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LINHA DE SEBENTAS
Teoria da Lei Penal
Índice
Conceito material de crime .......................................................................................................................... 4
Existem diferentes vias para se chegar ao conceito material de crime: .................................................. 4
Via do conceito Liberal de Direito ............................................................................................................ 5
Princípios jurídico-constitucionais (constituição penal): ......................................................................... 5
Para que necessitamos de um conceito material de crime? ................................................................... 6
Qualificação de crimes ................................................................................................................................. 8
Elementos objetivos: ................................................................................................................................ 8
Agente: ................................................................................................................................................ 8
Conduta típica ...................................................................................................................................... 8
Objeto da conduta: .............................................................................................................................. 8
Elementos subjetivos ............................................................................................................................... 8
Dolo ou Negligência: ............................................................................................................................ 8
Classificação de crimes quanto à relação entre a conduta típica e o objeto da conduta ........................ 9
Classificação dos crimes quanto à relação entre a conduta típica e o bem jurídico tutelado ................. 9
Conceito material de crime ........................................................................................................................ 10
Crime como fenómeno social ................................................................................................................ 10
Elementos do conceito analítico de crime: ................................................................................................ 12
Condições mínimas de um conceito operativo de bem jurídico ................................................................ 14
Definição de Figueiredo Dias.................................................................................................................. 15
Inevitabilidade da ideologia e da discussão ética na definição de bem juridíco penalmente tutelável 15
Impossibilidade de uma definição naturalística ou universal ............................................................ 16
Funcionalismo e auto-referencialidade dos sistemas sociais (Luhmann) .............................................. 16
O princípio da necessidade da pena, as duas exigências do nº2 do artigo 18º da CRP e os limites
negativos constitucionalmente impostos do ilícito penal: ......................................................................... 21
Síntese quanto ao conceito material de crime ........................................................................................... 22
Síntese quanto a dignidade punitiva de conduta (artigo 18/2 1º parte) ................................................... 25
Síntese quanto à necessidade ou carência de pena (artigo 18/2, 2ª parte, da CRP) ................................. 26
Criminalizações explícitas/implícitas na constituição................................................................................. 27
A opção de não punibilidade da interrupção voluntaria da gravidez nas primeiras 10 semanas de
gestação ................................................................................................................................................. 30
Direito penal como ramo do direito ........................................................................................................... 33
Direito de mera ordenação social .............................................................................................................. 36
Qual o conceito que o legislador dá de contraordenação? ................................................................... 38
Critério material de distinção entre crimes e contra ordenações ......................................................... 41
Critério tão só qualitativo ou também quantitativo de distinção entre crime e contra ordenação? .... 42
Críticas ............................................................................................................................................... 44
A essência e as finalidades da coima ..................................................................................................... 44
Fins das penas ............................................................................................................................................ 48
Pressuposto, fundamento, finalidade e limite da pena ......................................................................... 49
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Via dos fins da pena: crime é todo o comportamento que por razões de prevenção
(geral ou especial) necessitem de uma pena. O objectivo é evitar a prática futura de
crimes. Mesmo quem defende que a sanção penal deve ser retributiva, ninguém
defende que deva ser exclusivamente retributiva.
Prevenção geral: foca-se na sociedade como um todo. A pena visa evitar que a
generalidade das pessoas cometa um crime.
o Prevenção geral positiva/ de integração/ tutela de bens jurídicos: a
culminação e aplicação de penas visam proteger bens jurídicos e afirmar a
validade e eficácia desses bens e das normas que os tutelam – Artigo 40/1
CP.
o Prevenção geral negativa ou de intimidação: a culminação das penas
criminais visam impedir a prática de crimes, desincentivando futuras
decisões criminosas. Trata-se de verdadeira coação moral – coagir a
generalidade das pessoas a não praticar crimes.
Prevenção especial: Centra-se na pessoa do delinquente. Penas visam evitar a
prática futura de crimes atuando sobre o delinquente que praticou esses atos
criminosos.
o Prevenção especial positiva: reintegração do delinquente na sociedade/
reinserção social – Atrigo 40/1/segunda parte.
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Crítica
Esta via é de rejeitar, pois nada diz quanto ao sentido jurídico último de uma pena e
do crime. Coloca a definição do crime na dependência da culminação de uma pena
e na definição dos fins dessa pena, e não a partir da essência do próprio crime e da
pena.
Renuncia à procura de um sentido jurídico último do crime e da pena, que é um dos
grandes objetivos/problemas da teoria da lei penal.
Ao pretender-se definir materialmente o crime a partir das finalidades preventivas
da pena abre-se uma porta para o desrespeito da dignidade da pessoa humana do
delinquente, na medida em que este será sujeito a uma pena apenas para satisfação
dos fins sociais de prevenção geral ou especial – instrumentalização da pessoa do
delinquente, ele próprio é um fim em si, não podendo ser instrumentalizado.
Não nos dá verdadeiramente o conceito material de crime, diz-nos apenas para que
serve a incriminação e a sanção e não o que é o crime.
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NOTA: Problema actual – coimas (sanções relativas a contra-ordenações, não convertíveis em pena de
prisão) atingem em alguns campos montantes exorbitantes, superiores até a certas multas, que, por
definição, são convertíveis em pena de prisão.
Qualificação de crimes
Elementos objetivos:
Agente:
Quanto ao agente, os crimes podem ser:
Comuns: podem ser cometidos por toda e qualquer pessoa que realize a conduta
descrita na norma – normalmente “quem”.
Específicos: não podem ser realizados por toda e qualquer pessoa, mas apenas pelos
titulares de um determinado dever ou por aqueles que estiverem investidos numa
determinada posição ou relação jurídica.
Conduta típica
Resultado (apenas nos crimes materiais/de resultado): evento que está espácio-
temporalmente separado da ação, que pode ser de lesão ou de perigo concreto, e a
ela contraposto. Exemplo claro é do artigo 131º, crime de homicídio.
Crimes formais/de mera atividade: a sua consumação depende apenas da realização
da conduta descrita na norma (não depende do evento lesivo ou de perigo
concreto).
Objeto da conduta:
Pessoa ou coisa sobre a qual é realizada a conduta descrita na norma.
No crime de homicídio, o objeto da conduta é a pessoa que sofre a ação de matar
Bem jurídico protegido: para descobrir qual o bem jurídico protegido pela norma
devemos ver em que parte do código esta se integra. Por exemplo, no artigo 190º o
bem jurídico protegido é a reserva da vida privada.
Elementos subjetivos
Relativos à relação entre o agente e o facto que pratica.
Dolo ou Negligência:
Dolo: Aceita a realização do facto/ dos elementos objetivos do tipo de crime.
Negligência: não aceita mas pratica o facto porque não foi suficientemente zeloso.
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Artigo 13.º
Dolo e negligência
Só é punível o facto praticado com dolo ou, nos casos especialmente previstos na lei,
com negligência
Classificação dos crimes quanto à relação entre a conduta típica e o bem jurídico
tutelado
Crimes de perigo: consumação do crime depende apenas de pôr em perigo o bem
jurídico protegido.
O perigo está fora do tipo, é apenas o fundamento, não caracterizando a ação nem o
resultado.
Perigo concreto: norma descreve conduta e descreve resultado. “Criar perigo…”. Tem
de se provar que o agente não só realizou a conduta como também causou perigo.
EXEMPLO: 291º
Durkheim veio explicar que o crime é um fenómeno social e cumpre funções sociais:
os crimes são parte integrante da sociedade, são determinados pela estrutura social
e em função dela (variação historia e geográfica das condutas criminosas) não há
um conceito material de crime que seja estático e universal, há apenas um processo
social dependente de fatores históricos e culturais de seleção das condutas
criminosas. O crime estriba-se na eticidade produzida pela estrutura social.
Individuais
Supra individuais
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À luz do mais puro positivismo legalista pode ser mantida esta ideia de que crime é
violação de um bem jurídica. Binding definia bem jurídico como valor ou condição
da vida em sociedade tal como definido como o legislador. Assim, o conceito de
bem jurídico é imanente ao sistema e deixa de poder desempenhar a função critica
das opções legais e deixa de funcionar como critério de legitimação do processo de
criminalização. Se chegamos a um conceito de bem jurídico resultante das opções
legais deixamos de ter um conceito crítico.
Coube a Von Liszt tentar recuperar a visão crítica do conceito de bem jurídico.
Definiu bem jurídico como interesse humano vital, expressão das condições básicas
da vida em sociedade. Na sua opinião o conceito de bem jurídico só seria um
conceito legitimador da intervenção penal se fosse prévio à norma penal e
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descomprometido dessa mesma norma. Todavia, continuou a ter uma visão liberal
contratualista de bem jurídico, ou seja, a entender que os bens jurídicos penalmente
tuteláveis, são bens do individuo, bens individuais de liberdade. Ou seja, limita o
bem jurídico, ao chamado bem jurídico individual.
A esta visão contrapõe-se uma outra que diz que os bens jurídicos são também supra
individuais, ou seja, coletivos ou sociais. Atualmente quer os bens individuais (vida,
integridade física, liberdade, propriedade) e supra individuais são tutelados
(ambiente, ordem económica do estado, fiscalidade).
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Culposo, dado que o agente do crime não beneficia de uma causa de exclusão da
culpa. Ver o exemplo do artigo 35º. Ver também o artigo 24.
Punível: exemplo, agente dispara sobre outra pessoa mas depois arrepende-se e
pede socorro. Arrependeu-se e conseguiu preservar o bem jurídico, pelo que a
ordem jurídica entende que não o deve punir – desistência da tentativa do crime,
art.24º.
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A definição da necessidade de tutela penal não pode nunca ser totalmente alheia à
ideologia e à discussão ética.
Quando falamos de ideologia pensamos numa dada conceção de estado e dos seus
fins.
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Isto assim é porque a ética e uma necessidade humana e social e uma condição de
aceitabilidade do sistema jurídico.
Se o bem jurídico é apenas definido pela sua funcionalidade, ou seja, pela missão
que cumpre quanto a preservação de uma dada comunidade, nós não estamos a
dizer o que é o bem jurídico-penal, estamos a dizer para que serve. Para evitar que
haja a funcionalização total do conceito de bem jurídico, nos temos de introduzir na
definição do bem jurídico, a ideologia e a discussão ética.
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o A conclusão é que deverá ter-se por ilegítima toda a decisão legal de punir
adotada na sequência de um procedimento democrático, mas cujo conteúdo
implique a instrumentalização do individuo à realização de fins sociais, a
negação, diminuição ou rebaixamento da sua dignidade.
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A incriminação dessa conduta deve ser indispensável para a tutela de bens jurídicos
essenciais. Princípio da necessidade da pena;
A conduta incriminada deve possuir uma ressonância ética negativa que lhe permita
ser o suporte de um juízo de culpa ético-jurídica. Princípio da culpa;
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É sempre que acusa que tem o ónus de provar os elementos constitutivos do crime.
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Não esquecer que estamos a falar de carência de tutela penal que já está dotada de
merecimento penal. O que vamos ver é se há necessidade de intervenção do direito
penal, que é um problema posterior à definição da dignidade punitiva da conduta
manifestação do principio de subsidiariedade e de ultima ratio do direito penal.
A exigência de tutela de direito penal decorre do princípio da proporcionalidade que
é inerente ao estado de direito democrático isto significa que as sanções penais
são as mais gravosas de que um estado dispõe, então elas só podem ser utilizadas
quando sejam proporcionais, isto é, quando a restrição da liberdade que implicam
seja proporcional à gravidade da conduta e quando não existam outros meios de
politica social que de uma forma eficaz e adequada previnam aquelas condutas.
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Há autores que além desta ideia da dignidade punitiva e da carência da tutela penal
como redução teleológica, avançam o princípio vitimológico (Schunemann) é um
critério geral de interpretação dos tipos e redução teleológica, sendo que os
instrumentos do direito penal não devem intervir quando não se verifica uma
situação de carência de tutela penal da vitima, portanto, que o direito penal não
deve intervir quando a própria vitima não assumiu a auto tutela possível e exigível
dos seus próprios bens jurídicos, uma auto tutela que lhe era possível ou até exigível.
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A professora Fernanda Palma diz que não há direito à segurança de bens, valores ou
direitos constitucionais que deva ser realizado pelo direito penal. A carência da
tutela penal aponta para uma dimensão empírica do princípio da dignidade da pena
e não uma dimensão valorativa como está em causa na dignidade punitiva, está em
causa um juízo político e prático de escolha entre alternativas penais e não penais
de bens jurídicos criminalmente tuteláveis.
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jurídico não pode fazer-se através de uma escolha entre valores absolutos
dicotómicos, por exemplo, na questão da interrupção voluntaria da gravidez, a tutela
constitucional não pode decidir-se num plano entre direito a vida, direito de dispor
do próprio corpo, liberdade de maternidade, direito a privacidade da mulher.
o Uma última razão para não existirem criminalizações implícitas é: dizer que
essas implicações existem é aderir a uma conceção puramente retributiva
da cominação e aplicação de sanções criminais. À luz desta conceção, a pena
criminal é um mal que se tem de forçosamente de impor como consequência
de um mal praticado. Ora, a cominação e aplicação de sanções criminais não
perseguem quaisquer finalidade de prevenção geral ou especial. A luz de
uma conceção retributiva da pena a intervenção penal não tem de reger-se
por:
Necessidade
Adequação
Proporcionalidade
Eficácia
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Esta tese foi refutada por Figueiredo Dias, Fernanda Palma e também não foi
sufragada pelo TC português. o que está em causa no nosso sistema atual não é
uma descriminalização mas sim uma despenalização. A interrupção voluntaria da
gravidez nas primeiras 10 semanas de gestação realiza o tipo legal de crime previsto
no artigo 140 nº3 CP, portanto não há uma descriminalização do aborto nestas
situações. Continua a ser crime porque é um facto típico, sendo que o artigo 142º
resulta apenas de uma opção de não punir um facto que à partida é um crime.
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o Há quem entenda que como o artigo 24º esta integrado no titulo DLG, este
só dá o direito a vida à pessoa formada e não ainda a pessoa em formação.
nunca foi esta a interpretação do TC português, pois este refere vida
humana como referente a pessoas já nascida ou ainda não nascidas.
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O direito penal como um ramo do direito público: é evidente que o direito penal é
expressão do ius puniende do estado e cabe-lhe delimitar os fundamentos e as
condições de uma intervenção estatal na esfera dos particulares, intervenção essa
que corresponde a um exercício do poder punitivo. Portanto o objeto do direito
penal é a relação jurídica punitiva pela qual os indivíduos que praticam certos factos
ficam sujeitos à aplicação de uma pena pelo estado. Como qualquer outro ramo do
direito público, o direito penal carateriza-se pelo princípio da subordinação e não da
igualdade entre os sujeitos da relação jurídica. A violação dos particulares dos
deveres jurídico penais, fá-los incorrer em responsabilidade perante a sociedade e
essa violação lesa também interesses do estado. As normas penais aplicam-se
exclusivamente através do processo penal. Ora, o processo penal assenta numa
relação jurídica de direito público que se estabelece entre o estado representado
pelo ministério público e os particulares, particulares esses que são tanto o agente
do crime como o ofendido ou lesado pelo crime. Todos estes aspetos reforçam a
caraterização do direito penal como parte do direito público. Apesar do direito penal
ser um direito público os seus princípios distinguem-se dos princípios que valem para
outros ramos do direito público. Distinguem-se desde logo dos princípios que valem
para o direito administrativo, onde vigora o princípio da prevalência do direito
público e a atribuição de uma posição de sensível superioridade do estado
relativamente aos particulares, que se demonstra na presunção de legalidade dos
atos administrativos. Diferentemente a especificidade da função punitiva impõe a
atribuição de especiais garantias aos destinatários da norma penal tanto no plano
substantivo como no plano processual. As garantias do processo penal estão vertidas
no artigo 32º do Código Penal que contem diversas regras quanto a estrutura do
processo penal: direito de defesa e de audiência do arguido e presunção de
inocência (até ao transito em julgado da sentença condenatória vigora a presunção
de inocência do arguido), o que está nos antípodas do princípio da legalidade dos
atos administrativos. CONCLUSÃO: direito público sim, mas com especificidades.
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qual a sanção disciplinar concretamente aplicada, sendo que dessa decisão cabe
recurso contencioso para os tribunais administrativos. O que pode ser aplicado no
processo criminal ao funcionário que cometeu um crime no exercício de funções
públicas é ao lado da pena principal, uma pena acessória de perda de exercício de
função, que nunca será automática como efeito de uma pena principal.
Numa primeira abordagem sabemos que os crimes têm de ser dotados de uma
prévio relevo ético que tem que ver com a sua danosidade ético-social e com o
facto de atentarem contra bens jurídicos fundamentais. Por oposição aos crimes
surgem as contra ordenações que são ilícitos administrativos e em princípio
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processo penal que era o processo das contravenções. O que se passava com as
contravenções é que elas são próprias de uma altura em que o estado recorria a
híper criminalização em que o estado colocava o direito penal ao serviço dos mais
variados fins de política social.
O prof figueiredo dias aplaude este critério pois considera que é um critério possível
e correto porque:
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o No direito penal o que estava em causa era apenas uma função passiva do
estado de mera proteção de bens jurídicos fundamentais/ evidentes de
atividades que atentassem contra esses mesmos bens jurídicos.
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o Num certo sentido pode dizer-se que no caso dos crimes, o bem jurídico
existe independentemente da proibição legal.
o Diferentemente nas contra ordenações pode acontecer que o bem jurídico
só surja da conjugação da conduta com a regra legal que a proíbe.
o Isto vai dar uma diferença estruturas entre o ilícito criminal e de mera
ordenação social. O primeiro é uma conduta ofensiva de um bem jurídico
claramente delimitado, enquanto que o ilícito de mera ordenação social é
estruturalmente um ilícito de simples violação de dever.
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Hoje continua a ser verdade que a distinção começa por ser qualitativa ou material
e não apenas quantitativa. Nesta altura é de compreender que só são crimes
condutas dotadas de prévio relevo ético e portanto o critério tem de começar por
ser qualitativo porque o ilícito criminal tem de ser dotado de prévia relevância ética,
mas isto não significa que tenha de ser necessariamente conduzido ao direito penal,
porque podemos ter contraordenações que tenham na sua base uma prévia
relevância ética (ex.: consumo de estupefacientes). No entanto, o contrário já não é
verdadeiro, porque jamais posso ter crimes sem uma relevância ética prévia, pois
segundo a professora Fernanda Palma se não adotarmos um critério qualitativo
como base e se acharmos que a distinção se faz com base quantitativa temos de
considerar inconstitucional o direito de mera ordenação social porque este não
assegura as garantias consagradas no artigo 32º da CRP, pois apenas o seu número
10 se refere ao processo contraordenacional.
Portanto a conclusão que podemos tirar é que o critério de partida terá de ser
qualitativo mas isto não nos obriga a dizer que só são contra ordenações as bagatelas
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penais, ou seja, nada nos impede que não sejam contraordenações condutas
dotadas de relevo ético penal. Aqui intervém o princípio da necessidade, ou seja, o
direito penal não intervem porque há outros meios mais eficazes. Um exemplo é o
consumo de estupefacientes, ou seja, não está só em causa uma auto lesão do
titular, mas também consequências sociais e económicas que estão muito para lá da
relação do consumidor consigo mesmo. E portanto o consumo de estupefacientes
tem danosidade externa que é caraterística de intervenção do direito penal.
O critério material ou qualitativo é o critério de partida, mas isso não significa que o
legislador não deva recorrer a critérios adicionais e até a puros critérios
quantitativos para distinguir a contraordenação do crime, desde que essa alteração
da quantidade do ilícito implique a entrada num patamar de danosidade ético-social.
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Críticas
Os princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade não valem só para o
Direito Penal como para o direito de mera ordenação .
Há uma grande tentação de expandir o DMOS e tirar do Direito Penal aquilo que
lá deveria estar porque assim consegue agilizar todo o processo legislativo. Faz isto
porque todo o processo parlamentar de aprovação de lei penal é muito moroso e
assim deste modo não se terá de sujeitar a isso. Por isso assiste-se a coimas tão
elevadas que podem ser muito mais gravosas que a sanção penal e que podem levar
a uma asfixia económica.
Deixou de ser clara a distinção entre DMOS e Direito Penal desde que passou a
existir burla de etiquetas, passou a chamar-se contraordenações a normas que
deviam estar no Direito Penal. É o próprio legislador que está a baralhar a clareza
desta distinção e assim afeta os direitos fundamentais pois para o DMOS não valem
todos os princípios que valem para o Direito Penal.
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Ao nível da coima a sua essência e finalidades são distintas. A coima tem uma
essência de violação de dever de ordenação social. As suas finalidades devem ser
negativas de prevenção. Negativas porque no plano de ameaça da coima o objetivo
prosseguido é de prevenção geral negativa de prevenção: a ameaça da coima
funciona como advertência para a necessidade de cumprir certas imposições ou
proibições legais sob pena de lhe ser aplicada uma coima. No momento de
aplicação da coima, ou seja, a culpa contraordenacional é uma mera reprimenda
dirigida ao agente por não ter cumprido certas proibições ou imposições legais. O
professor Figueiredo Dias diz que há uma imputação de responsabilidade social ao
agente, com base na ideia que o agente infringiu o papel que devia cumprir, violando
o papel social e económico que devia cumprir. Aqui não há uma censura ético
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Instituto da dispensa de pena artigo 74º CP: o agente praticou um facto típico, ilícito
e culposo, mas apesar da culpa o agente não é punido, sendo dispensado da pena.
Considerações que se podem opor à dispensa de pena – prevenção geral positiva
de proteção de bens jurídicos.
Este instituto revela que não é função do estado punir a culpa sem mais, mas só
pode fazê-lo se essa punição for exigida por considerações de prevenção e na
medida exata das exigências de intervenção.
As finalidades da pena são sempre necessariamente/e e exclusivamente finalidades
preventivas, por exigência do principio da necessidade da pena – CRP.
Conselheiro sousa brito:
o A culpa não pode limitar a medida da pena de fora, ou a partir do exterior.
o A culpa não é o único fundamento da pena, nem é fundamento suficiente
–apesar de ser o principal fundamento. A culpa tem sempre de se conjugar
com a prevenção – a prevenção geral e a prevenção especial.
o A pena visa também retribuir a culpa, sendo, neste sentido, uma pena em
função da culpa (71º). Todavia, a culpa do agente só é retribuída através
da pena na medida necessária à proteção de bens jurídicos (na medida
necessária da prevenção geral positiva).
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As finalidades reais das penas emergem das razões da organização social, isto é,
das ideias culturais em que se baseia a comunidade social, e dos fins que essa
comunidade se propõe alcançar. Daqui decorre que os fins das penas estão
umbilicalmente ligados à problemática da legitimidade do Estado e dos
princípios constitucionais do direito penal, só é legítima a pena necessária à luz
das finalidades do Estado e das razões culturais da organização social.
Qualquer teoria defensável dos fins das penas tem de se articular com os fins do
estado, e por isso tem de incorporar as outras finalidades e os próprios princípios
do estado de direito. Não pode sustentar-se uma única finalidade da pena. É
sempre necessário articular os diversos fins das penas e considerar ainda os
princípios de estado de direito democrático. Os princípios de direito democrático
com especial relevância em matéria dos fins das penas são: dignidade da pessoa
humana; culpa, que decorre da dignidade da pessoa humana, da sua
inviolabilidade da integridade moral e liberdade; necessidade da pena.
Ou seja, não nos interessam as finalidades ideais, mas sim as finalidades reais da
pena, ou seja, quais as suas funções sociais. Segundo a professora Fernanda
Palma não adianta muito dizer que a pena não é retributiva, pois a primeira
necessidade que a pena cumpre é de substituição psicológica da vingança
privada. Coloca-se então o problema de saber se a pena poderá ser retributiva
de uma forma racional e eticamente sustentável, e apesar de ser retributiva
prossegue fins socialmente uteis.
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Teorias relativas
São as teorias da prevenção. São relativas pois associam a pena a prossecução de certas
finalidades sociais positivas. São portanto teorias da prevenção geral e da prevenção
especial.
Teorias ecléticas
São aquelas que combinam de uma ou de outra forma diversas finalidades da pena.
Esta teoria na sua formulação clássica vai centrar-se no facto passado e concebe a
pena como uma exigência de justiça. Aqui a pena surge como a justa paga do mal ou
o justo equivalente ao dano do facto e à culpa do agente.
A teoria retributiva pura entendia que a pena não devia prosseguir quaisquer
finalidades sociais. Porquê?
o Dessa forma o facto criminoso era apenas um mero pretexto para punir o
agente. Não era verdadeiramente a razão pela qual se punia, sendo que o
facto deixava de ser a razão da própria punição
A pena retributiva teve a sua primeira formulação na lei do talião “olho por olho,
dente por dente”. Nesta altura pretendia-se chegar a uma igualação fática entre o
mal do crime e o mal da pena. se se matava alguém, matava-se o agente; se o
agente furtou, cortava-se a mão. Só mais tarde se entendeu que seja igualação não
podia ser fática mas apenas normativa e deveria ser feita em função da ilicitude do
facto e da culpa do agente.
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Críticas principais:
o A pena retributiva esgota o seu sentido no mal que faz sofrer ao delinquente,
como compensação ou expiação do mal praticado. Portanto o pensamento
retributivo puro é completamente adverso a qualquer ideia de socialização
do delinquente e por isso completamente alheio de qualquer ideia de
socialização do delinquente e de restauração da paz jurídica. A pena
retributiva pura vai banir toda a atuação preventiva e em última análise
renuncia à pretensão de controlar a criminalidade. Já com Platão se afirmava
que só é racional o mal que produz um bem, o que não é o caso da pena
retributiva, pois não se repara um mal com um outro mal. A pena retributiva
serve apenas para satisfazer sentimentos de vingança e por consequente não
é racional
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Ex.: guarda da GNR saiu de uma festa com uma taxa de alcoolemia
muito elevada, sendo que ao conduzir, colheu na passadeira dois
peões, matando um imediatamente e outro vem a morrer por
complicações hospitalares. Ora este guarda praticou um facto de uma
enorme gravidade apesar de ser um indivíduo perfeitamente
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O primeiro autor a formular uma teoria de prevenção geral foi Feuerbach, sob a
forma da doutrina da coação psicológica. De acordo com esta doutrina a pena
deveria criar no espírito dos potenciais criminosos um contra motivo especialmente
forte para os afastar da prática do crime. No fundo: aplicava-se a pena a uma agente
em concreto para coagir os potenciais criminoso a não cometer crimes. O essencial
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desta teoria veio a ser confirmado do quadrante da psicologia e das doutrinas psico
analíticas, nesse âmbito verificou-se que muitas pessoas só são capazes de dominar
as suas tendências criminosas através da comprovação de que a via do crime lhes
pode trazes mais danos que vantagens pessoais. Por esta via, salientou-se que a
função primordial da pena consiste na legitimação da ordem vigente e na
manutenção da estabilidade e da paz jurídica.
O professor Figueiredo Dias é o maior adepto da prevenção geral. Este considera que
isto é ponto de partida correto da pena e dos seus fins, na medida em que a ideia de
prevenção geral pode ser diretamente ligada à função do direito penal de tutela
subsidiária de bens jurídicos.
o NOTA: a prevenção geral positiva pode ser vista numa aceção funcionalista
em que a função da pena é a estabilização contra fáctica das espectativas
comunitárias quanto à vigência da norma jurídica violada, que é uma visão
perigosa porque não liga a presença positiva ao conceito material de crime e
ao conceito de pena a pena não pode ser posta ao serviço da estabilização
das espectativas sociais contra quaisquer formas de comportamento, sendo
que temos de ligar o pensamento da prevenção geral positiva ao conceito
material de crime e ao princípio da necessidade. Quando o professor
Figueiredo Dias liga isto ao conceito material de crime dissocia-se da visão
funcionalista.
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o O professor Figueiredo Dias não admite que a pena desça abaixo do limite
mínimo da prevenção geral positiva por considerações de culpa ou de
prevenção especial positiva isto leva a aplicação de penas mais graves
nos casos concretos.
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o Correção
o Intimidação
o Neutralização
Não há dúvida que a prevenção especial é uma finalidade incontornável das penas
criminais. Esta prevenção diz-se que serve a tutela subsidiária de bens jurídicos ao
atuar sobre o delinquente, procurando prevenir a reincidência. No entanto, sendo a
pena um mal, sempre tido como tal pelo delinquente, ela só será racional e legítima
se lhe poder atribuir um caráter social positivo, no sentido da socialização ou da
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defesa social. A ideia de defesa social, é uma ideia de última rácio, pois só se deve
apelar a esta ideia quando não é possível ou não é necessária no caso concreto a
socialização do delinquente, mas é necessário assegurar ou garantir a segurança das
pessoas.
o Não pode ser a única finalidade da pena, sob pena de crimes muitos graves
ficarem impunes, quando no caso concreto não exista perigo de reincidência,
e de crimes de pouca gravidade levarem à aplicação de penas de duração
incertas ou até perpétua.
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Teoria da Lei Penal
O que está em causa na discussão dos fins das penas? Parâmetros constitucionais de
uma solução do problema dos fins das penas
As questões de fundamento e finalidades das penas interferem com o conceito
material de crime. Interferem deste logo diretamente com o conceito material
de crime pois o fundamento da pena é a prática culposa de um crime/ ilícito
típico. Logo na definição do que pode ser crime, interferem os princípios
constitucionais do direito penal e o conceito material de crime.
A questão dos fins das penas também interfere com o conceito material de
crime- ligam-se pelo grau de intromissão da pena dos direitos fundamentais do
delinquente. O que acontece neste plano é que já sabemos que as sanções
criminais são as mais graves que o ordenamento jurídico dispõe, pela grave
intromissão que implicam nos direitos e liberdades fundamentais. Ora, esta
verificação volta a colocar-nos perante os princípios constitucionais que regem a
comunicação e aplicação de penas criminais: dignidade da pessoa humana,
culpa, legalidade, proporcionalidade, necessidade da pena. então quer-se
dizer que a questão dos fins de pena não pode ser colocada num plano abstrato
de puro confronto de ideologias, pois há que ter em conta o contexto histórico
do qual depende o sentido e a função da pena. Este contexto histórico é a tal
realidade da pena, pois terá de ser considerar esta na realidade e não na sua
idealidade.
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Temos então de pensar os fins das penas aos fins do estado de direito
democrático. Assim só podemos resolver os fins das penas, articuladamente.
Pois cada uma das teorias dos fins das penas está em colisão com o estado de
direito.
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Teoria da Lei Penal
Não há uma única conceção correta sobre os fins das penas, ou um único modelo
de política criminal. são possíveis varias conceções sobre os fins das penas
umas de pendor mais retributivo, outras de pendor mais retributivo, mas seja
qual for a conceção que se dependa essa conceção tem sempre de respeitar
determinados parâmetros constitucionais. E quais são eles?
o Culpa- qualquer pena estatal que não seja uma pena da culpa é uma
limitação inadmissível da liberdade e é totalmente imprevisível.
A culpa é um juízo de censura porque o agente agiu de dada forma, mas poderia
ter agido de outra, portanto, eu só posso censurar alguém por alguma coisa
relativamente à qual a pessoa tem algum domínio e por isso pode evitar. Ora, se
a pena criminal não se basear na culpa, na censura dada ao agente por praticar
um crime que podia não ter praticado, então, se eu imponho uma pena sem
culpa mais do que violar a sua dignidade, estou a violar a sua liberdade.
Rejeição de uma teoria eclética de pendor meramente aditivo e de uma teoria eclética
estratificada dos fins das penas
Interessa-nos uma teoria eclética dos fins das penas, mas de pendor dialético que
articule as conceções dos fins das penas. Não nos interessa uma teoria puramente
aditiva, pois essa só vai multiplicar os defeitos de cada teoria. Também não nos
interessa uma teoria estratificada tal como defendida pelo professor Roxin, que
considera as diversas fases do sistema pena e atribui a cada fase ou etapas do direito
penal e cada uma delas corresponde uma finalidade de pena
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Esta é uma teoria que divide o sistema penal em fases. É uma teoria que não deve
ser sufragada porque as três finalidades da pena estão presentes ao longo das três
fases/etapas do sistema penal.
o Quanto à fase de execução, rege o artigo 42º CP, que revela que não é
prosseguida apenas a prevenção especial mas também a prevenção geral de
tutela de bens jurídicos (“defesa da sociedade”).
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Teoria da Lei Penal
o Artigo 45º CP: pena de prisão em medida não superior a um ano, cumprida
em dias livres.
o Artigo 52º nº3 CP: não há tratamentos coativos quanto a agentes imputáveis.
Figueiredo Dias receia que quando se coloca a culpa como finalidade da pena se
adira à ideia de retribuição.
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O prof Figueiredo Dias ainda afirma que em principio a pena preventiva geral será
uma pena justa e adequada à culpa.
A finalidade primordial das penas é uma prevenção geral positiva, sendo que o
importante é a tutela de bens jurídicos que não tem um sentido retrospetivo,
orientado para o facto passado, mas um sentido prospetivo, orientado para a tutela
da confiança e das espectativas da comunidade na manutenção da vigência da
norma violada e também orientada para o estabelecimento da paz jurídica. O
professor Figueiredo Dias ao colocar o foco da prevenção, não só facto passado mas
sim no futuro vai sujeitar-se a critica de que a pena deixa de centrar-se no facto do
agente e na sua culpa, orientando-se antes para a tutela da confiança e das
espectativas comunitárias e no restabelecimento da paz jurídica.
Ele entende também que a prevenção geral positiva é um ponto de partida para
resolução de eventuais conflitos com outras finalidades da pena- a prevenção geral
positiva prevalece sobre a prevenção especial positiva, sendo que só é admissível
que se prossiga esta última na medida mínima da prevenção geral positiva. ele
não entende que a pena desça abaixo do limite mínimo por considerações de
prevenção especial positiva. O professor diz que no conflito entre prevenção geral
positiva e prevenção geral negativa: a prevenção geral negativa não é um efeito
autónomo da pena, mas um efeito lateral desejável da prevenção geral positiva de
tutela de bens jurídicos, ou seja, não se eleva a pena exigida pela tutela de bens
jurídicos apenas por razoes de prevenção geral negativa de intimidação.
O professor Figueiredo Dias pede ao juiz do caso que partindo da moldura legal da
pena, do limite máximo e do limite mínimo, que defina uma moldura geral
preventiva, sendo que essa moldura tem um limite mínimo e um limite máximo.
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Para estres autores faz sentido partir da culpa, e da moldura penal da culpa,
entender que a partir das circunstâncias objetivas e subjetivas do caso concreto
é possível definir um naipe de penas ainda compatíveis com a culpa dentro de
um limite mínimo exigido pela culpa, e um limite máximo de culpa. É
precisamente dentro da moldura da culpa se vão realizar as finalidades
preventivas.
Professor Sousa Brito: concebe a pena como reparação da culpa e entende com
este modelo é compatível como a primazia da prevenção geral ou especial.
Argumentos:
o A culpa não pode limitar a media da pena sem medir a pena pela culpa
(40/2º CP). Medir a pena pela culpa é conteúdo mínimo de retribuição
de destacar que não é defendida uma teoria retributiva pura.
o Constitui uma exigência ética que a pena tenha em vista a culpa passada,
dado o caráter (também) moral do juízo de culpa jurídico penal e a ligação
da culpa a dignidade da pessoa humana eu só posso censurar alguém
por um facto se houver responsabilidade pessoal, e assim sendo o juízo
de culpa é assim um juízo moral. O pensamento de culpa está ligado a
dignidade da pessoa humana e ao seu direito a liberdade, e assim a ideia
de reparação da culpa através da pena é a forma de respeitar a dignidade
humana e a liberdade da mesma.
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Teoria da Lei Penal
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Teoria da Lei Penal
Artigo 50º: só a pena de prisão não superior a cinco anos pode ser
suspensa na sua execução. Ou seja, se o juiz aplicar pena de seis
ou sete anos, não pode haver suspensão por considerações de
prevenção geral positiva.
Princípio da legalidade
Características
Esta consagrado no artigo 29º da Constituição.
o O artigo 29º diz que ninguém pode ser sentenciado sem ter por base lei
anterior, ou sofrer medida de segurança sem base em lei anterior. Ora o
princípio da legalidade penal está inserido nos DLG’s dos cidadãos.
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Estamos então perante princípios de natureza diferente: uns são ideias gerais do
direito; outras são verdadeiras normas jurídicas aplicadas quer ao legislador quer ao
julgador
Fundamentos
Temos a posição do professor do Figueiredo Dias e Taipa de Carvalho por um lado;
e Fernanda Palma e Sousa Brito por outro- divergência quanto à fundamentação da
prevenção geral e na culpa:
Fernanda Palma acha que o princípio da legalidade não se deve fundamentar nos
fins das penas e na ideia de culpa.
O princípio liberal (IDEIA COMUM A TODOS OS AUTORES) diz que toda a intervenção
do estado nos direitos, liberdades e garantias, deve ligar-se à existência de uma lei
geral, abstrata e anterior à prática do facto. Portanto vai ligar-se à problemática do
artigo 18º n 2 e 3 CRP
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Teoria da Lei Penal
Esta ideia é contestada por Sousa Brito e por Fernanda Palma, porque entendem
que o principio da legalidade como garantia dos direitos individuais não decorre nem
da teoria dos fins das penas nem da ideia de culpa, porque nenhuma destas ideias
consegue fundamentar as diversas consequências do princípio da legalidade. Uma
das consequências é a proibição da analogia agravante da responsabilidade- art
1º/3 do CP- ora um dos principais corolários é a proibição do recurso à analogia para
definir uma pena se pensarmos em fins de penas, os fins de penas que justificam
a punição dos casos previstos na lei, justificariam a punição dos casos análogos
os mesmos fins das penas que justificam a punição por caso previsto, justificariam
do caso análogo.
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o Para estes autores é importante que haja uma lei que defina o facto como
crime, de que defina que não há crime sem lei. Já não faz parte do seu
argumento a legalidade das penas, ou seja, de que não há pena sem lei.
Se tivermos em conta que isto vale para agente imputável ou inimputáveis vemos
que não podem fundamentar-se nas penas e nos fins das culpas.
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o Artigo 2/1: o mesmo princípio que vale para as penas vale para as medidas
de segurança. Releva sempre a lei que está em vigor no momento da prática
do facto.
Entre nós a professora Maria João Antunes, secundada pelo professor Figueiredo
Dias, defende a teoria diferenciadora em matéria de medidas de segurança. Essa
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Parece que tal pode dar origem a retroatividade desfavorável (in pejus). Esta teoria
diferenciadora distingue ao nível dos pressupostos, o pressuposto do facto ilícito
típico que é distinguido do juízo de perigosidade, submetendo o pressuposto do
facto ilícito típico, à lei vigente da prática do agente; e submetendo a segunda fase
para a lei vigente no julgamento. Assim esta lei vem a tratar pior os agentes
inimputável do que os agentes imputáveis e faz isto à revelia do espírito da
constituição e da lei, que em sede de principio da legalidade pretendeu equiparar as
penas e as medidas de segurança.
segurança são obrigadas as revisões das medidas de segurança de dois anos, sedo
que esta pode ser revogada com base na cessação da perigosidade criminal.
Portanto ele não pode ser fonte de normas penais positivas, contudo pode ter uma
função negativa de revogação total ou parcial de normas penais. O costume pode
revogar total ou parcialmente normas penas, e pode servir para interpretar.
interna prévia com base no costume internacional ou naquilo que começou por
chamar “os princípios aceites pelas nações civilizadas”. O fundamento da reserva de
lei que é a segurança democrática não invalida esta exceção pois à segurança como
valor formal contrapõe-se uma segurança fundamentada pelo respeito pelos valores
humanos essenciais, ou seja, as expetativas dos agentes de não serem incriminados
não são válidas quando se fundam numa legalidade criminosa. Há aqui a necessidade
de contrapor uma segurança em sentido formal e em valor material, que é o respeito
pelos valores essenciais.
Para compreender este artigo temos de olhar para o artigo 8º CRP que contem uma
cláusula de receção automática do direito internacional geral ou comum. O artigo
29º/2 CRP autoriza os tribunais a aplicar direito internacional nos limites da lei
interna. Isso significa que os tribunais devem aplicar o direito penal substantivo
português no que respeita às penas, às suas finalidades, aos critérios de
determinação da pena concreta e limites das penas aplicação de artigo 40 + 71 +
41 + 47 CP. Os tribunais têm ainda de aplicar o direito processual nacional no que
respeita ao processo e as suas garantias e além disso tem de ser uma punição
respeitadora do princípio da legalidade e seus corolários.
Artigo 165 CRP: reserva de lei é sobre crimes e respetivos pressupostos. Então tendo
em conta os fundamentos do princípio da legalidade, da reserva de lei, que são a
segurança jurídica, a separação de poderes e o princípio democrático, pergunta-se
se se aplica apenas às normas penas positivas (fundamentam ou agravam a
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Teoria da Lei Penal
o Desde logo o conselheiro Sousa Brito, que entende que a função de garantia
dos direitos fundamentais contra a arbitrariedade e os excessos do poder
punitivo desempenhados pelo princípio da legalidade, implica que a reserva
de lei só valha para o direito penal como conjunto de normas sancionadoras,
ou seja, para as normas que fundamentam ou agravam a responsabilidade
penal. Em seu entender o princípio da reserva de lei já não abrange as
normas que excluem ou atenuam a responsabilidade penal nem sequer
aquelas que preveem causas de exclusão da ilicitude do facto.
o Opinião semelhante a Figueiredo Dias tem também Faria Costa: também ele
entende que face ao princípio da legalidade não se justifica exigir lei formal
para descriminalizar ou despenalizar, todavia, uma interpretação
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Teoria da Lei Penal
A verdade é que há autores que negam que seja uma decorrência do princípio da
legalidade que as normas penais negativas sejam uma decorrência do mesmo. A
verdade é que ao menos por razoes constitucionais ou por razoes jurídicas de
delimitação de esferas de competência, acabam por reconhecer que quem tem
poder de legislar positivamente tem poder para descriminalizar. Esta questão
coloca-se em termos diferentes quanto as causas de exclusão da culpa e da ilicitude:
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Teoria da Lei Penal
o Nas causas de justificação gerais, são por exemplo a legítima defesa, estado
de necessidade, que se aplicam a todos os crimes indiferenciadamente,
desde que se verifiquem os pressupostos da respetiva causa de exclusão.
Relativamente às causas gerais de justificação que são as que são válidas para todo
e qualquer crime em princípio desde que verifique os seus pressupostos. Em
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Teoria da Lei Penal
princípio não é proibida a analogia porque elas têm que ver com a liberdade em
geral, ou seja, toda e qualquer pessoa pode agir em legítima defesa, estado de
necessidade, conflito de deveres. Está em causa a liberdade geral uma vez
verificados os pressupostos. Relativamente às causas gerais, em princípio não é
proibida sua aplicação analógica contudo, contudo só é possível se for autorizada
pelos princípios orientadores de cada causa de justificação o alargamento da
legitima defesa a agressões não atuais, não viola a proibição da analogia em si, mas
sim o princípio fundamentador dessa causa de justificação que é a insuportabilidade
da não defesa necessária perante uma agressão ilícita, isto é, a ideia de que ninguém
está obrigado a suportar uma agressão ilícita. Isto porque esta ideia só vale para
agressões atuais, sendo impossível estabelecer paralelo entre agressões atuais e
futuras, sendo que nesse ultimo caso não há insuportabilidade da não defesa
necessária.
Não são as exigências formais que proíbem a analogia, são sempre razões materiais
que quanto às causas gerais são os princípios fundamentadores das causas de
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Teoria da Lei Penal
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Então o que implica a exigência de lei certa e determinada? Significa que a descrição
da conduta proibida e de todos os outros requisitos positivos da concreta
punibilidade do facto deve realizar-se de modo a serem objetivamente
determináveis os comportamentos proibidos e sancionados e consequentemente
objetivamente motivável e dirigível a conduta dos cidadãos. Portanto a exigência
de lei certa e determinada liga-se à função de determinação de condutas da norma
penal e ao princípio da culpa, porque só pode ser dirigido um juízo de censura ao
agente por ter realizado um facto ilícito típico se à partida ele o podia conhecer, se
a norma incriminadora distinguia de forma clara os comportamentos permitidos e
proibidos. Só assim o agente pode ser punido pela norma penal. a norma penal
tem função de valoração e determinação de condutas:
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o Isto significa que é possível doar um rim com uma finalidade terapêutica. A
finalidade e os meios de extração do rim pode operar a exclusão da ilicitude.
Contudo se alguém quiser que lhe seja extraído um rim para vender, a
clausula dos bons costumes já se opõe a isso.
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Para saber qual é o crime do artigo em questão terá de se combinar este com outra
norma legal que impondo dado dever comina a desobediência a esse dever com as
penas aplicáveis ao rime de desobediência.
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Teoria da Lei Penal
Exemplo de uma outra norma penal em branco que remete para um ato
administrativo mas que não é inconstitucional é do artigo 279º. É uma norma penal
em branco porque uma parte do comportamento proibido é definida por
disposições legais regulamentares ou ate atos administrativos praticados em
conformidade. isto porque as atividades poluidoras estão sujeitas a
licenciamento por ato administrativo. Realiza o tipo deste artigo o proprietário de
indústria que excede os limites que lhe foram dados, desde que essa ultrapassagem
tenha como finalidade um dano substancial ao ambiente. Tal norma penal em
branco remete para tipos legais como atos administrativos
Por exemplo, o crime de furto, no artigo 204 vemos que o nº2 determina um furto
qualificado ainda mais grave que contem dois conceitos indeterminados “valor
elevado” e “valor consideravelmente elevado”. No nº4 está outro conceito
indeterminado “diminuto valor”. Contudo estes conceitos são definidos no artigo
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Teoria da Lei Penal
o Não é inconstitucional esta norma pois qualquer pessoa tem uma perceção
destes conceitos, sendo que a norma já orienta suficientemente os
destinatários da norma, definindo o núcleo do ilícito típico, constituído pelo
bem jurídico tutelado, o desvalor da ação, e o desvalor do resultado.
Rui Patrício avança com ideia (ainda não unanimemente aceite) de que a norma
penal em branco é uma subespécie de um conceito mais amplo que é de tipo aberto
é aquele que comporta elementos carecidos de determinação material, ou é
aquele que não descreve de modo completo o comportamento proibido,
transferindo para o intérprete o encargo de completar o tipo dentro dos limites e
indicações nele contidos. Através de uma técnica de reenvio remete o destinatário
para uma disposição legal diferente daquela que estabelece a pena. se pegarmos
neste conceito de tipo aberto vamos conseguir distinguir as formulações típicas
abertas das normas penais em branco em sentido estrito.
o Normas penais em branco: reenvio para uma outra fonte normativa, ou para
uma outra disposição legal, a definição de uma parte do comportamento
proibido
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Teoria da Lei Penal
incriminadora, sendo necessária uma outra fonte normativa que venha definir o
elemento técnico do critério legal.
o Alínea e): o intérprete com base nas conceções sociais concede saber ao que
corresponde a “avidez”, que é a situação em que alguém mata outra para
alcançar o beneficio económico, em que há mercantilização da vida humana,
sendo que tal norma contem uma clausula aberta na parte final é clausula
aberta porque a norma permite que outro tipo de motivos diferente dos que
são expressos na lei, considerados fúteis (motivo incompreensível, que em
circunstancias normais não levariam a morte de ninguém) ou torvos (baixo e
ignóbil), possam corresponder a casos especialmente censuráveis. nós
como interpretes da norma conseguimos detetar o conteúdo da norma,
contudo a norma, ela própria invoca uma série de motivos que podem ser
considerados torvos ou fúteis, sendo que é a própria norma incriminadora
que remete para as conceções sociais, fornece ao interprete critérios que o
orientam na formulação típica aberta. É por isso mesmo que este tipo de
normas não inconstitucional. Aqui nós preenchemos os conceitos típicos sem
necessidade de recorrer a uma outra fonte normativa, conjugando a norma
incriminadora com as valorações sociais.
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Teoria da Lei Penal
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remete para outra norma, que por sua vez ainda remete para outra. Também pode
acontecer que a norma seja duplamente em branco e que ainda recorra a conceitos
genéricos ou indeterminados vimos isso a prepósito do homicídio qualificado em
que a mesma norma, artigo 204º, tem conceitos indeterminados, e por sua vez,
esses conceitos dependem do que seja uma “unidade de conta”. Essa unidade de
conta é definida por uma outra fonte normativa, a portaria. Nestes casos é
complicado o respeito por este princípio. Teremos que exigir que a norma penal em
branco, ela própria, satisfaça a exigência de suficiente determinabilidade do
comportamento proibido e da pena que lhe corresponde a norma extra penal a
que se remete nunca poderá caber a definição da pena, a definição do próprio crime,
a definição de um elemento essencial do crime. Então a penas lhe pode caber o que?
A delimitação do âmbito/ das margens da punibilidade.
Princípio da culpa: é violado este princípio quando a norma penal em branco só por
si não conseguir orientar suficientemente os destinatários quanto a conduta
proibida. Isto porque os agentes não conseguem prever com antecedência o que é
proibido e permitido e são apanhados à traição pena punibilidade.
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Questões centrais
Porquê o critério da ação no artigo 3º e não o do resultado?
Imagine-se que quando A dispara sobre B, que não é homicídio mas sim
contraordenação. No entretanto isto é considerado crime. Depois de ser
considerado crime B morre se se adotasse o critério do resultado violar-se-ia a
segurança jurídica (a limitação do poder punitivo do estado).
b) Ação
c) Omissão
Ação: o agente cria ou aumenta o risco para o bem jurídico protegido; piora a
situação do bem jurídico. Ex.: enfermeira com dolo não administra medicamento a
doente pois quer ficar com a sua fortuna.
Omissão: quando o agente não diminui o risco para o bem jurídico; não melhora a
situação do bem jurídico.
o Co-autoria:
b) Ideal: uma só ação naturalística que realiza diversos tipos de crime. Ex.: lançar
granada para dentro de um autocarro, ferindo umas pessoas e matando outras,
provocando danos materiais caso de concurso heterogéneo.
Princípios relevantes:
Artigos 5º/2 CP + 8º/2 CRP + 44º convenção de Istambul: aplicação direta dos
critérios de jurisdição previstos em convenções internacionais vinculativas para o
estado português, quanto a factos que nessa convenção internacional o estado se
tenha obrigado a julgar.
o Stalking
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Teoria da Lei Penal
o Casamentos forçados
o Violência doméstica
Este artigo 44º da convenção tem como epigrafe “competência judiciária”. Acerca
da jurisdição diz-se que o critério é o da residência habitual: obriga os estados parte
a julgar infrações cobertas pela convenção quando o agente reside no seu território,
independentemente da prática do facto. Essa convenção prescinde do requisito da
dupla jurisdição sendo que o critério de aplicação da lei penal é o da “residência
habitual”. Para todas as infrações previstas não se exige a dupla incriminação. Outra
inovação é a de que a jurisdição será exercida independentemente da apresentação
de qualquer queixa pelo ofendido.
ubiquidade (conjugado com o artigo 4º CP). Este artigo atende a uma multiplicidade
de critérios para definir o lugar da prática do facto: critério da ação e do resultado.
Nos casos da tentativa rege o artigo 7º/2 CP, Portugal será considerado como lugar
da prática do crime.
o Ex.: A quer matar B que está em Portugal, sendo que A esta em França.
Manda-lhe uma carta armadilhada. Acontece que ainda em França, um
funcionário dos correios abre a carta e morre. Temos uma tentativa de
homicídio de B, cujos atos de execução foram praticados em França, sendo
que assim que quando a carta foi posta no correio iniciou-se a tentativa de
homicídio. Quanto à morte do funcionário o lugar da prática é França, mas
Portugal pode reivindicar jurisdição se se verificar que a vítima alvo estava
no território português. Temos dois factos:
Vamos agora pensar no crime de perigo contra a vida (artigo 138º CP): a senhora A,
portuguesa residente habitualmente em Portugal encontra-se em viagem em
Espanha com o seu filho de um ano de idade e aproveitando uma viagem aos
Pireneus, leva o filho para a montanha e deixa-o lá, com o objetivo de se livrar dele,
deixando-o junto a um restaurante para que seja encontrado. vamos aplicar o
artigo 138º/3 b) CP que afasta a norma geral do 137º/2 CP. A primeira norma é
especial sendo que o elemento especializados é o perigo para a vida.
Discute-se agora um caso em que a senhora A quer abortar mas está na 15ª semana
de gestação. Em Portugal já não pode interromper a gravidez pois os
estabelecimentos de saúde já não a realizam neste caso. Então vai ao estrangeiro
para a realizar livremente. Neste caso o artigo 5º/1 e) não permite assegurar a
jurisdição dos tribunais portugueses pois o crime não é punido no lugar onde foi
praticado. Contudo quando chegamos a alínea b) para verificar a sua eventual
aplicabilidade temos um problema, quanto à nacionalidade do feto, pois não
podemos considerá-lo como português. Assim se aplicarmos esta alínea estamos a
fazer uma analogia proibida pois esta alínea exige que este facto seja praticado
contra portugueses, e o feto não tem nacionalidade nenhuma.
Prescrição de crimes
A prescrição significa que pelo decurso do prazo deixa de ser possível perseguir
criminalmente um dado caso, sendo que há limites ao poder punitivo do estado, que só
pode perseguir criminalmente nos limites do artigo 118º CP. Assim é por exigências de
segurança jurídica, limitação do poder punitivo do estado, e de prevenção geral e
necessidade de pena. Ora se passou muito tempo da prática do facto, a sociedade já
está apaziguada, e deste modo já não faz nenhum sentido perseguir criminalmente
alguém. As dificuldades probatórias apontam para que não se julgue estes casos.