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NA FRATERNIDADE NO SANGUE DE CRISTO

Paulo Roberto de Oliveira

RESUMO ABSTRACT

Este trabalho procura contemplar as This work intend to contemplate the


conseqüências de um Capítulo Geral de um consequences of a General Chapter of an Institute
Instituto de Vida Consagrada, dentro de um of Consecrated Life, inside a present context
contexto atual parametrizado pelo Concílio parameterized by the Council Vatican II, and
Vaticano II, e fundamentada na Congregação das substantiated in the Congregation of the Schools
Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, que of Charity - Institute Cavanis, which recently
recentemente realizou seu XXXIII Capítulo Geral, carried out your XXXIII General Chapter, with
com atuação na América Latina e em outras action in the Latin America and other parts of the
partes do mundo. world. Alert about the routine and the challenges
Alerta sobre o cotidiano e os desafios da vida of the religious life today, inside a present
religiosa nos dias de hoje, dentro de uma perspective in the social scopes and ecclesial,
perspectiva atual nos âmbitos social e eclesial, propose an opening to news airs, a new
propondo uma abertura a novos ares, um novo "aggiornamento" in the institutions.
“aggiornamento” nas instituições.

VIDA CONSAGRADA

A importância de um Capítulo Geral[1] em um Instituto de Vida Consagrada[2] não pode ser


medida, ou mesmo dimensionada. Suas propostas e conclusões irão atingir, de maneira contundente,
uma comunidade.

Como acontece ao longo da vida religiosa, e de um Instituto de Vida Consagrada (anteriormente


denominada Congregação para os Religiosos e o Institutos seculares[3]), instabilidades e conflitos
poderão ser gerados por um Capitulo Geral. Como olhar para estes conflitos, estas instabilidades?
Adotando critérios que somados a certas qualidades – como o acolhimento, perdão, conversão,
gratuidade diante do amor de Deus e outros – proporcionará uma vida de comunidade fraterna. Não
devemos dramatizar os “pequenos conflitos” entre as pessoas, podem até ser algo de positivo: se
entendermos os conflitos como fase importante na busca da verdade, o conflito será então o
necessário para que surja vida nova. Além disso, sabemos por experiência da história, que muitas
vezes “o profeta é canonizado depois da sua morte”[4], ele que durante a sua vida era considerado
suspeito. Porquê, então, sacrificar, excomungar aqueles que com a sua opinião ou a sua prática são
motivo de conflito? Profecia e instituição estarão muitas vezes em uma dialética conflitiva, tal e
qual como Reino de Deus e Igreja se encontram em tensão – sob alguns aspectos; vem à lembrança,
aqui, uma dos Evangelhos: “quem não é contra nós é por nós”[5].

Deve-se buscar a comunhão e não afirmação de autoritarismo – A experiência mostra também que a
autoridade eclesiástica é freqüentemente um dos pólos do conflito. Como aceitar que seja também
juiz? A busca da comunhão, a todo o preço, por todas as partes envolvidas – no conflito – o respeito
pela sensibilidade e opinião de todos, uma certa democratização da Igreja – aceitando até que
muitos dos votos de estruturas eclesiais não sejam meramente consultivos, mas deliberativos
(Conselhos Pastorais Paroquiais, dos Sínodos dos Bispos, etc) –, enfim, são tudo notas que poderão
evitar que a evolução dos conflitos siga na direção da heresia (ou da excomunhão), são meios de
impedir o autoritarismo na Igreja. Faço aqui uma contraposição entre o Novo Testamento e a
história concreta – um critério importante para discernir em caso de conflito é a própria história.

“O cristianismo não é uma verdade que aparece a dois milênios para ser depois aplicada ao longo
da história, mas funda-se na história concreta de Jesus de Nazaré, que por sua vez desencadeia
uma história. O círculo hermenêutico consiste em que Jesus desencadeia uma história e que na
história desencadeada se possa remontar a Jesus”[6] .

A partir desta afirmação, torno difícil um critério mais claro para discernir em caso de conflito, mas
acentuo a dialética entre revelação e história, entre fé e práxis cristã. O Novo Testamento é um
primeiro pólo de discernimento; dele encontramos critérios como estes: a Igreja é para o Reino, há
estruturas de pecado no mundo e a Igreja há de ser aí sinal de amor e justiça, os pobres hão de ser o
destinatário privilegiado da sua missão (ver Mt. 25). A partir de critérios neotestamentários, os
conflitos na Igreja devem ser apreciados historicamente, isto é, contextualmente situados: a Igreja
vai construindo mais verdade, a Igreja vai-se aproximando do Reino anunciado por Jesus, mesmo
que mude as suas orientações, as suas leis e estruturas de um momento para o outro.

“A unidade, a superação dos conflitos, será sempre um dom escatológico. Na história deve buscar-
se a unidade, mas não baseada na uniformidade imposta nem na fé expressada genericamente, mas
sim na missão e na práxis de Jesus”[7] .

Convém relembrar:

“... deixai-os. Se o seu projeto ou a sua obra provêm de homens, por si mesmos se destruirão; mas
se provierem de Deus, não podereis desfazê-los”[8] .

Outro critério para os casos de conflito prende-se não só com a essência da Igreja, mas também com
a sua credibilidade no mundo atual, mundo de um pluralismo quase sem limites e para a falta de
liberdade, que é intolerável. Essa liberdade inerente ao ser mesmo da Igreja será a melhor forma de
salvar a sua credibilidade diante do mundo e será antídoto para o resolver dos conflitos pelo abafar
da voz de quem quer que seja.

“A liberdade, como critério de discernimento no caso de conflitos, deve ser entendida como
liberdade na liturgia (um só Deus, um só Senhor, uma só eucaristia; mas ritos, línguas, formas de
piedade, cânticos, estilos de arte diferentes); liberdade na disciplina (um só Senhor, um só Deus,
uma só Igreja, um só ministério superior; mas estruturas, legislações, tradições, administrações,
costumes diferentes); liberdade na teologia (um só Deus, um só Senhor, um só Evangelho, uma só
fé; mas diferentes teologias, diferentes sistemas, estilos de pensamento, terminologias, escolas,
tradições, universidades, teólogos diferentes)”.

Quantos conflitos não se resolveriam se aplicássemos o pensamento de João XXIII: “no que for
necessário, a unidade; no que for duvidoso, a liberdade; em todas as coisas, a caridade”.

Um Instituto de Vida Religiosa, a partir de seu Capítulo Geral, deve procurar acompanhar a
fundamental proposta do Concílio Vaticano II, a promoção de um processo de “aggiornamento”,
um abrir as janelas para um ar novo, um atualizar-se diante das premissas de nosso tempo; uma
atualização de algumas realidades envelhecidas, um renovar-se, um reparar-se, tanto em nossas
relações internas quanto externas.
O Concílio Vaticano II estabelece uma clara distinção entre o Reino de Deus e a Igreja, onde a
mesma – aqui um Instituto de Vida Religiosa se insere –, é passível de uma mudança e crítica,
porque se lhe sobrepõem uma realidade superior, absoluta que é o Reino. Um Instituto de Vida
Religiosa Congregação não é uma realidade eterna, divina, mas uma instituição com uma
caminhada histórica. Um Instituto de Vida Religiosa não é uma “sociedade perfeita”, mas sim uma
realidade sujeita a crises históricas e, portanto, passível de transformações, passível de
configurações históricas sempre novas – consoante ao seu tempo, lugares e culturas. Um Instituto
de Vida Religiosa deve dar importância a colegialidade que é uma fonte de diversidade e pluralismo
– e de vez em quando alguma tensão.

VIDA CONSAGRADA NO MUNDO

O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium e na Constituição Pastoral


Gaudium et Spes, propõe uma Igreja incarnada no mundo, no diálogo com o mundo e ao serviço do
mundo. Cito como exemplo estas duas afirmações paradigmáticas:

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos
pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo” (G.S.1).

“Que os fiéis vivam em estreita união com os outros homens do seu tempo, e que se esforcem por
compreender a fundo os seus modos de pensar e de sentir, expressos na cultura. Que conciliem os
conhecimentos das novas ciência e teorias e das mais recentes invenções com os costumes e o
ensinamento da doutrina cristã, para que o sentimento religioso e a retidão moral avancem neles a
par do conhecimento científico e dos progressos diários da técnica; assim poderão apreciar e
interpretar todas as coisas com uma sensibilidade autenticamente cristã” (G.S.62).

Nesta perspectiva o “mundo”, isto é, as filosofias, as religiões, as culturas, as artes, as ciências, e


outros, são uma constante interpelação à Igreja, esta perde algumas seguranças e, claro, isso é fator
de alguma desestabilização, de discussão, de tensão, de conflito. Os problemas morais e sociais, tão
numerosos e muitas vezes dramáticos, interpelam-nos como Igreja, como Institutos de Vida
Consagrada:

“A pressão exercida pela cultura dominante, que apresenta com insistência um estilo de vida
fundado na lei do mais forte, no lucro fácil e sedutor, na desagregação dos valores da pessoa, da
família e da comunidade social, influenciam inevitavelmente o nosso modo de pensar, os nossos
projetos e as perspectivas do nosso serviço, correndo o risco de os esvaziar da motivação da fé e
da esperança cristãs que os tinham suscitado: os pedidos de ajuda, de apoio e de serviço,
numerosos e prementes, que os pobres e os excluídos da sociedade nos fazem, levam-nos a
procurar soluções que estejam na lógica da eficiência, do efeito visível e da publicidade”.[9]

Quando somamos o quadro descrito uma visão realista sobre a situação do mundo e da Igreja,
iremos encontrar grandes dificuldades na vida religiosa. Desafios do mundo globalizado,
mercantilista e materialista estão presentes no dia a dia do religioso, fazendo-o superar-se
constantemente. Necessita o religioso de uma capacidade única de identificar as múltiplas faces das
dificuldades da vida cotidiana, considerando sempre o contexto cultural de onde vive. Surgindo
assim dentro da missão profética da vida consagrada “três desafios principais”[10] que lhe são
lançados; provocando um testemunho de “seu significado antropológico profundo”[11]. Diante da
fragilidade humana e da recolocação do sentido da sexualidade contemporânea, surge uma
“primeira provocação oriunda de uma cultura hedonista”[12], onde o prazer, a diversão e o
consumo acabam deteriorando o significado e a prática de uma sexualidade sadia, dentro de uma
maturidade e consciência adequada aos princípios morais e éticos.

“Outra provocação vem, hoje, de um materialismo ávido de riqueza”[13], que deve ser respondida
através de uma profissão evangélica, isentando-se de sentimentos provocados pelo acumulo de
capital e de consumo próprio do materialismo e, inserindo-se em uma cruzada de caridade e
generosidade. Podemos dizer assim que a “pobreza evangélica, antes de ser um serviço em favor
dos pobres, é um valor em si mesma”[14], quando nos remetemos a “Cristo pobre”; uma opção
preferencial, ante a idolatria monetária e a um conjunto de estruturas corruptas e opressoras. “A
vida consagrada participa da pobreza extrema abraçada pelo Senhor e vive a sua função
específica no mistério salvífico da sua encarnação e da sua morte redentora”[15].

“A terceira provocação provém daquelas concepções da liberdade”[16], a prerrogativa da liberdade


é condição primordial ao homem, o remete ao compromisso da construção do conceito de verdade
para o Reino de Deus. Não compromete – a liberdade – a vida consagrada, pois ela esta inserida no
exemplo no comportamento do Filho que “desvenda o mistério da liberdade humana, como um
caminho de obediência à vontade do Pai, e o mistério da obediência como um caminho de
progressiva conquista da verdadeira liberdade.”[17] A fé na construção do Reino de Deus, não
contrapõe obediência e liberdade, e sim afirma a importância do testemunho da vida religiosa com
Cristo Senhor.

A “opção preferencial pelos pobres” deve ser o fio condutor da vida consagrada, deve conter o
testemunho da partilha, da caridade e do profetismo de Cristo Senhor onde o lema da gratuidade foi
abraçado, pois questionamentos e crises dos conceitos podem ser elaborados como:

“Como este estado de vida se reporta ao Novo Testamento, se a prática dos conselhos ditos
‘evangélicos’ de castidade, de pobreza e de obediência não encontra ali seu fundamento literal?
Pode se sustentar, como o Código (cf. cân. 607), que a vida religiosa, tão abundante e tão
representativa desta ‘grande árvore de múltiplos ramos’ (LG 43), se caracteriza por votos, quando
nem todos os religiosos conhecem a tríade de votos, ou pela vida a ser levada em comum, a qual se
opõe hoje em dia a comunhão fraterna [...]?”[18]

VIDA CONSAGRADA “CAVANIS”

Todo o discurso sobre Institutos de Vida Consagrada, seus Capítulos Gerais, suas
contextualizações, suas inserções, suas gratuidades, remete-me a um instituto específico:

“Congregação das Escolas da Caridade – Instituto Cavanis”, fundada pelos irmãos Antônio
Ângelo e Marcos Antônio Cavanis, é Instituto clerical de sacerdotes, diáconos e irmãos, os quais
dedicam a própria vida a serviço de Deus e da Igreja com uma consagração que tem suas raízes no
Batismo; levam vida em comum, unidos pela caridade fraterna e pela ‘uniforme vocação’; seguem
a Cristo na prática dos Conselhos Evangélicos, na profissão dos votos públicos de castidade,
pobreza e obediência”.[19]

Seus fundadores, de grande estatura moral e intelectual, souberam converter o confuso quadro do
nascimento de uma nova época em força profética, para reavivar e sintonizar com os novos tempos
a mensagem dos Evangelhos. Enquanto padre Antônio era calmo, reservado e reflexivo, voltado
para a meditação e para o pensamento filosófico-cientítfico, padre Marcos era dinâmico,
extrovertido, ousado, poeta e um grande pregador. Duas personalidades opostas, mas com um total
entendimento para o mesmo objetivo, e graças a esta permanente união, também quando tinham
pareceres diferentes sempre, porém prevalecia o amor fraterno e uma serena e inabalável harmonia.
Cada um apresentava seus argumentos e sem impô-los, mas procurando ser para o outro de estímulo
para engrandecer e harmonizar uma perspectiva comum. Ao longo do caminho cheio de
dificuldades, não esmoreceram, colocavam pedras sobre pedras com perseverança até construir o
edifício das Escolas de Caridade, a caridade que constitui a base deste Instituto.

Um pouco de história

Com a queda da República Veneziana (Itália – 1797), houve conseqüências desastrosas: no prazo de
aproximadamente nove anos se revezaram quatro governos; a cidade se tomou terra de conquista e,
quem sofreu as conseqüências, foi o povo e a juventude.

Antônio, que até então era secretário da República de Veneza, decide abandonar este trabalho para
se tornar sacerdote, dedicando-se ao serviço do Reino. Sendo assim, Marcos assume o encargo de
secretário, deixado por seu irmão. Em 1802, os Cavanis iniciaram, com um movimento mariano -
início do apostolado dos dois irmãos - uma experiência de formação humana e cristã em prol das
crianças e jovens pobres de Veneza. Em 1804 nasceu a primeira Escola de Caridade Cavanis, com
um professor e 15 alunos. Desta maneira, os irmãos anteciparam a fundação das "escolas públicas"
por parte do Estado e iniciaram uma obra de saneamento social e espiritual. Eles sempre
começavam por onde a necessidade era mais urgente. Marcos, disposto a dedicar-se completamente
ao apostolado, decide tornar-se padre (abandonando assim seu cargo privilegiado de secretário).
Posteriormente, os dois irmãos fundaram a "Congregação das Escolas de Caridade", reconhecida
pela Igreja como manifestação do Espírito Santo em 1838, pelo Papa Gregório XVI.

No dia 18 de novembro de 1985, o papa João Paulo II, com o Decreto Pontifício, declarou a
heroicidade das virtudes praticadas pelos fundadores padre Antônio e padre Marcos Cavanis, que se
tornaram, assim, na Igreja ‘Veneráreis’.

Pensamento dos Fundadores[20]

"Não adianta esperar por uma mudança da sociedade sem cuidar como convém das crianças e dos
adolescentes. É preciso usar os meios aptos para conseguir o fim”. (Pe. Marcos A. Cavanis, 1802).

"[...] a nossa vocação é uma afronta ao capitalismo, é um incômodo para muitos da Igreja. Seremos
gratuitos para com o próximo, como o Pai sempre é gratuito conosco [...] A nossa caridade não é
intelectual, não é acadêmica, não é social, não é sentimental... a nossa caridade é sem retorno”. (Pe.
Antonio e Pe Marcos Cavanis)

"O doloroso abandono, pelo qual perece a maior parte da juventude porque se deixa perecer, dá um
estímulo muito forte a quem ama a Deus e o seu próximo para fazer de boa vontade todo o esforço
para eliminar, por quanto é possível, o descaso de muitos”. (Pe Marcos A. Cavanis)

"A quantidade de recursos necessários para ir ao encontro das crianças pobres tem que ser tão
grande quanto as suas necessidades”. (Pe Antonio e Pe Marcos Cavanis)

"Por isso, mais do que uma escola, este instituto pode chamar-se um paterno e amoroso
'estabelecimento de caridade', onde os alunos, também fora do tempo dos exercícios escolares, são
guardados e vigiados e reunidos até nos dias festivos e distraídos com recreios inocentes; alguns
mais necessitados são providenciados dos sustentamento diários, até que, adquirida a educação,
possam com as suas virtuosas fadigas, procurar o seu mantimento”. (Pe Marcos A. Cavanis, 1816)

"Quando assumimos a difícil tarefa de educar um pobre rapaz pensamos ser um dever não poupar
nem fadigas nem gastos para os quais fica claro o desinteresse ou incapacidade dos pais”. (Pe.
Marcos A. Cavanis, 1812)

"É só ter um jovem necessitado e que precisa de educação para que tenha o direito de pertencer ao
Instituto, e a quantia de socorros que procuramos fornecer a estes pobres filhos é tão variada e
complexa quanto são múltiplas e variadas as suas necessidades”. (Pe Marcos A. Cavanis, 02 de
junho de 1812)

Carisma Cavanis

Acolher com amor paterno crianças e jovens, educá-los gratuitamente, protegê-los com vigilância
solícita, formá-los dia a dia na inteligência e na piedade de maneira que eles alcancem a estatura da
plenitude de Cristo e possam dar sua contribuição para o crescimento da Igreja e para o bem da
sociedade. Ministrar exercícios espirituais a jovens e adultos, para favorecer a continuidade da
formação, a revisão de vida e a conversão a Deus. “O Carisma é dom do Espírito e nós – Cavanis –
somos os administradores dele. É aprovado pela Igreja e para a Igreja; não vive por si mesmo,
mas foi doado para gerar comunhão”.[21]

Espiritualidade Cavanis

A espiritualidade Cavanis vem do sopro do Espírito Santo, não coloca resistências, ontem como
hoje. Seguindo o modelo de Nossa Senhora, Serva do Senhor, se faz dócil à ação do Espírito Santo.
Por conseguinte, ela persevera na obediência ao chamado de testemunhar o amor do Pai no meio
dos irmãos pequenos, desamparados e últimos.

“A obediência ao Espírito leva talvez a contrapor-se, embora com o máximo respeito, à vontade
dos homens, com a adesão mais completa a vontade de Deus. A obediência ao Espírito leva a
realizar com muita persistência também iniciativas e projetos que humanamente não seriam
aprovados, leva a avaliar as situações com os olhos de Deus e não conforme ou segundo a
mentalidade humana” .[22]

A espiritualidade Cavanis consiste na busca e vivência intensa da face Paterna e Amorosa de Deus,
impulsionando assim todo Cavanis a doar-se gratuitamente à juventude, com amor-paterno, pois a
gratuidade e o amor vêm de Deus. Nisto se solidifica a espiritualidade Cavanis: Só quem tem
coração de pai descobre os pobres e os serve. O Pai vê e provê, promove e forma o adulto, sente o
pobre como filho e não como objeto de estudo ou problema social.

A espiritualidade Cavanis encarna-se no mundo de hoje com a ousadia que era própria de João
Paulo II: com "novo ardor e novos métodos" aponta rumos, desvenda valores, mostra referências de
sentido e abre caminhos para Cristo Jesus.

A Obra continua

Na simples capela do crucifixo, anexo ao pátio da Igreja de Santa Inês (Veneza – Itália), no mesmo
lugar onde no dia 02 de maio de 1802 iniciou a Congregação Mariana e a Congregação das Escolas
de Caridade, descansam na paz do Senhor os dois irmãos, Verdadeiros Pais da Juventude. Hoje, a
obra deles continua e se espalha pelo mundo, lá onde os jovens necessitam de educação a
Congregação é presente, dando a eles uma orientação segura através da instrução e da formação
moral.

Desde 1968 o Instituto de Vida Consagrada, Congregação das Escolas de Caridade – Instituto
Cavanis, mantém suas atividades no Brasil e, em outras terras latino americana, chegando ao
Equador em 1982, Colômbia em 1997, Bolívia em 2000. Na Ásia – Filipinas, 2000, na Europa –
Romênia, 2000, e na África – Congo, 2002. Esta experiência na América Latina inseriu os Padres
Cavanis ao contexto sócio-eclesial-espiritual latino americano, ir ao encontro dos pobres, promover
a justiça e fraternidade com uma maior participação de todos nas responsabilidades sociais e
eclesiais com uma aspiração legítima e evangélica.

CONCLUSÕES

“[...] Acolho com alegria os moradores daqui bem como os peregrinos, em especial os Padres da
Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, que estão celebrando o Capítulo Geral.
Caros Irmãos, encorajo-os a continuar com coragem a sua missão educativa, a fim de transmitirem
às novas gerações, de maneira sólida, o sentido para as suas vidas, e a esperança”.[23]

O XXXIII Capítulo Geral da Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, celebrado
no período de 16 de julho de 2007 a 04 de agosto de 2007 em Possagno-TV (Itália), foi um evento
pascal no para cada um dos padres capitulares e leigos, dentro de um contexto de “[...] purificai-
vos do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento. Pois nossa Páscoa,
Cristo, foi imolada. Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de
malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade”.[24] Os capitulares
intensificaram sua preparação com uma reflexão sobre a ‘vida consagrada’, com meditações da
Palavra de Deus, onde se buscou encontrar as fontes de uma espiritualidade sólida e profunda para a
realização do Capítulo Geral.

“Na fraternidade do Sangue de Cristo”, um estudo sobre a religiosidade e espiritualidade dos


padres fundadores do Instituto, norteou todo o Capítulo Geral, na tentativa de proporcionar uma
visão mais ampla de como varias almas vivem espiritualmente unidas no Corpo Místico de Cristo.

A luz do Espírito Santo debateu-se sobre a sua “Constituição e Normas”, sobre a nova direção do
Instituto, sobre o planejamento de ações para o próximo sessênio[25] entre outros. Contudo, o
debate, a controvérsia, os ânimos acirrados, a discordância, os posicionamentos políticos e
eclesiásticos, fizeram-se presentes. Aqui me remeto ao início deste trabalho: “A importância de um
Capítulo Geral em um Instituto de Vida Consagrada não pode ser medida, ou mesmo dimensionada.
Suas propostas e conclusões irão atingir, de maneira contundente, uma comunidade”.

Divergências sempre irão existir, embates serão sempre constantes, contudo a ‘Vida Consagrada’
pode, de todo este discurso, reunir partes conflitantes em torno de um só carisma, uma só
espiritualidade, uma só diaconia. A Vida Religiosa é antes de tudo diaconia, é ser fiel ao carisma de
fundação, e o trabalho constante na manutenção do patrimônio espiritual do Instituto. A Vida
Religiosa é vida fraterna, que tem como papel central o caminho espiritual dos congregados e uma
constante renovação na sua proposta de missão (Carisma e Missão).

Cristo presente, recomeçar em Cristo, seguir a Cristo, abrir-se a Cristo, viver em Cristo, condições
básicas em um terreno latino americano. Fazer-se Cristo, conceito elementar para uma teologia
latino americana, para uma ação de diaconia no território latino americano. E a Congregação das
Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, procurou em seu Capítulo Geral, fazer-se presente no
mundo, no povo oprimido, na juventude a resgatar, no testemunho evangélico de optar pelos menos
favorecidos, na tentativa de sensibilizar aqueles que detém o poder – econômico, político, social e
“moral” – na erradicação das injustiças e do sofrimento. E para isto é necessário que se abra ao
novo, que se abra ao atual, que se dialogue com os órgãos competentes e necessários a eliminar as
diferenças. É necessário que estejamos prontos para arejar nossas ações, nossos pensamentos,
nossos testemunhos para sermos recíprocos para com o sofrido povo latino americano. Devemos
estar presentes e nos projetarmos ao futuro para levarmos a Palavra a todo o mundo, em especial ao
continente latino americano. A evangelização se faz urgente e necessária; uma evangelização
atualizada e contextualizada na realidade de cada território, de cada rincão, de cada país. Para tanto
é necessário e também urgente nossa capacidade renovarmos, de reciclarmos para uma adequada
missão.

Encerro esta reflexão com um trecho do discurso do papa Paulo VI quando da abertura da 8ª sessão
solene do Concílio Vaticano II, a 18 de novembro de 1965 (encerrado a 8 de dezembro de 1965),
assim espero materializar a minha fé e minhas esperanças no XXXIII Capítulo Geral da
Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis:

“É este o período daquele verdadeiro aggiornamento preconizado pelo nosso predecessor, de


venerada memória, João XXIII. A julgar pelas suas intenções, ele não queria certamente dar a esta
palavra o significado que alguns tentaram dar-lhe, como se fosse lícito considerar tudo na Igreja
segundo os princípios do relativismo e o espírito do mundo: dogmas, leis, instituições, tradições;
ele, com efeito, de temperamento austero e firme, tinha diante dos olhos a estabilidade doutrinal e
estrutural da Igreja, a ponto de nela basear o seu pensamento e a sua atividade. De futuro,
portanto, usaremos a palavra aggiornamento para significar a sábia penetração do espírito do
Concílio celebrado e a aplicação fiel das normas, feliz e santamente por ele emanadas.
Julgamos bem que é nesta linha que deve caminhar a Igreja, se tem em conta a sua nova
psicologia. Ao clero e aos fiéis cabe este nobre trabalho espiritual: insistir na renovação da vida e
da atividade segundo Cristo. Para levar a cabo este trabalho, convidamos os Nossos Irmãos e os
Nossos filhos, isto é, os que amam Cristo e a Igreja, a que professem conosco mais abertamente a
verdade naquele sentido em que Cristo e os Apóstolos ensinaram; e juntamente professem o sentido
da disciplina eclesiástica e da unidade profunda e suave que nos torna confiados e solidários como
membros de um mesmo corpo”.

Paulo Roberto de Oliveira


Bacharelando em Teologia – Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção

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Notas
[1]Código do Direito Canônico, Cân. 631 - § 1.: “O capítulo geral, que detém, de acordo com as
constituições, a autoridade suprema num instituto, seja formado de tal modo que, representando
todo o instituto, se torne verdadeiro sinal de sua unidade na caridade. Compete-lhe
principalmente: proteger o patrimônio do instituto mencionado no cân. 578 e, de acordo com ele,
promover adequada renovação, eleger o Moderador supremo, tratar questões mais importantes e
dar normas às quais todos são obrigados a obedecer”.
[2]Código do Direito Canônico, Cân.573 - § 1.: “A vida consagrada pela profissão dos conselhos
evangélicos é uma forma estável de viver, pela qual os fiéis, seguindo mais de perto a Cristo sob a
ação do Espírito Santo, consagram-se totalmente a Deus sumamente amado, para assim, dedicados
por título novo e especial a sua honra, à construção da Igreja e à salvação do mundo, alcançarem
a perfeição da caridade no serviço do Reino de Deus e, transformados em sinal preclaro na Igreja,
preanunciarem a glória celeste”. Um Instituto de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida
Apostólica têm por competência todos os aspectos da vida consagrada: vida cristã, vida religiosa,
vida clerical; é de caráter pessoal e sem limites territoriais entre outros.

Catecismo da Igreja Católica, § 915.: “[...] A perfeição da caridade à qual todos os fieis são
chamados comporta para os que assumem livremente o chamado à vida consagrada a obrigação
de praticar a castidade no celibato pelo Reino, a pobreza e a obediência. É a profissão desses
conselhos em um estado de vida estável reconhecido pela Igreja que caracteriza a ‘vida
consagrada’ a Deus”.
[3] A Constituição “Pastor Bonus”, de 28 de Junho de 1988, de João Paulo II propõe a mudança do
título em “Congregação para Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica” –
CIVCSVA.
[4] Jon Sobrino, La conflitividad dentro de la Iglesia, Selecciones de Teologia 65 (1978), p.50
[5] Mc 9,40
[6] Jon Sobrino, La conflitividad dentro de la Iglesia, Selecciones de Teologia 65 (1978), p.52
[7] I bidem, p. 52
[8] At.5,38-39
[9]“A vida consagrada na escola da Eucaristia” – Reflexões de D. Franc Rodé.
[10] Cf. Vita Consecrata, 87
[11] Cf. ibid., 87
[12] Cf. Vita Consecrata, 88.
[13] Cf. Vita Consecrata, 89.
[14] Cf. Vita Consecrata, 90.
[15] Cf. João Paulo II, Decr. Sobre a renovação da vida religiosa Perfectae caritatis, 13
[16] Cf. Vita Consecrata, 91.
[17] Cf. ibid., 91
[18] Lacoste, Jean-Yves, Dicionário Crítico de Teologia, p.1841.
[19]“Constituição e Normas – Congregação das Escolas da Caridade – Instituto Cavanis”, 1, pg. 7.
[20]SACRA CONGREGATIO PRO CAUSIS SANCTORUM. OFFICIUM HISTORICUM.
Venetiarum. Beatificationis et Canonizationis Servorum Deis Antonii Angeli et Marci Antonii
Cavanis etc., POSITIO. Roma, Congr. Culto dei Santi, 1979 1065p., illustr.
[21]Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, A Túnica, o Anel, as Sandálias – O
Anel do Carisma – Segundo Ano, p. 8.
[22]Congregação das Escolas de Caridade – Instituto Cavanis, A Túnica, o Anel, as Sandálias – O
Anel do Carisma – Primeiro Ano, p. 29.
Cf. Bento XVI, Oração Mariana do Ângelus, Lorenzago de Cadore – Itália (22 de julho de
[23]
2007).
[24] 1Cor 5,7-8.
[25] Período de 6 (seis) anos

PUBLICADO NA REVISTA ELETRÔNICA DA FACULDADE DE TEOLOGIA NOSSA SENHORA


DA ASSUNÇÃO – PUC / http://www.teologia-assuncao.br/re-
eletronica/numeros/n3/n3_paulo.html / Número III / Ano II / 2008

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