Você está na página 1de 3

Resenha do Filme: Clube da Luta

Disciplina: Psicologia Social


Professora: Dra. Elisabete Figueiroa dos Santos
Aluno: Jânio Gaspar de Andrade – RA 1700807

O filme Clube da Luta é uma produção de 1999, dirigida por David Fincher, que
é na realidade uma adaptação para o cinema, de um romance de Chuck Palahniuk,
publicado em 1996.
Na primeira cena do filme temos uma das personagens, Tyler Durden, com uma
arma na boca do narrador, protagonista do filme, minutos antes de uma sequência de
explosões, como é narrado pelo indivíduo. Este está sentado em uma cadeira com as
mãos amarradas, e nessa cena um tanto dramática, que se passa quase no final da
história, mas é usada para introduzir o contexto do filme através de um diálogo; fala
de armas, bombas, de revolução e cita uma terceira personagem, Marla Singer.
O narrador do filme, cujo nome não é revelado, é um sujeito que não encontra
sentido para o seu viver. Está totalmente incomodado com a sua história, com a sua
realidade, com a sua vida. Ele tem um trabalho como investigador de seguros mas
não se sente realizado e nem inserido em um contexto. Ele se apresenta como um
ser humano extremamente consumista, usando isto como fuga da realidade e para
estar em acordo com o que ditam as propagandas das grandes marcas que ofertam
bem-estar agregado ao consumo da marca. Realidade de consumo esta, que
podemos ver todos dos dias por meio da mídia em nosso contexto atual.
A personagem é um sujeito que viaja bastante mas que não se sente inserido
em um contexto significativo, vendo os relacionamentos estabelecidos como
descartáveis e ao citar isso, faz também uma analogia dos relacionamentos aos itens
de consumo que encontra nos voos ou nos hotéis, como totalmente unitários e
descartáveis, como unidades únicas de açúcar, margarina, porções de comida, mini
sabão, dentre outros; que uma vez usados não servem para mais nada. Dando ênfase
na efemeridade do seu contexto, da sua vida, ele remete o telespectador à uma leitura
da própria realidade, que vivendo em uma sociedade totalmente capitalista e
individualista, tem uma identificação com o narrador e o seu contexto.
Introduzida por essa revolta manifesta na efemeridade dos relacionamentos
descartáveis, o narrador apresenta uma situação vivida de insônia crônica que não o
deixa em paz, e ao procurar um médico e apresentar seu desespero, tem uma
sugestão de conhecer alguns grupos de auto ajuda, para que ele entenda que o seu
problema não é tão grande assim. Porém ao visitar um dos grupos este se sente bem
ao ter um contato próximo com o outro, poder abraçar, poder ouvir, e até mesmo poder
falar e ser ouvido; mesmo não sendo verdade o que está sendo vivenciado. Este
passa a participar de vários grupos de auto ajuda e assim, satisfazendo uma
necessidade de estar inserido em um convívio social, de fazer parte de um grupo, o
mesmo consegue ter boas noites de sono e se sentir realizado. Até que aparece a
personagem Marla Singer, que com comportamento similar ao deste, visto que a
mesma não tem os problemas vivenciados pelas pessoas dos grupos de auto ajuda,
desnuda a farsa do mesmo e devolve a este as noites de insônia. O ser humano vive
em um mundo de fantasias onde a verdade é vivida como verdade até que o outro a
desnuda, e daí há a necessidade de uma nova vivência, pois a visão do outro distorce
a visão ideal, buscando o indivíduo se refugiar ou vivenciar outras experiências.
Buscando um novo sentido, o narrador conhece Tyler, que o leva a vivenciar
tudo o que estava absorto em sua identidade mas que não poderia ser
conscientemente manifestado, vivenciado. O narrador perde a casa de classe média
alta, com todos os seus caros objetos e mobílias em uma explosão e passa a viver
em uma casa de estado precário, longe de ser um lar de acordo com as convenções
sociais. Vivendo com Tyler este começa a fazer parte de um grupo que foi criado a
partir de uma luta em um primeiro contato entre o Tyler e o narrador da história. Tayler
apresenta ao narrador, a luta como uma forma de libertação; e este mesmo todo ferido
e machucado, nunca se sentiu tão bem.
Iniciado pelos dois, como uma forma de luta, cria-se um grupo social, que dá
aos seus membros, a capacidade de sair da mesmice, de sair da mediocridade e de
transpor o sentido efêmero de suas vidas rotuladas por seus afazeres. Médicos,
frentistas, policiais, banqueiros, operários, dentre outros, inseridos neste contexto de
grupo, vivencia intensamente essa proposta de libertação; sendo, se sentindo, muito
mais do que os seus rótulos. Este grupo que foi criado e que cresce, a partir da
necessidade interior de seus indivíduos como uma proposta de libertação, é regido
por algumas regras que não podem ser quebradas. Há um acordo informal, composto
por normas e regras que delineia os objetivos, os meios e os fins. Esse projeto começa
a ganhar cada vez mais seguidores e a se expandir por várias cidades. E a partir desta
libertação inicial, os seguidores do narrador e de Tyler, aderem à um projeto muito
mais amplo, o Projeto Caos, em alguns momentos citado como Projeto Destruição,
que nasce a partir do crescimento do Clube da luta. Este projeto tem o objetivo maior
de manifestação, de protesto, e se espalha rapidamente pela cidade através de
vandalismo e violência. O Objetivo é protestar contra a minoria que tem maior poder
capital como banqueiros e grandes empresários; e com essas manifestações mostrar
oposição às convenções e às regras sociais.
No seu desfecho, o filme apresenta Tyler como um alter ego do narrador, em
uma dissociação da sua personalidade, uma amigo imaginário; que é livre de todas
as maneiras que ele não é e que faz tudo o que ele tem vontade de fazer e não tem
coragem. Este outro eu é quem se sobressai como manifestação de muitas vontades
ocultas no inconsciente do indivíduo. O próprio narrador é o fundador do Clube da luta
e do Projeto Caos, e usa a manipulação da massa, composta por indivíduos repletos
de insatisfações, para atingir o seu objetivo final que é a destruição de grande parte
da cidade com o intuito de satisfazer a sua necessidade de protesto.
O filme é extremista, mas retrata realidades que membros da sociedade atual
vivenciam, muitas vezes de forma mecânica usando subterfúgios para não encarar a
dura realidade do contexto ao qual está inserido. Atualmente o homem pode ter um
trabalho, família, casa, amigos, mas se sentir vazio com muitas indagações. Podendo
em alguns momentos se sentir manipulado pela massa, seguindo um caminho
delineado por padrões impostos pela sociedade de consumo. Como protesto desse
sentimento de manipulação, pode até mesmo aderir à alguns grupos para estabelecer
um elo e sentir que faz parte de um conceito maior; mas nem sempre conhece o que
está por traz da realidade e dos objetivos, satisfazendo erroneamente seus íntimos
desejos. Como exemplo, pode-se citar, hipoteticamente, um pai de família que adere
e toma frente à campanha para armamento de civis com o intuito de acabar com a
violência. O desejo do mesmo é realmente acabar com a violência, mas sendo
manipulado, tem o seu desejo usado para promover um potencial de violência maior
do que aquele no qual está inserido atualmente.

FILME: Clube da Luta. Direção: David Fincher, Produção: Art Linson, Fox Film
Produções, 1999.

Você também pode gostar