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RESUMO
O trabalho apresenta estudos (em bancada) de beneficiamento, via elutriação, de um rejeito piritoso proveniente do
processamento de carvão mineral. O rejeito, da jigagem da empresa Carbonífera Criciúma (SC), foi cominuído e
peneirado a seco até 100 % < 500 µm. Foram realizadas, em amostra representativa do rejeito moído, análises elementar
(via decomposição térmica, vario MACRO Elementar®), granulométrica (CILAS® 1064) e do teor de cinzas. Foi
desenvolvida uma técnica de determinação de enxofre total via fluorescência de raios-X (PANalytical® MiniPal4) com
amostras selecionadas (analisadas no vario MACRO Elementar ®). Na elutriação, foi utilizada uma coluna de vidro
(diâmetro interno de 2,1 cm e altura de 28 cm) utilizando-se diferentes velocidades superficiais. A técnica baseia-se em
maximizar o diferencial de velocidade de sedimentação das partículas causado pela diferença de densidades entre a
pirita (FeS2, mais densa) e os materiais mais leves (argilominerais e carvão residual). A amostra original apresentou 38
% de enxofre total (72 % de FeS2), diâmetro médio volumétrico de 31 µm e 65 % de teor de cinzas. Os resultados
(teores e recuperações -R% - de pirita) foram determinados para velocidades de elutriação entre 1,2 e 3,6 cm.s-1. Os
concentrados (leitos) analisaram 86 % FeS2, com 68 % R FeS2; 92 % FeS2 com 58 % R FeS2 e 96 % FeS2 com 49 % R
FeS2. Os teores de enxofre total variaram entre 46 e 51 %. Estes resultados demonstram a viabilidade de obtenção de
concentrados com elevados teores e recuperações de pirita, a partir do beneficiamento por elutriação (com água) de
rejeitos piritosos da jigagem. O desenvolvimento da técnica continua com o estudo de parâmetros químicos (agregação
com xantatos), do design do elutriador (tamanho-geometria) e operacionais (taxa de aplicação, validação em tempos
longos). Um estudo piloto será realizado nas melhores condições experimentais obtidas em nível de bancada.
1. INTRODUÇÃO
2. EXPERIMENTAL
2.2. Metodologia
2.2.1. Caracterização
Uma análise da distribuição (volumétrica) de tamanho das partículas de rejeito foi realizada
em um granulômetro a laser (CILAS® 1064) em meio aquoso. Ultrasom foi aplicado no interior do
equipamento de difração de laser (durante 30 segundos) para assegurar a adequada dispersão das
partículas antes das medidas.
O teor de cinzas da amostra de rejeito foi determinado conforme procedimento descrito na
NBR 8289 "Carvão Mineral: Determinação do Teor de Cinzas" (ABNT, 1983).
O teor (i.e. percentual mássico) de enxofre total do rejeito foi obtido via decomposição
térmica (vario MACRO, Elementar Analysensysteme GmbH®).
Uma técnica de determinação de enxofre total via fluorescência de raios-X (FRX,
PANalytical® MiniPal4) foi desenvolvida a partir da construção de uma curva de calibração com
amostras de rejeito (e misturas) de concentrações conhecidas (analisadas previamente via
decomposição térmica). Uma correlação satisfatória (R2 = 0,99) foi obtida entre o número de
contagens por segundo (cps), referente à área do pico de fluorescência de raios-X do enxofre (S), e
o teor de S das amostras-padrão (2, 12, 24 e 38 %). A técnica analítica desenvolvida foi utilizada
para determinação do teor de enxofre dos concentrados (leitos) obtidos nos estudos de separação.
Para as análises via FRX, as amostras foram moídas (almofariz e pistilo) e peneiradas até 100 % <
74 µm (#200 Mesh Tyler), a fim de possibilitar uma satisfatória compactação manual do material
pulverizado (~ 8 g) no porta-amostra.
2.2.2. Elutriação
O sistema de elutriação (em bancada) consistiu basicamente de uma coluna cilíndrica de vidro
(28 cm de altura e 2,1 cm de diâmetro interno) com uma saída lateral superior (para saída do
material disperso) e placa de vidro sinterizado (“frit”) na parte inferior para retenção do material
sedimentado (leito) (Figura 1). Um rotâmetro (OMEL® 0-1500 mL.min-1), conectado diretamente à
água de abastecimento público, foi utilizado para controle da vazão.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A distribuição (volumétrica) de tamanho das partículas do rejeito piritoso, obtida por difração
de laser, é apresentada na Figura 2.
100
Passante (volume), %
80
60
40
20
0
0 1 10 100
Diâmetro (mm)
Figura 2. Distribuição de tamanho de partículas da amostra de rejeito piritoso, obtida por difração
de laser (CILAS®).
A Figura 2 mostra que todas as partículas de rejeito possuem tamanho (dp) menor que 100
µm, estando dentro da faixa granulométrica referida como “finos de carvão” (< 500-590 µm) na
literatura (Laskowski, 2001; Rubio, 1988). Um diâmetro médio volumétrico de 31 ± 1 µm foi
obtido para a amostra.
O rejeito piritoso mostrou um teor de cinzas de 65 ± 0 %, demonstrando sua composição
química majoritariamente inorgânica. A amostra original apresentou 38 ± 2 % de enxofre total
(análise via decomposição térmica), correspondendo estequiometricamente (i.e. considerando todo
o enxofre presente na forma pirítica) a 72 % de pirita (FeS2).
Resultados de recuperação mássica total e de teor de enxofre para os concentrados (leitos)
obtidos na elutriação (em distintas velocidades) do rejeito piritoso são mostrados na Figura 3.
60 55
Recuperação mássica total
50
45
(%)
40
40
35
30 30
1,2 2,4 3,6 1,2 2,4 3,6
(a) (b)
Velocidade de elutriação (cm/s) Velocidade de elutriação (cm/s)
Figura 3. Recuperação mássica total (a) e teor de enxofre (b) dos concentrados (leitos) obtidos
na elutriação do rejeito piritoso em distintas velocidades.
A Figura 3(b) mostra que houve um aumento significativo no teor de enxofre total do
concentrado (46 a 51 %) com relação ao valor referente à amostra inicial (38 %), em todas as
velocidades de elutriação testadas. Ainda, quanto maior a velocidade, maior foi o teor de enxofre
obtido. Estes dados demonstram a eficiência da técnica em estudo em obter concentrados com alto
teor de enxofre a partir do rejeito considerado, devido aos princípios já discutidos e que definem a
separação.
Ainda, conforme esperado, a recuperação mássica total (i.e. massa total de concentrado/massa
inicial de amostra) diminui de acordo com o aumento na vazão de água. Isto pode ser explicado
pelo fato de que, quanto maior a velocidade de elutriação, maior será a quantidade de partículas
arrastadas pela corrente ascendente do fluido, permanecendo uma menor massa de material (leito)
retido na coluna.
Os resultados de teor de pirita, calculados estequiometricamente a partir dos dados de enxofre
(S) total (considerado igual ao S pirítico), e de recuperação mássica de pirita para os concentrados
obtidos nas distintas velocidades testadas, são mostrados na Figura 4Figura 3.
100 70
Amostra 60
90 inicial
(%) 50
80
40
70 30
1,2 2,4 3,6 1,2 2,4 3,6
(a) (b)
Velocidade de elutriação (cm/s) Velocidade de elutriação (cm/s)
Figura 4. Teores (a) e recuperações mássicas (b) de pirita dos concentrados (leitos) obtidos na
separação do rejeito piritoso em distintas velocidades de elutriação.
A Figura 4(a) mostra que foi possível produzir, a partir de um rejeito piritoso (72 % FeS2),
concentrados com elevado teor de pirita (86 % a 96 % FeS2) nas velocidades testadas. Entretanto,
conforme visualizado na Figura 4(b), a recuperação mássica de pirita (49 %) correspondente ao teor
máximo de FeS2 obtido (96 %) é relativamente baixa, sendo uma fração significativa (51 %) deste
mineral perdida no produto elutriado. Esta fração pode ser possivelmente recuperada via agregação
(seletiva) das partículas de pirita mais finas com o uso de xantatos. Este estudo está sendo
conduzido em escala de bancada e o desenvolvimento da técnica continuará ainda em sistemas de
elutriação com tamanho e design distintos, além da validação em ensaios de tempos longos. Um
estudo piloto também será realizado futuramente nas melhores condições experimentais obtidas em
nível de bancada.
4. CONCLUSÕES
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 8289 - Carvão Mineral: Determinação do
Teor de Cinzas. 4 p., 1983.
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