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Cicatriz
Saindo da oficina de teatro documentário na última semana, atravessando uma ponte que existe
entre a Rua Maria José e o metrô São Joaquim vejo uma cicatriz.
Uma cicatriz de um acontecimento que se cravou na pele do chão. Nada trágico como uma
cratera ou tão comum como a merda de cachorro cotidiana.
Uma perfeita marca no corpo do asfalto feita quando ele estava fresco. E isso é importante. Ele
estava fresco. Aberto a receber o que pudesse vir. Não era um asfalto já endurecido aos passos
dos passantes.
E talvez seja esse o momento em que fica a marca. Expostos ao sol ganhamos pintas. Abertos a
experiência, cicatrizes. Mas cicatriz é só quando dói? Eu não me lembro do nascimento das
minhas pintas. São 23 contadas e eu não me lembro do nascimento de nenhuma delas. Se é que
doem, um dálmata deve ser um cachorro sofredor.
Pesquisando sobre as pintas na internet observo que uma das primeiras matérias que aparece
diz que “a ocorrência de pintas é sinal de desordem na pele” acho bonita a definição dessa pele
desordenada. Amar então é contar a desordem na pele.
Cambuci
Nevos, do latim, defeito. Ou seja, antes de achar uma pinta (ou, como dizem os médicos, nevo)
charmosa, tenha bem claro que ela é um alerta sobre uma deformidade, uma malformação.