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Experimentos com Histonas de Vida' (Italia-Brasil) Textos de: MARIA ISAURA PEREIRA DE QUEIROZ ZEILA DE BRITO FABRI DEMARTINI i, ROBERTO CIPRIANI MARIA IMACOLATA MACIOTI Organizagdo e Introdugio de: Olga de Moraes Von Simson leos 2. Soclologla - Pesquisa 1, Simson, i 722 ara eDp-501..0% EE Eee iSglea 301.0722 — Indices pare catélogo sistemético: 1. HistGrias de vida : Pesqulsa soclotGgles 301.07 EE" Mécodo blowrdfea * Peaquss' socicldgica Sor oes S VERTICE RELATOS ORAIS: DO “INDIZ{VEL” AO “DIZ{VEL” Maria Isaura Pereira de Queiroz Revalorizacao do relato oral Nao faz muitos anos, o “relato”, denominado agora “‘hist6ria oral”, fez seu reaparecimento entre as técnicas de coleta de material empregadas pelos cientistas sociais com tanto sucesso que, por mui- tos deles, foi encarado como “a” técnica por exceléncia, e até mesmo a Gnica vélida para se contrapor as quantitativas. Enquanto estas tiltimas — reduzindo a realidade social & aridez dos ntimeros — pare- ciam amputé-la de seus significados, a primeira encerrava a vivaci- dade dos sons, a opuléncia dos.detalhes, a quase totalidade dos 4ngu- los que apresenta todo fato social. Diz-se reaparecimento porque, do comego do século-ao inicio dos anos 50, a “hist6ria oral” fora utilizada por socidlogos como ‘W. I. Thomas (1863-1947) e F. Znaniecki (1882-1958) em sua pes- quisa conjunta, datada de 1918-1920; ou como John Dollard (1900) que pretendeu tragar-Ihe as regras de aplicagio; ¢ também por antro- pdlogos, entre os quais Franz Boas (1858-1942), geégrafo alemao convertido A antropologia e naturalizado americano em 1886, que recolheu relatos e depoimentos de velhos caciques ¢ pajés a fim de preservar do desaparecimento a meméria da vida tribal. Estes cien- tistas sociais encaravam a histéria oral e principalmente a histéria de vida como um instrumento fundamental de suas disciplinas. Po- rém, enquanto Boas a empregava sem grandes discussées, tanto Dollard 14 quanto Thomas e Znaniecki alertavam para as dificuldades que apre- sentavam. Para estes dois dltimos, a hist6ria de vida mostrava apenas um aspecto parcial da realidade; assim sendo, nao podia ser utilizada iso- ladamente, mas devia ser completada ¢ esclarecida por toda a sorte de dados colhidos segundo outras técnicas. © monumental trabalho que empreenderam sobre o camponés da Poldnia, imigrante e em seu pais de origem encerra, com efeito, coletas realizadas por meio de instrumentos de pesquisa os mais variados. Quanto a John Dollard, sua preocupagao era as implicagdes psicolégicas das histérias de vida. Considerava-as como aptas para se conhecer como se desenvolvia um individuo em seu meio sécio-cultural; estariam, portanto. muito colo- ridas pelo subjetivismo do informante, o que deturparia sua narrativa. Porém, para estes autores, o relato oral se apresentava como técnica til para registrar 0 que ainda njo se cristalizara em documentacdo escrita, 0 nao.conservado, o que desapareceria se nao fosse anotado; servia, pois, para captar o nfo explicito, quem sabe mesmo o indiztvel. * © grande desenvolvimento das técnicas estatisticas, em fins dos anos 40, relegou para a’ penumbra relatos orais e histérias de vida, que pareciam demasiadamente ligadas as influéncias da psique indi vidual. A técnica de amostragem com a aplicacio de questionério surgia agora como a mancira mais adequada de se obter dados inques- tionavelmente objetivos. Pouco a pouco se percebeu, no entanto,. que valores ¢ emogdes permaneciam escondidos nos préprios dados estatfsticos, jé que as definigdes das finalidades da pesquisa e a fOrmulacao das perguntas estavam profundamente ligadas & maneira de pensar e de sentir do pesquisador, o qual transpunha assim para os dados, de maneira perigosa porque invisivel, sua prépria percepgao e seus preconceitos. Os mimeros perdiam sua auréola de pura objetividade, patenteando- se dotados de viezes anteriores a0 momento da coleta, escondidos na formulago do problema e do questiondrio; ocultos, pareciam inexistentes.... Porém influenciavam o levantamento, desviando-o muitas vezes do rumo que devia seguir. a O desenvolvimento tecnolégico, colocando & disposigo do cien- tista social novos meios de captar o real, como o gravador, reavivou novamente o relato oral. As fitas pareciam agora o meio milagroso de conservar & narrago uma vivacidade de que o simples registro no Papel as despojava, uma vez que a voz do entrevistado, suas ento- nagSes, suas pausas, seu vaivém no que contava, constitujam outros 7 15 tantos dados preciosos para estudo. Sem davida, Oscar Lewis foi um pioneiro neste sentido. Muito embora se considere huje discutivel a maneira pela qual agit, ao colher as varias histérias de vida de mem- bros da famflia Sanchez, mostrou como utilizar um novo meio de registro, recolheu precioso repositério de dados, criou documentos cuja exploragdo € ainda possivel, apesar das dividas levantadas. * Como que se redescobriu nesse momento o relato oral ¢ se aquilatou de maneira positiva sua grande importancia. Relato oral e transmissio de conhecimentos No entanto, através dos séculos, o relato oral constituira sempre a maior fonte humana de conservago e difuséo do saber, o que equi- vale a dizer, fora a maior fonte de dados para as ciéncias em geral. Em todas as épocas, a educagdo humana (ao mesmo tempo formacio dé habitos © transmissio de conhecimentos, ambos muito interliga- ‘dos) se baseara na narrativa, que encerra uma primeira transposigao: ‘a da experigncia indizivel que se procura traduzir em vocébulos. Um primeiro enfraquecimento ou uma primeira mutilagd ocorre entio, com a passagem-daquilo que est4 obscuro para uma primeira nitidez, — a nitidez da palavra, — rétulo classificat6rio colocado sobre uma ago ou uma emogio. A transmissao tanto diz respeito ao_passado mais longinquo, que pode mesmo ser mitolégico, quanto ao passado muito recente, & expe- rigncia do dia-a-dia. Ela se refere ao legado dos antepassados © tam- bém & comunicago da ocorréncia préxima no tempo; tanto yeicula nogdes adquitidas diretamente pelo narrador, que pode inclusive ser (© agente daquilo que est4 relatando, quanto transmite nogoes adquiri das por outros meios que nao a experiéncia direta, ¢ também antigas “tradig6es do grupo ou da coletividade. © relato oral esté, pois, na base da obtengao de toda a sorte de informagSes e antecede a outras técnicas de obtengao e conservagao do saber; a’palavra parece ter sido sendo a primeira, pelo menos uma . das mais antigas técnicas utilizadas para tal. Desenho e escrita Ihe sucederam, Quando o “‘homem das cavernas” deixou, nas paredes desta, figuras que se supde formarem um sentido, estava transmitindo um conhecimento que possufa e que talvez j4 tivesse recebido um nome, estando j4 designado pela palavra.* O fruto de suas experién- cias ¢ descobertas ficava assim concretizado © passava aos demais, inclusive aos pésteros. Mais tarde a escrita; quando inventada, nao foi mais do que uma nova cristalizagio do relato oral. Desde que 0 processo de transmissiio do saber se instala, implica imediatamente na existéncia de um narrador e de um ouvinte ou de um piblico. Ao se operar a passagem do oral para um signo que o “solidifica”, seja cle desenho ou esctita, instala-se novo intermedié- rio entre narrador © ptblico. O intermediério pode ser também um individuo que funcione como transmissor dos conhecimentos que ouviu de outrem. Da mesma forma que desenho e palavra escrita constituem uma reinterpretacio do relato oral, também o individuo intermediério, por mais fiel, acrescenta sua propria interpretagao Aquilo que esté narrando. © gravador parece, a primeira vista, um instrumento técnico proprio para anular, ou pelo menos para diminuir 0 possivel desvio trazido pela intermediagao do pesquisador. Logo se viu, no entanto, que o poder da méquina ndo era téo absoluto, e nem mesmo tao grande quanto se havia suposto, uma vez que a utilizagZo dos dados nas pesquisas exigia, em seguida, a transcrigdo escrita. Uma parte do registro se perdia na passagem do oral para o texto, e este ficava igualado a qualquer outro documento.‘ A vantagem era conservar “com maior precisdo a linguagem do narrador, suas pausas (que po- diam ser simbolicamente transformadas em sinais convencionais), a ordem que dava as idéias. O documento resultante era sem diivida mais rico do que aquele registrado pela mio do pesquisador, mas apesar de tudo havia um empobrecimento quando comparado com a fita gravada, e de novo o pesquisador se tornaya um intermediério que podia deturpar de alguma forma o que fora registrado. A fita, porém, ndo € passivel de ser guardada indefinidamente. Se repetidas vezes empregada por um mesmo bu por sucessivos pes- quisadores que quiserem evitar a transcrigao escrita, logo se deteriora; obter dela cépias em quantidade leva a despesas aprecidveis, embora concorra para conservé-la. Toda fita, mesmo quando utilizada com parciménia, ainda assim € frégil, exige cuidados especiais para maior durabilidade, ¢ armazenagem bastante cara. A tinica forma de se con- servar o relato por longo tempo esté ainda em sua transcricdo. Volta-se fo que se acreditara evitar com o gravador, isto &, a intermediagao escrita entre o narrador e o piblico para a utilizagio do relato, e as possiveis deturpacdes dela decorrentes. Tal constatagio contribui para desfazer nova ilusio: a de que se veria conservar a narrativa o mais proximo possfvel de seu registro, evitando a intervengéo do pesquisador e a ocorréncia de cortes que Prejudicariam o conhecimento integral do dado recolhido. Tropega-se _ Aqui com algo que parece obstéculo intransponivel: a nitida distingao 17 entre narrador ¢ pesquisador, que é fundamental. O pesquisador ¢ guiado por seu proprio interesse ao procurar um narrador, pois pre- tende conhecer mais de perto, ou entdo esclarecer algo que o preocupa; o narrador, por sua vez, quer transmitir sua experiéncia, que considera digna de ser conservada e, ao fazé-lo, segue o pendor de sua prépria valotizagao, independentemente de qualquer desejo de auxiliar 0 pes- quisador. Procuraré por todos os meios relatar, com detalhes © da forma que Ihe parece mais satisfatdria, os fatos que respondem aos seus prdprios intentos, ¢ tudo isto pode convir ou nao ao pesquisa- dor, o qual tentaré entio trazer o narrador ao “bom caminho”, isto é, ao assunto que estuda. Mais tarde, ao utilizar o relato, o pesquisador o faré de acordo com suas preocupagées ¢ no com as intengdes do narrador, isto é, as intengdes do narrador, seréo forgosamente sacrificadas. Assim, 0 propésito deste tiltimo fica sempre em segundo plano, desde o inicio da coleta de dados, Em primeiro lugar, porque néo coincide nunca inteiramente com 0s propésitos do pesquisador; foram os desejos deste que deslancharam o relato, sendo entdo predominantes sobre 0 intento do narrador. Em segundo lugar, porque o pesquisador utilizaré em seu trabalho as partes do relato que sirvam aos objetivos fixados, destacando os t6picos que considerar4 titeis e desprezando os demais. ‘Noutras palavras, desde o inicio da coleta do material, quem comanda toda a atividade € 0 pesquisador, pois foi devido a seus interesses especificos que se determinou a obtengao do relato. Durante a entrevista, portanto, por mais que se procure deixar o narrador como senhor do que esté expressando, o pesquisador teré sempre uma posicéo dominante. Que este mais tarde recorte o material segundo suas finalidades, afim de aproveité-lo da maneira que melhor conve- nha a estas, nao estaré sendo seguindo a mesma linha de dominagio tomada desde o inicio e agora reafirmada de maneira mais clara. Na verdade, a narrativa oral, uma vez transcrita, se transforma ‘num documento semelhante a qualquer outro texto escrito, diante do qual se encontra um estudioso e que, ao ser fabricado, nfo seguiu forgosamente as injungdes do pesquisador; de fato, o cientista social interroga uma enorme série de escritos, contempordneos ou no, que constituem a fonte de dados em que -apéia seu trabalho, Recortes de jornal relativos A atualidade, documentos histéricos de variado tipo e de diversas épocas, correspondéncia hodierna ou passada, re- gistros os mais diversos — sem esquecer as estatisticas estabelecidas pelos governantes ou por instituigdes espectticas — foram redigidos com intengdes que nada tinham a ver com a pesquisa que decidiu fazer; e nfo € por esta raziio que devam ser afastados como menos titeis. Pelo contrério, constituem hoje, como constituiram no passa- do, a base mais s6lida sobre a qual se erguerd o edificio da investi- gacdo. E sobre ela que se realizaré o procedimento primordial de toda pesquisa — andlise. E andlise, em seu sentido essencial, signi- fica decompor um texto, fragmenté-lo em seus elementos fundamen- tais, isto é, separar claramente os diversos componentes, recorté-los, a fim de utilizar somente 0 que ¢ compativel com a sintese que se busca. Assim, diante destas consideracdes, o escrépulo em relagdo aos recortes das histérias orais e & sua utilizagdo parcial, se afigura nitidamente como um falso problema. Histéria oral, ft 6ria de vida Histéria oral” ¢ termo amplo que recobre uma quantidade de s a respeito de fatos no registrados por outro tipo de documen- taco, ou cuja documentagfo se quer completar. Colhida por meio de entrevistas de variada forma, ela registra a experiéncia de um s6 individuo ou de diversos individuos de uma mesma coletividade. Neste tiltimo caso, busca-se uma convergéncia de relatos sobre um mesmo acontecimento ou sobre um perfodo do tempo. iA hist6ria oral pode captar a experiéncia efetiva dos narradores, mas também recolhe desies tradigoes e mitos, narrativas de fico, crengas existentes no grupo, assim como relatos que contadores de histérias, poetas, canta- dores inventam num momento dado. Na verdade tudo quanto se narra oralmente é histéria, seja a hist6ria de alguém, seja a histéria de um grupo, seja histéria real, seja ela mitica, . * “Dentro do quadro amplo da histéria oral, a “histéria de vida’” constitui uma espécie ao lado de outras formas de informacio tam- ~bém captadas oralmente; porém, dada sua especificidade, pode igual- mente encontrar umi simile em documentacao escrita. Trata-se de tipos de documentos préximos uns dos outros, mas que € necessério dis- tinguir pois cada qual tem-sua peculiaridade de coleta e de finali- dade. Assemelham-se as hist6rias de vida, as entrevistas, os depoi- mentos pessoais;-as autobiografias, as biografias; fornecem todas elas material para a pesquisa sociolégica, porém diferem em sua defini¢ao € caracteristicas, A-forma mais antiga e mais difundida de coleta de dados orais, nas ciéncias sociais, ¢ a entrevista; considerada muitas vezes como sua técnica por exceléncia, tem sido, ao contrério, encarada como desvir- tuadora dos relatos. Nunca chegou, porém, a ser totalmente posta de 19 Jado, © que demonstra sua importéncia. A entrevista supGe uma con- versagio continuada entre informante e pesquisador; 0 tema ou o acontecimento sobre que versa foi escolhido por este tiltimo por con- vir ao seu trabalho. O pesquisador dirige, pois, a entrevista; esta pode seguir um roteiro previamente estabelecido, ou operar aparente- mente sem roteiro, porém na verdade se desenrolando conforme uma sistematizagao de assuntos que o pesquisador como que decorou. A captagao dos dados decorre de sua maior ou menor habilidade em orientar o informante para discorrer sobre 0 tema; é este que conhece © acontecimento, suas circunstancias, as condigdes atuais ou histé- ricas, ou por té-lo vivido, ou por ‘deter a respeito informagées pre- ciosas. Elas ora fornecem dados originais, ora complementam dados j4 obtidos de outras fontes. Na verdade, a entrevista esté presente em todas as formas de coleta dos relatos orais, pois estes implicam sem- pre num coldquio entre pesquisador ¢ narrador. ~~ A historia de vida, por sua vez, se define como o relato de um narrador 30] istencta-atfavés do tempo, tentando reconstituir os aconiecimenios que vivenciou ¢ transmitir a experiéncia que adqui- riu. Narrativa linear e individual dos acontecimentos que nele consi- dera significativos, através dela se delineiam as relagdes com os mem- bros de seu grupo, de sua profissdo, de sua camada social, de sua sociedade global, que cabe ao pesquisador desvendar. Desta forma, © interesse deste ultimo esté em captar algo que ultrapassa 0 caréter individual do que é transmitido e que se insere nas coletividades a que o narrador pertence. Porém, o relato em si mesmo contém o que © informante houve por bem oferecer, para dar idéia do que foi sua vida e do que ele mesmo é. Avangos ¢ recuos marcam as hist6rias de vida; e 0 bom pesquisador nfo interfere para restabelecer cronolo- gias, pois sabe que também estas variacdes no tempo podem constituir indicios de algo que permitiré a formulagio de inferéncias; na coleta de histérias de vida, a interferéncia do pesquisador seria preferencial- mente minima. Outro aspecto fundamental da histéria de vida é ser ela uma téc- nica cuja aplicagéo demanda longo tempo. Nao € em uma ou duas entrevistas que se esgota 0 que um informante pode contar de si mesmo, tanto mais que a duragdo delas é limitada devido ao cansaso. Além de exigir muitos encontros com o narrador, também deve-se contar quanto levam os relatos para serem transcritos. Finalmente, uma das dificuldades consiste em se chegar a pér ponto final nas entrevistas, pois 0 nérrador em geral afirma que tem sempre novos detalhes a acrescentar. Nao quer perder seu papel de personagem 20 ‘Toda histéria de vida encerra um conjunto de depoimentos. O termo foi muito cedo definido juridicamente, significando interroga- goes com a finalidade de “estabelecer a yerdade dos fatos”. Perde, porém, esta conotacéo nas ciéncias sociais, para significar o relato de algo que 0 informante efetivamente presenciou, experimentou, ou de alguma forma conheceu, podendo assim certificar. O crédito a respeito do que é narrado ser testado, niio pela credibilidade do narrador, mas sim pelo cotejo de seu relato com dados oriundos de outras variadas fontes, que mostraré sua convergéncia ou no. Desta forma, nas ciéncias sociais, o depoimento perde seu sentido de “‘esta- belecimento da verdade para manifestar somente o que o informante presenciou e conheceu. A diferenca entre historia de vida e depoimento esté na forma especifica de agir do pesquisador ao utilizar cada uma destas técni- cas, durante 0 didlogo ‘com 0 informante. Ao colher um depoimento, 0 coléquio é dirigido diretamente pelo ‘pesquisador; pode fazé-lo com maior ou menor sutileza, mas na verdade tem nas maos o fio da meada e conduz a entrevista. Da “vida” de seu informante sO Ihe interessam os acontecimentos que venham se inserit diretamerite no trabalho, ¢ a escolha € unicamente efetuada com este ctitério. Se o narrador se afasta em digressdes, 0 pesquisador corta-as para-trazé-lo de novo ao seu assunto. Conhecendo o problema, busca obter do narrador 0 essencial, fugindo do que Ihe parece supérfluo e desne- cessério. E € muito mais facil a colocago do ponto final neste caso, assim que o pesquisador’considere ter obtido 0 que deseja. A obe- diéncia do narrador € patente, o pesquisador tem as rédeas nas maos. A entrevista pode se esgotar num s6 encontro; os depoimentos podem ser muito curtos, residindo aqui uma de suas grandes diferencas para com as histérias de vida. ~ - Voltando novamente as histérias de vida, embora o pesquisador subrepticiamente dirija 0 coléquio, quem decide o que vai relatar € 0 narrador,. diante do qual o pesquisador deve se conservar tanto quanto possivel,_silencioso. Nao que permanesa ausente do coléquio, porém suas interferéncias devem ser reduzidas, pois o importante & que sejam captadas as experiéncias do entrevistado. Este € quem de- termina o que € relevante ou nao narrar, ele é quem detém o fio con- dutor. Nada do que relata pode ser considerado supérfluo, pois tudo se encadeia para.compor e explicar sua existéncia. Pode ser dificil fazé-lo concluir, pois hé sempre mais e mais acontecimentos, mais e mais detalhes, mais ¢ mais reflexes que a meméria vai resgatando. on

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