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Vanderléia Canha
1999
2
INTRODUÇÃO
poder central (0 Estado) e poder local, o município representaria o palco das ações e
realizações populares.
Brasil é feito segundo as determinações estatais estabelecidas nas Ordenações reais. Se não
por vontade da Coroa portuguesa pela própria permanência da tradição das instituições
representaria, a justiça, e a ordem que o Estado, mesmo distante poderia por em prática na
Câmaras brasileiras neste período, deveriam ser organizadas de acordo com as Ordenações
Na segunda parte do trabalho, tendo ainda como referencial teórico, Edmundo Zenha e
dos oficiais da Câmara, quais eram as atribuições dos mesmos. E como processo de escolha
Rafael Pires Pardinho, que em 1721 em visita à Curitiba, procura colocar a Câmara em
correto funcionamento, da análise dos Autos de Posse e Juramento dos Oficiais, do período
entre 1750 e 1800 e das Atas de Vereação da Câmara do período entre 1786 e 1790 observo-
se que havia uma aparente falta de interesse no exercício dos cargos do Concelho o que
poderia prejudicar os trabalhos da Câmara. Por outro lado, verificou-se também indícios de
que apontam a influência pessoal como elemento importante na disputa dos cargos da Câmara
Municipal.
4
CAPÍTULO I
O MUNICÍPIO
1. O município português
que o município representa, ora restritas, ora ampliadas, depende das relações de poder em
jogo, da própria relação entre o poder local, o município e poder central, o Estado.
A primeira, representada aqui por Edmundo Zenha, defende a idéia do município herdado da
ordem Romana. A segunda localiza a origem do município no período das lutas cristãs para
recuperar a Península Ibérica das mãos muçulmanas, é defendida por Maria Helena Cruz e
o que representava alguns benefícios e pesadas obrigações, entre elas o serviço militar. No
período da República romana, o direito local contido no jus italiciun, foi generalizado
1
O município é uma instituição administrativa que surge pela vontade de um poder que lhe é superior. Sua
existência depende de um ato jurídico do Estado, a organização social comunitária só é considerada como
Município na sua relação com um poder superior. Concelho, Vila e Cidade podem significar o mesmo que
Município.
5
Imperial Romano, padronizam a Instituição municipal. Todos passam a possuir a Cúria: uma
assembléia formada pelas pessoas mais importantes da cidade, entre os quais alguns
distinguiam-se por suas capacidades ou riquezas. Esse grupo formava o conselho municipal.
“ conservação da paz interna do município, inspeção nos mercados, e a estimativa dos gêneros, o
prover que não faltassem as subsistências, o promover o reparo dos edifícios públicos e privados o
bom estado das vias de comunicação e enfim outros diversos ramos análogos da administração
pública”2
As vantagens municipais passam a ter um sentido honroso, e as cidades conquistadas
todo o Estado, fazendo com que a organização municipal modifique-se. No século IV, a
esvazia o sentido do município, que passa apenas cumprir as ordens do governo central,
burocraticamente.
durante período de organização dos reinos bárbaros. A Península Ibérica havia sido o local
onde se estruturara um maior número de municípios. A Invasão Goda manteve o que sobrara
da organização municipal que paulatinamente readquiriu o status que possuía até o Baixo
Império.
Helena Cruz e Joaquim Romero Magalhães, como a origem do Concelho Medieval. Este
6
fugiram dos muçulmanos, propiciou aos servos uma sensação de liberdade, que os leva a
apropriação do espaço interferem neste momento. Nos séculos IX e X, pode-se afirmar que as
povoar suas terras, que necessitavam de gente para o trabalho e para proteção. Nos séculos
os primeiros caracterizados por uma vida simples e forte coesão interna, os segundos
fortalecimento real, o município recebe novo impulso. O repovoamento das terras obtidas
com a expulsão moura fazia-se necessário e a região não era nada atrativa devido os trabalhos
repovoamento desses espaços cedendo-lhes a carta de foral, que era o reconhecimento real da
criação de novos municípios. Essa carta representava a liberdade procurada capaz tornar
O foral era o ato constitutivo do município, uma carta que garantia alguns benefícios,
tais como: igualdade, inviolabilidade do domicílio, justiça e participação nas decisões locais.
2
ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil 1532-1700. São Paulo. Ipê, 1940. Pg. 8.
7
Estes benefícios pareciam compensar os encargos trazidos pela defesa do território que a
milícia municipal deveria realizar, permitindo que o Rei consolidasse sua defesa.
A concessão de foral permitia ao rei retirar parte do incômodo poder mantido pelos
Senhores feudais. Os membros das povoações elevadas a categoria de Vila tornam-se aliados
do poder central e a relação monarca - súdito torna-se mais direta. Os nobres proprietários,
para não permitir o despovoamento de suas terras, nada atrativas em relação às liberdades
prometidas pelos municípios recém criados, passam a também ceder cartas de foral à aqueles
que habitavam as suas terras, acabando por perder o controle exercido sobre eles, que
reconquista, a criação de municípios garante ao rei, um espaço para fundar uma política feita
em nome da nação. Porém, em alguns casos as concessões foraleiras só eram dadas após
urbanos, são mais complexos em sua estrutura que os concelhos rurais, e as regiões de
vocação militar sentem mais a presença do rei através de seus funcionários do que qualquer
outra região.
cargos de maior relevo dentro do município eram o alcaide, representante do poder central,
administrativas e fiscalizadoras. 3
adaptarem a uma nova realidade: a burocracia organizada pelo governo central. Funcionários
reais tornam-se comuns nos municípios, mesmo à revelia do povo. Passam a ser nomeados os
regiões e que tem como funções fiscalizar a justiça, a vereação, o zelo dos magistrados locais
e funcionários régios, julgar os feitos dos privilegiados, supervisionar a eleição dos oficiais
homogeneizar o município e fazer sentir a presença real. As primeiras leis gerais datam de
1211, promulgadas durante o governo de Afonso II. Foram criadas para substituir a
diversidade de leis próprias de cada concelho e legitimar a presença e atitudes da coroa, entre
leis gerais ganham mais eficácia ao serem compiladas na forma das “Ordenações Afonsinas”,
vereadores, “aqueles homens-bons que por motivo de sua riqueza tinham cavalos e seriam
3
ZENHA, Edmundo. O município no Brasil 1532-1700. São Paulo. Ipê, 1948. Pg.16.
9
afinal os mais aptos e melhores para administração concelhia”4. A assembléia passa então a
escolher os magistrados locais. As funções camarárias tornam-se mais definidas: aos juizes
cabe a jurisdição, limitada pelos funcionários reais. Aos vereadores as funções administrativas
câmara.
praticada, tentativa de ajuste às transformações por que passava o reino com a expansão
municipal não é mais necessária para o projeto de centralização política do Estado. Vencido o
Afonsinas busca retirar grande parte do poder local, reduzindo o município a funções
administrativas.
a efetiva realização das ordens centrais, os direitos dos donatários e os privilégios senhorais
relação entre o rei e as câmaras é direta, sem intermediários que enfraqueçam a relação, não
há hierarquia entre os municípios. A população tenta manter a todo custo suas conquistas.
Não é tarefa fácil colocar em prática a centralização política, teorizada nas ordenações. A
4
Coelho, Maria Helena Cruz & MAGALHAES, Joaquim Romero . O poder concelhio; das origens às cortes
constituintes. Notas de História Social. Coimbra: Centro de Estudos e Formação Autárquica, 1986, pg. 16.
5
FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder, Formação do Patronato político brasileiro. Porto Alegre: Editora
Globo, 1977. V.1, pg. 64 e seguintes.
10
efetivação do poder depende de prestígio e dos recursos financeiros do rei, não basta um
ilícito dos cargos. Porém, o despotismo iluminado não consegue eliminar a tradição da câmara
profundamente o município que adota um outro modelo de organização. A justiça passa a ter
poderes nestes domínios ficam a cargo do administrador geral dos distritos, de nomeação
régia, o Prefeito. É com o liberalismo que o município será vencido, perdendo sua autonomia.
6
Grupo de pensadores dos séculos XVII e XVIII, que contestam o antigo regime.
11
2 . O Município no Brasil
O município, modelo que havia servido ao poder central português, em seu propósito
utilizado na colônia. Se não por vontade premeditada do poder central pela própria
“Foi a gente comum quem transplantou para o Oriente e para o Brasil uma estrutura
comunitária como a que existia nas Vilas e Cidades que haviam deixado em Portugal”.7
A criação de uma Vila, poderia ser determinada pelo poder central para reunir uma
população que estava dispersa, o que facilitava o controle real ou poderia ser requisitada pela
própria população, quando esta via a necessidade de organização comunitária. Dessa forma
pode-se inferir que a gênese dos municípios brasileiros dependeu tanto dos interesses do
mundo não é mero reflexo da sua correspondente na Europa. O município brasileiro possui
promovida pelas Ordenações Filipinas, não acontece neste período da história do município
brasileiro. A falta de recursos financeiros das Vilas, não permite muitas realizações no campo
7
ROSSEL- WOOD. Fidalgos e Filantropos. A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550- 1755.
12
momentos a organização coletiva era imprescindível, visando proteger o colono que se via
judiciário era reclamado, pela necessidade de “policiar a terra”, num período em que a justiça
real era distante, cara e demorada. São as funções judiciária e política que incentivam e
O município brasileiro não é uma instituição nova, a legislação que lhe ampara é a
mesma de Portugal. Algumas atribuições municipalistas, que haviam perdido seu sentido na
metrópole, ressurgem no município brasileiro dos primeiros tempos. Segundo João Francisco
“ taxar preços, até das próprias manufaturas do reino, curso e valor da moeda na terra, proviam
sobre a agricultura, navegação e comércio, impunham e recusavam tributos, deliberavam sobre
estradas, descimentos missões, paz e guerra com os índios, sobre a criação de arraiais e povoações.
Prendiam e punham a ferros funcionários e particulares, faziam aliança política entre si, chamavam
a sua presença e chegavam até a nomear e suspender os governadores.”8
No entanto, ao contrario do que o autor defende muitas dessas funções consideradas
como próprias do município brasileiro eram comuns à qualquer câmara. A legislação que
amparava a instituição municipal: as ordenações reais deveria ser respeitada tanto no Brasil
quanto em Portugal.
As largas funções que as câmaras brasileiras possuíam são próprias do período inicial
da colônia. A criação das Vilas permitia ao Estado fixar a população e garantir os tributos e o
O número de moradores exigidos para a fundação dos municípios era pequeno: trinta
fundação dos municípios contida nos forais donatários, não encontra-se o número de
Vila. Entre as Vilas deveria ser mantido um espaço mínimo de seis léguas, ficando para cada
uma ao menos três léguas de termo, isso nas Vilas do interior. No litoral, era possível erguer
vilas sem respeitar este limite de espaço. Haviam vilas que não possuíam as seis léguas entre
elas, como por exemplo entre as vilas de São Vicente e Santos e outras que possuíam um
termo maior como São Sebastião, que possuía um termo de seis léguas de cada lado. Eram no
termo das Vilas que ficavam as grandes propriedades rurais características do período.9
Além do Termo, a vila possuía o Rocio, que era as terras que circulavam a Vila,
destinada à utilização pública. Herança das terras comunais, utilizadas como pastagem para o
gado e onde encontra-se lenha para o consumo familiar. Essas terras valorizavam-se
constantemente e foram aos poucos invadidas por novas casas ali construídas ou pelos
quintais que os moradores procuravam ampliar. Essa apropriação indevida das áreas comuns
foi por vezes contestadas, sem resultado, porque logo restava ao rocio apenas a área
encontro dos oficiais camarários. Nos lugares onde era possível a sua construção , o prédio do
concelho era um dos mais importantes da vila. Apresentava-se com a seguinte arquitetura: um
sobradão quadrado, com cadeia embaixo e dependências para edilidade em cima. Pelas
janelas desses casarões é que se fornecia ao povo os comunicados importantes, saindo numa
delas alguns dos camaristas e relatando os resultados das sessões. Nas Vilas mais pobres,
onde não havia sido construído o prédio do concelho, as sessões eram feitas nas casas dos edis
8
Citado por MACHADO, Brasil Pinheiro. Problemática da Cidade Colonial Brasileira. História :Questões e
Debates, Curitiba, junho 1985. Pg.13
14
precioso baú onde guardava-se os pelouros. Toda câmara tinha o dever de possuir um sino,
que era utilizado para anunciar as sessões. As ordenações deveriam estar presentes em todas
as câmaras, o que nem sempre acontecia. A falta deste documento era reclamada pelos
oficiais. A câmara possuía ainda símbolos que atestavam sua importância: o pelourinho “uma
vilas fazia-se uso de um brasão de armas para representá-las. Para as procissões religiosas,
que aconteciam em cada vila nos dias santos, a corporação municipal, apresentava-se com um
Ainda entre as posses da câmara, estavam os livros de vereação “por onde perpassam
não só os dias felizes e os dias nefastos como os dias iguais”,11 e os livros que completavam
Esses registros são muito peculiares, devido à maneira de que cada escrivão se valia.
Eram as pobres câmaras espalhadas pelo Brasil a instituição administrativa que melhor
funcionava, no início da colônia, isso porque eram formadas pelos próprios moradores e sua
ação era limitada ao seu termo. Sendo conhecida a população e o território as determinações
9
ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil 1532-1700. São Paulo. Ipê, 1948. Pg.8
10
ZENHA, Idem. Pg.50
11
COELHO, Virgínia Aníbal. Autonomias e despotismo: A Câmara e a Vila de Santarém no Reinado de D. José.
Cadernos Culturais n.º4 - março de 1993. Santarém: Câmara Municipal de Santarém.
15
colônia, facilmente podiam se perder num território tão vasto e irregular. Assim o município
Era possível aos concelhos convocar as juntas, assembléia que deliberava sobre os
sempre amigável. A câmara tornava-se empecilho à aplicação das decisões centrais, quando
não cumpriam as ordens que não lhe interessavam. O mesmo desdém mostrado aos poderes
centrais eram aplicados ao Clero. A câmara intrometia-se nos negócios da Igreja podendo esta
O poder tributário exercido pelo município era realizado através da finta - imposto
extraordinário - cobrado nas muitas horas de necessidade dos pobres concelhos. Era aceito na
maioria das vezes pela população porque esta compreendia as carências do concelho
municipal. Para cobrar a finta, segundo as Ordenações Filipinas era preciso a autorização
Corregedor a necessária autorização para as despesas urgentes, essa lei não foi regularmente
observada. O povo era convocado para aprovar a cobrança da finta podendo aceitá-la ou não.
Uma outra forma de arrecadação eram os rendimentos eventuais obtidos através coima , multa
que se cobrava por qualquer infração às posturas municipais. Esses rendimentos nunca eram
12
ZENHA, Edmundo. O município no Brasil 1532-1700. São Paulo. Ipê, 1948. Pg.113
16
moradores da Vila construíam essas benfeitorias, já que a câmara não possuía recursos para
isso. O poder municipal procurava defender os colonos, tanto quanto lhe era possível, dos
e poder e manteve-se como uma das principais instituições coloniais. A distância da coroa e
isso acontecesse. O alargamento dos poderes camarários, no entanto, não acontecem sem
municipal têm seu poder político e econômico diminuídos. O estado colonial torna-se mais
organizado e presente, através de seus funcionários, buscando controlar de perto seu achado
conquistado pelo colono brasileiro lhe são retirados, na medida em que o Estado se fortalece
13
ZENHA, Idem. Pg.126.
17
CAPÍTULO II
1- As Oligarquias Municipais
locais. Dela faziam parte um pequeno número de oficiais responsáveis pelo seu
funcionamento.
local é comum. Assim como a participação popular nas Assembléias convocadas pela
século XVII, segundo Joaquim Romero Magalhães, é um pequeno grupo que domina os
governos municipais. Esse processo é uma resposta à recessão econômica vivida pelos
princípios do século XVII, ainda era corrente a participação do povo na assembléia que elegia
os eleitores.
cobrança de impostos e justiça na falta de juizes de fora. O “povo miúdo” e os mesteres (ou
artesãos) sofrem a pressão das oligarquias locais que, ao mesmo tempo em que os defendia
fragmentado. Entre as câmaras não havia relação de subordinação. Perante a lei, os concelho
18
são iguais entre si, não há hierarquia entre as várias parcelas do território. Esta igualdade
conflitos entre as partes que por ventura acontecessem, eram normalmente resolvidos,
Quem ingressava no regime não queria seu fim, lutando contra o poder central ou contra
grupos locais para defender-se e manter o status quo. Procurava-se lucrar com os cargos
proveitos.
ao longo do tempo, assim como o próprio município. As leis gerais, e suas posteriores
Brasil.
juizes ordinários, os vereadores, procurador, escrivão, entre outros. Os juizes ordinários eram
os oficiais de maior importância do conselho municipal. Eram eleitos dois para servir a cada
ano, o juiz mais velho e o juiz mais moço. Nas sessões da Câmara deveria estar presente ao
A atividade desses juizes foi intensa no Brasil por causa da distância do poder central.
Suas funções eram , entre outras: presidir as sessões da Câmara, julgar os furtos, os crimes de
injúria verbal, os problemas referentes a imóveis e as multas impostas pelos almotacés que
Os juizes ordinários deveriam ainda substituir os juizes de órfãos nas Vilas onde não
existia esse oficial. O juiz de órfãos tinha mandato de três anos, sua função referia-se a
procedimento dos oficiais que exerceram mandato no ano anterior seria analisado da maneira
Um juiz menor era escolhido para representar a câmara nas povoações distantes dentro
do Termo da Vila. Dava-se a esse oficial a denominação de juiz vintenário ou pedânio, e ele
mantimentos, estabelecer regras para o abate do gado, zelar pela limpeza da cidade e fiscalizar
as obras de maneira que não prejudicassem as ruas e praças. Os almotacés eram escolhidos
para a exercer a função por dois meses. Uma dupla de homens-bons era escolhida para o
cargo da seguinte maneira: nos seis primeiros meses eram escolhidos os oficiais do ano
anterior. Nos dois primeiros meses os juizes, depois seguidamente, os dois vereadores mais
velhos e o vereador mais novo e o procurador. Nos outros seis meses os almotacés eram
As assembléias dos homens-bons (aqueles com bens e prestígio na sociedade) que era
convocada sempre que um assunto de maior importância surgia, foi por ação estatal
substituída pelos vereadores. Os homens - bons passaram a participar somente das eleições.
Eram três os vereadores escolhidos. Suas funções eram de caráter administrativo, apesar de
Entre as atribuições dos vereadores estavam: participar das sessões da câmara, realizar
a devassa sobre os oficias anteriores. Criar as leis de acordo com as necessidades do concelho.
que fosse necessário para o bem viver da comunidade. Os vereadores seriam responsáveis por
Quanto às despesas da Câmara, os vereadores deveriam cuidar para que antes do início
das obras, fosse realizado o pregão (licitação), para que fosse dada a empreitada para quem
oferecesse menor preço. As despesas do concelho deveriam estar bem especificada, caso
imposto extraordinário que poderia ser cobrado com a autorização real, os vereadores
Deveriam contratar obras através de concorrências. Junto aos juizes designavam pessoas para
cumprir alguns cargos, entre eles o do carcereiro do concelho. Um dos vereadores era
responsável pela chave da arca dos documentos e pelouros, enquanto outra ficava com o
Nos casos relevantes poderiam mandar à corte um representante da Câmara, o que era
de certa maneira desaconselhado pelo poder central. Havia ainda a própria dificuldade
financeira de fazer-se representado junto ao rei porque as despesas deveriam ser pagas pelo
concelho. A representação poderia ser feita por algum “amigo da cidade, algum retornado à
pátria, que se prontificava, sempre que lho pediam, de tratar junto a el rei sobre negócios de
14
Zenha Edmundo. O município no Brasil 1532-1700. São Paulo. Ipê, 1948. Pg62
21
Outro importante oficial do concelho era o procurador. Participava das vereações e era
através dele que chegavam à câmara os anseios populares. Encaminhava as discussões das
funções fiscalizantes, verificava o estado das casas, fontes, pontes, chafarizes, poços,
rendas do concelho.
No Brasil o procurador possuía atributos ainda mais amplos do que aqueles das
Ordenações Filipinas determinavam: era uma espécie de advogado do povo, mediador entre
este e a câmara. É ele quem defende o colono em muitos momentos, o que lhe dá um caráter
político.
camarárias, registrava tudo que se passava nas sessões, os trabalhos da almoçataria, as receitas
e despesas do concelho, anotando tudo da maneira mais detalhada possível. O tesoureiro não
era comum a todas as Vilas, nas regiões era comum procurador exercer as suas funções.
Porteiro era o funcionário da câmara que fazia os pregões e lia junto ao pelourinho as
determinações da edilidade.
num sentido restritivo. No século XVII, somente “os naturais da terra e da governança dela, e
os tivessem sido seus pais e avós”15 poderiam se candidatar a tais funções. No Brasil a
exclusão reinós representa uma vitória dos colonos, pois garante a sua participação na política
local.
15
MAGALHAES, Joaquim Romero. “Reflexões sobre a Estrutura Municipal Portuguesa e a Sociedade Colonial
Brasileira”. In: Revista de História Econômica e Social. Lisboa, n.16, jul. - dez. 1985. Pg. 21
22
Os oficias do concelho exerciam seus cargos por um ano. As eleições eram trienais,
realizadas antes que terminasse o mandato do último grupo. A eleição era indireta, os homens
bons e o povo votavam em seis eleitores. Estes seis eleitores escolhiam os novos oficiais. O
escrivão era quem tomava os votos, instruindo para que se votasse nos mais aptos. A apuração
era feita pelo juiz da eleição que poderia ser o juiz de fora, quando existisse, o Corregedor ou
o Ouvidor. Na falta destes, o vereador mais velho ou um dos vereadores. Feita a votação, os
mais votados juravam sob os Santos Evangelhos escolher os homens mais qualificados ao
em listas diferentes para cada cargo: juizes, vereadores e procurador. Os oficiais eleitos
serviriam cada grupo por um ano, nos três anos seguintes. Depois da votação, o juiz redigia
uma ata, enumerando separadamente, os que haviam sido escolhidos para cada cargo,
“fazendo-o de tal maneira que não servissem parentes no grau indicado, que os menos
práticos no manejo das cousas públicas servissem com os de mais experiência nelas”.16 Era o
que se chamava apurar a pauta, que seria assinada pelo juiz e lacrada. Com ela o corregedor
“Relacionados todos os eleitos, separavam-se então os que deviam servir para cada
ano no próximo triênio. Cada relação desta era um pelouro composto para cada cargo”.17 Os
pelouros eram então colocados em um saco com repartições para cada cargo, junto com a
pauta. Este saco era colocado em um cofre com três chaves distribuídas entre os vereadores,
do ano anterior. Não havia uma ordem pré - determinada para que os oficiais eleitos
cumprissem seus cargos, eram sorteados. Na época em que se deveria tirar os pelouros,
chamava-se todos ao passo municipal e uma criança para realizar o sorteio, um menino de
16
ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil 1532-1700. São Paulo. Ipê, 1948. Pg.80
23
sete anos “meterá a mão em cada repartimento e revolverá bem os pelouros, e tirará um de
cada repartimento, e os que saírem nos pelouros serão oficiais e não outros”18
Quando um dos sorteados estivesse impedido de assumir o cargo, era feita uma nova
eleição, mais simples, a chamada eleição de barrete: os próprios oficiais e alguns homens -
bons votavam escolhendo um substituto. A eleição de pelouro era considerada mais honrosa.
quem tivesse poderes para tal. A lei mandava que somente com a carta de confirmação era
possível o exercício do cargo. Nem sempre esta lei era obedecida no Brasil, pela própria de
capacidade dos eleitos, das desordens e subornos que ocorriam chegavam ao poder central,
que procurava coibir tais atitudes. As determinações reais não conseguiram inibir essas
ilegalidades. No final do Século XVII é introduzida no Brasil, a figura do juiz de fora, numa
A introdução do juiz de fora não modifica as eleições por completo, mas a presença do
poder central se torna mais efetiva. A votação continua indireta, porém é o juiz de fora que
pelouros. E o sorteio anual do qual saíam os nomes dos oficiais.19 Rio de Janeiro e Salvador
foram as cidades que recebem o juiz de fora, nas outras regiões as eleições aconteciam
segundo a tradição.
Para limpar a pauta, os juiz de fora, Corregedor, Ouvidor, ou mesmo o juiz da eleição,
seguiam as Ordenações, que determinavam que os cargos não poderiam ser ocupados por
17
ZENHA. Idem. pg. 80
18
ZENHA. Iden. Pg.81
24
20
parentes: “mesmo por afinidade a lei falava em quarto grau” e a reeleição não poderia
brasileiras justificavam a irreverência. Nas pequenas vilas, por vezes faltavam homens
qualificados para ocupar os cargos municipais, e antes dos três anos, nos quais não poderiam
ser reeleitos para ocupar qualquer cargo, seus nomes constavam nas listas e pelouros. Quanto
ao parentesco, a situação era muito semelhante, a ligação sangüínea entre os moradores era
Outra falta cometida pelas Câmaras Municipais era a tentativa de prolongar o tempo
dos mandatos dos oficiais, adiando as eleições ou a posse do novo grupo, buscando aproveitar
por mais tempo as vantagens que o cargo poderia render. Reclamações populares eram
A fraude e o desrespeito legislação acontecia tanto dentro das Câmaras quanto entre as
pessoas de sua influência nos cargos. Isso era feito no momento da apuração da pauta, os
nomes que não agradavam a esses emissários da coroa eram vetados. Nomes alheios à elite
local eram inseridos nas listas. Essas fraudes geravam forte contestação que era entendida
diminuem a importância de sua ação junto ao povo, que vivia disperso no imenso território e
tinha a instituição como organizadora da vida colonial, devido às suas funções jurídicas e
administrativas.
19
ZENHA . Iden. Pg.80
20
ZENHA. Idem. Pg.86
25
sócio econômica município. Fortuna, honra, saber, podiam ser a qualidade que caracterizava o
homem-bom. O número de homens que faziam parte deste grupo também variava de
exigir o que faz com que a assembléia seja substituída por oficiais especializados na
indireta, através da escolha de seis eleitores que seriam responsáveis pela escolha dos
oficiais.
municipal poderia participar como oficial camarário. Na prática, porém, o grupo de pessoas
que exercem os cargos se torna cada vez mais fechado. Poucas pessoas circulam no poder. O
poder municipal fica nas mãos de uma elite economicamente privilegiada, que busca o
21
ZENHA. Idem. Pg. 87.
22
Edmundo Zenha, defende idéia de continuidade do município romano formando o município moderno e
conseqüentemente o município brasileiro. Assim a instituição dos homens - bons, é para ele, herdeira da Cúria
Romana, instituição da qual faziam parte: “os homens notáveis da localidade que tomavam parte nas
deliberações graves dos municípios e forneciam para as funções destes seus respectivos membros”. Obra citada,
pg. 89
26
Nos municípios brasileiros o poder será cristalizado nas mãos de poucos. A pequena
população das vilas pode justificar esse processo em alguns momentos, mas é certo que uma
A abertura política do período de fundação das Vilas, quando todos eram aceitos na
governança desde que se apresentassem úteis à comunidade, não permanece em todo período
colonial. Aos poucos as honras seduzem os colonos, que buscam a ascensão social à qual não
tinham acesso em Portugal. Forma-se assim no Brasil uma oligarquia familiar, que busca
fato de o governo estar nas mãos de uma elite local diminui a tendência democrática que o
município poderia exercer, mas não diminui sua importância como instituição que defende o
23
MAGALHÃES, Joaquim Romero. “Reflexões sobre a Estrutura Municipal Portuguesa e a Sociedade Colonial
Brasileira.” In: Reviasta de História Econômica e Social. Lisboa, n16, jul. - dez. 1985. P. 21.
27
CAPÍTULO III
O MUNICÍPIO EM CURITIBA.
de Vila, em 1668, seguindo para tanto as determinações do Estado Português. Pode-se afirmar
que a elevação à categoria de Vila é uma conquista do grupo de moradores ali instalados, já
a ereção de uma capela, na década de 1650. Mais tarde, em 1668, “Gabriel de Lara, Capitão -
instituição da Vila”26 Escolhe-se neste ano, como capitão - povoador à Matheus Leme e
ergue-se o pelourinho. Mas não se completa a instalação do município curitibano, pois não é
É nesse ano que a população de Curitiba escreve ao Capitão Povoador Mateus Leme,
sociedade local:
24
WACHOWICZ, Rui C. História do Paraná. 6º edição. Curitiba: Editora Gráfica Vicentina, 1988. P.61.
A origem da população curitibana não será analisada no presente trabalho, que pretende compreender a
organização da Instituição Municipal.
25
MARTINS, Romário. História do Paraná. 3º edição. Curitiba: Editora Guaíra. Pg. 207
26
Idem, pg. 207.
28
Senhor Capitão Povoador: - os moradores todos assistentes nesta povoação de Nossa Senhora da
Luz dos Pinhais que, atendendo no serviço de Deus e de Sua Majestade, que Deus o Guarde, paz,
quietação e bem comum deste povo, e por ser hoje mui crescido por passarem de 90 homens,
quanto mais crescer a gente vão fazendo mores desaforos, e bem viu nesta festa andarmos todos
com armas na mão, apelorou-se dois ou três homens, e outros insultos de roubos como é notório e
constando pelos casos que tem sucedido, e daqui por diante será pior por não haver a dita justiça
na dita povoação, nos ocorremos a V. Mercê como capitão e cabeça dela, e por ser já decrépito e
não lhe obedecerem, seja servido permitir a que haja justiça nesta dita Vila, pois nela a gente
bastante para exercer os cargos da dita justiça que faz número de três povos. E pela Ordenação
ordena sua Majestade que havendo trinta homens se eleja justiça, e demais que consta que V.
Mercê por duas vezes procurou aos capitães - mores das capitanias de baixo lhe viessem criar
justiça na dita povoação, sendo que não era necessário por ter havido já aqui justiça por algum
tempo, criada pelo defunto capitão - mor Gabriel de Lara., que levantou pelouro em nome do
marques de Caiscais; pelo que requeremos a Vmcê, pela parte de Deus de del - rei que visto o que
alegamos e o nosso pedir ser justo e bem comum de todo este povo, o mande ajuntar e fazer
eleição e criar justiça e câmara formada, para que assim haja temor de Deus e de el-rei e por as
coisas em caminho.27
que a Coroa portuguesa, através de suas leis, poderia pôr em pratica na Colônia. Organizadas
Em 1721, o Ouvidor - Geral Rafael Pires Pardinho em visita à Curitiba procurou por
correição organiza o Concelho Municipal: “E sendo esta a primeira curreição que tem havido
nesta Vila, lhes deixa com mais extensão estes capítulos, para que observando-as evitem as
desordens em que até agora alguns tropeçam por ignorância, e os maliciosos, não tenham já a
desculpa de ignorantes.”28
câmara municipal, sempre de acordo com o que precisavam as Ordenações Filipinas. Estes
dois documentos deveriam estar sempre presentes na Câmara e sua legislação deveria ser
27
Requerimento feito pelos moradores para a criação das justiças, in: R.I.H. de São Paulo, vol. XIII, 1908, citado
por ZENHA, Edmundo. O Município no Brasil 1532-1700. São Paulo: Ipê, 1940. Pg. 32.
28
B.A M.C. V.1 p11 (Adotou-se a sigla B.A M.C. para designar Boletim do Archivo Municipal de Curityba.)
29
“Pelo que terão todos entendido d’aqui por diante, que esta Vila e tudo o mais que corre para o
Sul, he da Coroa, e que seos moradores imediatamente san vassalos da coroa real, e que seos
moradores imediatamente san vassalos da coroa sem reconhecerem algum donatário, como
antigamente reconhecião do dito Marquêz.”29
Diversos assuntos são abordados pelo Ouvidor, que sistematiza nos provimentos qual
seria a responsabilidade dos oficiais nas diferentes situações que lhes seriam apresentadas.
artigo 11, que o termo da Vila de Curitiba teria como limites: a Serra do Mar, que dividia os
termos das Vilas de Curitiba e Paranaguá e o Rio Itararé que dividia os termos de Curitiba e
Sorocaba. Ficando a região ao sul do rio Itararé e acima da serra do Mar sob a
Ouvidor, que os orienta a registrar no Livro Tombo, quais eram os corretos limites do Rocio e
lhes ordena que procedam de maneira correta quanto ao registro dos vizinhos do Concelho,
chamando atenção sobre o modo incorreto que haviam feito até então. Ceder e fiscalizar as
terras cedidas dentro dos limites seria responsabilidade dos oficias, que seriam acusados em
correição se não agissem corretamente. Fora dos limites do Rocio não era jurisdição dos
deveriam estar atentos e criar leis (posturas e acordãos), regulamentando as áreas onde seria
não poderiam ser construídas sem licença da Câmara, que as daria de acordo com algumas
29
B.A M. C. v. 1 p.11
30
B. A M. C. v.1 p. 13
30
regras: que fossem construídas de modo continuado e unidas umas às outras . Os quintais
seriam demarcados tendo as testadas das casas como base. Os oficiais deveriam evitar que
houvessem terrenos vagos ou casas abandonadas nos limites da Vila, as casa abandonadas e
os terrenos em que não fosse construído algum benefício deveriam ser devolvidos ao
Os oficiais deveriam obrigar os moradores a limpar o rio que corre no meio da Vila,
conservar suas pontes, ruas, cercados e pastos elaborando leis que garantissem esses feitos.
Seriam ainda responsáveis pela fiscalização dos caminhos, pontes da Vila e do termo,
fazenda, sob pena de multa para o concelho se o morador assim não fizesse. Nos bairros
era obrigação dos oficiais que deveriam criar leis determinando como seriam feitas e que
O abastecimento da Vila seria observado pelos vereadores, que deveriam obrigar aos
Esses pesos e medidas seriam usados para conferir os utilizados nas vendas, a cada seis meses
guardados na arca da Câmara e retirados somente para se fazer as aferições. As vendas seriam
abertas mediante a licença dos oficiais e proibia-se as vendas nos sítios. Os almotacés
31
B. A M. C. v.1 p. 18 e 19.
32
B. A M. C. v. 1 p. 20 e 21.
33
B. A M.C. v.1 p. 22 e 23.
34
B. A M.C. v. 1 p.24
31
Seria permitido pelas Provisões que a Câmara cobrasse taxas sobre a entrada na vila
pessoas deveriam dar entrada desses produtos junto ao escrivão. Quando isso não era feito no
prazo de dois dias, ou se fosse feita a entrada de apenas parte do produto, a Câmara deveria
Nenhuma pessoa poderia entrar ou sair da vila ou de seu termo com animais (gado e
na região não cedendo facilmente licença para que se retirassem animais do município,
principalmente os animais mais jovens. Haveria multa para quem fosse apanhado sem a
licença.36
O Ouvidor chama à atenção sobre o não pagamento dos quintos do ouro que estavam
sendo retirados das velhas lavras, onde na época ainda se conseguia algum metal precioso.
Contudo, pede aos oficiais que façam cumprir as leis sobre o assunto. Seria obrigação do
concelho tirar devassa sobre esse assunto e comunicar aos ouvidores gerais ou governadores
os descobrimentos de ouro.37
Os oficiais deveriam proibir que fossem capturados indígenas para o trabalho escravo,
e não poderiam permitir que lhes fossem vendidas armas. Na devassa geral, feita anualmente,
Toda pessoa que chegasse à vila apresentando-se como oficial deveria mostrar sua
patente ou ordem à Câmara, o que seria registrado em livro próprio, observando-se para que
35
B. A M. C. v.1 p. 24 e 25.
36
B. A M. C. v. 1 p. 26.
37
B. A M. C. v.1 p. 27
32
Os assuntos religiosos foram tratados nos Provimentos. É aconselhado aos oficiais que
freqüentem o culto divino e guardem para que se promova referência e respeito aos párocos.
obrigados, sob pena de uma pataca, a assistir a procissão. E quem morasse nas ruas onde
passaria a procissão deveria carpir, limpar e enfeitar com palmas e ramos a frente de suas
casas, sob pena de multa. Assim seria feito em outras procissões: de Nossa Senhora da Luz,
Custódio e de São Sebastião. A Câmara não poderia criar despesas com a realização das
procissões.38
eleições para Capitão - Mor e capitão de Ordenança agindo de acordo com as deliberações do
Ouvidor.39
Além de deliberar sobre o modo como deveriam os Oficiais proceder no que se refere
38
B. A M. C. v.1 p. 11 e 12.
39
B. A M. C. v.1 p. 14 e 15.
33
Os Juizes Ordinários seriam eleitos dois para servir em cada ano e pelo menos um
deles deveria estar presente nas Vereações e audiências, despachando sozinho os feitos. Caso
ambos estivessem impedidos de exercer o cargo por doença, ausência ou outro motivo que
fosse considerado justo poderiam ser substituídos pelo vereador mais velho. Um homem-bom
que houvesse participado da governança poderia ser recrutado para fazer a substituição de
algum oficial.
devassas anuais.
com sua ação. As condenações dos juizes seriam feitas na presença do corregedor ou do
mortes, forças de mulheres que se queixarem que dormiram com elas carnalmente per força,
fogos postos e sobre fugida de presos, quebrantamento de cadea, moeda falsa, resistência,
40
Devassa significava a inquirição de testemunhas pelo juiz para a informação de um delito e punição do
delinqüente.
34
offensa de Justiça, cárcere privado, furto de valia...”41 Nesses casos os juizes deveriam tomar
logo Auto, fariam as inquisições necessárias e obrigariam as prisões dos réus. Se, por
41
35
36
deveriam proceder os oficias principalmente quanto aos crimes graves que deveriam ser
notificados à ouvidoria. As penas que seriam dadas aos juizes que não agissem como
Todos anos os juizes deveriam tirar devassa gerais, as chamadas janeirinhas. Essas
devassas deveriam ser realizadas até dez dias depois da posse em Câmara do grupo de oficiais
que serviriam naquele ano que deveriam terminá-la dentro de trinta dias perguntando às
Nessa devassa geral os oficiais iriam inquirir sobre como procederam os seus
Os vereadores deveriam observar o seu regimento que era o título sessenta e seis do
primeiro livro das Ordenações. Resumidamente tinham como obrigações: cuidar dos bens do
concelho, colocar as rendas do concelho em pregão, cobrar as dívidas do concelho. Cuidar das
despesas, para que não excedessem o que era estipulado em Lei. Cuidar para que os
documentos da Câmara estivessem guardados na arca do concelho observando para que não
fossem retirados irregularmente. Observar para que os chafarizes, fontes, caminhos fossem
reparados.
Deveriam fazer cumprir as posturas criadas em concelho, não permitindo que fossem
contestadas. Poderiam tabelar os produtos necessários. As obras não poderiam ser realizadas,
sem antes colocá-las em pregão para que fossem dadas a quem fizesse menor preço. Obras
pouco custosas poderiam ser feitas por jornais. Poderiam lançar finta quando as rendas do
37
concelho não fossem suficientes, desde que tivessem ordem do corregedor. Deveriam cuidar
sábados. Não poderiam faltar sem justa causa e deveriam comunicar aos parceiros quando não
pudessem comparecer.
Em Curitiba, entre os anos 1786 e 1790, realizou-se em geral uma sessão da Câmara
por semana, a maioria nas quintas e sextas feiras, mas poderiam acontecer em qualquer dia da
semana. Algumas das atas não descrevem que assunto foi tratado na sessão da Câmara,
contendo nelas apenas a assinatura dos oficiais, citando apenas: “não houve requerimento
algum de que mandarão fazer este termo de vereança”43 Se necessário havia mais de uma
guardados por ele. Suas obrigações eram então: fazer os requerimentos para que concertos dos
bens da Câmara fossem realizados. Dar conta de como ficam as coisas do concelho para que
os novos oficiais saibam como estão as coisas e o que devem fazer. E, enquanto tesoureiro,
receber todas as rendas do Concelho fazer as despesas que os vereadores mandassem. Não
poderia receber ou despender coisa alguma sem a presença do escrivão da Câmara. Deveriam
fazer o correto arrendamento das rendas do concelho que fossem cedidas. Deveriam arrecadar
a terça parte das rendas do concelho que pertenceria à Coroa, guardando-a sem gastar nada
guardando os regimentos das duas funções cuidando para que as anotações fossem feitas de
O escrivão teria uma das três chaves da arca do concelho. “Também terá em seu poder
o livro em que actualmente se escrevem os termos das vereasões, paraq’ estas se não deixem
de fazer, quando falie algum dos officiaes que tem a chave da arca do concelho”.44
Ordenações Filipinas, no título LXVII, do primeiro livro. O ouvidor determina que fossem
feitas as eleições em Curitiba sob as ordens do juiz mais velho. As eleições deveriam ser
feitas no dia de Todos os Santos ( Primeiro de Novembro), os pelouros seriam abertos neste
dia. Os nomes escolhidos seriam lançados no livro das eleições. Caberia ao escrivão:
“com a Mayor brevidade a elle Ouvidor - Geral e seus sucessores para lhes mandar correr
folha nesta ouvidoria, e passar cartas de confirmação dos juizes, e mandados para se dar
posse aos mais oficiais sem que lhe não dará e hiram contenuando enquanto, que vem as
cartas de confirmação , os que se acharem actuais.45
necessidade. Assim como as eleições para os oficiais menores, que eram realizadas quando da
necessidade de se fazer a substituição. As eleições para almotaçé e a posse dos mesmos era
feita a cada dois meses, de acordo com a legislação (Ver anexo 3).
funcionando corretamente nem sempre isso aconteceu. Fosse por incompetência, negligência
ou má - fé dos oficiais, alguns problemas corroboraram para que os trabalhos da Câmara não
Na segunda metade do século XVIII, observa-se nos Autos de Posse e Juramento dos
Oficiais indícios de falta de interesse no exercício dos cargos da Câmara que acabariam por
prejudicar o bom andamento dos trabalhos camarários, já que as faltas freqüentes e as diversas
39
eleições der barrete realizadas no período atrasando a posse dos oficiais e consequentemente
atrasando a realização das devassas gerais que deveriam acontecer no início do ano.
Entre os anos de 1750 a 1800, são feitas diversas eleições de Barrete. Essas eleições
como já foi afirmado aconteceriam nos casos de falecimento, ausência, ou impedimento dos
oficiais sorteados em pelouro. Para estar isento de cumprir o ofício o oficial deveria conseguir
Entre esses anos aconteceram eleições de barrete nos seguintes anos: em 1750, para
juiz e procurador; em 1754, para procurador e vereador; em 1764 para procurador; em 1765,
para vereador; em 1767, para procurador; em 1768, para juiz e procurador; em 1769, para
juizes vereador e procurador; em 1770 para procurador; em 1772 para juiz; em 1773, para
procurador; em 1775, para juiz e vereador; em 1776 para juiz e vereador; em 1777, para juiz;
em 1778 para juiz; em 1780, juiz de órfãos; em 1783, para juiz; em 1784, para juizes; em
1787, para vereador; em 1790, para juiz; em 1792 juiz, vereador e juiz de órfãos; em 1793
vereador; em 1795, para juiz e procurador; em 1796, para vereadores ( vide no anexo 1).
Nas atas são citados como motivos para impedimento do exercício dos cargos:
“falecimento” e “prolongada moléstia.”46 Mas, na maioria dos casos, não é citado o motivo
pelo qual o oficial foi liberado do cargo, declara-se apenas que a permissão havia sido dada
pelo corregedor. Aparecem o uso dos seguintes termos: “que havia se livrado”, ou “que se
O corregedor não liberava do ofício à todos os que lhe enviavam pedido. O Juiz-de-
Órfãos eleito, no ano de 1759, pede afastamento por participar da Ordem Terceira, como
ministro alegando ter nela muitas obrigações. Menciona também que os oficiais “o obrigavam
violentamente a tomar posse e juramento”48. Suas reclamações não são aceitas pelo Ouvidor,
os trabalhos da Câmara. Em alguns anos observou-se que até que todos os oficiais, do novo
grupo que deveria servir, estivessem tomado posse e prestado juramento havia se passado até
três meses, como em 1792, quando juiz e escrivão tomam posse somente em 4 de março.
Outro indicativo de que a falta de interesse de alguns oficiais em cumprir seus cargos
eram as faltas freqüentes. Em várias atas encontramos citações sobre as faltas dos vereadores,
faltosos.49
As faltas dos vereadores chegaram a ser consideradas ato de rebeldia, talvez uma
forma de demonstrar que não queriam cumprir seus mandatos. O que é negado em sessão de
vereação onde alegam que: “faltas que tem havido entre os mesmos oficiais não são por
rebeldia, mas antes algumas faltas por moléstias e causas justas e não se parece por esta razão
O corregedor envia à Câmara, em 1795, uma carta onde mandava “cessar as desordens
que os ditos camaristas andavam fazendo.”51Na mesma sessão se pede a condenação aos
Por outro lado observou-se que alguns poucos oficiais exerceram seus cargos repetidas
vezes52. Sendo eleitos em eleições de Pelouro ou Barrete, exercendo cargos até mesmo antes
disputa pelo poder local. Registrou-se que estando os oficiais reunidos em vereação, foi
41
apresentado aos oficiais pelo Licenciado Lourenço Ribeiro de Andrade um requerimento para
que o ouvidor suspendesse a carta de confirmação de um dos juizes eleitos: o sargento - mor
confusão dentro do Concelho e o tal licenciado é obrigado a retirar-se. A decisão foi entregue
ao Ouvidor - geral. É eleito, então, Manoel de Sousa Castro para o cargo de juiz , homem que
Licenciado usa de seu prestígio para que haja a impugnação do mandato de Manoel de Souza
Para explicar a contento quais seriam os motivos que levaram os oficiais do período a
desejar “livrar-se” dos cargos de oficias do Concelho e entender os motivos que levavam a
que outros participassem mais ativamente da Câmara Municipal seria interessante se fazer um
permeavam a questão.
Mas é possível afirmar que no período os cargos de oficial não parecem despertar
grande interesse já que são constantes os pedidos de afastamento feitos pelos escolhidos.
Porém, não podemos descartar a idéia de que os Cargos do Concelho em Curitiba durante o a
CONCLUSÃO
O município foi uma instituição importante para o Portugal no período em que se deu
brasileiro municípios foram fundados por determinação do poder central, que procurava
reunir a população dispersa e facilitar o seu controle e pela própria população quando sentiam
organização comunitária.
A Vila de Nossa Senhora dos Pinhais de Curitiba foi fundada pela vontade do povo,
que reivindicou a sua criação pelo papel judiciário que a Câmara representava. Porém não era
somente as funções jurídicas da Câmara municipal que tornaram o Município uma instituição
completavam.
sobre todo o cotidiano da Câmara Municipal, sempre de acordo com o que precisam as
Filipinas, deveriam estar presentas na Câmara e sua legislação deveria ser obedecida pelos
oficiais.
deveriam agir os oficiais, na administração da Vila, nas eleições e nas ações que julgavam.
43
eleição dos oficiais do Concelho que eram: dois juizes ordinários, os três vereadores e um
procurador, eram realizadas a cada três anos e estes tinham mandato por um ano. Os eleitos
1800, burlaram algumas das determinações que deliveravam sobre as eleições, fazendo isso
Observa-se nas atas de veração tratam das eleições e posse dos oficiais que repetem-se
os nomes dos oficiais constantemente, até mesmo antes de passar os três anos de intervalo
entre os quis não era recomendado que uma pessoa estivesse entre os oficiais que exerciam os
cargos do concelho. A demora para que alguns dos eleitos assumisse sua função, também foi
verificada, como também o desinteresse de alguns em exercer a função, o que pode indicar
poder adiando a tomada da posse dos novos oficiais que deveriam servir e que certos oficias
exercem cargos do concelho durante vários mandatos, o que poderia ser entendido como a
Curitiba setecentista não se pode afirmar que esses cargos não sejam considerados
Para explicar a contento, quais seriam os motivos que levaram os oficiais do período a
desejar “livrar-se” dos cargos de oficiais do Concelho e entender os motivos que levavam a
44
que outros participassem mais ativamente da Câmara Municipal seria interessante se fazer um
permeiam a questão.
45
BIBLIOGRAFIA
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origens às cortes constituintes. Notas de História Social. Coimbra: Centro de Estudos e
Formação Autárquica, 1986.
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ZENHA, Edmund. O Município no Brasil 1532-1700. São Paulo: Ipê, 1948.
Boletim do Archivo Municipal de Curitiba.
46
ANEXO 1
??
*****************************************************************************************
********************************************************arrete.
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568
ANEXO 2
1786
1786
1788
1789
1790
ANEXO 3
1786
Janeiro e fevereiro:
Francisco Xavier Pinto e Antônio Guedes Carvalho
Março e Abril:
Manoel Gomes de Oliveira e Antônio Francisco Guimarães
Maio e Junho:
Manoel Gonçalves de Almeida e Domingos Fernandes Cortes
Julho e Agosto:
Paulo de Chaves de Almeida e João Pereira
Setembro e Outubro:
Antônio José da Silva e Antônio Xavier Ferreira
Novembro e Dezembro:
Thomás José de Almeida e Manoel José Barbosa
1787
Janeiro e Fevereiro:
Antônio José de Andrade e Antônio José Teixeira
Março e Abril:
João Francisco Corrêa Francisco Bueno de Lacerda
Maio e Junho:
José de Freitas Saldanha e Ignácio de Sá Souto Maior
Julho e Agosto:
Manoel José Barbosa e Manoel Gonsalves de Almeida.
Setembro e Outubro:
Antônio Xavier Ferreira e Antônio de Andrade do Espírito Santo.
Novembro e Dezembro:
João Antônio Pinto e Miguel de Almeida Paes.
1788
Janeiro e Fevereiro:
Miguel Ribeiro Rybas e Antônio José da Silva.
Março e Abril:
Francisco Roiz Seixas e Bras Alves Natel.
Maio e Junho:
José
L**************************************************************************
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***************************************************************é de Almeida.
Setembro e Outubro:
572
Novembro e Dezembro:
1790
Janeiro e Fevereiro:
Brás Domingues Velloso e José Antonio Vieira.
Março e Abril:
Maio e Junho:
Antonio Alves e Francisco Paes Seixas.
Julho e Agosto:
Antonio Xavier Ferreira e Miguel Roiz Seixas.
Setembro e Outubro:
Francico Alves Pinheiro e Gabriel Narciso Bello.
Novembro e Dezembro:
Francisco Pereira da Cruz e Joachim dos Santos Pereira.