Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Aqui chove. Chove como um convite para você...” Assim começava sua sétima
carta. Não tinha tido resposta de nenhuma das outras seis, mas desistir era uma idéia que
nem sequer passava por sua cabeça. Ele sabia que falaria – tinha que falar – com aquela
mulher.
Era incrível como uma pessoa que tinha conhecido tão rapidamente mexesse com
ele daquele jeito. Era incrível como não conseguia parar de pensar nela...
Quarta-feira passada. Esperava por Daniel. Na verdade, não o esperava, pois sabia
que só chegaria ali duas horas mais tarde. Apenas tomava uma Cuba e tentava por a
cabeça no lugar.
Era a segunda. Mas não importava. Fazia semanas que não bebia e não iria tomar
um porre logo naquela noite. Se tomasse, também não faria diferença. Um casal
apaixonado, três amigos conversando animadamente sobre futebol ou a última festa que
foram, mais um casal, nada contente um com o outro. A vida além-balcão era
engraçada. Poderia estar no Barcelona, no Ibiza ou em qualquer outro lugar que seria a
mesma coisa. “Ou em toda Espanha”, pensou, rindo por haver quase um país inteiro de
bares na mesma rua.
- Vamos?
- Olha só, como é bonito! – mostrava o encontro, quase imperceptível do céu com
o mar – é como se elas sumissem ali. Ou então jorrassem, e se espalhassem pelo céu
inteiro.
- Talvez jorrem mesmo. Ou você acredita nessa besteira que dizem das estrelas
estarem sempre no mesmo lugar e o sol nos impedir de vê-las?
Ela sorriu. Nem tímida, nem espalhafatosamente. Apenas sorriu, feliz por uma
descoberta nova.
- Agora sim. Prefiro você assim, despreocupado.
- Mas você nem me conhece...
- Mas prefiro assim.
Estava atordoado com a segunda surpresa da noite.
- Ei, volte pra Terra. Quero ouvir mais segredos sobre as estrelas, não os
pensamentos de um mudo!
- Olha, eu...
- Olhe você.
Começou a chover. Novamente, o sorriso. Desta vez era uma risada alegre,
espalhada. A chuva nem era tão forte, algo mais que um chovisco, mas ela se divertia,
ria sem parar e levantava o rosto para chegar mais perto da chuva. Ele a observava sem
mexer um músculo. Até a respiração controlava temendo atrapalhar o espetáculo. O
júbilo durou menos que cinco minutos. Logo, a noite voltou a ser tão clara e estrelada
quanto antes.
Mal tinham se separado e Milena correu para um taxi que parava no sinal de
trânsito. Ele tentou, em vão, alcançá-la.