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Pery Teixeira
Marília Brasil
PAGLIARO, H., AZEVEDO, MM., and SANTOS, RV. orgs. Demografia dos povos indígenas no
Brasil [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005. 192 p. ISBN: 85-7541-056-3. Available
from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
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Estudo Demográfico dos Sateré-Mawé:
CAPÍTULO 7
um exemplo de censo participativo
Introdução
Objetivos e metodologia
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Em cada uma das cidades abrangidas, foram realizadas, nos dias que
precederam os levantamentos, atividades preparatórias com participação da
população indígena residente, de suas lideranças e de autoridades e técnicos de
órgãos municipais, estaduais e federais, além de representantes de organizações
não governamentais (ONGs) e da Diocese de Parintins. De um modo geral, tais
atividades compreenderam: informe e discussão sobre o levantamento censitário
na cidade, o planejamento e as principais providências a serem adotadas para sua
realização, tais como a seleção e treinamento dos entrevistadores, estratégia para
o levantamento de campo etc.; seleção dos entrevistadores (estudantes sateré-
mawé do ensino fundamental ou do médio) indicados pelas lideranças indígenas
locais; localização e mapeamento preliminar da população sateré-mawé residente
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na cidade, com apoio das lideranças indígenas e de instituições como Funai, Funasa,
Prefeituras Municipais.
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Abrangência geográfica
Uaicurapá 59 292
Koatá-Laranjal 31 127
Maués 48 200
Barreirinha 50 276
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Antecedentes históricos
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lado dos cabanos, enormes áreas da Amazônia foram devastadas, fato que provocou
os deslocamentos desses grupos populacionais de seus territórios ancestrais e um
processo de depopulação (Lorenz, 1992).
Segundo relatos de viajantes, desde o século XVIII o território dos Sateré
vem sendo paulatinamente reduzido. Essa redução se deu a partir da chegada das
tropas de resgate que penetraram grandes áreas da Amazônia; da implantação de
missões jesuítas e carmelitas ao longo dos principais rios amazônicos; da busca
desenfreada pelas chamadas drogas do sertão; com a exploração da borracha durante
o século XIX e início do XX; e, por fim, da expansão econômica das cidades de
Maués, Barreirinha, Parintins e Itaituba para o interior dos municípios, alocando
fazendas, extraindo pau-rosa, abrindo garimpos, dominando a economia indígena
através de regatões (Lorenz, 1992:18). As cidades de Maués, Parintins e Itaituba,
inclusive, foram fundadas sobre restos de malocas dos Sateré-Mawé.
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Expansão de aldeias
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Koatá-Laranjal 68 59 127
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(144 hab.), Araticum Novo (148 hab.), Fortaleza (121 hab.), Umirituba (136 hab.) e
Nova América (105 hab.). As outras 39 comunidades da região são habitadas por
menos de 100 indivíduos cada uma, chegando algumas a ter menos de 20
habitantes, como Ponto Alto, São Miguel, Boa Vista, Itaubal, São João, Jatuatuba
I, Limoal, São Gabriel, São Marcos, São Sebastião do Arco, Tigre e Ipiranga.
No Rio Marau vivem 3.288 Sateré-Mawé, distribuídos em 37
comunidades. As maiores aldeias são Santa Maria (335 hab.), Vila Nova II (316hab.),
Campo do Miriti (233 hab.), Nossa Senhora de Nazaré (192 hab.), Boas Novas (144
hab.), Nova Aldeia (106 hab.), Marau Novo (121 hab.), Kuruatuba (115 hab.) e
Menino Deus (101 hab.). As 28 comunidades restantes possuem menos de 100
habitantes cada, mas nenhuma delas tem, como o Rio Andirá, aldeias com população
inferior a 20 moradores.
Ainda na Terra Indígena Andirá-Marau, a região do Rio Uaicurapá possui
quatro comunidades Sateré-Mawé, habitadas por 292 pessoas Vila Batista I (109
hab.), São Francisco (65 hab.), Nova Alegria (59 hab.) e Vila da Paz (59 hab.).
Existe apenas uma aldeia sateré-mawé na Terra Indígena do Koatá-
Laranjal, a Vila Batista II, com 127 habitantes. As demais comunidades dessa
terra indígena são habitadas pela etnia Munduruku.
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Xingu, como os Kaiabi, Juruna, Waurá e Kamaiurá, Pagliaro (2002) e Pagliaro et al.
(2001 e 2003) encontraram estruturas etárias com proporções de menores de 15
situadas entre 49% a 58%.
Ainda na Tabela 3, notam-se pequenos diferenciais na participação da
população menor de 15 anos entre as áreas indígenas e entre as cidades. Entretanto,
devido ao número relativamente reduzido de moradores em algumas dessas áreas,
não se deve, de imediato, levantar hipóteses de explicação dos diferenciais. Vale
apenas ressaltar, nas terras indígenas, as proporções maiores de jovens nas áreas
do Koatá-Laranjal e do Uaicurapá. Apesar de não serem marcantes essas diferenças,
elas poderiam estar relacionadas com o fato de que as duas áreas apresentam
população reduzida (Tabela 2), são de povoamento recente e se encontram
relativamente distantes dos núcleos mais antigos dos povoados do Andirá e do Marau.
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D
D
D
D
D
D
D
D
-1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 1000
homens mulheres
H
D
D
D
D
D
D
D
D
homens mulheres
Nas áreas urbanas (Figura 2), a pirâmide etária apresenta um padrão mais
característico das populações com movimento migratório intenso, especialmente entre
os 10 e 25 anos de idade. Na realidade são justamente os adolescentes e jovens, com
predominância das mulheres, que vão completar seus estudos nas cidades.
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Koatá-Laranjal 68 59 115,3
Fecundidade e reprodução
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Parintins (Tabela 5). Nas áreas indígenas, mais populosas, ocorreu um número
bem maior de nascimentos vivos, 385.
As discrepâncias entre o número de nascimentos ocorridos nas áreas
urbanas e nas terras indígenas dão conta da diferença entre a fecundidade das
mulheres que vivem nessas regiões. Com efeito, a Taxa Bruta de Natalidade
das terras indígenas chega a 51,3, contra apenas 28,1 nas áreas urbanas. Mesmo
tendo-se em conta a flutuação aleatória nos pequenos números referentes às cidades,
fica evidente a diferença na natalidade entre esses dois espaços de observação.
Nas terras indígenas existem também diferenças entre os níveis de
natalidade das duas áreas mais populosas (Marau e Andirá), que podem ser
observadas na próxima tabela. Os valores respectivos de 54,1 e 47,7 nascimentos
vivos para cada mil habitantes daquelas duas regiões revelam a possibilidade de
distintos comportamentos reprodutivos de seus habitantes, o que, de certa forma,
não deveria ser esperado, dada a semelhança das características sociais, econômicas
e culturais nas duas áreas, além da relativa proximidade geográfica entre elas e da
relativa facilidade de comunicação entre seus habitantes.
Total 413 - - -
Nota: Não foram consideradas as áreas do Uaicurapá e do Koatá-Laranjal por causa do pequeno
número de nascimentos ali registrados. No entanto, os nascimentos dessas áreas foram
computados no cálculo das taxas da área indígena.
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meninas de 13 anos que já tiveram filhos e mulheres com idade acima de 49 anos
que ainda continuam tendo filhos. Essa idade média à reprodução nas cidades
está 2,3 anos acima da referente à área indígena.
A fecundidade da população sateré-mawé também pode ser observada
com base nas taxas específicas de fecundidade por idade, que mostram o
comportamento reprodutivo das mulheres por grupos etários qüinqüenais (Figura
3). De acordo com as informações levantadas, as taxas de fecundidade das mulheres
sateré-mawé são mais elevadas nas idades mais jovens, com pico no grupo etário
20-24. Isto faz com que o padrão reprodutivo dessas mulheres tenha uma
configuração rejuvenescida e, não obstante a significativa diferença nos níveis,
apresente alguma semelhança com o atual padrão das mulheres das áreas rurais
do Estado do Amazonas. Ressalte-se ainda a comparação entre esse padrão sateré-
mawé e o da população rural do Brasil na década de 1960, cuja curva sugere um
nível de fecundidade bastante próximo (como, de fato, o é, conforme Carvalho,
1978). A fecundidade atual dos Sateré-Mawé é mais elevada que a do Brasil nos
dois primeiros grupos etários e mais reduzida nos demais (com exceção do último).
Nessas primeiras idades ocorrem 27% dos partos no Brasil de 1960/1970 e 38%
nas terras sateré-mawé de 2003. E, nas duas populações, a fecundidade continua
relativamente elevada nos grupos etários subseqüentes.
0,4000
0,3000
0,2000
0,1000
0,0000
15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49
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Notas
1 Os etnônimos são grafados em minúscula quando usados como adjetivos e com letras maiúsculas
quando substantivos. Segundo convenção da Associação Brasileira de Antropologia de 1954, os
etnônimos não devem sofrer flexão de gênero ou número.
2 Para a área do Andirá a equipe contava com uma lista de moradores fornecida pela Funai. Ali,
o coordenador técnico para a comunidade apenas apresentava a referida lista ao agente de
saúde ou ao tuxaua, solicitando a confirmação, ou não, da condição de moradores entre os
relacionados, e, se fosse o caso, a identificação de novos moradores ou de moradores ausentes
da relação da Funai.
3 Sateré significa lagarta de fogo e Mawé pode ser traduzido como papagaio falante.
Referências Bibliográficas
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