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Janeiro a Abril de 1945: Extremo Oriente

A Reconquista da Birmânia
Mesmo antes que o clímax apocalíptico na Europa libertasse completamente o poderio aliado, permitindo
uma esmagadora concentração de forças contra o Japão, a situação no Extremo Oriente sofreu uma mudança
rápida e fundamental. A arremetida para oeste, que levou as forças americanas até o anel interior das defesas
insulares do Japão, transformou a situação não apenas no Pacífico mas também no continente asiático. Se o
Japão ainda mantinha a iniciativa na China, a firmeza de suas posições nos limites exteriores de seu império
fôra seriamente enfraquecida. A linha vital que marcava o contorno do seu império estava sendo comprimida
pelo poderio naval e aéreo dos Aliadas. A supremacia aérea, empregada com uma técnica nova e de
conseqüências cada vez mais amplas, dava às forças terrestres aliadas o poder e a flexibilidade de que
necessitavam para um avanço com êxito em direção à Índia. Os conceitos estratégicos que haviam
prevalecido no ano anterior podiam ser drasticamente substituídos se esses novos fatores fossem levados em
conta. Em particular, o êxito inicial na Birmânia setentrional adquiria nova significação. Uma campanha
limitada se transformava numa campanha de grande importância, e no limite geográfico de suas conquistas, o
Japão fôra repelido por meio de esmagadora e decisiva derrota.

Neste teatro de operações, ambos os combatentes encontravam-se a centenas de milhas distantes de suas
bases principais, e tudo dependia fundamentalmente da questão dos abastecimentos. Os três exércitos
japoneses na Birmânia - o XV, o XXVIII e o XXXIII - encontravam-se na extremidade de uma longa linha
de comunicações marítimas que se estendia pelo mar da China e pelo Oceano Indico, por onde deviam passar
todas as tropas e o material destinado ao porto de Rangum. Essas linhas de comunicação, outrora em
segurança, encontravam-se agora muito próximas dos Aliados. De suas bases na China, os aviadores
americanos atacavam persistentemente a navegação japonesa ao longo da costa chinesa. Nos últimos meses
de 1944 a ofensiva japonesa contra as bases costeiras da aviação americana obrigou a XIV Força Aérea a
recuar para o interior, mas a esse tempo o avanço para oeste através do Pacífico levara os americanos até às
Filipinas e os colocara virtualmente a cavaleiro das rotas marítimas japonesas para o sul. As próprias águas
japonesas, bem como sua metrópole, encontravam-se dentro do raio de ação dos bombardeiros americanos
com bases nas Marianas. Destacamentos navais americanos atacavam pesadamente a ilha de Formosa e
levavam seus golpes até a costa da China. E os submarinos americanos que já haviam causado tantas perdas
à marinha mercante japonesa, operavam agora com crescente eficácia e impunidade contra os comboios que
procuravam atravessar a vigilância americana.

Enquanto a linha de abastecimento para a Birmânia era dessa forma estrangulada quase em seu nascedouro,
na outra extremidade estava também sob o ataque aliado. Durante todo o ano de 1944 houve crescente
atividade da marinha inglesa no Extremo Oriente. Uma poderosa frota de couraçados e porta-aviões operava
no Oceano Indico. Os submarinos ingleses atuavam desde a baía de Bengala até o mar de Java e inquietavam
com seus ataques a navegação japonesa nas rotas próximas ao estreito de Malaca. Os aviadores aliados
atacavam persistentemente Rangum e as águas adjacentes, e estendiam seus ataques até a base naval de
Singapura. Nos primeiros meses de 1945 as forças japonesas na Birmânia estavam ameaçadas de quase
completo isolamento.

Esse foi um elemento de primordial importância na mudança da correlação de forças verificada durante o
ano anterior. A importância vital desempenhada pela Birmânia na estratégia japonesa era indicada pela
excelente qualidade das tropas que inicialmente compunham a guarnição, e que haviam sido poderosamente
reforçadas em começos de 1944. Com muito mais de 100.000 combatentes, inclusive grande número de
unidades de veteranos, os japoneses haviam podido em março de 1944 conter os ataques aliados por meio de
uma forte e perigosa ofensiva para o interior da Índia. Mas o desastre sofrido pelos invasores na planície de
Imphal marcou o fim dos esforços ofensivos e a decisiva passagem da iniciativa para as mãos dos Aliados.
Com as forças aliadas estrangulando suas linhas de abastecimento, os japoneses não podiam recuperar suas
perdas em homens e material nem manter seus efetivos à altura de seus adversários. Puderam retirar certo
número de unidades de suas guarnições no Sião e na Malásia, e certo número de recrutas foram mandados
trazer do Japão para serem apressadamente instruídos na Birmânia. Mas tais recursos eram limitados e não
conseguiam compensar a destruição virtual das unidades de elite que haviam desfechado a ofensiva de
invasão da Índia, ou compensar as crescentes perdas infligidas nos restantes defensores pelo subseqüente
ataque aliado.

Para poderem aproveitar-se dessa situação, os Aliados tinham, entretanto, de vencer enormes dificuldades.
Também eles operavam na extremidade de uma linha de comunicações muito longa. As formidáveis
exigências das operações de invasão na Europa tinham prioridade na produção de guerra aliada. As
necessidades da ofensiva no Pacífico, que se ampliava rapidamente, ficavam para segundo lugar. As forças
aliadas na Birmânia deviam, assim, contentar-se com o que sobrasse daqueles dois grandes teatros de
operação. Entretanto, a menos que os Aliados pudessem montar e sustentar uma ofensiva em larga escala. o
enfraquecimento das posições japonesas na Birmânia tinha apenas um significado limitado. Poderia pôr um
fim a qualquer séria ameaça à Índia, mas por si mesmo deslocar os japoneses da Birmânia, região que
guarnecia o caminho para a China e que protegia o flanco ocidental das conquistas japonesas nas Índias.

A linha de aproximação natural era pelo mar. O declínio do poderio naval japonês, e a recuperação pelos
ingleses da supremacia naval no Oceano Indico, prepararam a situação para uma série de ataques anfíbios
contra a costa da Birmânia, que culminaram com a captura de Rangum, cercando finalmente as forças
japonesas na Birmânia e expondo-as a serem destruídas pelas forças aliadas que avançavam pelas mesmas
rotas fluviais seguidas pelos japoneses quando conquistaram o país. A realização desta campanha, entretanto,
era dificultada pela escassez de material de desembarque, uma das deficiências da produção de guerra aliada.
Em várias ocasiões as necessidades da guerra na Europa frustraram os planos aliados na Birmânia. O
material de desembarque, que havia sido enviado para o Extremo Oriente, foi desviado e utilizado para o
desembarque em Anzio. Os preparativos para a invasão da Normandia exigiam o emprego de todos os barcos
disponíveis, e a isso se seguiu a invasão do sul da França, que por sua vez fora retardada até que o êxito na
Normandia tornasse possível o emprego no Mediterrâneo das barcaças utilizadas na invasão. Foi somente no
fim de 1944 que se tornou possível estabelecer planos definitivos para a invasão da Birmânia pelo mar.

A alternativa, enquanto se esperava tal acontecimento, era tentar a reconquista da Birmânia por meio de uma
invasão terrestre pela Índia. Não havia na História exemplo algum de que tal empreendimento tivesse tido
êxito. A disposição natural do país, correndo de norte a sul, impunha grandes barreiras de altas cadeias de
montanhas que desciam do Himalaia, e selvas quase completamente impenetráveis. De leste para oeste não
havia nenhuma via natural de penetração. As comunicações entre Calcutá e a fronteira eram feitas por uma
única estrada de ferro, parte da qual de bitola estreita e ligada por barcas na travessia do Bramaputra. Montar
e sustentar uma ofensiva em tal terreno, confiando somente nas linhas terrestres existentes, era uma tarefa
virtualmente impossível.

A resposta foi dada pela nova utilização da aviação aliada. A ousada concepção do general Wingate era de
abandonar a dependência das linhas terrestres de abastecimentos e confiar fundamentalmente no transporte
aéreo. A aviação poderia transportar tropas sobre os obstáculos oferecidos pelas montanhas e florestas e
colocá-las a uma distância de ataques de seus objetivos. Os abastecimentos podiam ser lançados sobre as
tropas de vanguarda ou descer em pistas improvisadas. Havia limites para este emprego, que faziam com que
as forças combatentes somente pudessem contar com equipamentos leves, a menos que pudessem contar com
transportes terrestres para os canhões mais pesados e os tanques. Entretanto, a eficácia desse método, dentro
desses limites, já ficara evidenciada. O transporte aéreo tornou passível em grande parte o êxito do avanço
sobre Myitkina, embora as forças que se aproximaram dessa base setentrional tenham sido tão fracas e seu
reabastecimento tão difícil, que a guarnição japonesa suportou onze semanas de sítio antes de ser subjugada.
A aviação havia restabelecido a situação em Arakan, depois que a 7 a Divisão Indiana foi isolada e rendeu-se,
e permitira não somente à guarnição cercada resistir durante mais de dois meses, mas também infligir uma
séria derrota ao XV Exército japonês. Os novos métodos tinham-se revelado de modo brilhante e decisivo, e
sua evolução tornou possível considerar um esforço em grande escala e coordenado para reconquistar a
Birmânia pelo norte.

A possibilidade de um sistema contínuo de abastecimento aéreo foi garantida pela virtual eliminação da
aviação japonesa na Birmânia. Nas operações iniciais, a aviação japonesa era ainda suficientemente forte
para ameaçar os planos aliados. Tornara possível o êxito temporário dos japoneses em Arakan, e aumentara
as dificuldades da situação no norte da Birmânia e em Assam. Mas a superioridade aliada se impôs
rapidamente sobre os campos de batalha e finalmente sobre toda a Birmânia. Em agosto de 1944, a força
japonesa de caças havia sido quase totalmente aniquilada. Em nove meses os aviadores aliados haviam
destruído 800 aviões inimigos em combate ou no solo, e não podiam os japoneses substituir essas perdas em
vista de seus desesperados esforços para impedir a aproximação do ataque no Pacífico e reunir uma reserva
que protegesse suas ilhas metropolitanas da invasão aliada em perspectiva. Os céus estavam limpos para os
transportes aéreos aliados, e seus caças e bombardeiros podiam sobrevoar a Birmânia quase sem ser
molestados, dando constante proteção às tropas terrestres e atacando sem cessar as linhas de abastecimento
inimigas em todo o caminho para Bangkok, Rangum e Singapura.

Como resultado, as comunicações difíceis e vulneráveis através das selvas foram em grande parte
substituídas pelas comunicações aéreas que estavam isentas da interferência inimiga. O abastecimento feito
pela aviação desenvolveu-se de modo a satisfazer as exigências do rápido desenvolvimento das operações
terrestres. No ano que terminou em março de 1945, foi transportado pelo ar para as frentes de luta da
Birmânia um total de 550.000 toneladas. Quase a metade dessa tonelagem foi transportada durante os três
últimos meses daquele período, e no último mês as aviões aliados carregaram 98.000 toneladas. Canhões,
jeeps, muares, e reforços de tropas e de abastecimentos de toda a espécie foram transportados numa corrente
ininterrupta para a zona imediata da batalha. Sem este vasto sistema de transporte, somente poderiam ter sido
realizadas pequenas operações ao longo da fronteira, mas utilizando o transporte aéreo, foi possível
desfechar um golpe esmagador tendo como objetivo aniquilar as forças japonesas na Birmânia.

A Estrada de Ledo
No fim do período das monções, no outono de 1944, as forças aliadas estavam dispostas em quatro setores
largamente separados em torno da orla da planície da Birmânia central, situada entre os rios Chindwin e
Irrawaddy. Para oeste, na província costeira de Arakan, encontrava-se o XV Corpo Indiano, composto de
duas divisões da África ocidental e duas divisões Indianas. A cerca de 300 km para o norte encontrava-se o
grosso do XIV Ex. que saíra da planície de Imphal e fazia pressão em direção a Chindwin, ao lonao de uma
frente de 150 km. Esta força compunha-se do IV e do XXXIII Corpos de tropas inglesas, Indianas e
africanas, com um efetivo de dez divisões, além de unidades blindadas e outras formações especiais. Na
Birmânia setentrional, saindo da região de Myitkina, encontravam-se quatro divisões chinesas e a 36 a divisão
inglesa sob o comando do general Sultan, sucessor do general Stilwell; e nesta formação encontrava-se
destacada uma brigada americana chamada Destacamento Marte, a única força terrestre americana que
combatia na Birmânia. Finalmente, ao longo do rio Salween, a leste da fronteira da China, uma força chinesa
enfrentava os japoneses que haviam atravessado a fronteira, vinda da Birmânia antes que o progresso dos
invasores fosse detido.

As operações no norte da Birmânia haviam sido o pivô da campanha anterior nos primeiros meses de 1944.
Seu objetivo imediato fôra abrir a rota terrestre para a China, e à medida que progredia o avanço e eram
consolidadas as vantagens obtidas, a construção da estrada partida de Ledo prosseguia arduamente na esteira
das tropas combatentes, tendo a seu lado um oleoduto cuja construção era tão importante quanto a própria
estrada. A captura de Myitkina, que coroou esta fase das operações, foi apenas um estágio para a completa
realização da missão. A operação exigia a ampliação das conquistas aliadas até Mongyu, onde a estrada de
Ledo se ligaria com a antiga estrada da Birmânia, e era preciso travar uma dura luta através de um terreno
muito difícil até conseguir este objetivo. Mas no processo para conseguir este objetivo imediato, surgiam
amplas perspectivas de novas operações. Avançando para o sul com o objetivo de proteger a estrada, as
forças de Sultan traçavam gradualmente um arco de circo em torno de Mandalay pelo norte. Seu avanço, que
entrara em ligação com a progressão do XIV Exército pelo oeste, desenvolveu-se rapidamente num
movimento convergente que ameaçava o reduto japonês, não somente na região em torno de Mandalay,
senão em toda a Birmânia. De uma operação limitada, embora difícil e de grandes possibilidades, o avanço
pelo norte se transformou em parte integrante de um audaz plano de reconquista da Birmânia por uma
invasão terrestre.

As bases de partida iniciais para esta nova fase foram Myitkina, ponto terminal da estrada de ferro
procedente de Mandalay, e Mogaung na ferrovia a 50 km mais para oeste. Deste último ponto a 36 a divisão
britânica atacou em direção sudoeste ao longo do corredor da estrada de ferro entre duas cadeias de
montanhas. Este avanço, que ameaçava deslocar os japoneses de uma de suas principais vias de
comunicação, auxiliava também a cobrir o flanco da ofensiva chinesa ao sul de Myitkina. Atacando ao longo
da linha geral do vale do curso superior do Irrawaddy, o avanço tinha como primeiro objetivo a cidade de
Bhamo. Esta base japonesa no Irrawaddy, de onde partia uma variante de estrada que corria para leste
entrando na China até encontrar-se com a antiga estrada da Birmânia, era um dos principais obstáculos ao
longo da rota que a estrada de Ledo devia seguir de Myitkina para seu objetivo. Era da capacidade das forças
chinesas de abrir caminho até sua junção com outros exércitos chineses que atacavam na frente do rio
Salween, que dependia a completa reabertura de uma ligação terrestre com a China pelo oeste.

A estação das monções, em 1944, não conseguiu deter a progressão das operações militares no norte da
Birmânia. O ataque contra Myitkina foi levado até sua completa conclusão, e a pressão mantida além de
Myitkina e Mogaung durante as restantes semanas de monções. A progressão foi inevitavelmente retardada
pelas condições meteorológicas, que dificultavam seriamente as operações aéreas das quais as outras tanto
dependiam, e foi muito difícil o avanço através da selva alagada. O tenaz avanço pela ferrovia foi mantido
apesar do intenso calor nos vales estreitos e úmidos, enfrentando obstinada resistência da retaguarda
japonesa, e em meados de setembro as pontas de lança da 36 a divisão encontravam-se a 100 km ao sul de
Mogaung. Partindo de Myitkina, os chineses também avançavam cautelosamente para o sul através do difícil
terreno das selvas enquanto suas patrulhas se desenvolviam para leste, chegando mesmo a estabelecer ligeiro
contato com as outras forças chinesas que se encontravam ao longo do Salween. Quando na última quinzena
de setembro os esforços aliados reduziram-se temporariamente a atividades de patrulhas, haviam sido
conquistados extensos pontos de apoio para o desencadeamento de operações mais sérias, que já estavam em
perspectiva.

A aproximação do fim do período das monções foi marcada pelo reinício da ofensiva a 15 de outubro. No
corredor formado pela estrada de ferro os ingleses ainda enfrentavam encarniçada resistência, à medida que
se aproximavam do ponto em que deveriam desembocar na planície central. Após um mês de contínuos
progressos, que resultaram no avanço de cerca de 80 km, foram detidos pela tenaz resistência japonesa na
aldeia de Pinwe, a poucos quilômetros da junção da ferrovia principal com a estrada de ferro que conduzia à
importante base de Katha no Irrawaddy. Em contraste, o avanço chinês em direção ao Bhamo encontrou
inicialmente uma oposição relativamente fraca. O inimigo pareceu contentar-se em aumentar as dificuldades
de um avanço através da selva por meio de atividades de inquietação em pequena escala, e em reunir suas
forças limitadas para a defesa de pontos estratégicos escolhidos. Foi somente durante a segunda semana de
novembro, quando se aproximaram até poucos quilômetros de Bhamo, que os chineses tiveram de enfrentar
obstinados esforços japoneses destinados a barrar-lhes o avanço.

Nesta fase a ofensiva se desenvolveu, transformando-se numa operação convergente cujas múltiplas colunas
avançadas e seus rápidos movimentos de surpresa caracterizaram toda a estratégia empregada no teatro de
guerra da Birmânia. Enquanto uma coluna do I Exército chinês avançou a jusante do Irrawaddy, numa
ameaça frontal a Bhamo, uma outra marchou a leste para o interior da selva num movimento de flanco contra
a base japonesa. Quase simultaneamente uma ponta de lança do VI Exército chinês, que havia atacado de
Hopin em direção à ferrovia Myitkina-Mandalav, completou a difícil travessia de 80 km de selva.
Irrompendo no Irrawaddy, no ponto em que esse rio toma a direção leste entre Katha e Bhamo, esta força
chegou até meio caminho das duas cidades. A aviação que dava apoio a essas tropas lançou-lhes botes e
outros materiais para a travessia de cursos d'água e dessa forma foi possível cruzar o rio e capturar a cidade
de Shwegu, antes que a guarnição apanhada de surpresa pudesse organizar uma forte defesa. Desenvolvendo-
se ao longo da margem sul do Irrawaddy, os vencedores lançaram uma coluna avançada para o sul de Bhamo
a fim de encontrar-se com a coluna que flanqueava a cidade convergindo pelo leste. A 17 de novembro, a
cidade estava completamente isolada, e o batalhão japonês que a guarnecia organizou-se atrás de fortes
defesas para uma ação suicida que durou um mês. Na ocasião em que foi completamente esmagada essa
desesperada resistência e que a cidade foi ocupada em 15 de dezembro, o avanço principal já se encontrava
muito adiante, engajado nas primeiras fases da batalha pela posse da estrada da Birmânia.

O ininterrupto avanço para o sul era feito, nessa região, por duas colunas principais. Partindo de Shwegu,
elementos da 22a divisão chinesa, apoiados pelo Destacamento Marte, penetraram 80 km selva a dentro e
esmagaram um destacamento japonês que se encontrava na aldeia de Tonkwa, e continuaram a avançar para
a região do rio Shweli. Esta coluna, cujo flanco era protegido em parte pelo avanço da 36 a divisão inglesa
para oeste, oferecia por sua vez proteção à 30 a divisão chinesa que já se encontrava a leste de Bhamo. Esta
força travou encarniçada batalha pela posse da aldeia de Namhkan; mas a 15 de janeiro os japoneses foram
desalojados de suas posições, e o objetivo final na Birmânia setentrional estava quase à vista.

As operações simultâneas que estavam sendo realizadas ao longo do rio Salween tornavam mais próximo o
objetivo aliado. Na região do Salween a missão das forças chinesas era desalojar os japoneses das posições
que controlavam o trecho da estrada da Birmânia a leste de Mongyu, enquanto o avanço na Birmânia se
aproximava desse ponto pelo oeste. Era um lento e duro processo de desalojar o inimigo de uma posição
montanhosa para outra. Saindo de Tengueh, que havia sido capturada a 14 de setembro, depois de um
prolongado sítio, os chineses avançaram lentamente, expulsando os japoneses de suas posições dominantes
ao longo da estrada. Em Wanting, o último bastião antes de Mongyu, o inimigo ofereceu uma desesperada
resistência. Os chineses tomaram a cidade a 3 de janeiro, mas os japoneses retornaram ao ataque e
reconquistaram a localidade no dia seguinte. Somente a 20 de janeiro foram finalmente desalojados. A essa
altura o avanço procedente do oeste, que passara além de Namhkan já capturada, havia quase fechado a
passagem. Embora alguns grupos de japoneses ainda resistissem cercados, o comando aliado pôde anunciar
oficialmente a 22 de janeiro que estava aberta a estrada de Ledo para a China. Seis dias depois, a chegada do
primeiro comboio em Wanting simbolizava as primeiras esperanças que nasciam com a restauração de uma
ligação terrestre entre a China e os seus aliados.

A Estrada para Mandalay


Com a construção da estrada de Ledo, a região norte em que se combatia e que havia sido teatro de tantos
sacrifícios por parte dos homens que construíram a estrada e dos que limparam o caminho, perdia sua
importância como setor de operações separado. As tropas que haviam avançado através desta região
selvagem e remota, continuavam, entretanto, empenhadas em violentas ações. Ao sul da estrada os chineses
continuavam seu avanço em direção a Lashio. Seu flanco era ainda coberto pelo avanço paralelo da 36 a
divisão, mas a importância do movimento desta última unidade era então subordinado ao avanço do XIV
Exército procedente da Índia, e do amplo ataque concêntrico que se desenvolvia em direção à planície central
tendo Mandalay como objetivo focal.

O êxito com que as unidades combatentes do norte realizavam suas operações, desafiando as monções,
encontrava paralelo no movimento das forças que se haviam desenvolvido partindo de Imphal em
perseguição aos remanescentes do XV Exército japonês. Seu contínuo avanço através da lama e da chuva
incessante fazia-se por duas colunas em direção às bases das quais o inimigo havia desfechado sua desastrosa
invasão da Índia. No setor norte a captura de Tamu, a 4 de agosto, desalojara os japoneses de uma pista de
aterrissagem e do entroncamento de comunicações que favorecia o reabastecimento. E enquanto elementos
da 11a divisão da África Oriental atacavam a jusante do vale do Kabaw, outras forças atacaram através das
serras até o rio Chindwin. Em Sittaung foi estabelecida uma cabeça de ponte na margem oriental, e a ponta
de lança setentrional encontrava-se agora em situação não somente de avançar contra as forças japonesas que
se encontravam a oeste do curso médio e superior do Chindwin, senão também continuar o seu difícil avanço
através do país em direção ao Irrawaddy.

Simultaneamente a ponta de lança principal do sul, tendo na vanguarda a 5 a divisão Indiana, desceu pela
estrada de Imphal para o sul, em direção a Tiddim. Nessa região os japoneses realizaram a mesma persistente
ação de retaguarda efetuada no corredor da estrada de ferro. Quando em meados de setembro os japoneses
resistiram em fortes posições no rio Manipur, os indianos lançaram um ataque envolvente e contornaram o
obstáculo. Realizando um movimento envolvente de 140 km através de elevações cobertas de florestas, a
coluna flanqueante atacou além das posições no Manipur, desalojou os japoneses de suas defesas mais além
na aldeia de Tongzang, e limpou o caminho para o grasso da força que avançou até 25 km de Tiddim.

Foi preciso quase quatro semanas para cobrir a distância restante. A íngreme e tortuosa estrada para Tiddim,
chamada pelas atacantes a "Estrada de Chocolate", era um obstáculo que precisava ser contornado por outra
marcha através da floresta. A coluna flanqueante continuou seu avanço em torno de Tiddim pelo leste, mas os
japoneses organizaram defesas e ofereceram uma resistência que somente pôde ser vencida após uma
quinzena de lutas. Por fim, a mudança do tempo permitiu a realização de um poderoso ataque que esmagou
as defesas. E a 15 de outubro os indianos aproximaram-se de duas direções para esmagar o que restava da
guarnição.

A partir de Tiddim, o avanço se dirigiu para leste em direção ao Chindwin, onde a base de Kalewa guardava
o desfiladeiro estratégico que servia de passagem para a Birmânia procedente do oeste. Significava 100 km
de duras operações contra um inimigo que continuava a resistir sempre que fosse possível estabelecer uma
posição defensiva, e a aferrar-se tenazmente aos obstáculos naturais existentes no terreno. Somente a 7 de
novembro foi possível desalojar os japoneses do pico de Kennedy, uma elevação de 2.700 metros que
dominava um estreito caminho. A pouca distância, entretanto, Forte White foi capturado a 9 de novembro
depois de encarniçado combate que durou dois dias. Os indianos aproximavam-se agora das forças de
africanos orientais, que abriam caminho a jusante do vale do Kabaw e que haviam lançado uma força para
leste, realizando um avanço paralelo a jusante do Chindwin. A 16 de novembro fizeram junção com os
indianos e capturaram a aldeia de Kalemyo, continuando o avanço ao longo do último trecho da estrada na
direção de Kalewa. Houve encarniçada luta pela posse das elevações que cobriam as vias de acesso àquele
baluarte. Entretanto, o avanço frontal pelo leste era reforçado pelo apoio de tanques e os africanos com uma
poderosa força de artilharia ameaçavam a cidade pelo norte, à medida que avançavam ao longo do Chindwin.
A 2 de dezembro os japoneses foram expulsos de Kalewa. Toda a resistência inimiga a oeste do Chindwin
fôra agora virtualmente eliminada, e com a travessia do rio além de Kalewa ficara aberto o caminho para um
avanço para a planície central e para o Irrawaddy.

A esse tempo achava-se em progresso um avanço paralelo através do país mais ao norte. Nas últimas
semanas de novembro foi desfechado um ataque pela 19 a divisão Indiana além do curso médio do Chindwin,
partindo dos arredores de Sittaung. Quase ao mesmo tempo a 36 a divisão, que fôra detida durante três
semanas diante de poderosas posições japonesas em Pinwe, desfechou um novo ataque que rompeu as linhas
inimigas a 30 de novembro. O avanço reiniciado ao longo da ferrovia chegou até Katha e a cidade próxima
de Indaw a 10 de dezembro, e seis dias depois suas patrulhas a leste de Indaw tomaram contato com as
pontas de lança da força que havia avançado a leste de Chindwin. Os dois setores, tão longos e tão separados,
estavam agora ligados, e enquanto a 36 a divisão avançava a jusante do Irrawaddy procedente de Katha, as
tropas da 19a divisão ocupavam a cidade ferroviária de Wuntho, depois de cobrir 240 km em oito dias, e
atacaram em direção ao sul num avanço paralelo ao longo da ferrovia para Mandalay.

Tratava-se do desenvolvimento do plano fundamental de operações que era o resultado da reconquista da


Birmânia: um avanço lateral procedente do oeste a fim de encontrar e superar o avanço pelo norte, uma nova
mudança de rumo para o sul partindo das posições conquistadas na primeira fase das operações, a seguir um
ataque lateral mais para o sul, e repetir o método até além de Mandalay, chegando a Rangum. E,
complementando este avanço principal, que formava a espinha dorsal da ofensiva, havia outros ataques em
ambos os flancos: o avanço da 36 a divisão que ameaçava Mandalay pelo leste, o avanço pela costa ocidental
que culminou com uma expedição marítima contra Rangum pelo sul, enquanto o avanço terrestre se
aproximava do porto pelo norte.

O êxito dos japoneses em fins de dezembro, quando conseguiram deter a coluna setentrional depois de um
rápido avanço que a levou a 90 km ao sul de Wuntho, foi anulado pela progressão da 2 a e da 20a divisões que
avançavam para leste partidas de Kalewa. Ganhando velocidade à medida que se aproximavam do terreno
mais fácil, atacaram a retaguarda inimiga, e a 2 de janeiro a 2 a divisão alcançou e capturou Yeu, ponto
terminal de um ramal da estrada de ferro que partia de Mandalay. A 20 a divisão atacou pela estrada em
direção ao centro de Monywa e da curva do Irrawaddy a oeste de Mandalay. A 2 a divisão continuou seu
avanço para leste, progredindo na planície central, um terreno favorável ao emprego dos tanques. A cidade de
Shwebo foi capturada a 7 de janeiro, e este êxito, colocando a 2 a divisão a cavaleiro da ferrovia principal,
solapou a resistência dos japoneses mais para o norte. A 19 a divisão rompeu as posições inimigas e avançou
para o sul fazendo ligação com as tropas que haviam capturado Shwebo; e enquanto essas tropas avançavam
para o sul ao longo da ferrovia, a 19 a avançou para leste, em direção ao Irrawaddy. A 20 de janeiro a 19 a
divisão havia estabelecido cabeças de ponte através do rio em Singu, a 75 km ao norte de Mandalay, e em
Thaheikkyin, a 30 km ainda mais ao norte. O desmoronamento da oposição japonesa a oeste do rio foi
acelerado pela 20a divisão, que capturou Monywa a 22 de janeiro depois de seis dias de assédio; e do norte e
de oeste poderosas forças estavam agora em situação de avançar sobre Mandalay.

O inimigo concentrou então seus principais esforços no sentido de manter a linha do Irrawaddy e evitar o
perigo que o ameaçava pelo norte. As cabeças de ponte iniciais, mantidas pela 19 a divisão Indiana, passaram
a ser submetidas a encarniçados e persistentes ataques. E enquanto a curva do Irrawaddy a oeste de
Mandalay foi em grande parte limpa de inimigas no fim da primeira semana de fevereiro, os japoneses
aferraram-se a um ponto de apoio do lado oposto da cidade propriamente dita na região montanhosa em
torno de Sagaing. Nenhuma dessas medidas conseguiram impedir o rápido enfraquecimento da posição
estratégica japonesa na Birmânia. As forças aliadas, que haviam desembocado na planície central, poderiam
fazer sentir agora sua superioridade em tanques e artilharia bem como em efetivos, e enquanto a aviação
dava constante apoio ao avanço, aumentando a potência de fogo empregada contra as defesas terrestres
japonesas e quebrando os contra-ataques inimigos, os bombardeiros estratégicos atacavam todo o sistema de
comunicações de que dependiam os japoneses na Birmânia, e através do qual o XV Exército na região de
Mandalay tinha de ser abastecido de munições e víveres.

Nos primeiros dias de fevereiro, a 19 a divisão começara a passar para a ofensiva e a ampliar lentamente suas
cabeças de ponte contra uma crescente resistência. Sua pressão cada vez maior para o sul foi logo depois
completada pela crescente ameaça a Mandalay pelo oeste. Na noite de 12 de fevereiro, os elementos
avançados da 20a divisão Indiana avançaram através do Irrawaddy, nas proximidades de Myinmu, a 50 km a
oeste de Mandalay. Embora a resistência inicial fosse relativamente fraca, os japoneses reagiram rápida e
vigorosamente. Foram desfechados ataques violentos e repetidos contra este novo ponto de apoio durante dez
dias, e a aviação, que apoiava a travessia, interveio novamente para ajudar a repelir os assaltos das unidades
moto-mecanizadas inimigas. Mas a cabeça de ponte foi reforçada com a chegada de tanques, e a pressão foi
logo depois diminuída em conseqüência de uma nova travessia da linha do Irrawaddy. No flanco esquerdo da
20a divisão, a 8 km para leste, a 2 a divisão forçou a travessia do rio a 26 de fevereiro, em face de encarniçada
oposição, e com a desvantagem da falta de equipamento adequado, falta essa observada em todas as
operações de travessia de rios durante esta fase das operações. As duas cabeças de ponte foram rapidamente
ligadas numa ampla base de partida, e no mesmo dia as forças nas duas cabeças de ponte do norte venceram
a distância de 30 km que originariamente as separava e fortaleceram sua posição para um ataque iminente.
As colunas para um ataque convergente de duas direções estavam em posição e dirigidas contra Mandalay.

A esta altura uma operação ainda mais espetacular, registrada num setor inteiramente diferente, ampliou
grandemente o campo de operações. Enquanto a pressão efetuada pelo XXXIII Corpo de Exército na cabeça
de ponte ocidental desviava a atenção inimiga para a ameaça frontal contra Mandalay, o IV Corpo havia
lançado uma poderosa força para as montanhas de Chin, ao sul de Tiddim. Avançando rápida e secretamente
através da floresta do vale de Gangaw, esta força chegou subitamente ao Irrawaddy, do lado oposto de Pagan,
a 150 km a sudoeste de Mandalay. A 14 de fevereiro essas unidades desfecharam um ataque do rio, de 800
metros de largura. Houve as habituais dificuldades causadas pela falta de botes e o ataque teve de enfrentar
um cerrado fogo das posições japonesas na margem oriental. Mas a aviação e a artilharia quebraram as
defesas, e foi estabelecida uma firme cabeça de ponte, que se manteve apesar dos ataques dos reforços
japoneses trazidos ao local da zona ao sul de Mandalay e lançados em encarniçados contra-ataques, numa
tentativa para desfazer essa nova ameaça.

Estando assim quase completamente engajados todos os recursos japoneses, foi desfechado o golpe decisivo.
Nas proximidades de Pakokku, a 30 km ao norte de Pagan, outra coluna começou a travessia do Irrawaddy
na noite de 19 de fevereiro. Dois dias depois, a 17 a divisão, tendo a mais poderosa força moto-mecanizada
até então lançada na campanha, partiu da cabeça de ponte e atacou em direção à base japonesa de Meiktila na
rodovia principal a 120 km ao sul de Mandalay. Tendo na vanguarda uma poderosa força de tanques médios
apoiados por carros blindados e canhões de autopropulsão, e sob a constante cobertura de bombardeiros e
aviões de caça, a coluna possuía uma combinação de potência de fogo e de mobilidade que levava tudo por
diante. Um rápido avanço de 130 km levou-a até os subúrbios de Meiktila, a 27 de fevereiro. Os 8
aeródromos que cercavam a cidade foram rapidamente ocupados; forças aerotransportadas foram
prontamente trazidas para reforçar e consolidar a força atacante. Meiktila foi capturada após encarniçada
luta, e foi enviada para frente uma força que avançou 16 km para leste e atacou Thazi na estrada de ferro ao
sul de Mandalay. Era um golpe audacioso que privava o inimigo de seus abastecimentos e lhe cortava o
itinerário de retraimento, ameaçando não somente os defensores japoneses de Mandalay, mas toda a força
japonesa de cerca de 30.000 homens, que se encontrava na Birmânia central.

Mandalay propriamente dita estava agora reduzida a um objetivo secundário, cuja queda estava assegurada.
A 1o de março a 19a divisão irrompeu pela cabeça de ponte do norte e avançou para o sul ao longo do
Irrawaddy. Seu avanço frontal ainda encontrou forte oposição de retaguarda, que retardou sua progressão
durante alguns dias, Mas uma coluna moto-mecanizada arremeteu numa marcha de flanco que contornou as
posições japonesas, e a 8 de março, depois de um avanço durante toda a noite, em que foram cobertos 30 km,
através de um terreno quase sem qualquer estrada, os tanques penetraram em Mandalay pelo norte. No dia
seguinte o grosso da guarnição japonesa encontrava-se sitiado no Forte Dufferin, onde obras de defesa
resistiam ao bombardeio da artilharia de calibre médio e permitiram aos defensores repelir os primeiros
assaltos. Mas o longo processo de subjugação foi acelerado à medida que outras forças atacantes se
aproximaram da cidade. A 19a divisão enviou forças flanqueantes que atacaram a leste da cidade. Uma ponta
de lança, num avanço de 80 km através de difícil terreno, capturou Maymyo na estrada de Lashio, e um
destacamento marchando para leste e sul de Mandalay completou o cerco fazendo contato com a 2 a divisão
que havia avançado da cabeça de ponte acidental para cortar a última passagem. Com o assalto final a Forte
Dufferin a 20 de março, toda a cidade de Mandalay encontrava-se em mãos dos ingleses.

Era uma presa cuja captura muito significava sob o ponto de vista de prestígio. Em seu aspecto estratégico,
entretanto, já ficara obscurecida pela perspectiva mais importante da destruição de XV Exército japonês. Os
remanescentes dessa força, reduzidos agora a cerca de 30.000 homens, compreendiam a última grande força
inimiga na Birmânia central, e à medida que as forças aliadas se colocavam a cavaleiro das principais vias de
retirada, o cerco se tornava cada vez mais fechado.

O principal itinerário de retirada era a rodovia que ligava Mandalay com o término da antiga estrada da
Birmânia em Lashio. Qualquer possibilidade de que os japoneses pudessem utilizar esse itinerário de
retraimento foi em grande parte posta de lado péla coluna flanqueante que capturou a base de Maymyo, e
finalmente eliminada pelo avanço do destacamento norte. Ao sul da estrada de Ledo, recentemente aberta, as
forças do general Sultan avançaram para o sul em várias colunas que se deslocavam paralelamente ao avanço
principal a jusante do Irrawaddy em direção a Mandalay, dando ainda maior segurança. Enquanto a 36 a
divisão atravessava o rio Shweli e avançava em árduos combates até o rio Mogok, colunas chinesas
aproximavam-se de Lashio, capturando-a a 8 de março, e dez dias depois outra força chinesa apoderou-se de
Hsipaw, a 70 km mais para oeste. Quando caiu Mandalay, os pontos-chave da estrada para Lashio
encontravam-se em mãos dos Aliados e os japoneses estavam sendo eliminados dos trechos intermediários.
As duas forças chinesas partidas de Hsipaw e Lashio fizeram contato a 26 de março. A 36 a divisão abriu
caminho até a estrada e estabeleceu ligação com os chineses a 1 o de abril. A missão do destacamento do norte
estava agora virtualmente completada, e a campanha encontrava-se a ponto de entrar em sua fase final, à
medida que a destruição das forças restantes na Birmânia central preparava a situação para e avanço sobre
Rangum.

Ao sul de Mandalay o centro da luta era a zona de Meiktla. A captura deste ponto pela 17 a divisão, após
encarniçada luta, significava ter sido cravada uma cunha entre os japoneses que se encontravam na Birmânia
central e os que estavam mais para o sul. Diante disso, o inimigo desenvolveu desesperados esforços para
restabelecer o contato. Durante toda uma semana a posição se manteve crítica, enquanto os japoneses
desfechavam poderosos e repetidos contra-ataques às defesas exteriores dos aeródromos cuja importância era
vital para a manutenção da posição. Mas os ataques foram repelidos, e com a captura de Mandalay, a posição
de Meiktila se tornou a bigorna para o malho que descia do norte para esmagar e dispersar as divisões
japonesas na região intermediária.

O golpe principal foi desfechado pela 20 a divisão. Atacando da cabeça de ponte ao sul de Mandalay, uma
poderosa vanguarda moto-mecanizada, apoiada por infantaria transportada, avançou 100 km em três dias,
alcançando um ponto a menos de 30 km ao norte de Meiktila. Enquanto a luta pela posse desse último ponto
continuava a travar-se com todo o encarniçamento, a 20 a divisão cortou a estrada principal e a ferrovia e
avançou para o norte em direção a uma junção com outra coluna que a divisão lançara diretamente para o
sul, partindo de Mandalay. O bolsão japonês foi rompido, e as colunas convergentes cercavam rapidamente
as restantes forças japonesas na Birmânia central. Por meio de esforços desesperados os japoneses
conseguiram retardar o fechamento do cerco. Organizaram uma poderosa resistência nas vizinhanças de
Kyaukse e mantiveram aberta uma passagem de 30 km pela qual as forças em retirada procuravam infiltrar-
se no terreno montanhoso mais para leste. De fato, elementos de três divisões conseguiram realizar a retirada,
mas ao preço de pesadas perdas e do abandono de seu material pesado e sob constante ataque das forças
aéreas. A 30 de março, a captura de Kyaukse, seguida pela ligação com a força que mantinha Meiktila,
marcou a eliminação virtual do bolsão; e o subseqüente processo de limpeza foi terminado com a captura de
Thazi a 10 de abril. O XV Exército japonês havia sido liquidado como força efetiva, e seus remanescentes
em fuga procuravam refugiar-se nas montanhas e florestas. Desde o começo do ano as forças britânicas na
Birmânia central haviam causado ao inimigo 17.000 mortos. Toda a planície central estava firmemente em
suas mãos, e a situação estava preparada para o avanço sobre Rangum e para o término da reconquista da
Birmânia.

A Estrada para Rangum


O avanço através da Birmânia central, e o progressivo aumento das forças engajadas resultaram numa séria
tensão das linhas de abastecimentos, e particularmente do abastecimento por meio da aviação. As difíceis e
restritas rotas terrestres podiam ser utilizadas durante a estação seca para o transporte de tipo mais pesado de
equipamento, mas isso quase exauria sua capacidade, e embora a utilização do Chindwin e de outros rios
fosse um complemento valioso, a capacidade de choque do XIV Exército continuava dependendo do
transporte aéreo. Imphal foi a base principal durante as primeiras fases do avanço, e quando a progressão em
direção à zona de Mandalay fez com que as operações ultrapassassem o raio de ação conveniente, Chittagong
substituiu Imphal como principal centro de abastecimento. Meiktila, entretanto, era o ponto mais avançado
que poderia ser eficazmente abastecido da base de Chittageong, e eram precisas bases ainda mais ao sul para
manter o rápido avanço em direção a Rangum.
Era esse o objetivo principal da campanha de Arakan, que já estava sendo realizada por ocasião das
operações contra Mandalay. Os recursos anfíbios do Comando da Ásia Sul-oriental, apesar de inadequados
para uma grande operação, foram empregados numa série de desembarques marítimos que levaria o XV
Corpo até a costa ocidental da Birmânia, paralelamente com o avanço mais para o interior. Havia outros
objetivos secundários, mas ainda assim importantes que seriam beneficiados tom essas operações. Tinham
como finalidade eliminar as forças japonesas em Arakan, removendo assim uma ameaça potencial do flanco
do avanço principal. A conquista de Arakan libertaria quatro divisões do XV Corpo para serem empregadas
num golpe final contra Rangum. E essa nova força disponível, juntamente com a captura de bases avançadas
para manter a ofensiva principal, aumentava a possibilidade de que o avanço para Rangum pudesse ser
completado nas poucas semanas que faltavam para a vinda do período das monções.

A ofensiva de Arakan foi desfechada em meados de dezembro. A 25 a divisão Indiana capturou Buthidaung e
atacou pela península de Mayu, apoiada pela 82 a divisão da África Ocidental que avançava a cavaleiro da
cadeia de montanhas de Mayu, enquanto a 81 a divisão da África Ocidental atacava para o sul pelo vale do
Kaladan. O objetivo imediato era Akyab, principal base costeira japonesa, cujos aeródromos eram de vital
importância para o avanço geral. Em contraste com o que ocorrera no ano anterior, quando os japoneses não
somente barraram a estrada para Akyab senão também que ameaçaram envolver e destruir a força atacante, o
ataque desta vez teve rápido êxito. Um avanço de uma quinzena levou os indianos ao longo da península de
Mayú para um ponto que dominava Akyab. Os japoneses não fizeram esforços sérios para defender aquela
base. Quando um tríplice ataque anfíbio foi desfechado contra Akyb a 3 de janeiro, descobriu-se que o
inimigo se havia retirado dois dias antes. Akyab foi ocupada sem oposição, e assim caíam em mãos dos
ingleses um porto e uma base aérea de grande importância.

O objetivo seguinte era Taungup, a 240 km para o sul. Este pequeno porto, ligado por estrada de ferro com
Prome à margem do Irrawaddy, era um dos principais pontos de reembarque dos abastecimentos que se
dirigiam para o norte ao longo da costa, e era o ponto terminal do sul da estrada costeira que corria para o
norte até o trecho inferior do vale do Kaladan. Nessa última região, uma obstinada força japonesa se havia
concentrado para opor-se ao avanço das tropas da África Ocidental, e como parte dos movimentos
preliminares em direção a Taungup, o isolamento dessa força e o bloqueio de suas rotas de abastecimento e
retirada tornaram-se uma das tarefas imediatas do XV Corpo.

A operação foi iniciada com um desembarque na península de Myebon, a 50 km ao sul de Akyab, a 12 de


janeiro. Sob a cobertura de um bombardeio naval e aéreo, as tropas puderam estabelecer um ponto de apoio
em face da forte oposição das forças japonesas que se haviam retirado de Akyab. Uma semana depois a
posição foi reforçada por outro desembarque a uns 30 km mais para o sul nas vizinhanças de Kangaw. Aí foi
capturado um trecho de estrada numa posição que sofreu poderosos e persistentes ataques japoneses
apoiados com artilharia pesada. Assim, com sua linha de abastecimento efetivamente cortada, os japoneses,
que se encontravam na região do Kaladan inferior, eram continuamente comprimidos entre os indianos que
haviam combatido no sul e os africanos que avançavam pelo norte.

Entrementes, outra operação anfíbia levara o XV Corpo até as proximidades de Taungup. A 21 de janeiro a
26a divisão Indiana, que até então havia sido mantida em reserva, desembarcou na extremidade norte da ilha
de Ramree. Essa ilha, que oferecia muitas oportunidades para ser utilizada como base aérea, guarnecia as
vias marítimas de acesso pelo oeste para Taungup e oferecia uma base de partida preliminar para um ataque
direto contra o porto. A guarnição japonesa lutou tenazmente, e durante o resto do mês limitou o avanço
inglês à parte norte da ilha. Mas a 26 de janeiro uma força de fuzileiros navais desembarcou na ilha de
Cheduba ao sul de Ramree e apoderou-se de uma base de onde os defensores de Ramree poderiam ser
ameaçados pela retaguarda. A 4 de fevereiro, um desembarque na extremidade sul da própria ilha de Ramree
acelerou o fim da campanha. Apanhados entre duas forças, os defensores japoneses foram dominados poucos
dias depois, e a 10 de fevereiro toda a resistência importante tinha sido vencida e somente partes separadas
ainda deviam ser liquidadas.

A essa altura, as concentrações japonesas ao longo do curso inferior do Kaladan tinham sido aniquiladas ou
dispersas, e os africanos marchavam em direção a uma junção com as forças que se engajavam ainda
obstinadamente em torno de Kangaw. Os japoneses desistiram de seus esforços para reconquistar a posição
anterior e concentraram-se numa operação com o objetivo de impedir a junção. Mas foram ameaçados por
mais outro desembarque ao sul de Kangaw, que capturou Ruywa, cortando novamente a estrada costeira e
capturando o ponto terminal de um atalho que se estendia para leste através das montanhas, em direção ao rio
Irrawaddy. A nova operação pôs virtualmente fim à luta em torno de Kangaw. A 20 de fevereiro as forças
estabeleceram contato com os africanos que avançavam, limpando a zona de Kangaw do que restava de uma
guarnição de 2.700 homens, e mais toda a região de Arakan ao norte daquele ponto, que já se encontrava sob
controle inglês.

Parece que os japoneses esperavam um ataque direto contra Taungup e se preparavam para resistir
fortemente. O golpe seguinte, entretanto, recaiu a 65 km, na costa, onde foi efetuado um desembarque a 13
de março, em Letpan. A aviação ajudou a quebrar a resistência da infantaria e reduzir os pontos fortes das
defesas costeiras, e os ingleses de sua base de partida avançaram do norte em direção a Taungup. Tiveram de
enfrentar encarniçada resistência quando os japoneses procuravam desengajar suas forças, e foi preciso um
mês para atingir esse objetivo. Apesar da cidade ter sido alcançada a 4 de abril, foi somente a 16 que os
japoneses foram. expulsas de Taungup. O último grande porto na costa ocidental da Birmânia encontrava-se
nas mãos dos ingleses; sua guarnição foi atacada pela aviação enquanto procurava retirar-se ao longo da
estrada para Prome; os remanescentes de duas divisões que se encontravam em Arakan foram isolados ou
postos em fuga; e os ingleses haviam-se apoderado das bases costeiras de onde podiam apoiar o vigoroso e
decisivo avanço agora desfechado contra Rangum.
De modo nenhum esse êxito foi fácil. Faltava apenas um mês para o período das monções, e Rangum
encontrava-se a 500 km ao sul da principal força atacante na região de Meiktila. Barrando o caminho,
encontravam-se o XXVIII e o XXXIII Exércitos japoneses com um efetivo aproximado de 50.000 homens.
Era uma corrida com as condições meteorológicas que tinham importância vital para as operações, e a
velocidade somente poderia ser conseguida por meio de uma esmagadora concentração de efetivos que
anulasse qualquer resistência japonesa e permitisse às forças moto-mecanizadas e blindadas marchar para o
sul com toda a rapidez sobre Rangum.

A situação exigia audaciosas arremetidas, em que as vanguardas não se preocupariam com os riscos de seus
flancos ou com suas comunicações. A vitória em Arakan, e a liquidação da resistência efetiva dos japoneses
ou mesmo de seus reconhecimentos aéreos, davam a segurança de que a ofensiva continuaria a desfrutar de
um adequado apoio aéreo. Foi decidido conter as concentrações japonesas que se mostravam mais
ameaçadoras, avançar além de outras concentrações, deixando-as para serem liquidadas por tropas mais a
retaguarda, e avançar em duas colunas paralelas ao longo das duas principais vias de penetração ao longo dos
vales do Irrawaddy e do Sittang.

O avanço ocidental foi desfechado pelo XXXIII Corpo. Sua perspectiva de um rápido avanço para o sul
ficou comprometido pelo fato de ter preliminarmente de enfrentar uma poderosa força japonesa concentrada
da região petrolífera em torno de Chauk e Yenangyaung. Esse bolsão foi primeiro dividido por um
movimento de pinças partido da região de Pakokku. Enquanto uma força atacou para o sul, a jusante do
Irrawaddy, outra contornou Chauk pelo leste e sul, e na margem oposta do rio ainda outra força já estava
preparada para barrar a tentativa inimiga de escapar para o oeste. Chauk foi capturada a 18 de abril, e a
ligação das forças estabeleceu uma linha firme entre esse ponto e Meiktila. Entrementes, uma coluna que
avançava para o sul e o oeste, capturando Magwe e se dirigindo para o norte em direção à ponta de lança que
avançava para o sul, a jusante do Irrawaddy e em direção a Yenangyaung, traçava assim um novo arco que
era como que um anel exterior que circunscrevia as posições japonesas. Com a queda de Yenangyaung a 22
de abril, o bolsão japonês estava virtualmente eliminado, e o XXXIII Corpo podia lançar seu peso principal
no avanço em direção a Rangum.

A essa altura o XXXIII Corpo era ultrapassado pelo avanço paralelo mais a leste. As operações na região
petrolífera e a continuada resistência além daquela região restringiam a velocidade do avanço. Quando caiu
Rangum, a ponta de lança ocidental ainda lutava em Prome a 300 km ao norte. Mas o seu êxito em fixar e
liquidar as forças japonesas na zona petrolífera livrara o IV Corpo do perigo que ameaçava seu flanco,
deixando-o em condições de atacar com todos os efetivos, marchando pela estrada de rodagem e a ferrovia
que levavam de Meiktila a Rangum.

O avanço começou nos primeiros dias de abril. Nas primeiras fases foi encontrada forte oposição. Os
japoneses também lutavam por ganhar tempo, e tentavam barrar o avanço sempre que uma forte barreira
natural oferecia oportunidade para uma resistência eficiente. Houve uma obstinada batalha que durou três
dias, pela posse do centro de abastecimentos de Pyawbwe, capturado a 11 de abril. A cerca de 24 km mais
para o sul foi tentada outra resistência, e a 30 km mais adiante, onde a estrada se fechava num estreito
desfiladeiro, foi organizada ainda outra. Mas as vanguardas moto-mecanizadas do IV Corpo, auxiliadas pelos
guerrilheiros do Exército Nacional Birmanês que operavam adiante e nos flancos, ultrapassaram e
subjugaram essas posições e ganharam velocidade à medida que avançavam. A última tentativa séria para
uma resistência organizada se verificou ao norte de Pegu, na localidade de Pyinmana; e quando foi liquidada
a 21 de abril, o IV Corpo pôde avançar rapidamente, alcançando os centros principais antes que os japoneses
tivessem tempo de organizar sua defesa. Em Toungoo os ingleses toparam com poderosas defesas, mas seu
ataque causou tal surpresa que os britânicos puderam capturá-las sem luta, e os tanques da vanguarda
chegaram a encontrar os soldados japoneses que dirigiam o tráfego nas estradas. Atrás das forças terrestres
chegaram guarnições especiais que concertaram rapidamente as pistas de aterrissagem, inclusive das três
importantes aeródromos de Toungoo, e permitiram que os serviços de abastecimento para as tropas da
vanguarda fossem mantidos sem interrupção. Em fins de abril, Pegu, o último grande obstáculo, já fôra
ultrapassado, e o IV Corpo encontrava-se a uma distância de ataque de Rangum.

Outras forças já se haviam concentrado para o ataque contra esse porto. Os recursos anfíbios do Comando do
Sudeste da Ásia estavam por demais empenhados para poderem realizar a invasão principal por mar, mas
ainda assim estavam em situação de apoiar a operação e de dar ajuda ao avanço terrestre, tornando certa a
captura do objetivo antes da chegada das monções. Outras forças do XV Corpo, já libertadas pela vitória de
Arakan, estavam em condições de serem empregadas numa operação de desembarque por mar. A poderosa
frota das Índias Orientais chegou até próximo da costa e deu seu apoio ao desembarque. Tropas pára-
quedistas da divisão Indiana aerotransportada foram lançadas ao sul de Rangucn a 1 o de maio, a fim de
neutralizar as defesas costeiras, e no dia seguinte a força principal da operação desembarcou do outro lado do
lamacento estuário do Rangum, a 30 km ao sul do porto.

O golpe não encontrou praticamente oposição. O avanço do IV Corpo já havia condenado Rangum, e os
japoneses tinham preferido abandonar a cidade a arriscar-se a sofrer perdas irreparáveis por meio de uma
resistência suicida. As tropas desembarcadas avançaram rapidamente para o interior da cidade, e a 3 de maio
foi oficialmente anunciada a captura de Rangum. Os vencedores marcharam para o interior a fim de
encontrar-se com as colunas que se aproximavam procedentes do norte. Pegu já caíra a 1 o de maio, e a 6 o IV
Corpo, cujo avanço fôra abruptamente retardado pelo mau tempo, estabeleceu contato com as forças que
marchavam de Rangum. Entrementes, a coluna de vanguarda do oeste capturara Prome a 2 de maio; e
quando por sua vez esta força estabeleceu contato com o XV Corpo, a 100 km ao norte de Rangum a 17 de
maio, encerrou a fase mais importante de uma campanha em que se registrara um avanço de 1.000 km
através de um terreno difícil e coberto de florestas, sem meios de comunicação adequados; uma campanha
que, apesar de colocada em plano secundário pelos acontecimentos mais decisivos que se verificavam
noutros lugares, servia como um marco que definia claramente uma sensível mudança nas operações
militares contra o Japão.

A expulsão dos japoneses do sudeste da Ásia parecia exigir ainda novas e duras campanhas. Estando nas
mãos dos ingleses a importante base de Rangum, Singapura surgia como o próximo grande objetivo em
vista, e a invasão da península de Malaca deveria ser acompanhada de uma ofensiva simultânea contra o
Sião. A nova situação exigia uma redistribuição de forças engajadas na campanha da Birmânia. As forças
chinesas e americanas no norte foram enviadas para a China a fim de dominar a resistência japonesa. O
ataque contra Malaca, marcado para 9 de setembro, devia ser desfechado por 7 divisões do XIV Exército.
Outras unidades daquela força de veteranos foram reagrupadas em nova formação, o XII Exército com um
efetivo de 6 divisões e 5 brigadas independentes; e a essas unidades recaiu a dupla missão de avançar para
leste em direção à fronteira do Sião e de limpar os bolsões inimigos que haviam ficado para trás durante o
avanço de Rangum.

Mais uma vez as monções não detiveram o curso da luta, apesar das dificuldades impostas às operações
terrestres e da interrupção dos abastecimentos aéreos. O grosso das forças japonesas, com um efetivo
avaliado entre 40.000 e 50.000 homens, encontrava-se agora a leste de Sittang, com exceção de uma base
situada dentro da curva do rio nas proximidades da embocadura. Se por um lado era difícil a situação dos
seus abastecimentos, por outro o terreno era facilmente defensável, e os ataques ingleses ficaram limitados a
ações destinadas a retardar a progressão. A leste de Thazi, o avanço para o interior dos Estados Shan topou
com uma série de posições fortificadas, e somente a 25 de julho foi anunciada a captura de Taunggyi, um dos
principais centros da região. A coluna que avançou de Toungoo encontrou resistência ainda maior, e precisou
de aproximadamente três meses para avançar 55 km. Assim, as operações destinadas à limpeza da estrada de
ferro de Pegu a Moulmein fizeram apenas pequenos progressos. A atividade do XII Exército tinha de ser
considerada menos em termos de terreno conquistado do que de perdas causadas ao inimigo, e
particularmente às forças cercadas que procuravam escapar através do Sittang.
O avanço para Rangum havia isolado cerca de 20.000 japoneses no sudoeste da Birmânia. Parte desses
encontrava-se no vale do curso inferior do Irrawaddy, e foi em grande parte liquidada nos dois meses
seguintes, mas a maioria se achava na serra de Pegu, entre o Sittang e o Irrawaddy. Comprimidos por todos
os lados, e com o IV Corpo colocado de modo a barrar as principais saídas para leste, as forças japonesas
cercadas reuniram suas unidades para um esforço conjunto para romper o envolvimento. Essas forças
estavam divididas em cinco grupos que a 20 de julho realizaram um esforço conjunto e simultâneo para
atravessar o Sittang. As forças inglesas, que se encontravam preparadas para enfrentar essa eventualidade,
infligiram-lhes terríveis perdas. Em uma semana de combates os remanescentes do XXVIII Exército japonês
foram virtualmente liquidados, perdendo mais de 10.000 mortos e 1.000 prisioneiros. Foi essa a última
grande operação em que tomaram parte as tropas inglesas, e apesar de ser em escala relativamente pequena,
foi uma das derrotas mais completas e esmagadoras sofridas pelas forças terrestres japoneses. Este último
êxito, juntamente com a captura de Rangum, deixava apenas como recordações amargas os anteriores
desastres sofridos pelos ingleses na Birmânia.

Recuo na China
O término da estrada de Ledo e a reabertura de uma ligação terrestre com a China verificaram-se numa
ocasião em que a capacidade de resistência da China se encontrava em seu ponto mais baixo. Quatro anos de
bloqueio, além da perda de suas mais ricas províncias e da desorganização de sua vida econômica, haviam
resultado numa virtual paralisação do esforço militar da China. As forças chinesas haviam representado uma
parte importante na campanha pelo restabelecimento de uma ligação com o mundo exterior, mas para que
pudesse retomar a iniciativa contra as forças inimigas, cujas novas ofensivas dividira em duas partes o seu
território, era preciso que a China sofresse uma drástica reorganização interna e que recebesse uma
verdadeira avalanche de material de guerra de seus aliados.
Até então os abastecimentos que haviam chegado à China procediam da Índia. Na última parte de 1944,
houve um considerável aumento nos abastecimentos transportados por essa rota difícil e perigosa. O total
mensal chegou a mais de 20.000 toneladas em outubro, e no mês de janeiro seguinte havia subido a mais de
96.000. Mas a maior parte desta tonelagem consistia em combustível destinado especialmente à 14 a Força
Aérea americana em operações no teatro de guerra da China, e para abastecer as Super-Fortalezas que
atacavam partindo das bases chinesas. Pouco restava para as forças terrestres, e mesmo esse pouco entregue
com restrições pelos partidárias do emprego em grande escala da aviação como arma decisiva para derrotar o
Japão. A estrada de Ledo, que fôra projetada para uma capacidade de 40.000 toneladas mensais, não podia
por si só satisfazer tais exigências. A estrada poderia completar o abastecimento aéreo e aliviar o transporte
de carga pesada, e o oleoduto que acompanhava a estrada transformaria a situação quanto ao abastecimento
de combustível. Era preciso, entretanto, um volume de tráfego muito maior para que os exércitos chineses
fossem efetivamente equipados para uma ofensiva em larga escala.

Igualmente sérias eram as dificuldades a serem vencidas na China propriamente dita. Uma confusa situação
política complicava os desesperados problemas econômicos e militares com que se defrontava a China Livre.
Dentro do governo, um grupo de ministros reacionários se aferrava ao poder apesar da oposição no país e do
crescente desagrado manifestado no exterior. Fazia-se a acusação de haver altos funcionários que se
preocupavam mais em reter os seus cargos e aumentar suas fortunas pessoais do que em dirigir
eficientemente a guerra. Sua implacável hostilidade ao comunismo, evidentemente compartilhada por Chiang
Kai-shek, contribuía para um descontentamento interno que quase resultava em guerra civil. Algumas das
melhores divisões no exército nacional eram desviadas da frente de combate a fim de serem empregadas no
bloqueio das zonas comunistas, imobilizando assim tropas das duas facções quanto a uma luta efetiva contra
o Japão. Essa divisão política fundamental tornava difícil o controle de outros grupos e enfraquecia a
autoridade do governo central sobre os senhores da guerra locais, impedindo-o de exercer qualquer controle
real sobre as forças provinciais. O serviço militar obrigatório diminuíra grandemente. Os exércitos estavam
mal organizados, mal equipados e mal comandados. Se por um lado os chineses criticavam os americanos
por não terem realizados seus projetados planos para treinar e equipar novas forças, os americanos
queixavam-se de que os chineses não haviam fornecido nem o número nem a quantidade de recrutas que
havia sido prometido. Afirmava-se que a incompetência e a corrupção não causavam somente a ineficácia da
organização militar, mas também a inflação e o mercado negro, e negócios apenas encobertos com os
japoneses que caracterizavam a vida econômica da China. Assediada pelo descontentamento interno e pela
pressão externa, a vontade de resistência da China parecia quase a ponto de submergir completamente.

Essa situação, com todas as suas decorrências, ficou evidenciada pela saída do general Stilwell em outubro
de 1944. Stilwel fôra chefe do Estado Maior de Chiang Kai-shek e comandante das forças americanas no
teatro de guerra da China, da Birmânia e da Índia. Esta duplicidade de funções e o fato de ter considerável
número de tropas chinesas sob seu comando, determinavam as mais estreitas ligações com Chiang Kai-shek.
Entretanto, desde o início de suas relações, os dois homens encontraram-se em dificuldades, em
conseqüência de suas idéias e de seu temperamento. Stiwell exigia uma autoridade que Chiang Kai-shek
resistia em conceder-lhe. Sua insistência de que os empréstimos e arrendamentos fossem partilhados pelos
comunistas encontrava obstinada oposição dos conservadores conselheiros de Chiang Kai-shek. Seus planos
para treinar e utilizar grande quantidade de tropas chinesas, em cujas qualidades combatentes Stilwell tinha
profunda confiança, eram objeto de persistente oposição. A crise chegou ao clímax quando uma missão
americana, enviada para aconselhar o governo sobre medidas capazes de elevar a capacidade militar chinesa,
advogou a unidade entre o governo central e os comunistas e para que fosse confiado a um general
americano o comando de todas as forças. Eram condições duras de serem aceitas por um chefe de estado; e
embora Chiang Kai-shek concordasse em princípio com ambas as propostas, sua recusa em aceitar Stilwell
como comandante americano resultou na retirada desse general da missão na qual se empenhara com tanta
dedicação e energia. Sua saída, entretanto, foi seguida de uma reorganização do governo chinês que o fez um
tanto mais liberal, e por medidas para eliminar os piores defeitos na organização do exército e procurar a
base de um acordo com os comunistas. No começo do ano houve sinais de um restabelecimento militar da
China, apesar da séria situação que se criara nessa ocasião como resultado do novo avanço japonês.
Até 1944 os japoneses não haviam feito nenhum esforço sério para estender suas conquistas até o sul da
China. Mesmo nas províncias que haviam dominado no norte do Yangtse seu controle limitava-se em grande
parte às principais cidades e às vias de comunicação. Grandes zonas do interior eram dominadas por
guerrilheiros, cujas atividades obrigavam os japoneses a enviar repetidas expedições para o interior. Com
mais de trinta divisões fixadas na China ocupada, e com a tarefa de guarnecer a fronteira norte contra a
Rússia, além de ter de ocupar e defender o império recém-conquistado contra a crescente pressão aliada, o
Japão mostrava-se relutante em completar a dominação da China. Os japoneses haviam capturado os
principais portos da costa sudeste para reforçar o bloqueio, e ao sul do Yangtse desfecharam ataques contra a
zona do chamado caldeirão de arroz em torno do lago Tungting. Mas os japoneses pareciam confiar mais na
pressão econômica e política, para neutralizar a China como adversário ativo e possivelmente obrigá-la a
fazer a paz, do que no emprego de forças militares.

Com a chegada da primavera de 1944 registrou-se uma grande mudança de atitude. As rotas marítimas que
ligavam o Japão com as zonas conquistadas na Birmânia e na Malásia e com as Índias estavam em crescente
perigo. Estavam sendo atacadas não somente pelas forças navais aliadas, senão também pela 14 a Força Aérea
que atacava de suas bases na China. Em maio, foi anunciado que a aviação americana estava afundando
20.000 toneladas de navios japoneses por mês. Estava sendo ativada a construção de campos de aviação, o
que demonstrava o propósito de submeter o território metropolitano japonês a ataques semelhantes aos que
foram desfechados contra a Alemanha. Tal propósito ficou logo evidenciado pela presença de Super-
Fortalezas Voadoras que operavam de bases chinesas. Entretanto, em meio de todas essas múltiplas
dificuldades, prosseguia a reorganização e o rearmamento das forças terrestres chinesas, e estavam sendo
treinadas e equipadas sob a direção de Stilwell nas bases de Yunnan. Um novo exército chinês, apoiado pela
poderosa aviação americana, podia preparar o caminho para o desembarque aliado no continente, como
prelúdio para o assalto contra o Japão.

Havia dessa forma grandes razões para que os japoneses abandonassem sua estratégia de fixação de tropas
chinesas e se lançassem a uma ofensiva séria e contínua ao sul do Yangtse. O primeiro objetivo das
operações era a captura das principais bases da 14 a Força Aérea, obrigando-a a retirar-se para uma distância
além do raio de ação dos seus aparelhos. O êxito dessa primeira operação acarretaria outras vantagens. Seria
aberto um corredor através do interior da China, ao longo da linha geral da estrada de ferro Cantão-Hankow,
e isso, juntamente com a recente abertura da linha de Hankow para Peiping, prepararia o caminho para uma
contínua rota terrestre ao longo das fronteiras da Indochina. Verdade era que os trilhos da linha Cantão-
Hankow tinham sido havia muito retirados pelos chineses, e entre o ramal existente em Liuchow e o ponto
terminal da ferrovia da Indochina havia uma separação de 500 km. Mas existia o leito da estrada, e se os
japoneses pudessem colocar os trilhos necessários, modificar-se-ia todo o sistema de comunicações dos
japoneses. Não mais dependeriam de rotas marítimas vulneráveis e teriam uma linha contínua de
abastecimentos, não apenas ao longo de toda a China, mas também pelas estradas de ferro da Indochina e do
Sião para a Birmânia e Singapura. Além disso, o corredor separaria as zonas costeiras do sudeste da China
das principais regiões do oeste, isolando assim o setor em que poderiam razoavelmente prever o
desembarque aliado.

O Japão Ataca para o Sul


O avanço japonês foi iniciado na segunda quinzena de maio de 1944. Atacando para o sul, partindo da região
em torno do lago de Tungting, aproximou-se de Changsha, o importante centro chinês que já havia repelido
três ataques japoneses. Changsha foi ultrapassada e cercada, e enquanto seus defensores resistiam a um cerco
de três semanas até ser a defesa rompida a 20 de junho, as pontas de lança avançadas japonesas chegavam
até as vizinhanças de Hengyang.

Tratava-se de um objetivo de grande importância. O aeródromo de Hengyang era uma das principais bases
de onde eram dirigidos ataques contra a navegação chinesa de cabotagem. A cidade situava-se na junção de
suas importantes ferrovias que iam dar em Cantão e Liuchow, e sua queda abriria ambas essas rotas para um
ulterior avanço japonês.

Os chineses, ainda abalados pela custosa derrota sofrida em Changsha, esforçaram-se por organizar-se a fim
de defender Hengyang. Não puderam deter os japoneses nas proximidades da cidade, ou barrar o progresso
de um movimento de flanco, que fechava o cerco sobre Hengyang na última semana de junho. Mas no
interior da cidade uma guarnição de 16.000 homens ofereceu uma obstinada resistência, enquanto forças
enviadas em seu socorro atacavam as tropas japonesas. Apesar de sua debilidade em armamento pesado por
duas vezes as chineses conseguiram romper o cerco, mas os japoneses conseguiram fechar a brecha e
reconstituir o cerco a Hengyang. A 8 de agosto, após um sítio de 47 dias, a última resistência foi esmagada.
Um desesperado contra-ataque chinês com o objetivo de capturar a cidade foi repelido, e essa posição
estratégica ficou firmemente em mãos dos japoneses.

A campanha tomou então aspectos mais amplos. Após um avanço preliminar ao sul de Hengyang, os
japoneses lançaram o grosso de suas forças para sudoeste na estrada em direção ao próximo objetivo, a
cidade de Kweilin. Ao mesmo tempo novas colunas japonesas partiram de Cantão em direção a oeste, e outra
força, que se havia estabelecido na península de Liuchow do lado oposto à ilha de Hainan, avançou para o
norte num movimento convergente. O objetivo parecia ser a posse de um amplo trecho de costa a oeste de
Cantãoo, a fim de expulsar a aviação americana de suas bases em Wuchow e Tanchuk, e fazer avançar uma
coluna principal em direção a Liuchow, enquanto outras partidas de Hengyang se movimentavam para o sul
através de Kweilin.

As operações prosseguiam lenta mas firmemente. Considerando o estado de exaustão dos exércitos chineses,
e da grande superioridade japonesa em potência de fogo e em mobilidade, seu progresso durante as primeiras
semanas não se caracterizou pela velocidade. Sua velocidade era, em grande parte, determinada pela
necessidade de organizar as comunicações e os serviços de abastecimento. Os aviadores americanos
contribuíam para aumentar essas dificuldades, atacando as linhas de abastecimento e as concentrações de
tropas. Mas embora as tropas chinesas fossem capazes de deter em alguns pontos as pontas de lança, eram
levados de vencida .pela superioridade japonesa em tanques, artilharia e transporte motorizado, e seus
esforços em Changsha e Hengyang haviam momentaneamente exaurido uma grande parte de sua força e os
tornado incapazes de uma resistência vitoriosa.

Desta forma, embora os japoneses tivessem levado a maior parte do outono para atingir seus objetivos
imediatos, por uma série de ataques puderam avançar ante uma fraca oposição. A queda de Hengyang foi
seguida de uma relativa calma enquanto as japoneses consolidavam suas posições na zona circunvizinha,
melhorando suas linhas de comunicação e reunindo as forças e os elementos necessários para novo avanço.
Em fins de agosto atacaram ao longo de um amplo arco a oeste e ao sul de Hengyang. Uma coluna atacou
diretamente para oeste, após uma semana de progressão relativamente fácil, encontrando porém forte
resistência em Paoking; esse obstáculo, entretanto, foi ultrapassado e cercado, e sua guarnição rendeu-se a 4
de outubro. Com esse avanço protegendo seu flanco norte, o ataque principal progrediu ao longo da estrada
de ferro em direção a Kweilin e através da região a leste da ferrovia. A base aérea de Linglin foi capturada
nos primeiros dias de setembro. Uma tentativa para deter o avanço frontal nas fronteiras de Kwangsi, a 90
milhas ao norte de Kweilin, não teve êxito. A 12 de setembro os americanos começaram a evacuação e a
destruição parcial da sua grande base em Kweilin, o centro principal de suas operações no sul da China. Na
segunda quinzena de setembro as forças japonesas encontravam-se a menos de 50 km ao norte da cidade e
ameaçavam flanqueá-la pelo leste e pelo sul.

A oeste de Cantão o outro braço principal da ofensiva também avançava. Suas colunas convergentes
entraram na região sul da província de Kwangsi e obrigaram os americanos a abandonar a quarta grande base
em Tanchuk, a 1o de outubro. Além desse ponto diminuiu temporariamente o ímpeto do avanço. Os
japoneses, entretanto, ainda mantinham a iniciativa, e enquanto as forças principais se reuniam para uma
nova investida, as pontas de lança atacaram ao longo de ampla frente cujo flanco direito dobrou para
noroeste, em direção a Liuchow, e cujo flanco esquerdo avançou em direção a Nanning.

Na última semana de outubro os japoneses encontravam-se finalmente em condições de realizar um novo


esforço coordenado. O ataque rompeu as posições chinesas que guarneciam as vias de acesso a Kweilin, e
enquanto uma coluna principal avançou em direção à cidade, a cavaleiro da estrada de ferro, uma outra
desfechou um ataque de flanco pelo leste, e uma terceira marchou para sudeste ameaçando a cidade de cerco.
Desta vez seu movimento foi rápido e decisivo. Na semana que começou a 27 de novembro as pontas de
lança avançaram de 100 a 150 km. Kweilin foi ultrapassada e isolada; e enquanto a guarnição cercada se
organizava para uma resistência final, a ofensiva japonesa descia pela estrada de ferro em direção a Liuchow.

Esses novos desastres tinham resultados quase fatais. A esperança de deter o avanço japonês se fixava na
defesa de Kweilin, que deveria ser a Stalingrado chinesa, e cuja inexpugnável defesa fizesse retornar a maré
da invasão. Houve de fato grande esforço para manter a cidade, e foi somente após uma semana de lutas de
ruas que o assalto japonês a 9 de novembro quebrou as últimas defesas e dominou completamente a cidade
no dia seguinte. Mas foi uma resistência de pouca duração comparada com a prolongada luta em Hengyang,
e pouco contribuiu para impedir o avanço japonês. Com a derrocada das defesas nas proximidades de
Kweilin, cessou temporariamente toda a resistência organizada chinesa. No mesmo dia em que caiu Kweilin,
os japoneses anunciaram a captura da base aérea e centro de comunicações de Liuchow. A oeste dessa cidade
a força do sul, que havia desfechado uma ofensiva simultânea e convergente, tomou contato com o braço
norte a fim de completar o corredor que dividia a China Livre, e ao longo de uma frente que se estendia por
300 km os japoneses continuaram sua marcha para oeste, sem encontrar nada que lhes barrasse o caminho.

A situação da China nunca fôra tão má. A perda de Liuchow foi seguida pela queda de mais uma outra base
aérea, a de Nanning, quinze dias depois. O principal centro da atividade da aviação americana foi obrigado a
deslocar-se para cerca de 650 km a retaguarda, para Kunming no interior do país, e mesmo aí não havia
certeza de poder permanecer. O avanço japonês prosseguiu sem dificuldade ao longo da ferrovia a oeste de
Liuchow, capturando Ishan e Hochih e dominando quase toda a província de Kwangsi. Na primeira semana
de dezembro havia caído em mãos dos japoneses a localidade de Tuhshan, bem para o interior da província
de Kweichow, e suas colunas avançadas encontravam-se a 80 km de Kweiyang, capital da província.

Este avanço apresentava novos e grandes perigos. Kweiyang era um centro de onde partiam para neste boas
estradas em direção a Kunming e, para o norte, indo dar em Chungking. Esses pontos encontravam-se a 500
km e 300 km, respectivamente, de distância; entretanto, em vista da recente rapidez do avanço nipônico e da
pobreza dos recursos defensivos da China, a distância não era mais um elemento em que se pudesse confiar,
servindo apenas para garantir um certo alívio temporário. Se o inimigo estabelecesse um firme controle sobre
Kweiyang, o coração da China Livre seria ameaçado. Uma ofensiva que alcançasse Kunming cortaria as
comunicações com o ocidente e neutralizaria a estrada de Ledo cujo término era agora esperado. Um avanço
para Chungking teria importância do aspecto de prestígio mais do que do estratégico, mas os efeitos políticos
da queda de Chungking seriam sérios, senão realmente fatais para a China Livre.

Entretanto, os fatos mostraram que tais objetivos estavam além da capacidade japonesa de alcançá-los. O
avanço para oeste havia alcançado seu limite. Mais uma vez sentiam-se as dificuldades de abastecimento, e
as pontas de lança que haviam penetrado para o interior da província de Kweichow haviam avançado além
de qualquer apoio efetivo e se tornado vulnerável para qualquer contra-ataque vigoroso. A 14 a Força Aérea,
embora tivesse perdido suas principais bases, havia dispersado suas unidades em campos anteriormente
preparadas no interior e atacava com a mesma energia as forças e as comunicações japonesas. Tropas frescas
foram enviadas para o sul, e desfechados contra-ataques sobre as forças ligeiras japonesas que haviam
alcançado Tuhshan. Em perigo de serem isolados, e com suas provisões esgotadas, os japoneses retiraram-se
rapidamente além da fronteira de Kweichow, e a perseguição chinesa somente foi detida pela forte
resistência na região de Hochih.

Os japoneses contentaram-se no momento em aceitar os limites assim impostos em suas conquistas em


direção a oeste, e reforçaram o corredor completando o controle sobre o tronco ferroviário Cantão-Hankow.
As vantagens conquistadas ao sul de Hengyang, que até então haviam servido de ampla base para um avanço
em direção a oeste, eram agora utilizadas como base de partida para uma arremetida em direção ao sul, a fim
de enfrentar uma nova ofensiva ao norte de Cantão, enquanto outras colunas desenvolviam o lado leste do
corredor e avançavam em direção à linha Cantão-Hankow. A 28 de janeiro, com a queda da cidade de
Kukong, após dois dias de lutas de ruas, foi fechada a última saída, e os japoneses controlavam
completamente a principal ferrovia e haviam ampliado o corredor para mais de 500 km.

A leste deste corredor faziam-se agora sérios progressos no sentido de eliminar as bases aéreas que haviam
sido isoladas na região costeira, e para fortalecer o controle japonês sobre o litoral. Em agosto, enquanto
estava em progresso o avanço do grosso das tropas japonesas, um ataque para o interior da província de
Chekiang havia resultado na captura da localidade de Lishui, que possuía um aeródromo, e nos primeiros
dias de setembro os japoneses haviam capturado o porto de Wenchow. No fim do mesmo mês um
desembarque na costa resultou na captura de Foochow. Além dessas operações, houve pouca atividade nessa
região durante os restantes meses de 1944; mas logo no começo do ano seguinte foi desfechada uma
campanha geral contra os portos e os aeródromos restantes. A 7 de fevereiro, foi anunciado que a última base
aérea americana no sul da China havia sido abandonada. Ao mesmo tempo as forças japonesas avançavam ao
longo da costa, partindo de Swatow; e sua intenção de consolidar suas posições ficou evidenciada a 10 de
março quando tiraram dos franceses os últimos vestígios de autoridade na Indochina e apoderaram-se
completamente de todas as posições importantes.
Na primavera de 1945 os japoneses estavam em condições de reiniciar o seu avanço para oeste. Após uma
série de ataques ao norte do Yangtse, durante o mês de março, em que expulsaram os americanos de
Laohokow, um de seus aeródromos situados mais para leste, foi iniciado um tríplice avanço partindo de
Paoking em direção à importante base de Chihkiang. No começo de maio, os japoneses encontravam-se a 80
km da cidade. Mas os poucos meses decorridos desde o declínio da primeira ofensiva haviam determinado
grandes mudanças na posição defensiva chinesa. Divisões de veteranos, que haviam ficado disponíveis após
o término das operações no norte da Birmânia, haviam entrado em ação. Estavam chegando abastecimentos
por terra e ar, e a aviação americana estava sendo transferida da Birmânia e da Índia vara o teatro de guerra
da China. O programa de treinamento começava a dar os seus primeiros frutos e novas divisões eram
enviadas ao combate. Os japoneses encontravam obstinada resistência à medida que se aproximavam do
objetivo. Seu avanço perdeu o ímpeto, e enquanto os nipônicos sofriam pesados golpes da aviação, duas
poderosas colunas chinesas fecharam um movimento de pinças à retaguarda do grosso da força japonesa,
envolvendo parte da mesma e expulsando o restante. Foi uma derrota decisiva que marcou a mudança da
maré e o fim da esperança japonesa de obter novas vitórias no continente asiático.

Mesmo as vitórias do ano anterior pareciam agora de importância limitada. Seu valor estratégico havia sido
solapado pelo domínio aliado no Pacífico ocidental e pela invasão das Filipinas e de Okinawa. A inclusão
dessas grandes regiões terrestres no teatro de guerra ativa impunha crescentes esforços aos japoneses.
Tornava-se cada vez mais próxima a perspectiva de um ataque contra o próprio Japão, exigindo a
concentração de recursos defensivos do Japão. A captura das bases aéreas americanas no continente não
havia impedido que o Japão fosse bombardeado nem havia barrado o processo de estrangulamento de suas
comunicações marítimas. Uma rota terrestre que conduzia às conquistas exteriores do Japão perdia a maior
parte de seu valor se não havia recursos disponíveis para utilizá-la e explorá-la. A Birmânia estava perdida, e
havia poucas esperanças de salvar a Malásia. O corte das comunicações chinesas recém-restabelecidas, que
no outono anterior havia parecido uma possibilidade, estava agora além dos efetivos de que o Japão dispunha
para tal operação. Mesmo a própria divisão da China em duas partes e o isolamento da região da costa
sudeste teria pouca importância. O corredor era ainda uma barreira para o estabelecimento de um firme
controle aliado sobre o litoral por meio de uma ofensiva partida das províncias insulares, mas essa barreira
não oferecia segurança. As forças que seriam necessárias para guarnecê-la eram urgentemente necessárias em
outros pontos. O corredor era vulnerável a qualquer ataque lançado com efetivos adequados. E o Japão,
lançado à defensiva nessa região, era obrigado a uma completa mudança na estratégia que dirigiu o avanço
para o sul da China, e obrigado a abandonar as conquistas que eram as únicas vitórias que havia obtido
durante o ano de 1944.

As Filipinas e Iwo
O esmagamento da desesperada resistência japonesa em Leyte, e os desastres navais e aéreos japoneses
representaram um importante ponto no desenvolvimento das operações no Pacífico. As forças americanas
encontravam-se agora firmemente fixadas dentro dos principais baluartes que guarneciam as vias de acesso
ao Japão. A operação seguinte era aumentar seu ponto de apoio de modo que lhes fosse possível desenvolver
seus efetivos como medidas preparatórias para o golpe em perspectiva contra o Japão propriamente dito.
Partindo de Leyte, os americanos estavam em situação de ampliar suas conquistas pelo resto das Filipinas e
capturar outras ilhas ainda mais próximas da metrópole japonesa. De posse da iniciativa, podiam escolher a
ocasião e o lugar para cada um dos golpes sucessivos. Sua esmagadora superioridade de efetivas tornava
evidente a capacidade americana de esmagar a mais obstinada resistência japonesa. Entre as forças
americanas e seu objetivo final ainda havia formidáveis obstáculos, mas o mais que o Japão podia esperar era
travar batalhas retardadoras nas poucas posições exteriores que ainda possuía, poupando o grosso de seus
efetivos para uma última e desesperada resistência em seu próprio litoral.

Mesmo antes de ser completada a posse de Leyte, já estavam sendo postas em prática medidas para assegurar
o desenvolvimento das operações seguintes. Num reagrupamento de forças, o comando da operação de Leyte
foi passado para o VIII Exército, enquanto que o VI, que incluía numerosas divisões veteranas que haviam
tomado parte na campanha de Leyte, aprontava-se para a invasão de Luzon. Era nessa ilha que se achava
concentrado o grosso dos efetivas japoneses nas Filipinas, e a posse dos portos e dos aeródromos de Luzon
constituía uma necessidade fundamental para as operações que se seguiriam.

Enquanto se desenvolvia a ameaça vinda de fora, os japoneses eram também atacados de dentro da própria
ilha. Durante todo o período da ocupação, manteve-se viva a resistência dos filipinos nas montanhas e nas
regiões da ilha de acesso mais difícil. Forças de guerrilheiros puderam criar organizações locais e
conseguiram entrar em contato com as autoridades militares americanas. Em fins de 1944 esses grupos
recebiam diretivas do quartel general de MacArthur, e em muitos casos encontravam-se mesmo sob o
comando de oficiais americanos. Receberam então ordens de entrar em ação a fim de inquietar e confundir
os japoneses, atacar comunicações e destruir pontes a fim de dificultar o movimento de tropas e desorganizar
os dispositivos militares, como medida preparatória para a invasão de Luzon.

Foram feitos esforços especiais para atrair o máximo de tropas japonesas para a parte sul da ilha. Os
guerrilheiros mostraram-se especialmente ativos nessa região, e algumas operações de finta por meio de
transportes e de pequenas embarcações desviaram a atenção japonesa para o litoral sul. Os aviões americanos
lançaram manequins para dar a impressão de que estavam descendo tropas de pára-quedistas. A fim de
aumentar ainda mais o desconcerto japonês, o golpe contra Luzon foi precedido da invasão da ilha de
Mindoro, nas proximidades. Com uma audácia que evidenciava até que ponto era completa a supremacia
naval e aérea dos americanos, o comboio de Leyte navegou através do arquipélago e passou entre ilhas que
se encontravam em poder dos japoneses na grupo Visaya meridional. Durante os três dias em que a força
cobriu as 600 milhas da viagem, foi várias vezes atacada por pequenas forças de aviões japoneses; mas os
ataques foram repelidos, e nas primeiras horas de 19 de dezembro uma força de doa regimentos desembarcou
na costa sudoeste de Mindoro.

Os atacantes quase não encontraram oposição. Não houve resistência nas praias e se verificaram apenas
ligeiras tentativas de resistência mais para o interior. Registraram-se fortes ataques aéreos depois que os
americanos se instalaram na costa, mas estes apoderaram-se do principal aeródromo de Mindoro logo no
início da operação e pouco depois já o utilizavam para fins tanto defensivos como ofensivos. Essa era uma
base na extremidade sul do arquipélago, em que o clima era melhor e as chuvas menos contínuas do que em
Leyte. A grande preocupação dos japoneses ficou evidenciada por terem arriscado uma força naval numa
tentativa de isolar e destruir a força que desembarcara. Na noite de 26 de dezembro uma força, composta de
um couraçado, um cruzador e seis destróieres, abriu fogo contra a praia. Os navios foram tão pronta e
firmemente atacados pelo ar que seu fogo se tornou ineficaz. Três destróieres foram afundados, sendo
atingidos tanto o couraçado como o cruzador. Os restantes navios puseram-se em fuga, e desde então o ponto
de apoio dos americanos em Mindoro ficou em segurança, e os aparelhos de caça americanos ficaram dentro
do raio de ação das bases aéreas de Luzon. No começo de janeiro, novos desembarques aumentaram o
controle americano na costa oeste e lhes deram um ponto de apoio na costa leste; a 3 de janeiro um
desembarque em Marinduque, entre Mindoro e Luzon, parecia confirmar o próximo ataque a Luzon pelo sul.

Durante todo esse período, as forças navais e aéreas americanas estiveram engajadas num intenso esforço
para subjugar as defesas de Luzon e abater o poderio aéreo japonês. A III Esquadra continuava suas
operações, que estavam sendo realizadas desde o verão anterior. Três dias de ataques aéreos apoiaram o
desembarque em Mindoro, neutralizando os aeródromos de Luzon e destruindo navios que se encontravam
ao longo da costa. Durante os restantes dias de dezembro e nos primeiros dias de janeiro, os aviões
mantiveram seu firme bombardeio, atacando repetidas vezes o aeródromo de Clark ao norte de Manila e
bombardeando os navios costeiros. E as forças de porta-aviões, depois de dois dias de pesados ataques contra
Formosa e Okinawa, aumentaram seu raio de ação enviando aviões de reconhecimento sobre a costa da
China, e voltando em seguida para tomar parte no bombardeio de Luzon que protegia a invasão.
Da mesma forma que em Leyte, o desembarque propriamente dito esteve sob a proteção da VII Esquadra que
acompanhou o comboio durante a longa viagem de seu ponto de reunião a leste de Leyte até seu destino no
golfo de Lingayen, enviando também suas unidades pesadas até a costa a fim de subjugar as defesas
inimigas. Durante três dias, a partir de 6 de janeiro, os navios martelaram as posições costeiras japonesas,
enfrentando o fogo das baterias de costa e repetidos ataques aéreos. Apesar das avarias em seus aeródromos e
da perda de mais de mil aviões no mês anterior, os japoneses puderam lançar persistentes ataques com seus
bombardeiros que partiam de suas bases de Luzon; mas eram aparelhos por demais leves para causar danos
de vulto, e a neutralização de Formosa e Okinawa pela III Esquadra impediu a chegada de quaisquer reforços
aéreos. As defesas costeiras foram dominadas. As forças de desembarque, apoiadas por cruzadores e
destróieres, avançaram a 9 de janeiro numa faixa de 25 km desde Lingayen até San Fabian. Ao cair da noite,
68.000 homens haviam sido desembarcados, tinham sido estabelecidas quatro cabeças de ponte iniciais
ligadas numa zona contínua, e as pontas de lança invasoras haviam penetrado 7 km para o interior.

Os japoneses foram apanhados completamente de surpresa. Somente uma divisão guarnecia a planície
central, o clássico itinerário de invasão, que se estendia para o sul, em direção a Manila. Esforços de última
hora, realizados pelos japoneses para reajustar seus dispositivos, foram prejudicadas pelos estragos causados
nas comunicações e pelas contínuas operações de inquietação dos guerrilheiros e das forças aéreas
americanas. As operações de cobertura da III Esquadra, cujos porta-aviões localizaram e virtualmente
destruíram quatro comboios ao largo da costa da Indochina, desfechando além disso pesados golpes nos
navios que se encontravam nos portos chineses, desfaziam as possibilidades de uma expedição japonesa de
auxílio. Os japoneses viram-se obrigados a lançar suas forças em ação à medida que elas podiam chegar ao
teatro da luta, e a manter os setores montanhosos ao norte e a leste da planície de Luzon até que pudessem
reunir forças suficientes para desfechar um contragolpe.

A força atacante americana consistia em quatro divisões, com outras quatro de reservas. Enquanto o XIV
Corpo no flanco direito atacava ao sul, partindo de Lingayen em direção a Manila, a missão do I Corpo era
proteger o avanço repelindo os japoneses que se encontravam nas elevações ao norte e a leste e cortando as
duas principais rodovias que de Manila se dirigiam para o norte. Esta última operação tinha importância
vital, mas era de grande dificuldade. Dos efetivos japoneses que se encontravam em Luzon, avaliados em dez
divisões, aproximadamente um terço encontrava-se no norte. Enquanto as comunicações não fossem
cortadas, poderiam os nipônicos enviar reforços em direção a Manila para fortalecer as defesas ou para o
norte a fim de concentrar-se para um contra-ataque que poria em perigo o XIV Corpo, atacado pela
retaguarda.

Imediatamente após o desembarque, entretanto, o I Corpo atacou as posições japonesas nas elevações do
flanco norte, e desenvolveu-se numa ampla frente em direção à principal estrada de Manila para Baguio. Os
japoneses ofereceram tenaz resistência, recaindo o peso principal sobre a 2 a Divisão blindada. Durante três
semanas lutou-se encarniçadamente em torno da aldeia de Rosário, e a 14 de janeiro os japoneses foram
repelidos, desfechando porém contra-ataques em defesa da estrada de rodagem. O encarniçamento da luta
neste setor foi evidenciado pelo fato de que, embora o avanço direto para Manila não encontrasse uma
oposição séria até a última semana de janeiro, as baixas americanas, anunciadas a 30 de janeiro, somaram a
4.254, sendo também anunciado que os japoneses haviam perdido mais de 25.000 homens e 103 tanques. A
18 de janeiro, entretanto, o avanço para leste havia repelido os japoneses da rodovia, ao longo de um trecho
de 60 km. Uma outra estrada ao longo da orla oriental da planície de Luzon permaneceu em mãos do
inimigo, mas no fim do mês fôra cravada uma cunha nesta estrada, e uma contínua pressão mantivera os
japoneses na defensiva, pondo em segurança as colunas que avançavam para o sul em direção à capital.

A Libertação de Manila
Em situação de inferioridade, os japoneses não quiseram enfrentar os americanos na planície de Luzon.
Esperava-se a resistência no rio Agno que oferecia uma linha de defesa natural. Mas, embora os japoneses
tivessem construído posições fortificadas neste ponto, não fizeram nenhum esforço sério para conservar a
posse das mesmas. Mesmo assim, a lentidão do avanço foi evidenciada pelo fato de precisar 10 dias para
cobrir os 80 km, desde a cabeça de ponte de Lingayen até a importante junção de estrada de ferro e de
rodagem de Tarlac. Ao sul desta cidade outra defesa, construída por um curso d'água, foi abandonada pelos
japoneses, e a 25 de janeiro os americanos capturaram o aeródromo de Clark, assumindo o controle da
principal base aérea da ilha. A resistência japonesa começou então a fortalecer-se. O fogo de morteiro e de
artilharia partido das elevações a sudoeste do aeródromo de Clark dificultou o avanço durante um breve
período, e houve um sério encontro na aldeia de Angeles, antes da mesma ser capturada juntamente com seus
quatro campos de aviação, a 27 de janeiro. Mas tais esforços pouco contribuíram para retardar o avanço, que,
em fins de janeiro, havia atravessado o desfiladeiro entre os pântanos ao norte da baía de Manila e se dirigia
rapidamente em direção à capital.
Desenvolveu-se então um movimento envolvente contra a cidade, quando novas forças entraram em ação. A
29 de janeiro, a 38a Divisão e elementos da 24 a, as tropas de choque do XI Corpo retirado do VIII Exército,
desembarcaram nas proximidades de San Narciso, na costa oeste de Luzon, e avançaram rapidamente através
da base da península de Bataan, fazendo ligação com o XIV Corpo e impedindo a retirada japonesa para
Bataan. Dois dias depois efetuou-se outro desembarque, desta vez pela 11 a Divisão aerotransportada, em
Nasubgu, a sudoeste de Manila; e o avanço desta força foi acelerado pelo lançamento de tropas de pára-
quedistas a 3 de fevereiro, que capturaram a serra de Tagaytay e limparam o caminho para o ataque contra
Manila pelo sul. Entrementes, a ameaça pelo norte foi ampliada quando a 1 a Divisão de cavalaria foi lançada
no flanco esquerdo do XIV Corpo para cortar a segunda estrada de rodagem que levava para o norte partindo
de Manila, e, avançando para o sul, marchou paralelamente à arremetida da 37 a Divisão ao longo da outra
rodovia mais a oeste.

Em face desses movimentos convergentes, parecia iminente a queda de Manila. Na tarde de 3 de fevereiro a
1a Divisão de cavalaria avançou para o interior da cidade vinda de leste. Poucas horas depois, a 37 a Divisão
entrou pelo norte. A resistência esporádica na metade norte da cidade foi prontamente esmagada, e na manhã
de 6 de fevereiro, com as forças americanas agora nos subúrbios meridionais, MacArthur anunciou que
Manila se achava em poder dos americanos.

O comunicado foi evidentemente prematuro. Embora os japoneses compreendessem que Manila


propriamente dita estava perdida, estavam dispostos a impedir, pelo maior tempo possível que os americanos
utilizassem a baía de Manila. Ao sul da cidade a 11 a Divisão aerotransportada travava encarniçado combate
em torno do aeródromo de Nichols e da base naval de Cavite, que resistiram até 11 de fevereiro. Dentro de
Manila, os japoneses, incendiando o principal bairro comercial, retiraram-se de casa em casa e concentraram
suas forças na cidade velha, perto do porto, onde muralhas de 12 metros de espessura ofereciam poderosas
defesas, que tiveram de ser destruídas pela artilharia, em quinze dias de combates. Por fim, a 23 de fevereiro,
foi aberta uma brecha, e as forças atacantes penetraram no reduto. Mesmo então, barricados em três edifícios
fortificados, os remanescentes japoneses resistiram até 4 de março. Após a encarniçada luta para subjugar a
resistência final e completar a libertação da capital filipina, Manila era uma cidade tragicamente devastada.

Durante este período desenvolviam-se rapidamente outras operações destinadas a limparem de inimigos a
baía de Manila. Tropas do XI Corpo, avançando para leste de sua cabeça de ponte inicial capturaram a
estação naval de Olongapo na baía de Subic, e continuaram ao longo da estrada que atravessava a base da
península de Bataan. A 6 de fevereiro foi anunciado que essas tropas haviam feito ligação com a 6 a Divisão
que avançava do leste, isolando as forças japonesas em Bataan, e que pontas de lança marchavam para o sul
em ambas as costas da península. Durante a semana seguinte foi rompida a vigorosa resistência inicial
japonesa, e a 15 de fevereiro um desembarque por mar na extremidade sudeste da península foi seguida de
uma rápida ligação com as tropas que avançavam para o sul pela costa leste, fazendo com que toda a região
caísse sob o controle efetivo dos americanos.

Bataan tornou-se a base de partida para um assalto contra Corregidor, a fortaleza que protegia a entrada da
baía de Manila. Um poderoso bombardeio aéreo, iniciado a 23 de janeiro, lançara contra a guarnição mais de
3.000 toneladas de bombas. Então a VII Esquadra aproximou-se e bombardeou as defesas, enquanto as
forças aéreas participavam num ataque coordenado que constituiu o prelúdio imediato do assalto. A 16 de
fevereiro, um desembarque de pára-quedistas sobre Corregidor apanhou os defensores pela retaguarda, e
enquanto estes se recuperavam da surpresa, outras forças de invasão atacavam através do estreito canal
partido de Bataan, organizavam um ponto de apoio e estabeleciam ligação com as tropas de pára-quedistas.

Embora o êxito dessa operação tivesse selado o destino de Corregidor, foi preciso mais de quinze dias de
combate para que a resistência fosse finalmente dominada. A guarnição refugiou-se em cavernas e no
complicado sistema de túneis da fortaleza, lutando encarniçadamente numa resistência suicida, fazendo
explodir o que restava do forte, juntamente com os seus defensores, quando a continuação da resistência se
tornou impossível. Pouco a pouco os que ainda restavam foram encurralados nos túneis e cavernas ou
liquidados. O esforço para retardar a queda de Corregidor custou aos japoneses 4.215 mortos, sem contar os
que desapareceram nas várias explosões da fortaleza. No começo de março fôra liquidado o último grupo de
resistência, e a baía de Manila estava por fim em condições de ser utilizada pela navegação aliada.
Restava ainda a tarefa de liquidar as poderosas forças inimigas que ainda se encontravam em Luzon. Com a
queda de Manila, os americanos começaram a exercer pressão contra as posições japonesas nas elevações
que circundavam a planície central. Ao sul de Manila foi lançado um ataque em direção à parte meridional da
ilha, completado a 1o de abril pelo desembarque de um destacamento de combate em Legaspi, na
extremidade sul de Luzon, e de um duplo avanço que em dez dias esmagou a resistência no sul. Nos outros
setores as operações foram mais difíceis. A oeste do aeródromo de Clark a progressão foi lenta contra os
grupos relativamente pequenos de japoneses que se haviam refugiado nas montanhas. No lado orientaL da
planície central os japoneses tinham organizado poderosas posições denominadas linha Shimbu, que
barravam o caminho para a costa. As operações para desalojar o inimigo dessas defesas ocuparam a maior
parte do mês de março, restando ainda uma série de linhas de crista para serem dominadas até alcançar-se a
costa. No flanco norte, a luta continuou com o mesmo vigor, lutando os japoneses tenazmente para deter as
pontas de lança americanas que atravessaram Baguio e atacavam o passo de Balete, o qual guarnecia a
entrada do vale de Cagayan. A conquista relativamente rápida da parte central e meridional de Luzon foi
seguida de meses de esforços para dominar o resto da ilha.

Nesse intervalo o controle americano estendeu-se sobre as outras principais ilhas do arquipélago. A 28 de
fevereiro os americanos desembarcaram em Palawan, sem encontrar oposição, e ainda em março foram
estabelecidos pontos de apoio nas ilhas de Panay, de Cebu e dos Negros, todos de modo relativamente fácil.
Um desembarque em Mindanau, a 10 de março, levou à rápida captura de Zamboanga na península
ocidental. Mas a resistência aumentou à medida que as forças avançavam para a parte principal da ilha,
sendo necessários novos desembarques e combates até que a resistência fosse dominada.

O domínio completo das Filipinas foi, portanto, uma operação demorada. Em todas as ilhas, e
particularmente em Luzon e Mindanau, a tática japonesa de evitar a luta nas praias ou em terreno aberto, mas
de lutar selvagemente nas montanhas, significava que consideráveis forças americanas permaneciam
ocupadas num esforço para liquidar essas guarnições que ainda mantinham poderosas posições que
limitavam a verdadeira área conquistada. Entretanto, embora tal situação fixasse numerosas divisões
americanas e restringisse a sua liberdade de movimentos, sua significação estratégica era de pouca
importância. Para todos os principais objetivos, as Filipinas encontravam-se sob o controle americano. Seus
portos principais encontravam-se abertos para serem utilizados completamente pelos navios de guerra, de
abastecimento e de transporte americanos. Seus aeródromos ofereciam facilidades cada vez maiores para um
rápido aumento do emprego da aviação e estendia o seu raio de ação eficazmente sobre Formosa e a China. A
zona conquistada oferecia uma importante base para a concentração das tropas e dos abastecimentos que
seriam em breve necessários para a projetada invasão do Japão. E essa perigosa operação tornou-se mais
próxima com a captura de novos postos avançados, que levou mais para diante as forças atacantes
americanas, aproximando-as de seu objetivo final.

A Batalha pela posse de Iwo Jima


O perímetro estabelecido agora pelo avanço do Pacífico desde as Marianas até as Filipinas, e as bases de
partida que haviam sido conquistadas para o ataque direto contra o Japão, encontravam-se ainda a 2.400 km
de seu objetivo. Além da China continental, não havia na região intermediária nenhuma base terrestre
conveniente, com a possível exceção de Formosa, e qualquer grande operação contra a China ou Formosa
fôra agora posta de lado em vista da decisão de atacar diretamente o Japão sem o atraso que tais operações
acarretariam. Tais planos, entretanto, tornavam necessária a conquista de bases intermediárias, não apenas
como pontos de parada preparatória para a invasão, mas para fazer com que a aviação aliada pudesse atacar a
uma distância mais eficaz da Japão. As fases principais da ofensiva aérea estavam já em andamento, mas
para levar a ofensiva aérea até o máximo de suas possibilidades, o que era necessário para enfraquecer a
capacidade de resistência japonesa, era preciso diminuir a distância de ataque da aviação americana.

Este plano exigia pelo menos a posse de uma das ilhas que formavam como que as cadeias que partiam do
Japão como os raios de uma roda. Entre essas ilhas contavam-se as Kurilas, o grupo Bonin-Volcano, e as
Ryukyus. Sob o ponto de vista prático, somente as Ryukyus ofereciam condições que serviam às
necessidades básicas da estratégia aliada. A ilha de Okinawa, no grupo das Ryukyus, com uma área de l.260
km2, era suficientemente grande para acomodar um número considerável de aeródromos e servir como ponto
de concentração para forças terrestres, e possuía meia dúzia ou mais de baías e enseadas que poderiam set
utilizadas como portos de abastecimentos ou ancoradouros. Dos dois outros grupos insulares, as Kurilas
poderiam ser postas de lado por motivos estratégicos. Encontravam-se à grande distância da rota principal do
avanço do Pacífico; e enquanto a base naval e aérea de Paramushiru era objetivo freqüente dos bombardeiros
e atingida de quando em vez por forças navais, não era nem importante nem tinha suficientemente valor para
ser considerada um objetivo de invasão.

Os arquipélagos de Bonin e Volcano mantinham uma posição intermediária, tanto geográfica como
estrategicamente. Suas ilhas, de tamanho relativamente pequeno, ofereciam poucas das vantagens de
Okinava. Quase não tinham enseadas e havia poucas perspectivas de que pudessem ser utilizadas para
operações em grande escala por forças consideráveis de bombardeiros pesados. Não obstante, eram de real
importância na estratégia aérea contra o Japão. Em fins de 1944 as Marianas se haviam tornado a principal
base das operações ofensivas das B-29. Isso significava que os grandes bombardeiros estavam operando da
formidável distância de 2.400 km de suas bases. Não somente isso diminuía a sua capacidade de transporte
de bombas, senão também que ficavam privadas da proteção dos aparelhos de caça durante suas incursões
sobre territórios inimigos. Para finalidades ofensivas, uma base a boa distância de ataque de Tóquio seria de
grande valor. Também defensivamente havia considerações de quase igual importância. As ilhas situavam-se
ao longo da rota aérea direta entre as Marianas e Tóquio. Elas davam aos japoneses campos de pouso para
seus aviões de caça que interceptavam os bombardeiros americanos. Partindo de Iwo, foram efetuados vários
ataques contra as bases das B-29 em Guam. As estações japonesas de radar descobriam os bombardeiros
americanos que se aproximavam e davam sinal para as defesas terrestres, e os caças japoneses atacavam os
bombardeiros pesados em suas viagens de ida e volta para o objetivo. A expulsão do inimigo dessas
posições, e a posse das mesmas pelas forças americanas, trariam grande vantagem para o bombardeio do
Japão, diminuindo-lhe em muito o seu custo.

Em teoria havia três objetivos possíveis cuja captura serviria ao propósito desejado. Em realidade, a escolha
ficava virtualmente limitada a Iwo. Hachijo, no grupo de Izu, poderia ser preparada de modo a servir como
base de aviões de caça, mas encontrava-se a apenas 150 milhas de Tóquio, e sua captura dificilmente
pareceria valer a pena os riscos que acarretaria. Chichi Jima (Peel Island), no arquipélago de Bonin, possuía
uma enseada protegida, mas suas praias eram escarpadas e podia acomodar apenas um aeródromo. Iwo Jima
(Sulphur Island), no grupo das Volcanos, não tinha nenhum ancoradouro, mas havia uma estreita praia em
que o desembarque seria mais fácil do que em Chichi, e já era utilizada para dois aeródromos japoneses,
havendo um terceiro em construção. Situada a meio caminho entre Guam e Tóquio, poderia, quando em
poder dos Aliados, fazer com que os aviões americanos se colocassem a 750 milhas da capital japonesa, e
expulsar as aviões japoneses que presentemente se encontravam à mesma distância das Marianas.

Numerosos ataques aéreos e navais já haviam sido desfechados contra Iwo Jima, primeiramente para
neutralizá-la como preparativo para a invasão das Marianas, e mais tarde para avariar os aeródromos de onde
os aviões japoneses atacavam Guam e Saipan. A 7 de dezembro, entretanto, um ataque naval e aéreo
combinado iniciou um período de contínua preparação para o desembarque. Durante mais de dois meses os
21 km² da ilha foram submetidos a ataques diários pelos bombardeiros pesados, intercalados com o
canhoneio dos navios de guerra. Em dez semanas de bombardeio, Iwo recebeu cerca de 6.000 toneladas de
bombas, além das granadas resultantes dos bombardeios de cinco ataques de cruzadores e destróieres.

O bombardeio que precedeu à invasão lançou sobre a ilha, em três dias, um peso ainda maior de explosivos.
O destacamento da V Esquadra, que se encarregara das operações nos fins de janeiro, tinha a seu cargo uma
série de operações iniciadas pela invasão de Iwo Jima. Enquanto uma força de cobertura, composta de porta-
aviões e couraçados, desfechava um golpe longamente preparado contra a zona de Tóquio, a principal força
de bombardeio atacava Iwo a 16 de fevereiro. Meia dúzia dos mais velhos couraçados, cuja pesada armadura
compensava em muito, numa operação desta espécie, a sua alta de velocidade, aproximaram-se da costa e
varreram a praia com seus canhões pesados, enquanto as defesas japonesas respondiam muito fracamente.
Atrás desses couraçados reunia-se uma frota de invasão de 800 navios de todos os tipos. E na manhã de 19
de fevereiro o V Corpo Anfíbio, composto de duas divisões de fuzileiros navais e mais uma em reserva,
avançou para a costa sudeste da ilha.

O ponto de desembarque foi uma estreita praia de cerca de três quilômetros de comprimento. A poucos
metros para o interior o terreno se elevava em vários terraços para uma pequena cadeia de colinas que
formava a crista desse setor. À esquerda, quase na extremidade sul da ilha, achava-se o cone vulcânico
adormecido do Monte Suribachi, de 170 metros de altura. À direita, e ocupando a maior parte da ilha, havia
um planalto vulcânico de aproximadamente 120 metros de altura, onde se achavam situados os aeródromos
japoneses.
Nos primeiros momentos após o desembarque, a ausência de uma resistência séria dava a impressão de que
as defesas japonesas haviam sido destruídas pelo bombardeio e que a progressão seria relativamente fácil.
Esta impressão porém era completamente falsa. A ilha fôra engenhosamente fortificada e era defendida por
uma resoluta guarnição de mais de 20.000 homens, sob as ordens de um hábil comandante. A orla baixa ao
longo da encosta do planalto estava fortificada por um sistema de fortins e de casamatas ligadas por uma
rede de trincheiras. O terreno elevado de cada lado oferecia excelentes posições para canhões e morteiros,
muitas das quais dispondo de fortes espaldões que precisavam ser destruídos, ou em casamatas
verdadeiramente à prova de bombardeio. Do Monte Suribachi ao sul e o planalto ao norte, toda a praia podia
ser batida pelo fogo direto de canhões cujo tiro fôra calculado para cada metro do terreno baixo, o único que
permitia o desembargue de tropas e equipamento. Muitas dessas posições não haviam sido descobertas pelo
reconhecimento americano, e os canhões tinham permanecido em silêncio a fim de não revelar suas
posições durante o bombardeio. Apesar do tremendo bombardeio, as defesas japonesas haviam em grande
parte suportado o choque. O fogo de artilharia não havia podido destruir as posições fortificadas, e Iwo Jima
tinha de ser tomada por soldados de infantaria que eram lançados à praia sob um fogo mais mortífero do que
qualquer outro até então encontrado no Pacífico.

Uma hora depois do desembarque, quando o primeiro escalão havia atravessado a praia e a zona do
desembarque estava cheia de tropas e de equipamento, os japoneses iniciaram um súbito e violento
bombardeio, isolando e quase aniquilando as tropas da vanguarda e causando terrível chacina entre as forças
que se encontravam na praia. Os fuzileiros navais conseguiram avançar através da encosta estreita e baixa,
mas foram detidos pelo fogo das alturas dominantes de cada lado, e algumas unidades de apoio foram
repelidas em sua tentativa de desembarque. A situação crítica foi parcialmente salva pelo fato de que
alguma artilharia e certo número de tanques haviam sido desembarcados, e puderam dar inestimável ajuda
contra as posições japonesas que as granadas dos navios de guerra não haviam conseguido alcançar
eficazmente. Os desembarques continuaram em face de um intenso fogo, e a 21 de fevereiro a terceira
divisão de fuzileiros navais havia entrado em ação e 60.000 homens já haviam tomado pé em terra.
Entretanto, apesar de sua superioridade de três para um sobre os defensores, era crítica a situação dos
americanos. Ao cair da tarde de 21 de fevereiro, já haviam sofrido 5.300 baixas e suas tentativas para avançar
para o terreno elevado em cada um dos flancos ficara limitado a algumas poucas centenas de metros.

Apesar disso, fôra estabelecido um firme ponto de apoio, e o terreno conquistado já permitia o
desenvolvimento do ataque. Fôra capturado o primeiro dos três aeródromos de Iwo Jima, e o monte
Suribachi achava-se isolado e sob o ataque dos invasores. A 23 de fevereiro um decisivo ataque desalojou os
japoneses da crista do monte Suribachi, e embora restassem ainda numerosos grupos em cavernas e fortins
pata serem liquidados, esta altura dominante deixou de ser um obstáculo e se tornou uma posição favorável
aos americanos quando se concentraram para o ataque contra os japoneses que se encontravam no planalto
do norte. Houve aí vários dias de lutas nas encostas das elevações. Foi preciso dois dias para avançar 700
metros e alcançar a orla do segundo aeródromo, e mais cinco dias de intensa luta até a sua captura, a 28 de
fevereiro. Mas nessa data o primeiro aeródromo havia sido posto em ação, e a situação geral se modificara
favoravelmente para os americanos. Estes encontravam-se agora firmemente estabelecidos no planalto
principal. Haviam aberto o caminho através de um estreito desfiladeiro e podiam agora desenvolver suas
forças em melhores dispositivos de combate na parte mais larga da ilha. A 3 a Divisão de fuzileiros navais
entrara completamente em linha entre a 5a à esquerda e a 4a à direita, e aumentava firmemente sua pressão,
forçando os japoneses a recuarem em direção à extremidade norte da ilha e ameaçando dividi-los em dois
grupos.

Mas isso seria o resultado de duros esforços. Numerosas elevações e cavernas quase sem conta forneciam
aos japoneses as posições de onde podiam opor um violento fogo contra as tentativas de desalojá-los. Mesmo
após intensos bombardeios pela artilharia tanto terrestre como naval, os ataques de infantaria não
conseguiam progredir mais do que umas poucas centenas de metros. As posições individuais japonesas nas
cavernas e nos fortins tinham de ser dominadas pelo emprego de dinamite e de lança-chamas, quando o fogo
direto da artilharia se mostrava ineficaz, e o cerrado dispositivo da defesa obrigava os atacantes a avançar
muito lentamente, pois cada um dos pequenos focos de resistência tinha de ser esmagado individualmente.
Por fim, a 11 de março, o avanço da 3 a Divisão no centro levou os fuzileiros até o mar, separando um grupo
na ala direita, que foi liquidado nos próximos dias seguintes, e comprimindo o grosso da restante guarnição
japonesa numa pequena área na extremidade norte da ilha. A última resistência suicida terminou a 26 de
fevereiro, quando os remanescentes foram liquidados ou dispersos; mesmo assim, entretanto, restaram ainda
pequenos grupos espalhados por algumas cavernas e grutas da ilha, e que tiveram de ser totalmente
liquidados a fim de que os vencedores pudessem dispor livremente da ilha.
Iwo Jima, com seus 21 km², foi conquistada a um alto preço. Além das perdas navais, que incluíam o porta-
aviões Bismarck Sea, bem como avarias no Saratoga e em numerosos outros navios, os fuzileiros navais
tiveram pesadas perdas. Suas baixas segundo o comunicado de 16 de março, elevaram-se a 19.938, ou seja,
um terço das forças engajadas, e dessas 4.360 entre mortos e desaparecidos. Uma campanha que se esperava
durasse 5 dias, prolongou-se por 26, e a guarnição inimiga, cuja resistência deveria ser esmagada por meio
do bombardeio intenso aéreo e naval, lutou com habilidade e fanatismo, e mesmo a morte de mais de 20.000
japoneses (pois como sempre houve apenas uma pequena percentagem de prisioneiros, cujo número não foi
além de mil) constituiu um pequeno consolo para o alto preço das vidas americanas que tiveram de ser
sacrificadas.

Em vista da necessidade de capturar-se a ilha de Iwo, o preço era inevitável. Em verdade fôra mal avaliado o
total dos efetivos japoneses, mas mesmo esse erro não modificava seriamente a situação, pois haviam poucas
medidas práticas que pudessem ser tomadas. Em Iwo Jima não havia possibilidade de surpresa para os
japoneses, nem havia terreno suficiente para manobra. Uma vez evidenciado que as defesas não podiam ser
esmagadas somente pelo bombardeio, nada mais havia a fazer senão lançar um ataque frontal e dominar os
defensores lançando contra eles homens que suportassem o choque do fogo concentrado e que avançassem
até a conquista definitiva da ilha.

O único problema era a necessidade estratégica da conquista da ilha. Toda sua importância residia no valor
de sua contribuição para o bombardeio aéreo do Japão, e a captura de Okinawa, sobre a qual Iwo teve muito
pouco ou nenhum efeito, forneceu uma base muito mais importante para operações aéreas. Mas enquanto
Okinawa estava apenas a 360 milhas do Japão, seus aeródromos encontravam-se a 900 milhas de Tóquio,
isto é, a uma distância que impossibilitaria uma proteção adequada. E, na ocasião em que Okinawa foi
capturada, Iwo já se encontrava havia três meses em poder dos americanos, e já representava a sua parte na
campanha aérea contra o Japão. Embora tivesse podido ser ultrapassada, era duvidoso que pudesse ter sido
neutralizada eficazmente sem ser capturada, e permaneceria como um espinho cravado no flanco das forças
aéreas estratégicas americanas. Não era somente pelo número de aviadores e de aviões poupados que se
justificava a captura de Iwo Jima; sua justificativa principal residia no fato de que viria fortalecer uma
campanha aérea que naquela ocasião era de importância essencial para a invasão do Japão. São fatores que
não podem ser avaliados com precisão, mas, em vista das formidáveis tarefas que tinham a realizar, os
aviadores aliados não podiam desprezar qualquer elemento que pudesse vir aumentar as possibilidades de
êxito do esforço final e decisivo.

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