos: Solução – neste caso, temos que:
a) Escolhendo a origem na borda do
penhasco, onde o motociclista começa a
Não se preocupe com os detalhes des- se tornar um projétil, temos:
ta equação; o ponto importante é sua
forma geral. As grandezas v0, tan α0 , cos x0 = 0;
α0 e g são constantes, de modo que esta y0 = 0.
equação tem a forma:
A velocidade é puramente horizontal
y = bx – cx2 (ou seja, α0 = 0), de modo que a velocida-
Sendo que b e c são constantes. Trata- de inicial possui os componentes:
-se da equação da parábola. A trajetória v0x = v0 cos α0 = 9,0 cos 0º = 9 m/s;
de um projétil, com nosso modelo simpli-
ficado, é sempre uma parábola. Esta fo- v0y = v0 sen α0 = 9,0 sen 0º = 0 m/s.
tografia estroboscópica de uma bola sal- Quanto ao t = 0,50, temos:
tando mostra justamente essa trajetória
parabólica depois de cada salto.

b) Da equação , temos:

c) Das equações v x = v0 cos e v y = v0


sen α0 - gt, temos:

Figura 30: Trajetória parabólica de uma bola de


O motociclista possui a mesma velo-
tênis. cidade horizontal v x que possuía no mo-
Fonte: Elaborado pelo próprio autor. mento t = 0 em que ele abandona a borda
do penhasco, entretanto, surge uma ve-
35

locidade vertical v y dirigida para baixo (no do planeta de massa M, a força sobre a
sentido negativo do eixo Oy). unidade de massa situada no ponto P é
dada por:

Figura 31: Interpretação geométrica do problema.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Figura 33: Aceleração da gravidade.

4.4 Força central Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

a) Força de atração entre os corpos c) Força central



A interação entre dois corpos de mas- Considere que uma força F atuante so-
sa M e m é descrita em termos de uma bre uma partícula de massa m, como está
força atrativa, conforme Figura 32 a se- representado na Figura 34 a seguir, é tal
guir, cuja direção é a reta que passa pelo que:
centro dos dois corpos e cujo módulo é
a) ela é sempre dirigida de m para um
dado pela equação matemática dada por:
ponto fixo O ou em sentido contrário;

b) seu módulo depende somente da


distância r de m a O.

Figura 32: Força de atração.


Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

Figura 34: Representação de uma força central.


Sendo G a constante da gravitação Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
universal G = 6,67.10-11 Nm2 /kg2, e r é a
Uma força assim é chamada de força
distância entre os centros dos corpos.
central ou campo de força central, em
b) Interpretando a aceleração da que O é o centro de força.
gravidade
Uma força é central quando o vetor po-
→ →
É denominada intensidade do campo sição r é paralelo ao vetor força F. O mo-
gravitacional, ou aceleração da gravida- mento da força M = r x F = 0. Da relação
de g em um ponto P distante r do centro entre o momento das forças que atuam
36

sobre a partícula e o momento angular


(Teorema do momento angular), conclu-
ímos que:

Figura 36: Força de atração.


O momento angular permanece cons-
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
tante em módulo, direção e sentido. O

momento angular L de uma partícula é Vamos calcular o trabalho realizado

o vetor resultado do produto vetorial pela força atração F . Neste caso, temos
→ → →
L = r x m v , cuja direção é perpendicular que:
ao plano determinado pelo vetor posição
r e o vetor velocidade v.

Como o vetor L permanece constan- O trabalho infinitesimal é o produto
→ → →
te em direção, r e v estão em um plano escalar do vetor força F pelo vetor deslo-
→ →
perpendicular à direção fixa de L . Con- camento dl , tangente à trajetória.
cluímos que a trajetória do móvel estará →→
contida em um plano perpendicular ao dW =F . F = F.dl.cos (180 - θ) = - F.dl.cos
→ Φ = - F. dr, sendo dr o deslocamento in-
vetor momento angular L .
→ → finitesimal da partícula na direção radial.
Quando os vetores, r e v são parale-
los, logo a direção do movimento passa Para calcular o trabalho total, integra-
pela origem, o momento angular L = 0. mos entre a posição inicial A, distante rA
A partícula descreve um movimento re- do centro de forças e a posição final B,
tilíneo, cuja aceleração não é constante. distante r B do centro fixo de forças.
Observe a Figura 35 a seguir.

O trabalho W não depende do caminho


seguido pela partícula para ir da posição

A à posição B. A força de atração F , que
exerce o corpo fixo de massa M sobre a
partícula de massa m, é conservativa.Tal
função é denominada energia potencial.
A fórmula da energia potencial é escrita
Figura 35: Força Central. como:
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.

d) Força de atração
Suponhamos que uma partícula de O nível zero de energia potencial foi
massa m se move desde a posição A até a estabelecido no infinito, para r = infinito,
posição B nas proximidades de um corpo Ep = 0.
fixo de massa M.
O fato de que a força de atração ser
37

conservativa implica que a energia total Vamos descrever o movimento de um


(cinética mais potencial) da partícula é corpo que é deixado cair desde uma dis-
constante, em qualquer ponto da traje- tância r > R do centro da Terra até atingir
tória. a sua superfície. Como a força de atração
depende da distância r entre o centro da
Terra e o objeto, a aceleração não é cons-
tante. No entanto, o princípio de conser-
vação da energia nos permite calcular a
sendo 1/2 mv2 a energia cinética (Ec) da
velocidade v com a qual atingirá a super-
partícula.
fície da Terra.
e) Queda livre de grandes distân-
cias
Examinamos a situação mais simples,
aquela na qual o momento angular L = 0 Sendo:
(movimento retilíneo), em que somente é
m é a massa do corpo;
necessário aplicar o princípio de conser-
vação da energia. M é a massa da Terra;

R é o raio da Terra;

r é a distância entre o centro do corpo


à superfície da Terra.
Problema – Deixamos cair um objeto
situado a h = 20.000 km de altura. Calcule
a velocidade com a qual atinge a superfície
da Terra. Os dados são:

Raio da Terra - R = 6,37.106 m


Figura 37: Aplicando o princípio de conservação de
energia. Massa da Terra - M = 5,98.1024 kg
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Constante - G = 6,67.10-11 Nm2/kg2
Admitindo uma altura h < R, pequena
Solução – neste caso, temos que:
em comparação com o raio da Terra. O
tempo t e a velocidade v com que o corpo r = 20,0.106 + 6,37.106 = 26,37 . 106 m
atinge a superfície da Terra são calcula-
Substituindo na equação:
dos mediante as equações:

Vem que, v = 9.746 m/s.


sendo g, a aceleração da gravidade na
superfície da Terra que supomos cons-
tante (9,8 m/s2).
38

UNIDADE 5 - Unidades de Medidas

As quatro quantidades básicas – com- abreviado como SI, do francês Système


primento, tempo, massa e força – não são International d’Unités, é uma versão
todas independentes umas das outras; na moderna do sistema métrico, que rece-
verdade, elas são relacionadas pela se- beu aceitação mundial. Como mostra o
gunda lei do movimento de Newton, F = Quadro 1 a seguir, o sistema SI define o
ma. A igualdade F = ma é mantida apenas comprimento em metros (m), o tempo em
se três das quatro unidades, chamadas segundos (s) e a massa em quilogramas
unidades básicas, estiverem definidas e a (kg). A unidade de força chamada ‘new-
quarta unidade for derivada da equação. ton’ (N), é derivada de F = ma. Portanto,
1 newton é igual a força necessária para
a) Unidades SI
fornecer a 1 (um) quilograma de massa
O Sistema Internacional de Unidades, uma aceleração de 1 m/s2(N = kg.m/s2).
39

b) Prefixos dades usadas para definir seu tamanho


podem ser modificadas usando um prefi-
Quando uma quantidade numérica é
xo. Alguns dos prefixos usados no SI são
muito grande ou muito pequena, as uni-
mostrados no Quadro 2 a seguir.
40

REFERÊNCIAS

BEER, Ferdinand P.; JOHNSTON, Jr., E.


Russell. Mecânica Vetorial para engenhei-
ros: estática. 5 ed. Ver. São Paulo: Pear-
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son, 2005.

LANDAU, L.LIFCHITZ, E. Mecânica. São


Paulo: Hemus – Livraria Editora.

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mecânica para engenharia. Volume 1. 6.
Ed Rio de Janeiro: LTC, 2009.

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Janeiro: Editora UFRJ.

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engenharia. 4. Ed. São Paulo: Ed. Prentice
Hall, 2002. V.1. (BV).

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SYMON, K. R. Mecânica. Rio de Janeiro:


Ed. Campus, 1982.

RICARDO, Octavio Gaspar de Souza.


Teoria das estruturas. SP: Mcgraw-hill,
1978.
41

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