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Direito Internacional
Direito Internacional
Direito Internacional (DI) é o conjunto de normas que regula as relações externas dos
atores que compõem a sociedade internacional.[1] Estes atores, chamados sujeitos de
direito internacional, são, principalmente, os Estados nacionais, embora a prática e a
doutrina reconheçam também outros atores, como as organizações internacionais.
Índice
[esconder]
1 Terminologia
2 História
o 2.1 Antiguidade
o 2.2 Idade Média
o 2.3 Idade Moderna
o 2.4 Idade Contemporânea
3 Natureza da norma jurídica internacional
4 Fundamento
5 Relação entre o DI e o direito interno
o 5.1 Dualismo
o 5.2 Monismo com supremacia do DI
o 5.3 Monismo com supremacia do direito interno
6 Personalidade jurídica internacional
o 6.1 Estados
o 6.2 Reconhecimento de Estado e de governo
o 6.3 Organizações internacionais
7 Fontes
o 7.1 Tratados
o 7.2 Costume
o 7.3 Princípios gerais de direito
o 7.4 Atos unilaterais
o 7.5 Decisões das organizações internacionais
8 Domínio público internacional
9 Referências
10 Bibliografia
11 Ver também
12 Ligações externas
13 Referências
[editar] Terminologia
Ao longo da história, empregaram-se diversas denominações para designar o ramo do
direito que regula o relacionamento entre os Estados. Os romanos utilizavam a
expressão ius gentium (latim para "direito das gentes" ou "direito dos povos"), retomada
por Isidoro de Sevilha e Samuel Pufendorf. Francisco de Vitória preferia o termo ius
inter gentes (latim para "direito entre as gentes" ou "entre os povos").[3]
Foi Jeremy Bentham quem cunhou a expressão international law,[4] em sua obra "An
Introduction to the Principles of Morals and Legislation".[5] Ao verter o livro para o
francês, Étienne Dumont traduziu a expressão como droit international, e esta foi
adotada nos diversos idiomas – por exemplo, "direito internacional", em português. A
rigor, em francês e em português, o termo "internacional" não é exato, pois não se trata
de regular o relacionamento entre nações, mas sim entre Estados.[6]
[editar] História
Embora boa parte dos juristas reconheça a existência de um direito internacional apenas
a partir da Paz de Vestfália (1648), marco histórico do Estado-nação moderno, é
inegável que os povos da Antiguidade mantinham relações exteriores: comerciavam
entre si, enviavam embaixadores, vinculavam-se por meio de tratados e outras formas
de obrigação, e assim por diante.
[editar] Antiguidade
O Tratado de Kadesh, um dos primeiros exemplos registrados de um tratado
internacional. Exemplar do Museu de Arqueologia de Istambul, Turquia.
A maioria dos juristas entende que a Roma Antiga, ao longo de quase toda a sua
história, não se considerava sujeita a um direito internacional distinto do seu direito
interno, o que se explica pelo predomínio da chamada Pax romana. O ius gentium, que
alguns apontam como indício de um direito internacional romano, era, na essência, um
direito romano aplicado a estrangeiros por um magistrado romano, o pretor peregrino.
A primeira Missão diplomática de caráter permanente foi estabelecida por Milão junto
ao governo de Florença, no final da Idade Média.
Juntamente com Francisco de Vitória, Hugo Grócio foi um dos principais teóricos do DI
no período, baseando-se na teoria do direito natural. Sua principal obra jurídica, De
Jure Belli ac Pacis ("do direito da guerra e da paz"), em muito contribuiu para o
desenvolvimento da noção de Guerra Justa.
O Palácio das Nações, erguido entre 1929-1938, foi a sede da Sociedade das Nações.
Na Idade Contemporânea, inaugurada com a Revolução Francesa, é reforçado o
conceito de nacionalidade, que viria posteriormente a orientar as unificações italiana e
alemã no século XIX. O Congresso de Viena (1815), que encerrou a era napoleônica,
resultou em grande impulso para o DI, na medida em que apontou na direção da
internacionalização dos grandes rios europeus (Reno, Mosa etc.), declarou a
neutralidade perpétua da Suíça e pela primeira vez adotou uma classificação para os
agentes diplomáticos.
O mesmo não acontece no DI. Neste, os Estados são juridicamente iguais (princípio da
igualdade jurídica dos Estados) e, portanto, não existe uma entidade central e superior
ao conjunto de Estados, com a prerrogativa de impor o cumprimento da ordem jurídica
internacional e de aplicar uma sanção por sua violação.[8] Os sujeitos de direito (os
Estados), aqui, diferentemente do caso do direito interno, produzem, eles mesmos,
diretamente, a norma jurídica que lhes será aplicada (por exemplo, quando um Estado
celebra um tratado), o que constitui uma relação de coordenação. O DI é, portanto, sui
generis, peculiar, entre os ramos do direito.
[editar] Fundamento
Diversas correntes doutrinárias procuram explicar o fundamento do DI, isto é, a origem
da sua obrigatoriedade. A mais consagrada é a doutrina que o identifica no
consentimento, tradicionalmente expresso no princípio pacta sunt servanda ("os
acordos devem ser cumpridos", em latim): um Estado é obrigado no plano internacional
apenas se tiver consentido em vincular-se juridicamente. Isto é válido até mesmo para o
princípio majoritário, que não é automaticamente aplicável ao DI - no âmbito de uma
organização internacional, por exemplo, os Estados estão obrigados a aceitar uma
decisão que lhes for contrária, tomada por maioria, apenas se tiverem acatado
previamente esta forma decisória.
[editar] Dualismo
Segundo a doutrina dualista, para que uma norma internacional seja aplicada na ordem
interna de um Estado, este deve primeiramente transformá-la em norma de direito
interno, incorporando-a ao seu ordenamento jurídico doméstico. Esta doutrina costuma
ser chamada de teoria da incorporação.
Segundo esta teoria, não existiria a possibilidade de conflito entre as duas ordens
jurídicas, por serem completamente independentes. Formularam-na Triepel, Anzilotti,
dentre outros.
A doutrina do monismo com supremacia do DI, formulada por Hans Kelsen, Alfred
Verdross, Léon Duguit e outros, não acata a existência de duas ordens jurídicas
independentes, afirmando haver apenas um único ordenamento jurídico, no qual o DI é
considerado superior ao direito interno. Baseando-se na pirâmide normativa kelseniana,
os proponentes entendem que a norma fundamental (no vértice da pirâmide) seria uma
regra de DI, pacta sunt servanda, da qual derivariam sua validade as demais. Segundo
os seus defensores, não seria possível o conflito entre o DI e o direito interno, pois
prevaleceria a norma hierarquicamente superior (no caso, o DI).
Com raízes no hegelianismo, esta teoria entende que o Estado é dotado de soberania
absoluta e que, portanto, somente se sujeita a um sistema jurídico que emane de si
próprio. O DI derivaria sua obrigatoriedade do direito interno, e o fundamento daquele
seria apenas a autolimitação do Estado. Tal como no caso anterior, esta teoria enxerga a
existência de uma única ordem jurídica, mas identifica-a com a interna - o DI seria
simplesmente a continuação do direito interno, aplicado às relações exteriores do
Estado. Esposaram esta doutrina Georg Jellinek, Georges Burdeau e os juristas
soviéticos.
Os Estados soberanos são os principais sujeitos de DI, tanto do ponto de vista histórico
quanto do funcional, já que é por sua iniciativa que surgem outros sujeitos de DI, como
as organizações internacionais.
população;
território; e
governo.
Ademais dos elementos constitutivos mencionados acima, o Estado, para ser pessoa
internacional, deve possuir soberania, isto é, o direito exclusivo de exercer a autoridade
política suprema sobre o seu território e a sua população. Ver o capítulo Natureza da
norma jurídica internacional.
Mapa-múndi com a indicação (em verde) dos Estados que reconhecem o Kosovo, o qual
se declarou independente em 17 de fevereiro de 2008.
[editar] Fontes
Denominam-se fontes do DI os modos pelos quais a norma jurídica se manifesta, isto é,
os fatos e atos que produzem uma norma jurídica internacional.
Existem ainda duas outras fontes não nomeadas no art. 38º do ETIJ:
Os atos unilaterais e
as deliberações das organizações internacionais.
Não há ordem hierárquica entre as fontes de DI, ao contrário do que ocorre em diversos
direitos nacionais.[22]
[editar] Tratados
O Secretário Geral da URSS e o presidente dos EUA assinam o Tratado de Forças
Nucleares de Alcance Intermediário.
Ver artigo principal: Tratado
Outra Convenção de Viena, de 1986, regula o direito dos tratados celebrados entre
Estados e organizações internacionais, e entre estas.
[editar] Costume
O DI foi, até meados do século XIX, em sua maior parte um direito costumeiro e não
escrito.[25] Os tratados eram episódicos e, sempre bilaterais, não criavam regras
universais de conduta, ao contrário do costume. A situação inverteu-se com a celebração
dos primeiros tratados multilaterais e hoje fala-se da codificação do DI, isto é, a
consolidação das normas costumeiras em textos convencionais (tratados).
No âmbito do DI, diferentemente dos tratados, o costume é obrigatório para todos os
sujeitos de DI e não apenas, como naquele caso, para as Partes Contratantes (embora o
DI contemple a possibilidade de costumes regionais). O costume é mais maleável do
que o tratado, pois se adapta mais facilmente à evolução das relações internacionais. Por
outro lado, é mais inseguro do que o acordo escrito, devido a suas constantes mudanças
e à dificuldade de prová-lo e de apontar a data de sua vigência. No DI, não há hierarquia
entre tratado e costume.[26]
O costume termina com a dessuetude (deixa de ser praticado), com um novo costume ou
com um tratado que o codifica ou revoga.
princípio da não-agressão;
princípio da solução pacífica de controvérsias;
princípio da autodeterminação dos povos;
princípio da coexistência pacífica;
princípio da continuidade do Estado;
princípio da boa fé;
princípio da obrigação de reparar o dano;
pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos);
lex posterior derogat priori (a lei posterior derroga a anterior);
nemo plus iuris transferre potest quam ipse habet (ninguém pode transferir mais
do que possui).
Para o propósito de estudo das fontes do DI, os juristas costumam distinguir entre o ato
unilateral que seja mero ato jurídico (protesto, renúncia, reconhecimento e outros) e o
ato unilateral de natureza normativa, por apresentar as características de abstração e
generalidade.[27] Estes últimos seriam, no entender da maioria dos estudiosos, fontes de
DI, pois podem ser invocados por outros sujeitos de DI em apoio a uma reivindicação.
A história dá como exemplos de atos unilaterais tomados por Estados a determinação da
extensão do mar territorial e a abertura de águas interiores à navegação estrangeira
(como foi o caso da abertura da navegação no Amazonas, pelo governo imperial
brasileiro, às bandeiras estrangeiras, em 1866).
O domínio público internacional costuma ser definido como o conjunto dos espaços
cujo uso interessa a mais de um Estado e, por vezes, à sociedade internacional como um
todo, mesmo que, em certos casos, tais espaços estejam sujeitos à soberania de um
Estado.[29] São pois domínio público internacional, disciplinados pelo DI, dentre outros,
o mar (e suas subdivisões legais), os rios internacionais, o espaço aéreo, o espaço sideral
e o continente antártico. Recentemente, surgiram argumentos a favor e contra
considerar-se a internet como domínio público internacional.[30][31]
É comum que os grandes temas de domínio público internacional sejam regulados por
convenções multilaterais, como o Tratado da Antártica e a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar.
Referências
1. ↑ Mello, vol. 1, p. 44.
2. ↑ Accioly, v. 1, ponto 4.
3. ↑ Mello, vol. 1, p. 45.
4. ↑ Mello, vol. 1, p. 45.
5. ↑ O trecho refere-se na verdade a "international jurisprudence": "In the first case
[o objeto do direito são os membros de um mesmo Estado], the law may be
referred to the head of internal, in the second case [entre membros de Estados
diferentes], to that of international jurisprudence"; Bentham, em seguida,
esclarece que o adjetivo se aplica às transações mútuas entre soberanos.
Bentham, p. 296.
6. ↑ Mello, vol. 1, p. 46.
7. ↑ Mello, vol. 1, p. 46.
8. ↑ Accioly, v. 1, ponto 9.
9. ↑ Accioly, v. 1, ponto 13.
10. ↑ Brownlie, p. 57.
11. ↑ a b Brownlie, p. 58.
12. ↑ Brownlie, pp. 58-64.
13. ↑ Brownlie, p. 65.
14. ↑ Mello, vol. 1, p. 291.
15. ↑ Rezek, p. 217.
16. ↑ Rezek, pp. 217-218.
17. ↑ Mello, vol. 1, p. 293.
18. ↑ Mello, vol. 1, pp. 294-295.
19. ↑ Mello, vol. 1, p. 297.
20. ↑ Mello, vol. 1, p. 299.
21. ↑ Mello, vol. 1, p. 300.
22. ↑ Como o brasileiro - art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil.
23. ↑ Rezek, pontos 7 e 9.
24. ↑ Rezek, ponto 6.
25. ↑ Rezek, ponto 63.
26. ↑ Rezek, ponto 62.
27. ↑ Rezek, pontos 70 e 71.
28. ↑ Rezek, ponto 73.
29. ↑ Rezek, ponto 192.
30. ↑ Tom Gjelten (8 de abril de 2010). Countries Try To Tame The Wild Territory
Of The Net. Página visitada em 6 de agosto de 2010.
31. ↑ Scott J. Shackelford. From Nuclear War To Net War: Analogizing Cyber
Attacks In International Law. Página visitada em 6 de agosto de 2010.
[editar] Bibliografia
Accioly, Hildebrando. "Tratado de Direito Internacional Público". São Paulo:
Quartier Latin, 2009, 3 v.
Acquaviva, Marcus Cláudio. "Dicionário Enciclopédico de Direito", Brasiliense,
5 v.
Bentham, Jeremy. "An Introduction to the Principles of Morals and Legislation",
Oxford University Press.
Brownlie, Ian. "Principles of Public International Law", Oxford, 6a. edição,
2003.
Mello, Celso D. de Albuquerque. "Direito Internacional Público", Biblioteca
Jurídica Freitas Bastos, 8a edição, 1986, 2 v.
Morris, Clarence. "Os Grandes Filósofos do Direito", Martins Fontes, 2002
(Hugo Grócio).
Rezek, J.F. "Direito Internacional Público - Curso Elementar", Ed. Saraiva, 8a
edição, 2000.
Silva, G.E. do Nascimento; Accioly, Hildebrando. "Manual de Direito
Internacional Público", Ed. Saraiva, 15a edição, 2002.
[editar] Referências