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LUANDA, 2018
APROVADO
O JÚRI DE AVALIAÇÃO
Presidente:
Prof. Dr. João Manuel Pedro
Primeiro Vogal:
Prof. Dra. Luzitisana Nabo
Segundo Vogal:
Prof. Dr. Nelson Albino
Dedicado à Sra. Maria de Fátima Cardoso e ao Sr. Fernando José Manuel Moniz.
I
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, de agradecer o Dr. Nelson Albino pela sua disponibilidade e por ter
aceite logo de primeira orientar esta monografia. Desde a primeira instância que exibiu o
seu profissionalismo e a sua paciência.
Em segundo lugar, é com um sentimento de dever que agradeço o Sr. Dr. Evaristo
Solano. A realização desta obra monográfica deve-se ao seu incondicional apoio. Apesar
dos compromissos de carácter profissional e pessoal, o seu empenho conheceu nenhum
limite em momento algum e por causa disto estarei eternamente grato por ter sido o seu
pupilo.
Em terceiro, endereço este agradecimento aos amigos e à família, em especial
atenção aos meus pais. Nenhuma frase me ocorre para expressar tamanha benção da
vossa presença na minha vida, no entanto, é com muita humildade que resta-me vos
agradecer por tudo, com ênfase no vosso caloroso apoio que resultou na investigação e
conclusão desta monografia. Por todo o vosso amor, muito obrigado.
Em quarto, especial agradecimento à Deus. Pela sabedoria e a coragem de enfrentar
os vários desafios que viriam naturalmente de um percurso exaustivo no mundo científico.
II
LISTA DE SIGLAS
III
EPÍGRAFE
“Os angolanos manifestam uma atitude de medo pelo fundamentalismo islâmico existente
em vários lugares do mundo. Os muçulmanos terroristas intimidam (...) e, por isso, o
sentimento de desconfiança nos mesmos é alta. Aduzem, então, uma opinião negativa.
IV
RESUMO
V
ABSTRACT
After the events of 9/11, National Security has been a constant matter addressed in
the agenda of many States around the world, especially against terrorism acts from
Islamic fundamentalists.
Muslims have managed to secure a global expansion of Islam. Its presence in Angola
has brought afloat certain stereotypes that inter-connect Islam to jihadist terrorism.
Because of this inter-connection, questions regarding the growth of this religion in Angola
and the possible compromise of its national security has been risen.
With this concern in mind, this thesis bounds to study what impact will the growth of
Islam have on the national security of the Republic of Angola and determine if this religion
poses a threat to the referred State.
VI
ÍNDICE
DEDICATÓRIA..................................................................................................................I
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................II
EPÍGRAFE ..................................................................................................................... IV
RESUMO ......................................................................................................................... V
ABSTRACT .................................................................................................................... VI
INTRODUÇÃO .................................................................................................................1
1.6 Metodologia......................................................................................................4
CONCLUSÕES ..............................................................................................................40
SUGESTÕES .................................................................................................................42
ANEXOS ........................................................................................................................51
INTRODUÇÃO
2
1) Conceptualização transparente e esmiuçada do Islão onde reunir-se-à múltiplos
estudos e conceitos apresentados por autores, instituições, especialistas e
conhecedores da matéria da religião muçulmana;
1.5 Hipóteses
Para respondermos esta pergunta de partida, levantamos três (3) hipóteses, que
passamos a enumerar:
H.1 - O Islão é por sua natureza uma religião que incita a violência, logo, a sua presença
é automaticamente um alto risco que possa comprometer o bem-estar e segurança da
população residente em Angola.
H.2 - O terrorismo islâmico poderá ser uma realidade, como uma das consequências da
presença de muçulmanos na República de Angola.
3
H.3 - Quanto aos riscos de segurança nacional, ao contrário do que se possa ouvir e/ou
ver sobre os aspectos negativos desta religião, tal como as outras monoteístas, o Islão é
uma religião promotora de paz, por tanto, de maneira nenhuma compromete a segurança
nacional da República de Angola.
4
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL TEÓRICO
Primeiramente, sobre Segurança, Alexandre Rodrigues diz que “(...) um País está
seguro quando não está sob o risco de sacrificar valores vitais, ou seja, ter segurança é
a ausência de ameaças aos valores essenciais que se quer garantir.” (2013: p. 03)
Este conceito tem uma característica intuitiva e à primeira vista não parece dizer
muito. No entanto, ao analisarmos o conceito apresentado por Rodrigues (2013), é
preciso ter em consideração que os valores vitais de um Estado são: o povo, a soberania
e o território, tal como concluiram Fabriz e Ferreira (S/D).
Apegando às duas idéias supracitadas, permite-se resumir que ter segurança se
traduz na ausência de ameaças ao povo, a soberania e ao território de um determinado
Estado.
Ainda sobre a garantia da segurança, considerando que vivemos numa era de “(...)
crescente interligação e interdependência entre Estados, organizações e indivíduos do
mundo inteiro, não só na esfera das relações económicas, mas também ao nível da
interacção social e política (...)” (Campos & Canavezes, 2007: p. 10), há um esforço
internacional para combater este mal que é vulgarmente conhecido como o terrorismo, a
fim de garantir a segurança internacional.
5
instabilidade interna, e na importância dos gastos com a defesa. Com o final da
guerra fria, novas ideias foram incorporadas na agenda de segurança, alargando
o seu âmbito (...). Estas novas valências integradas no conceito de segurança
internacional visam dar resposta aos novos desafios, como por exemplo a
intensificação do terrorismo internacional (...)”.
Sobre este último termo – terrorismo – de acordo com Colombo (2015), existe um
problema conceitual à nível do sistema internacional. Para esta autora, o ponto de partida
para conceituar este fenómeno é reconhecer que o terrorismo é “(...) uma forma de
violência cuja realização se objetiva no âmbito psicológico do indivíduo.” (2015: p. 44)
A forma crude deste conceito remete-nos à uma idéia de que o terrorismo é um
ataque à psique humana, no entanto, a discordância entre os autores começa ao
esclarecer quem são os actores envolvidos para além de outros factores a considerar.
Ora, como forma de ilustrar este paradigma, Colombo apresenta outros pontos de
vista na conceptualização do terrorismo.
6
Esta diversidade conceitual deve corroborar a teoria de Letícia Colombo (2015)
quando esta diz que existe uma dificuldade académica de chegar à um consenso. A falta
deste apenas exibe a complexidade teórica do termo.
Uma leitura da obra de Sousa (2005), o autor providencie-nos um conceito de
terrorismo muito interessante, no entanto, bastante explícito e completo. Na definição que
se segue, o autor apresenta vários pontos-chaves que podem ser utilizados para
identificar um acto de terrorismo, como por exemplo: a sua essência, o seu propósito, a
sua forma de aplicação, os elementos afectados por este acto e uma descrição de quem
geralmente faz o papel de terrorista.
Sousa define este fenómeno preocupante como sendo,
7
1.1.3 Conceito de Religião
8
1.2 Conceptualização do Islão
1) Shahadah;
2) Salat;
3) Siyam ou Saum;
4) Zakat;
5) Hajj;
9
O Shahadah é na visão desta autora o mais importante entre os outros pilares, pois,
centra-se puramente na adoração de Allah e que não há outro acto de tamanha
relevância comparativamente à este. Afinal, é de recordar que a essência desta religião
é a submissão aos ensinamentos de Deus. “A falta deste pilar implica na invalidez de
todos os demais atos de adoração, por este motivo tem caráter fundamental.”(HANINI,
2007: p. 75).
O Shahadah, é portanto, o Testemunho de Fé; o reconhecimento que Allah é a única
entidade celestial à quem se deve adorar; o testemunho e aceitação de que Allah é de
facto, o seu Deus e ainda, que Mohammed foi escolhido por Allah para servir como o Seu
último mensageiro e profeta da religião.
A seguir o Shahadah, temos a Salat. Em entrevista com um crente ávido que preferiu
que a sua identidade não fosse revelada (doravante tratado por Entrevistado X)
(comunicação pessoal, 13 de Maio de 2017), este definiu o Salat como sendo uma
sequência de orações obedecendo alguns rituais e algumas normas de forma rigorosa.
Para complementar, Hanini (2007) diz-nos que esta oração deve ser um momento de
reflexão e auto-purificação da alma e deve ser feito em três (3) momentos distintos:
1) Diariamente;
2) Ocasionalmente;
3) Voluntariamente;
As orações diárias devem ser feitas pelo menos cinco vezes durante as 24 horas do
dia. Caleb Mubarak (2014) menciona os horários que devem ser feitas estas mesmas
orações e afirma que devem ser feitas em direcção à Meca (por ser o local de nascimento
do profeta Mohammed) após o processo de ablução feito pelo próprio crente.
“Os horários das orações devem seguir o seguinte critério: antes do amanhecer, ao
meio-dia (não necessariamente às 12 horas), antes do entardecer, depois do entardecer
e à noite.” (Mubarak, 2014: p. 27).
10
Avançando, o terceiro pilar – Siyam ou Saum – corresponde ao período de purificação
do corpo e fortalecimento da alma e da fé por intermédio da abstenção de consumir
alimentos, bebidas e/ou bens materiais em geral, incluindo fumar ou relações sexuais se
for o caso. Em suma, é um periodo de jejúm obrigatório que se realiza no nono (9º) mês
do calendário islâmico durante trinta (30) dias. Este evento é conhecido como sendo o
Ramadão.
De adiantar que o calendário islâmico é muito diferente do calendário cristão que se
baseia nas 365 ou 366 rotações da Terra à volta do Sol para completar um (1) ano. Ao
invés, o calendário islâmico acompanha as fases da Lua, que de acordo com Trivedi
(2016), o calendário lunar conta igualmente com doze (12) meses, mas, cada mês
alternando entre 30 e 29 dias, ao contrário do solar que alterna entre 31 e 30 dias.
Significando que o ano islâmico tem sensivelmente 11 dias à menos em relação ao
calendário solar, daí que, enquanto a civilização gregoriana se encontra no ano 2017, os
muçulmanos estão no ano 1439.
Retomando, Hanini (2007: p. 82) informa-nos que o jejum é obrigatório somente
àqueles muçulmanos que já tivera atingido a puberdade e que esteja mental e fisicamente
equilibrado, mas, como toda regra, há excepções:
Os que padecem de alguma enfermidade, os que viajam mais de 84 quilómetros, a
mulher gestante ou em período de menstruação e o idoso fisicamente incapaz e
incuravelmente doente.
Com excepção ao último, todos os supracitados deverão compensar pelos dias que
ficaram impossibilitados de jejuar ou, se mesmo assim não conseguirem por alguma
razão fora do seu controle, devem ajudar o mais necessitado com uma refeição ou o valor
monetário equivalente, que de acordo com o Entrevistado X (comunicação pessoal, 13
de Maio de 2017), pode ser feito para qualquer pessoa independentemente de sua
crença, ou seja, o muçulmano pode ajudar qualquer indivíduo desde que este não tenha
condições de autosubsistência.
A autora continua e diz que o jejum não é feito com o objectivo de fazer o muçulmano
passar fome ou impôr-lhe dificuldades. Pelo contrário, ela justifica dizendo que
“O ato de ficarmos com fome e com sede não é, em si, adoração, mas um meio
para realizarmos a verdadeira adoração. A verdadeira adoração significa desistir
11
de violar a Lei de Deus, por temor e amor a Ele, buscando realizar atividades que
O agradem, e refreando-se quanto às que não O agradam, caso contrário, o jejum
não passará de uma inconveniência desnecessária ao nosso estômago.” (Hanini,
2007: p. 84)
Este ano de 2017, o Ramadão teve o seu início no dia 26 de Maio, aquando da
fase da Lua Crescente e terá o seu término no dia 26 de Junho do corrente ano. No final
deste sagrado período, para que o propósito de jejuar seja aceite, é necessário fazer
algum acto de caridade, o que nos leva ao quarto pilar denominado Zakat.
O quarto pilar da religião islâmica é em sua essência um acto de caridade que
consiste fundamentalmente numa ajuda social, cujo objectivo é de garantir a
sobrevivência da comunidade islâmica e ajudar os mais carenciados independentemente
de sua religião.
Desta feita, trata-se de um dever social em forma de imposto incutido aos
muçulmanos de acordo com suas condições financeiras, que deve ser pago uma vez por
ano. (Hanini, 2007)
Nas palavras de Mohammed El Fasi - editor do Comitê Científico Internacional da
UNESCO - a Zakat é
Por último, o quinto pilar é o Hajj. Traduzindo este termo literalmente do árabe,
significa “peregrinação”, referindo-se à uma missão sagrada de visitar pelo menos uma
vez na vida a cidade mais sagrada da religião – Meca, Arábia Saudita.
Apesar da sua obrigatoriedade, El Fasi (2014) diz que esta missão deve ser
apenas cumprida por aqueles já tenham atingido à puberdade, gozam de plenas
faculdades mentais e físicas e que tenham os meios financeiros legalmente adquiridos
para realizá-lo.
12
Na visão de Mubarak (2014: p. 31), “a data do Al Hajj coincide exatamente com
dois meses e dez dias depois do Ramadã (…). Al Hajj começa e termina na Ka’aba: (…)
um enorme edifício cúbico de granito com o nome Allah bordado em ouro.”
Apesar destes serem os Cinco (5) Pilares fundamentais do islão, há um debate
activo sobre a inclusão de um sexto pilar muito paradigmático e que procura moldar o
mundo tal como hoje a conhecemos. Tal sexto pilar é o que o mundo conhece hoje como
sendo o exercício do jihad.
O C.A.C.P admite esta inclusão, justificando que este pilar contribui
significativamente para a divulgação do Islão (2009). Esta opinião chega a ser válida
considerando que é com este “pilar” que o islão procura atingir uma reforma mundial que
consiste na criação de uma comunidade islâmica unificada (Ummah), sob governação da
Sharia.
Costa (2012: p.175) apud. Firestone (1999: p.16) diz que, o jihad na sua essência
significa “… esforço, superação, luta, estando conotada com um objetivo digno. (…) pode
expressar uma luta contra as inclinações maléficas (…) ou um esforço por amor ao Islão
e à comunidade islâmica”.
Ora, o conceito traz consigo uma multiplicidade de idéias uma vez que não tem
directrizes específicas sobre a sua forma de actuar, mas para esclarecer melhor, o
Entrevistado X (comunicação pessoal, 13 de Maio de 2017) diz que o jihad clássico é
nada menos do que uma obrigação de cada muçulmano em impôr os ideais da sua
religião sempre que o Alcorão prevê uma situação em que seja necessário a imposição
do jihad.
É importante salientar que esta “luta” ou “esforço” pela religião pode ser interna
(intrínseca ao muçulmano que busca uma vida virtuosa) ou externa (para garantir a
sobrevivência e expansão dos ideiais islâmicos).
Costa (2012) diz que o conceito de jihad tem sofrido mutações ao longo da história,
de acordo com as circunstâncias sócio-políticas do mundo. Actualmente, nota-se que o
jihad é vulgarmente radicalizado pelos ataques terroristas que assolam várias regiões do
mundo e vem ganhando assim um novo significado, e já prevendo isto, Dias (1940)
afirmou que o mesmo trata-se de um “extermínio implacável dos adversários”, já que será
invocada aos “infiéis” uma “guerra santa”.
13
Com a falta de clarificação nos objectivos deste pilar auxiliar, aliado aos objectivos
políticos dos extremistas, pensa-se que a religião islâmica está intimamente ligado à
imposição do terror em várias regiões do mundo. Pensamento este que deve ser
repudiado uma vez que a religião em si tem um cariz pacífico e que não são apenas os
islamistas radicais que aterrorizam o mundo para satisfações das suas ambições
políticas.
Nas palavras do Sheik Taleb Al-Khazraji (2004: p.09) “(…) o Islam estimula a
prática do bem e o afastamento do mal, confirmando a excelente moral e a orientação da
sociedade humana, a instituição da justiça e do direito e a resistência à opressão e à
corrupção.”.
Ainda assim, devemos reconhecer que os grupos terroristas que mais aclamam
vidas, professam esta religião embora manipulando a sua interpretação de formas a
justificar as suas horrendas acções. Com isto, a população comum que não dota deste
conhecimento automaticamente associa a religião dos muçulmanos como sendo a
religião dos terroristas, por mais que existam outros grupos radicais que não são
muçulmanos.
Esta manipulação da religião é usada para atrair novos jihadistas em várias partes
do mundo, ainda mais com o surgimento e evolução das chamadas Tecnologias de
Informação e Comunicação – T.I.C – que facilitam a transmissão de uma dada informação
em tempo relativamente curto, mas, abordaremos mais sobre este assunto à posterior.
Resumindo, podemos veementemente afirmar que o Islão é uma religião
monoteísta cujos seus crentes submetem-se às vontades de Allah, sendo estas descritas
no livro sagrado denominado Alcorão e se baseia no cumprimento de cinco (5) pilares
confirmados.
14
1.3 Breve Historial da Fundação do Islão
15
ordena ao seu filho Abu Talib (tio de Mohammed) para adoptar Mohammed após o seu
passamento físico.
Para a tribo Coraixita, Abu Talib – seu tio – era tido como um senhor mui influente
e poderoso e para o futuro profeta, desempenhou um papel do tipo paterno e daí, foi uma
figura benevolente.
Na visão de Shirazi (2006), Mohammed, já na idade adulta, sendo coraixita optou
por seguir o estilo de vida dos homens da sua tribo e tornou-se um comerciante tal como
os outros, onde então, com os seus ricos atributos e qualidades destacou-se
rapidamente, de tal maneira que acabou por chamar a atenção de uma das mulheres
mais nobres da tribo chamada Khadijah que não tão tarde depois confiou-lhe todo o seu
negócio.
“Uma das maiores caravanas de camelos pertencia à mais rica e mais poderosa
mulher de Meca, uma senhora chamada Khadija. A história islâmica diz que,
quando ela viu o carácter honesto e fiel de Maomé, o contratou para conduzir
uma caravana até à Síria. No seu regresso, os produtos foram vendidos pelo
dobro do investimento feito, o que deixou Khadija impressionada. Embora ela
tivesse mais de quarenta anos, fosse divorciada por quatro vezes e tivesse filhos,
ofereceu-se em casamento a Maomé, então com vinte e cinco anos de idade.”
(Gabriel, 2006: p.30)
Aos olhos dos membros da tribo, Mohammed mostrava-se ser uma pessoa
honesta, respeitosa e sobretudo dedicada. Qualidades estas que eventualmente
acabaram por conquistar o amor de Khadijah. Em 595 d.C, aos vinte e cinco (25) anos
de idade, casou-se com esta mesma mulher e juntos tiveram seis (6) filhos durante toda
a sua vida.
“Com os negócios em andamento, Mohammed começou uma busca espiritual
mais intensa, algo já semeado por seu avô e pelo contacto com outros religiosos – e
houve então, uma intensa inclinação ao jejum e à oração no Monte Hira, na Arábia
Saudita” (Mubarak, 2014: p.10).
A história diz-nos que foi na caverna deste monte onde um simples homem de
quarenta (40) anos de idade com uma vocação alargada, foi transformado em alguém
que seria o profeta de uma das religiões com mais aderência no mundo, graças à uma
mensagem que lhe foi transmitida pelo anjo Gabriel.
16
Como expressa o Ph.D Mark Gabriel (2006: p.33), “Maomé estivera a meditar
durante o santo mês do Ramadão na Caverna de Hira quando, como afirmou mais tarde,
"a verdade desceu sobre ele".”
Logo após esta revelação, Mohammed sem entender o que tivera acontecido,
relatou esta transcendental experiência à sua esposa que desde logo mostrou o seu
apoiou e encorajou Mohammed a atender este chamamento sagrado e abraçar a causa
de Allah, tornando-se assim na primeira pessoa convertida por Mohammed para
submeter-se à esta nova religião chamada Islam.
Tais revelações são descritas por Mubarak (2014) como sendo as revelações que
foram escritas e compiladas, para que se formasse a primeira parte do Alcorão. Assim,
no ano 610 d.C, começou-se a formar a religião e Mohammed proclamou-se seu profeta.
Hadrat Ahmad (2013) diz-nos que, Khadijah contou ao seu primo que professava
a religião católica e foi este indivíduo de nome Waraqa bin Naufal que esclareceu ao
profeta que ele, foi abordado pelo anjo Gabriel e não um jinn – “palavra persa que significa
espírito, associada a demônios (…)”. (Mubarak, 2014: p.10)
“Having said this, Khadija took the Prophet to her cousin, Waraqa bin Naufal, a
Christian. When he heard the account Waraqa said: "The angel who descended on
Moses, I am sure, has descended on you".” (Ahmad, 2013: p.11)
A seguir aos membros da família e amigos, foram se convertendo pessoas sem
qualquer relacionamento à Mohammed, mas, que acreditavam nas suas revelações.
Richardson (2013: p.14) afirmava que nesta fase inicial, suas pregações não criara
problemas para a sua comunidade, pelo contrário, “(…) os coraixitas eram muito
tolerantes com as distintas religiões, pois deste modo ganhavam dinheiro. Portanto, era
algo bom se a nova religião de Maomé atraísse mais gente ao culto.”.
Passado algum tempo, Mohammed passou a pregar com um tom mais assertivo
de modos a expandir a sua religião e afirmá-la como sendo correcta. Neste processo,
Mohammed insultava as demais crenças com convicção de que estas eram “falsas”.
“Ele ria das outras religiões e ridicularizava seus deuses. E o pior para os
coraixitas era o fato de que Maomé afirmava que como os antepassados deles
não eram muçulmanos, eles ardiam no inferno. Esta ideia era intolerável para os
coraixitas que consideravam que os antepassados eram sagrados. Eles pediram
17
que parasse com isso e voltasse a promover sua religião sem causar dano a
deles.” (Richardson, 2013: p.14)
18
CAPÍTULO II – A EXPANSÃO MUNDIAL DO ISLÃO
“(…) o Mensageiro de Allah fez nascer paz e harmonia entre as diferentes tribos
e grupos rivais e antagônicos da cidade e de suas redondezas, sendo que antes
de sua chegada a ganância, a inimizade e as guerras prevaleciam entre os seus
habitantes. Num curto período de tempo, o Profeta conseguiu plantar a semente
da concórdia em seus corações de modo tal que eles passaram a dividir tudo
aquilo que eles tinham entre si e também com os muçulmanos imigrantes de
Meca, a despeito da pobreza deles.” (Shirazi, 2006: p. 23)
Desta feita, nasceu nesta cidade a primeira comunidade muçulmana, que mais
tarde, viria a ser um Estado. A cidade anteriormente conhecida como Yathrib, passou a
ser conhecida como al-Medina. Nome este, que Azzam (S/D: p.44) tomou a liberdade de
informar-nos que este termo proveniente do dialecto árabe, significa literalmente, “A
Cidade”.
19
No entanto, o líder do seu antigo povo (os Coroaixitas) sentindo-se ameaçado com
o rápido crescimento do número de convertidos que também prometiam defender o Islão
com o recurso à força, decidiu celebrar um acordo com o líder do povo muçulmano –
Mohammed – a fim de cerrar o conflito e promover a convivência pacífica entre estas
duas entidades. Este acordo passou a ser denominado “Tratado de Hudaibiyah”.
(Najeebabadi, 1922).
Tal acordo foi assinado em Março de 628 d.C. na cidade de al-Hudaibiyah e
citando Aminuddin Mohamad (1989: p. 290), “(…) a duração do período do acordo de
paz é de dez anos, durante o qual não haverá guerra nenhuma; durante este tempo cada
parte estará segura, e nenhuma interferirá na vida e propriedade de outra.”.
Após a assinatura do acordo e a troca das cópias assinadas, os seguidores do
profeta manifestaram as suas reservas em relação ao acordo, uma vez que as cláusulas
lá contidas aparentavam beneficiar mais os Coroaixitas, ao invés de estabelecer um
meio-termo que agradasse ambas as partes. (Najeebabadi, 1922)
Mohamad (1989) esclareceu esta afirmação mostrando como o profeta
Mohammad atentamente observou além do que estava redigido no tratado e teve uma
visão à longo prazo sobre os benefícios de comprometer-se com os termos estabelecidos
pelos Coroaixitas. O autor descreve este tratado como sendo uma “vitória clara” para os
muçulmanos.
“Whether the citizens of the conquered lands were Christian, Jew, Sabians, or
Zoroastrians, they were allowed to keep their religious traditions. There exists not
one example of forced conversion in these early conquests. (…) Proof of the lack
of forced conversion in these areas is the remaining Christian communities in
these countries. For the first few centuries after the Muslim conquest, the majority
of the population of these areas remained Christian. Slowly, they began to take
on Islam as their religion and Arabic as their language. (…) The warfare was
always carried out only against the governments and armies that the Muslims
were at war with. The local citizens were left alone.” (Alkhaleeb, 2012)
21
religião, pelo contrário, tais cidadãos foram deixados em paz e ao longo do tempo foram
se convertendo e tornando a língua árabe a sua língua oficial.
Por outro lado, Hanini (2007), citando mais uma vez o Alcorão, diz que Islam
significa submeter-se voluntariamente à Deus, e uma vez submetido, deve a obediência
à Sua Lei (Shariah).
Nota-se que estamos diante de um paradoxo e conflito de afirmações envolvendo
os métodos usados para a expansão do islão, mas, compreende-se que devemos
separar tais afirmações precisamente em duas fases: a primeira em que o profeta ainda
encontrava-se em vida, e a segunda, após a sua morte.
Afirmações com a mesma linha de raciocínio de Hanini (2007) e Alkhaleeb (2012)
referem-se ao primeiro período em que o profeta ainda estava em vida, pois, até a
presente data (2017), não há provas concretas de que este atacou os reinos que os
conquistou. Pelo contrário, existem relatos que dão conta que o profeta apenas invocou
a força quando fora ameaçado pelos reinos que declaravam-se ser inimigos do Islão.
Daí que, devemos afirmar que as primeiras conquistas foram pacíficas. As
conquistas feitas após a vida de Mohammad é que serão discutidas a posterior, mas,
podemos adiantar que teve uma postura hostil.
Logo após à morte do profeta Mohammad, considerando que este não tivera
indicado um sucessor no caso de seu passamento físico, nem tomado qualquer tipo de
providência sobre como nomear um, de acordo com os discentes do Curso de Relações
Internacionais da UNESP – Lairia, Silva e Ribeiro – a comunidade islâmica chegou a um
consenso de que seria vital criar um sistema de califados, “que consistiria em uma
sucessão do governo maometano com um novo sistema de governo.” (2015: p.01).
Os autores continuam e procuram descrever o que significa ser um califa, que em
seus termos, “(…) seria literalmente um sucessor do profeta como chefe da nação e líder
político, religioso e militar da comunidade muçulmana, com poder para aplicar a Lei
Islâmica (Sharia).” (Lairia, Silva e Ribeiro, 2015: p.01).
Idealmente seria um sistema político semelhante à uma república. Uma vez
quetoda república tem um presidente ou uma outra entidade que exerce cargo político
mais alto, como por exemplo, o Rei, Primeiro-Ministro, Sheikh, Imperador ou tal como
existe em algumas realidades africanas, o Soba, então num sistema de califado, existe
22
uma entidade designada por califa, que tal como o nome do profeta islâmico, poderá
encontrar variações quanto à sua forma ortográfica.
Seyyed Nasr (2003) em sua obra que para muitos é digno de louvor, diz que a
maioria da comunidade islâmica (maioritariamente sunitas) indicou Abu Bakr como sendo
a pessoa que assumiria as rédeas para dar continuidade ao legado da política
expansionista do profeta e proteger a religião islâmica.
Ainda sobre o autor, esta foi, portanto, a primeira ruptura entre Sunitas e Xiitas,
uma vez que este último preferia que o sucessor de Mohammad fosse um descendente
masculino com a maior idade e dado que o profeta não tinha um descendente masculino
directo, indicaram seu primo de nome Ali, que mais tarde viria a ser o quarto califa.
“Depois de Maomé seguiu-se uma fase importante da história do Islão. Os califatos
de Abu Bakr (632-634), de Ornar (634-644), de Othmân (644-656), e de Ali (656-661)
representaram uma era de notável expansionismo da nova religião.” (Rodrigues, 1980:
p.11).
De facto, muitos grandes conhecedores da matéria sobre o Islão partilham a
mesma ideia do professor universitário Manuel Augusto Rodrigues (1980). Fala-se no uso
da força para conquistar a Síria, a Pérsia (Irão) e Egipto para além de outras áreas ao
redor, chegando até a Espanha e Portugal.
“Após sua morte, os califas (…) utilizaram-se das guerras, admitidas no Alcorão
na propagação do Islamismo (guerras santas), para unificar a península Arábica
e iniciar uma expansão que, no final da Idade Média, envolvia a península Ibérica,
o norte da África e o Oriente Médio. Através das conquistas no norte da África,
ocorreu um aumento enorme da extensão do Império, bem como uma verdadeira
revolução na máquina de guerra islâmica, visto que os berberes (povo do norte
da África, da região da Numídia) se converteram ao Islamismo e tomaram para
si a responsabilidade de invadir a Espanha visigótica.” (Coggiola, 2007: p.07).
“Foi após a morte do profeta, em 632, que a Arábia foi unificada. A partir desta
união, foi iniciada a expansão do império árabe. Os seguidores do Alcorão
acreditavam que deveriam expandir o islamismo através da Guerra Santa. Firmes
nesta crença, eles expandiram sua religião ao Iêmen, Pérsia, Síria, Omã, Egito e
Palestina. Em 711, dominaram grande parte da península Ibérica, espalhando
sua cultura pela região da Espanha e Portugal. Em 732, foram vencidos pelos
francos, que barraram a expansão deste povo pelo norte da Europa. Aos poucos,
23
novas dinastias foram surgindo e o império foi perdendo grande parte de seu
poder e força.” (Coggiola, 2007: p.07).
“These dominions stretched from the Arabian peninsula and the cataracts of the
Nile in the south, to Basra near the Persian Gulf and the Iranian plateau in the
east, along the North African coast nearly to Gibraltar in the west, and to the
Ukranian steppe and the walls of Vienna in the north. The period begins with an
Ottoman dot on the map and ends with a world empire and its dominions along
the Black, Aegean, Mediterranean, Caspian, and Red Seas.” (Quataert, 2005:
p.13)
“(…) nos Bálcãs, um dos motivos que tornou possível a expansão turca, foi a
colaboração de muitos camponeses cristãos que, incomodados com os ricos
proprietários de terras para os quais trabalhavam, acolheram os turcos em
silêncio, não só aceitando sua religião como juntando-se a seus exércitos. Assim,
o estado grego sucumbiu, juntamente com a Albânia, de modo que não mais
existiam fissuras no Império europeu dos turco-otomanos. (Filgueira, 2008:
p.254).
24
Ora, para além destes que se convertiam gozando de seu livre arbítrio, o império
também recrutava à força os cristãos que foram subjugados, aliás, em seu próprio artigo,
Filgueira (2008) acusa esta mistura entre livres e janízaros como sendo um dos factores
que muito contribuiu para o sucesso deste império muçulmano nas terras conquistadas.
Os antecedentes históricos nos instrui que a vida como nós a conhecemos sempre
obedeceu a lei de causa-efeito e em simultâneo uma sequência de ciclos. Querendo dizer
que, nada, nunca foi e jamais será ao acaso e também permanentemente estável, tanto
a vida natural, como as próprias concepções humanas.
Tal como dizia o autor novelista Frank Herbert (1969) numa entrevista na California
State College, “There is no real ending. It’s just the place where you stop the story.” e
nesse contexto, o reinado do império de Osman, sem excepção, também foi vítima deste
ciclo e é importante apontar que de maneira nenhuma os eventos que levaram ao seu
desmembramento foram sem fundamento.
Com bastante sucesso, Quataert (2005) aponta que as derrotas militares por parte
do império tiveram o seu marco em 1683 à quando da marcha até Vienna, Áustria.
A esta altura já se notava um avanço significativo na economia dos países
europeus que lhes permitiu investir no sector militar que, por consequente, permitiu
apurar as suas manobras defensivas e ofensivas contra as investidas muçulmanas.
Para além da superioridade bélica por parte dos europeus, Filgueira (2008) insiste
que há outras razões para além da perspectiva militar e económica que garantiram tal
superioridade aos europeus. Para a autora, assistiu-se também uma evolução no sector
cultural, pois, começava-se a pensar na consciência europeia que mais tarde definiu-se
como sendo a “defesa intransigente dos valores nacionais” (Sousa, 2005: p.123) - o
nacionalismo europeu.
Na medida em que o tempo passava, os seus oponentes fortaleciam-se e a
decadência deste outrora grande império persistiu até que a sua existência conheceu o
fim em outubro de 1923, sob contexto de ser o grande derrotado na Primeira Guerra
Mundial, onde então foi assinado o Tratado de Laussane que formalmente pôs um
término ao Império Otomano e proclamou a República da Turquia, mas, com uma
dimensão territorial bastante reduzida. (Ágoston e Masters, 2009).
25
Apesar de ser o fim do império muçulmano, não foi nem de sombras o final da
expansão islâmica, pois, à esta fase os muçulmanos também abraçaram algo que
Ágoston e Masters (2009) chamavam de ottomanismo, que correspondia ser uma forma
de nacionalismo muçulmano com uma visão puramente política.
Além disto, vindo o fim do império arábe, muitos ainda se reviam nesta entidade,
aliás, Quataert (2005) admite que até os seus pais eram ainda muito novos quando o
império desapareceu físicamente da face da Terra. O autor continua e elucida-nos que
muitos cidadãos que possam estar vivos actualmente na própria Turquia, Síria, Líbano e
Iraque, foram batizados pelos seus país com nomes pessoais que de certa forma ainda
os liga à história do império otomano, e daí que, para muitos, este império é um legado.
Desta forma, pode-se livremente concluir que as futuras gerações destes
cidadãos, terão as experiências vividas na era otomana como herança cultural.
Com o final do império otomano, muitos começavam a pensar em como dar
continuidade à propagação do islão. Baseando-se na obra de Efraim Karsh (2013), esta
expansão já não foi feita por monarcas ou sultões. De acordo com Karsh, esta
responsabilidade ficou ao encargo de activistas políticos e ideólogos que considerando a
natureza de suas ideias e seus objectivos, foram conhecidos como sendo “islamistas”.
Com o objectivo de distinguí-los uns dos outros, Karsh afirma que
“For the monarchs, the caliphate meant little more than added legitimization of
their ambitions for a regional empire. They had little interest in the deeper
inculcation of Islam’s precepts in their Muslim subjects, let alone in spreading
Allah’s message beyond the House of Islam. The Islamists, by contrast, modeled
themselves on Islam’s early conquerors, and aspired to nothing less than the
substitution of Allah’s universal empire for the existing international system.”
(KARSH, 2013: p.212)
26
Um destes islamistas empenhou-se nesta causa universal, e de forma bem
sucedida, tornou-se num dos pioneiros cujas acções se traduziram na expansão mundial
do Islão. Trata-se de Hassan al-Banna – fundador da Irmandade Muçulmana. (Karsh,
2013).
Ainda sobre Karsh (2013), al-Banna fundou esta sociedade muçulmana em 1928
na cidade de Cairo, com o fim último de estabelecer um verdadeiro governo islâmico no
Egipto, e seria neste Estado onde começaria tal expansão universal de sua religião –
Islão.
O autor diz-nos que a esta sociedade teve muito êxito em cumprir os seus
objectivos, uma vez que al-Banna foi um orador bastante nato. Fruto desta sua habilidade
de galvanizar, até finais de 1940, reporta-se que havia cerca de duas mil (2,000)
representações em Egipto, com cerca de um milhão (1,000,000) de membros e
simpatizantes, para além das agências foram instaladas na Síria, Jordânia, Iémen, Sudão
e Palestina, claramente tornando esta sociedade no movimento islâmico mais poderoso
do mundo, sem disputa.
De acordo com Karsh (2013), a maior parte dos membros foram estudantes,
professores e civis da classe média que contribuíam com recursos e valores monetários
para fundarem os projectos desta mesma organização e suas instituições educacionais,
seus exércitos, jornais, hospitais e empreendimentos que vocacionavam-se na vertente
comercial, financeira e na área de seguros.
O mesmo autor, realça o carácter de al-Banna como sendo um sujeito radical e
como consequência de suas ambições radicais, Karsh (2013), data a morte de al-Banna
no dia 12 de Fevereiro de 1949, no entanto, não foi necessariamente o final da sua
sociedade e não tardou em ser substituído por outro radical conhecido como sendo um
professor americano que se converteu para ser Sayyid Qutb.
Buscando mais uma vez a literatura de Karsh (2013) e Esposito (2002), as
pregações de al-Banna e Qutb inspiraram as atitudes de muitos pensadores e
organizações radicais que foram se apresentando ao longo da história. Nomes como
Hamas, Hezbollah, Ayatollah Khomeini, Bin Laden, al-Qaeda, ISIL e ISIS agiram de suas
próprias maneiras, mas, têm os dois líderes da Irmandade Muçulmana como modelos de
27
referência de forma directa ou indirecta, mas todos determinados em invocar o jihad com
o mesmo objectivo.
Olhando em retrospectiva, uma religião que teve a sua origem num local de pouca
dimensão, actualmente, num ápice nos apercebemos que embora com uma dinâmica
muito diferente da original, hoje, o seu alcance ultrapassa múltiplas fronteiras,
distanciando-se cada vez mais do seu ponto de origem, resultado de alguns factores à
considerar.
Ora, para além dos métodos referidos desde a abertura deste capítulo, em que,
certos indivíduos revestidos de algum poder e preenchidos de motivação levariam o Islão
além fronteiras, julguemos que os avanços no sector da Tecnologia de Informação e
Comunicação (T.I.Cs), e nas redes de transporte internacional, muito contribuíram para
a expansão do islão. Devemos certamente admitir que para além da “espada do islão” e
do factor político-religioso, a tecnologia moderna assumiu uma função divulgadora.
Com esta abertura e facilidade ao acesso à informação, fora os que usam-na para
fins obscuros, existem outros agentes que promovem a pacificidade da religião islâmica
por meio dos canais televisivos, radiofónicas e pela internet que pode ser acessada por
uma gama extensa de dispositivos smart de baixo custo.
Exemplo desta obscuridade, Stern e Berger (2015) afirmam que a promoção do
extremismo por via das redes sociais é desencorajada pela maior parte da população,
porém, cativa a atenção da minoria mais vulnerável e susceptível à radicalização. Dizem
eles que, tanto no Facebook como no Twitter, “(…) era fácil procurar e encontrar uma
conta ou comunidade radical ou extremista, e era ainda mais fácil para os recrutadores
terroristas encontrarem as suas presas na sociedade mainstream” (Stern & Berger, 2015:
p. 169)
Por outro lado, não podemos descartar os movimentos migratórios feitos para as
cidades cosmopolitas, como uma reacção das crescentes crises e tensões político-
militares no Médio Oriente e no norte do continente africano, tal como é demonstrado nos
estudos do fórum sobre a religião e vida pública de Pew Research Center (2011).
28
Além do factor migração, este mesmo centro de pesquisa baseado em Washington
D.C. indica-nos que os altos índices de fertilidade do povo muçulmano é também um dos
muitos factores que muito contribuem para a propagação islâmica à nível do mundo.
Um facto intrigante apresentado por Lipka (2017) é que, cerca de 80% da
população muçulmana encontra-se espalhada pelo mundo, ao invés de estarem
concentrados na região onde primeiro surgiu o islão. No entanto, este simples dado
possibilita-nos ter uma visão minimalista, mas, ainda assim, deve favorecer a
compreensão da extensão deste crescimento e expansão fruto dos factores acima
indicados. E por falar nestes factores, é fundamental reconhecermos a interligação de
cada um deles, uma vez que a expansão desta religião deve-se à estas reacções em
cadeia, e não se atribui à um único evento.
Para concluir este capítulo sobre a expansão do islão no mundo, claramente, não
poderia haver apenas um factor condutor que justificasse o aumento da abrangência
islâmica. A conjunção dos pontos supracitados fizeram com que tal religião fosse
considerada por Lipka (2017) como sendo a segunda maior religião do mundo na
actualidade. No entanto, o autor convictamente defende a ideia de que se as tendências
demográficas mantiverem-se elevadas, prevê-se que até o final deste século, o islão terá
sucedido em ser a maior religião do mundo, estando presente nos seis continentes
habitados pelo Homem.
29
CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO ESTUDO
“[…] Não existe uma política do Governo de perseguir uma igreja ou uma religião
e essa foi a interpretação feita pela comunidade islâmica que existe em Angola.
O que aconteceu foi que existem igrejas ou comunidades muçulmanas que
professam a fé em lugares impróprios ou que não estão devidamente
autorizados. […] Muitas seitas ou religiões, entre as quais algumas islâmicas,
começam a funcionar sem concluírem o processo de legalização […] Não se
pode dizer que o Executivo persegue a fé islâmica.” (2015: p. 98)
34
Desta feita, devemos retificar os rumores de que o islão foi banido deste território.
Porém, registamos que das várias reivindicações feitas, destacou-se uma do
Reino Unido, onde um grupo de muçulmanos manifestaram o seu descontentamento
defronte a embaixada da República de Angola na cidade de Londres em 2013. Evento
este que foi registado em formato de vídeo e mais tarde publicado na rede global.
Na verdade, foram abertamente declaradas ameaças ao Estado angolano, e daí,
levantemos algumas questões sobre o cariz destas ameaças e a segurança do Estado
por um lado, e por outro, se o recurso ao terrorismo será uma possibilidade por parte
deste ou de qualquer outro grupo que se revê no tom das ameaças feitas à nação dos
angolanos. Trata-se de um terrorismo praticado pelos islamistas radicais.
Uma pertinente lição que nos é passada por Gonçalves (2011), é preferível o termo
“terrorismo jihadista” para qualificar o tipo de terrorismo praticado por estes indivíduos,
pois, torna-se crucial
“(…) reiteradas ocasiões que somente é possível vencer este mal através da
união honesta e construtiva dos esforços de todos os países, baseando-se no
cumprimento estrito do direito internacional, a luta contra os terroristas deve ter
carácter exaustivo e sem concessões” (Klimentyev apud. Putin, 2017)
39
CONCLUSÕES
40
Lembrando as palavras de Gonçalves (2011), é importante ter isto em mente para
que possamos fazer uma distinção clara sobre quem devemos nos preocupar e não
recorrer à um julgamento generalizado por causa das acções de poucos.
Concentrando os nossos esforços na República de Angola, tal como nas outras
partes do mundo, o crescimento tem sido bastante visível sobretudo na cidade capital,
embora carece de algum dado oficial que possa quantificar com precisão o número desta
população.
Este, é um Estado que à nível constitucional expressa o mais alto respeito às
diferentes confissões religiosas existentes no seu país, no entanto, apenas exige o
cumprimento da sua lei soberana e demonstra-se ser firme no que diz respeito à
intolerância de qualquer acto que possa pôr em “check” a sua segurança interna.
O sistema de segurança está claramente operacional e em estado alto de
vigilância. Tal sistema provou estar em condições de garantir a segurança dos quatro
cantos do território nacional, levando à cabo a investigação e a formal acusação de seis
(6) jovens muçulmanos acusados de organização terrorista segundo várias fontes
nacionais e internacionais.
Apesar deste louvável esforço, Angola consta duma lista de países com uma
probabilidade calculada de sofrer um ataque terrorista. É importante ressaltar que o
combate ao terrorismo jihadista requer uma atenção especial e exige a colaboração de
todos, daí que, Angola tem cooperado e trocado experiências com outros Estados de
formas à desenvolverem estrategias anti-terroristas.
Voltando ao assunto em questão, o Islão como fenómeno religioso, de maneira
nenhuma representa uma ameaça para o Estado angolano. A sua variante radicalizada
é que nos chama a atenção e constitui uma ameaça não só para a nossa república, como
também para toda comunidade internacional. Angola não é um Estado alheio às
preocupações mundiais, e como tal, subscreve aos diversos compromissos
internacionais, sendo o combate ao terrorismo um deles.
Desta feita, conclui-se que foi cumprido os objectivos traçados no capítulo
introdutório e que, com base as hipóteses levantadas no já referido capítulo, a terceira
hipótese responde objectivamente a pergunta de partida.
41
SUGESTÕES
42
e não “quem realmente somos” como nacionais para além de um número estatístico.
A disponibilidade destes dados contribuiria também para um imenso enriquecimento
académico, sobretudo, nas áreas relacionadas ao estudo da Religião no país em foco.
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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49
https://www.expansao.co.ao/artigo/59841/alguns-vectores-da-actual-crise-
financeira-em-angola?seccao=7
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ANEXOS
ENTREVISTA I
R: O islão é a religião que tem Allah como Deus. Deus escolheu Mohammad para ser o
profeta. Na nossa religião (islão), devemos viver de acordo com a vontade do nosso Deus
e aceitar o profeta como a pessoa que transmite a mensagem sem dúvida.
R: São cinco (5) pilares do islão. O primeiro é que, temos de testemunhar que Deus é o
único e Mohammad é o profeta que transmite a palavra de Deus. Este pilar é muito
importante e chama-se Shahadah. O segundo é fazer as cinco (5) orações por dia. O
segundo pilar é a prática do Salat. O terceiro pilar, é o Siyam e fazemos jejum para limpar
o nosso corpo em tempo de Ramadan. O quarto, temos de dar o Zakat. Temos de dar
uma percentagem do nosso dinheiro ao lider da mesquita que vai distribuir para aqueles
51
que não têm dinheiro. O Zakat faz-se uma (1) vez por ano. O quinto é a peregrinação –
Hajj.
R: Não sei quantas mesquitas tem em Angola, mas, em cada área tem um lugar onde
rezamos. Entregamos este dinheiro ao dirigente da mesquita e ele faz a distribuição. Isto
fazemos só uma (1) vez por ano.
4. Este acto de caridade só pode ser feito de um muçulmano para outro, ou pode incluir
qualquer outro indivíduo fora da comunidade islâmica?
R: Não, o islão não discrimina. Só o muçulmano é que pode dar o Zakat, mas todos
podem receber.
5. Como funciona o calendário islâmico e para quando está previsto o Ramadão para o
ano de 2017?
R: Não é muito diferente. Enquanto o calendário cristão conta com o Sol, o calendário do
islão segue a Lua. Cada mês é uma nova fase da Lua e nós contamos 11 luas em cada
ano. Para este ano, o Ramadão será em Julho. Varia com os dias porque cada mês varia
entre 29 e 30 dias.
R: O Jihad é muito diferente do terrorismo. O Jihad não é uma luta com armas. O Jihad
é a luta do coração. Chamamos a isto de Jihad Grande. Esse Jihad de terrorismo não
existe. Isto é falso.
7. Como é que está o Islão em Angola, tem sentido o crescimento desta religião?
52
R: “Núchkor Allah”. Significa graças à Deus. A religião está a crescer porque muitos dos
nossos irmãos angolanos já estão a entrar para o islão para além dos muçulmanos que
estão a vir de fora do país. Não sei quantos somos exactamente, mas em cada mesquita
que já passei, encontro sempre cheio. Na minha mesquita tem pelo menos 200 pessoas.
R: Não, não passo por nenhuma dificuldade. Não sou abusado e não sou perseguido.
Sinto-me bem.
53
ENTREVISTA II
Objectivo: Esta entrevista tem como objectivo primário de recolher algumas informações
sobre o islão em geral e o status da religião islâmica em território angolano.
2. Quando é que foi criada esta organização muçulmana em Angola e qual foi o seu
objectivo?
R: Foi fundada no ano 2000 e tem como objectivos a divulgação e exercício da religião
(Islão).
54
R: Sinceramente, não estou em condições para dizer isto, mas, sou muçulmano há 20
anos e na altura já existia o Islão aqui. Até hoje, não há nenhum dado em termos
estatísticos, de quantos muçulmanos há no país, mas, a verdade é que a cada dia que
passa se converte um angolano.
4. Sobre o Jihad, este que o mundo testemunha ser violento e radical, é correcto?
R: Isto não é Jihad. Não é verdadeiro. Isto que estamos a fazer é um exemplo de Jihad.
O Jihad é um esforço no caminho do bem, no caminho da verdade. Teologicamente, o
Jihad é o esforço no caminho de Deus. Estamos a falar de quê? De Deus, logo, o que
estamos a fazer neste exacto momento é uma forma de Jihad.
R: Com base na lei, não é. O Estado angolano é um Estado laico e respeita todas as
religiões. Não há nada na Constituição que indica que é contra. O governo angolano teve
uma atitude legítima de encerrar a mesquita, uma vez que não tinha fundamento legal
para a sua operacionalidade. Faltou o esclarecimento do governo após os rumores, mas,
não quer dizer que seja um inimigo do Islão.
6. Sem intenções de ofender sua entidade e sua religião, consegue separar o Islamismo,
do Terrorismo Islâmico?
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