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Meyerhold - Matrizes de Uma Interpretação Distanciada PDF
Meyerhold - Matrizes de Uma Interpretação Distanciada PDF
CARREIRA, André 2
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Este texto é um desdobramento do artigo “Meyerhold e a ideia de uma interpretação distanciada”
publicado no livro Meyerhold: Experimentalismo e Vanguarda: CARREIRA, André e NASPOLINI, Marisa.
E-Papers, Rio de Janeiro, 2007.
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UDESC
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
abertura de novos conceitos sobre o lugar do teatro na cultura. Já no início dos anos
20, Meyerhold não tinha pudor em apoiar seu trabalho criativo na experiência dos
atores, recortando e adaptando o texto, ao buscar a potência do jogo com os
espectadores. Como afirma Beatrice Picon Vallin:
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PICON VALLIN, Beatrice. A Arte do Teatro entre tradição e Vanguarda – Meyerhold e a cena
contemporânea. Rio de Janeiro. Folhetim: 2006. p.10.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
processos de composição das personagens, mas sim, que havia uma aposta clara na
experimentação da cena como eixo do processo de criação.
Essa característica pode ser relacionada com a elaboração dos aspectos
políticos de sua estética. Apesar da importância do seu projeto renovador, devido às
condições políticas relacionadas com sua morte violenta, e à ação de uma política
policial de proibição da difusão de sua obra pelo estado repressivo stalinista, e a
cumplicidade dos aparelhos políticos e culturais relacionados com o stalinismo mundial,
Meyerhold ficou marginalizado. Considerado traidor ele foi apagado da história do
teatro russo. Editores e intelectuais espalhados pelo mundo foram cúmplices do
assassinato físico e político realizado nos porões da KGB, desconsiderando a
importância desse diretor na renovação da cena política do século XX. Sua noção do
ator tribuno, e seu princípio de uma cena na qual o ator se compromete politicamente
no processo de criação e apresentação do espetáculo foram ignorados na hora de se
afirmar as matrizes da cena revolucionária, e de se definir o que é o teatro político.
Suas propostas estéticas apoiadas na experimentação real no palco se
opunham a estilos que privilegiavam apenas aspectos formais sem a correspondente
relação com a experimentação dos atores. Sustentando seu teatro no jogo do ator e
uma lógica segundo a qual atuar é estabelecer diálogos com o material dramatúrgico,
com o espaço, com a recepção e com seu contexto, Meyerhold politizou o trabalho do
ator ao considerá-lo um cidadão em condição de representação.
Apesar de ser acusado nos anos 30 de “formalista” pelos defensores do
“realismo socialista”, Meyerhold, empreendeu uma experimentação formal que criou
tensões que politizaram seu teatro. Isso é particularmente claro no que diz respeito à
idea de um ator tribuno. Ele pensava permanentemente a relação entre arte e
sociedade, pois, os acontecimentos sociais eram referências fundamentais para seus
processos de criação. Ainda assim, esse teatro não estava dedicado a uma descrição
do conjunto da realidade, mas sim, uma confrontação com essa realidade, pois para
ele:
A arte do ator é tal que possui uma tarefa bem mais significativa que do
que apenas levar ao espectador a concepção do diretor. O ator será
4
MEYERHOLD, Vsevolod. Textos Teóricos. Madrid. ADEE. 1992. p. 156.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
Meyerhold dizia que: “a experiência das emoções da alma, toda sua tragicidade,
não se encontra separada da experiência interna das formas, que por sua vez é
indissolúvel do conteúdo”.6 As conexões entre o ator e o espectador se dariam
mediadas pela exploração das formas, e pela capacidade do ator de “improvisar” na
cena. Improvisar seria assumir, “sem romper o plano da montagem” o risco criativo de
particularizar seu trabalho a partir da experiência de cada apresentação.7
Apesar de suas certezas sobre o lugar do diretor no processo de encenação
Meyerhold confiava ao ator um papel central, pois, compreendia que em seu modelo da
linha horizontal requeria a ação direta no espaço da cena para que houvesse real
possibilidade de diálogo com os espectadores. Há nesse aspecto de sua visão sobre o
teatro uma posição politicamente comprometida com o papel transformador do teatro.
Sua certeza na possibilidade de um teatro que transforma o interlocutor antecedeu o
período revolucionário. Meyerhold acreditava que o ator deveria estar vinculado à
experiência do seu tempo. Isso pode ser relacionado com a ideia de um Teatro de
Convenção anteriormente proposta por Valeri Briusov, no qual “o espectador não se
esquece nem por um momento sequer que diante dele está um ator que interpreta, e o
ator que diante dele se encontra uma audiência”.8. Esse nível de trabalho consciente
explicita uma abordagem que podemos definir como distanciada. Como afirma Borja
Ruiz:
55
MEYERHOLD, Vsevolod. Do Teatro. São Paulo. Iluminuras: 2012. p. 73
6
Ibidem, p. 77.
7
Ibidem, p. 58.
8
Ibidem, p. 89.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
9
RUIZ OSANTE, Borja. El Arte del Actor en el Siglo XX Bilbao. Artezblai: 2008. p. 112
10
ABENSOUR, Gerard. Vsevolod Meyerhold ou A Invenção da Encenação. São Paulo. Editora
Perspectiva. 2011. p. 632.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
11
RUDNITSKY, Konstantin. Russian and Soviet Theatre. London. Thames & Hudson. 1992. p 413.
12
MEYERHOLD, Vsevolod. Op. Citada, 1992. p. 107.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
13
Ibidem, p. 231.
14
O termo “tecnologia” significa para Meyerhold a realização da encenação com alto nível técnico.
15
Ibidem, p. 176.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
16
Ibidem 192.
17
Ibidem176.
18
Ibidem 177.
19
Ibidem, p. 179.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
20
Ibidem, p. 179.
21
Ibidem, p.189.
22
Ibidem, p. 88.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
23
PICON VALLIN, Beatrice. Op. Citada, 2006. p.34.
24
MEYERHOLD, Vsevolod. Op. Citada, 1992. p. 89.
25
Ibidem, p. 89.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
26
Ibidem, p. 186.
27
RUIZ OSANTE, Op. Citada, 2008. p. 114
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.
preservaria a consciência de um ator que não recria o texto, mas, que cria seu próprio
texto, a partir dos elementos que são particulares do ator, isto é, através do corpo e do
jogo no espaço. Como diz Picon Vallin:
28
PICON VALLIN, Beatrice. Op. Citada, 2006. p.30.
29
ZIZEK, Slavoj. “Brecht: a grandeza interna do stalinismo”. In Urdimento, Florianópolis, - Vol 1, n.09,
Dez, 2007. 67.
Anais do Simpósio da International Brecht Society, vol.1, 2013.