Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O frio cortava como uma navalha pela jugular e o fio de sangue escorrera. O chão, que
outrora se fazia alvo pela neve recém chegada junto ao inverno, agora estava vermelho, o
cheiro de ferro consumia toda atmosfera juntamente com os gritos de dor e desespero, e
perdido neste mar carmesim eu acordara recobrando a consciência. Uma queda me deixara
desacordado ou simplesmente o medo tomou conta de todo meu corpo e essa seria a única
fuga possível que me restara. A fuligem caía sobre meu rosto, ao meu lado encontrara o que
devia ser uma perna, rasgada e mastigada então vislumbrei a criatura que causara tal
carnificina, a magnitude daquela besta afugentara até mesmo o frio, senti o calor, era o único
que faltava para completar o elenco desse show de horrores, então eu ri, freneticamente,
estava na presença do próprio inferno, a fera abriu sua mandíbula, lá consegui identificar o
resto de um braço entre os dentes e em uma fração de segundos aquele pedaço de carne foi
reduzido à cinzas, assim como os aldeões que tentavam correr pela suas vidas. Labaredas
lambiam as casas e o que estivera ao seu alcance, os corpos se contorciam, mas por pouco
segundos, rapidamente eram reduzidos a ossos e fumaças, não sabia mais se pisara sobre
madeira queimada ou corpos carbonizados, não sabia até mesmo porque estava andando,
provavelmente já aceitara a morte, então gritos e silvos fizeram companhia ao coro presente,
eram gritos diferentes daqueles que apenas indicavam que o fim estava próximo, gritos de
bravura.
Os aldeões choram suas perdas, mães choram por seus filhos e eu choraria pela minha
mãe, se estivesse em condições, ainda em choque com o rosto coberto de sangue recebo dois
tapinhas na cara, afim de me acordar, quando percebo um dos homens que salvara nosso clã
estava a minha frente perguntando meu nome, respondo:
- “Veja só você, todo vermelho de sangue, seu nome agora será ALBERION, O RUBRO
HAHAHAHAHHAH!”
E foi assim que fui batizado por aqueles avvars, todos riram enquanto aquele avvar me
puxara para perto do cadáver da besta, então um deles o segurou pelo braço e perguntou:
- O que pretende fazer Zaratras? Ele é só um menino, tem muito ainda o que viver, não está
pronto pra isso.
- Olhe para os olhos desse pivete, está vendo? Olhos de quem já presenciou a morte, não tem
mais nada a perder.
Ali mesmo, em meio ao caos um coro fez-se por aqueles avvars, línguas retorciam e
palavras impronunciáveis saiam de suas bocas, tapas e pisões eram a percussão daquela
melodia, com o tempo aprendi as palavras ali pronunciadas e entendi que era um convite para
a magia de sangue adentrar em meu corpo para que eu a usasse como aqueles homens a
usaram em seu combate, uma taça foi erguida e o silencio tomou conta de todos, nesse
momento eu aceitara meu destino o sangue estava quente, minha língua queimara e o gosto
corroeu todo meu paladar, nunca havia sentido tão sensação, ali me iniciara como um
Saqueador.