Você está na página 1de 14

FÍSICA DO SOLO(1)

Jonez Fidalski(2)

INTRODUÇÃO

A qualidade física do solo não pode ser medida diretamente, mas é avaliada
pelos indicadores de qualidade física do solo como densidade, porosidade, resistência
do solo à penetração e conteúdo de água, os quais influenciam o desenvolvimento e a
produção das culturas. Com o uso e manejo inadequado do solo poderá haver redução
do volume e aumento densidade do solo, resultando na compactação do solo,
comprometendo os limites críticos desses indicadores de qualidade física do solo para o
desenvolvimento e produção de culturas anuais, permanente e pastagem.

No presente curso serão apresentados e discutidos os resultados estudos da


avaliação da qualidade física do solo realizado no Estado do Paraná em sistemas de
manejo de solo desenvolvido em culturas anuais (Cavalieri et al., 2006; Tormena et al.,
2007; Machado et al., 2008; Blainski et al., 2008, 2009), permanente (Negro, 2003;
Fidalski, 2004; Fidalski et al., 2007a, 2009), pastagem (Giarola et al., 2007; Peteam,
2007; Blainski et al., 2008a; Guimarães et al., 2009) e floresta (Araujo et al.., 2004;
Blainski et al., 2008; Machado et al., 2008), abrangendo diferentes classes de solo com
teores distintos de argila, desenvolvidos a partir das formações do Basalto e do Arenito
Caiuá (Embrapa, 1984). A maioria dos artigos científica que serão citados nesse texto
estão disponíveis no Portal Scielo (http://www.scielo.br) e na página eletrônica do
IAPAR (http://www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=384).

(1)
Texto elaborado para Capacitação do Programa Paraná Fértil (Instituto EMATER) e
Curso de Atualização de Conhecimentos em Ciência do Solo (IAPAR), 10/08/09 a
02/09/09 (Londrina, Umuarama, Cascavel e Ponta Grossa).
(2)
Engenheiro Agrônomo. Pesquisador da Área de Solos do Instituto Agronômico do
Paraná (IAPAR). Caixa Postal 564, Paranavaí, PR, CEP 87701-970. E-mail:
fidalski@iapar.br

1
AMOSTRAGEM E INDICADORES DE QUALIDADE FÍSICA DO SOLO

A coleta de amostra de solo deformada para fins de análise granulométrica do


solo (argila, silte e areia) para caracterização da classe textural, segue os mesmos
procedimentos utilizados para a amostragem de solo utilizada para a fertilidade do solo
(Iapar, 1996). Avaliações de agregados de solo exigem amostragem específica de blocos
de solo, os quais devem acondicionadas com filme plástico para manter a umidade e a
estrutura do solo até serem preparadas em laboratório (Tormena et al., 2008a,b).

Outras avaliações físicas do solo são realizadas a partir de amostra de solo


indeformada, coletada com anéis metálicos, geralmente com dimensões de 100 cm3 (5
cm de altura e 5 cm de diâmetro), os quais são coletados do solo com o auxílio de um
extrator de anéis. Esses anéis são acondicionados até serem processados em laboratório
com a disponibilidade de balança de precisão, estufa para secar solo a 105ºC,
dessecador e equipamentos para a determinação de curva de retenção de água no solo
(Embrapa, 1997).

As amostras de solo indeformadas são utilizadas geralmente para a


determinação dos seguintes indicadores de qualidade física do solo: conteúdo de água
do solo no momento da coleta ou o conteúdo de água saturada, que corresponde a
porosidade total do solo; o volume de água nas tensões equivalentes a macroporosidade
(60 hPa), capacidade de campo (80 hPa e 100 hPa para solos arenosos e argilosos,
respectivamente, conforme Reichardt, 1988) e ponto de murcha permanente (15.000
hPa); microprosidade (subtração do conteúdo de água saturado pelo solo seco em estufa
a 105ºC por 24-48 h); e a densidade do solo obtida pelo quociente da massa de solo
pelo volume do anel metálico. A unidade de densidade do solo é composta pelas
unidades de massa e volume. Exemplos: g cm-3, kg m-3, Mg m-3 ou kg dm-3.

Paralelo a determinação da curva de retenção de água no solo é possível


determinar a curva de resistência do solo à penetração nas amostras de solo
indeformadas em anéis metálicos, utilizando-se penetrômetro estático em laboratório de
física do solo (Fidalski & Tormena, 2007a; Silva et al., 2008).

A resistência do solo à penetração constitui em um indicador de qualidade


física do solo diretamente associada ao desenvolvimento de plantas (Letey, 1985), que
corresponde ao impedimento mecânico que o solo oferece às raízes, sendo um dos
fatores físicos que afeta o crescimento das raízes, quando correlacionada com a

2
resistência do solo à penetração medida com penetrômetro (Bengough & Mullins,
1990). O penetrômetro é constituído de uma agulha ou haste metálica com um cone na
extremidade (semi-ângulo de 30º), que permite quantificar a força necessária para
introduzir a haste no solo.

Os resultados dos indicadores de qualidade física do solo poderão ser utilizados


para obter relações funcionais (modelos de regressão), denominadas de funções de
funções de pedotransferência (Bouma, 1989), as quais possibilitam estimar indicadores
de qualidade física de solo desconhecido a partir de indicadores de qualidade física de
solo conhecidos, com vantagens de menor custo. Exemplos de funções de
pedotransferências são descritos para as curvas de retenção de água no solo e curvas de
resistência do solo à penetração (Fidalski & Tormena, 2007a; Silva et al., 2008).

COMPACTAÇÃO DO SOLO

Um determinado solo pode ser considerado quimicamente adequado para o


cultivo de plantas e produzir abaixo da expectativa esperada em razão das limitações
físicas que comprometam o desenvolvimento de raízes, a absorção de água e de
nutrientes (Dias Junior, 2000; Reichert et al., 2007).

A compactação do solo constitui na principal limitação física do solo para o


desenvolvimento das plantas, resultante da ação antrópica do uso e manejo do solo,
caracterizada pela diminuição do volume do solo ocasionada por compressão, causando
um rearranjamento mais denso das partículas do solo (Curi, 1993). A compactação do
solo não pode ser confundida com adensamento, que é um fenômeno natural de
horizontes de solos (Curi, 1993), verificados principalmente nos horizontes B textutal e
B nítico, respectivamente, em Argissolos e Nitossolos (Embrapa, 2006).

A descrição morfológica do perfil de um solo (Santos et al., 2005) permite


identificar visualmente horizontes com limitações físicas do solo de uma determinada
área agrícola em relação a uma área de floresta (Giarola et al., 2007). Na figura 1, esses
autores ilustraram as alterações modificações na morfologia do solo até cerca de 40 cm
de profundidade de um Latossolo Vermelho distroférrico muito argiloso utilizado para a
produção de forragem (horizontes Ap, AB e BA) em relação à floresta (horizontes Oo,
Od, A e AB). No solo sob produção de forragem foi observada diminuição das raízes
em profundidade e ausência destas nos horizontes BA e Bw.

3
Figura 1. Ilustração esquemática da subdivisão dos horizontes dos perfis de um
Latossolo Vermelho distroférrico muito argiloso sob mata nativa (a) e
forrageira (b). Marechal Cândido Rondon (Giarola et al., 2007).

A compactação em sistemas sem revolvimento do solo sob plantio direto e


pastagens ocorre na camada superficial do solo, e sob preparo convencional na camada
sub-superficial (pé-de-grade). As principais causas da compactação adicional ao solo se
deve ao tráfego de máquinas cada vez mais pesadas em culturas anuais e permanentes, e
do pisoteio dos animais em pastagens em razão da pressão de pastejo, acentuada em
função da umidade do solo. Para que ocorra aumento da compactação de determinado
solo é necessária a aplicação de pressões superiores à pressão de preconsolidação, que
constitui em um indicativo da capacidade de suporte de carga do solo em função da
umidade do solo (Reichert et al., 2007).

Existem metodologias específicas para avaliar qualitativamente a qualidade


física do solo, tais como método Perfil Cultural (Tavares Filho, 1999) e o método
Avaliação Visual da Estrutura do Solo (Visual Soil Structure Assessement) (Ball et al.,
2007).

4
QUALIDADE FÍSICA DO SOLO

O uso e manejo do solo deveriam ser realizados de modo que fosse evitada a
degradação da qualidade física do solo. A qualidade física do solo não pode ser medida
diretamente, mas é avaliada pelos indicadores de qualidade física do solo, como
densidade, porosidade, conteúdo de água e resistência do solo à penetração (Doran &
Parkin, 1994; Karlen et al., 1997; Karlen et al., 2001, 2003). Paralelamente à evolução
do conceito de qualidade do solo, Letey (1985) propôs o Non-Limiting Water Range,
integrando as relações entre esses indicadores de qualidade física do para a produção
das culturas. Esse conceito foi aprimorado por Silva et al. (1994) como indicador da
qualidade estrutural do solo, denominando-o Least Limiting Water Range, e por
Tormena et al. (1998), traduzindo-o para Intervalo Hídrico Ótimo (IHO).

O IHO integra em função da densidade do solo os teores de água retidos nos


potenciais mátricos da capacidade de campo (80 hPa ou 100 hPa) e do ponto de murcha
permanente (15.000 hPa), os quais correspondem à água disponível do solo (AD), com
as restrições dos teores de água limitados pelos valores críticos pré-estabelecidos de
aeração e de resistência do solo à penetração para o desenvolvimento das raízes das
plantas. Com o aumento da densidade do solo, haverá redução da aeração do solo e
aumento da resistência do solo à penetração, que diminuirão o valor do IHO. O valor
nulo do IHO (IHO=0), corresponde a densidade do solo crítica (Silva et al., 1994;
Imhoff et al., 2001).

O IHO é determinado a partir dos limites críticos para os seguintes indicadores


de qualidade física do solo: conteúdo de água retido na capacidade de campo a 80 hPa
para solos textura arenosa e 100 hPa textura argilosa (θCC); conteúdo de água retido no
ponto de murcha permanente a 15.000 hPa (θPMP); porosidade de aeração mínima de
10% ou 0,10 m3 m-3 (θPA); e conteúdo de água em que a resistência do solo à penetração
atinge valores de 2,0 a 3,5 MPa (Tabela 1), dependentes da cultura e sistema de manejo
de solo (Silva et al., 1994; Petean, 2007; Tormena et al., 2007).

Independentemente do valor crítico da resistência do solo à penetração a ser


utilizado, a densidade do solo correlacionará positivamente com a densidade do solo e
negativamente com o conteúdo de água no solo (Silva et al., 1994, Tormena et al.,
1998; Fidalski, 2004; Cavalieri et al., 2006; Petean, 2007; Tormena et al., 2007;
Blainski et al., 2008, 2009).

5
O valor do IHO é calculado a partir dos conteúdos de água no solo de cada um
dos quatro indicadores (Wu et al., 2003), para cada valor de densidade do solo (Figura
2):
Se θPA≥θCC e θRP≤θPMP então IHO=θCC-θPMP;
Se θPA≥θCC e θRP≥θPMP então IHO=θCC-θRP;
Se θPA≤θCC e θRP≤θPMP então IHO=θPA-θPMP;
Se θPA≤θCC e θRP≥θPMP então IHO=θPA-θRP.

O IHO é um indicador estrutural do solo mais sensível do que a água


disponível (AD=θcc-θPMP) (Tormena et al., 1998, Fidalski, 2004). A adaptação das duas
figuras elaboradas por Araujo et al. (2004) ilustra didaticamente os conceitos de AD e
IHO para diferentes uso e manejo do solo (Figura 2).

0,40
Água no solo (m m )
-3

0,30
3

IHO=AD θ. PA
IHO
0,20 Floresta
Cultivo
θ. CC
θ. PM P
0,10 θ. RP
Dsc

0,00
1,30 1,40 1,50 1,60 1,70 1,80 1,90
-3
Densidade do solo (kg dm )

Figura 2. Conteúdo de água em função da densidade de um Latossolo Vermelho


distrófico em floresta e culturas anuais. Água Disponível (AD), Intervalo
Hídrico Ótimo (IHO), densidade do solo crítica (Dsc), conteúdo de água
retido na capacidade de campo a 100 hPa (θCC), conteúdo de água retido no
ponto de murcha permanente a 15.000 hPa (θPMP), porosidade de aeração
mínima de 10% ou 0,10 m3 m-3 (θPA) e conteúdo de água em que a
resistência do solo à penetração atinge 2 MPa (θRP). A área hachurada
corresponde a AD e/ou IHO. Maringá (Adaptado de Araujo et al., 2004).

O solo sob floresta apresentou condições físicas de solo adequadas, no qual a


AD foi igual ao IHO para os valores de densidade do solo entre 1,30 e 1,53 kg dm-3
(Figura 2). Contudo, o cultivo desse solo com milho, aveia, sorgo, soja e mandioca,
reduziu a qualidade estrutural do solo expressa pelo IHO menor do que a AD, a partir da
6
densidade solo de 1,56 kg dm-3, em razão da resistência do solo à penetração, a qual foi
acentuada a partir da densidade do solo de 1,72 kg dm-3, pela redução da porosidade do
solo, convergindo para o valor nulo do IHO, na densidade do solo de 1,86 kg dm-3, que
corresponderia a densidade crítica desse solo sob cultivo (Dsc).

A Dsc é numericamente maior em razão do teor de argila das diferentes classes


de solo do Estado do Paraná (Tabela 1). A água no solo a ser utilizada para o
desenvolvimento e produção das plantas em função da densidade de cada classe de solo,
é limitada primeiro pela resistência do solo à penetração (θRP), seguida pela porosidade
de aeração (θPA) (Tabela 1). Esses resultados explicam possíveis equívocos entre
resistência do solo à penetração e compactação do solo. O efeito da resistência do solo à
penetração diminui com o aumento do conteúdo de água no solo (precipitações pluviais
ou irrigação) ou pela redução da densidade do solo (rotação de culturas ou
escarificação).

MANEJO DA QUALIDADE FÍSICA DO SOLO

O aumento de água do solo para as plantas, maior IHO, poderá ser viabilizado
com práticas de manejo do solo que diminuem a resistência do solo à penetração e
aumentem porosidade do solo, para o mesmo valor de densidade do solo, ou reduzem a
freqüência de pontos com menores valores de densidade do solo. O IHO aumentou
quando o consórcio de forrageiras de inverno (aveia e azevém) foi mantido com altura
de pastejo superior a 7 cm de altura (Petean, 2007); em plantio direto com rotação de
cultura de inverno (Tormena et al., 2007); com o preparo mínimo do solo para o cultivo
de mandioca (Cavalieri et al., 2006); e em entrelinhas de pomar de laranja que foram
mantidas vegetadas permanentemente com gramínea mato-grosso ou batatais Paspalum
notatum (Fidalski, 2004).

ESCARIFICAÇÃO DO SOLO

A escarificação do solo em sistemas de plantio direto e na entrelinha de pomar


de laranja tem reduzido temporariamente os efeitos da compactação do solo (Tormena
et al., 2007; Bordin et al., 2005). Não se justifica a sua utilização quando se utiliza
rotação de culturas para o plantio direto (Tormena et al., 2007) e a manutenção de
vegetação permanente na entrelinha do pomar de laranja (Fidalski et al., 2007a, 2009).
7
Tabela 1. Densidade do solo crítica (Dsc) correspondente ao Intervalo Hídrico Ótimo
(IHO) igual a zero para amplitudes de densidade do solo (Ds), com restrições
impostas pela resistência do solo à penetração [(Ds (θRP)] e/ou pela
porosidade de aeração mínima de 10% ou 0,10 m3 m-3[Ds (θPA)], para
diferentes classes de solos, com teores variáveis de argila em diversos sistemas
de manejo, para os limites de capacidade de campo (CC) resistência do solo
à penetração (RP) e ponto de murcha permanente (15.000 hPa), em
diferentes municípios do Estado do Paraná.

Dsc Ds θRP)
Ds (θ θPA)
Ds (θ Argila CC RP Município
(g dm-3) (g kg-1) (hPa) (MPa)

Latossolo Vermelho distroférrico textura muito argilosa (0-7,5 cm )


Integração lavoura-pecuária sob aveia e azevém mantida com 7 cm de altura (Petean, 2007)
1,24 1,19-1,44 1,19 1,29 850 100 2,5 Campo Mourão

Latossolo Vermelho distroférrico textura muito argilosa (0-15 cm)


Plantio direto sob sucessão de culturas (Tormena et al., 2007)
1,30 1,04-1,36 1,04 1,25 870 100 3,5 Campo Mourão

Nitossolo Vermelho distroférrico textura muito argilosa (0-20 cm)


Feijão sob irrigação (Blainski et al., 2009)
1,40 1,11-1,47 1,11 1,39 870 60 2,0 Maringá

Latossolo Vermelho distrófico textura média (0-15 cm)


Mandioca sob plantio convencional (Cavalieri et al., 2006)
1,65 1,31-1,77 1,48 1,62 310 100 2,5 Araruna

Latossolo Vermelho distrófico textura média (0-20 cm)


Laranja sob o rodado da entrelinha (Negro, 2003)
1,69 1,67-1,82 1,67 1,75 180 100 2,0 Alto Paraná

Argissolo Vermelho distrófico latossólico textura arenosa (0-15 cm)


Laranja com leguminosa amendoim forrageiro na entrelinha (Arachis pintoi) (Fidalski,2004)
1,78 1,51-1,78 1,64 - 80 80 2,0 Alto Paraná

8
PRODUTIVIDADE FÍSICA DO SOLO

A produtividade física do solo é definida como a relação entre indicadores


físicos do solo e a produção das culturas (Verma & Sharma, 2008). Neste sentido, o
IHO tem se tornado um indicador da produtividade de trigo nas EUA e Índia, nos quais
a produção dessa cultura é crescente em função do maior IHO (Sharma & Bhushan,
2001; Benjamin et al., 2003; Verma & Sharma, 2008).
A produção de laranja ‘Pêra’ não foi dependente do IHO (p≤0,10, teste t) sob o
rodado e o entrerrodado da entrelinha de um pomar em um Argissolo Vermelho
distrófico textura arenosa/média (Figura 3), atribuída a melhor qualidade física do solo
proporcionada pelo manejo da entrelinha com a grama mato-grosso ou batatais
Paspalum notatum (Fidalski et al., 2007a). Contrariamente, a produção de laranja foi
dependente do IHO (p≤0,10, teste t) sob o rodado da entrelinha com a leguminosa
amendoim forrageiro (Arachis pintoi), e sob o rodado e o entrerrodado da entrelinha
com vegetação espontânea manejada com herbicida, caracterizada pela menor taxa de
cobertura do solo. A condutância estomática das folhas da laranjeira ‘Pêra’ dependeu
dos conteúdos de água da camada subsuperficial de textura média, manejada com a
leguminosa no centro da entrelinha, e o potencial da água nas folhas da laranjeira foi
dependente dos conteúdos de água na camada superficial arenosa, sob o manejo da
gramínea no centro da entrelinha (entrerrodado) e no limite da projeção da copa das
laranjeiras (Fidalski et al., 2008b).

EVOLUÇÃO DOS INDICADORES DE QUALIDADE FÍSICA DO SOLO

Paralelamente ao desenvolvimento de qualidade física do solo (Doran & Parkin,


1994; Karlen et al., 1997; Karlen et al., 2001, 2003), inúmeros indicadores para avaliar a
qualidade física do solo foram propostos, os quais estão sendo utilizados em diferentes
sistemas de manejo de solos paranaense: índice S (Dexter, 2004; Fidalski & Tormena,
2007b), resistência tênsil e friabilidade de agregados do solo (Tormena et al., 2008a,b),
capacidade de armazenamento de água no solo (Fidalski & Tormena, 2007b; Fidalski et
al.,2009) e taxa de estratificação de carbono orgânico do solo (Tormena et al., 2004;
Fidalski et al, 2007a). Schaffrath et al. (2008) obtiveram semivariogramas cruzados
entre a densidade do solo e a porosidade total ou a capacidade de campo, os quais
caracterizaram correlação espacial com menor variabilidade espacial e maior alcance no
plantio direto, comparado ao preparo convencional.
9
a) r = -0,15 (p = 0,73)
r = -0,38 (p = 0,39)
250

225

200

175

150
0,04 0,06 0,08 0,10 0,12

b) r = 0,73 (p = 0,04)
r = 0,04 (p = 0,93)
250
Produção (kg planta )
-1

225

200

175

150
0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14

r = 0,75 (p = 0,02)
c)
r = 0,59 (p = 0,10)
250

225

200

175

150
0,04 0,06 0,08 0,10 0,12

IHO (m3 m-3)

Figura 3. Produção de laranja ‘Pêra’ 2003/04 (Auler et al., 2008) em função do


Intervalo Hídrico Ótimo (IHO) quantificado em 2003 (Fidalski, 2004) nas
posições de amostragem rodado (●) e entrerrodado (○), para os tratamentos
gramínea (a), leguminosa (b) e vegetação espontânea (c). Correlações de
Pearson (r) e probabilidade (p) pelo teste t.

10
REFERÊNCIAS

ARAUJO, M.A., TORMENA, C.A.; SILVA, A.P. Propriedades físicas de um Latossolo


Vermelho distrófico cultivado e sob mata nativa. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.28, n.2,
p.337-345, 2004.

AULER, A.P.M. ; FIDALSKI, J.; PAVAN, M.A.; NEVES, C.S.V.J. Produção de


laranja Pêra em sistemas de preparo do solo e manejo nas entrelinhas. R. Bras. Ci. Solo,
Viçosa, v.32, n.1, p.363-374, 2008.

BALL, B.C.; BATEY, T.; MUNKHOLM, L.J. Field assessement of soil structural
quality: a development of the Peerlkamp test. Soil Use and Manangement, v.23, p.329-
337, 2007.

BENGOUGH, A.G.; MULLINS, C.E. Mechanical impedance to root growth: a review


of experimental techniques and root growth responses. J. Soil Sci., Oxford, v.41, n.3,
p.341-358, 1990.

BENJAMIN, J.G.; NIELSEN, D.C.; VIGIL, M.F. Quantifying effects of soil conditions
on plant growth and crop production. Geoderma, Amsterdam, v.116, p.137-148, 2003.

BLAINSKI, É.; TORMENA, C.A.; FIDALSKI, J.; GUIMARÃES, R.M.L.


Quantificação da degradação física do solo por meio da curva de resistência do solo à
penetração. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, n.3, p.975-983, 2008.

BLAINSKI, E.; GONÇALVES, A.C.A.; TORMENA, C.A.; FOLEGATTI, M.V.;


GUIMARÃES, R.M.L. Intervalo hídrico ótimo num Nitossolo Vermelho distroférrico
irrigado. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.33, n.2, p.273-281, 2009.

BORDIN, I.; NEVES, C.S.V.J.; AIDA, F.T.; SOUZA, W.R.; DAVOGLIO JUNIOR,
A.C.; FURLANETO, T.L.R.; TAVARES FILHO, J. Sistema radicular de plantas
cítricas e atributos físicos do solo em um Latossolo argiloso submetido à escarificação.
Ci. Rural, Santa Maria, v.35, n.4, p.820-825, 2005.

BOUMA, J. Using soil survey data for quantitative land evaluation. In: STEWART, B.
A. (Ed.). Adv. Soil Sci., New York: Springer-Verlag, v.9, p.177-213, 1989.

CAVALIERI, K.M.V.; TORMENA, C.A.; VIDIGAL FILHO, P.S.; GONÇALVES,


A.C.A.; COSTA, A.C.S. Efeitos de sistemas de preparo nas propriedades físicas de um
Latossolo Vermelho distrófico. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.30, n.1, p.137-147, 2006.

CURI, N. (Coord.). Vocabulário de ciência do solo. Campinas: Sociedade Brasileira


de Ciência do Solo, 1993. 90p.

DEXTER, A.R. Soil physical quality: Part I. Theory, effects of soil texture, density, and
organic matter, and effects on root growth. Geoderma, Amsterdam, v.120, n.3/4, p.201-
214, 2004.

DIAS JUNIOR, M.S. Compactação do solo. In: Tópicos de Ciência do Solo. Viçosa:
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, v.1, p.55-94, 2000.
11
DORAN, J. W.; PARKIN, T. B. Defining and assessing soil quality. In: DORAN, J. W.;
COLEMAN, D. C,. BEZDICEK, D. F.; STEWART, B. A. (Ed.). In: Defining soil
quality for a sustainable environment. Madison: Soil Science Society of
America/American Society of Agronomy, 1994. cap. 1, p. 3-21. (SSSA Special
Publication, 35).

EMBRAPA. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Paraná.


Londrina: Embrapa-SNLCS/Sudesul/Iapar, 1984. v. 1/2, 791p. (Embrapa-SNLCS.
Boletim de Pesquisa, 27; IAPAR. Boletim Técnico, 16).

EMBRAPA. Manual de métodos de análises de solo. 2. ed. Rio de Janeiro: Centro


Nacional de Pesquisa de Solos. 1997. (EMBRAPA-CNPS. Documentos, 1).

FIDALSKI, J. Propriedades físico-hídricas de um Argissolo Vermelho distrófico


latossólico em diferentes sistemas de manejo das entrelinhas de citros. Universidade
Estadual de Maringá, Maringá. 2004. 62p. (Dissertação de Mestrado).

FIDALSKI, J.; TORMENA, C.A. Funções de pedotransferência para as curvas de


retenção de água e de resistência do solo à penetração em sistemas de manejo com
plantas de cobertura permanente em citros. Ci. Rural, Santa Maria, v.37, p.5, 1316-
1322, 2007a.

FIDALSKI, J.; TORMENA, C.A. Homogeneidade da qualidade física do solo nas


entrelinhas de um pomar de laranjeira com sistemas de manejo da vegetação na
entrelinha. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.31, n.4, p.637-645, 2007b.

FIDALSKI, J.; TORMENA, C.A.; SILVA, A.P. Qualidade física do solo em pomar de
laranjeira no noroeste do Paraná com manejo da cobertura permanente na entrelinha. R.
Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.31, p.423-433, 2007a.

FIDALSKI, J.; TORMENA, C.A.; SCAPIM, C.A. Espacialização vertical e horizontal


dos indicadores de qualidade para um Latossolo Vermelho cultivado com citros. R.
Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.31, n.1, p.9-19, 2007b.

FIDALSKI, J.; TORMENA, C.A.; CECATO, U.; BARBERO, L.M.; LUGÃO, S.M.B.;
COSTA, M.A.T. Qualidade física do solo em pastagem adubada e sob pastejo contínuo.
Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.43, p.1583-1590, 2008a.

FIDALSKI, J.; MARUR, C.J.; TORMENA, C.A. Respostas fisiológicas da laranjeira


‘Pêra’ aos sistemas de manejo de cobertura permanente do solo nas entrelinhas. R.
Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, n.3, p.1307-1317, 2008b.

FIDALSKI, J.; BARBOSA, G.M.C.; AULER, P.A.M.; PAVAN, M.A.; BERALDO,


J.M.G. Qualidade física do solo sob sistemas de preparo e cobertura morta em pomar de
laranja. Pesq. Agropec. Bras., Brasília, v.44, n.1, p.76-83, 2009.

GIAROLA, N.F.B.; TORMENA, C.A.; DUTRA, A.C. Degradação física de um


Latossolo Vermelho utilizado para produção intensiva de forragem. R. Bras. Ci. Solo,
Viçosa, v.31, n.5, p.863-873, 2007.

12
GUIMARÃES, R.M.L.; TORMENA, C.A.; ALVES, S.J.; FIDALSKI, J.; BLAINSKI.
E. Tensile strength, friability and organic carbon in an Oxisol under a crop-livestock
system. Sci. Agric., Piracicaba, v.66, n.4, p.499-505, 2009.

IAPAR. Amostragem de solo para análise química: plantio direto e convencional,


culturas perenes, várzeas, pastagens e capineiras. Londrina: IAPAR, 1996. 28p.
(IAPAR. Circular, 90).

KARLEN, D.L.; MAUSBACH, M.J.; DORAN, J.W.; CLINE, R.G.; HARRIS, R.F.;
SCHUMAN, G.E. Soil quality: a concept, definition, and framework for evaluation.
Soil Sci. Soc. Am. J., Madison, v. 61, n. 1, p. 4-10, 1997.

KARLEN, D.L.; ANDREWS, S.S.; DORAN, J.W. Soil quality: Current concepts and
applications. Adv. Agron., San Diego, v.74, p.1-40, 2001.

KARLEN, D.L.; DITZLER, C.A.; ANDREWS, S.S. Soil quality: why and how?
Geoderma, Amsterdam, v.114, n.3/4, p.145-156, 2003.

IMHOFF, S.; SILVA, A.P.; DIAS JÚNIOR, M.S.; TORMENA, C.A. Quantificação das
pressões crítica para o crescimento das plantas. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.25, p.11-
18, 2001.

LETEY, J. Relationship between soil physical properties and crop production. Adv. Soil
Sci., New York, v.1, n.1, p.277-294, 1985.

MACHADO, J.L.; TORMENA, C.A.; FIDALSKI, J.; SCAPIM, C.A. Inter relações
entre as propriedades físicas e os coeficientes da curva de retenção de água de um
Latossolo sob diferentes sistemas de uso. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, p.495-502,
2008.

NEGRO, S..R L. Propriedades físicas e químicas de um Latossolo Vermelho


distrófico cultivado com laranja. Universidade Estadual de Maringá, Maringá. 2003.
68p. (Dissertação de Mestrado).

PETEAN, L.P. Alturas de pastejo em aveia e azevém e seus efeitos nas


propriedades física de um solo sob integração lavoura-pecuária. Universidade
Estadual de Maringá, Maringá. 2007. 66p. (Dissertação de Mestrado).

REICHARDT, K. Capacidade de campo. R. Bras. Ci. Solo, Campinas, v.12, n.3, p.


211-216, 1988.

REICHERT, J.M.; SUZUKI, L.E.A.S.; REINERT, D.J. Compactação do solo em


sistemas agropecuários e florestais: identificação, efeitos, limites críticos e mitigação.
In: Tópicos de Ciência do Solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, v.1,
p.49-134, 2007.

SANTOS, R.D.; LEMOS, R.C.; SANTOS, H.G.; KER, J.C.; ANJOS, L.H.C. Manual
de descrição e coleta de solo no campo. 5.ed. Viçosa, Sociedade Brasileira de Ciência
do Solo, 2005. 100p.

13
SCHAFFRATH, V.R.; TORMENA, C.A.; FIDALSKI, J.; GONÇALVES, A.C.A.
Variabilidade e correlação espacial de propriedades físicas de solo sob plantio direto e
preparo convencional. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, n.4, p.1369-1377, 2008.

SHARMA, P.K.; BHUSHAN, L. Physical characterization of a soil amended with


organic residues in a rice-wheat cropping system using a single value soil physical
index. Soil Till. Res., Amsterdam, v.60, p.143-152, 2001.

SILVA, A.P.; KAY, B.D.; PERFECT, E. Characterization of the least limiting water
range. Soil Sci. Soc. Am. J., v.58, p.1775-1781, 1994.

SILVA, A.P.; TORMENA, C.A.; FIDALSKI, J.; IMHOFF, S.C. Funções de


pedotransferência para as curvas de retenção de água e de resistência do solo à
penetração. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, n.1, p.1-10, 2008.

TAVARES FILHO, J.; RALISCH, R.; GUIMARÃES, M.F.; MEDINA, C.C.;


BALBINO, L.C.; NEVES, C.S.V.J. Método do perfil cultural para avaliação do estado
físico de solos em condições tropicais. R. Bras. Ci. Solo, v.23, n.2, p.393-99, 1999.

TORMENA, C. A.; SILVA, A. P.; LIBARDI, P. L. Caracterização do intervalo hídrico


ótimo de um Latossolo Roxo sob plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.22, n.4,
p.573-581, 1998.

TORMENA, C.A.; FRIEDRICH, R.; PINTRO, J.C.; COSTA, A.C.S.; FIDALSKI, J.


Propriedades físicas e taxa de estratificação de carbono orgânico num Latossolo
Vermelho após dez anos sob dois sistemas de manejo. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.28,
n.6, p.1023-1031, 2004.

TORMENA, C.A.; ARAUJO, M.A.; FIDALSKI, J.; IMHOFF, S.; SILVA, A.P.
Quantificação da resistência tênsil e da friabilidade de um Latossolo Vermelho
distroférrico sob plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, n.3, p.943-952, 2008a.

TORMENA, C.A.; FIDALSKI, J.; ROSSI JUNIOR, W. Resistência tênsil e friabilidade


de um Latossolo sob diferentes sistemas de uso. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.32, n.1,
p.33-42, 2008b.

TORMENA, C. A.; ARAÚJO, M. A.; FIDALSKI, J.; COSTA, J. M. Variação temporal


do Intervalo Hídrico Ótimo de um Latossolo Vermelho distroférrico sob sistemas de
plantio direto. R. Bras. Ci. Solo, Viçosa, v.31, n.2, p.211-219, 2007.

VERMA, S.; SHARMA, P.K. Long term effects of organics, fertilizers and cropping
systems on soil physical productivity evaluated using a single value index (NLWR).
Soil Till. Res., Amsterdam, v.98, p.1-10, 2008.

WU, L.; FENG, G.; LETEY, J.; FERGUSON, L.; MITCHELL, J.; McCULLOUGH-
SANDEN, B.; MARKEGARD, G. Soil management effects on the nonlimiting water
range. Geoderma, Amsterdam, v.114, p.401-414, 2003.

14

Você também pode gostar