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CURSO SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A EXPANSÃO DO ISLÃO E A QUESTÃO DE SEGURANÇA


NACIONAL: O CASO DE ANGOLA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado por Lorivaldo


Kenneth Cardoso Moniz em 2018
CURSO SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A EXPANSÃO DO ISLÃO E A QUESTÃO DE SEGURANÇA


NACIONAL: O CASO DE ANGOLA

Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do grau de Licenciado em Relações


Internacionais, sob orientação do Doutor Professor Nelson Albino.

LUANDA, 2018
APROVADO

O JÚRI DE AVALIAÇÃO

Presidente:
Prof. Dr. João Manuel Pedro

Primeiro Vogal:
Prof. Dra. Luzitisana Nabo

Segundo Vogal:
Prof. Dr. Nelson Albino

Luanda, aos 17 de Maio de


2018
DEDICATÓRIA

Dedicado à Sra. Maria de Fátima Cardoso e ao Sr. Fernando José Manuel Moniz.

I
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, de agradecer o Dr. Nelson Albino pela sua disponibilidade e por ter
aceite logo de primeira orientar esta monografia. Desde a primeira instância que exibiu o
seu profissionalismo e a sua paciência.
Em segundo lugar, é com um sentimento de dever que agradeço o Sr. Dr. Evaristo
Solano. A realização desta obra monográfica deve-se ao seu incondicional apoio. Apesar
dos compromissos de carácter profissional e pessoal, o seu empenho conheceu nenhum
limite em momento algum e por causa disto estarei eternamente grato por ter sido o seu
pupilo.
Em terceiro, endereço este agradecimento aos amigos e à família, em especial
atenção aos meus pais. Nenhuma frase me ocorre para expressar tamanha benção da
vossa presença na minha vida, no entanto, é com muita humildade que resta-me vos
agradecer por tudo, com ênfase no vosso caloroso apoio que resultou na investigação e
conclusão desta monografia. Por todo o vosso amor, muito obrigado.
Em quarto, especial agradecimento à Deus. Pela sabedoria e a coragem de enfrentar
os vários desafios que viriam naturalmente de um percurso exaustivo no mundo científico.

II
LISTA DE SIGLAS

 B.B.C – British Broadcasting Corporation;


 C.A.C.M. – Comunidade Angolana dos Crentes Muçulmanos;
 C.A.C.P. – Centro Apologético Cristão de Pesquisas;
 C.I.S.L.A.N.G. – Comunidade Islâmica de Angola;
 D.N. – Jornal digital de Portugal;
 I.S.I.L. – Islamic State in Iraq and the Levant;
 I.S.I.S. – Islamic State in Iraq and al-Sham;
 O.G.E. – Orçamento Geral do Estado;
 O.N.U. – Organização das Nações Unidas;
 T.I.C. – Tecnologias de Informação e Comunicação;
 U.N.E.S.C.O. – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura;
 U.N.E.S.P. – Universidade Estadual Paulista;

III
EPÍGRAFE

“Os angolanos manifestam uma atitude de medo pelo fundamentalismo islâmico existente
em vários lugares do mundo. Os muçulmanos terroristas intimidam (...) e, por isso, o
sentimento de desconfiança nos mesmos é alta. Aduzem, então, uma opinião negativa.

- António Custódio (2015, p. 104)

IV
RESUMO

A era pós-11 de Setembro caracteriza-se essencialmente pela preocupação máxima


dos Estados em garantirem a sua própria segurança, sobretudo contra ataques terroristas
perpetrados por fundamentalistas islâmicos.
Os muçulmanos asseguraram a expansão mundial do Islão e a sua presença em
Angola traz à tona alguns estereotipos que interligam a religião islâmica ao terrorismo
jihadista. Como consequência desta interligação conceptual, questiona-se se o
crescimento desta religião em território angolano compromete à segurança do Estado.
Com esta problemática em mente, a presente obra monográfica foi elaborada para
medir o impacto que o crescimento da religião muçulmana terá na segurança nacional da
República de Angola e determinar se a mesma representa uma ameaça ao Estado em
foco.

Palavas-chaves: Islão, República de Angola, Terrorismo jihadista, Segurança


Nacional.

V
ABSTRACT

After the events of 9/11, National Security has been a constant matter addressed in
the agenda of many States around the world, especially against terrorism acts from
Islamic fundamentalists.
Muslims have managed to secure a global expansion of Islam. Its presence in Angola
has brought afloat certain stereotypes that inter-connect Islam to jihadist terrorism.
Because of this inter-connection, questions regarding the growth of this religion in Angola
and the possible compromise of its national security has been risen.
With this concern in mind, this thesis bounds to study what impact will the growth of
Islam have on the national security of the Republic of Angola and determine if this religion
poses a threat to the referred State.

Keywords: Islam, Republic of Angola, Jihadist terrorism, National Security.

VI
ÍNDICE

DEDICATÓRIA..................................................................................................................I

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................II

LISTA DE SIGLAS ..........................................................................................................III

EPÍGRAFE ..................................................................................................................... IV

RESUMO ......................................................................................................................... V

ABSTRACT .................................................................................................................... VI

INTRODUÇÃO .................................................................................................................1

1.1 Justificativa Académica ....................................................................................1

1.2 Objectivo Geral ................................................................................................2

1.3 Objectivos Específicos .....................................................................................2

1.4 Pergunta de Partida ........................................................................................3

1.5 Hipóteses ........................................................................................................3

1.6 Metodologia......................................................................................................4

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL TEÓRICO .....................................5

1.1 Definição de Conceitos .....................................................................................5

1.1.1 Conceito de Segurança .............................................................................5

1.1.2 Conceito de Terrorismo .............................................................................6

1.1.3 Conceito de Religião .................................................................................8

1.2 Conceptualização do Islão ................................................................................9

1.3 Breve Historial da Fundação do Islão .............................................................15


CAPÍTULO II - A EXPANSÃO MUNDIAL DO ISLÃO ....................................................19

2.1 De Mecca para o Mundo .................................................................................19

2.2 Factores à Considerar na Expansão Islâmica .................................................28

CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO ESTUDO ....................................30

3.1 O Desenvolvimento Islâmico em Angola .........................................................30

CONCLUSÕES ..............................................................................................................40

SUGESTÕES .................................................................................................................42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................................44

ANEXOS ........................................................................................................................51
INTRODUÇÃO

Para arrancarmos com esta monografia, sentimo-nos obrigados a apresentar


primeiramente uma justificativa académica para compreendermos a escolha deste tema.

1.1 Justificativa Académica

Segundo Maria Pinto (S/D), o fundamentalismo islâmico “é o sintoma de uma crise


generalizada: crise económica, cultural e de identidade e crise de autoridade.”. De acordo
com a autora, resume-se em uma crise de modernidade proposta pelos Estados-Nações.
Adoptando uma postura realista, é necessário realçar o pensamento clássico de
Thomas Hobbes. “De Hobbes, os realistas destacaram o conceito de estado de natureza
que comparam com o estado de anarquia no sistema internacional.” (Nogueira, 2005: p.
22)
Em tradução leiga, implica dizer que vivemos numa era caracterizada
primordialmente pela anarquia no sistema internacional. De acordo com Nogueira (2005:
p. 22), isto justifica-se pela ausência de um órgão soberano “(...) que tenha o monopólio
do uso legítimo da força nas relações internacionais (...)”.
“Os fundamentalistas advogam a aplicação da «Charia» - Lei islâmica - como
único fundamento de organização da sociedade. A questão do método a utilizar para
instaurar a sociedade islâmica opõe fundamentalistas moderados e radicais.” (Pinto, S/D:
p. 116)
Com base esta visão, percebe-se que os fundamentalistas recorrem à métodos
que introduzam o medo no seio das sociedades do mundo, embora com o nobre intuito
de restaurar a ordem mundial e acabar com a anarquia referida há pouco.
O uso destes métodos é um conceito vagamente conhecido como sendo o
Terrorismo e mais adiante abordaremos sobre esta expressão, mas, desde já podemos
adiantar que o terrorismo é um atentado à segurança nacional.
Após uma leitura cuidada de um artigo escrito por Brandão (2017: p. 12) para o
Jornal angolano “O País”, há uma possibilidade de existir uma célula terrorista em solo
angolano. Com os factos até então apurados, verificou-se que tal grupo tem uma
1
inspiração islâmica fundamentalista e foi com este caso que surgiu o interesse de
compreendermos sobre a presença dos muçulmanos em Angola e tornar isto em uma
matéria de investigação académica.
Ora, com a expansão mundial desta religião, expande de igual modo a
desinformação. Gerando com isto confusão, pré-conceitos e estigmas sobre a verdadeira
natureza desta religião. Facto é que o Islão é uma religião pouco compreendida em
Angola e no mundo.
Sobre este credo religioso, o que se vê com alguma frequência nas plataformas
de notícias, é que esta religião tem estado no background dos maiores ataques e
atentados terroristas do mundo, formando com isto, a imagem de ser uma religião
incentivadora de violência além de muitos outros mitos.
Num contexto em que a media ocidental é a fonte de informação predominante no
mundo, parece-nos que só há uma versão exclusiva da verdade, algo que certamente
deve ser interrogado. Será que não existe uma segunda opinião no que diz respeito à
esta religião?
Nas palavras de Custódio (2015, p. 122), “(...) o Islão aparece numa visão geral
aos angolanos como uma ameaça, constituindo um desafio crucial a ter em conta no
porvir angolano.”

1.2 Objectivo Geral

O presente trabalho monográfico tem como objectivo geral de determinar com


imparcialidade, se a presença da religião muçulmana tem algum impacto na segurança
nacional angolana.

1.3 Objectivos Específicos

Para atingir o objectivo geral, o presente trabalho subdivide-se em quatro (4)


objectivos específicos:

2
1) Conceptualização transparente e esmiuçada do Islão onde reunir-se-à múltiplos
estudos e conceitos apresentados por autores, instituições, especialistas e
conhecedores da matéria da religião muçulmana;

2) Traçar os antecedentes históricos até ao momento em que foi proclamada a


fundação da religião em foco;

3) Apresentar os factores-chaves que contribuiram para a expansão islâmica à nível


mundial;

4) Determinar se a presença da religião islâmica em Angola, representa de alguma


forma um perigo à sua segurança nacional;

1.4 Pergunta de Partida

Obviamente, é na vertente da segurança nacional que ansiamos ver respondido a


seguinte questão: Quais são os riscos que o Islão coloca à segurança nacional de
Angola?

1.5 Hipóteses

Para respondermos esta pergunta de partida, levantamos três (3) hipóteses, que
passamos a enumerar:

H.1 - O Islão é por sua natureza uma religião que incita a violência, logo, a sua presença
é automaticamente um alto risco que possa comprometer o bem-estar e segurança da
população residente em Angola.

H.2 - O terrorismo islâmico poderá ser uma realidade, como uma das consequências da
presença de muçulmanos na República de Angola.

3
H.3 - Quanto aos riscos de segurança nacional, ao contrário do que se possa ouvir e/ou
ver sobre os aspectos negativos desta religião, tal como as outras monoteístas, o Islão é
uma religião promotora de paz, por tanto, de maneira nenhuma compromete a segurança
nacional da República de Angola.

1.6 Metodologia Científica

Para a elaboração deste documento científico, baseamo-nos numa abordagem


qualitativa. Após um exame das literaturas de Neves (1996, p. 02), esta seria a técnica
apropriada para cobrirmos esta temática, uma vez que, engloba um conjunto de
“procedimentos de cunho racional e intuitivo”, o que seria bastante vantajoso para melhor
compreendermos este complexo fenómeno.
Os dados fundamentais desta monografia foram adquiridos por intermédio de uma
pesquisa documental ou bibliográfica, o que justifica o uso de uma abordagem qualitativa.
Porém, não se descartou na totalidade a metodologia quantitativa considerando que os
dados estatísticos expostos nos capítulos à posterior, serviram de complemento para que
melhor compreendêssemos algumas explicações.
Para além da pesquisa documental que envolveu a revisão exclusiva dos materiais
escritos em diversas fontes, foi possível fazer também uma pesquisa de campo. As
declarações prestadas pelos entrevistados poderão ser encontradas no capítulo dos
anexos deste trabalho monográfico.
Tendo em consideração a sensibilidade e complexidade deste objecto de estudo,
com este trabalho, procuramos alargar os conhecimentos já existentes sobre a religião
islâmica e aplicar este conhecimento no recorte espacial angolano.

4
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL TEÓRICO

1.1 Definição de Conceitos

Antes de abordarmos sobre o tema em foco, é necessário explorar alguns


conceitos para melhor enquadramento e interpretação, sobretudo, às expressões que
são recorrentes quando se fala de segurança nacional.

1.1.1 Conceito de Segurança

Primeiramente, sobre Segurança, Alexandre Rodrigues diz que “(...) um País está
seguro quando não está sob o risco de sacrificar valores vitais, ou seja, ter segurança é
a ausência de ameaças aos valores essenciais que se quer garantir.” (2013: p. 03)
Este conceito tem uma característica intuitiva e à primeira vista não parece dizer
muito. No entanto, ao analisarmos o conceito apresentado por Rodrigues (2013), é
preciso ter em consideração que os valores vitais de um Estado são: o povo, a soberania
e o território, tal como concluiram Fabriz e Ferreira (S/D).
Apegando às duas idéias supracitadas, permite-se resumir que ter segurança se
traduz na ausência de ameaças ao povo, a soberania e ao território de um determinado
Estado.
Ainda sobre a garantia da segurança, considerando que vivemos numa era de “(...)
crescente interligação e interdependência entre Estados, organizações e indivíduos do
mundo inteiro, não só na esfera das relações económicas, mas também ao nível da
interacção social e política (...)” (Campos & Canavezes, 2007: p. 10), há um esforço
internacional para combater este mal que é vulgarmente conhecido como o terrorismo, a
fim de garantir a segurança internacional.

Sobre a segurança internacional, Sousa (2005: p. 169) explica que,

“As análises tradicionais da segurança internacional concentravam-se, regra


geral, na sua dimensão militar, face a ameaças de ataque externo ou

5
instabilidade interna, e na importância dos gastos com a defesa. Com o final da
guerra fria, novas ideias foram incorporadas na agenda de segurança, alargando
o seu âmbito (...). Estas novas valências integradas no conceito de segurança
internacional visam dar resposta aos novos desafios, como por exemplo a
intensificação do terrorismo internacional (...)”.

1.1.2 Conceito de Terrorismo

Sobre este último termo – terrorismo – de acordo com Colombo (2015), existe um
problema conceitual à nível do sistema internacional. Para esta autora, o ponto de partida
para conceituar este fenómeno é reconhecer que o terrorismo é “(...) uma forma de
violência cuja realização se objetiva no âmbito psicológico do indivíduo.” (2015: p. 44)
A forma crude deste conceito remete-nos à uma idéia de que o terrorismo é um
ataque à psique humana, no entanto, a discordância entre os autores começa ao
esclarecer quem são os actores envolvidos para além de outros factores a considerar.
Ora, como forma de ilustrar este paradigma, Colombo apresenta outros pontos de
vista na conceptualização do terrorismo.

“a) O terrorismo é um termo que se usa para desqualificar um inimigo, de tal


maneira que quem é terrorista para uns pode ser um lutador por liberdade para
outros. Um estudioso do tema, Conor Gearty, escreveu, por exemplo, que ‘o
conceito de terrorismo nunca foi um instrumento útil ou inteligente para descrever
a violência política e o termo carece quase completamente de significado na
atualidade’. b) O terrorismo é uma forma de violência política que se distingue de
outras por seu caráter moralmente repugnante. A quinta cúpula islâmica, reunida
em Kuwait em 1987, declarou, por exemplo, que era necessário ‘distinguir as
atividades terroristas brutais e ilegais perpetradas por indivíduos, grupos ou
Estados, da luta legítima das nações oprimidas e subjulgadas contra qualquer
tipo de ocupação estrangeira’. c) O terrorismo é a violência exercida com fins
políticos por grupos rebeldes. Isto supõe incluir dentro do conceito de terrorismo
qualquer forma de violência política exercida por agentes não estatais e excluir
em troca a violência exercida pelos agentes regulares de um Estado. d) O
terrorismo é a violência exercida para aterrorizar com fins políticos uma
população civil, seja por parte do Estado ou de grupos não estatais. Um autor,
Karanovic, assim expressou em 1978: ‘o terrorismo pode ser definido como uma
violência sistemática e organizada dirigida contra pessoas que não podem se
defender, para atemorizá-las com o propósito de manter ou adquirir o poder
governamental’. e) O terrorismo é um tipo de violência, de magnitude menor que
a guerra, protagonizada por agentes clandestinos e dirigidos contra não
combatentes, com o propósito de criar um clima de temos favorável aos
propósitos políticos dos terroristas.” (Colombo, 2015 apud Avilés: p. 47)

6
Esta diversidade conceitual deve corroborar a teoria de Letícia Colombo (2015)
quando esta diz que existe uma dificuldade académica de chegar à um consenso. A falta
deste apenas exibe a complexidade teórica do termo.
Uma leitura da obra de Sousa (2005), o autor providencie-nos um conceito de
terrorismo muito interessante, no entanto, bastante explícito e completo. Na definição que
se segue, o autor apresenta vários pontos-chaves que podem ser utilizados para
identificar um acto de terrorismo, como por exemplo: a sua essência, o seu propósito, a
sua forma de aplicação, os elementos afectados por este acto e uma descrição de quem
geralmente faz o papel de terrorista.
Sousa define este fenómeno preocupante como sendo,

“(...) o uso da violência com o propósito de exercer uma extorsão, coacção e


publicidade para uma causa política. Esta definição sugere que o terrorismo
resulta, no mínimo, da combinação de vários elementos, a saber: a ameaça ou o
uso real da violência não convencional, desenvolvida tanto para atacar como para
obter publicidade ou causar o terror; uma violência motivada politicamente; a
natureza quase incidental dos objectivos contra os quais se orienta e executa a
violência; as vítimas, sejam as pessoas, sejam os bens, têm uma relação
indirecta com os grandes objectivos que orientam tal violência; a tendência de
quem exerce o terrorismo ser um actor não estatal, isto é, grupos marginais, a
quem se nega um estatuto legítimo e que buscam afectar ou subverter uma certa
forma de ordem estabelecida.” Sousa (2005: p. 191)

Com base as várias teorias já revistas, numa tentativa de contribuir para a


unanimidade do conceito de terrorismo, podemos veementemente confirmar que este
último envolve o uso da violência para atingir um determinado fim político,
independemente do agente que o pratica. Cremos que o foco deve permanecer na
finalidade do acto e não naquele que o executa, pois, é neste ponto onde há maior
divergência entre académicos.
Raúl Martins (2010: p. 10) define toda acção terrorista como sendo um “ (...) acto
que pode ser praticado, ou de forma sistemática, ou esporadicamente, por qualquer
agente, político ou não, quando no uso da violência.”.

7
1.1.3 Conceito de Religião

Avançando, não podiamos abordar um tema ligado à uma determinada religião


sem antes apresentarmos um conceito de religião.
“Conjunto de crenças que liga o homem a uma ordem superior por intermédio de
práticas rituais.” (Sousa, 2005: p. 162)
Nas Relações Internacionais, a religião é um elemento bastante influente sendo
que pode estar no centro de certos antagonismos, ou então, servir de instrumento de
restituição de paz. (Sousa, 2005)
Em sua abordagem sobre a influência da religião nas Relações Internacionais,
Delfino (2010) iluminou a importância das religiões para muitos. Para este autor (2010),
a religião permite afirmar valores e crenças de tal forma que mobiliza e legitima a acção
daqueles que o praticam.
Simplificando, Delfino (2010) sugere que a religião dota da capacidade de definir
uma conduta de vivência e que toda acção feita em nome da religião torna-se
automaticamente válida. Daí que, Delfino (2010) realçou a importância de estudar sobre
o fundamentalismo religioso considerando em especial atenção o início deste século,
uma vez que,

“(...) a religião como força capaz de instituir ideais de compreensão do mundo na


sua totalidade é instrumentalizada para a organização da ação material sem a
possibilidade do dialogo entre as partes envolvidas. O principio da diplomacia e
da negociação não são reconhecidos, e a visão de mundo instituída através do
texto considerado sagrado pela tradição religiosa é que prevalece.” (Delfino,
2010: p. 02)

Continuando, das várias religiões conhecidas no mundo, a religião islâmica é uma


das que se encontra em constante destaque. Nos próximos capítulos abordaremos sobre
isto e as suas razões.

8
1.2 Conceptualização do Islão

Desmitificando, o islão é a terceira religião no mundo que assenta a sua fé na


existência de um só Deus. Este, denominado Allah. Até ao presente momento, é a última
deste grupo de religiões monoteístas a ser fundada depois do judaísmo e cristianismo.
Diferente destas duas religiões que são materializadas por livros sagrados tratados
por Bíblia (para os cristãos) e Tanakh (para os judeus), os crentes islâmicos orientam--
se com um livro sagrado que de acordo com o Centro Apologético Cristão de Pesquisas
– C.A.C.P – (2009: p. 52), tal livro tem a denominação de Alcorão, e “trata de quatro
temas fundamentais: as crenças da fé; os cultos; a moralidade; as relações sociais entre
os homens.”
Para enriquecer a nossa percepção sobre esta religião, Glaab (2011: p. 01)
esclarece que a palavra traduzida para português – Islã – provém do árabe Islam e
significa submissão. O professor continua e explica que Islam é descrito como um estilo
de vida para o povo árabe e interliga-se etimologicamente com outras palavras que
significam essencialmente “paz”, tais sendo Salaam e Shalam.
Estas precisas afirmações, são também corroboradas pela Dra. Hanini em sua tese
sobre o Shariah (2007), que também apresentou claramente os pilares fundamentais da
religião em estudo. A autora apresentou-os dividindo estes em cinco artigos essenciais
que compõem o modo de vida islâmico, tais sendo em sua ordem de importância:

1) Shahadah;

2) Salat;

3) Siyam ou Saum;

4) Zakat;

5) Hajj;

9
O Shahadah é na visão desta autora o mais importante entre os outros pilares, pois,
centra-se puramente na adoração de Allah e que não há outro acto de tamanha
relevância comparativamente à este. Afinal, é de recordar que a essência desta religião
é a submissão aos ensinamentos de Deus. “A falta deste pilar implica na invalidez de
todos os demais atos de adoração, por este motivo tem caráter fundamental.”(HANINI,
2007: p. 75).
O Shahadah, é portanto, o Testemunho de Fé; o reconhecimento que Allah é a única
entidade celestial à quem se deve adorar; o testemunho e aceitação de que Allah é de
facto, o seu Deus e ainda, que Mohammed foi escolhido por Allah para servir como o Seu
último mensageiro e profeta da religião.
A seguir o Shahadah, temos a Salat. Em entrevista com um crente ávido que preferiu
que a sua identidade não fosse revelada (doravante tratado por Entrevistado X)
(comunicação pessoal, 13 de Maio de 2017), este definiu o Salat como sendo uma
sequência de orações obedecendo alguns rituais e algumas normas de forma rigorosa.
Para complementar, Hanini (2007) diz-nos que esta oração deve ser um momento de
reflexão e auto-purificação da alma e deve ser feito em três (3) momentos distintos:

1) Diariamente;

2) Ocasionalmente;

3) Voluntariamente;

As orações diárias devem ser feitas pelo menos cinco vezes durante as 24 horas do
dia. Caleb Mubarak (2014) menciona os horários que devem ser feitas estas mesmas
orações e afirma que devem ser feitas em direcção à Meca (por ser o local de nascimento
do profeta Mohammed) após o processo de ablução feito pelo próprio crente.
“Os horários das orações devem seguir o seguinte critério: antes do amanhecer, ao
meio-dia (não necessariamente às 12 horas), antes do entardecer, depois do entardecer
e à noite.” (Mubarak, 2014: p. 27).

10
Avançando, o terceiro pilar – Siyam ou Saum – corresponde ao período de purificação
do corpo e fortalecimento da alma e da fé por intermédio da abstenção de consumir
alimentos, bebidas e/ou bens materiais em geral, incluindo fumar ou relações sexuais se
for o caso. Em suma, é um periodo de jejúm obrigatório que se realiza no nono (9º) mês
do calendário islâmico durante trinta (30) dias. Este evento é conhecido como sendo o
Ramadão.
De adiantar que o calendário islâmico é muito diferente do calendário cristão que se
baseia nas 365 ou 366 rotações da Terra à volta do Sol para completar um (1) ano. Ao
invés, o calendário islâmico acompanha as fases da Lua, que de acordo com Trivedi
(2016), o calendário lunar conta igualmente com doze (12) meses, mas, cada mês
alternando entre 30 e 29 dias, ao contrário do solar que alterna entre 31 e 30 dias.
Significando que o ano islâmico tem sensivelmente 11 dias à menos em relação ao
calendário solar, daí que, enquanto a civilização gregoriana se encontra no ano 2017, os
muçulmanos estão no ano 1439.
Retomando, Hanini (2007: p. 82) informa-nos que o jejum é obrigatório somente
àqueles muçulmanos que já tivera atingido a puberdade e que esteja mental e fisicamente
equilibrado, mas, como toda regra, há excepções:
Os que padecem de alguma enfermidade, os que viajam mais de 84 quilómetros, a
mulher gestante ou em período de menstruação e o idoso fisicamente incapaz e
incuravelmente doente.
Com excepção ao último, todos os supracitados deverão compensar pelos dias que
ficaram impossibilitados de jejuar ou, se mesmo assim não conseguirem por alguma
razão fora do seu controle, devem ajudar o mais necessitado com uma refeição ou o valor
monetário equivalente, que de acordo com o Entrevistado X (comunicação pessoal, 13
de Maio de 2017), pode ser feito para qualquer pessoa independentemente de sua
crença, ou seja, o muçulmano pode ajudar qualquer indivíduo desde que este não tenha
condições de autosubsistência.
A autora continua e diz que o jejum não é feito com o objectivo de fazer o muçulmano
passar fome ou impôr-lhe dificuldades. Pelo contrário, ela justifica dizendo que

“O ato de ficarmos com fome e com sede não é, em si, adoração, mas um meio
para realizarmos a verdadeira adoração. A verdadeira adoração significa desistir
11
de violar a Lei de Deus, por temor e amor a Ele, buscando realizar atividades que
O agradem, e refreando-se quanto às que não O agradam, caso contrário, o jejum
não passará de uma inconveniência desnecessária ao nosso estômago.” (Hanini,
2007: p. 84)

Este ano de 2017, o Ramadão teve o seu início no dia 26 de Maio, aquando da
fase da Lua Crescente e terá o seu término no dia 26 de Junho do corrente ano. No final
deste sagrado período, para que o propósito de jejuar seja aceite, é necessário fazer
algum acto de caridade, o que nos leva ao quarto pilar denominado Zakat.
O quarto pilar da religião islâmica é em sua essência um acto de caridade que
consiste fundamentalmente numa ajuda social, cujo objectivo é de garantir a
sobrevivência da comunidade islâmica e ajudar os mais carenciados independentemente
de sua religião.
Desta feita, trata-se de um dever social em forma de imposto incutido aos
muçulmanos de acordo com suas condições financeiras, que deve ser pago uma vez por
ano. (Hanini, 2007)
Nas palavras de Mohammed El Fasi - editor do Comitê Científico Internacional da
UNESCO - a Zakat é

“…uma obrigação social da maior importância. Trata-se da esmola obrigatória


(…), consistente para uma pessoa a dar aos pobres e a uma determinada
categoria de necessitados uma parte dos bens que permaneceram com ela
durante todo um ano. Esta porção varia entre 2,5% e 10%. A zakāt, sublinhando
a importância da caridade, era igualmente necessária nos primeiros tempos do
Islã com o objetivo de permitir a sobrevivência da comunidade, em grande parte
composta de imigrantes pobres, desprovidos de qualquer recurso. Ela era
coletada pela comunidade islâmica (umma), em seguida repartida entre as
categorias de indivíduos indicadas pelo Corão. Ela representava o equivalente
da atual cobertura social garantida pelo Estado.” (Fasi, 2010: p. 47)

Por último, o quinto pilar é o Hajj. Traduzindo este termo literalmente do árabe,
significa “peregrinação”, referindo-se à uma missão sagrada de visitar pelo menos uma
vez na vida a cidade mais sagrada da religião – Meca, Arábia Saudita.
Apesar da sua obrigatoriedade, El Fasi (2014) diz que esta missão deve ser
apenas cumprida por aqueles já tenham atingido à puberdade, gozam de plenas
faculdades mentais e físicas e que tenham os meios financeiros legalmente adquiridos
para realizá-lo.

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Na visão de Mubarak (2014: p. 31), “a data do Al Hajj coincide exatamente com
dois meses e dez dias depois do Ramadã (…). Al Hajj começa e termina na Ka’aba: (…)
um enorme edifício cúbico de granito com o nome Allah bordado em ouro.”
Apesar destes serem os Cinco (5) Pilares fundamentais do islão, há um debate
activo sobre a inclusão de um sexto pilar muito paradigmático e que procura moldar o
mundo tal como hoje a conhecemos. Tal sexto pilar é o que o mundo conhece hoje como
sendo o exercício do jihad.
O C.A.C.P admite esta inclusão, justificando que este pilar contribui
significativamente para a divulgação do Islão (2009). Esta opinião chega a ser válida
considerando que é com este “pilar” que o islão procura atingir uma reforma mundial que
consiste na criação de uma comunidade islâmica unificada (Ummah), sob governação da
Sharia.
Costa (2012: p.175) apud. Firestone (1999: p.16) diz que, o jihad na sua essência
significa “… esforço, superação, luta, estando conotada com um objetivo digno. (…) pode
expressar uma luta contra as inclinações maléficas (…) ou um esforço por amor ao Islão
e à comunidade islâmica”.
Ora, o conceito traz consigo uma multiplicidade de idéias uma vez que não tem
directrizes específicas sobre a sua forma de actuar, mas para esclarecer melhor, o
Entrevistado X (comunicação pessoal, 13 de Maio de 2017) diz que o jihad clássico é
nada menos do que uma obrigação de cada muçulmano em impôr os ideais da sua
religião sempre que o Alcorão prevê uma situação em que seja necessário a imposição
do jihad.
É importante salientar que esta “luta” ou “esforço” pela religião pode ser interna
(intrínseca ao muçulmano que busca uma vida virtuosa) ou externa (para garantir a
sobrevivência e expansão dos ideiais islâmicos).
Costa (2012) diz que o conceito de jihad tem sofrido mutações ao longo da história,
de acordo com as circunstâncias sócio-políticas do mundo. Actualmente, nota-se que o
jihad é vulgarmente radicalizado pelos ataques terroristas que assolam várias regiões do
mundo e vem ganhando assim um novo significado, e já prevendo isto, Dias (1940)
afirmou que o mesmo trata-se de um “extermínio implacável dos adversários”, já que será
invocada aos “infiéis” uma “guerra santa”.
13
Com a falta de clarificação nos objectivos deste pilar auxiliar, aliado aos objectivos
políticos dos extremistas, pensa-se que a religião islâmica está intimamente ligado à
imposição do terror em várias regiões do mundo. Pensamento este que deve ser
repudiado uma vez que a religião em si tem um cariz pacífico e que não são apenas os
islamistas radicais que aterrorizam o mundo para satisfações das suas ambições
políticas.
Nas palavras do Sheik Taleb Al-Khazraji (2004: p.09) “(…) o Islam estimula a
prática do bem e o afastamento do mal, confirmando a excelente moral e a orientação da
sociedade humana, a instituição da justiça e do direito e a resistência à opressão e à
corrupção.”.
Ainda assim, devemos reconhecer que os grupos terroristas que mais aclamam
vidas, professam esta religião embora manipulando a sua interpretação de formas a
justificar as suas horrendas acções. Com isto, a população comum que não dota deste
conhecimento automaticamente associa a religião dos muçulmanos como sendo a
religião dos terroristas, por mais que existam outros grupos radicais que não são
muçulmanos.
Esta manipulação da religião é usada para atrair novos jihadistas em várias partes
do mundo, ainda mais com o surgimento e evolução das chamadas Tecnologias de
Informação e Comunicação – T.I.C – que facilitam a transmissão de uma dada informação
em tempo relativamente curto, mas, abordaremos mais sobre este assunto à posterior.
Resumindo, podemos veementemente afirmar que o Islão é uma religião
monoteísta cujos seus crentes submetem-se às vontades de Allah, sendo estas descritas
no livro sagrado denominado Alcorão e se baseia no cumprimento de cinco (5) pilares
confirmados.

14
1.3 Breve Historial da Fundação do Islão

Para conhecermos como o islão foi fundado, é vital retrocedermos e retraçarmos


os passos desde o nascimento de Mohammed até ao preciso momento em que este
proclamou-se como sendo o grande e único profeta do islão.
Em vários textos sobre a religião muçulmana, inevitavelmente encontraremos o
nome do profeta embora escrito de múltiplas formas. Neste sentido, é importante lembrar
que apesar desta multiplicidade, todas as formas referem-se à mesma pessoa.
De acordo com Mubarak (2014), Mohammed, Muhammad ou Maomé nasceu no
dia 08 de Junho do ano 570 d.C na cidade de Meca, localizada aproximadamente à 200
Km leste da cidade capital do Reino da Arábia Saudita – Riad – à oeste do Mar Vermelho.
Nesta altura, não existia a tal ideia de convivência em sociedade enquanto Estado
formalmente constituído. Portanto, o que conhecemos hoje como sendo o Reino da
Arábia Saudita não existia, ainda assim, era uma região multicultural proliferada por
várias tribos que, como resultado das condições climáticas (região desértica), foram
forçadas a desenvolverem um certo estilo de vida virado para as trocas comerciais que
eram realizadas entre povos de diferentes nações, pois, apesar do clima, a região era
abundante em muitos recursos.
Dentre estas tribos, destacavam-se os Coraixitas, sendo Mohammed filho de
membros desta tribo. (Richardson, 2013).
De acordo com vários estudiosos, dos quais, destaco o Dr. Baig (S/D) e a Dra.
Azzam (S/D), Mohammed nasceu de uma família nobre por causa do estilo de vida
supracitada. O seu pai de nome ‘Abd Allah, enquanto regressava de uma troca comercial,
adoeceu e acabou por falecer semanas antes do seu nascimento.
Aos cinco (5) ou seis (6) anos de idade, Mohammed também perdeu sua mãe
Aminah por razões de doença e ficou ao cuidado de seu avó paterno conhecido como
sendo ‘Abd al-Muttalib.
Seu avó muito lhe estimava, até porque, foi o avó quem atribuiu o nome de
Mohammed, que numa tradução livre significa “o abençoado”. Quando ‘Abd al-Muttalib
adoece dois (2) anos depois de Aminah ter falecida, de acordo com Azzam (S/D), este

15
ordena ao seu filho Abu Talib (tio de Mohammed) para adoptar Mohammed após o seu
passamento físico.
Para a tribo Coraixita, Abu Talib – seu tio – era tido como um senhor mui influente
e poderoso e para o futuro profeta, desempenhou um papel do tipo paterno e daí, foi uma
figura benevolente.
Na visão de Shirazi (2006), Mohammed, já na idade adulta, sendo coraixita optou
por seguir o estilo de vida dos homens da sua tribo e tornou-se um comerciante tal como
os outros, onde então, com os seus ricos atributos e qualidades destacou-se
rapidamente, de tal maneira que acabou por chamar a atenção de uma das mulheres
mais nobres da tribo chamada Khadijah que não tão tarde depois confiou-lhe todo o seu
negócio.

“Uma das maiores caravanas de camelos pertencia à mais rica e mais poderosa
mulher de Meca, uma senhora chamada Khadija. A história islâmica diz que,
quando ela viu o carácter honesto e fiel de Maomé, o contratou para conduzir
uma caravana até à Síria. No seu regresso, os produtos foram vendidos pelo
dobro do investimento feito, o que deixou Khadija impressionada. Embora ela
tivesse mais de quarenta anos, fosse divorciada por quatro vezes e tivesse filhos,
ofereceu-se em casamento a Maomé, então com vinte e cinco anos de idade.”
(Gabriel, 2006: p.30)

Aos olhos dos membros da tribo, Mohammed mostrava-se ser uma pessoa
honesta, respeitosa e sobretudo dedicada. Qualidades estas que eventualmente
acabaram por conquistar o amor de Khadijah. Em 595 d.C, aos vinte e cinco (25) anos
de idade, casou-se com esta mesma mulher e juntos tiveram seis (6) filhos durante toda
a sua vida.
“Com os negócios em andamento, Mohammed começou uma busca espiritual
mais intensa, algo já semeado por seu avô e pelo contacto com outros religiosos – e
houve então, uma intensa inclinação ao jejum e à oração no Monte Hira, na Arábia
Saudita” (Mubarak, 2014: p.10).
A história diz-nos que foi na caverna deste monte onde um simples homem de
quarenta (40) anos de idade com uma vocação alargada, foi transformado em alguém
que seria o profeta de uma das religiões com mais aderência no mundo, graças à uma
mensagem que lhe foi transmitida pelo anjo Gabriel.

16
Como expressa o Ph.D Mark Gabriel (2006: p.33), “Maomé estivera a meditar
durante o santo mês do Ramadão na Caverna de Hira quando, como afirmou mais tarde,
"a verdade desceu sobre ele".”
Logo após esta revelação, Mohammed sem entender o que tivera acontecido,
relatou esta transcendental experiência à sua esposa que desde logo mostrou o seu
apoiou e encorajou Mohammed a atender este chamamento sagrado e abraçar a causa
de Allah, tornando-se assim na primeira pessoa convertida por Mohammed para
submeter-se à esta nova religião chamada Islam.
Tais revelações são descritas por Mubarak (2014) como sendo as revelações que
foram escritas e compiladas, para que se formasse a primeira parte do Alcorão. Assim,
no ano 610 d.C, começou-se a formar a religião e Mohammed proclamou-se seu profeta.
Hadrat Ahmad (2013) diz-nos que, Khadijah contou ao seu primo que professava
a religião católica e foi este indivíduo de nome Waraqa bin Naufal que esclareceu ao
profeta que ele, foi abordado pelo anjo Gabriel e não um jinn – “palavra persa que significa
espírito, associada a demônios (…)”. (Mubarak, 2014: p.10)
“Having said this, Khadija took the Prophet to her cousin, Waraqa bin Naufal, a
Christian. When he heard the account Waraqa said: "The angel who descended on
Moses, I am sure, has descended on you".” (Ahmad, 2013: p.11)
A seguir aos membros da família e amigos, foram se convertendo pessoas sem
qualquer relacionamento à Mohammed, mas, que acreditavam nas suas revelações.
Richardson (2013: p.14) afirmava que nesta fase inicial, suas pregações não criara
problemas para a sua comunidade, pelo contrário, “(…) os coraixitas eram muito
tolerantes com as distintas religiões, pois deste modo ganhavam dinheiro. Portanto, era
algo bom se a nova religião de Maomé atraísse mais gente ao culto.”.
Passado algum tempo, Mohammed passou a pregar com um tom mais assertivo
de modos a expandir a sua religião e afirmá-la como sendo correcta. Neste processo,
Mohammed insultava as demais crenças com convicção de que estas eram “falsas”.

“Ele ria das outras religiões e ridicularizava seus deuses. E o pior para os
coraixitas era o fato de que Maomé afirmava que como os antepassados deles
não eram muçulmanos, eles ardiam no inferno. Esta ideia era intolerável para os
coraixitas que consideravam que os antepassados eram sagrados. Eles pediram

17
que parasse com isso e voltasse a promover sua religião sem causar dano a
deles.” (Richardson, 2013: p.14)

Richardson (2013) afirma que os Coroaixitas tentaram ser razoáveis com o


profeta, fazendo ofertas e propostas de liderança e em troca, este, teria de cessar toda a
pregação e sua actividade para expandir a sua religião, mas Mohammed recusa,
justificando que não poderia interromper a sua missão, pois, sentia-se obrigado a fazer
cumprir a palavra de Deus.
Shirazi (2006) acrescenta e diz que os decanos do Coraich enviaram o tio do
Profeta, Abu Talib, para tentar convencê-lo a interromper o seu chamado a essa nova
religião, mas claro, esta tentativa falhara tal como falharam as passadas.
Seguido três (3) anos depois, Abu Talib e Khadijah falecem num intervalo de dois
(2) meses, ambos por motivos de doença. Estando desprotegido do corpo governativo
dos Coroaixitas e também em luto pelo falecimento de sua única mulher, Mohammed
migra para Medina e de acordo com Najeebabadi (1922) começa daí a verdadeira
expansão do Islão.

18
CAPÍTULO II – A EXPANSÃO MUNDIAL DO ISLÃO

2.1 De Mecca para o Mundo

De acordo com os factos observados, a história da expansão islâmica teve o seu


início a quando da saída de Mohammed da sua cidade natal – Mecca – provocada por
um intenso clima hóstil de rejeição e subsequente perseguição dos seguidores do Islão.
Esta jornada com certeza angustiante, não foi feita isoladamente. Ahmad (2013)
afirma que este movimento migratório fez-se em companhia de vários seguidores do
profeta, que juntos partiram com o objectivo de instalarem-se em Medina por ser uma
cidade aberta à esta religião.
De acordo com Shirazi (2006), esta cidade situa-se cerca de quatrocentos
quilómetros (400 Km) do local de partida, onde então, Azzam (S/D) confirmou que os
migrantes completaram a sua viagem na segunda-feira, no dia 27 de Setembro do ano
622 d.C. e foram graciosamente recebidos pela população nativa.
É importante recordar que esta região da Arábia Saudita não era um Estado
formalmente proclamado, e que era uma região habitada por várias tribos cujas
manifestações de teor religioso não eram homogêneas, porém, com alto nível de rigor e
dedicação à sua sagrada missão de promover a religião,

“(…) o Mensageiro de Allah fez nascer paz e harmonia entre as diferentes tribos
e grupos rivais e antagônicos da cidade e de suas redondezas, sendo que antes
de sua chegada a ganância, a inimizade e as guerras prevaleciam entre os seus
habitantes. Num curto período de tempo, o Profeta conseguiu plantar a semente
da concórdia em seus corações de modo tal que eles passaram a dividir tudo
aquilo que eles tinham entre si e também com os muçulmanos imigrantes de
Meca, a despeito da pobreza deles.” (Shirazi, 2006: p. 23)

Desta feita, nasceu nesta cidade a primeira comunidade muçulmana, que mais
tarde, viria a ser um Estado. A cidade anteriormente conhecida como Yathrib, passou a
ser conhecida como al-Medina. Nome este, que Azzam (S/D: p.44) tomou a liberdade de
informar-nos que este termo proveniente do dialecto árabe, significa literalmente, “A
Cidade”.

19
No entanto, o líder do seu antigo povo (os Coroaixitas) sentindo-se ameaçado com
o rápido crescimento do número de convertidos que também prometiam defender o Islão
com o recurso à força, decidiu celebrar um acordo com o líder do povo muçulmano –
Mohammed – a fim de cerrar o conflito e promover a convivência pacífica entre estas
duas entidades. Este acordo passou a ser denominado “Tratado de Hudaibiyah”.
(Najeebabadi, 1922).
Tal acordo foi assinado em Março de 628 d.C. na cidade de al-Hudaibiyah e
citando Aminuddin Mohamad (1989: p. 290), “(…) a duração do período do acordo de
paz é de dez anos, durante o qual não haverá guerra nenhuma; durante este tempo cada
parte estará segura, e nenhuma interferirá na vida e propriedade de outra.”.
Após a assinatura do acordo e a troca das cópias assinadas, os seguidores do
profeta manifestaram as suas reservas em relação ao acordo, uma vez que as cláusulas
lá contidas aparentavam beneficiar mais os Coroaixitas, ao invés de estabelecer um
meio-termo que agradasse ambas as partes. (Najeebabadi, 1922)
Mohamad (1989) esclareceu esta afirmação mostrando como o profeta
Mohammad atentamente observou além do que estava redigido no tratado e teve uma
visão à longo prazo sobre os benefícios de comprometer-se com os termos estabelecidos
pelos Coroaixitas. O autor descreve este tratado como sendo uma “vitória clara” para os
muçulmanos.

“A grande vitória para o Islam foi o fim do estado de guerra, o estabelecimento


de paz e segurança e o reconhecimento da parte dos descrentes do Estado
Islâmico. Porque não é possível a criação dum clima propício à expansão rápida
do Islam estando em estado de guerra. (…) Depois do tratado de paz de
Hudaibiya, e num período de dois anos, o número dos muçulmanos duplicou. Até
esta data, os crentes e os descrentes não conviviam. Agora, após a assinatura
do acordo de paz, os descrentes já vinham livremente a Madina, ficavam lá
meses e misturavam-se com os muçulmanos e, nas conversas entre eles,
abordavam-se temas do islamismo, e viam como os muçulmanos praticavam o
Islam na plenitude e com sincera pregação nos seus afazeres do quotidiano. A
sua piedade, a moral e outras práticas eram qualidades que os descrentes
admiravam e pelas quais os historiadores afirmam que depois do tratado de paz
até à conquista pacífica de Macca o número das pessoas que abraçou o
islamismo foi tão grande que antes disso e em tão curto espaço de tempo nunca
uma conversão igual havia acontecido. Khalid Bin Walid, o conhecido general dos
coraixitas, e Amr Ibn Al-Aass (conquistador do Egito) foram de entre as pessoas
mais notáveis que se converteram neste mesmo período.” (Mohamad, 1989: p.
292)
20
Agora, com a passagem livre de qualquer impedimento, de Medina para Mecca e
vice-versa, assistiu-se de facto um aumento significativo de convertidos, de tal maneira
que em 629 d.C. os líderes da cidade de Mecca, temendo alguma ocupação violenta,
viram-se forçados à “(…) entregarem-na a Maomé, que a ocupou praticamente sem
resistência (…).” (Hourani, 1991: p. 21).
Na medida em que o tempo foi avançando, o Islão foi ganhando cada vez mais
popularidade na região da Arábia e assim continuou até a morte do seu profeta
Mohammad em 632 d.C vítima de uma enfermidade.
Em relação aos métodos que impulsionaram o alargamento da abrangência desta
extraordinária religião, em muitos textos escritos por reconhecidos historiadores,
encontraremos meras acusações de que esta expansão foi feita pela espada e não foi
portanto uma conversão pacífica.
Porém, muitos tal como Hanini (2007: p.48) baseiam-se no Alcorão e apresentam
provas concretas de que “(…) não é do intuito da Shariah, impor a religião islâmica, nem
oprimir os cidadãos que não praticam a mesma religião, mas sim garantir a todos uma
justa igualdade, conforme a revelação sagrada(…)”. Assim, um pode concluir que para
além de muitos outros factores, o Islão não discrimina o ser humano e tolera outras
religiões.
Baseando-se nas obras de dois escritores que dedicaram parte de suas vidas para
divulgarem informações ricas sobre o Islão - William Ochsenwald e Hugh Kennedy – Firas
Alkhaleeb (2012) afirma que,

“Whether the citizens of the conquered lands were Christian, Jew, Sabians, or
Zoroastrians, they were allowed to keep their religious traditions. There exists not
one example of forced conversion in these early conquests. (…) Proof of the lack
of forced conversion in these areas is the remaining Christian communities in
these countries. For the first few centuries after the Muslim conquest, the majority
of the population of these areas remained Christian. Slowly, they began to take
on Islam as their religion and Arabic as their language. (…) The warfare was
always carried out only against the governments and armies that the Muslims
were at war with. The local citizens were left alone.” (Alkhaleeb, 2012)

Traduzindo livremente a sua ideia, após as batalhas, os cidadãos de maneira


nenhuma foram coagidos à abdicarem de sua fé e aceitar o Islão como sendo a sua

21
religião, pelo contrário, tais cidadãos foram deixados em paz e ao longo do tempo foram
se convertendo e tornando a língua árabe a sua língua oficial.
Por outro lado, Hanini (2007), citando mais uma vez o Alcorão, diz que Islam
significa submeter-se voluntariamente à Deus, e uma vez submetido, deve a obediência
à Sua Lei (Shariah).
Nota-se que estamos diante de um paradoxo e conflito de afirmações envolvendo
os métodos usados para a expansão do islão, mas, compreende-se que devemos
separar tais afirmações precisamente em duas fases: a primeira em que o profeta ainda
encontrava-se em vida, e a segunda, após a sua morte.
Afirmações com a mesma linha de raciocínio de Hanini (2007) e Alkhaleeb (2012)
referem-se ao primeiro período em que o profeta ainda estava em vida, pois, até a
presente data (2017), não há provas concretas de que este atacou os reinos que os
conquistou. Pelo contrário, existem relatos que dão conta que o profeta apenas invocou
a força quando fora ameaçado pelos reinos que declaravam-se ser inimigos do Islão.
Daí que, devemos afirmar que as primeiras conquistas foram pacíficas. As
conquistas feitas após a vida de Mohammad é que serão discutidas a posterior, mas,
podemos adiantar que teve uma postura hostil.
Logo após à morte do profeta Mohammad, considerando que este não tivera
indicado um sucessor no caso de seu passamento físico, nem tomado qualquer tipo de
providência sobre como nomear um, de acordo com os discentes do Curso de Relações
Internacionais da UNESP – Lairia, Silva e Ribeiro – a comunidade islâmica chegou a um
consenso de que seria vital criar um sistema de califados, “que consistiria em uma
sucessão do governo maometano com um novo sistema de governo.” (2015: p.01).
Os autores continuam e procuram descrever o que significa ser um califa, que em
seus termos, “(…) seria literalmente um sucessor do profeta como chefe da nação e líder
político, religioso e militar da comunidade muçulmana, com poder para aplicar a Lei
Islâmica (Sharia).” (Lairia, Silva e Ribeiro, 2015: p.01).
Idealmente seria um sistema político semelhante à uma república. Uma vez
quetoda república tem um presidente ou uma outra entidade que exerce cargo político
mais alto, como por exemplo, o Rei, Primeiro-Ministro, Sheikh, Imperador ou tal como
existe em algumas realidades africanas, o Soba, então num sistema de califado, existe
22
uma entidade designada por califa, que tal como o nome do profeta islâmico, poderá
encontrar variações quanto à sua forma ortográfica.
Seyyed Nasr (2003) em sua obra que para muitos é digno de louvor, diz que a
maioria da comunidade islâmica (maioritariamente sunitas) indicou Abu Bakr como sendo
a pessoa que assumiria as rédeas para dar continuidade ao legado da política
expansionista do profeta e proteger a religião islâmica.
Ainda sobre o autor, esta foi, portanto, a primeira ruptura entre Sunitas e Xiitas,
uma vez que este último preferia que o sucessor de Mohammad fosse um descendente
masculino com a maior idade e dado que o profeta não tinha um descendente masculino
directo, indicaram seu primo de nome Ali, que mais tarde viria a ser o quarto califa.
“Depois de Maomé seguiu-se uma fase importante da história do Islão. Os califatos
de Abu Bakr (632-634), de Ornar (634-644), de Othmân (644-656), e de Ali (656-661)
representaram uma era de notável expansionismo da nova religião.” (Rodrigues, 1980:
p.11).
De facto, muitos grandes conhecedores da matéria sobre o Islão partilham a
mesma ideia do professor universitário Manuel Augusto Rodrigues (1980). Fala-se no uso
da força para conquistar a Síria, a Pérsia (Irão) e Egipto para além de outras áreas ao
redor, chegando até a Espanha e Portugal.

“Após sua morte, os califas (…) utilizaram-se das guerras, admitidas no Alcorão
na propagação do Islamismo (guerras santas), para unificar a península Arábica
e iniciar uma expansão que, no final da Idade Média, envolvia a península Ibérica,
o norte da África e o Oriente Médio. Através das conquistas no norte da África,
ocorreu um aumento enorme da extensão do Império, bem como uma verdadeira
revolução na máquina de guerra islâmica, visto que os berberes (povo do norte
da África, da região da Numídia) se converteram ao Islamismo e tomaram para
si a responsabilidade de invadir a Espanha visigótica.” (Coggiola, 2007: p.07).

O autor continua e diz que,

“Foi após a morte do profeta, em 632, que a Arábia foi unificada. A partir desta
união, foi iniciada a expansão do império árabe. Os seguidores do Alcorão
acreditavam que deveriam expandir o islamismo através da Guerra Santa. Firmes
nesta crença, eles expandiram sua religião ao Iêmen, Pérsia, Síria, Omã, Egito e
Palestina. Em 711, dominaram grande parte da península Ibérica, espalhando
sua cultura pela região da Espanha e Portugal. Em 732, foram vencidos pelos
francos, que barraram a expansão deste povo pelo norte da Europa. Aos poucos,

23
novas dinastias foram surgindo e o império foi perdendo grande parte de seu
poder e força.” (Coggiola, 2007: p.07).

Apesar deste abrandamento no que diz respeito à expansão do Islão, a religião


permaneceu firme pelo menos em algumas regiões que foram conquistadas na península
arábica, até que, em pleno início do século XIV, o muçulmano Osman I fundou o que
seria então o maior império na história da humanidade – o Império Otomano – e é
importante abordar sobre este império uma vez que teve o Islão no seu núcleo. (Quataert,
2005)
Após longas consultas nas obras de vários pensadores conceituados, torna-se
claro que há um consenso de que o poderio militar deste império permitiu-lhe conquistar
vastas áreas no continente asiático, africano e europeu.
Dentre as várias obras, destaca-se a de Demétrio Magnoli (2006: p.150) onde o
especialista em Relações Internacionais aclama que, “a extensão de suas conquistas (…)
representava mais de quatro vezes o império de Alexandre Magno e o dobro do Império
Romano.”.

“These dominions stretched from the Arabian peninsula and the cataracts of the
Nile in the south, to Basra near the Persian Gulf and the Iranian plateau in the
east, along the North African coast nearly to Gibraltar in the west, and to the
Ukranian steppe and the walls of Vienna in the north. The period begins with an
Ottoman dot on the map and ends with a world empire and its dominions along
the Black, Aegean, Mediterranean, Caspian, and Red Seas.” (Quataert, 2005:
p.13)

Com o objectivo de iluminar as causas de tamanha extensão do império


relativamente inexperiente em comparação com os demais, Filgueira recorre à Blainey
(2004: p.124) para sustentar a sua afirmação e reflecte-nos a idéia de que

“(…) nos Bálcãs, um dos motivos que tornou possível a expansão turca, foi a
colaboração de muitos camponeses cristãos que, incomodados com os ricos
proprietários de terras para os quais trabalhavam, acolheram os turcos em
silêncio, não só aceitando sua religião como juntando-se a seus exércitos. Assim,
o estado grego sucumbiu, juntamente com a Albânia, de modo que não mais
existiam fissuras no Império europeu dos turco-otomanos. (Filgueira, 2008:
p.254).

24
Ora, para além destes que se convertiam gozando de seu livre arbítrio, o império
também recrutava à força os cristãos que foram subjugados, aliás, em seu próprio artigo,
Filgueira (2008) acusa esta mistura entre livres e janízaros como sendo um dos factores
que muito contribuiu para o sucesso deste império muçulmano nas terras conquistadas.
Os antecedentes históricos nos instrui que a vida como nós a conhecemos sempre
obedeceu a lei de causa-efeito e em simultâneo uma sequência de ciclos. Querendo dizer
que, nada, nunca foi e jamais será ao acaso e também permanentemente estável, tanto
a vida natural, como as próprias concepções humanas.
Tal como dizia o autor novelista Frank Herbert (1969) numa entrevista na California
State College, “There is no real ending. It’s just the place where you stop the story.” e
nesse contexto, o reinado do império de Osman, sem excepção, também foi vítima deste
ciclo e é importante apontar que de maneira nenhuma os eventos que levaram ao seu
desmembramento foram sem fundamento.
Com bastante sucesso, Quataert (2005) aponta que as derrotas militares por parte
do império tiveram o seu marco em 1683 à quando da marcha até Vienna, Áustria.
A esta altura já se notava um avanço significativo na economia dos países
europeus que lhes permitiu investir no sector militar que, por consequente, permitiu
apurar as suas manobras defensivas e ofensivas contra as investidas muçulmanas.
Para além da superioridade bélica por parte dos europeus, Filgueira (2008) insiste
que há outras razões para além da perspectiva militar e económica que garantiram tal
superioridade aos europeus. Para a autora, assistiu-se também uma evolução no sector
cultural, pois, começava-se a pensar na consciência europeia que mais tarde definiu-se
como sendo a “defesa intransigente dos valores nacionais” (Sousa, 2005: p.123) - o
nacionalismo europeu.
Na medida em que o tempo passava, os seus oponentes fortaleciam-se e a
decadência deste outrora grande império persistiu até que a sua existência conheceu o
fim em outubro de 1923, sob contexto de ser o grande derrotado na Primeira Guerra
Mundial, onde então foi assinado o Tratado de Laussane que formalmente pôs um
término ao Império Otomano e proclamou a República da Turquia, mas, com uma
dimensão territorial bastante reduzida. (Ágoston e Masters, 2009).

25
Apesar de ser o fim do império muçulmano, não foi nem de sombras o final da
expansão islâmica, pois, à esta fase os muçulmanos também abraçaram algo que
Ágoston e Masters (2009) chamavam de ottomanismo, que correspondia ser uma forma
de nacionalismo muçulmano com uma visão puramente política.
Além disto, vindo o fim do império arábe, muitos ainda se reviam nesta entidade,
aliás, Quataert (2005) admite que até os seus pais eram ainda muito novos quando o
império desapareceu físicamente da face da Terra. O autor continua e elucida-nos que
muitos cidadãos que possam estar vivos actualmente na própria Turquia, Síria, Líbano e
Iraque, foram batizados pelos seus país com nomes pessoais que de certa forma ainda
os liga à história do império otomano, e daí que, para muitos, este império é um legado.
Desta forma, pode-se livremente concluir que as futuras gerações destes
cidadãos, terão as experiências vividas na era otomana como herança cultural.
Com o final do império otomano, muitos começavam a pensar em como dar
continuidade à propagação do islão. Baseando-se na obra de Efraim Karsh (2013), esta
expansão já não foi feita por monarcas ou sultões. De acordo com Karsh, esta
responsabilidade ficou ao encargo de activistas políticos e ideólogos que considerando a
natureza de suas ideias e seus objectivos, foram conhecidos como sendo “islamistas”.
Com o objectivo de distinguí-los uns dos outros, Karsh afirma que

“For the monarchs, the caliphate meant little more than added legitimization of
their ambitions for a regional empire. They had little interest in the deeper
inculcation of Islam’s precepts in their Muslim subjects, let alone in spreading
Allah’s message beyond the House of Islam. The Islamists, by contrast, modeled
themselves on Islam’s early conquerors, and aspired to nothing less than the
substitution of Allah’s universal empire for the existing international system.”
(KARSH, 2013: p.212)

Aqui, interpretando livremente as palavras de Karsh (2013), para os monarcas, o


califado se traduzia numa legitimidade para instaurar um império muçulmano regional, de
maneiras que satisfaça suas ambições. Já para os islamistas, estes adoptaram e
inspiravam-se nas ideologias dos conquistadores iniciais que buscavam a instauração de
um império universal que submetia-se aos preceitos de Allah.

26
Um destes islamistas empenhou-se nesta causa universal, e de forma bem
sucedida, tornou-se num dos pioneiros cujas acções se traduziram na expansão mundial
do Islão. Trata-se de Hassan al-Banna – fundador da Irmandade Muçulmana. (Karsh,
2013).
Ainda sobre Karsh (2013), al-Banna fundou esta sociedade muçulmana em 1928
na cidade de Cairo, com o fim último de estabelecer um verdadeiro governo islâmico no
Egipto, e seria neste Estado onde começaria tal expansão universal de sua religião –
Islão.
O autor diz-nos que a esta sociedade teve muito êxito em cumprir os seus
objectivos, uma vez que al-Banna foi um orador bastante nato. Fruto desta sua habilidade
de galvanizar, até finais de 1940, reporta-se que havia cerca de duas mil (2,000)
representações em Egipto, com cerca de um milhão (1,000,000) de membros e
simpatizantes, para além das agências foram instaladas na Síria, Jordânia, Iémen, Sudão
e Palestina, claramente tornando esta sociedade no movimento islâmico mais poderoso
do mundo, sem disputa.
De acordo com Karsh (2013), a maior parte dos membros foram estudantes,
professores e civis da classe média que contribuíam com recursos e valores monetários
para fundarem os projectos desta mesma organização e suas instituições educacionais,
seus exércitos, jornais, hospitais e empreendimentos que vocacionavam-se na vertente
comercial, financeira e na área de seguros.
O mesmo autor, realça o carácter de al-Banna como sendo um sujeito radical e
como consequência de suas ambições radicais, Karsh (2013), data a morte de al-Banna
no dia 12 de Fevereiro de 1949, no entanto, não foi necessariamente o final da sua
sociedade e não tardou em ser substituído por outro radical conhecido como sendo um
professor americano que se converteu para ser Sayyid Qutb.
Buscando mais uma vez a literatura de Karsh (2013) e Esposito (2002), as
pregações de al-Banna e Qutb inspiraram as atitudes de muitos pensadores e
organizações radicais que foram se apresentando ao longo da história. Nomes como
Hamas, Hezbollah, Ayatollah Khomeini, Bin Laden, al-Qaeda, ISIL e ISIS agiram de suas
próprias maneiras, mas, têm os dois líderes da Irmandade Muçulmana como modelos de

27
referência de forma directa ou indirecta, mas todos determinados em invocar o jihad com
o mesmo objectivo.
Olhando em retrospectiva, uma religião que teve a sua origem num local de pouca
dimensão, actualmente, num ápice nos apercebemos que embora com uma dinâmica
muito diferente da original, hoje, o seu alcance ultrapassa múltiplas fronteiras,
distanciando-se cada vez mais do seu ponto de origem, resultado de alguns factores à
considerar.

2.2 Factores à Considerar na Expansão Islâmica

Ora, para além dos métodos referidos desde a abertura deste capítulo, em que,
certos indivíduos revestidos de algum poder e preenchidos de motivação levariam o Islão
além fronteiras, julguemos que os avanços no sector da Tecnologia de Informação e
Comunicação (T.I.Cs), e nas redes de transporte internacional, muito contribuíram para
a expansão do islão. Devemos certamente admitir que para além da “espada do islão” e
do factor político-religioso, a tecnologia moderna assumiu uma função divulgadora.
Com esta abertura e facilidade ao acesso à informação, fora os que usam-na para
fins obscuros, existem outros agentes que promovem a pacificidade da religião islâmica
por meio dos canais televisivos, radiofónicas e pela internet que pode ser acessada por
uma gama extensa de dispositivos smart de baixo custo.
Exemplo desta obscuridade, Stern e Berger (2015) afirmam que a promoção do
extremismo por via das redes sociais é desencorajada pela maior parte da população,
porém, cativa a atenção da minoria mais vulnerável e susceptível à radicalização. Dizem
eles que, tanto no Facebook como no Twitter, “(…) era fácil procurar e encontrar uma
conta ou comunidade radical ou extremista, e era ainda mais fácil para os recrutadores
terroristas encontrarem as suas presas na sociedade mainstream” (Stern & Berger, 2015:
p. 169)
Por outro lado, não podemos descartar os movimentos migratórios feitos para as
cidades cosmopolitas, como uma reacção das crescentes crises e tensões político-
militares no Médio Oriente e no norte do continente africano, tal como é demonstrado nos
estudos do fórum sobre a religião e vida pública de Pew Research Center (2011).
28
Além do factor migração, este mesmo centro de pesquisa baseado em Washington
D.C. indica-nos que os altos índices de fertilidade do povo muçulmano é também um dos
muitos factores que muito contribuem para a propagação islâmica à nível do mundo.
Um facto intrigante apresentado por Lipka (2017) é que, cerca de 80% da
população muçulmana encontra-se espalhada pelo mundo, ao invés de estarem
concentrados na região onde primeiro surgiu o islão. No entanto, este simples dado
possibilita-nos ter uma visão minimalista, mas, ainda assim, deve favorecer a
compreensão da extensão deste crescimento e expansão fruto dos factores acima
indicados. E por falar nestes factores, é fundamental reconhecermos a interligação de
cada um deles, uma vez que a expansão desta religião deve-se à estas reacções em
cadeia, e não se atribui à um único evento.
Para concluir este capítulo sobre a expansão do islão no mundo, claramente, não
poderia haver apenas um factor condutor que justificasse o aumento da abrangência
islâmica. A conjunção dos pontos supracitados fizeram com que tal religião fosse
considerada por Lipka (2017) como sendo a segunda maior religião do mundo na
actualidade. No entanto, o autor convictamente defende a ideia de que se as tendências
demográficas mantiverem-se elevadas, prevê-se que até o final deste século, o islão terá
sucedido em ser a maior religião do mundo, estando presente nos seis continentes
habitados pelo Homem.

29
CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO ESTUDO

3.1 O Desenvolvimento Islâmico em Angola

No capítulo anterior, foi apresentado os múltiplos factores que contribuíram para a


expansão do Islão à nível do mundo. Podemos entender que foi o cruzamento desta
religião com o continente africano que possibilitou a sua expansão para outras regiões
do mundo. Querendo dizer que África foi o seu ponto de expansão para os demais
continentes.
Nesta perspectiva, é inegável, a ideia de que o continente africano sempre teve
uma aproximação com o mundo muçulmano, além do simples ponto de vista geográfico.
Criou-se em África, uma longa e profunda relação no âmbito histórico, e dai, de maneira
nenhuma foi difícil a sua inserção, quer em menor ou maior grau, nos restantes países
do continente em referência, incluindo a República de Angola.
Por falta de censos actualizados, desconhece-se o tamanho actual da população
muçulmana no mundo, forçando-nos a recorrer aos estudos especializados mais
recentes, que, muita das vezes trazem-nos valores estatísticos estimados mas, ainda
assim, tornam-se instrumentos úteis na medida em que nos permitem ter luzes sobre a
uma dada realidade.
De acordo com os últimos estudos demográficos publicados pela Pew Research
Center (2011), em 2010, a população muçulmana atingiu um número estimado de
1.619.314.000 fiéis, o que correspondia à 23,4% da população mundial. Dentre este
elevado número, 15% dos muçulmanos encontravam-se na região subsahariana do
continente africano.
Quanto aos que se encontram na República de Angola, o número ainda mais é
incerto em virtude da falta de censos, e enquanto se procurava investigar mais sobre a
matéria, deparamo-nos com a obra do sacerdote diocesano de Benguela – António
Francisco Custódio – que também admitiu encontrar dificuldades para esboçar um valor
estatístico a fim de medir a população muçulmana presente no país em foco. (2015)
Com isto em mente, em entrevista com o Sr. António Kakepo Abu Bakr
(comunicação pessoal, 02 de Agosto de 2017), fundador da Comunidade Angolana dos
30
Crentes Muçulmanos (CACM), o mesmo admitiu que desconhecia a totalidade da referida
população e preferiu nem apontar, sequer, um valor conservador. No entanto, garantiu-
nos que a cada dia que passa, pelo menos um angolano se converte para o islão,
apontando para um crescimento aritmético.
Já o sacerdote Custódio, em sua obra, afirma que ao longo de sua pesquisa “foram
aparecendo várias cifras (…) dadas à estampa pelos próprios muçulmanos em diversos
momentos, algumas mais elevadas, apontando para uma numerosa comunidade de fiéis,
outras mais baixas.” (2015: p.48). Tal cifra variando entre 800 mil e 80 mil muçulmanos,
sendo 10 mil de nacionalidade angolana.
Embora o valor real seja ainda desconhecido, sob um olhar observador na cidade
capital, é certo dizer que visivelmente é um número relativamente considerável, no
entanto, sem algum dado estatístico oficial para validar quaisquer cifras, resta-nos, pelo
menos, retratar a génese desta religião em Angola e compreender como foram os seus
primeiros passos para que hoje seja formada uma comunidade muçulmana em todo
território nacional. Pretendemos esboçar uma passagem histórica de formas a
compreender como se instalou, e ainda, os factores que impulsionaram o seu
desenvolvimento.
Ora, baseando-se na obra literária de Custódio (2015), o Islão começou a fazer-
se presente em Angola, à partir da década de 60 do século XX, aquando o regresso de
vários cidadãos angolanos já convertidos na República do Congo e na República da
Zâmbia. A sua presença era ainda minimalista e assim manteve-se durante algum
período, pois, era apenas o início do que seria então uma longa jornada.
Deste modo, confirma-se que foi à partir da conquista da independência da
proclamada República Popular de Angola, que a sua presença foi aumentando e o
referido autor explica-nos que,

“A partir de 1978, muitos angolanos refugiados na República Democrática do


Congo começam a regressar ao país e entre estes alguns eram já muçulmanos.
Não encontrando em Luanda outros muçulmanos, iniciam as suas orações. O
Miramar foi um dos focos primários de encontro. No entanto, havia grupos
dirigidos por Abdullah Salvador (já falecido), visando constituir uma comunidade.
Aos 7/08/1978 é fundada a primeira organização islâmica, em Luanda,
denominada CISLANG: Comunidade Islâmica de Angola. Agrupava
particularmente os membros ”regressados” dos dois Congos, além de outras
origens, naturalmente.” (Custódio, 2015: p. 24)
31
Apesar deste crescimento no que diz respeito à sua expansão, a comunidade
muçulmana ainda não tivera atingido o seu auge. Ainda recorrendo à obra literária de
Custódio (2015), torna-se claro que a comunidade muçulmana desenvolveu em paralelo
com o desenvolvimento angolano.
Após várias leituras da obra de Custódio (2015), facilmente se compreende que
na medida em que Angola progredia, os seus avanços abriam portas e se traduziam em
oportunidades para que a referida comunidade também evoluísse. Em outras palavras,
significa que o crescimento e desenvolvimento desta comunidade passou por várias
etapas, que passamos em seguida a citar.
Depois da independência da Angola Popular, a etapa que se seguiu compreende
ao ano de 1992. Um ano destacado na história do Estado angolano, uma vez que diz
respeito à entrada de um regime multipartidário e abertura de mercados. Neste mesmo
ano, este Estado africano passou a ser reconhecido como a República de Angola, agora
com uma estrutura que obedece os princípios democráticos.
Com uma economia de mercado, surgiram novas oportunidades à nível
económico. A transição para este tipo de economia atraiu o investimento privado
estrangeiro, que, de acordo com Custódio (2015), dentre os investidores, contava-se a
participação muçulmana e além do crescente movimento imigratório destes para o nosso
território, os nacionais angolanos já convertidos também regressavam à sua terra natal.
A terceira etapa vem logo um ano depois (1993), com a revogação do cessar-fogo
assinado no acordo de Bicesse de 1991, forçando a presença do representante do
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas – Alioune Béye – com os
“capacetes azuis” para mediar o processo de paz. Nas palavras do autor, à partir deste
momento, “(…) o Islão deixa o anonimato e começa a tornar-se visível em Angola. Os
militares da ONU eram quase todos muçulmanos (…)”. (Custódio, 2015: p. 27)
Estas três (3) etapas, foram fundamentais para o crescimento e desenvolvimento
da comunidade muçulmana no país. De certa forma, pode-se dizer que as mesmas três
(3) fases correspondem à “colocação da primeira pedra”.
A etapa que procedeu, teve o início em 2002, e o sucedido neste ano, foi o
“cimento que cobria a primeira pedra”, pois, com o novo cessar-fogo, na visão de
32
Custódio (2015), permitiu com que até 2004 surgissem outras organizações muçulmanas
e que fossem erguidas várias mesquitas.
O foco deixou de ser primariamente a cidade capital – Luanda. Nesta etapa, outras
províncias passaram a receber estruturas muçulmanas, e foi durante este período que a
comunidade muçulmana passou a celebrar a sua expansão para várias pontos do
território angolano.
Actualmente, fruto da diplomacia exercida pelo Governo angolano e da
cooperação em várias áreas de interesse (Custódio, 2015), verificou-se que os
muçulmanos em Angola provêm de diferentes pontos dos hemisférios do mundo. Aliás,
aproveitamos sublinhar que ser muçulmano não é um lifestyle exclusivo ao povo oriundo
do Médio Oriente (árabes). De maneira nenhuma se trata de alguma exclusividade. Tal
como Hanini (2007) nos lembra, todos àqueles que professam o Islão são denominados
“muçulmanos” independentemente do seu grupo étnico.
Voltando para o assunto em foco, Custódio (2015) revela-nos os principais países
de onde emigram os muçulmanos que se encontram em Angola, onde também
encontraremos alguns países onde o Islão não é a religião predominante, observemos:
Mauritânia, Marrocos, Tunísia, Líbia, Egipto, Sudão, Síria, Líbano, Pasquistão, Índia,
Bangladeche, Malásia, Filipinas, China, Brasil, Paraguai, Nigéria, Congo Democrático,
Serra Leoa, Costa do Marfim, Senegal, Gâmbia, Mali, Guiné Conacri e a Bissau,
confirmando que a maior parte dos muçulmanos que se encontram em Angola praticam
a tradição sunna.
Fazendo uma retrospectiva, cá em Angola, o Islão saiu do anonimato e em tão
pouco tempo tem vindo a aumentar a sua notoriedade. Foi possível fazer o levantamento
de um dado muito interessante sobre a futura população desta comunidade. Trata-se de
uma projecção demográfica e é um dado que pode vir a pintar para os leitores desta
monografia, um quadro mais nítida sobre o seu índice de crescimento em solo angolano.
De acordo com os dados apresentados pela Pew Research Center (2011) sobre a
futura população muçulmana em Angola, até ao ano de 2030, projecta-se que esta
comunidade terá atingido 312 mil membros, isto, num espaço temporal de treze (13)
anos. Se, de facto for uma realidade, significa dizer que, por hora a comunidade
muçulmana em Angola conhecera 3 fiéis novos.
33
Custódio (2015), deixa-nos com uma afirmação sobre uma característica típica da
expansão do Islão, e que requer muita atenção, pois, já se frisou nos capítulos anteriores
que o objectivo do Islão é criar uma sociedade global que se submeta ao Allah.
O autor parte das experiências vividas por outros países e relembra-nos que “(…)
quando os muçulmanos são a minoria adoptam uma postura pacífica, apolítica e
conformista até certo ponto. Entretanto, à medida que o número da comunidade vai
crescendo, aumentam as reivindicações.”. (Custódio, 2015: p. 45)
No presente momento – 2017 – em Angola há relatos de que o Islão é uma religião
ilegal em Angola. De facto, Angola é um Estado laico e expressa no seu Artigo 10º da
Constituição da República de Angola (2010), o seu respeito às diferentes confissões
religiosas existentes no seu país, porém, certas condições devem ser reunidas para que
seja cedida tal reconhecimento por parte do Governo.
No último trimestre de 2013, surgiram acusações e relatos de que o governo
angolano tivera proibido o Islão e que o mesmo tomou a liberdade de encerrar e destruir
algumas mesquitas instaladas no seu território. Notícia que teve cobertura do canal
televisivo internacional Al Jazeera (2013) e que suscitou respostas negativas por parte
das organizações muçulmanas residentes no país e da comunidade muçulmana que se
encontra na diáspora.
Situação que foi mal-entendida. De acordo com o noticiário internacional da British
Broadcasting Corporation (2016) – BBC News – facto é que, algumas mesquitas foram
encerradas por falta de documentos oficiais e foram construídas sem as devidas licenças
e autorizações, por tanto, encerrou-se apenas as mesquitas que não foram autorizadas
pelo Estado soberano de Angola.
Em defesa deste mesmo assunto, Custódio cita o Ministro das Relações
Exteriores, dizendo que:

“[…] Não existe uma política do Governo de perseguir uma igreja ou uma religião
e essa foi a interpretação feita pela comunidade islâmica que existe em Angola.
O que aconteceu foi que existem igrejas ou comunidades muçulmanas que
professam a fé em lugares impróprios ou que não estão devidamente
autorizados. […] Muitas seitas ou religiões, entre as quais algumas islâmicas,
começam a funcionar sem concluírem o processo de legalização […] Não se
pode dizer que o Executivo persegue a fé islâmica.” (2015: p. 98)

34
Desta feita, devemos retificar os rumores de que o islão foi banido deste território.
Porém, registamos que das várias reivindicações feitas, destacou-se uma do
Reino Unido, onde um grupo de muçulmanos manifestaram o seu descontentamento
defronte a embaixada da República de Angola na cidade de Londres em 2013. Evento
este que foi registado em formato de vídeo e mais tarde publicado na rede global.
Na verdade, foram abertamente declaradas ameaças ao Estado angolano, e daí,
levantemos algumas questões sobre o cariz destas ameaças e a segurança do Estado
por um lado, e por outro, se o recurso ao terrorismo será uma possibilidade por parte
deste ou de qualquer outro grupo que se revê no tom das ameaças feitas à nação dos
angolanos. Trata-se de um terrorismo praticado pelos islamistas radicais.
Uma pertinente lição que nos é passada por Gonçalves (2011), é preferível o termo
“terrorismo jihadista” para qualificar o tipo de terrorismo praticado por estes indivíduos,
pois, torna-se crucial

“(…) diferenciar e isolar estes extremistas da esmagadora maioria dos crentes


que professam a religião islâmica. Nesse sentido, este tipo de terrorismo tem
interpretado a Jihad como guerra, que tem de ser feita por qualquer islâmico
contra o Ocidente. Porém, Jihad, na sua componente interna, não significa guerra
mas, sim, esforço feito pelo crente para se tornar um muçulmano melhor.”
(Gonçalves, 2011: p. 13)

Gonçalves (2011) alerta-nos que a componente externa da Jihad pode assumir


um carácter guerreiro em determinadas situações como a autodefesa e deve obedecer
alguns limites como mulheres e crianças. De acordo com o mesmo autor (2011), o termo
árabe designado para guerra propriamente dita é Harb, logo, a Jihad praticada pelo
extremistas é falsa e isto é confirmado também pelos entrevistados (comunicação
pessoal, 2017).
Ainda sobre o terrorismo jihadista, a República de Angola é um Estado
relativamente novo e até ao presente momento, não houve evidências ou circunstâncias
que indicam um historial de ataques terroristas, sejam eles de qualquer natureza. Mas,
será que isto significa que o país não é um Estado propenso a sofrer tais actos?
Dizia Sebastião Martins (2015) que, "a acção terrorista é já conhecida em diversas
nações, e as africanas não são excepção. Deste modo, é válido interrogarmo-nos: estará
a nossa pátria e estaremos nós, angolanos, imunes a tais barbaridades?"
35
Certamente, uma das funções diárias do governo angolano é de garantir a
protecção de seu território e da população que habita nela, contra qualquer acto que
possa corromper a paz e comprometer ou pôr em risco a ordem pública gerando a
instabilidade, sobretudo, actos ligados à propagação do terror. Função esta que tem
cumprido com zelo desde a conquista da paz em 2002 (Stefenson, 2009).
Ainda assim, ocupa a 130ª posição de uma lista exclusiva de 168 países com
riscos de sofrerem um ataque perpetrado por um grupo terrorista. Esta lista é conhecida
como a Global Terrorism Index (2016) elaborada pelo reconhecido Institute For
Economics And Peace, com sede em Austrália.
Com uma metodologia reconhecida e comprovada, o ranking é atribuido
consoante o índice calculado, número este que parte de 0 à 10. Naturalmente, quanto
mais alto for o índice, maiores serão os riscos. Desta lista, encontraremos a França na
29ª posição com um índice de 5.6, o Reino Unido na 34ª com um índice de 5, os Estados
Unidos de América na 36ª com um índice de 4.8 e a Espanha na 89ª com um índice de
1.2.
Cito estes países porque em comparação aos outros que se encontram num
ranking mais elevado, estes foram os que em últimos tempos (2015 – 2017) têm vindo a
sofrer ataques pelos maiores grupos terroristas do mundo – Daesh e Al-Qaeda.
Isto deve representar uma forma de chamada de atenção para os países que
constam desta lista. De que, apesar da sua baixa pontuação, errado seria subestimar as
hipóteses apresentadas.
“Regra geral, nenhum País está isento de ameaças; se não são dirigidas à sua
própria segurança podem ser aos seus interesses.” (Rodrigues, 2013: p. 03)
O que significa que seria um erro descartar a possibilidade de ser o próximo alvo
de um grupo que usa o terrorismo como um instrumento de coersão para um determinado
fim político conforme a definição clássica de Sousa (2005).
Aliás, pelo simples facto de constar numa lista que resulta de um estudo profundo,
realça a importância de manter-se em alerta e, com rigor, tomar as devidas precauções.
Ainda sobre esta importância, de acordo com a Angonotícias (2017), o titular da
pasta de Ministro do Interior de Angola – Ângelo Veiga Tavares – prestou declarações à
Rádio Nacional de Angola de que “(…) é um acto de inocência absoluta pensar que
36
Angola está imune a atentados terroristas”. A mesma fonte citou o apelo do Ministro, de
estarmos todos vigilantes e conscientes sobre as claras possibilidades de um acto
terrorista em Angola, da mesma forma que acontece noutros países.
Ora, desde a conquista da paz em 2002, a República de Angola sempre
manifestou a sua prioridade nos sectores da Segurança Pública e Defesa Nacional, pois,
entende em primeira-mão os seus benefícios, e continua a manifestar isto no seu mais
recente Plano Nacional de Desenvolvimento (2012).
Como tal, em pleno ano de crise financeira causada pela baixa do preço da
commodity que mais gera receitas para Angola (Rocha, 2015), de acordo com o seu OGE
(2016) o Estado conseguiu garantir um total de AKZ 929,732,659,982.00 para manter
operacional ambos os sectores de Defesa e de Segurança e Ordem Pública, o que
corresponde à uma percentagem combinada de 13,36% do Orçamento Geral do Estado.
Com isto, queremos apenas afirmar que, este é um Estado que investe
agressivamente no sector da Defesa e da Segurança Nacional independemente do
contexto mundial e sublinha-se que a República de Angola assume este carácter
defensivo de forma cuidada, com rigor e sobretudo com disciplina, e ainda, ractifica
múltiplos compromissos internacionais que dizem respeito à peace-making, peace-
keeping e peace-building, para reafirmar o seu compromisso com a paz.
Como demonstração deste olhar sério sobre os aspectos que interferem na
segurança angolana, de acordo com a mídia nacional e internacional, incluíndo o jornal
luso DN (2017), muito recentemente, o Ministério Público acusou formalmente um grupo
que se auto-denomina Street Da Was. Este grupo de seis jovens nacionais que se
converteram ao Islão, com idades compreendidas entre os 23 aos 29 anos, foram
acusados de organização terrorista e juramento ao radical Estado Islâmico.
Em sua dissertação, o escritor do jornal angolano “O País”, Brandão (2017: p. 12)
nos adianta que “consta nos autos que os jovens mantinham contacto com um cidadão
de nacionalidade somali que atende pelo nome de Abu Kauthar As Somaliz (…)”.
Segundo o Brandão (2017), o referido cidadão somali apoia o Estado Islâmico e
lhes transmitia informações relacionadas ao radicalismo.
Brandão (2017) continua e diz que, segundo a acusação, não pretendiam praticar
algum acto terrorista em Angola por ordens superiores, supostamente, porque Angola
37
não é um alvo do Estado Islâmico, portanto, a acusação justifica que “(…) apenas
pretenderiam morrer como mártires.” (p. 12)
Até ao presente momento, o processo ainda não transitou em julgamento,
portanto, devemos presumir a inocência até que se prove formalmente o contrário.
Porém, seja qual for o desfecho deste caso, esta acusação formal não reflete apenas a
seriedade com que o Estado angolano encara a matéria de segurança nacional, como
também, serve de alerta e desencorajamento para quem atente contra a segurança
pública, provando que, nenhuma ameaça à segurança será observada de ânimo leve.
Neste caso em concreto, provou-se também que o sistema de vigilância angolano
está em alerta, mas, apesar disto e mesmo com todo esse investimento, todo cuidado
ainda assim é pouco. A ameaça da radicalização islâmica existe, assim como a ameaça
do terrorismo jihadista em Angola.
Apegando-se às reflexões de Sebastião Martins (2015), o terrorismo não está
confinado à um só território, logo, não se pode confinar a sua erradicação na
responsabilidade de uma só nação. Pelo contrário, esta complexa missão deve recair na
responsabilidade da comunidade internacional.
De acordo com várias fontes e passo a apresentar algumas, altas figuras no
cenário político apresentam discursos apelativos à união internacional com intenção de
formar uma aliança estratégica contra-terrorista.
Em um artigo escrito por Mikhail Klimentyev (2017), o actual presidente russo –
Vladmir Putin – afirmou que sublinhou em

“(…) reiteradas ocasiões que somente é possível vencer este mal através da
união honesta e construtiva dos esforços de todos os países, baseando-se no
cumprimento estrito do direito internacional, a luta contra os terroristas deve ter
carácter exaustivo e sem concessões” (Klimentyev apud. Putin, 2017)

Em outro artigo de Bianchi (2017), o presidente argentino – Macri – prestou


homenagem às vítimas do mais recente ataque terrorista na cidade de Nova Iorque e
logo de seguida, realçou que “todos temos que estar comprometidos dos pés à cabeça
com a luta contra o terrorismo.”
Das várias fontes existentes onde apela-se a união, apresento mais uma vinda do
jornal digital luso “DN”. De acordo com este jornal, o primeiro ministro italiano Paolo
38
Gentiloni, “(…) condenou (…) os atentados registados (…) no Reino Unido, nos quais
morreram pelo menos seis pessoas, e defendeu a união da comunidade internacional
para combater o terrorismo.” (DN, apud. Genitoli, 2017)
Em Angola, reconhece-se a importância deste compromisso internacional e daí
que, Lino Guimarães (2017) reportou o encontro que o presidente da comissão de
Segurança da Assembleia Nacional – Rorberto Leal Monteiro – marcou com adidos
militares do continente europeu, asiático e americano acreditados na República de
Angola, para trocarem mútuas experiências com intuito de concertarem estrategias para
combaterem este mal comum.
Ao abordarmos sobre a prevenção do terrorismo em Angola, de maneira nenhuma
se trata de impedir o crescimento do Islão. Trata-se de uma protecção generalizada
contra o terrorismo, mas, focando na temática desta monografia, resume-se, portanto, na
prevenção do chamado terrorismo jihadista – aquele praticado pelos extremistas
islâmicos.
Para terminar este capítulo, tem-se notado o desenvolvimento do Islão em Angola.
Com o passar do tempo, a religião tem vindo a ganhar maior notoriedade, mas com uma
rejeição quase generalizada do povo angolano, pois, confundem-na como promotora de
violência, graças aos actos de certos muçulmanos. Assim nos apontava Custódio (2015).
O autor aconselha à estes que descriminam a religião, que se informem melhor sobre a
religião sem a ignorância, o medo e os preconceitos.
“O caminho é exorcizar a desconfiança e o medo que persistem dos dois lados
(cristãos e muçulmanos) pela formação, visando uma sadia convivência social e
religiosa.” (Custódio, 2015: p. 104)

39
CONCLUSÕES

Para terminar este estudo científico, desde o momento em que o profeta


Mohammed a criou no ano 610 na cidade de Mecca, o Islão tem vindo a crescer à um
ritmo muito acentuado. É a última das três (3) religiões monoteístas do mundo e
actualmente (2017) é a segunda religião com o maior número de crentes à seguir ao
Cristianismo.
Este credo religioso centra-se na prática constante de cinco (5) pilares
fundamentais, sendo que, por vezes encontraremos certas argumentações que procuram
justificar o jihad como sendo o sexto pilar fundamental da religião muçulmana.
Este último, apesar de ter um significado interno que promove a auto melhoria do
crente, apesar da sua pura concepção pacífica, como consequência das grotescas
atitudes dos grupos radicais islâmicos, o jihad tem vindo a ser adaptado numa realidade
completamente diferente da sua. Por causa destas acções, pensa-se que o jihad é um
pilar que promove a violência, e com isto, afecta directamente e de uma maneira
generalizada, a visão que se tem sobre o islão.
Como académicos, temos muitos mais do que a obrigação moral, de primar pela
transmissão dos conhecimentos de formas que consigamos corrigir as más concepções
teóricas sobre determinados assuntos. É um dever apresentarmos os factos já apurados
pela própria ciência.
Cumprindo este dever, a ciência diz-nos que o Islão é de uma vez por todas, uma
religião pacífica e não há evidências que provem o contrário, no entanto, existe uma
vertente radical e é nesta vertente adulterada que devemos focar a nossa atenção, trata-
se assim do islamismo radical.
É este fundamentalismo extremo que tem sido o principal motor da defamação da
religião islâmica. “Nem todos os muçulmanos são terroristas e às vezes parece que todos
os terroristas são muçulmanos.” (Custódio, 2015: p.103 apud Mvumbi, 2011: p. 32-33)
A existência de outros grupos terroristas não-muçulmanos é uma realidade
incontestável, mas, de facto, são os fundamentalistas islâmicos que têm sido mais
destacados na mídia.

40
Lembrando as palavras de Gonçalves (2011), é importante ter isto em mente para
que possamos fazer uma distinção clara sobre quem devemos nos preocupar e não
recorrer à um julgamento generalizado por causa das acções de poucos.
Concentrando os nossos esforços na República de Angola, tal como nas outras
partes do mundo, o crescimento tem sido bastante visível sobretudo na cidade capital,
embora carece de algum dado oficial que possa quantificar com precisão o número desta
população.
Este, é um Estado que à nível constitucional expressa o mais alto respeito às
diferentes confissões religiosas existentes no seu país, no entanto, apenas exige o
cumprimento da sua lei soberana e demonstra-se ser firme no que diz respeito à
intolerância de qualquer acto que possa pôr em “check” a sua segurança interna.
O sistema de segurança está claramente operacional e em estado alto de
vigilância. Tal sistema provou estar em condições de garantir a segurança dos quatro
cantos do território nacional, levando à cabo a investigação e a formal acusação de seis
(6) jovens muçulmanos acusados de organização terrorista segundo várias fontes
nacionais e internacionais.
Apesar deste louvável esforço, Angola consta duma lista de países com uma
probabilidade calculada de sofrer um ataque terrorista. É importante ressaltar que o
combate ao terrorismo jihadista requer uma atenção especial e exige a colaboração de
todos, daí que, Angola tem cooperado e trocado experiências com outros Estados de
formas à desenvolverem estrategias anti-terroristas.
Voltando ao assunto em questão, o Islão como fenómeno religioso, de maneira
nenhuma representa uma ameaça para o Estado angolano. A sua variante radicalizada
é que nos chama a atenção e constitui uma ameaça não só para a nossa república, como
também para toda comunidade internacional. Angola não é um Estado alheio às
preocupações mundiais, e como tal, subscreve aos diversos compromissos
internacionais, sendo o combate ao terrorismo um deles.
Desta feita, conclui-se que foi cumprido os objectivos traçados no capítulo
introdutório e que, com base as hipóteses levantadas no já referido capítulo, a terceira
hipótese responde objectivamente a pergunta de partida.

41
SUGESTÕES

1) Apostar na modernização constante dos sistemas de segurança do Estado – O


terrorismo é uma ameaça em constante evolução quanto aos métodos de aplicação
do terror. Para combater este mal, exige com que o Estado tenha recursos e métodos
sofisticados capazes de detetar e impedir uma ameaça eminente. Ora, nem sempre
se trata de uma modernização material. Releva-se antes uma modernização
estratégica.

2) Criação de uma linha telefónica (hotline) para denúncias – Concordando com a


recomendação do Ministro do Interior da República de Angola que foi citado pela
Angonotícias (2017), temos de estar todos empenhados no combate à este mal
comum. É de realçar a importância de uma atitude vigilante por parte dos cidadãos
angolanos e reportar qualquer acto suspeito às autoridades mais próximas. A ameaça
existe e este cuidado não deve ser uma responsabilidade exclusiva do governo
angolano. Sendo o povo uma das partes que compõem um Estado (Bonavides, 2000
apud Jellinek, 1914), estes também têm a responsabilidade de velar pela segurança
do seu próprio território.

3) Incorporação de exercícios simulados no sistema de educação – De lembrar que


o objectivo de qualquer acto terrorista é a aplicação do terror; do medo; do pânico.
Recomenda-se a incorporação de exercícios simulados nos programas escolares
para que as pessoas possam estar preparadas na eventualidade de uma emergência
seja ela de qual natureza for, incluindo uma ameaça terrorista. Estes exercícios têm
a denominação de “drills” e servem para evitar o pânico generalizado e reduzir a
possibilidade de um agravamento de uma determinada situação.

4) Inclusão da “crença religiosa” nos Census Populacionais do Estado – Para fins


puramente estatísticos, recomendamos ao órgão competente que se inclua a “crença
religiosa” como um dos dados a serem recolhidos no Census Populacional do Estado
angolano. Actualmente, o pais continua crescendo sabendo apenas “quantos somos”

42
e não “quem realmente somos” como nacionais para além de um número estatístico.
A disponibilidade destes dados contribuiria também para um imenso enriquecimento
académico, sobretudo, nas áreas relacionadas ao estudo da Religião no país em foco.

43
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50
ANEXOS

ENTREVISTA I

Título: A compreensão do Islão em primeira pessoa.

Entrevistado: Anónimo, Gerente de uma loja de conveniência.

Local de entrevista: Bairro Golfe II, Município de Belas, Luanda.

Data de entrevista: 13/05/2017

Entrevistador: Lorivaldo Kenneth Cardoso Moniz.

Objectivo: O cerne desta entrevista é de conhecer sintetizadamente o Islão, e


compreender como tem sido a adesão e prática desta religião na República de Angola.

1. Em suas palavras, como definiria o Islão?

R: O islão é a religião que tem Allah como Deus. Deus escolheu Mohammad para ser o
profeta. Na nossa religião (islão), devemos viver de acordo com a vontade do nosso Deus
e aceitar o profeta como a pessoa que transmite a mensagem sem dúvida.

2. Quantos e quais são os pilares desta religião?

R: São cinco (5) pilares do islão. O primeiro é que, temos de testemunhar que Deus é o
único e Mohammad é o profeta que transmite a palavra de Deus. Este pilar é muito
importante e chama-se Shahadah. O segundo é fazer as cinco (5) orações por dia. O
segundo pilar é a prática do Salat. O terceiro pilar, é o Siyam e fazemos jejum para limpar
o nosso corpo em tempo de Ramadan. O quarto, temos de dar o Zakat. Temos de dar
uma percentagem do nosso dinheiro ao lider da mesquita que vai distribuir para aqueles

51
que não têm dinheiro. O Zakat faz-se uma (1) vez por ano. O quinto é a peregrinação –
Hajj.

3. Estando em Angola, como é que se paga o Zakat?

R: Não sei quantas mesquitas tem em Angola, mas, em cada área tem um lugar onde
rezamos. Entregamos este dinheiro ao dirigente da mesquita e ele faz a distribuição. Isto
fazemos só uma (1) vez por ano.

4. Este acto de caridade só pode ser feito de um muçulmano para outro, ou pode incluir
qualquer outro indivíduo fora da comunidade islâmica?

R: Não, o islão não discrimina. Só o muçulmano é que pode dar o Zakat, mas todos
podem receber.

5. Como funciona o calendário islâmico e para quando está previsto o Ramadão para o
ano de 2017?

R: Não é muito diferente. Enquanto o calendário cristão conta com o Sol, o calendário do
islão segue a Lua. Cada mês é uma nova fase da Lua e nós contamos 11 luas em cada
ano. Para este ano, o Ramadão será em Julho. Varia com os dias porque cada mês varia
entre 29 e 30 dias.

6. Na sua essência, o que é o Jihad e qual o seu propósito?

R: O Jihad é muito diferente do terrorismo. O Jihad não é uma luta com armas. O Jihad
é a luta do coração. Chamamos a isto de Jihad Grande. Esse Jihad de terrorismo não
existe. Isto é falso.

7. Como é que está o Islão em Angola, tem sentido o crescimento desta religião?

52
R: “Núchkor Allah”. Significa graças à Deus. A religião está a crescer porque muitos dos
nossos irmãos angolanos já estão a entrar para o islão para além dos muçulmanos que
estão a vir de fora do país. Não sei quantos somos exactamente, mas em cada mesquita
que já passei, encontro sempre cheio. Na minha mesquita tem pelo menos 200 pessoas.

8. Sendo um muçulmano em Angola, quais são as preocupações mais marcantes da


sua vida?

R: Não, não passo por nenhuma dificuldade. Não sou abusado e não sou perseguido.
Sinto-me bem.

53
ENTREVISTA II

Título: A confirmação da presença islâmica na República de Angola.

Entrevistado: António Kakepo Abu Bakr, Fundador da C.A.C.M.

Local de entrevista: Cidade de Catumbela, Província de Benguela.

Data de entrevista: 02/08/2017

Entrevistador: Lorivaldo Kenneth Cardoso Moniz.

Objectivo: Esta entrevista tem como objectivo primário de recolher algumas informações
sobre o islão em geral e o status da religião islâmica em território angolano.

1. Qual é a denominação da organização islâmica em Angola?

R: Cá em Angola, várias organizações intervêm no exercício do Islão. Não tenho bases


para falar das outras organizações, se não, àquela que sou fundador. Esta organização
da qual sou fundador tem a denominação de Comunidade Angolana dos Crentes
Muçulmanos.

2. Quando é que foi criada esta organização muçulmana em Angola e qual foi o seu
objectivo?

R: Foi fundada no ano 2000 e tem como objectivos a divulgação e exercício da religião
(Islão).

3. Aproximadamente, quantos membros existem nesta comunidade e quando é que


Angola teve o seu primeiro contacto com o Islão?

54
R: Sinceramente, não estou em condições para dizer isto, mas, sou muçulmano há 20
anos e na altura já existia o Islão aqui. Até hoje, não há nenhum dado em termos
estatísticos, de quantos muçulmanos há no país, mas, a verdade é que a cada dia que
passa se converte um angolano.

4. Sobre o Jihad, este que o mundo testemunha ser violento e radical, é correcto?

R: Isto não é Jihad. Não é verdadeiro. Isto que estamos a fazer é um exemplo de Jihad.
O Jihad é um esforço no caminho do bem, no caminho da verdade. Teologicamente, o
Jihad é o esforço no caminho de Deus. Estamos a falar de quê? De Deus, logo, o que
estamos a fazer neste exacto momento é uma forma de Jihad.

5. Houve um incidente em frente a embaixada da República de Angola em Londres, em


que registou-se ameaças frontais por parte de manifestantes muçulmanos. O governo
angolano é inimigo da comunidade islâmica?

R: Com base na lei, não é. O Estado angolano é um Estado laico e respeita todas as
religiões. Não há nada na Constituição que indica que é contra. O governo angolano teve
uma atitude legítima de encerrar a mesquita, uma vez que não tinha fundamento legal
para a sua operacionalidade. Faltou o esclarecimento do governo após os rumores, mas,
não quer dizer que seja um inimigo do Islão.

6. Sem intenções de ofender sua entidade e sua religião, consegue separar o Islamismo,
do Terrorismo Islâmico?

R: Os actos do Estado Islâmico são proibidos e considera-se um pecado. Agem em


nomes pessoais e não em nome da religião. Não foi Deus que ordenou esta acção.

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