Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales

ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

CONCEITO DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

A atividade financeira do Estado é representada pelas ações que o Estado


desempenha objetivando à obtenção dos recursos necessários ao seu sustento e a respectiva
realização de gastos voltados a execução das necessidades públicas.

Essa atividade financeira do Estado depende de três elementos essenciais:

a) A elaboração do orçamento público, como peça delimitadora das receitas e


despesas públicas, inerentes a um certo período; Ex: PPA, LDO, LOA.

b) As formas, condições e limites de obtenção de receitas para fazer frente às


despesas fixadas;

c) As formas, condições e limites de gasto do dinheiro público, bem como, os


métodos de aplicação e dispêndio das respectivas despesas públicas.

A atividade financeira do Estado pode ser analisada em dois períodos específicos em


relação a sua atividade financeira: o período CLÁSSICO e o período MODERNO.

PERÍODO CLÁSSICO

Este período estava ligado ao ESTADO LIBERAL dos séculos XVIII e XIX e
caracterizou-se pelo PRINCÍPIO DO NÃO INTERVENCIONISMO do Estado no mundo
econômico. Neste período observou-se o mínimo possível de intervenção do Estado na
economia, este regime derrubou o Estado absolutista monarca, sendo influenciado pelo:

1) INDIVIDUALISMO FILOSÓFICO (ILUMINISMO) e POLÍTICO


(REVOLUÇÃO FRANCESA) do Século XVIII (proteção do indivíduo contra os abusos do
Estado, opunha-se ao ABSOLUTISMO MONÁRQUICO; e

2) LIBERALISMO ECONÔMICO que pregava o livre comércio e não admitia a


intervenção estatal. Sua principal característica era a liberdade econômica com mínima
intervenção do Estado.

No período CLÁSSICO a atividade financeira do Estado visava somente à obtenção


de recursos para custear as despesas públicas. O tributo tinha finalidade fiscal, pois não se
intervinha nos domínios econômico e social.

1
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


PERÍODO MODERNO

Este período começou a ser delineado a partir do final do século XIX com
a ampliação das funções estatais decorrente de quatro fatores:

a) as fortes oscilações econômicas dos países que passavam rapidamente de grande


euforia econômica e financeira para depressão;

b) grandes crises econômico-financeiras provocadas pelo crescente


desemprego dos períodos de depressão econômica, gerando tensões sociais;

c) as grandes descobertas científicas e o efeito de suas aplicações; e

d) os efeitos decorrentes da Revolução Industrial e o agravamento das condições


materiais dos trabalhadores.

A Revolução Industrial modificou as condições de trabalho fazendo surgir o Direito


do Trabalho, pois a partir desse marco histórico verifica-se a necessidade do Estado intervir
nas relações trabalhistas, deixando, assim, de ser essencialmente liberal e tornando-se mais
intervencionista, sobretudo através da instituição de tributos com finalidade extrafiscal (ou
seja, ao mesmo tempo que um tributo visava a obtenção de recursos ele influenciava
diretamente a economia) e através da personalização do imposto dando a cada produto um
valor específico.

FINALIDADE DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

O caráter intervencionista do Estado traduz-se na instituição de tributos


com finalidade extrafiscal, além da nova visão de personalização do imposto, levando-se em
conta a capacidade contributiva dos cidadãos.

Como é de conhecimento dos operadores do direito tributário, a doutrina


desenvolveu duas classificações para as finalidades dos impostos, quais sejam a finalidade
fiscal e a finalidade extrafiscal.

Como uma breve consideração acerca destas duas finalidades, temos como efeitos
ficais, aqueles que possuem como único escopo angariar recursos aos cofres públicos para que
o Estado possa desenvolver suas atividades fins. Estes impostos possuem finalidade
exclusivamente financeira. Como exemplos clássicos, desta espécie de imposto temos,
Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) e o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ).

2
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


Já os impostos com finalidade extrafiscal podem ser definidos como aqueles que
possuem o escopo de intervir ou regular a situação estatal. Esta espécie de imposto não pode
ser confundida como “não arrecadatória”, contudo sua intenção basilar é estimular, ou
desestimular, certos comportamentos sociais. Além de arrecadatória, possui notadamente
funções político-sociais e econômicas. Como um exemplo de impostos extrafiscais podemos
citar o IPI e o IOF.

As recentes atuações dos impostos extrafiscais na economia brasileira vêm


protagonizando diversos debates nos cenários políticos e econômicos nacionais. Nos
parágrafos abaixo, temos alguns típicos exemplos.

Durante mais da metade do ano de 2012 e durante o ano de 2013 o governo reduziu
as alíquotas do IPI para veículos e caminhões. Tal iniciativa governamental fez, e ainda está
fazendo, com que este mercado se mantenha aquecido e permaneça fomentando a economia
nacional. Tal iniciativa governamental bem clarifica o objetivo deste tipo de imposto.

Ainda como exemplo de utilização de impostos com finalidade extrafiscal, podemos


citar o fato ocorrido, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a redução da
alíquota do IOF de 6% para 0%, nas atividades de investimento estrangeiro em aplicações de
renda fixa. Por enquanto a medida gerou apenas especulações, haja vista que não produziu
efeitos imediatos, contudo em questões de alguns dias poderemos observar um recuo no valor
do dólar e, consequentemente, a diminuição da inflação. Tais reflexos são nítidos quando
utilizados impostos com finalidade extrafiscal.

Finalmente, conforme observado, a extrafiscalidade dos impostos se resume em algo


muito além de uma mera arrecadação de receitas para o Estado, relaciona-se, principalmente,
com os deveres constitucionais do Estado em manter a ordem econômica, política e social.

Diversos tributos são instituídos com finalidade extrafiscal:

 Imposto de Importação (II) e de Imposto de Exportação (IE), que são


empregados como instrumentos da política cambial e do comércio exterior (arts. 21 e 26 do
CTN);

 Imposto sobre Operações Financeiras - IOF, intervenção na política monetária


(art. 65/ CTN);

 Contribuições parafiscais interventivas - CIDE (art. 149 da CF);

3
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


 Imposto Territorial Rural (ITR) visa desestimular a manutenção de grandes
propriedades rurais com baixa produtividade;

 Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), progressivo no tempo de acordo


como art. 182, § 4º da CF); e

 Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), de forma secundária, pois poderá


ser instituído em função da essencialidade do produto (art. 153, § 3º da CF).

O Estado desenvolve atividades políticas, policiais, econômicas, sociais,


administrativas, financeiras, educacionais, entre outras, cuja finalidade é regular a vida dos
seus cidadãos em sociedade, de forma a se alcançar o bem comum. A atividade financeira do
Estado está vinculada a satisfação de três necessidades básicas:

 Prestação de serviços públicos (art. 20 e 175 da CF);

 Exercício regular do poder de polícia (art. 78 do CTN); e

 Intervenção no domínio econômico.

Prestação de serviços públicos

É a prestação de utilidade ou comodidade material fruível diretamente pelos cidadãos, prestado pelo
Estado ou por quem faça suas vezes, sob regime de direito público (Celso Antônio Bandeira de
Mello). A CF refere-se aos serviços públicos em vários dispositivos (art. 21, X a XIII, XV, XXII e
XXIII). O art. 175 da CF prescreve que cabe ao poder público a prestação de serviços público, na
forma da lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre por meio de licitação.
Os tributos instituídos pelos Estados são compulsórios, ou seja, obrigatórios, pois não podemos
escolher qual o tributo que iremos pagar.

Exercício do Poder de Polícia

O art. 78 do CTN dispõe sobre o poder de polícia, como sendo a “atividade da


administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a
prática de ato ou abstenção de fato, em razão do interesse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização de Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

O § único prescreve que “considera-se regular o exercício do poder de polícia


quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância

4
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso
ou desvio de poder”.

Poder de Polícia nada mais do que um poder regulamentador de que o Estado está
investido, discricionário, mas limitado por lei. Objetiva intervir na propriedade e na liberdade
individual, impondo aos indivíduos comportamento comissivo ou omissivo, em benefício do
interesse da coletividade. Na CF, em vários dispositivos, refere-se à manifestação do poder de
polícia (arts. 145, II, 170, 174, 182, 192 e 193 CF/88).

O emprego do poder de polícia no campo da tributação tem sido frequente em nosso


ordenamento jurídico, doutrinariamente traduz-se pelos tributos de cunho extrafiscal,
decretado como instrumento regulatório de atividades.

Intervenção no domínio econômico

A CF consagra como princípio fundamental a livre iniciativa (art. 1°, IV e art. 170, I
a IX), pois é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvos os casos previstos em lei.

De acordo com a nossa constituição em seus arts 170 e 173 na nossa economia
prevalece a livre iniciativa, mas o estado também pode exercer atividade econômica como
uma das formas de captação de recursos para atingir seus objetivos em planos
organizacionais.

O Estado intervém na atividade econômica por meio de seu poder normativo,


elaborando leis de combate ao abuso do poder econômico, leis de proteção ao consumidor e
leis tributárias de natureza extrafiscal.

A EC42/2003 acresceu o art.146-A, inserindo na competência da lei complementar a


faculdade de estabelecer critérios especiais de tributação, para prevenir desequilíbrios da
concorrência. A tributação como relação jurídica e não apenas uma relação de poder.

O Princípio da Legalidade Tributária dispõe que a tributação também é uma relação


jurídica, e não apenas uma relação de poder soberano do estado, pois temos normas jurídicas
limitando esse poder.

Dever Jurídico X Dever de Solidariedade Social

5
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


O pagamento de um tributo é um dever jurídico, pois é obrigatório, não há de se falar
em solidariedade social, que é voluntário. Consequências: sujeição a penalidades em caso de
inadimplemento e quantificação do tributo.

Finalidade do Direito Tributário à promover o equilíbrio nas relações entre o Estado


e o cidadão, tendo em vista o pagamento e o recebimento de tributo. O Direito
Tributário restringe o poder do Estado de exigir tributos e regula os deveres e direitos
dos contribuintes.

O poder de tributar é a aptidão de impor a vontade do Estado aos cidadãos, por


intermédio da soberania nacional. A competência tributária relaciona-se ao sistema
normativo, sendo atribuída pela CF. A atividade financeira visa o interesse público e bem
estar social. O Direito Tributário rege as relações jurídicas entre os particulares e o Estado,
decorrentes da sua atividade financeira no que se refere a obtenção de receitas (TRIBUTOS).
Assim, de acordo com o art. 3º do CTN: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em
moeda, ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

CONCEITO E AUTONOMIA DO DIREITO FINANCEIRO

Direito Financeiro é o ramo do Direito Público que disciplina normativamente toda a


atividade financeira do Estado, sob o ponto de vista jurídico, estabelecendo regras sobre os
três pilares dessa atividade: o orçamento, as receitas e as despesas públicas.

O estudo em separado de determinada matéria jurídica, por razões


meramente didáticas, por si só, não basta para a caracterização de sua autonomia. De igual
modo, a doutrina, representada por obras especializadas e a jurisprudência específica, de
forma isolada, não são suficientes para a determinação da autonomia de um determinado ramo
do Direito.

É bem verdade que o Direito Financeiro apresenta os três fatores acima


mencionados: jurisprudência própria decorrente de decisões reiteradas dos tribunais
superiores, doutrina específica em função de uma coletânea de obras jurídicas e
divisão didática aplicada em metodologia de estudo próprio. O que, ponderadamente,
caracteriza o Direito Financeiro como ramo autônomo do Direito é a existência de certos
princípios jurídicos que lhes são específicos e que não podem ser aplicados a outros ramos do
Direito.

6
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


Com a edição da Lei 4.320/64, que estabelece normas gerais de Direito Financeiro
para elaboração e controle dos orçamentos, o Direito Financeiro sistematizou-se no Brasil.
A CF/88 estabeleceu em seu art. 24, competência concorrente, para a União, os Estados e o
DF legislarem em matéria de Direito Financeiro e Tributário.

PRINCÍPIOS DO DIREITO FINANCEIRO

Os princípios do Direito Financeiro não estão claramente elencados na CF. Por este
motivo não há unanimidade entre os doutrinadores. Entretanto, podem-se elencar os seguintes
princípios norteadores do Direito Financeiro:

a) Legalidade

b) Economicidade

c) Transparência

d) Publicidade e

e) Responsabilidade Fiscal.

Para se chegar a esses cinco princípios o critério utilizado é tão somente a atividade
financeira do Estado, de forma geral.

Princípio da Legalidade

Este princípio se traduz pelo fato de que, tanto do ângulo da realização de despesas
públicas, quanto se considerando a perspectiva da aprovação do orçamento (receitas e
despesas públicas). Assim, quanto ao gasto do dinheiro público, este somente será possível
diante de prévia autorização legislativa (lei orçamentária anual - LOA).

Os dispositivos constitucionais que traduzem tal exigência são:

- o art. 167, II, que determina a proibição de realização de despesas ou assunção de


obrigação que extrapolem os créditos orçamentários ou adicionais;

- art. 167, III, que veda operações de crédito que sejam superiores às despesas de
capital, salvo expressa autorização do Poder Legislativo, por maioria absoluta, mediante
créditos suplementares ou especiais;

- art. 167, V, que estabelece a necessidade de prévia autorização legislativa e a


indicação da fonte de financiamento para a abertura de crédito suplementar;

7
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


- art. 167, VI, que proíbe a transposição, remanejamento ou transferência de recursos
de uma categoria de programação para outra, ou de um órgão para outro, sem prévia
autorização legislativa;

- art. 167, VIII, que vincula a utilização de recursos do orçamento para suprir
necessidades ou cobrir déficits de empresas, fundações e fundos à existência de autorização
legislativa específica.

É importante destacar que, somente em casos extremos é que seria possível a


realização de uma despesa sem a respectiva autorização do Poder Legislativo, como nos casos
de abertura de créditos adicionais extraordinários, hipótese de Medida Provisória, nos casos
de guerra, comoção interna ou calamidade pública, nos termos do art. 167, § 3º da CF/88.

O orçamento deve ser aprovado por lei, segundo o que prescreve o art. 48, II da
CF/88 que prescreve a competência do Congresso Nacional com a sanção do Presidente da
república, para dispor sobre o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento
anual.

Princípio da Economicidade

Este princípio esta enunciado no art. 70 da CF e informa os critérios de fiscalização


das contas da União e órgãos da administração direta e indireta. Trata-se da exigência relativa
à eficiência econômica do gasto público, com o mínimo de recursos possíveis deve-se atingir
a máximo de satisfação das necessidades públicas.

Princípio da Transparência

Os artigos 48 e 49 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000) estabelecem os


instrumentos pelos quais os cidadãos poderão exercer o controle das contas públicas, tais
como acessibilidade à população dos dados orçamentários e a disponibilização das contas do
Chefe do Poder Executivo por todo o exercício financeiro.

Participação popular em audiências públicas, acompanhamento eletrônico da


execução orçamentária e financeira e adoção de um sistema integrado de administração
financeira e controle são mecanismos que permitem aos cidadãos acompanhar a aplicação dos
recursos públicos do orçamento.

Princípio da Publicidade

8
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


O princípio da publicidade se traduz divulgação de todos os elementos relacionados à
elaboração dos orçamentos públicos.

Princípio da Responsabilidade Fiscal:

Trata-se de assegurar que o gasto público seja realizado dentro de certos limites e de
acordo com regras estritas que, se não cumpridas, acarretam sanções aos entes públicos.

DESPESAS PÚBLICAS: conceito e necessidades

Durante o período clássico o Estado realizava um mínimo de despesas públicas já


que restringia a sua atuação, apenas ao desempenho das denominadas atividades essenciais,
deixando a maior parte das atividades para o particular, uma vez que esse período se
caracterizava pela não-intervenção estatal. Hoje, as despesas públicas aumentaram com o
desenvolvimento de atividades econômicas pelo Estado moderno, como por exemplo, o
combate ao desemprego, pois o Estado atua como órgão de redistribuição da riqueza,
concorrendo com a iniciativa privada.

As despesas públicas possuem três elementos:

- Natureza política, traduzido pela finalidade de satisfação da necessidade pública


pelo Estado, realizada através da execução dos serviços públicos.

- Natureza jurídica, traduzido pela autorização legal dada pelo poder competente,
para efetivação da despesa; e

- Natureza econômica, traduzido por um gasto para os cofres públicos e em consumo


para os beneficiados;

O emprego de recursos financeiros para a consecução de objetivos públicos constitui


elemento essencial da despesa pública. Os objetivos públicos se traduzem na realização de
obras e na prestação de serviços públicos, donde se conclui que despesa pública pressupõe
o dispêndio de dinheiro público. As despesas públicas estão vinculadas as metas
governamentais, aprovadas pelo Poder Legislativo e inseridas no ORÇAMENTO PÚBLICO,
cuja execução se dá com observância de normas constitucionais e legais pertinentes (Plano
Plurianual e Lei Orçamentária Anual - LOA).

O Estado moderno não mais requisita, bens e serviços dos cidadãos e nem exige
colaboração gratuita dos mesmos no desempenho das funções públicas (exceto em casos

9
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


esporádicos como membro de mesas eleitorais e do corpo de júri, entre outras), tornando-se
necessário que o Estado gere despesas públicas para tal.

A despesa pública tem dois sentidos, científico e orçamentário. O enfoque


científico é a soma dos gastos realizados pelo Poder Público para a realização de obras e
prestação de serviços públicos. O enfoque orçamentário é a aplicação de certa quantia em
dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente, para a execução de
determinado fim governamental.

CLASSIFICAÇÃO DAS DESPESAS PÚBLICAS

Pode-se classificar as despesas públicas quanto a:

Periodicidade

a) Despesas ordinárias visam atender as necessidades públicas estáveis,


permanentes e periodicamente previstas no orçamento.

b) Despesas extraordinárias visam atender as necessidades públicas


acidentais, imprevisíveis e não constantes do orçamento anual, tais como as despesas
decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública que por serem urgentes e
inadiáveis não podem esperar o processo prévio de autorização legal (art. 167, § 3º/CF).

c) Despesas especiais tem por finalidade permitir o atendimento de novas


necessidades públicas, surgidas no decorrer do exercício financeiro, que não apresentem
características de urgência e imprevisibilidade.

QUANTO À
PERIODICIDADE

Despesas Despesas Despesas


Ordinárias Extraordinárias especiais

Função

a) As despesas produtivas limitam-se a criar utilidades por meio da atuação estatal


(atividades policial e jurisdicional).

b) As despesas reprodutivas são as que representam aumento de capacidade


produtora do país (construção de escolas, estradas e hospitais).
10
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


c) As despesas improdutivas seriam despesas que nem acrescem o patrimônio estatal
e nem fornecem utilidade alguma.

QUANTO À
FUNÇÃO

Despesas Despesas Despesas


Produtivas Reprodutivas Improdutivas

Quanto a competência constitucional de cada entidade política

a) Despesas federais são aquelas necessárias para a realização dos fins e dos serviços
públicos, que competem privativamente à União, nos termos do art. 21 da CF.

b) Despesas estaduais são aquelas relacionadas com as atribuições conferidas aos


Estados-membros, na forma que prescreve o § 1° do art. 25 da CF.

c) Despesas municipais são aquelas relacionadas com o exercício da competência


municipal, prevista no art. 30 da CF.

QUANTO À
COMPETÊNCIA

Despesa Despesa Despesas


Federal Estadual Municipal

Existe ainda a classificação econômica que considera:

a) Despesa Real ou de Serviço é aquela efetivamente realizada pelo Estado em razão


da utilização de bens e serviços particulares na satisfação de necessidades públicas.

b) Despesa-transferência é aquela que é efetivada pelo Estado sem que receba


diretamente qualquer contraprestação a seu favor, como no pagamento de pensões e de
subvenções a empresa privadas.

11
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales

QUANTO À
CLASSIFICAÇÃO
ECONÔMICA

Despesa Real Despesas


ou de Serviço Transferência

O critério legal de classificação das despesas públicas é definido pela Lei 4.320/64:

1- DESPESAS CORENTES - são as que não enriquecem o patrimônio público e


são necessárias à execução dos serviços públicos e à vida do Estado. Abrangem as despesas
de custeio e as transferências correntes.

a) As despesas de custeio são realizadas objetivando assegurar o funcionamento dos


serviços públicos, inclusive as destinadas a atender obras de conservação e adaptação de bens
imóveis.

b) As transferências correntes criam rendimentos para os indivíduos, sem qualquer


contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções
destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado.

2- DESPESAS DE CAPITAL - são as que determinam uma modificação do


patrimônio público através de seu crescimento, sendo economicamente produtivas e
abrangem:

a) Investimentos (dotações para planejamento e execução de obras);

b) Inversões financeiras (dotações para aquisição de imóveis, aquisições de títulos de


capital de empresas e constituição ou aumento de capital de empresas que visem objetivos
comerciais ou financeiros); e

c) Transferências de capital (são correlatas às dotações para investimento ou


inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar,
independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, bem como as dotações
para amortização da dívida pública).

12
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales

QUANTO À LEI
4.320/64

Despesas Despesas de
Correntes Capital

Transferências Despesas de Inversões Transferências


Custeio Investimentos
Correntes Financeiras de Capital

EXECUÇÃO DAS DESPESAS PÚBLICAS

Nenhuma despesa pública pode ser realizada sem previsão orçamentária. O art. 167,
II da CF veda “realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os
créditos orçamentários ou adicionais. A realização de despesas públicas deve observar os
princípios constitucionais pertinentes, sendo presidida pelo princípio da legalidade, sob pena
do agente público incorrer em crime de responsabilidade. Ordenar ou permitir a realização de
despesas não autorizadas em lei constitui ato de improbidade administrativa (art. 10, IX da
Lei 8.429/92).

A primeira providência para realizar uma despesa é fazer a NOTA DE EMPENHO,


que é o ato da autoridade competente criar para o Estado obrigação de pagamento pendente de
implemento de condição.

A segunda etapa na realização de uma despesa é a LIQUIDAÇÃO, que consiste


na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos
comprobatórios do respectivo crédito, torna a obrigação assumida pelo Estado líquida e certa.

A terceira etapa é a ORDEM DE PAGAMENTO, que é o despacho da autoridade


competente determinando o pagamento da despesa assumida. A última etapa consiste
no PAGAMENTO, que, uma vez efetivado, em decorrência de regular liquidação da despesa
e por ordem da autoridade competente, extingue a obrigação.

RECEITAS PÚBLICAS

Receita pública é a entrada de dinheiro nos cofres do estado, integrando o seu


patrimônio, sem qualquer tipo de reservas ou condições, para atendimento de suas finalidades.

13
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


Para auferir o dinheiro necessário às despesas públicas os governos sempre se
valeram de uma das seguintes situações:

a) extorsões ou doações provenientes de outros povos;

b) recolhimento de rendas produzidas pelos bens e empresas estatais;

c) empréstimos compulsórios;

d) produção de dinheiro; e

e) exigência coercitiva do pagamento de tributos ou penalidades;

De acordo com a escola financista e segundo o critério de regularidade ou


periodicidade as receitas públicas são classificadas em receitas ordinárias e
receitas extraordinárias.

Receitas públicas ordinárias - são aquelas que se originam de uma fonte ordinária
de riquezas, sendo periódicas e previsíveis, por comporem permanentemente o orçamento do
Estado, os TRIBUTOS são o maior exemplo dessa espécie de receita.

Receitas públicas extraordinárias - são aquelas eventuais e imprevisíveis que não


integram permanentemente o orçamento do Estado: doações, indenizações, heranças vacante e
tributos extraordinários (impostos decorrentes de guerra e empréstimos compulsórios criados
para atender despesas extraordinárias, por motivo de calamidade pública ou iminência de
guerra).

QUANTO À
REGULARIDADE

Receitas Receitas
Ordinárias Extraordinárias

De acordo com a escola alemã e quanto à sua origem as receitas públicas são
classificadas em receitas originárias e receitas derivadas.

Receitas originárias - são aquelas decorrentes da exploração, pelo Estado,


da atividade econômica, resultante de sua atuação sob o regime do direito privado.
Classificam-se em receitas patrimoniais e receitas industriais, comerciais e de serviço.

14
UNIVERSIDADE NILTON LINS

Legislação Tributária I – Prof. (a) Renata Sales


Receitas derivadas - são aquelas que decorrem do constrangimento legal para sua
arrecadação (tributos, penas pecuniárias, confiscos e reparações de guerra).

QUANTO À
ORIGEM

Receitas Receitas
Originárias Derivativas

A classificação legal, decorrente da Lei 4.320/64, classifica as receitas públicas em


receitas correntes e receitas de capital.

As receitas correntes - são aquelas decorrentes do poder de tributar do Estado,


da exploração de seu patrimônio e as resultantes de exploração de atividades
econômicas (comércio, indústria, agropecuária e serviços).

As receitas de capital - compreendem as provenientes de realização de recursos


financeiros oriundos de constituição de dívidas; de conversão em espécie de bens e direitos;
de recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender as
despesas de capital e do superávit do orçamento corrente.

QUANTO À
LEGALIDADE

Receitas Receitas de
Correntes Capital

Receitas de Receitas de Receitas de


Receitas Receitas Receitas Operações de Alienação de Amortizações
Tributárias Patrimoniais Econômicas Crédito Bens de
Empréstimos

15

Você também pode gostar