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Resumo
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Introdução
O dia-a-dia de uma pós-graduação stricto sensu revela que os estudantes costumam
deparar-se com diversas dificuldades ao longo do curso. Percebe-se ainda, que um percentual
significativo delas repousa na realização dos projetos de pesquisa, e que por vezes, acabam
por elevar a proporção de alunos que deixam de defender suas dissertações e teses, embora
tenham completado, com sucesso, todos os demais requisitos dos cursos de mestrado e
doutorado (LEITE, 1978).
Neste sentido, ao observar especificamente os estudantes de mestrado enquanto
elaboram suas dissertações, pode-se inferir que, algumas dificuldades são recorrentes e
residem ou mantém estreita relação com o início do projeto de pesquisa. Pois, é na construção
do tema e do problema - etapa inicial (ECO, 1989; LEITE, 1978) e de fundamental
importância para a potencialidade do estudo (CASTRO, 1977) -, que se demanda do aluno –
em muitos casos, desprovido de experiência e conhecimento -, a tradução de um interesse
vago em um projeto operacional (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998), a redução dos limites
do estudo e a formulação de um problema específico de pesquisa (ECO ,1989).
Ademais, costuma-se observar por parte do estudante uma preocupação e um desejo
excessivo no que concerne à perfeição do trabalho. Fato este, que segundo Quivy e
Campenhoudt (1998), é decorrente de um erro primário, ora que, a investigação é, em sua
essência, algo que se procura, um caminhar para um melhor conhecimento. E deve ser aceita
como tal, mesmo que acarrete hesitações, desvios e incertezas.
De antemão, sem prolongar-se sobre o leque de dificuldades existentes, pode-se
observar que a construção do tema e do problema é influenciada por diversos fatores, que
podem ser organizados em: a) fatores substantivos: como a familiaridade com o processo de
pesquisa (LAVILLE e DIONNE, 1999), capacidade intelectual (ASTI VERA, 1973),
dificuldade de iniciar uma investigação (ECO, 1989; QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998)
domínio da metodologia (LEITE, 1978); e o emaranhado de interesses existentes - que
demanda a conciliação, dos objetivos pessoais e profissionais com aqueles do orientador
(ECO, 1989), do programa de pós-graduação (CASTRO, 1977), e de órgãos financiadores
(CHAUI, 2001); b) fatores instrumentais ou de apoio: tais como, o acervo da biblioteca,
espaço físico para estudo, tamanho das turmas e disponibilidade de recursos econômicos,
materiais e de tempo (ECO, 1989) - freqüentemente dividido entre vida social, profissional e
o desenvolvimento da pesquisa (CHANLAT, 1994).
Outrora, o cerne da discussão sobre tema e problema de pesquisa inclui ainda os
conceitos de validade, utilidade e originalidade, que, como outros inerentes ao processo
científico, são de entendimento vago e dificultoso (CASTRO, 1977). O que só vem a reforçar
o lançamento de inúmeros manuais centrados na elaboração de trabalhos acadêmicos, onde
comunga-se, em larga escala, que: um tema digno de pesquisa deve afetar um determinado
segmento da sociedade, ter relevância teórica, ou ainda, tratar de um tema emergente que
possa vir a interessar ou afetar muitos indivíduos no futuro (CASTRO, 1977).
Finalmente, cabe ressaltar que a escolha do tema e a definição do problema estão
associados, ainda que muitas vezes o mestrando não tenha consciência disso, às escolhas
epistemológicas e de visão de mundo que orientaram o desenvolvimento da pesquisa. Talvez,
a clareza quanto a isso escape até mesmo da capacidade de orientadores demasiadamente
preocupados com a dimensão prática do trabalho ou sua possível aplicabilidade. Não por
acaso, Laville e Dionne (1999) acusam-no como, o momento em que os estudantes se
distinguem uns dos outros, seja através da qualidade de sua intuição, perspicácia, capacidade
de observação ou análise crítica.
Sendo assim, por reconhecer que a construção do tema e do problema constitui uma
fase crucial da dissertação, bem como, que uma escolha errônea pode tornar o trabalho
insolvente teoricamente e inviável em termos metodológicos (CASTRO, 1977), este estudo
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admite a importância de uma referência analítica que oriente o trabalho de alunos de
mestrado. Com isso, espera-se ainda ampliar a consciência sobre alternativas que levem ao
sucesso na elaboração do trabalho final de pesquisa. Para isso, definiu-se como objetivo
central: Identificar e analisar as dificuldades encontradas por mestrandos em administração na
construção do tema e do problema de suas dissertações.
Com este fim, este estudo faz uma breve revisão teórica sobre a problemática exposta,
onde apresenta: a importância do tema e do problema para a pesquisa, as dificuldades que
permeiam os alunos durante a etapa inicial do estudo, e ainda, apontamentos de manuais que
tem auxiliado o trabalho de diversos mestrandos. Em seguida, relata a metodologia utilizada
no estudo de caso em que emergiu suas atenções, revela e analisa os seus achados e finaliza
apontando as considerações finais.
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Outrora, é válido destacar que alguns conceitos, tais como, utilidade, atualidade e
empenho, norteiam o olhar sobre um determinado tema de pesquisa, levando ao esquecimento
de que conclusões úteis podem ser extraídas de um tema aparentemente remoto ou periférico
(ECO, 1989), bem como, de que a contribuição pessoal pode consistir na focalização dada ao
problema, em sua delimitação ou no método de tratamento do mesmo (ASTI VERA, 1973).
Fato este, pode vir a explicar a recorrência de muitas das dificuldades encontradas pelos
mestrandos na construção do tema e do problema de suas dissertações.
Outro aspecto é ressaltado por Leite (1978), que identificou na missão de contribuir
para o enriquecimento do saber uma forma negativa à medida que desestimula aquele
estudante que se julga incapaz diante de tal pressão. Vale notar, que muito embora esta
questão permeie todas as etapas do processo de pesquisa - planejamento, estudo e resolução –,
não se espera que o aluno faça uma contribuição significativa em nível de estrutura principal
de um grande ramo científico. Basta que ele aplique os métodos de estudo científicos e de
pesquisa a um minúsculo aspecto de determinada ciência ou disciplina (LEITE, 1978).
Neste contexto, embora siga o mesmo prisma de análise, destacando inclusive que, as
descobertas em ciências humanas são mais discretas, Eco (1977) adverte que, em qualquer
caso, o estudante tem que descobrir algo que ainda não foi dito por outros autores e deve
produzir um trabalho que teoricamente os outros estudiosos da área não devam ignorar. A
tese, independente do tema, é um exercício do trabalho metódico que acumula uma
experiência válida para toda a vida do indivíduo. Embora seja melhor fazer uma tese sobre um
tema agradável, ele é secundário com respeito ao método de trabalho e à experiência daí
advinda. Trabalhando-se bem, não existe tema que seja verdadeiramente estúpido e que não
possibilite boas conclusões (ECO, 1989).
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No entanto, independente de divergências e concordâncias quanto à relevância de cada
dificuldade, a literatura tem se proposto a: elucidar dúvidas, prover a qualidade dos trabalhos
e reduzir transtornos encontrados pelos estudantes, reservando um amplo espaço para
apresentar definições do que viria a ser um tema e um problema digno de pesquisa, bem
como, para disponibilizar várias rotas e receitas que norteiem o aluno durante esta nebulosa
etapa da pesquisa. A seguir, apresentam-se algumas delas.
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Diante da dimensão necessária para expô-las em sua totalidade, elaborou-se um
quadro que sintetiza as proposições, em muitos momentos convergentes, de alguns manuais
referenciados.
Quadro 1: Passos para a construção do tema e do problema de pesquisa.
Autores Apontamentos
1- Analisar os conhecimentos disponíveis.
2 - Buscar lacunas ou regiões obscuras no conhecimento.
Asti Vera (1973)
3 - Atender às incongruências e contradições da literatura.
4 - Seguir exemplos, sugestões de leituras, ou a simples reflexão.
1 - Compatibilizar o tema com os interesses do candidato.
2 - Fontes de consulta acessíveis.
Eco (1989)
3 - Fontes de consulta manejáveis, ao alcance cultural candidato.
4 - Quadro metodológico ao alcance da experiência do candidato.
1 - Estudo da literatura.
2 - Exclusão de tópicos já suficientemente estudados.
Leite (1978) 3 - Identificação de fatos novos ou questões controvertidas.
4 - Divisão do problema em seus componentes básicos.
5 - Identificação de aspectos interessantes e factíveis ao tema.
Elaborado pelos autores.
Vale notar, que a estes apontamentos somam-se muitos outros - inclusive dos próprios
autores expostos -, contidos em manuais novos ou revisados. Eco (1989), por sua vez,
adicionou – ainda que de forma implícita -, o que viria a ser uma quinta regra, a escolha
sensata do orientador. Já Asti Vera (1973), não obstante as regras para a escolha do tema,
advertiu para a importância da compreensão do mesmo. O que demandaria: a) estar em
condições de explicá-lo aos demais; b) saber desenvolver as questões implícitas; e c)
eventualmente poder assinalar aspectos particulares (casos e exemplos) e algumas das
aplicações possíveis.
Leite (1977), por sua vez, propõe ao estudante alguns pré-requisitos para a escolha do
tema, como: a adaptabilidade dos conhecimentos, disponibilidade de orientação acadêmica na
área, avaliação, através de investigações e consultas, das possíveis dificuldades a serem
enfrentadas, consideração dos recursos e do tempo necessário à execução do trabalho e por
fim, a percepção de que a tese é apenas um requisito necessário para a conclusão do curso,
cujo cumprimento, em tempo mínimo, deve ter prioridade sobre interesses e ambições de
pesquisa a longo prazo que o aluno possa acalentar.
Metodologia
Em função de sua proposta inicial, este estudo possui um caráter exploratório,
ampliando a compreensão sobre a natureza geral da problemática em questão (MALHOTRA,
1996; AAKER; KUMAR; DAY, 2001), através da análise e interpretação dos pesquisadores
(GUMMESSON, 2000). Caracteriza-se, portanto, pela adoção de uma abordagem qualitativa,
já que focaliza as vivências dos indivíduos e seus respectivos significados em relação a
fenômenos, processos e estruturas, inseridos em cenários sociais (SKINNER; TAGG;
HOLLOWAY, 2000). E, neste sentido, diante da demanda por uma compreensão aprofundada
do fenômeno, deteve-se a estudar um único caso (YIN, 1994).
Por sua vez, este estudo de caso investigou um Programa de Pós-Graduação em
Administração filiado à Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração
(ANPAD), atuante a vinte e nove anos e que oferece atualmente cursos de especialização,
mestrado acadêmico e doutorado. Centrou-se, todavia, no curso de mestrado acadêmico, cujo
intuito, é formar docentes pesquisadores e preparar dirigentes de instituições públicas e
privadas, e constitui-se atualmente por quinze docentes e sessenta e seis discentes.
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Logo, os sujeitos da pesquisa incluem: alunos em diferentes estágios do curso,
advindos dos processos seletivos dos anos de 2006 e 2007, que respectivamente estão: em
fase de qualificação de seus projetos e vivendo a fase embrionária do projeto de pesquisa.
Contudo, frente à inviabilidade de abrangê-los em sua totalidade, fez-se a divulgação dos
objetivos da pesquisa e a escolha acabou se dando em função da disponibilidade dos
participantes.
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com o orientador e de conhecimento a cerca da problemática em que irão emergir suas
investigações, e ainda, de tempo para se dedicar à leitura e pesquisa.
Contudo, vale destacar que, diversos obstáculos relatados pelos estudantes tiveram
relevância minimizada para aqueles alunos que fizeram iniciação científica, participam de
grupos de pesquisa ou possuem produção científica. Não raro, este grupo de alunos mostrou
maior familiaridade com o processo de pesquisa, o que tende a auxiliá-los no desenrolar de
suas dissertações. E, além do mais, em sua maioria, se dedicam integralmente ao curso, são
oriundos de outras cidades e contam, ou esperam contar, com o auxílio financeiro de bolsas de
estudo. Ciente disso, o restante dos estudantes acusa a falta de tempo, dividido entre vida
pessoal, profissional e acadêmica, como o principal vilão de suas dificuldades, conforme
observa-se no relato:
Considerações finais
A partir dos achados apresentados neste estudo, pode-se concluir que, a maioria dos
entraves encontrados pelos mestrandos em administração é mencionada na literatura. Parte
significativa é recorrente e deriva de fenômenos cotidianos de um curso de mestrado, como, a
impossibilidade de escolher o orientador, a necessidade e conciliação dos interesses pessoais e
profissionais, e principalmente, a falta de familiaridade e de tempo no que se refere à prática
da pesquisa.
Desta forma, inferir-se que estudantes que se dedicam integralmente ao mestrado, bem
como aqueles que participaram de iniciação científica, ou ainda, fazem parte de um
determinado grupo de pesquisa, tem maior facilidade de lidar com os obstáculos postos no
decorrer da elaboração da dissertação, e principalmente, na construção do tema e do problema
de suas pesquisas. Não raro, estes alunos aliam os interesses do grupo de pesquisa com os
seus interesses acadêmicos, profissionais e do orientador, com o qual, mantém um
relacionamento mais estreito e saudável, o que resulta por vezes na elaboração de artigos
científicos e, por conseguinte, aumenta a probabilidade de obter auxílio financeiro, ou seja, a
bolsa de estudos.
É, neste sentido, um ciclo, que só tende a auxiliar e prover o estudante em uma
construção mais sensata do tema e do problema de sua dissertação. Consoante aos
apontamentos encontrados nos diversos manuais, a experiência prévia do aluno e a
compatibilidade de interesses, do aluno, orientador e grupos de pesquisa, são determinantes
para que o aluno obtenha êxito desde a primeira etapa do processo investigativo.
Finalmente, pode-se observar que a capacidade de desenvolvimento de um tema e
problema adequados para uma dissertação advém da maturidade acadêmica do aluno, a qual
está associada à experiência obtida pelo mestrando ou doutorando ao longo da sua vida
acadêmica. Aqueles que desenvolveram atividade de iniciação científica, que participam de
atividades de pesquisa e que trabalham junto com seus orientadores em projetos de pesquisa e
elaboração de artigos, constroem essa maturidade e conseguem chegar a um tema e problema
com menos dificuldades. Pode-se observar que em nenhum momento as alunos fazem
referência aos manuais ou a própria disciplina de metodologia como um elemento
determinante do sucesso para chegar ao tema e problema, evidenciando também que a
capacidade de resolver essas questões do trabalho científico estão associadas à prática da
pesquisa, ou seja, o learning by doing.
Esse trabalho apresenta a limitação de não ter trabalhado a perspectiva dos
orientadores, os quais vivenciam as dificuldades dos orientados ao longo do processo, ficando
essa etapa para um próximo artigo. Além disso, não considerou a qualidade do tema e
problema construído efetivamente, ou seja, até que ponto aqueles alunos que não perceberam
dificuldades na construção do tema e do problema produziram projetos ou dissertações com
melhor qualidade. Também, nesse processo, não foi considerado a clareza dos mestrandos e
doutorandos quanto aos pressupostos epistemológicos que sustentam seu quadro teórico e
metodológico. Nesse caso, espera-se como resultado que aqueles familiarizados com o
processo de pesquisa tenham mais clareza sobre os pressupostos teórico-metodológicos dos
seus estudos.
Os resultados da pesquisa, no entanto, permitiram revelar que muitos problemas
presentes nos programas de mestrado e doutorados podem ser minimizados com uma política
institucional de aproximação da graduação com a pós-graduação, bem como com o
fortalecimento do espaço de interação dos alunos nos projetos de pesquisa. A consolidação
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dos grupos de pesquisa constitui-se em forte instrumento de dinamização na construção de
teses e dissertações mais consistentes.
Referências bibliográficas
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YIN, R. K. Case study research: design and method. 2nd edition. Thousand Oaks: Sage
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