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Cosit
Fls. 1
CoordenaçãoGeral de Tributação
Solução de Consulta Interna nº 19 Cosit
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Data 12 de setembro de 2012
Origem COORDENAÇÃOGERAL DE GESTÃO DE CADASTRO (COCAD)
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Ó
Assunto: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ITR
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(LRP); arts. 97, inciso I, 111, inciso I, e 130, parágrafo único, da Lei nº
5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional (CTN).
(Protocolo EProcesso nº 10166.724794/201211)
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Relatório
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CoordenaçãoGeral de Tributação (Cosit) a Consulta Interna Cocad sem número, de 1º de
junho de 2012, solicitando o posicionamento desta CoordenaçãoGeral a respeito do tratamento
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a ser dado aos imóveis rurais adquiridos por arrematação em hasta pública no Cadastro de
Imóveis Rurais (Cafir), bem como a definição a respeito das obrigações tributárias principal e
acessória que são atribuídas ao arrematante quanto ao Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural (ITR).
2. Existe ou não a obrigação do adquirente de apresentar Declarações do
ITR (DITR) que não foram apresentadas para os exercícios anteriores ao
evento de aquisição?
3. Quais as formas de se provar que a aquisição de imóvel decorreu de uma
arrematação em hasta pública?
4. As disposições a respeito da arrematação em hasta pública são aplicáveis
aos demais casos de expropriação previstos no Código de Processo Civil,
que são a adjudicação, a venda judicial e o usufruto?
3. Por fim, a Cocad apresenta o seguinte posicionamento para a solução da
consulta em referência:
1. Não há transferência de responsabilidade pelo crédito tributário para o
adquirente de imóvel rural sob a modalidade de alienação em hasta pública,
em razão da arrematação em leilão, praça ou outro meio previsto em lei,
independentemente do crédito tributário estar ou não constituído quando da
efetiva alienação;
2. O adquirente do imóvel rural em razão de arrematação em hasta pública
não está obrigado e, além disso, não deve apresentar declarações do ITR
para fatos geradores anteriores ao exercício em que se verificou a aquisição
da propriedade ou a imissão na posse;
3. A prova da aquisição da propriedade ou da imissão de posse em
decorrência de arrematação em hasta pública darseá mediante a
apresentação da carta de arrematação acompanhada de documento que
comprove o registro da arrematação no CRI ou a imissão do arrematante na
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
Autenticado digitalmente em 12/09/2012 por IRANI PELICIONI ISHIRUJI, Assinado digitalmente em 13/09/
2012 por MANAIA MACEDO ROMEU, Assinado digitalmente em 13/09/2012 por NEWTON RAIMUNDO BARBOSA DA SIL
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VA, Assinado digitalmente em 12/09/2012 por FERNANDO MOMBELLI
posse do imóvel. A carta de arrematação pode ser substituída por declaração
do CRI atestando o seu registro;
Fundamentos
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4. Primeiramente, ressaltase que o art. 97, inciso I, da Lei nº 5.172, de 25 de
outubro de 1966 – Código Tributário Nacional (CTN), dispõe que somente a lei pode
estabelecer sobre a extinção de tributos.
5. Nesse sentido, o art. 130 do CTN traz a regra de subrrogação na pessoa dos
respectivos adquirentes em relação aos impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o
domínio útil ou a posse de bens imóveis, salvo quando conste do título a prova de sua quitação.
5.1. No entanto, o próprio dispositivo trouxe, no parágrafo único, uma exceção à
regra para os casos de arrematação em hasta pública, em que, neste caso, a subrrogação ocorre
apenas sobre o respectivo preço.
5.2. Verificase que a arrematação de bem em hasta pública é considerada como
aquisição originária, inexistindo relação jurídica entre o arrematante e o anterior proprietário
do bem, pois os créditos relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade subrrogamse
sobre o respectivo preço quando arrematados em hasta pública, não sendo o adquirente
responsável pelos tributos que oneraram o bem até a data da realização deste evento.
6. Desta maneira, no caso da hasta pública, o arrematante recebe o bem livre do
ônus relativo ao crédito tributário, pois não há dúvidas de que a arrematação em hasta pública é
forma de aquisição originária da propriedade pelo arrematante, conforme inciso III do art. 647
da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil (CPC).
6.1. Segundo o senhor Ministro Cordeiro Guerra, do Supremo Tribunal Federal
(STF): "não é certo, nem legítimo, pracear o Estado um bem, receber o preço da arrematação, e
exigir do arrematante que responda, também, sobre os débitos do executado. O arrematante não
está obrigado a pagar os tributos incidentes sobre o imóvel arrematado, para obter a expedição
da Carta de Arrematação, uma vez que o preço depositado responde pelos impostos e taxas
devidos".
7. Portanto, para o adquirente de imóvel rural, entendese que não há transferência
de responsabilidade pelo crédito tributário do ITR, constituído antes ou depois da aquisição por
arrematação em hasta pública, mas desde que referentes a fatos geradores anteriores ao evento
da arrematação em hasta pública, tendo em vista o seu efeito de excluir qualquer ônus
obrigacional sobre o imóvel para o arrematante, transferindoo livremente de qualquer encargo
ou responsabilidade tributária.
7.1. Cabe ressaltar que, remanescendo dívidas tributárias, não quitadas à época da
arrematação, estas dívidas permanecerão exigíveis em relação ao antigo proprietário do imóvel,
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
Autenticado digitalmente em 12/09/2012 por IRANI PELICIONI ISHIRUJI, Assinado digitalmente em 13/09/
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VA, Assinado digitalmente em 12/09/2012 por FERNANDO MOMBELLI
ou seja, se o valor arrecadado na arrematação em hasta pública não for suficiente para pagar o
valor integral das dívidas tributárias, o saldo remanescente permanecerá exigível em relação ao
antigo proprietário do imóvel.
8. Constatase o mesmo entendimento na jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), conforme ementas colacionadas abaixo:
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PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU SOBRE
IMÓVEL ARREMATADO EM HASTA PÚBLICA. EXCEÇÃO DE PRÉ
P
EXECUTIVIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA. DÉBITOS TRIBUTÁRIOS.
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SUBROGAÇÃO QUE OCORRE SOBRE O PREÇO. PARÁGRAFO ÚNICO,
DO ART. 130, DO CTN. IMPOSSIBILIDADE DE IMPUTARSE AO
ARREMATANTE ENCARGO OU RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA.
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1. O crédito fiscal perquirido pelo fisco deve ser abatido do pagamento,
quando do leilão, por isso que, finda a arrematação, não se pode imputar ao
adquirente qualquer encargo ou responsabilidade tributária. Precedentes:
(Resp 716438/PR, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 09/12/2008, DJe 17/12/2008; REsp 707.605 SP,
Relatora Ministra ELIANA CALMON, Segunda Turma, DJ de 22 de março
de 2006; REsp 283.251 AC, Relator Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, Primeira Turma, DJ de 05 de novembro de 2001; REsp 166.975
SP, Relator Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Quarta Turma,
DJ de 04 de outubro der 1.999).
2. Os débitos tributários pendentes sobre o imóvel arrematado, na dicção do
art. 130, parágrafo único, do CTN, fazem persistir a obrigação do executado
perante o Fisco, posto impossível a transferência do encargo para o
arrematante, ante a inexistência de vínculo jurídico com os fatos jurídicos
tributários específicos, ou com o sujeito tributário. Nesse sentido: “Se o
preço alcançado na arrematação em hasta pública não for suficiente para
cobrir o débito tributário, nem por isso o arrematante fica responsável pelo
eventual saldo.” (BERNARDO RIBEIRO DE MORAES, Compêndio de
Direito Tributário, 2º vol., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 513).
3. A regência normativa em tela é a do CTN, parágrafo único do art. 130,
dispositivo especial quanto ao caput, posto ser este aplicado nas relações
obrigacionais de transferência de domínio ou posse de imóvel. In casu, a
situação é especialíssima e adversa, não havendo que se falar em
transferência de domínio por fins de aquisição dentro relações obrigacionais
civis, seja de compra e venda, cessão, doação etc.
5. Assim, é que a arrematação em hasta pública tem o efeito de expurgar
qualquer ônus obrigacional sobre o imóvel para o arrematante, transferindo
o livremente de qualquer encargo ou responsabilidade tributária.
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
Autenticado digitalmente em 12/09/2012 por IRANI PELICIONI ISHIRUJI, Assinado digitalmente em 13/09/
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VA, Assinado digitalmente em 12/09/2012 por FERNANDO MOMBELLI
(Grifouse)
IA TRIBUTÁRIO. IMÓVEL ADQUIRIDO EM HASTA PÚBLICA. SUB
ROGAÇÃO QUE OCORRE SOBRE O PREÇO. PARÁGRAFO ÚNICO DO
ART. 130, DO CTN. IMPOSSIBILIDADE DE IMPUTARSE AO
ADQUIRENTE ENCARGO OU RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA.
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1. A subrogação do crédito tributário deve ser realizada sobre o preço
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pago, oportunidade em que adquirido o imóvel em hasta pública.
2. O crédito fiscal perquirido pelo fisco deve ser abatido do pagamento,
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quando do leilão, por isso que, finda a arrematação, não se pode imputar ao
adquirente qualquer encargo ou responsabilidade tributária. Precedentes:
Resp 707.605 SP, Relatora Ministra ELIANA CALMON, Segunda Turma,
DJ de 22 de março de 2006; REsp 283.251 AC, Relator Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, Primeira Turma, DJ de 05 de novembro
de 2001; (REsp 166.975 SP, Relator Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA, Quarta Turma, DJ de 04 de outubro der 1.999).
(Grifouse)
9. Diante das ementas colacionadas acima, podese afirmar, também, que, em
relação ao questionamento nº 2, não existe a obrigação do adquirente de apresentar
Declarações do ITR (DITR) não apresentadas para os fatos geradores anteriores ao evento da
arrematação em hasta pública, tendo em vista a impossibilidade de se imputar ao adquirente
qualquer encargo ou responsabilidade tributária referente a este bem imóvel porque entre o
arrematante e o anterior proprietário do bem não se estabelece nenhuma relação jurídica, não
havendo nenhuma forma de sucessão tributária.
10. Ao se tratar do questionamento nº 3, cabe transcrever os arts. 693, 694 e 703 do
CPC:
Art. 693. A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato, nele
mencionadas as condições pelas quais foi alienado o bem. (Redação dada
pela Lei nº 11.382, de 2006).
Parágrafo único. A ordem de entrega do bem móvel ou a carta de
arrematação do bem imóvel será expedida depois de efetuado o depósito ou
prestadas as garantias pelo arrematante. (Incluído pela Lei nº 11.382, de
2006).
Art. 694. Assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da
justiça ou leiloeiro, a arrematação considerarseá perfeita, acabada e
irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do
executado. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
(...)
Art. 703. A carta de arrematação conterá: (Redação dada pela Lei nº 5.925,
Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001
de 1º.10.1973)
Autenticado digitalmente em 12/09/2012 por IRANI PELICIONI ISHIRUJI, Assinado digitalmente em 13/09/
2012 por MANAIA MACEDO ROMEU, Assinado digitalmente em 13/09/2012 por NEWTON RAIMUNDO BARBOSA DA SIL
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VA, Assinado digitalmente em 12/09/2012 por FERNANDO MOMBELLI
II a cópia do auto de arrematação; e (Redação dada pela Lei nº 11.382, de
2006).
IA III a prova de quitação do imposto de transmissão. (Redação dada pela Lei
nº 11.382, de 2006).
(...) Grifouse.
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11. Isto posto, constatase que a carta de arrematação é o instrumento de prova da
ocorrência da aquisição do bem imóvel por meio de hasta pública, sendo aquela o meio
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utilizado para fins de registro do imóvel em cartório.
12. Nesse sentido, o art. 167, item 26, da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 –
Lei do Registro Público (LRP),dispõe que serão feito os registros da arrematação em hasta
pública no registro de imóveis.
13. No que diz respeito ao questionamento nº 4, referente à aplicabilidade das
disposições legais tributárias da arrematação em hasta pública aos demais casos de
expropriação previstos no CPC, verificase que não há como se falar em extensão desta
exceção, pois se o CTN quisesse dar o mesmo tratamento da hasta pública para as demais
formas, como a adjudicação, traria a lei esta exceção de forma literal, tendo em vista o disposto
no inciso I do art. 111 do CTN, o qual determina que a exclusão do crédito tributário
interpretase literalmente.
Conclusão
15. Diante do exposto, concluise que:
Não há transferência de responsabilidade pelo crédito tributário do ITR, para o
adquirente de imóvel rural, constituído antes ou depois da aquisição por arrematação em hasta
pública, mas desde que referentes a fatos geradores anteriores ao evento da arrematação em
hasta pública, tendo em vista o seu efeito de excluir qualquer ônus obrigacional sobre o imóvel
para o arrematante, transferindoo livremente de qualquer encargo ou responsabilidade
tributária.
Se o valor arrecadado na arrematação em hasta pública não for suficiente para
pagar o valor integral das dívidas tributárias, o saldo remanescente permanecerá exigível em
relação ao antigo proprietário do imóvel;
Inexiste a obrigação do adquirente de apresentar Declarações do ITR (DITR)
não apresentadas para os fatos geradores anteriores ao evento da arrematação em hasta pública,
tendo em vista a impossibilidade de se imputar ao adquirente qualquer encargo ou responsabilidade
tributária referente a este bem imóvel porque entre o arrematante e o anterior proprietário do bem
não se estabelece nenhuma relação jurídica, não havendo nenhuma forma de sucessão
tributária;
A carta de arrematação é o instrumento de prova da ocorrência da aquisição do
bem imóvel por meio de hasta pública, sendo aquela o meio utilizado para fins de registro do
imóvel em cartório;
Não é possível a extensão da aplicabilidade das disposições legais tributárias
referentes à arrematação em hasta pública aos demais casos de expropriação previstos no CPC,
IA
como a adjudicação, a venda judicial e o usufruto.
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À consideração superior.
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(assinado digitalmente)
MANAIÁ MACEDO ROMEU
AuditoraFiscal da Receita Federal do Brasil (RFB)
De acordo. À consideração do CoordenadorGeral de Tributação.
(assinado digitalmente)
NEWTON RAIMUNDO BARBOSA DA SILVA
AuditorFiscal da RFB Chefe da Divisão de Impostos sobre a Renda de Pessoa Física
e a Propriedade Rural (Dirpf)
Despacho de aprovação Cosit nº 22
Data: 12 de setembro de 2012
Aprovo a Solução de Consulta Interna.
Encaminhese à CoordenaçãoGeral de Gestão de Cadastro (Cocad) para ciência
e demais providências que se fizerem necessárias. Dêse ciência, ainda, mediante correio
eletrônico, às Divisões de Tributação (Disit), às Superintendências Regionais da Receita
Federal do Brasil (SRRF), às Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento (DRJ), à
CoordenaçãoGeral de Fiscalização (Cofis) e à CoordenaçãoGeral de Arrecadação e Cobrança
(Codac), bem como se providencie a divulgação na Internet da RFB.
(assinado digitalmente)
FERNANDO MOMBELLI
AuditorFiscal da RFB – CoordenadorGeral da Cosit