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FIFA WORLD CUP RUSSIA 2018

BALLET MARROQUINO EM MOSCOVO

20 de Junho de 2018.

Quarta-feira de cinzas para a seleção portuguesa em Moscovo. Apesar da vitó-

ria por um escasso golo, a equipa das quinas jogou como um penitente em dia de

jejum e oração.

O jogo começou praticamente com o golo de Cristiano Ronaldo, ao quarto mi-

nuto de jogo. A partir de um canto marcado por João Moutinho, CR7 executa um

cabeceamento perfeito para o fundo das redes marroquinas. Um a zero no marca-

dor. Início promissor da seleção nacional. Puro engano.

A partir daqui, Marrocos dominou toda a partida. Já se viram jogos fracos da

equipa orientada por Fernando Santos mas, que me lembre, nunca vi um espectá-

culo tão deprimente. Tirando Ronaldo e o guarda-redes Rui Patrício, a mediocrida-

de imperou na restante equipa. Pela primeira vez, vimos uma disposição tática em

campo que se assemelhava ao antigo ferrolho suíço, numa espécie de modelo táti-

co a lembrar o 4-4-1-1, mas, para cúmulo, sem passar da linha de meio campo. Os

laterais Cedric Soares e Rafael Guerreiro fizeram talvez o pior jogo das suas carrei-

ras. Notou-se claramente que Guerreiro ainda não recuperou totalmente a forma

depois da lesão grave que sofreu ao serviço do Borussia de Dortmund, enquanto

Cedric andou desorientado todo o jogo. Os centrais, José Fonte e Pepe, estiveram

praticamente alheados do encontro, em total falta de concentração e sintonia. Os

médios foram cómicos. Claramente mais baixos e com uma estatura física mais fra-

ca em comparação com os marroquinos, foram jogadores lentos, desmotivados,

inertes, sem qualquer capacidade ofensiva e defensiva, que perderam todos os

lances atrás da linha do meio campo. William Carvalho, João Mário, João Mouti-

nho e Bernardo Silva parece que estão na Rússia de férias. Uma tartaruga desloca-

se mais rápido que William. João Mário joga no campeonato mais defensivo que

existe, a pátria do Catenaccio, e não aprendeu grande coisa. Bernardo Silva, um jo-

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gador fantástico no City, de repente consegue ser pior que medíocre. João Mouti-

nho joga como se fosse um idoso. Escuso-me aqui de apresentar estatísticas que

comprovam uma actuação tão deprimente. Na frente , Santos apostou novamente

nessa nulidade chamada Gonçalo Guedes e no abono de família Cristiano Ronal-

do. Qualquer treinador mediano perceberia rapidamente que o jogo pedia Ricar-

do Quaresma e André Silva, mas Santos decidiu ser coerente e ser teimoso. Enfim,

onze homens em campo apenas dois são dignos de serem considerados jogado-

res de futebol: Cristiano e Patrício.

Noventa minutos de sofrimento e revolta. Uma vitória não chega para satisfa-

zer os amantes da bola. Foi tudo muito mau, demasiado mau. Fernando Santos,

como mau timoneiro, esteve à altura da equipa. Mexeu tarde e sempre em respos-

ta ao comandante marroquino, o francês Herve Renard. Começou por substituir

Bernardo Silva por Gelson Martins, sem qualquer eficácia. O novo penteado de

Gelson foi o único aspecto digno de registo. De resto, parecia uma bailarina de re-

serva do ballet Bolshoi chamada à última hora para actuar no teatro Mariinsky.

Dançou muito, rodopiou outro tanto, esvoaçou ao sabor do vento mas apenas em

número cómico. Perdeu bolas e mais bolas, desistiu de lances primários, fugiu ao

esférico e ao contacto físico. Fica a má memória.

Na frente, Gonçalo Guedes fez um jogo disparatado. E isto já depois de não

ter jogado nada contra a Espanha. Fernando Santos, anuindo à pressão de uma

certa massa adepta benfiquista, que não gosta de futebol mas apenas do seu clu-

be, que vê no jogador uma espécie de messias ou um mini messi, não resistiu a

colocá-lo em campo. Está provado que o rapaz é um autêntico flop, será mais um

Renato Sanches.

Finalmente, a coroar uma exibição trágico-cómica, o adversário fez uma exibi-

ção sublime, como não podia deixar de ser. Marrocos deixa a Rússia praticando

um bom futebol mas, infelizmente, sem qualquer eficácia. Perdeu para o Irão por

um a zero, com um autogolo, e perdeu agora por igual resultado. Se não for útil,

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de nada serve jogar bonito. Foram apresentar um ballet esquecendo-se que era

um campeonato do mundo de futebol. Se não houver golos de nada adianta a

nota artística.

Para a história fica um resultado positivo que não faz esquecer o futebol horro-

roso praticado por Portugal no estádio Luzhniki. Esperemos que tenha sido apenas

um acidente de percurso e que, já na próxima segunda-feira, a equipa das quinas

rectifique a qualidade do futebol praticado mantendo no entanto a devida eficá-

cia. A equipa pode e os portugueses merecem.

Quinta-feira, 21 de Junho do ano de 2018.

Hélder Filipe Azevedo

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