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XVII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA

DO AMBIENTE CONSTRUÍDO
Desafios da Inovação no Ambiente Construído
Foz do Iguaçu, 12 a 14 de novembro de 2018

EFEITO DO ADITIVO HIDROFUGANTE NA ABSORÇÃO DE ÁGUA


DAS PASTAS DE GESSO DE FUNDIÇÃO1

PAPER XX

ABSTRACT
Gypsum is a widely used binder in construction. It can be used in the production of coatings,
decorative artifacts, ceilings, gypsum plasterboard and in the manufacture of preforms.
Although gypsum is an easily obtainable and produced material, it presents disadvantages if
exposed to environments with humidity due to its high solubility. In this way additives are used
that aim to improve the properties of the gypsum in the fresh and hardened states. The water
repellent additives are used to provide the waterproofing of the gypsum blocks making them
more resistant to the effects of moisture and reducing their degradation. The objective of this
work was to evaluate the effect of commercial water repellent additives on water absorption
by total immersion and by capillarity. It was observed that the water repellent additives did
not provide the satisfactory reduction of the water absorption obtaining values, even, higher
than in the paste without the additive.
Keywords: Plaster. Absorption. Waterproofing. Additive. Capillarity

1 INTRODUÇÃO
A utilização do gesso na construção civil deve-se ao baixo consumo de
energia para a produção, a facilidade de moldagem, boa aparência com
lisura da superfície, produtividade elevada, boa aderência à alvenaria,
endurecimento rápido, entre outras propriedades. O gesso poderá ser
utilizado na produção de revestimentos, artefatos de decoração, forros,
gesso acartonado (Drywall) e na fabricação de pré-moldados.
O gesso é um aglomerante aéreo e a pasta apresenta a propriedade de
endurecer por reação de hidratação com a água. No entanto, após seu
endurecimento, o gesso não resiste satisfatoriamente quando submetida à
ação da água. Desta forma, tem-se o surgimento de patologias decorrentes
do contato do bloco de gesso com a água e a umidade, como a
desagregação da pintura, desgaste e deterioração do gesso e o surgimento
de manchas amareladas reduzindo, consequentemente, a vida útil do
sistema de vedação (RODRIGUES, 2008; SIQUEIRA FILHO, 2006).

1ANDERY, P. , HIROTA, E. Instruções para a preparação do artigo completo para o ENTAC 2016. In:
ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 18., 2016, São Paulo. Anais... Porto
Alegre: ANTAC, 2018.
ENTAC2018 – Foz do Iguaçu, Brasil, 12 a 14 de novembro de 2018

A utilização dos aditivos hidrofugantes visa melhorar a durabilidade da


edificação por meio da redução da absorção de água devido o material
funcionar como impermeabilizante conferindo estanqueidade ao sistema
construtivo (LIMA FILHO, 2010). No entanto há uma carência de dados
científicos que comprovem a eficácia do aditivo na formação da barreira
impermeabilizante e na redução da absorção de água.
Diante dessas necessidades, este trabalho teve por objetivo avaliar a
influência do aditivo hidrofugante na absorção de água por imersão total e
por capilaridade das pastas de gesso de fundição. Foi observado que os
aditivos hidrofugantes não proporcionaram a redução satisfatória da
absorção de água obtendo valores, inclusive, maiores que na pasta sem o
aditivo.

2 MATERIAIS
Os materiais utilizados na pesquisa foram a água, o gesso comercial e
aditivos hidrofugantes comerciais.

2.1 Água
A água utilizada no preparo das pastas foi fornecida pelo sistema de
abastecimento público. Somente nos ensaios em que há a prescrição
normativa foi utilizada a água destilada.

2.2 Gesso Comercial


O gesso empregado na fabricação das pastas foi um hemidrato de
fundição ou gesso rápido. Esse gesso foi adquirido no Polo Gesseiro do
Araripe, em Araripina – PE, em sacos de 40 kg de um mesmo lote.
A caracterização física e mecânica desse material está indicada na Tabela
1. As pastas foram produzidas utilizando a consistência normal e foi
verificada a conformidade com os requisitos da NBR 13.207 (2017).

Tabela 1 - Caracterização física e mecânica do gesso


Limite
Propriedade Valor (NBR 13207, Método de ensaio
2017)
Água Livre (%) 0,20 ± 0,07 1,3 NBR 12130 (2017)
Consistência Normal (a/g) 0,499 ± 0,001 - NBR 12128 (2017)
Dureza Superficial (N/mm²) 57,12 ± 3,64 ≥ 20,00 NBR 12129 (2017)
≥ 90%
(passante na
Granulometria (%) 97,03 ± 0,72 peneira de
NBR 12127(2017)
abertura 0,292
mm)
Massa Unitária (g/cm³) 0,724 ± 0,003 ≥ 0,600

2 Foi utilizada a peneira de abertura 0,30 mm devido a inexistência na peneira de abertura 0,29 mm no
laboratório.
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Massa Específica (g/cm³) 2,65 ± 0,01 - NBR NM 23 (2000)


Resistência à Compressão
21,06 ± 0,49 ≥ 8,43 NBR 12129 (2017)
(MPa)
Tempo de início de pega
12,67 ± 0,23 ≤ 10,00 NBR 12128 (2017)
(min.)
Tempo de fim de pega (min.) 14,92 ± 0,59 ≤ 20,00 NBR 12128 (2017)
Fonte: Autores (2018)

2.3 Aditivo Hidrofugante


Foram utilizados dois aditivos hidrofugantes comerciais, de massa, indicados
para pastas de gesso aqui identificados como, aditivo 1 e aditivo 2. Esses
aditivos são comercializados por empresa brasileira e adquiridos por meio de
representante comercial.
As dosagens dos aditivos que foram utilizadas nesta pesquisa seguiram a
recomendação do fabricante, com o menor e o maior valor da faixa de
indicação.

3 MÉTODOS
As pastas utilizadas nesta pesquisa foram produzidas com a relação
água/gesso (a/g) de 0,7. Esta relação foi escolhida devido ser utilizada na
fabricação comercial de blocos de gesso no Polo Gesseiro do Araripe e,
assim, obter as mesmas características da produção comercial dos blocos.
O Quadro 1 apresenta a matriz experimental utilizada neste estudo.

Quadro 1 - Matriz experimental da pesquisa


Relação
Pasta Gesso Aditivo Hidrofugante
água/gesso
Caracterização – consistência normal
GFC 100,0% 0,0% 0,5
Referência – sem aditivo
GF0 100,0% 0,0% 0,7
Hidrofugado - Com aditivos
GF1 - A 100,0% 0,6% 0,7
GF1 - B 100,0% 1,0% 0,7
GF2 - A 100,0% 0,2% 0,7
GF2 - B 100,0% 0,8% 0,7
Fonte: Autores (2018)

O prefixo “GF” significa gesso de fundição. A letra “C” indica que a pasta
GFC foi fabricada utilizando a consistência normal. A pasta GF0 não possui
aditivo hidrofugante, sendo a referência.
As pastas GF1-A e GF1-B foram produzidas utilizando o aditivo 1. Já as pastas
GF2-A e GF2-B foram produzidas utilizando o aditivo 2.
Os procedimentos dos ensaios estão especificados no Quadro 2.

3A NBR 13.207 (2017) não faz referência a resistência à compressão. O parâmetro utilizado refere-se à
NBR 13.207 (1994).
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Quadro 2 - Metodologias dos ensaios de caracterização


Estado Objetivo Ensaio Método Material/Pasta
Água livre NBR 12130 (2017) Gesso
Granulometria NBR 12127 (2017) Gesso
Caracterização
Pó Massa
Física NM 23 (2001) Gesso
específica
Massa unitária NBR 12127 (2017) Gesso
Resistência à
compressão NBR 12129 (2017) GFC
axial
Absorção de
Caracterização
Endurecido água por NBR 16495 (2016) GF0; GF1; GF2
Mecânica
imersão total
Absorção de
água por ASTM C1794 (2015) GF0; GF1; GF2
capilaridade
Fonte: Autores (2018)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Absorção de água por imersão total


No Gráfico 1, estão apresentados os valores médios de absorção de água
por imersão total das pastas analisadas.
Gráfico 1 - Valores médios de absorção de água por imersão total
40,00% 34,93%
32,81% 32,27% 34,86%
Absorção de água por imersão

35,00%
30,00% 30,38%
25,00%
20,00%
total (%)

15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
GF0 GF1-A GF1-B GF2-A GF2-B
Pastas de gesso
ABSORÇÃO DE ÁGUA POR IMERSÃO TOTAL (%)

ABSORÇÃO DE ÁGUA POR IMERSÃO TOTAL MÁXIMA


SEGUNDO A NBR 16494 (2017)
Fonte: Autores (2018)

Através do Gráfico 1, observa-se que após 120 min. de ensaio a pasta GF1-A
não apresentou mudança significativa de absorção de água por imersão
total em relação à pasta de referência, GF0; a pasta GF1-B apresentou uma
pequena redução desta propriedade, de 7,41%. Já as pastas fabricadas
com o aditivo 2, GF2-A e GF2-B, tiveram seus valores de absorção,
praticamente, constantes e maiores que na pasta de referência.
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Em relação ao critério normativo da NBR 16494 (2017), todas as pastas


possuem valores de absorção de água por imersão total maior que 5%, após
120 min. de imersão. As pastas também não atenderam ao requisito de
absorção dos blocos de gesso que são produzidos na Europa de, no
máximo, 5% de água, de acordo com Santos (2017) apud EN 12859 (2008). O
maior valor de absorção foi de 34,93% na pasta GF2-B.
Verificou-se que o comportamento das pastas com os aditivos não ocorreu
de forma adequada. As pastas com o aditivo 1 obtiveram valores próximos a
pasta de referência. Já o aditivo 2, pastas GF2-A e GF2-B, ocasionou valores
de absorção maiores que na pasta sem aditivo, GF0.
A absorção de água em todas as pastas não ocorreu conforme observado
na literatura (SILVA et al, 2016; SANTOS, 2017), visto que não foi reduzida
como o aumento do teor de hidrofugação.

4.2 Absorção de água por capilaridade


O Gráfico 2 apresenta a evolução da quantidade de água absorvida pelos
corpos de prova, por unidade de superfície, em função da raiz quadrada do
tempo.

Gráfico 2 - Curvas de absorção de água por capilaridade das pastas estudadas

70
65
60
55
50
Δmt (kg/m²)

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300
t0,5 (s0,5)

GF0 GF1-A GF1-B GF2-A GF2-B

Fonte: Autores (2018)

No Gráfico 2, verifica-se que as curvas das pastas GF0, GF2-A e GF2-B


possuem dois trechos bem definidos, um linear e um constante. No primeiro
trecho, a absorção de água ocorreu de forma linear finalizando no instante
em que a água alcançou a superfície superior dos corpos de prova, em
torno de 120 min, e permanecendo constante.
Já as curvas das pastas GF1-A e GF1-B, são caracterizadas apenas pelo
trecho linear indicando que a água não alcançou a superfície superior dos
corpos de prova no período do ensaio.
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No Gráfico 3, estão apresentados os valores dos coeficientes de


capilaridades das curvas de absorção de água obtidos pelo método da
ASTM.

Gráfico 3 - Valores dos coeficientes de capilaridade obtidos a partir das curvas de


absorção de água por capilaridade pela ASTM

8.000 7931 7534


Coeficiente de absorção de água
por capilaridade (kg/m².s0,5) X

7.000
6.000 6227
5.000
4.000
10^(- 4)

3.000
2.000 1571
1.000 333 1076
0
GF0 GF1-A GF1-B GF2-A GF2-B
Pastas de gesso
COEFICIENTE DE CAPILARIDADE PELA ASTM C1794 (2015)

COEFICIENTE DE CAPILARIDADE MÍNIMO PARA SUCÇÃO


RÁPIDA PELA DIN 52.617 (1987)

Fonte: Autores (2018)

Por meio do Gráfico 3, nota-se que as pastas com o aditivo 1, GF1-A e GF1-B,
atingiram os menores coeficientes. A pasta com a menor proporção do
aditivo 2, GF2-A, obteve o maior coeficiente estando muito próximo ao da
pasta de referência, GF0. Em todas as pastas, virifica-se que o aumento do
teor de hidrofugação influenciou na diminuição do coeficiente de absorção
de água por capilaridade.
Tem-se que os coeficientes de absorção obtidos são maiores do que o valor
mínimo para a classificação do material como sendo “Sucção rápida”, 333 x
10-4 (kg/m².s0,5), de acordo com a norma DIN 52.617 (1987) apud Santos
(2017).

5 CONCLUSÕES
A partir dos estudos realizados, são apresentadas as seguintes conclusões
sobre os ensaios de absorção de água por imersão total e por capilaridade:
 Em relação à absorção de água por imersão total, as pastas com o
aditivo 1 obtiveram valores próximos ao da referência, GF0, indicando o
baixo desempenho do aditivo nos teores utilizados;
 As pastas com o aditivo 2 obtiveram valores de absorção de água por
imersão total maiores que na referência, indicando que o aditivo não
teve o desempenho adequado;
 Em relação aos critérios normativos da NBR 16494 (2017) e da norma
francesa EM 12859 (2008), todas as pastas com os aditivos não atenderam
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ao requisito, obtendo mais de 5% de absorção de água por imersão total;


 Em relação à absorção de água por capilaridade as pastas com os
aditivos hidrofugantes apresentaram valores menores que na pasta de
referência;
 Verificou-se que o aumento do teor de hidrofugação dos dois aditivos
influenciou na redução da absorção de água por capilaridade, onde as
pastas com o aditivo 1 obtiveram os menores valores;
 Todas as pastas estudadas foram classificadas como sendo material de
“Sucção rápida”, conforme a DIN 52.617 (1987);
 Verificou-se que os aditivos hidrofugantes não proporcionaram a redução
da absorção de água, tanto por imersão total quanto por capilaridade,
de forma satisfatória atendendo aos critérios normativos. Esperava-se que
o comportamento do gesso hidrofugado, utilizando os teores
recomendados pelo fabricante, fosse, pelo menos, como sendo material
“preventivo contra a água”, conforme a DIN 52.617 (1987).

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos laboratórios da Instituição de Ensino Superior pelo
apoio técnico na realização dos ensaios.

REFERÊNCIAS
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construção civil- Determinação das propriedades físicas do pó. Rio de Janeiro: 2017.

_____.NBR 12128: Gesso para construção civil- Determinação das propriedades


físicas da pasta de gesso. Rio de Janeiro: 2017.

_____.NBR 12129: Gesso para construção civil - Determinação das propriedades


mecânicas. Rio de Janeiro: 2017.

_____.NBR 12130: Gesso para construção civil- Determinação da água livre e de


cristalização e teores de óxido de cálcio e anidrido sulfúrico: método de ensaio. Rio
de Janeiro: 2017.

_____.NBR 13207: Gesso para construção civil - Requisitos. Rio de Janeiro, 2017.

_____.NBR 16494: Blocos de gesso para vedação vertical – Requisitos. Rio de Janeiro,
2017.

_____.NBR 16495: Blocos de gesso para vedação vertical – Método de ensaio. Rio de
Janeiro, 2016.

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