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Sugestões para o planejamento

do Estudo Dirigido

DANIEL VALLE RIBEIRO *

A experiência docente, estratificada em nove anos de ati-


vidade no Colégio Nova Friburgo, da Fundação Getúlio
Vargas, animou-nos a ensaiar, no Colégio Militar de Belo
Horizonte, o Estudo Dirigido.
Contando com a decisiva e esclarecida anuência do chefe
da cadeira de História do referido estabelecimento, major
Expedito Orsi Pimenta, e tendo em vista o plano de en-
sino recomendado pela Diretoria Geral de Ensino do Exér-
cito - Plano Morrison - , que preceitua, fundamental-
mente, a transformação do "aluno em estudante", julgamos
azada a oportunidade para efetivar a idéia.
Visando à consecução dos objetivos colimados, elaboramos
um plano de trabalho todo êle calcado na atividade dis-
cente, limitando a exposição da matéria às aulas de Apre-
ser.tação das Unidades Didáticas. As subunidades, logo
se vê, foram submetidas ao trato exclusivo do Estudo Di-
rigido. Não nos arrependemos. E, mais do que isso, po-
demos assegurar, com tranqüilidade e satisfação, que a ex-
periência (levada a efeito em cinco turmas da primeira
série ginasial) revelou resultado compensador.
Igualmente interessadoR no aprimoramento da técnica, que
aqui debatemos, colegas nossos (de História e de outras
disciplinas) experimentaram sucesso semelhante.
Por convicção pessoal, fruto de vários anos de observação
e de vivência do problema, alinhamos no grupo que mais
DANIEL VALLE RIBEIRO - Professor do Colégio Militar de Belo Horizonte e
ex-prof-es~or do C.N.F.
PLANEJAMENTO DO ESTUDO DIRIGIDO 43

entusiàsticamente se vem batendo pela sistematização do


Estudo Dirigido nas primeiras séries da nossa Escola Se-
cundária, desde que; evidentemente, se possa contar com
condições adequadas.
Aos que, por uma razão ou por outra, desacreditam de sua
eficiência prática, vale lembrar que duas causas explicam,
via de regra, <> insucesso ocasional do Estudo Dirigido:
sua má elaboração e sua aplicação em ambiente desfavo-
rável. Muitas vêzes, um simples exercício, dado às pres-
sas em aula, passa por Estudo Dirigido.
Ordinàriamente, não há como negar, os professôres de
História ainda acreditam na excelência da aula expositiva
subordinando-se com entusiasmo ao tradicional verbalis-
mo. Discursar, eis a preocupação básica. Ora, a adoção
do Estudo Dirigido, como norma de conduta docente, im-
plica, necessàriamente, idéia de que o verdadeiro ensino
repousa na atividade do aluno, sob a orientação atenta do
professor. Superado o receio muito comum de que "se
não explicarmos a matéria a classe não aprenderá", ou, re-
petindo expressão corrente, - "se o Professor não falar
:qão haverá aula", teremos vencido o primeiro grande
obstáculo.
Justo é reconhecer, contudo, a humana dificuldade em re-
nunciar ao procedimento clássico. Por outro lado, releva
notar, quase nunca os estabelecimentos escolares favore-
cem a prática das recentes conquistas da psicopedagogia.
Outro aspecto a merecer reparo, prende-se à asserção ma-
liciosa e impertinente, que apresenta o Estudo Dirigido
como escudo à eventual vadiagem docente. A inconsis-
tência da afirmação ressalta à primeira vista e esbarra no
simples argumento de que o Estudo Dirigido reclama pla-
nejamento mais hábil e complexo do que a atividade co-
mum . Outrossim, sua aplicação demanda atenção per-
manente e devotamento ilimitado do professor.
A título de sugestão, à vista do que vimos comentando,
examinemos algumas recomendações, que reputamos in-
dispensáveis ao bom planejamento e à aplicação do Es-
tudo Dirigido:
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1 - determinar instruções claras e objetivas, ten-


do em mente que o Estudo Dirigido visa à
conquista de automatismos (hábitos e habi-
lidades específicas), estabelecidos já no Plano
de Curso. Indispensável, pois, que a ativi-
dade discente realize êsses objetivos;
2 - elaborar o Estudo Dirigido de acôrdo com o
tempo disponível: tôda a aula ou parte dela
apenas. É de bom alvitre que os alunos com-
pletem a tarefa no prazo estipulado;
3 - mimeografar as fôlhas do E. D., preferivel-
mente. Não sendo possível, escrever no
Quadro-Negro o estudo planejado. Instru-
ções verbais, apenas, resultam inúteis;
'4 - dedicar os primeiros minutos da atividade
docente à indispensável motivação da classe t
predispondo, assim, os alunos ao trabalho
escolar;
5 - atender aos alunos, individualmente, quando
solicitado, orientando-os nas consultas às
fontes, mas sem se antecipar com a solução
das questões propostas na tarefa;
6 - observar, atentamente, as diferenças indi-
viduais, estimulando os alunos mais fracos e
orientando os mais bem dotados;
7 - verificar se tôda a classe trabalha, efetiva-
mente. Se algum aluno, porventura, ante-
cipar-se na conclusão da tarefa, levá-lo a
uma revisão, suplementando-a, quando neces-
sário;
8 - exigir que os trabalhos rascunhados sejam
passados a limpo no Caderno Nobre (*), que

* os aluno3 devem organizar um caderno especial - o Caderno Nobre - ,


onde serão registrados os assuntos essenciais com ordem, limpeza e correção.
O C. N. será também ilustrado cem desenhos, gráficos, etc., alusivos aos
assuntos.
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se constituirá em nova e excelente fonte de


estudo. Como estímulo, registrar no caderno
de cada aluno suas observações pessoais, elo-
giando os mais eficientes, ou criticando com
serena energia os retardatários;
9 - variar o tipo de tarefa, buscando a conquista
de novos automatismos e favorecendo a cria-
ção de novos motivos;
10 - inculcar nos alunos atitudes e hábitos mais
favoráveis ao estudo, tais. como: posição cor-
reta, aproveitamento inteligente das fontes
de consulta, emprêgo eficiente do tempo,
persistência diante. das dificuldades, atenção
ao trabalho, etc.

Para melhor ilustrar nossas razões, julgamos conveniente


acrescentar, à guisa de exemplo, um modêlo de que nos
valemos numa de nossas sessões de. Estudo Dirigido, no
Colégio Militar de Belo Horizonte.
História do Brasil - La Série Ginasial
Unidade IV - A Expansão Geográfica do Brasil Colonial
Estudo Dirigido - 2.a subunidade: Entradas e Bandeiras.

Instruções:
1. Abra o livro à pág. 63. Estude tôda a subuni-
dade. Leia com atenção e anote as palavras de
significação desconhecida. Procure no dicioná-
rio o sinônimo aplicável ao texto. Trabalhe com
eficiência e em silêncio. Você tem dez minutos
para isso.
2. Releia o assunto, agora mais devagar, item por
item. Essa segunda leitura eliminará as dúvidas
que, porventura, ainda existam. Só chame o
professor (com um sinal) após haver tentado
resolver, sozinho, a dificuldade. Medite no que
leu.
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3. Consulte em seguida o mapa físico-político do


Brasil, no seu Atlas Histórico. Observe bem o
roteiro da nossa expansão geográfica. Não per-
turbe o trabalho do colega. Quando julgar que
aprendeu bem o assunto, passe à tarefa.

Tarefa:
1. Esquematize o quadro geral das Entradas e
Bandeiras: características, ciclos e vultos prin-
cipais. Não recorra mais ao seu livro ou às ano-
tações da Apresentação da Unidade. Trabalhe
sem consultar.
2. Desenhe agora o mapa do Brasil e trace o me-
ridiano de Tordesilhas. Assinale (em côres di-
ferentes) a área que coube a Portugal pelo
Trat. de Tordesilhas e a parte conquistada, pos-
teriormente, com a expansão geográfica.
3. Responda às seguintes perguntas:
3.1 Por que os espanhóis não reclamaram
quando os bandeirantes ultrapassaram a li-
nha de Tordesilhas?
R.

3.2 - Na margem de que rio ficava o bande,irismo


de Taubaté?
R.
3 .3 - Que serra transpuseram os bandeirantes de
Taubaté para atingirem, diretamente, a re-
gião das minas?
R.
3 .4 - As entradas que subiram o curso do rio Pa-
raguaçu atingiram a Chapada Diamantina,
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local onde nascem afluentes de um grande


rio. Que rio é êsse?
R.
4. Corrija seu trabalho com o auxílio do livro e do
Atlas. Ilustre seu Caderno Nobre.

Como se pode verificar, buscou-se estimular a aqwslçao


de atitudes e de hábitos favoráveis ao estudo, conduzindo
os alunos: à técnica da boa leitura, à consulta ao dicio-
nário, ao uso do mapa, à apreciação da influência do fator
geográfico no fato histórico, à concentração mental e
à reflexão. Haverá melhor forma de fixação da apren-
dizagem?

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