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Direito internacional

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Para o ramo do direito que estuda o conflito de leis no espaço, veja direito
internacional privado.

Direito Internacional (DI) é o conjunto de normas que regula as relações externas dos
atores que compõem a sociedade internacional.[1] Estes atores, chamados sujeitos de
direito internacional, são, principalmente, os Estados nacionais, embora a prática e a
doutrina reconheçam também outros atores, como as organizações internacionais.

Alguns autores distinguem entre o direito internacional racional ou objetivo, de um


lado, e o DI positivo, de outro.[2] O primeiro aspecto compreende os princípios de justiça
que governam as relações entre os povos, enquanto que o segundo vem a ser o direito
concretamente aplicado, proveniente dos acordos entre os sujeitos de DI e de fatos
jurídicos consagrados por prática reiterada. O DI racional funcionaria, portanto, como
norma inspiradora e fundamento para o DI positivo.

O direito internacional (por vezes também chamado de direito internacional público)


não deve ser confundido com a disciplina jurídica do direito internacional privado.

Índice
[esconder]

 1 Terminologia
 2 História
o 2.1 Antiguidade
o 2.2 Idade Média
o 2.3 Idade Moderna
o 2.4 Idade Contemporânea
 3 Natureza da norma jurídica internacional
 4 Fundamento
 5 Relação entre o DI e o direito interno
o 5.1 Dualismo
o 5.2 Monismo com supremacia do DI
o 5.3 Monismo com supremacia do direito interno
 6 Personalidade jurídica internacional
o 6.1 Estados
o 6.2 Reconhecimento de Estado e de governo
o 6.3 Organizações internacionais
 7 Fontes
o 7.1 Tratados
o 7.2 Costume
o 7.3 Princípios gerais de direito
o 7.4 Atos unilaterais
o 7.5 Decisões das organizações internacionais
 8 Domínio público internacional
 9 Referências
 10 Bibliografia
 11 Ver também
 12 Ligações externas
 13 Referências

[editar] Terminologia
Ao longo da história, empregaram-se diversas denominações para designar o ramo do
direito que regula o relacionamento entre os Estados. Os romanos utilizavam a
expressão ius gentium (latim para "direito das gentes" ou "direito dos povos"), retomada
por Isidoro de Sevilha e Samuel Pufendorf. Francisco de Vitória preferia o termo ius
inter gentes (latim para "direito entre as gentes" ou "entre os povos").[3]

Foi Jeremy Bentham quem cunhou a expressão international law,[4] em sua obra "An
Introduction to the Principles of Morals and Legislation".[5] Ao verter o livro para o
francês, Étienne Dumont traduziu a expressão como droit international, e esta foi
adotada nos diversos idiomas – por exemplo, "direito internacional", em português. A
rigor, em francês e em português, o termo "internacional" não é exato, pois não se trata
de regular o relacionamento entre nações, mas sim entre Estados.[6]

A qualificação "público", encontrada na expressão "direito internacional público", é


usada para diferenciar este ramo do direito da disciplina dedicada ao estudo do conflito
de leis no espaço ("direito internacional privado").[7] Convém ter em mente, porém, que
"direito internacional" e "direito internacional público" são freqüente e corretamente
utilizados como sinônimos.

[editar] História
Embora boa parte dos juristas reconheça a existência de um direito internacional apenas
a partir da Paz de Vestfália (1648), marco histórico do Estado-nação moderno, é
inegável que os povos da Antiguidade mantinham relações exteriores: comerciavam
entre si, enviavam embaixadores, vinculavam-se por meio de tratados e outras formas
de obrigação, e assim por diante.

[editar] Antiguidade
O Tratado de Kadesh, um dos primeiros exemplos registrados de um tratado
internacional. Exemplar do Museu de Arqueologia de Istambul, Turquia.

O tratado mais antigo registrado é o celebrado entre Lagash e Umma, cidades da


Mesopotâmia, relativo à fronteira comum. Mas o tratado mais famoso da Antigüidade
remota é, possivelmente, o de Kadesh, concluído entre Ramsés II do Egito e Hatusil III
dos hititas no século XIII a.C.

Da mesma maneira que na Antigüidade remota, os gregos reconheciam e praticavam os


institutos da inviolabilidade dos embaixadores, do respeito aos tratados e do recurso à
arbitragem, dentre outros.

A maioria dos juristas entende que a Roma Antiga, ao longo de quase toda a sua
história, não se considerava sujeita a um direito internacional distinto do seu direito
interno, o que se explica pelo predomínio da chamada Pax romana. O ius gentium, que
alguns apontam como indício de um direito internacional romano, era, na essência, um
direito romano aplicado a estrangeiros por um magistrado romano, o pretor peregrino.

[editar] Idade Média

A Igreja foi a grande influência no desenvolvimento do direito internacional durante a


Idade Média. O papa era considerado o árbitro por excelência das relações
internacionais e tinha a autoridade para liberar um chefe de Estado do cumprimento de
um tratado.

A grande contribuição da Igreja durante o período medieval foi a humanização da


guerra. Três conceitos, em especial, tiveram forte impacto naquela área: a Paz de Deus
(pela primeira vez, no mundo ocidental, distinguia-se entre beligerantes e não-
beligerantes, proibindo-se a destruição de colheitas e exigindo-se o respeito aos
camponeses, aos viajantes e às mulheres); a Trégua de Deus (a suspensão dos combates
durante o domingo e nos dias santos); e a noção de Guerra Justa, desenvolvida
principalmente por Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. A
guerra seria justa caso fosse declarada pelo príncipe, tivesse por causa a violação de um
direito e pretendesse reparar um mal.

Ademais do juramento, já empregado na Antigüidade, os tratados medievais eram


garantidos com a troca de reféns.

A primeira Missão diplomática de caráter permanente foi estabelecida por Milão junto
ao governo de Florença, no final da Idade Média.

[editar] Idade Moderna

Ratificação do tratado de Münster, um dos componentes da Paz de Vestfália.

A Idade Moderna vê nascer o DI tal como o conhecemos hoje. Surgem as noções de


Estado nacional e de soberania estatal, conceitos consolidados pela Paz de Vestfália
(1648). A partir de então, os Estados abandonariam o respeito a uma vaga hierarquia
internacional baseada na religião e não mais reconheceriam nenhum outro poder acima
de si próprios (soberania). A Europa começou a adotar uma organização política
centrada na idéia de que a cada nação corresponderia um Estado (Estado-nação).

Juntamente com Francisco de Vitória, Hugo Grócio foi um dos principais teóricos do DI
no período, baseando-se na teoria do direito natural. Sua principal obra jurídica, De
Jure Belli ac Pacis ("do direito da guerra e da paz"), em muito contribuiu para o
desenvolvimento da noção de Guerra Justa.

[editar] Idade Contemporânea

O Palácio das Nações, erguido entre 1929-1938, foi a sede da Sociedade das Nações.
Na Idade Contemporânea, inaugurada com a Revolução Francesa, é reforçado o
conceito de nacionalidade, que viria posteriormente a orientar as unificações italiana e
alemã no século XIX. O Congresso de Viena (1815), que encerrou a era napoleônica,
resultou em grande impulso para o DI, na medida em que apontou na direção da
internacionalização dos grandes rios europeus (Reno, Mosa etc.), declarou a
neutralidade perpétua da Suíça e pela primeira vez adotou uma classificação para os
agentes diplomáticos.

O século XIX assistiu ao florescimento do DI moderno, com a proibição do corso, a


criação dos primeiros organismos internacionais com vistas a regular assuntos
transnacionais, a proclamação da Doutrina Monroe e a primeira das Convenções de
Genebra, dentre inúmeras outras iniciativas. A Conferência de Berlim de 1885
organizou o neo-imperialismo europeu na África.

Durante o século XX, o DI moderno foi aprofundado e consolidado com a criação da


Sociedade das Nações e, posteriormente, da Organização das Nações Unidas, o trabalho
de codificação do DI (por exemplo, a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados e
a Convenção sobre Direito do Mar) e a proliferação de tratados nascida na necessidade
de acompanhar o intenso intercâmbio internacional do mundo contemporâneo.

[editar] Natureza da norma jurídica internacional


Como ensina a ciência política, o Estado é dotado de soberania, e esta se manifesta de
duas maneiras, segundo o âmbito de aplicação. Na vertente interna de aplicação da
soberania, o Estado encontra-se acima dos demais sujeitos de direito, constituindo-se na
autoridade máxima em seu território. Na vertente externa, por outro lado, o Estado está
em pé de igualdade com os demais Estados soberanos que constituem a sociedade
internacional.

Esta dicotomia entre as vertentes interna e externa do âmbito de aplicação da soberania


do Estado reflete-se, também, na natureza da norma jurídica, conforme seja de direito
interno ou de direito internacional. No direito interno, a norma emana do Estado ou é
por este aprovada. O Estado impõe a ordem jurídica interna e garante a sanção em caso
de sua violação (relação de subordinação).

O mesmo não acontece no DI. Neste, os Estados são juridicamente iguais (princípio da
igualdade jurídica dos Estados) e, portanto, não existe uma entidade central e superior
ao conjunto de Estados, com a prerrogativa de impor o cumprimento da ordem jurídica
internacional e de aplicar uma sanção por sua violação.[8] Os sujeitos de direito (os
Estados), aqui, diferentemente do caso do direito interno, produzem, eles mesmos,
diretamente, a norma jurídica que lhes será aplicada (por exemplo, quando um Estado
celebra um tratado), o que constitui uma relação de coordenação. O DI é, portanto, sui
generis, peculiar, entre os ramos do direito.

Discute-se se existe uma hierarquia das normas de direito internacional, se um tipo de


norma seria superior a (e portanto prevaleceria contra) outro tipo de norma. Embora
alguns juristas reconheçam, por exemplo, a superioridade dos princípios de direito
internacional (tais como os princípios da igualdade jurídica dos Estados e da não-
intervenção), grande parte dos estudiosos entende que inexiste hierarquia.
Os conceitos de ato ilícito (violação de uma norma jurídica) e de sanção (penalidade
imposta em conseqüência do ato ilícito) existem no DI, mas sua aplicação não é tão
simples como no direito interno. Na ausência de uma entidade supra-estatal, a
responsabilidade internacional e a conseqüente sanção contra um Estado dependem da
ação coletiva de seus pares.[9]

[editar] Fundamento
Diversas correntes doutrinárias procuram explicar o fundamento do DI, isto é, a origem
da sua obrigatoriedade. A mais consagrada é a doutrina que o identifica no
consentimento, tradicionalmente expresso no princípio pacta sunt servanda ("os
acordos devem ser cumpridos", em latim): um Estado é obrigado no plano internacional
apenas se tiver consentido em vincular-se juridicamente. Isto é válido até mesmo para o
princípio majoritário, que não é automaticamente aplicável ao DI - no âmbito de uma
organização internacional, por exemplo, os Estados estão obrigados a aceitar uma
decisão que lhes for contrária, tomada por maioria, apenas se tiverem acatado
previamente esta forma decisória.

[editar] Relação entre o DI e o direito interno


Este capítulo do estudo do DI busca responder indagações sobre a possibilidade de
conflito entre o direito interno de um determinado país e o DI e, em caso afirmativo,
qual das duas ordens jurídicas deveria prevalecer.

Os juristas reconhecem três sistemas básicos quanto ao relacionamento entre o DI e o


direito interno de determinado Estado:

 dualismo (o DI e o direito interno são completamente independentes e a validade


da norma de um não depende do outro);
 monismo com supremacia do DI (a ordem jurídica é uma só, mas as normas de
direito interno devem ajustar-se ao DI); e
 monismo com supremacia do direito interno (uma única a ordem jurídica, mas as
normas de DI devem ajustar-se ao direito interno).

[editar] Dualismo

Segundo a doutrina dualista, para que uma norma internacional seja aplicada na ordem
interna de um Estado, este deve primeiramente transformá-la em norma de direito
interno, incorporando-a ao seu ordenamento jurídico doméstico. Esta doutrina costuma
ser chamada de teoria da incorporação.

Segundo esta teoria, não existiria a possibilidade de conflito entre as duas ordens
jurídicas, por serem completamente independentes. Formularam-na Triepel, Anzilotti,
dentre outros.

[editar] Monismo com supremacia do DI

A doutrina do monismo com supremacia do DI, formulada por Hans Kelsen, Alfred
Verdross, Léon Duguit e outros, não acata a existência de duas ordens jurídicas
independentes, afirmando haver apenas um único ordenamento jurídico, no qual o DI é
considerado superior ao direito interno. Baseando-se na pirâmide normativa kelseniana,
os proponentes entendem que a norma fundamental (no vértice da pirâmide) seria uma
regra de DI, pacta sunt servanda, da qual derivariam sua validade as demais. Segundo
os seus defensores, não seria possível o conflito entre o DI e o direito interno, pois
prevaleceria a norma hierarquicamente superior (no caso, o DI).

[editar] Monismo com supremacia do direito interno

Com raízes no hegelianismo, esta teoria entende que o Estado é dotado de soberania
absoluta e que, portanto, somente se sujeita a um sistema jurídico que emane de si
próprio. O DI derivaria sua obrigatoriedade do direito interno, e o fundamento daquele
seria apenas a autolimitação do Estado. Tal como no caso anterior, esta teoria enxerga a
existência de uma única ordem jurídica, mas identifica-a com a interna - o DI seria
simplesmente a continuação do direito interno, aplicado às relações exteriores do
Estado. Esposaram esta doutrina Georg Jellinek, Georges Burdeau e os juristas
soviéticos.

[editar] Personalidade jurídica internacional


Consideram-se sujeitos de DI as entidades capazes de adquirir direitos e contrair
obrigações no plano internacional, bem como de reivindicar os seus direitos no plano
internacional.[10] Os principais contextos nos quais a questão da personalidade
internacional é discutida são a capacidade de reivindicar direitos frente à violação do
DI, a capacidade de celebrar tratados e o gozo de privilégios e imunidades de jurisdição
estatal.

Nestes três principais contextos, o Estado-nação emerge como o principal ator no


cenário internacional e, por conseguinte, o mais importante sujeito de DI.[11] Mas há
outros atores que, ao dispor de algumas das daquelas capacidades, são vistos como
detentores de personalidade internacional, embora em menor grau. O maior exemplo,
neste caso, são as organizações internacionais (intergovernamentais) que, sob certas
condições, podem exercer direitos e contrair obrigações internacionais e são, portanto,
sujeitos de DI.

A estes dois exemplos "normais"[11] de sujeitos de DI, acrescentam-se outros, que


podem eventualmente deter alguma medida (em geral reduzida) de personalidade
internacional, como certos povos sem autogoverno, movimentos de liberação nacional,
beligerantes, insurgentes e entidades sui generis (neste último caso, são exemplos a
Santa Sé e Ordem Soberana e Militar de Malta). Concretamente, o reconhecimento e a
aquiescência podem sustentar no plano internacional uma entidade que, considerada
anômala, mantém uma rede de relações jurídicas internacionais.[12]

Alguns estudiosos entendem que o indivíduo também seria modernamente um sujeito de


DI, ao argumento de que diversas normas internacionais criam direitos e deveres para as
pessoas naturais. Outros, porém, preferem não o classificar como sujeito de DI, para
evitar a implicação de capacidades de que o indivíduo na verdade não dispõe na arena
internacional.[13]
[editar] Estados

Ver artigo principal: Estado

Os Estados soberanos são os principais sujeitos de DI, tanto do ponto de vista histórico
quanto do funcional, já que é por sua iniciativa que surgem outros sujeitos de DI, como
as organizações internacionais.

A ciência política, de acordo com Jellinek, aponta três elementos indispensáveis à


existência do Estado e, em conseqüência, à sua personalidade internacional, a saber:

 população;
 território; e
 governo.

Ademais dos elementos constitutivos mencionados acima, o Estado, para ser pessoa
internacional, deve possuir soberania, isto é, o direito exclusivo de exercer a autoridade
política suprema sobre o seu território e a sua população. Ver o capítulo Natureza da
norma jurídica internacional.

[editar] Reconhecimento de Estado e de governo

Mapa-múndi com a indicação (em verde) dos Estados que reconhecem o Kosovo, o qual
se declarou independente em 17 de fevereiro de 2008.

O reconhecimento de Estado é um ato unilateral, expresso ou tácito, pelo qual um


Estado constata a existência de um outro Estado na ordem internacional,[14] dotado de
soberania, de personalidade jurídica internacional e dos demais elementos constitutivos
do Estado.[15] O reconhecimento é indispensável para que o novo Estado se relacione
com seus pares na comunidade internacional.

Em geral, o DI exige o cumprimento de três requisitos para que um Estado seja


reconhecido por outros:

 que seu governo seja independente, inclusive no que respeita à condução da


política externa;
 que o governo controle efetivamente o seu território e população e cumpra as
suas obrigações internacionais; e
 que possua um território delimitado.

Os juristas debatem a natureza jurídica do reconhecimento de Estado. Alguns pensam


que se trata de um ato constitutivo - a personalidade internacional do Estado surgiria a
partir do reconhecimento - e outros, de um ato declaratório apenas - o Estado seria
preexistente ao reconhecimento, que é simplesmente uma constatação de sua existência.
A prática e grande parte dos juristas são favoráveis à teoria declaratória.[16][17]

O reconhecimento de Estado é retroativo, incondicional e irrevogável, mesmo em face


do rompimento de relações diplomáticas.[18]

Já o reconhecimento de governo por outros Estados ocorre sempre que um novo


governo (isto é, um novo grupo político) assume o poder em um Estado com a violação
de seu sistema constitucional.[19] É uma maneira pela qual os demais Estados declaram
qual o governo do país em questão, em especial quando há revoluções que tornam o
quadro político confuso, e pressionam o novo governo a cumprir com as obrigações
internacionais assumidas pelo governo anterior em nome do seu Estado. Não é ato
obrigatório para os demais Estados.

São prerrequisitos para que um novo governo seja reconhecido:[20]

 efetividade, isto é, controle da máquina do Estado e obediência civil;


 cumprimento das obrigações internacionais do Estado;
 surgimento do novo governo conforme as regras do DI: forma de impedir o
reconhecimento de um governo imposto por intervenção estrangeira.

Os efeitos do reconhecimento do governo são os seguintes:[21]

 estabelecimento de relações diplomáticas: embora um Estado possa reconhecer o


governo de outro mas romper relações diplomáticas, estas tendem a seguir-se ao
reconhecimento;
 imunidade de jurisdição do novo governo perante outros Estados;
 legitimidade para ser parte em tribunal estrangeiro; e
 admissão, pelo Estado que reconhece, da validade dos atos do novo governo.

[editar] Organizações internacionais

As Nações Unidas são a principal organização internacional da atualidade. Na foto, a


sua Assembléia-Geral.
Ver artigo principal: Organização internacional

Conceitua-se como organização internacional uma associação voluntária de sujeitos de


DI (quase sempre Estados), constituída mediante ato internacional (geralmente um
tratado), de caráter relativamente permanente, dotada de regulamento e órgãos de
direção próprios, cuja finalidade é atingir os objetivos comuns determinados por seus
membros constituintes.

As organizações internacionais, uma vez constituídas, adquirem personalidade


internacional independente da de seus membros constituintes, podendo, portanto,
adquirir direitos e contrair obrigações em seu nome e por sua conta, inclusive por
intermédio da celebração de tratados com outras organizações internacionais e com
Estados, nos termos do seu ato constitutivo. A Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações
Internacionais, de 1986, buscou disciplinar as normas de DI aplicáveis ao poder
convencional das organizações internacionais.

Nos termos de seu ato constitutivo, as organizações internacionais possuem o direito de


legação, podendo manter relações diplomáticas com outros sujeitos de DI. Em geral,
tanto o direito de legação ativo (enviar representante) como o passivo (recebê-lo) são
exercidos por meio de observadores. No caso do direito de legação passivo, a
organização internacional pode celebrar tratados ("Acordos de Sede") com o Estado em
cujo território está localizada, de maneira a estender, aos observadores que recebe,
privilégios e imunidades.

[editar] Fontes
Denominam-se fontes do DI os modos pelos quais a norma jurídica se manifesta, isto é,
os fatos e atos que produzem uma norma jurídica internacional.

As fontes do Direito Internacional encontram-se nomeadas no art. 38 do Estatuto da


Corte Internacional de Justiça. São elas:

 Os tratados ou convenções internacionais;


 O costume;
 Os princípios gerais de direito, comuns às nações civilizadas;
 A jurisprudência;
 A doutrina e
 A equidade como instrumentos de interpretação e integração do DI.

Existem ainda duas outras fontes não nomeadas no art. 38º do ETIJ:

 Os atos unilaterais e
 as deliberações das organizações internacionais.

Não há ordem hierárquica entre as fontes de DI, ao contrário do que ocorre em diversos
direitos nacionais.[22]

[editar] Tratados
O Secretário Geral da URSS e o presidente dos EUA assinam o Tratado de Forças
Nucleares de Alcance Intermediário.
Ver artigo principal: Tratado

O tratado internacional é um acordo resultante da convergência das vontades de dois ou


mais sujeitos de DI, formalizada num texto escrito, com o objetivo de produzir efeitos
jurídicos no plano internacional.[23]

Em outras palavras, o tratado é um meio pelo qual sujeitos de direito internacional –


principalmente os Estados nacionais e as organizações internacionais – estipulam
direitos e obrigações entre si.

Os tratados assentam-se sobre princípios costumeiros bem consolidados e, desde o


século XX, em normas escritas, especialmente a Convenção de Viena sobre Direito dos
Tratados (CVDT), de 1969. Dentre estes princípios, destacam-se o princípio lógico-
jurídico pacta sunt servanda (em latim, "os acordos devem ser cumpridos") e o
princípio do cumprimento de boa fé,[24] ambos presentes no costume internacional e no
artigo 26 da CVDT.

Outra Convenção de Viena, de 1986, regula o direito dos tratados celebrados entre
Estados e organizações internacionais, e entre estas.

[editar] Costume

O costume jurídico é definido como a prática social reiterada e obrigatória. Trata-se, em


geral, de regras não escritas, introduzidas pelo uso continuado e com o consentimento
tácito de todas as pessoas que as admitiram como norma de conduta. O costume é,
evidentemente, considerado como obrigatório e sua violação acarreta uma
responsabilidade jurídica.

Os juristas enxergam dois elementos constitutivos do costume jurídico, a saber, o


material (a prática reiterada do comportamento costumeiro) e o subjetivo (a convicção
geral de que ele é necessário e obrigatório).

O DI foi, até meados do século XIX, em sua maior parte um direito costumeiro e não
escrito.[25] Os tratados eram episódicos e, sempre bilaterais, não criavam regras
universais de conduta, ao contrário do costume. A situação inverteu-se com a celebração
dos primeiros tratados multilaterais e hoje fala-se da codificação do DI, isto é, a
consolidação das normas costumeiras em textos convencionais (tratados).
No âmbito do DI, diferentemente dos tratados, o costume é obrigatório para todos os
sujeitos de DI e não apenas, como naquele caso, para as Partes Contratantes (embora o
DI contemple a possibilidade de costumes regionais). O costume é mais maleável do
que o tratado, pois se adapta mais facilmente à evolução das relações internacionais. Por
outro lado, é mais inseguro do que o acordo escrito, devido a suas constantes mudanças
e à dificuldade de prová-lo e de apontar a data de sua vigência. No DI, não há hierarquia
entre tratado e costume.[26]

O costume termina com a dessuetude (deixa de ser praticado), com um novo costume ou
com um tratado que o codifica ou revoga.

[editar] Princípios gerais de direito

O DI acata certos princípios reconhecidos pela generalidade dos Estados nacionais


como obrigatórios, desde os de fundamento lógico, como o nemo plus iuris, até os de
natureza estritamente internacional, como o da autodeterminação dos povos.

São considerados princípios gerais do direito, dentre outros:

 princípio da não-agressão;
 princípio da solução pacífica de controvérsias;
 princípio da autodeterminação dos povos;
 princípio da coexistência pacífica;
 princípio da continuidade do Estado;
 princípio da boa fé;
 princípio da obrigação de reparar o dano;
 pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos);
 lex posterior derogat priori (a lei posterior derroga a anterior);
 nemo plus iuris transferre potest quam ipse habet (ninguém pode transferir mais
do que possui).

[editar] Atos unilaterais

Para o propósito de estudo das fontes do DI, os juristas costumam distinguir entre o ato
unilateral que seja mero ato jurídico (protesto, renúncia, reconhecimento e outros) e o
ato unilateral de natureza normativa, por apresentar as características de abstração e
generalidade.[27] Estes últimos seriam, no entender da maioria dos estudiosos, fontes de
DI, pois podem ser invocados por outros sujeitos de DI em apoio a uma reivindicação.
A história dá como exemplos de atos unilaterais tomados por Estados a determinação da
extensão do mar territorial e a abertura de águas interiores à navegação estrangeira
(como foi o caso da abertura da navegação no Amazonas, pelo governo imperial
brasileiro, às bandeiras estrangeiras, em 1866).

[editar] Decisões das organizações internacionais

Em geral, as decisões mais importantes no seio de uma organização internacional


(qualquer que seja o nome que se lhe dê: resolução, declaração etc.) somente obrigam a
totalidade dos Estados-membros quando tomadas por unanimidade; quando
majoritárias, obrigam apenas os que com ela consentiram,[28] a não ser que os estatutos
da organização as estendam a todos os membros (o consentimento foi dado, portanto,
quando da aprovação do ato constitutivo).

[editar] Domínio público internacional

A liberdade de pesquisa científica é um dos pontos do tratado da Antártica.


Ver artigo principal: Domínio público internacional

O domínio público internacional costuma ser definido como o conjunto dos espaços
cujo uso interessa a mais de um Estado e, por vezes, à sociedade internacional como um
todo, mesmo que, em certos casos, tais espaços estejam sujeitos à soberania de um
Estado.[29] São pois domínio público internacional, disciplinados pelo DI, dentre outros,
o mar (e suas subdivisões legais), os rios internacionais, o espaço aéreo, o espaço sideral
e o continente antártico. Recentemente, surgiram argumentos a favor e contra
considerar-se a internet como domínio público internacional.[30][31]

É comum que os grandes temas de domínio público internacional sejam regulados por
convenções multilaterais, como o Tratado da Antártica e a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar.

Referências
1. ↑ Mello, vol. 1, p. 44.
2. ↑ Accioly, v. 1, ponto 4.
3. ↑ Mello, vol. 1, p. 45.
4. ↑ Mello, vol. 1, p. 45.
5. ↑ O trecho refere-se na verdade a "international jurisprudence": "In the first case
[o objeto do direito são os membros de um mesmo Estado], the law may be
referred to the head of internal, in the second case [entre membros de Estados
diferentes], to that of international jurisprudence"; Bentham, em seguida,
esclarece que o adjetivo se aplica às transações mútuas entre soberanos.
Bentham, p. 296.
6. ↑ Mello, vol. 1, p. 46.
7. ↑ Mello, vol. 1, p. 46.
8. ↑ Accioly, v. 1, ponto 9.
9. ↑ Accioly, v. 1, ponto 13.
10. ↑ Brownlie, p. 57.
11. ↑ a b Brownlie, p. 58.
12. ↑ Brownlie, pp. 58-64.
13. ↑ Brownlie, p. 65.
14. ↑ Mello, vol. 1, p. 291.
15. ↑ Rezek, p. 217.
16. ↑ Rezek, pp. 217-218.
17. ↑ Mello, vol. 1, p. 293.
18. ↑ Mello, vol. 1, pp. 294-295.
19. ↑ Mello, vol. 1, p. 297.
20. ↑ Mello, vol. 1, p. 299.
21. ↑ Mello, vol. 1, p. 300.
22. ↑ Como o brasileiro - art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil.
23. ↑ Rezek, pontos 7 e 9.
24. ↑ Rezek, ponto 6.
25. ↑ Rezek, ponto 63.
26. ↑ Rezek, ponto 62.
27. ↑ Rezek, pontos 70 e 71.
28. ↑ Rezek, ponto 73.
29. ↑ Rezek, ponto 192.
30. ↑ Tom Gjelten (8 de abril de 2010). Countries Try To Tame The Wild Territory
Of The Net. Página visitada em 6 de agosto de 2010.
31. ↑ Scott J. Shackelford. From Nuclear War To Net War: Analogizing Cyber
Attacks In International Law. Página visitada em 6 de agosto de 2010.

[editar] Bibliografia
 Accioly, Hildebrando. "Tratado de Direito Internacional Público". São Paulo:
Quartier Latin, 2009, 3 v.
 Acquaviva, Marcus Cláudio. "Dicionário Enciclopédico de Direito", Brasiliense,
5 v.
 Bentham, Jeremy. "An Introduction to the Principles of Morals and Legislation",
Oxford University Press.
 Brownlie, Ian. "Principles of Public International Law", Oxford, 6a. edição,
2003.
 Mello, Celso D. de Albuquerque. "Direito Internacional Público", Biblioteca
Jurídica Freitas Bastos, 8a edição, 1986, 2 v.
 Morris, Clarence. "Os Grandes Filósofos do Direito", Martins Fontes, 2002
(Hugo Grócio).
 Rezek, J.F. "Direito Internacional Público - Curso Elementar", Ed. Saraiva, 8a
edição, 2000.
 Silva, G.E. do Nascimento; Accioly, Hildebrando. "Manual de Direito
Internacional Público", Ed. Saraiva, 15a edição, 2002.

[editar] Ver também


 Diplomacia
 Organização das Nações Unidas
 Organização dos Estados Americanos
 Direito internacional dos direitos humanos

[editar] Ligações externas


 Centro de Direito Internacional. Legislação Internacional. (em português)
Alguns dos principais tratados e convenções internacionais divididos por temas.

[editar] Referências

Você também pode gostar