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Alberion, o Rubro

O frio cortava como uma navalha pela jugular e o fio de sangue escorrera. O chão, que
outrora se fazia alvo pela neve recém chegada junto ao inverno, agora estava vermelho, o
cheiro de ferro consumia toda atmosfera juntamente com os gritos de dor e desespero, e
perdido neste mar carmesim eu acordara recobrando a consciência. Uma queda me deixara
desacordado ou simplesmente o medo tomou conta de todo meu corpo e essa seria a única
fuga possível que me restara. A fuligem caía sobre meu rosto, ao meu lado encontrara o que
devia ser uma perna, rasgada e mastigada então vislumbrei a criatura que causara tal
carnificina, a magnitude daquela besta afugentara até mesmo o frio, senti o calor, era o único
que faltava para completar o elenco desse show de horrores, então eu ri, freneticamente,
estava na presença do próprio inferno, a fera abriu sua mandíbula, lá consegui identificar o
resto de um braço entre os dentes e em uma fração de segundos aquele pedaço de carne foi
reduzido à cinzas, assim como os aldeões que tentavam correr pela suas vidas. Labaredas
lambiam as casas e o que estivera ao seu alcance, os corpos se contorciam, mas por pouco
segundos, rapidamente eram reduzidos a ossos e fumaças, não sabia mais se pisara sobre
madeira queimada ou corpos carbonizados, não sabia até mesmo porque estava andando,
provavelmente já aceitara a morte, então gritos e silvos fizeram companhia ao coro presente,
eram gritos diferentes daqueles que apenas indicavam que o fim estava próximo, gritos de
bravura.

Um machado voou sobre minha cabeça acertando a criatura em cheio no olho


esquerdo, seu grunhido, acompanhado por uma chama intensa para o alto ecoou entre as
montanhas, ganchos amarrados a correntes eram lançados sobre suas asas e mais homens
chegavam, não... eles não eram homens, não eram avvars normais, eram enormes até mesmo
para nosso clã, uma lança perfurou por entre os membros da criatura ela por sua vez reagiu
soprando o fogo infernal sobre um desses guerreiros, o mesmo se protegera com um escudo já
alaranjado pelo calor que em um segundo derretera como se estivesse a duas horas em uma
fornalha, o homem joga seu escudo ao chão em fumaça e uma montante irrompe sobre a nuca
daquele monstro, a espada era maior que eu o golpe obviamente não decapitara a criatura de
primeira, mais 3, 4, 5 golpes e a cabeça se separa do corpo.

Os aldeões choram suas perdas, mães choram por seus filhos e eu choraria pela minha
mãe, se estivesse em condições, ainda em choque com o rosto coberto de sangue recebo dois
tapinhas na cara, afim de me acordar, quando percebo um dos homens que salvara nosso clã
estava a minha frente perguntando meu nome, respondo:

- Al... Alberion, meu nome é Alberion senhor.

- “Veja só você, todo vermelho de sangue, seu nome agora será ALBERION, O RUBRO
HAHAHAHAHHAH!”

E foi assim que fui batizado por aqueles avvars, todos riram enquanto aquele avvar me
puxara para perto do cadáver da besta, então um deles o segurou pelo braço e perguntou:

- O que pretende fazer Zaratras? Ele é só um menino, tem muito ainda o que viver, não está
pronto pra isso.

- Olhe para os olhos desse pivete, está vendo? Olhos de quem já presenciou a morte, não tem
mais nada a perder.

Ali mesmo, em meio ao caos um coro fez-se por aqueles avvars, línguas retorciam e
palavras impronunciáveis saiam de suas bocas, tapas e pisões eram a percussão daquela
melodia, com o tempo aprendi as palavras ali pronunciadas e entendi que era um convite para
a magia de sangue adentrar em meu corpo para que eu a usasse como aqueles homens a
usaram em seu combate, uma taça foi erguida e o silencio tomou conta de todos, nesse
momento eu aceitara meu destino o sangue estava quente, minha língua queimara e o gosto
corroeu todo meu paladar, nunca havia sentido tão sensação, ali me iniciara como um
Saqueador.

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