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GESTÃO de Talentos em Foco

Quem tem, tem. Quem não tem, cria!

Guilherme Baldacci, sócio-diretor da GS&MD – Gouvêa de Souza

Ter uma economia estável, atravessar crises mundiais sem grandes


turbulências e manter ritmo acelerado de crescimento é tranquilizador, mas
apresenta seus riscos e desafios. Temos escutado há algum tempo notícias
prevendo um apagão de talentos no mercado brasileiro. Está aí uma grande
ameaça à sustentação desse momento positivo econômico.

Muitos podem pensar que esse tipo de desafio é exclusividade de países


emergentes, sem foco e investimento em qualificação profissional. Engano! Em
recente viagem ao Canadá, tive a oportunidade de conhecer situação parecida,
porém presente em um país com alta taxa de escolaridade e qualificação de
sua população. Nesse caso, a ameaça é provocada por baixas taxas de
crescimento populacional (5,4% entre 2001 e 2006). Com a população
envelhecendo rápido e desafiando o alto grau de crescimento estável da
economia e dos benefícios sociais oferecidos à população, é preciso aumentar
a “produção de gente produtiva”.

Para vencer o desafio, o país do hemisfério norte amplia suas fronteiras e vai
buscar gente nos quatro cantos do mundo. O último senso de 2006 demonstrou
que quase 20% da população canadense, de 31.241.030 pessoas, já é
formada por imigrantes (brasileiros são em torno de 100 mil). Capazes de
reverter o cenário dos indicadores populacionais de forma inorgânica ao
imigrar, esses migrantes são, na maioria das vezes, participantes de
programas de imigração qualificada. Baterias de testes garantem que os
candidatos mereçam uma oportunidade de viver no país que oferece um dos
mais altos graus de desenvolvimento social e qualidade de vida.
Como se não bastasse trazer gente com capacidade produtiva imediata, o
governo canadense financia instituições de qualificação do pessoal e garante
estágio para que ganhem experiência de trabalho na Terra Nova, além de
oferecer orientações sobre prospecção de mercado de trabalho para agilizar a
conquista de um emprego formal e “ideal”.

As empresas canadenses também fazem sua parte. Desenvolvem completos


programas de integração e oferecem intensos programas de desenvolvimento
de carreira para disputar os profissionais que chegam ao país já com
“qualificação mínima”, que garante a entrada legal e visto de residente
permanente.

Enquanto vemos nossos colegas de estabilidade com falta de gente,


encontramos uma situação antagônica em nosso país tropical. Gente tem!
Falta é qualificação. Falta é gente boa. Gente preparada para crescer junto
com as empresas!

Se não podemos contar com os programas governamentais brasileiros de


qualificação de mão de obra, podemos e devemos mirar no exemplo das
empresas privadas canadenses. Talvez essa seja a saída para garantir maior e
melhor aproveitamento de nossa base de mão de obra pouco qualificada e de
baixa escolaridade. Talvez consigamos até competir com o Canadá e reter
nossos qualificados profissionais. Afinal, se todos desejam ter sucesso, deve
ser melhor alcançar esse objetivo num país tropical e abençoado por Deus, em
vez de conseguir o êxito congelando em temperaturas abaixo de vinte graus
negativos.

O varejo brasileiro apresenta um desafio adicional. A tradicional cultura de


informalidade e amadorismos torna a atratividade das empresas desse setor
ainda menor. O cargo de vendedor de loja parece ser uma posição temporária
para quem está aguardando um concurso público ou a aceleração do setor
industrial para conquistar uma oportunidade em outros segmentos da
economia, que aparentemente sempre apresentaram maior chance de sucesso
profissional e financeiro. Falácia!

O varejo sempre ofereceu oportunidade para quem decidiu fazer carreira ali.
Assim como outros setores, também sempre pôde prover crescimento e
estabilidade para os profissionais criarem suas famílias e alcançarem dignidade
como profissionais e cidadãos. Por que a fama de emprego desqualificado? A
resposta pode estar na tradicional falta de “autorresponsabilização” que as
empresas desse segmento tiveram com a qualificação de seu pessoal. O setor
industrial brasileiro sempre teve maior reconhecimento pela capacitação e
desenvolvimento de seus colaboradores. Talvez a cultura das matrizes
internacionais, igual ao exemplo canadense, tenha promovido mais visibilidade
e consequente atratividade para aqueles que buscam um trabalho promissor.

Para concluir, vamos ao que interessa:

* O mercado de mão de obra brasileiro apresenta baixa qualificação de sua


oferta;
* O Brasil cresce aceleradamente e teremos um apagão de talentos;
* O varejo brasileiro tem desafios maiores de atratividade do que outros
setores;
* A disputa pelos talentos se tornou internacional (agora disputamos os
qualificados com países importadores e de alta atratividade de gente boa e
trabalhadora);
* Programas de formação e desenvolvimento de talentos estruturados atraem
candidatos a sucesso.

O que você está fazendo hoje? Se já tem talentos, sinta-se intimado a


desenvolvê-los e retê-los. Se não tem talentos, sinta-se ameaçado e trate de
criá-los! Lembre-se: Quem tem, tem. Quem não tem, cria!

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