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investigação, 17(3): 13-18 2018

investigação, 17(3): 13-18 2018


Revisão Clínica Médica de Pequenos Animais

A RELAÇÃO DA COX-2 E OS
CARCINOMAS MAMÁRIOS EM
CADELAS
The relationship of COX-2 and the mammary carcinomas in
dogs

MV MSc Rosana L. Salvador-Bernabé1, Dr. Carlos E. Fonseca-Alves2, Profa. Dra. Mirela Tinucci Costa1, Profa. 1. Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Departamento de Clínica e Cirurgia
Dra. Renee Laufer-Amorim2* Veterinária, Jaboticabal, SP, Brasil.
2. Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Clínica Veteri-
nária, Botucatu, São Paulo, Brasil.
* Email: renee@fmvz.unesp.br

RESUMO ABSTRACT
As neoplasias mamárias são os tumores mais comuns em cadelas e as neoplasias malignas representam Mammary tumors are the most common tumors in female dogs and malignant neoplasm represents
mais de 70% de subtipos histológicos de tumores mamários caninos no Brasil e cerca de 50% em more than 70% of histological subtypes of canine mammary tumors in Brazil and about 50% in other
outros países. O tratamento das neoplasias mamárias em cadelas é um desafio, e o procedimento countries. The treatment of canine mammary tumors is a challenge and the surgical procedure is
cirúrgico constitui a melhor opção terapêutica para os tumores não metastáticos. A cicloxigenase the best therapeutic option for non-metastatic tumors. Cyclooxygenase (COX) is a class of enzymes
(COX) é uma classe de enzimas responsável pela ciclooxigenação e peroxidação do ácido aracdônico responsible for cyclooxygenation and peroxidation of arachidonic acid from the cell membrane,
proveniente da membrana celular, levando a formação de prostaglandinas. A COX-2 é expressa de leading to the formation of prostaglandins. Constitutive COX-2 expression occurs in few tissues but
forma constitutiva em poucos tecidos, mas pode ser induzida em condições patológicas específicas, can be induced under specific pathological conditions, such as inflammatory and neoplastic processes.
tais como, processos inflamatórios e neoplásicos. Em cadelas, vários estudos demonstraram que a In dogs, several studies have shown that COX-2 is expressed in mammary carcinomas and that a high
COX-2 está expressa em carcinomas mamários e que uma alta expressão proteica se relaciona com protein expression is associated with the increase of tumor angiogenesis, the degree of malignancy
o aumento da angiogênese tumoral, grau de malignidade e pior prognóstico. A expressão da COX- and consequently worse prognosis. The expression of COX-2 in canine mammary tumors is considered
2 em neoplasias mamárias é considerada um fator preditivo em potencial, devido à possibilidade a potential predictive factor, due to the possibility of the selective COX-2 inhibitors association in
da associação de inibidores seletivos para COX-2 em tratamentos adjuvantes. Este trabalho buscou adjuvant treatments. This study aimed to review the expression of COX-2 in canine mammary tumors,
revisar a expressão de COX-2 em neoplasias mamárias caninas já descritas em pesquisas, visto que é since there is growing evidence of studies related to this subject aiming at the possibility of target
crescente a evidência de estudos relacionados a este assunto visando à possibilidade de terapias-alvo. therapies.
PALAVRAS-CHAVE: câncer, carcinoma, cicloxigenase-2, fator preditivo. KEY-WORDS: cancer, carcinoma, cyclooxygenase-2, predictive factor.
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INTRODUÇÂO

Os tumores mamários são as neoplasias mais comuns em como, proteção da mucosa epitelial do trato gastrointestinal, colorretal. Estudos de avaliação imuno-histoquímica revelaram
cadelas (SORENMO et al. 2013; CASSALI et al. 2014), com perfusão renal, agregação plaquetária e no sistema nervoso central que a COX-2 estava presente no epitélio do cólon e além disso, os
uma incidência estimada de mais de 70% de tumores (MOHAMMED et al. 2004; CLIFFORD, 2005). níveis de PGE2, um dos principais metabólitos da COX-2 estavam
mamários caninos malignos no Brasil (OLIVEIRA-FILHO elevados em tecidos colônicos neoplásicos em comparação com
A COX-2 pode ser expressa constitutivamente em situações
et al. 2010) e cerca de 50% em outros países (SORENMO tecido normal (RIGAS et al. 1993; PUGH e THOMAS, 1994). Em
fisiopatológicas tais como inflamação, ovulação, crescimento
et al. 2013). Nos seres humanos, o câncer de mama é o outros estudos foi observada uma redução de 40-50% do risco
e diferenciação e carcinogênes (DORÉ et al. 2011). Em cadelas,
mais prevalente e a quinta causa de morte relacionada de desenvolvimento de câncer de cólon e reto em pessoas que
vários estudos demonstraram a expressão proteica de COX-2
ao câncer em mulheres em todo o mundo (FERLAY et al. usavam regularmente antiinflamatórios não esteroidais (GROSCH
em carcinomas mamários, associada com angiogênese tumoral,
2015). Esses dados epidemiológicos são escassos para as et al. 2006; HAYES, 2007).
aumento do grau de malignidade e consequentemente pior
cadelas. Em alguns estudos com cadelas com neoplasia
prognóstico (DORÉ et al. 2003; MOHAMMED et al. 2004; QUEIROGA Vários mecanismos foram propostos para explicar essa relação entre
mamária, os autores afirmam que 50% das pacientes
et al. 2007; QUEIROGA et al. 2011). Alguns estudos sugerem ainda a expressão de COX-2, o aumento da produção de prostaglandinas
morreram devido à neoplasia mamária (PEÑA et al. 1998;
que cadelas que apresentam tumores com alta expressão de COX-2 nas células tumorais e o processo de carcinogênese. A COX-2 e
QUEIROGA et al. 2005; ARENAS et al. 2016). Nos últimos
podem se beneficiar com a terapia com os inibidores seletivos de seus produtos podem inibir a apoptose, estimular a angiogênese,
anos, as pesquisas sobre a associação da inflamação
COX-2 (SOUZA et al. 2009; LAVALE et al. 2012; ARENAS et al. 2016). diminuir a adesão celular e destruição da membrana basal
com a carcinogênese mamária aumentaram em ambas
favorecendo invasão, metástase e pode causar interferência na
as espécies demonstrando um papel significativo entre A expressão da COX-2 em carcinomas mamários caninos é
vigilância imunológica levando à imunossupressão e manutenção
o sistema imunológico associado às células tumorais e a considerada um fator preditivo importante, visto que o uso de
da resposta inflamatória (Figura 1) (WILLIAMS et al. 1999; MILLANTA
progressão neoplásica (CARVALHO et al. 2016). inibidores seletivos para COX-2 é uma possibilidade na rotina clínica
et al. 2006; HAYES, 2007).
para esta espécie.
A cicloxigenase (COX), conhecida também como
prostaglandina-endoperóxido sintase (PGHS) é grupo de
enzimas responsáveis pela ciclooxigenação e peroxidação
COX-2 E O CÂNCER
do ácido aracdônico proveniente da membrana celular,
levando a formação de prostaglandinas (HAYES, 2007). Um grande número de evidências sugerem que as prostaglandinas
As enzimas COX podem ser categorizadas em três tipos: derivadas da COX contribuem para a tumorigênese em seres
COX-1, COX-2 e COX-3, sendo as duas primeiras mais humanos. O câncer colorretal foi a primeira neoplasia onde o
pesquisadas e a COX-3 descoberta posteriormente papel da COX-2 e as prostaglandinas foram relacionadas, após
(ROUZER e MARNETT, 2009; DORE, 2011). A COX-1 é estudos epidemiológicos que revelaram que pacientes que usaram
expressa constitutivamente em todos os tecidos e mantém antiinflamatórios não esteroidais para alívio da dor em casos
a concentração basal de prostaglandina E2 (PGE2) para de tumores gastrointestinais apresentaram regressão do tumor
realizar funções biológicas básicas de homeostase, tais (HAYES, 2007). Esta observação foi seguida por uma série de estudos
que demonstraram que a COX-2 está superexpressa no câncer
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Figura 1. A COX-2 e seus produtos podem estimular Um dos principais mediadores da inflamação são as PGs promovendo assim sua proliferação descontrolada. A hipótese
a inibição da apoptose, aumento da angiogênese, biosintetizadas pela COX-2. Elas se acumulam rapidamente no da imunossupressão relacionada à COX-2 é sugerida por estudos
diminuição da adesão celular e destruição da membrana local danificado e induzem uma resposta vascular responsável publicados que mostram que a diminuição da expressão de COX-2
basal favorecendo a invasão e metástase, imunossupressão pelo início e manutenção do estado inflamatório. As PGs também em células de câncer de mama resultou em aumento da infiltração
e manutenção da resposta inflamatória. Fonte: Adaptada participam do mecanismo de inflamação crônica. Um dos motivos do tecido por linfócitos T citotóxicos (CD8 +). Além disso, o uso dos
de Hayes (2007). da inflamação contribuir para carcinogênese é devido a formação inibidores seletivos de COX-2 em câncer de mama de mulheres
local excessiva de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio que induziu um recrutamento aprimorado de células imunes para o
causam dano oxidativo e nitração do DNA levando ao acúmulo de microambiente tumoral (RAKOFF-NAHOUM 2006; REGULSKI et al.
A diminuição da apoptose devido ao aumento da mutações genéticas e desestabilização do genoma (SOBOLEWSKI 2016).
expressão de COX-2 nas células neoplásicas favorece a et al. 2010). Além do dano ao DNA, a inflamação também facilita
Em neoplasias mamárias caninas existe um número
sobrevivência dessas células e favorece o acúmulo de a liberação de fatores de crescimento no microambiente tumoral
limitado de estudos direcionados na relação entre a COX-2, células
mutações genéticas sucessivas, contribuindo para a acelerando a proliferação neoplásica. Existem também muitas
neoplásicas e células do sistema imune (CARVALHO et al. 2015;
progressão do tumor (KANAOKA, 2007). áreas de hipóxia e ácidas no tecido tumoral na qual ocorre a morte
CARVALHO et al. 2016). Carvalho et al. (2015) demonstraram uma
celular maciça. Este fenômeno constitui um sinal “errôneo” para o
A superexpressão de COX-2 também está relacionada associação significativa da elevada imunoexpressão de COX-2
sistema imunológico do hospedeiro que imediatamente ativa as
com o aumento na expressão de fatores de crescimento com linfócitos T CD3+ em neoplasias mamárias de cadelas. Já em
vias de sinalização responsáveis pelo reparo tecidual e regeneração,
do endotélio vascular (VEGF), e consequentemente 2016, o mesmo grupo de pesquisadores identificaram associação
permitindo assim que as células tumorais sobrevivam. Células
com o processo de angiogênese, que é considerado da alta expressão de COX-2 com macrófagos MAC387 (CARVALHO
imunes que existem dentro do microambiente tumoral incluindo
um mecanismo fundamental para o desenvolvimento et al. 2016). Os tumores com alta expressão de COX-2/CD3+ e
células dendríticas, linfócitos e macrófagos, liberaram várias
tumoral, uma vez que contribui para a nutrição das células COX-2/MAC foram associados com variáveis de agressividade do
citocinas pró-inflamatórias, como TNFa, IL1b, IL6 e IL8, induzindo
neoplásicas e é uma importante via para disseminação tumor, tais como, grau histológico alto de malignidade, presença
inflamação secundária. Toda essa falha no sistema imunológico
metastática (GROOT, 2007; KANAOKA, 2007). Uma de embolia intravascular neoplásica, presença de metástase em
pode favorecer o desenvolvimento tumoral (SOBOLEWSKI et al.
correlação positiva foi demonstrada entre a expressão linfonodos e menor sobrevida global dos animais. Esses achados
2010; CARVALHO et al. 2016; REGULSKI et al. 2016).
de COX-2 e de VEGF em tumores de mama em humanos sugeriram que de forma semelhante ao câncer de mama humano,
(GROOT, 2007) e em cadelas (QUEIROGA et al. 2011). O sistema imune tem papel fundamental no controle do os linfócitos T, macrófagos e COX-2 compartilham funções na
desenvolvimento de células neoplásicas. Em situações normais, carcinogênese mamária canina (CARVALHO et al. 2016).
Kanaoka et al. (2007) demonstraram que o aumento
o organismo é capaz de destruir clones de células transformadas
na expressão de COX-2 está relacionado ao aumento
ou combater células tumorais já formadas. A expressão de COX-
na atividade de determinadas proteínas, como as
2 e consequente produção de prostaglandinas podem levar a COX-2 em neoplasias mamárias de cadelas
metaloproteinases, enzimas responsáveis pela digestão
supressão na produção de linfócitos B e T, diminuição na produção
do colágeno na matriz intercelular, permitindo o Em neoplasias mamárias de cadelas, a alta expressão de COX-2
de linfocinas, formação de células Natural Killers e células
rompimento das barreiras e permitindo a invasão tecidual está associada com a aumento da malignidade (DORÉ et al. 2003;
dendríticas (KANAOKA, 2007). A COX-2 também reduz a síntese de
(GROOT, 2007). Araújo et al. (2016) correlacionaram a alta MOHAMMED et al. 2004; QUEIROGA et al. 2007), com diminuição
TNFα e aumenta a atividade imunossupressora da interleucina-10
expressão de COX-2 com a pesença de metástase nodal da sobrevida (LAVALLE et al. 2009), aumento dos níveis de VEGFA
(IL-10). Essas anormalidades, por sua vez, inibem a eficiência da
em cadelas com neoplasia mamária. e angiogênese (QUEIROGA et al. 2011).
defesa do hospedeiro na detecção e destruição de células malignas,
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O primeiro artigo publicado que avaliou a Outros estudos descrevem uma relação entre o aumento de COX-2 eram maiores em cadelas com carcinoma mamário
expressão proteica de COX-2 em neoplasias mamárias de da imunomarcação da COX-2 em carcinomas mamários não inflamatório do que em tumores de alto grau e expressavam mais
cadelas foi de Doré et al. (2003), os quais avaliaram 147 metastáticos e metastáticos quando comparados com lesões transcritos de COX-2 quando comparados às glândulas mamárias
tumores mamários e 4 mamas normais. Neste estudo os benignas e mamas normais em cadelas (DIAS PEREIRA et al. 2009; normais e carcinomas mamários não inflamatórios de alto grau de
autores observaram que a COX-2 não estava expressa DE NARDI et al. 2013). Queiroga et al. (2007) avaliando 70 amostras malignidade. Somente este estudo investigou os níveis de RNAm
na glândula mamária normal, mas foi detectada em de mama (4 mamas normais, 6 hiperplasias mamárias, 21 tumores de COX-2 em tumores mamários caninos.
24% dos adenomas e em 56% dos adenocarcinomas. benignos e 39 malignos) também descreveram que a expressão de

A distribuição e a intensidade da imunomarcação de COX-2 foi maior em tumores malignos do que em lesões benignas.
COX-2 foram maiores em adenocarcinomas do que nos Uso de inibidores seletivos de COX-2 em neoplasias
Guimarães et al. (2013) realizaram um estudo com 43 tumores de
adenomas. Estes resultados demonstraram pela primeira mamárias de cadelas
mama em cadelas, observando que a imunomarcação de COX-
vez que a expressão de COX-2 foi mais frequente e mais
2 e EGFR estava correlacionada com o tamanho do tumor, índice Um estudo realizado por Arenas et al. (2016), foram avaliadas
intensa em tumores malignos quando comparada aos
mitótico, grau nuclear, grau histológico de malignidade e metástase 28 cadelas com neoplasia mamária em estágio IV e/ou grau III
benignos, sugerindo um papel potencial da COX-2 na
nodal. Estes autores sugeriram ainda que a utilização combinada de de malignidade, das quais 8 foram tratadas com quimioterapia
carcinogênese mamária.
inibidores seletivos da COX-2 e EGFR poderia ser uma abordagem adjuvante a base de mitoxantrona, 7 utilizaram firocoxibe e
Já Heller et al. (2005) investigaram pela primeira útil para o tratamento dos tumores mamários malignos em cadelas, treze cadelas estavam no grupo controle, nas quais os tutores
vez a associação direta entre níveis de expressão de porém não fizeram avaliação terapêutica. não aceitaram terapia adjuvante. Todas as cadelas foram
COX-2 e subtipo histológico de carcinomas mamários acompanhados por dois anos ou até o óbito. O tempo livre de
Alguns estudos mostraram uma associação entre a expressão de
em cadelas. Os autores relatam que a expressão de COX- doença foi significativamente maior nas pacientes que receberam
COX-2 e VEGF em neoplasias mamárias (QUEIROGA et al. 2011;
2 foi detectada em 28 de 50 (56%) amostras avaliadas tratamento adjuvante (mitoxantrona ou firocoxibe) do que nas do
CLEMENTE et al. 2013). Clemente et al (2013) e Arenas et al. (2016)
e que os carcinomas anaplásicos apresentaram uma grupo controle. As cadelas tratadas com firocoxibe apresentaram
encontraram uma maior imunoexpressão de COX-2 em células
distribuição, intensidade e índice de coloração de tempo livre de doença e sobrevida global significativamente maior
neoplásicas isoladas de alto grau infiltradas no estroma da glândula
COX-2 significativamente maior em comparação com do que as cadelas do grupo controle. O tempo livre de doença e a
mamária e em êmbolos de células neoplásicas em vasos linfáticos e
adenocarcinomas. sobrevida global de cadelas tratadas com mitoxantrona não foram
os autores acreditam que isso poderia estar relacionados a possível
estatisticamente diferentes das pacientes do grupo controle.
Com relação à sobrevida, a expressão elevada de COX- influência da COX-2 na migração e mobilidade celular.
O achado mais importante deste estudo foi que o firocoxibe
2 foi associado com pior prognóstico, demonstrado por
Em estudo com linfonodos metastáticos de tumores prolongou o tempo de sobrevida global e aumentou tempo livre
diferenças na sobrevida global, descrito por Millanta
mamários, Araújo et al. (2016) demonstraram que houve correlação de doença de cadelas com grau neoplasia mamária de grau III e
et al. (2006) em estudo realizado com 28 cadelas com
entre a alta expressão de COX-2 nos carcinomas primários mamários que a maioria dos cães que desenvolveram metástases foram
neoplasia mamária. Queiroga et al. (2005), Queiroga et al.
com a sua metástase em linfonodo. Porém, a expressão de COX- aqueles que não receberam mitoxantrona ou firocoxibe.
(2010) e Lavalle et al. (2009), também observaram que as
2 na metástase nodal não demonstrou relevância prognóstica na
cadelas com neoplasia mamária e com alta expressão de Machado et al. (2014) realizaram um estudo avaliando a expressão
sobrevida dos pacientes.
COX-2 apresentaram sobrevida e tempo livre de doença de COX-2 em 19 cadelas com neoplasias mamárias, no qual, 10
reduzidos. A expressão gênica de COX-2 foi relatada pela primeira vez por cadelas foram incluídas no grupo de tratamento e 9 no grupo
Clemente et al. (2013) que descreveram que os níveis de RNAm controle. As pacientes do grupo controle não receberam nenhum

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tratamento e as cadelas do grupo tratamento foram Em um estudo desenvolvido por Souza et al. (2009), observou-
tratadas com Firocoxibe na dose de 5 mg/kg, a cada 24 se melhoria da condição e estabilidade clínica de cadelas com
horas durante 7 dias. Os autores coletaram fragmentos carcinoma inflamatório mamário tratadas com piroxicam, com
de biópsia (nos dois grupos) no dia 0 e após 7 dias média e mediana de sobrevida livre de progressão da doença de
realizaram mastectomia total unilaterial. Posteriormente 171 e 183 dias, respectivamente. O tempo médio de sobrevida de
avaliaram a expressão de COX-2 nas amostras da biópsia três cães tratados com protocolos com doxorrubicina foi de sete
e da mastectomia nos dois grupos. Os autores não dias, o qual foi significativamente menor do que a dos cães tratados
encontraram diferença de expressão de COX-2 entre os com o piroxicam (185 dias).
grupos, no entanto, a expressão de COX-2 aumentou no
Sonzogni-Desautels et al. (2010) estudaram o efeito de um
grupo controle. Outra achado encontrado pelos autores
inibidor seletivo de COX-2 (Deracoxibe) e um inibidor de COX-1 e
foi a diminuição das globulinas no grupo de animais
2 (piroxicam) em camundongos com tumores mamários caninos
tratados com firocoxibe.
implantados de células originárias de cultivo celular. O volume
Lavalle et al. (2012) realizaram um importante tumoral, entre 14 e 21 dias após o tratamento, foi significativamente
estudo comparando o período de sobrevida global menor nos camundongos tratados com piroxicam em comparação
de 29 cadelas diagnosticadas com tumores mamários com os do grupo controle. Esses resultados demonstram que a
avançados, submetidas a quatro diferentes protocolos inibição da COX reduziu o crescimento do câncer de mama canino
de tratamento, incluindo cirurgia, quimioterapia com em camundongos, sugerindo que os inibidores de COX poderiam
carboplatina e inibidores de COX-2 (piroxicam ou ter um efeito positivo em cães.
firocoxibe). Neste estudo, a sobrevida global de pacientes
Em outro estudo, observou-se que os inibidores seletivos de
com baixa espressão de COX-2 foi mais longa quando
COX-2 meloxicam, etodolac e celecoxibe suprimiram o crescimento
comparada aos pacientes com alta expressão de COX-2.
de células tumorais em uma linhagem celular de neoplasias
Diferentes tratamentos adjuvantes propostos associados
mamárias caninas inibindo o crescimento celular e a proliferação,
à cirurgia levaram a um aumento da sobrevida global
promovendo a diminuição da expressão da proteína COX-2 e
quando comparado ao tratamento cirúrgico isolado.
induzindo a apoptose (SAITO et al. 2014). Há uma busca contínua
Os pacientes que foram submetidos apenas à cirurgia
para a elucidação dos mecanismos envolvidos no processo
tiveram uma mediana de sobrevida de 63 dias; os que
carcinogênese mamária canina e, também, para a identificação
fizeram cirurgia e carboplatina adjuvante não atingiram
de fatores prognósticos e preditivos. Além dos tratamentos
a mediana, o grupo que realizou a cirurgia, carboplatina
convencionais, a evolução na biologia molecular e ensaios de cultivo
adjuvante e piroxicam tiveram uma mediana de
celular podem proporcionar o desenvolvimento de novos protocolos
sobrevida de 390 dias e os que usaram firocoxibe ao invés
de tratamento dessas neoplasias. Dentre estas terapias, a utilização
do piroxicam, 570 dias. Os autores afirmaram ainda que
de fármacos alvo moleculares como os inibidores seletivos de COX-
o firocoxibe foi considerado um ótimo anti-infamatório
2 podem ser amplamente estudados como marcadores preditivos e
não esteroidal para uso prolongado em cães.
prognósticos na carcinogênese mamária.
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